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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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GUERRA DOS JUROS

Para ministro, país viveu "experiências trágicas" no


governo Sarney por "não tomar as medidas necessárias"

Dirceu descarta mudanças na


economia
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, descartou


ontem mudanças nos rumos da política econômica do
governo Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o país teve
"experiências trágicas" no passado por controlar fluxo de
capitais e reduzir juros.
A afirmação foi uma resposta ao manifesto feito por
economistas ligados ao PT ou que apoiaram a candidatura
Lula, em que eles propõem "inversão de toda a matriz da
política econômica" atual. O documento defende controle de
capitais externos e do câmbio, redução do superávit primário
até sua eventual eliminação, ampliação dos gastos públicos,
com prioridade para setores geradores de empregos, e
redução da taxa básica de juros.
"Não podemos confundir árvore com floresta. O país não é
só juros, política econômica e Banco Central", afirmou
Dirceu, para quem o documento é legítimo e o debate na
sociedade, importante.
Para o ministro, o governo está seguro do caminho e da
transição que vem realizando. "A idéia de controlar fluxo de
capitais e reduzir juros já teve experiências trágicas em
outros momentos. Nosso governo, quando reduzir juros, vai
reduzir para ficar reduzido. Não para fazer bolha."
O ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) tem opinião
semelhante: "Há muitos economistas que apóiam a estratégia
que o governo adotou, de recuperar primeiro a estabilidade e
criar condições sólidas para que o país cresça de modo
sustentável. Há outros que querem um projeto mais rápido".
Os dois ministros falaram após participar de um encontro de
deputados estaduais do PT em Brasília. A reunião foi,
segundo os deputados, para "melhorar a informação entre
governo e bancada".
Os signatários de "A agenda interditada - uma alternativa de
prosperidade para o Brasil" dizem que não houve
preocupação em indicar um modelo de controle de capitais
ou um valor ideal para o câmbio.
O consenso foi em torno da necessidade "do controle do
valor do dólar em nível real favorável às exportações". Entre
os signatários estão Luiz Gonzaga Belluzzo, Ricardo
Carneiro, Reinaldo Gonçalves e Plínio de Arruda Sampaio
Jr., organizador do documento. Lembrando o Plano Cruzado,
durante o governo do presidente José Sarney (1985-1990),
José Dirceu disse que, na época, não foram tomadas as
medidas necessárias e "depois o país viveu anos com a
economia desorganizada".
De acordo com dados de abril do Banco Central, a dívida
interna líquida estava em R$ 652 bilhões e a externa
(juntando governos federal, estaduais e municipais) bruta,
em R$ 230 bilhões.
Para o ministro Dulci, o manifesto faz parte da "vida
democrática" do país.
"O desejo é o mesmo. Nós também queremos que o país
volte a crescer. A forma de crescer de modo sustentável é
que varia. Achamos que eles estão subestimando as
dificuldades", disse Dulci. Segundo ele, o governo tratará
com respeito qualquer opinião, seja de petistas ou não.

Paraná
Mais tarde, numa palestra a empresários em Cianorte (PR), o
ministro-chefe da Casa Civil voltou a tocar no assunto. Disse
que o país poderia "baixar os juros, criar uma bolha de
crescimento e depois voltar à recessão".
"É necessário um crescimento com consistência, para o país
voltar a se desenvolver, uma tarefa para os próximos dez
anos."
Dirceu chamou a atenção dos empresários para o fato de que,
depois de seis meses de governo, nenhuma denúncia de
corrupção tenha sido feita contra o governo Lula, segundo
ele.
"É que temos um presidente que não rouba e não deixa
roubar", afirmou.

Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina

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