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Obra literária: O menino Nelson Mandela

Autora: Viviana Mazza


Editora: Melhoramentos.
Temas trabalhados na obra: apartheid, conflitos da adolescência, desigualdade social, liberdade, pluralidade cultural,
racismo, sociedade e política.
Contextualização:

A jornalista italiana Viviana Mazza, correspondente internacional do jornal Corriere della Sera, tornou-se
mundialmente conhecida ao publicar em livro a história de Malala, estudante e ativista paquistanesa. Em mais uma
grande pesquisa jornalística, Viviana viajou à África do Sul para colher depoimentos de pessoas que conviveram com o
líder sul-africano Nelson Mandela, além de levantar extensa bibliografia sobre ele. A fonte principal foi a autobiografia
Longa caminhada até a liberdade, escrita por Mandela, e as histórias narradas sobre ele pelos habitantes de Qunu, sua
aldeia de origem. Nas páginas finais do livro, a autora descreve detalhadamente as fontes de consulta e agradece, em
especial, à generosidade das pessoas que encontrou na África do Sul, sobretudo dos que trabalham no Museu Nelson
Mandela, em Qunu.
O livro narra principalmente a infância e a adolescência de Rolihlahla, nome original de Mandela na língua xhosa,
falada em Qunu. Quem conta a história do menino Rolihlahla, dos 8 anos de idade até a juventude e início da vida adulta,
é vovó Nombulelo, personagem inspirada numa anciã que acolheu a autora em sua casa durante a viagem a Qunu,
contando-lhe as histórias do passado.
No livro, vovó Nombulelo compartilha com os netos e as netas os principais episódios da vida de Mandela: sua
infância simples nos campos onde pastoreava, desde pequeno, ovelhas, cabras e bezerros; sua amizade com Mackson; a
ida para Joanesburgo; a chegada da juventude; o despertar para os ideais de igualdade e democracia numa sociedade
marcada por graves injustiças sociais.
Em se tratando de uma biografia romanceada, assuntos como opressão, segregação e ativismo social são tratados
com leveza, mas sem superficialidade, respeitando-se a fidelidade aos principais acontecimentos históricos que marcaram
a biografia de Nelson Mandela. Vale lembrar que se trata da história de vida de um dos mais importantes líderes
mundiais, que passou 27 anos na prisão, foi o primeiro presidente negro da África do Sul e recebeu o prêmio Nobel da
Paz em 1993 por sua luta pelo fim do apartheid. Morreu em 05 de dezembro de 2013.

Motivação para a leitura

Conhecer a infância e a adolescência do primeiro presidente negro da África do Sul pós-apartheid, que passou 27
anos preso e conquistou o prêmio Nobel da Paz, pode motivar fortemente um jovem a ler O menino Nelson Mandela.
O recorte temporal escolhido pela autora ao registrar a biografia do líder sul-africano permite aos estudantes
identificações com diferentes graus de aproximação e distanciamento.
Como é a infância de um menino de oito anos que vive em uma aldeia sul-africana, distante dos centros
urbanos? O que ele sente e experimenta ao se mudar para uma cidade grande? E se ele é um menino negro, em pleno
sistema de segregação racial que marcou por décadas o país, qual pode ser seu destino?
É possível construir coletivamente respostas para essas perguntas à medida que se avança na leitura da narrativa.
A presença de uma narradora anciã que conta aos seus netos os principais episódios da vida de Rolihlahla confere certos
respiros ao leitor, preservando o movimento de aproximação e distanciamento anteriormente mencionado, sem que o fio
narrativo se desate.
Inquietações, dúvidas e questionamentos gerados pela complexidade dos fatos históricos que atravessam a
biografia de Mandela podem levar à busca de informações complementares, apresentadas pela autora nas páginas finais
do livro: mapa e cronologia, detalhamento das fontes de pesquisa, glossário, referências bibliográficas e audiovisuais.

