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AULA 1 – LÍNGUA PORTUGUESA – APRESENTAÇÃO E

PRIMEIROS CONCEITOS
1. Apresentação do curso
“Aquilo” que vamos estudar – que, momentaneamente, diremos ser um “objeto” – é
assunto dos mais complexos e, paradoxalmente, dos mais simples. Todos usam a língua a todo
momento e são, com as devidas proporções, absolutamente capazes de nela se expressarem. Ao
mesmo tempo, poucos são os que, de maneira efetiva, conseguem utilizá-la dentro dos padrões
compartilhados de normatividade e expressividade, bem como a usam com competência e
verdadeira habilidade.
Estudar a língua, portanto, será um doce desafio, porque trataremos de um objeto que, antes
de qualquer coisa, é nosso. Trataremos da língua na qual rezamos, amamos, vivemos,
convivemos e existimos. Falaremos, antes de tudo, da língua que somos.
Para tanto, estudaremos nosso idioma, a conhecida e saudada “última flor do Lácio”, a
partir de uma gramática bastante conhecida, das mais prestigiosas, que resgata
fundamentalmente os elos que nos unem as nossas raízes – e, de certa forma, que unem toda a
lusofonia [1].
Escolhemos, portanto, utilizar a gramática de Celso Cunha, renomado linguista e filólogo
brasileiro, na versão acrescida das contribuições de Lindley Cintra, um dos mais renomados
linguistas e filólogos portugueses. Trata-se, portanto, de uma gramática que une países e
histórias, que aproxima continentes e encurta os oceanos. Trata-se da “Nova Gramática do
Português Contemporâneo”, publicada pela editora Lexikon em 2008, aqui tomada em sua 5ª
edição. Tomaremos por base a obra de Celso Cunha, trazendo outras vozes e autores quando
julgarmos necessário.
Vamos nós, pelos mares que um dia já navegamos, rever o caminho para redescobrir a
paisagem, surpreendermo-nos novamente com o que já sabemos e poder, uma vez mais,
redescobrir a Língua Portuguesa, redescobrindo com isso a nós mesmos. Fernando Pessoa dizia
que a sua pátria era a própria Língua Portuguesa. Conhecer sua língua é a maneira própria de,
de fato, conhecer-se a si mesmo.

2. Conceitos gerais sobre a língua


Antes de qualquer possível início para o estudo da Língua Portuguesa, é necessário
sabermos o que de fato estudaremos. Para isso, quatro conceitos serão imediatamente
requeridos: Linguagem, Língua, Discurso e Estilo.
De certa forma, há muitas definições para aquilo que poderia ser a Linguagem. Vemo-las
a todo momento, numa certa profusão de usos difusos e confusos. Falamos em linguagem
musical, linguagem da matemática, linguagem animal e em muitas outras. Todas elas,
entretanto, guardam um mesmo sentido básico: a noção de que linguagem é um tipo ou uma
forma de comunicação.
Assim, a linguagem musical seria um tipo ou forma de comunicação através da música. Da
mesma maneira, a linguagem da matemática seria um tipo ou forma de comunicação através da
matemática. Naturalmente, tais linguagens existem, mas não é delas que falaremos.
Quando dizemos Linguagem, no campo de estudos linguísticos, falamos em um sistema –
de todo complexo – que é resultado duplo de uma atividade psíquica, cerebral e de uma
atividade social, compartilhada. Nas palavras indicadas por Celso Cunha, é “um conjunto
complexo de processos – resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada
pela vida social – que torna possível a aquisição e o emprego concreto de uma Língua qualquer”
[2] (p. 1).
Em outras palavras, a Linguagem é a forma própria como os homens, em sociedade,
utilizam uma determinada Língua, possibilitando haver assim uma comunicação entre si, uma
interação. Em qualquer lugar em que homens se comuniquem através de palavras, em que exista
o auxílio do sistema fonador e dos “signos linguísticos”, existirá Linguagem – nesse caso,
linguagem verbal [3].
Entretanto, para que a Linguagem – de caráter abstrato – se manifeste, é preciso que exista
uma Língua – de caráter concreto – que a possa manifestar. Ou seja, para que exista Língua, é
necessário que antes exista uma Linguagem. E, para que a Linguagem se manifeste, é necessário
que ela se utilize de uma Língua. Língua e Linguagem são, portanto, dois elementos de um
mesmo “objeto”, duas faces de uma mesma moeda. A Língua será, assim, a manifestação da
Linguagem num sistema gramatical compartilhado por um grupo social.
Por sua vez, o Discurso será a própria manifestação da Língua em seu “ato de produção”.
Em uma comparação grosseira e simplista, o Discurso será a Língua no “momento de fala ou
de escrita”, a materialização da Língua em uma produção oral ou escrita. Essa produção, ainda,
leva em conta as características particulares de quem a produz, uma espécie de “marca de
personalidade”, a que chamamos de Estilo. É provável que todos já tenham passado pela
experiência de lerem um texto e já saberem quem o escreveu, porque reconhecem nele as
“características” de determinada pessoa. Isso nada mais é do que o reconhecimento de um Estilo
próprio de uso da Língua.
É claro que os conceitos que aqui vimos são interpretados e reinterpretados por muitos
autores, teorias e subjetividades, sendo por vezes até opostos ao que Celso Cunha defende. De
certa forma, nosso gramático apresenta as definições mais “clássicas” sobre os conceitos,
inserindo-os em um ambiente teórico muito próximo da Filologia e das primeiras definições da
Linguística – ainda parcialmente isentas das ideologias que hoje dominam os estudos
linguísticos. Não é que desconheçamos as outras definições que existam, mas apenas não as
consideramos necessárias, úteis ou válidas para nosso objetivo.
Portanto, Linguagem, Língua e Discurso serão três elementos muito relacionados entre si,
sendo por vezes difícil e complexo separar o ponto em que um começa e outro termina. Uma
separação que por vezes se torna artificial, dada a complexidade do estudo de um idioma. São,
portanto, termos diferentes, mas completamente interligados, faces de um mesmo objeto.

Conceitos estudados: Linguagem; Língua; Discurso; Estilo; Linguagem verbal;


Linguagem não-verbal
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[1] Agrupamento de países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, materno ou de interesse.
[2] Citação do autor de: Tatiana Slama-Casacu. Language et contexte. Haia, Mouton, 1961, p. 20
[3] Em contrapartida, há uma linguagem não-verbal, que “comunica” através de elementos visuais, não verbais.
As placas de trânsito, o símbolo de “Não fume” ou as indicações de proibição nos aeroportos são exemplos de
linguagem não-verbal. É possível, ainda, haver textos que se utilizem, simultaneamente, de linguagem verbal e
não-verbal, sendo comumente chamados de linguagem mista.
3. Para fixar...
3.1) Indique, com suas palavras, uma possível conceituação para:
a) Linguagem
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b) Língua
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c) Discurso
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d) Estilo
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3.2) Discorra sobre a diferença entre linguagem verbal, não-verbal e mista, exemplificando
ocorrências e situações cotidianas.
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