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Robotização de Processos da Área Contábil: o Robô Aliado ao Contador

Robotização de Processos da Área Contábil: o Robô Aliado ao Contador

Resumo: O objetivo deste artigo é analisar como a chegada de novas tecnologias está alteran-
do a profissão do contador, facilitando a sua rotina e gerando competitividade da categoria
através da robotização de processos da área contábil, que já vem sendo aplicada no Brasil nos
últimos anos. Com o avanço da tecnologia, a carreira em contabilidade tem exigido novas
competências. O profissional deixou de produzir os dados e passou a analisá-los, com o obje-
tivo de prever o impacto contábil de cada decisão de negócios. Nesse sentido, o contador dei-
xou de olhar para o passado da empresa — o dinheiro que entrou e que saiu no mês anterior,
por exemplo —, e passou a fazer projeções para seu futuro.

Palavras-chave: Robotização de Processos. Contabilidade. Futuro da profissão. Inovação.


Competitividade.

Robotization of Accounting Processes: the Robot Allied to the Accountant

Abstract: The purpose of this paper is to analyze how the arrival of new technologies is
changing the profession of accountant, facilitating its routine and generating category compe-
titiveness through the robotization of accounting processes, which has been applied in Brazil
in recent years. years. With the advancement of technology, a career in accounting has requi-
red new skills. The professional stopped producing the data and began to analyze it, with the
objective of predicting the accounting impact of each business decision. In this sense, the ac-
countant stopped looking at the company's past — the money that went in and out the previ-
ous month, for example — and made projections for its future.

Keywords: Robotization of Processes. Accounting. Future of the profession. Innovation.


Competitiveness.

1 INTRODUÇÃO

Segundo o Conselho Federal de Contabilidade, existem no Brasil mais de 350 mil con-
tadores registrados em 61 mil empresas de contabilidade. A demanda por profissionais au-
mentou muito nos últimos anos, e os 1,2 mil cursos do país não estão dando conta de suprir o
déficit de profissionais existente no mercado.
Apesar dos números grandiosos, há quem diga que a profissão de contador deixará de
existir em uma década, como afirmou uma reportagem da revista Veja de 2018 com o título
“Elas vão substituir você”, uma alusão à robotização de processos e outras inovações tecnoló-
gicas que poderão apresentar opções para escolha de investimentos.
De acordo com um estudo do Laboratório de Aprendizagem de Máquina em Finanças
e Organizações (LAMFO) da Universidade de Brasília (UnB), a automação de funções profis-
sionais ameaça 54,37% das categorias profissionais brasileiras.
Segundo a pesquisa, desde 2016, o número de atividades presentes na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO) caracterizadas como possuindo alto nível de automação au-
menta ao longo dos anos.
Dados da Federação Internacional de Robótica (IFR, da sigla em inglês), indicam que
em 2016, foram vendidos 1,8 mil robôs industriais no mercado nacional. Porém, o volume de
robôs tende aumentar no Brasil, pelo menos 3.500 novas unidades serão introduzidas nas fá-
bricas, ainda neste ano, de acordo com o IFR.
Neste cenário emergente, muitos questionamentos surgiram sobre como será o traba-
lho no futuro. A profissão de contador poderá mesmo ser substituída pela máquina? Como
integrar inteligência humana e inteligência artificial para que elas tenham uma co-existência
bem-sucedida? Como o profissional poderá se diferenciar e agregar valor ao trabalho? Duvi-
das que pairam sobre os olhos atentos dos profissionais da contabilidade a respeito do futuro
das próximas gerações.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A evolução da contabilidade

