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 

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Truque manjado

A mídia precisa fazer algo além de


comparações com Hitler
A ojeriza da mídia a Donald Trump é consabida no globo. Mas há realmente algo a
criticar, ou só vão compará-lo bocejosamente a Adolf Hitler?
Flavio Gordon (http://sensoincomum.org/author/flaviogordon/)  02/02/2017

sensoincomum.org/2017/02/02/midia-comparacoes-hitler/ 1/11
“Saudade da velha direita” – Eis a chamada de capa da revista Exame de 23 de
Publicidade novembro de 2016, que ora tem sido muito compartilhada por críticos às últimas
medidas do novo presidente dos EUA, Donald Trump. A capa traz uma foto de
Trump, e o retrata como um inimigo da “globalização”, da “liberdade” e do “respeito às
individualidades”.

(http://sensoincomum.org/wp-content/uploads/2017/01/capa-
exame-1126.jpg)

A postura da  Exame ilustra  um dos truques mais velhos


utilizados pela esquerda para posar de moderada e tolerante com
a divergência política: afetar respeito por nomes de direita  do
passado e compará-los com os da direita atual, a fim de sugerir
sua decadência. É somente quando já não está no poder que a
“velha” direita passa a ser estrategicamente tolerada pela mesma
esquerda que antes a difamava, tanto quanto, hoje, difama a
“nova” direita.

Há alguns anos, o ultra-esquerdista Paulo Nogueira, criador do blog Diário do C. do Mundo, e


outrora diretor de redação da própria Exame, recorreu ao truque. Em artigo intitulado “A direita
órfã” (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-direita-orfa/), o sujeito  adotou um ar de
equilíbrio e moderação. Crendo-se em condições intelectuais de avaliar a qualidade da direita,
passou a tecer comentários condescendentes  sobre as idéias de Roberto Campos e Mário
Henrique Simonsen.

A pose não durou muito e o objetivo real do artigo não tardou a se revelar: atacar a direita
contemporânea, que à época Nogueira acreditava estar em maus lençóis. Tratava-se de elogiar
Campos e Simonsen para, por contraste, melhor achincalhar  (e ignorar) os atuais intelectuais
conservadores. Como se aqueles dois intelectuais  não houvessem sido tão desprezados  pela
esquerda do passado quanto hoje o são os novos conservadores e liberais. E como se,  fossem
ainda vivos, não estivessem neste exato momento sendo caluniados das maneiras as mais torpes
pelos mesmos Paulos Nogueiras que ora fingem avaliá-los com desapaixonada isenção.

O truque é aplicado em escala global, e tem-no sido reiteradamente na vasta campanha anti-
Trump movida pela esquerda mundial, como exemplifica a capa da Exame.

Quem não se lembra de como a esquerda tratava o George W. Bush quando  ele presidia
os  EUA? Era batata: a cada meia-hora, algum órgão da imprensa mundial, algum intelectual
progressista ou político do partido Democrata comparava-o a Hitler. A Guerra do Iraque era

sensoincomum.org/2017/02/02/midia-comparacoes-hitler/ 2/11
invariavelmente descrita  como o novo Holocausto. Nos meios progressistas, Bush filho era
descrito como ignorante, caipira, tosco, violento e insensível – a própria encarnação de Satanás.

Pois bem. Agora que Bush já não está no poder, a esquerda já começa a reavaliá-lo (ver, sobre
isso, este artigo de Kyle Smith publicado no New York Post
(http://nypost.com/2017/01/28/after-years-of-liberal-hate-george-w-bush-is-getting-the-respect-
he-deserves/?
utm_campaign=SocialFlow&utm_source=NYPFacebook&utm_medium=SocialFlow&sr_share=facebo
Não, é claro, por uma questão de justiça e honestidade intelectual, ou por haver, de fato, mudado
de opinião sobre o homem. Não. A reavaliação é totalmente oportunista e utilitária. Trata-se
agora de usar Bush como termo de comparação com Trump, para que este possa ser atacado com
mais legitimidade.