Sabe-se que a contabilidade é uma das atividades mais antigas do mundo, suas primei-
ras manifestações são datadas de aproximadamente 2000 a.C, na Mesopotâmia, o berço da
civilização, quando já havia a necessidade de controlar a quantidade de alimentos e instru-
mentos de caça. Mesmo que de forma rudimentar, mas ainda assim era um indício de que o
homem é um gestor por natureza. Há quem diga que a linguagem humana foi estruturada por
contadores primitivos. Segundo IUDÍCIBUS (2005, p. 31), “a Contabilidade é tão antiga
quanto o próprio homem que pensa”.
Deixando a caça, o homem voltou-se à organização da agricultura e do pastoreio. Na
Caldeia, nação localizada na região sul da Mesopotâmia, onde viveu o personagem bíblico
Abraão, citado no livro Gênesis, encontram-se, em escavações, importantes documentos con-
tábeis, como figuras geométricas desenhadas em pedras polidas. Isto prova o quão longínquo
é a necessidade social de proteção à posse e de perpetuação e interpretação dos fatos ocorridos
com o objeto material de que o homem sempre dispôs para alcançar os fins propostos.
O ábaco, primeiro instrumento de cálculo, foi quase de certeza construído numa pedra
lisa coberta por areia ou pó, no qual ficavam os elementos de contagem que poderiam desli-
zar-se livremente. Os babilônios podem ter utilizado o ábaco para operações de adição e sub-
tração. No entanto, este dispositivo primitivo provou ser difícil para a utilização em cálculos
mais complexos. O instrumento pode ser considerado como uma extensão do ato natural de se
contar nos dedos.
A atividade de troca e venda dos comerciantes eram seguidas de simples registros so-
bre o fato; tais informações não eram de fácil memorização quando já em maior volume, re-
querendo registros. É importante salientar que naquele tempo não havia o crédito, ou seja, as
compras, vendas e trocas eram à vista. Posteriormente, empregavam-se ramos de árvore assi-
nalados como prova de dívida ou quitação.
O desenvolvimento do papiro (papel) e do cálamo (pena de escrever) no Egito antigo
facilitou extraordinariamente o registro de informações sobre negócios. Mas as cobranças de
impostos, na Babilônia já se faziam com escritas, embora rudimentares. Somente no mundo
antigo as civilizações começaram a realizar registros do seu patrimônio de maneira quantitati-
va a fim de obter controle sobre o mesmo e avaliar o seu crescimento ou não.
Empiricamente, no período medieval, denominado “Era Técnica”, governos locais e a
igreja introduziram diversas inovações à contabilidade. Em 1202, o primeiro grande matemá-
tico europeu da Idade Média, Leonardo Fibonacci (ou Leonardo de Pisa), introduz na Europa
a numeração árabe com o lançamento de Liber Abaci que significa o "Livro do Cálculo". Mas
é somente em 1494, na Itália, que surge o termo Contabilitá, quando o frei Luca Pacioli, con-
siderado o pai da contabilidade moderna, pública o método das partidas dobradas (Tratactus
de Computis et Scripturis), no qual cada transação financeira é registrada na forma de entra-
das em pelo menos duas contas, nas quais o total de débitos deve ser igual ao total de créditos.
O crescimento desta ciência ocorre de maneira natural, gerada pelo avanço do capita-
lismo, aumento das administrações públicas e privadas e o acúmulo de capital. Neste momen-
to se fizeram necessários e imprescindíveis os registros e o controle das contas. É válido sali-
entar que a Contabilidade só tornou-se ciência graças aos diversos pesquisadores e seguidores
que foram dando continuidade e aperfeiçoamento à História da Ciência Contábil.
Em 1623 o professor alemão Wilhelm Schickard criou a primeira calculadora mecâni-
ca. Essa calculadora era capaz de somar, subtrair, dividir e multiplicar números até 6 dígitos,
indicando o resultado através de um toque de sino, por isso ficou conhecida como relógio cal-
culador.
No século seguinte, mais precisamente em 1714, o inventor inglês Henry Mill desen-
volveu um primitivo dispositivo de escrever mecanicamente. Trata-se da primeira máquina de
escrever, essa será uma grande aliada dos contadores até o surgimento dos microcomputado-
res.

2.2 O início da contabilidade no Brasil

Ainda no século XVIII, no ano de 1770, Dom José, rei de Portugal criou a primeira
regulamentação da profissão contábil no Brasil. A partir deste momento passou a ser obrigato-
riamente exigido o registro de matrícula na junta comercial daqueles que trabalhavam na área
e o profissional contábil recebeu o nome de guarda-livros, proveniente de sua principal fun-
ção, que até então, era a de escriturar e manter em boa ordem os livros mercantis das empre-
sas comerciais, um trabalho altamente mecanicista. O termo guarda-livros foi utilizado até a
metade dos anos de 1970.
Em 1947, com o objetivo de simplificar os procedimentos de escrituração contábil das
empresas, dois contadores brasileiros, Silvino Barbosa e Edmundo Mário Cavallari, criaram a
ficha tríplice. Tratava-se do método de escrituração simultâneo, feito em fichas que resultava
em registros no livro diário e nas duas contas do livro razão, a devedora e a credora. Havia
também o sistema de cópia dos livros diários por gelatina.

2.3 A chegada dos microcomputadores

A introdução dos primeiros microcomputadores e os sistemas de troca de informações


alterou consideravelmente os processos de trabalho a partir de 1980, facilitando o registro das
operações e a emissão de relatórios. Passou-se a ter mais velocidade e exatidão em seus nú-
meros, entretanto, a pilha de papéis continuava sobre as escrivaninhas.
A década de 1990 foi um salto para os escritórios contabilidade. Os sistemas de gestão
de empresa, também conhecido como ERPs, mais sofisticados, substituíram de vez a máquina
de escrever. O tempo despendido na execução de atividades foi drasticamente reduzido. Os
cálculos mais complexos e outros trabalhos que exigiam dias de aplicação eram concluídos
rapidamente e com melhor qualidade. Cópias deixaram de ser um problema e os documentos
em papel, que ocupavam imensos volumes, começaram a ser arquivados em disquetes.
Com 361 milhões de usuários conectados, a grande rede de computadores teve seu á-
pice no ano 2000. O profissional de contabilidade passou a ser responsável pelas obrigações
acessórias, que as empresas devem transmitir via internet para a Receita Federal, não impor-
tando o porte ou segmento. O descumprimento sujeita o infrator à multa de acordo com a le-
gislação.
Instituído através do Decreto 6.022/2007, o SPED – Sistema Público de Escrituração
Digital é um instrumento que mudou totalmente as atividades de recepção, validação, arma-
zenamento e autenticação de livros e documentos que integram a escrituração contábil e fiscal
dos empresários e das pessoas jurídicas. Desta forma, os livros e documentos contábeis e fis-
cais passaram a ser emitidos em forma eletrônica e não mais em papel.
Em seguida, começaram-se as discussões sobre a revolução do novo Sistema de Escri-
turação Fiscal Digital das Obrigações Fiscais Previdenciárias e Trabalhistas, o eSocial. Com o
objetivo de simplificar e consolidar as informações da folha de pagamento das empresas para
os órgãos envolvidos, e melhorar o controle das informações, o projeto do governo federal
agrega em um único envio, informações para os relatórios como: CAGED, GFIP, RAIS e Re-
ceita Federal.
Alvo de muitas reclamações, o sistema teve seu precoce fim anunciado recentemente e
será substituído por outros dois sistemas ainda mais simples, como promete o Governo, um
para Previdência e outro para Receita Federal. A carteira de trabalho imprensa também deixa-
rá de existir, dando lugar à uma versão digital.