Por meio do truque, a esquerda está querendo dizer: “Veja, nós não nutrimos um ódio visceral
por todo presidente que não seja de esquerda. Nós somos moderados e justos. Estamos até
elogiando o Bush, viu? Nosso problema é com o Trump, esse fascista, nazista, filhote de Hitler…”

Ocorre que ser comparado a Hitler pela esquerda mundial não é privilégio do Trump. Como
dissemos, Bush também o foi… E Reagan. E Nixon. E Barry Goldwater (filho de pai judeu). Isso
para ficarmos apenas com políticos americanos.

Todos aqueles Republicanos, e muitos outros, foram em algum momento equiparados ao fürher.
Mais tarde, também viriam a ser  reavaliados pela esquerda para fins políticos. Como bem
explicou Daniel Greenfield neste artigo para a  FrontPage Magazine
(http://www.frontpagemag.com/fpm/262157/every-republican-presidential-candidate-hitler-
daniel-greenfield):

sensoincomum.org/2017/02/02/midia-comparacoes-hitler/ 3/11
“Goldwater foi Hitler. Nixon foi Hitler. Reagan foi Hitler. Bush foi Hitler. Nenhum destes
últimos declarou o Quarto Reich, proclamou-se ditador vitalício ou criou campos de
concentração. Mas a Grande Mentira reescreve retroativamente o passado ao alegar que o
Hitler da última década era decente e moderado, enquanto que o atual Hitler republicano é
um monstro terrível”.

Não se iludam. A esquerda quer nos fazer crer que há algo de intrinsecamente Hitler em Trump, e
que o seu problema não é o de ser conservador, mas o de ser fascista, racista, xenófobo etc. Falso.
Fosse qualquer outro presidente não-esquerdista, e a esquerda o estaria igualmente chamando de
fascista, racista, xenófobo etc.

A esquerda não tem nada em particular contra o Trump, e seus protestos são tudo menos
desinteressados. A esquerda – que, ao contrário da direita, é de fato um movimento unificado em
nível mundial, ao menos no domínio  da ação prática – simplesmente não aceita estar fora do
poder. Ela não tem grandes interesses pelos imigrantes, pelas mulheres, pelos gays, pelos negros
ou por qualquer outra “causa” pretensamente humanitária e de valor universal. Estes são apenas
pretextos que ela usa para destruir todo aquele com ousadia suficiente para desacatá-la. Hoje é o
Trump, e amanhã será outro, como foi outro no passado. É assim nos EUA, na Europa, no Brasil
ou em Marte.

Portanto, não. Os responsáveis pela capa da revista Exame não estão realmente com saudade da
“velha direita”. Duvido que saibam sequer defini-la. Estão simplesmente lançando mão de um
velho truque político. Querem que acreditemos que, caso fosse uma outra direita a ocupar o
poder (uma “direita” permitida), eles então a respeitariam. Nada mais falso. Está cada vez mais
claro que não respeitarão nada nem ninguém que não subscreva integralmente os ítens da
homogênea e unificada agenda da esquerda globalista, que tem hoje nos grande veículos de
imprensa os seus dóceis e fiéis porta-vozes.

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Flávio Gordon tem 37 anos, é carioca, casado, doutor em antropologia social, escritor, tradutor e autor do blog "O Brasil e o Universo: crônicas sobre
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7 Comentários Senso Incomum 


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Carlos Alberto Guedes Pereira • 3 anos atrás


A perseguição ao velho Bush no exercício da presidência era hilária de
tão patética. O noticiário não parava de ridicularizá-lo com suas "gafes",
que o transformava no mais poderoso imbecil do mundo. Qualquer
deslize de memória ou de comportamento, que afeta 100% das pessoas,
de autoria do Bush ocupava o noticiário por semanas.
O mesmo querem fazer com o Trump, mas o cara é pedra pedreira e não

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