2.4 A robotização cresce no Brasil

De acordo com dados da Federação Internacional de Robótica (IFR, da sigla em in-


glês), em 2016, foram vendidos 1,8 mil robôs industriais no mercado brasileiro. No mundo,
cerca de 70% dos equipamentos estão no setor automotivo, isso se deve ao fato dos robôs pos-
suírem capacidade de movimento similar ao do braço humano, sendo mais usados em tarefas
pesadas, como a soldagem, a pintura e o carregamento de máquinas.
No entanto, outros setores, com destaque para as indústrias de alimentos e bebidas, e-
letroeletrônica, medicina e química, também têm contribuído para o avanço da robotização no
Brasil, e a contabilidade não fica fora dessa lista.
Com o título “Elas vão substituir você”, uma reportagem da revista Veja – veiculada
na edição 2567, de 31 de janeiro de 2018 –, afirmou que a profissão de contador será substitu-
ída pela máquina até 2028, com probabilidade de extinção de 94%, devido ao advento da inte-
ligência artificial.
Contudo, a reportagem foi veementemente contestada pelo Conselho Federal de Con-
tabilidade, que considerou essa informação como incompatível com a realidade da profissão
contábil e enviou carta ao Diretor de Redação da revista, solicitando uma publicação no espa-
ço destinado à correspondência de leitores, mas a revista não considerou esta possibilidade.
Na carta à Veja, o presidente do CFC, Zulmir Breda, classificou como “fatalista” essa
previsão, sendo “uma demonstração de desconhecimento da importância de nossa profissão
no presente e no futuro”. Breda afirmou ainda que “a Inteligência Artificial e outras inovações
tecnológicas poderão apresentar opções para escolha de investimentos ou para conduzir a cor-
tes em orçamentos, por meio do cruzamento de dados e realização de contas. Porém, ainda
não existe uma máquina que faça julgamento profissional, que faça a interpretação de uma
Norma Brasileira de Contabilidade e a aplique corretamente em um contexto específico, a fa-
vor da sociedade, na boa condução dos negócios, preservando a ética, tanto na administração
pública quanto na iniciativa privada”.
Finalizando a carta, o presidente do CFC citou a evolução dos números registrados pe-
lo Inep/MEC quanto à quantidade de alunos matriculados em cursos de Ciências Contábeis
nos últimos 25 anos e disse ainda que “essa é uma profissão que aprendeu, em séculos de ati-
vidade, a se adaptar à realidade e às revoluções. Cremos, sim, na continuidade da transforma-
ção da contabilidade e dos profissionais que abraçam e abraçarão essa importante profissão”.
De acordo com um estudo do Laboratório de Aprendizagem de Máquina em Finanças
e Organizações (LAMFO) da Universidade de Brasília (UnB), a profissão “contador” tem
probabilidade de automação estimada de 48,74% em média.
Habilidades tais como preencher formulários específicos inerentes à atividade da em-
presa e calcular índices econômicos e financeiros são potencialmente fáceis de se automatizar.
Ao mesmo tempo, a profissão envolve tarefas de difícil automação, como assessorar a
gestão empresarial, intermediar acordos com os sindicatos e demonstrar flexibilidade.
O diretor de Conhecimento e Tecnologia da Decision IT, Mauro Negruni, salienta que
é importante diferenciar os dois conceitos: automação e robotização. A primeira é entendida
como a utilização de processos computacionais (como Inteligência Artificial e deep learning)
para acelerar ou deixar automático algum dos processos da produção. “É quando as máquinas
conseguem fazer coisas que os humanos não fazem”, sintetiza o especialista.
Já a robotização de processos (ou RPA, na sigla em inglês) é todo tipo de comporta-
mento de uma máquina ou de um programa que simula o comportamento humano, como por
exemplo interpretar e processar informações utilizadas no dia a dia do negócio. “Isso não sig-
nifica que as máquinas vão eliminar a necessidade de um ser humano operando-as. Em alguns
casos, sim; em outros, admito que não”, ressalta Negruni.

2.5 Benefícios da automatização

Certamente você já deve ter ouvido falar da Siri, assistente pessoal presente nos dispo-
sitivos Apple, ou então da BIA (acrônimo de Bradesco Inteligência Artificial), dois exemplos
de chatbots desenvolvidos para oferecer atendimento imediato aos usuários.
Por meio da Siri é possível marcar reuniões, enviar e-mails ou mensagens pelo What-
sApp, colocar músicas para tocar, tirar fotos, chamar um táxi pelo 99, ou fazer uma ligação no
Skype, por exemplo. Já com a BIA o usuário pode tirar dúvidas, como saber a cotação do dó-
lar, ou até mesmo realizar serviços transacionais, como, pagamento de contas via boleto,
transferências bancárias, verificar extratos, faturas pendentes, entre outras possibilidades. Tu-
do isso com simples comandos de voz.
Essas e outras inovações podem se tornar positivas na atuação de contadores. Ainda
segundo o especialista Mauro Negruni, “quando uma pessoa qualificada é colocada para fazer
o trabalho braçal, o cérebro dele também fica ocupado”.
Para ele, “trata-se de liberar a mão e o cérebro humano para fazer tarefas mais nobres
de raciocínio e planejamento, que são efetivamente tarefas que o ser humano gosta de fazer e
se sente desafiado”.
Outros especialistas acreditam que “robôs nunca atingirão nível de consciência similar
ao humano”, como disse físico Marcelo Gleiser ao blog Mensageiro Sideral, do jornal Folha
de S. Paulo.
Atualmente muitas automatizações já ajudam os escritórios a realizarem os fechamen-
tos contábeis de seus clientes. As ferramentas de integração contábil permitem a obtenção e a
importação das notas fiscais, a partir do site do governo, e também as conciliações bancárias,
algo simples, que uma máquina é capaz de fazer em segundos, por exemplo.
Assim como aconteceu com os bancos, a tendência dos escritórios contábeis mundiais
é se inserir cada vez mais no meio digital. Uma pesquisa realizada com 500 escritórios contá-
beis nos Estados Unidos apontou que 65% deles já adotaram a tecnologia cloud em seus pro-
cessos, ou seja, armazenamento de arquivos na nuvem.
No Brasil, a IDC (International Data Corporation), consultoria especializada em tec-
nologia, afirma que o mercado de computação em nuvem cresceu mais de 20% em 2018. A-
pesar de já estar no mercado há um bom tempo, essa tecnologia ainda sofre certo tipo de pre-
conceito quanto a sua funcionalidade e, principalmente, quanto a segurança.
Entre as principais vantagens deste tipo de recurso, está a mobilidade. Com o armaze-
namento em nuvem, o profissional contábil acessa os documentos pelo notebook, smartphone
ou tablet, de onde quer que esteja, facilitando assim às visitas aos clientes, com a disponibili-
dade de todas as informações do escritório, mesmo longe dele, por meio de aplicativos na nu-
vem.
Este modelo também permite que o cliente adote um sistema de gestão online e regis-
tre todas as movimentações financeiras anexando os respectivos documentos hábeis de cada
lançamento. O contador poderá acessar estes lançamentos e documentos digitalizados e ex-
portá-los de forma que possam ser importados diretamente para o sistema contábil.
Sem papel impresso e sem malote, o tempo poupado permite que o escritório contábil
dedique-se a agir como um consultor de negócios, disponibilizando mais serviços e orienta-
ções com foco no que o cliente precisa, auxiliando-o ainda mais a tomada de decisões.

2.6 O novo perfil do contador

“Os contadores brasileiros foram, ao longo do tempo, sendo moldados para atender ao
Fisco, e não para atender às empresas e os empresários”, destaca Ribeiro Lucas, diretor da
Roit Consultoria e Contabilidade.
Para Lucas, no Brasil, o contador foi conduzido a dar foco à área fiscal, e não à área
contábil. Isso ocorreu devido às características do próprio sistema tributário em que vivemos.
“O contador tem sido trazido para o âmbito da gestão”, afirma o professor Bruno Sa-
lotti, coordenador da graduação em ciências contábeis da Faculdade de Economia, Adminis-
tração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Em entrevista à revista Exame, o pro-
fessor da USP afirmou que “agora [o contador] ajuda a desenhar operações para gerar econo-
mia fiscal, identificar as melhores áreas geográficas para expandir o negócio e delinear as es-
tratégias da companhia de forma geral”.
Também em entrevista à Exame, o contador e presidente da Fortes Tecnologia, empre-
sa que desenvolve de softwares de gestão, José Carlos Fortes, garante que “além de ter conhe-
cimentos profundos em contabilidade, hoje também é preciso dominar ferramentas de análise
de big data e business intelligence”. Segundo ele, o profissional de contabilidade mais requi-
sitado do momento, é uma espécie de “cientista de dados contábeis”.
Atuando como consultor de negócios, o contador pode analisar as operações financei-
ras e patrimoniais de uma empresa, acompanhando suas transações e fornecendo dados que
ajudem a traçar planos de investimento.
A partir de 2013, com a aprovação da Lei Anticorrupção, começou-se a se falar em
Compliance, termo em Inglês que significa conformidade, ou seja, um programa de integrida-
de e auditoria onde o papel do contador é fundamental para prevenção de corrupção, fraudes
corporativas e inconformidades por meio da coleta sistemática de informações no ambiente
corporativo e no mercado.
Outra área em destaque é a contabilidade ambiental, onde o contador pode controlar e
planejar os gastos relacionados ao meio ambiente para avaliar o desempenho ambiental da
empresa.
Em perícia contábil, o profissional da contabilidade pode analisar o conjunto completo
das operações financeiras de um estabelecimento em busca de informações que evidenciem se
houve ou não erro ou fraude patrimonial e fiscal.
Já no planejamento e controladoria, o contador analisa ações de diversas áreas da em-
presa e propõe medidas com o objetivo de equilibrar as contas e melhorar a rentabilidade do
negócio.
Há ainda oportunidades na área de auditoria, fiscalizando as contas de uma empresa,
instituição pública ou não governamental, e no ensino, com aulas em cursos técnicos, pales-
tras e treinamento a funcionários de empresas na área contábil.

3 METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa buscou-se identificar desde a antiguidade até os dias
atuais, quais foram os principais avanços técnicos no campo da contabilidade antes da chega-
da da inteligência artificial e a robotização de processos.
Com base no levantamento realizado em sites de busca, localizando notícias publica-
das em jornais e revistas sobre o conteúdo, foram encontradas as primeiras ferramentas de
trabalho do contador, a começar pelo o ábaco, primeiro instrumento de cálculo, em seguida o
desenvolvimento do papiro (papel) e do cálamo (pena de escrever). Posteriormente encontra-
mos a calculadora mecânica, a máquina de escrever e por último, os microcomputadores.
A premissa básica desta pesquisa é que a robotização de processos, inicia-se a partir da
introdução dos primeiros microcomputadores e a expansão da internet, possibilitando a troca
de informações entre as máquinas, gerando a automação deste processo que tem sido chama-
do de robotização ou inteligência artificial.
Neste estudo, foi utilizada uma reportagem da revista Veja – veiculada na edição
2567, de 31 de janeiro de 2018 –, que foi veementemente contestada pelo Conselho Federal
de Contabilidade, ao afirmar que a profissão de contador será substituída pela máquina até
2028.
Diante do exposto, citamos trechos da carta encaminha à Veja, pelo presidente do
Conselho Federal de Contabilidade, Zulmir Breda, que classificou como “fatalista” essa pre-
visão, sendo “uma demonstração de desconhecimento da importância de nossa profissão no
presente e no futuro”.
A análise dos resultados consiste em avaliar como será o trabalho do profissional da
contabilidade neste cenário emergente, principalmente em relação à capacidade do contador
em julgar, interpretar a Norma Brasileira de Contabilidade e aplicá-la corretamente em um
contexto específico, em favor da sociedade, preservando a ética, tanto na administração públi-
ca quanto na iniciativa privada.
Dentre as principais funções atribuídas ao futuro da profissão contábil destaca-se: con-
sultoria de negócios, planejamento e controladoria, ensino, contabilidade ambiental, contabi-
lidade gerencial, auditoria, perícia contábil e compliance.

4 CONCLUSÃO

Com base no levantamento realizado, é possível concluir que o profissional da conta-


bilidade aprendeu, em séculos de atividade, a se adaptar à realidade e às revoluções. O conta-
dor passou a ser um “consultor de negócios”, deixou de simplesmente produzir os dados e
passou a analisá-los.
Entretanto, a classe ainda é um pouco resistente quando o assunto é a robotização de
processos. Poucos escritórios estão indo nesta direção. O medo do novo e a falta de conheci-
mento com relação a tecnologia, fazem com que muitos empresários ainda tenham receio na
hora de investir.
Esse obstáculo precisa ser superado. O investimento em projetos de automação passou
a ser um fator estratégico, como aconteceu com os bancos, por exemplo. Hoje seria inenarrá-
vel imaginar se as compensações e as transações bancárias ainda fossem feitas de forma ru-
dimentar.
O uso de tecnologia deve ser então, um item estratégico. Sem ela não há como crescer
de forma sustentável ou até mesmo escalonável e os escritórios contábeis não conseguem ser
mais produtivos.
A saída é não resistir às novidades e investir em qualificação. Integrar inteligência
humana e inteligência artificial para que elas tenham uma co-existência bem-sucedida. Caso
contrário, aqueles que não souberem lidar com automação, robôs, softwares modernos e usar
tudo a seu favor, estarão fortemente fadados ao fracasso.
Contudo, é preciso salientar que apesar de todas as recentes inovações, dificilmente o
robô irá substituir o importante papel do contador no que tange à tarefas como, por exemplo,
assessorar a gestão empresarial, intermediar acordos com os sindicatos e demonstrar flexibili-
dade, ou ainda fazer julgamento profissional, interpretando a Norma Brasileira de Contabili-
dade e aplicando-a corretamente em um contexto específico, a favor da sociedade, na boa
condução dos negócios, preservando a ética.
Há especialistas que garantem que a complexidade do cérebro humano é inimitável e
que os robôs nunca atingirão esse nível. Além disso, para outros, tudo que inteligência artifi-
cial faz sempre será previsível por aqueles que a programarem.

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