Justificativa para escolha da obra:


O fato de este livro ter sido traduzido para o português e publicado no Brasil, país de população
predominantemente afrodescendente que guarda a constrangedora marca de ter sido um dos últimos países a terminar com
a escravização da população negra, já justifica a necessidade de darmos a conhecer às crianças e aos jovens fatos
históricos relevantes relacionados a temáticas presentes na obra, como desigualdade social, segregação, racismo e
ativismo. Principalmente, se houver ênfase no ponto de vista da resistência e da memória da população oprimida, como é
o caso.
Em se tratando de indicação para jovens que frequentam as séries finais do Ensino Fundamental, a leitura do livro
se torna duplamente relevante, pois seus processos identitários estão se reafirmando em direção a uma maior autonomia
intelectual, o que favorece o tratamento de temas ligados às raízes socioculturais.
Além de contemplar os aspectos anteriormente citados, O menino Nelson Mandela apresenta, ainda, ao menos
duas características que favorecem sua presença em sala de aula nesse período da escolaridade: o fato de ser uma
biografia romanceada escrita por uma renomada jornalista a partir de vasto trabalho de campo e bibliográfico que pode
servir de referência aos estudantes, inclusive como procedimento de pesquisa; e também pelo fato de informações
culturais terem sido incorporadas à linguagem literária, preservando o importante amálgama entre ética e estética e
tornando a narrativa acessível e fluida.

Competências gerais e habilidade segundo a BNCC:

A BNCC prevê o desenvolvimento de competências gerais e habilidades específicas no campo artístico-literário


que são favorecidas pela leitura de obras como esta.
É exemplo de competência geral: “Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
qualquer natureza”.
E como exemplo de habilidade específica em diálogo com a obra podemos destacar: “Inferir a presença de
valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos
formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto
social e histórico de sua produção”.

Questões de linguagem

O livro permite a realização de análises linguísticas a partir de diversas perspectivas. É possível analisar trechos
com linguagem poética e figuras de linguagem. É possível analisar a importância da autora ter inserido/mantido algumas
palavras na língua falada pela etnia xhosa, a qual Mandela pertence. Outra análise importante de ser feita é o uso do
recurso gráfico do itálico para separar as duas narrativas presentes no livro.

Análise histórica
Esse livro permite a construção de várias atividades para trabalhar principalmente a questão do Apartheid, a
segregação racial em outros lugares do mundo e de que maneira a ONU e outros países se articularam e se posicionaram
contra o que acontecia na África do Sul. É possível conectar essa discussão com questões contemporâneas, afinal a
população palestina também passa por leis segregacionistas impostas pelo Estado de Israel.

“O Menino Nelson Mandela”

Da infância como pastor de ovelhas passando por sua libertação após quase trinta anos de prisão, a biografia
romanceada O MENINO NELSON MANDELA, de Viviana Mazza, conta a história do ativista que ganhou o Prêmio
Nobel da Paz em 1993 e liderou seu povo na luta pela liberdade.
Vovó Nombulelo, do povoado de Qunu, onde Mandela nasceu, é quem narra amorosamente toda a história do
conterrâneo ilustre para os seus netos. A narrativa começa apresentando às crianças um Mandela ainda menino, aos 8
anos de idade, quando era chamado apenas de Rolihlahla, que, em sua língua, significa um grande encrenqueiro, “aquele
que puxa os ramos da árvore”. Mas o garoto levava uma vida tranquila, como pastor das ovelhas da família, correndo e
brincando pelos campos, sem deixar de frequentar as aulas na escola inglesa. Aliás, foi a professora quem deu a ele o
nome de Nelson.
Naquele tempo, era costume na África do Sul, colonizada pelos britânicos, que as crianças africanas recebessem
um nome inglês ao serem batizadas ou ao ingressarem na escola.

Mudança de rumo

O destino de Nelson mudaria quando, aos 12 anos, seu pai morreu. Sua mãe então o levou para o Grande Lugar, a
capital provisória de Thembuland. Nelson era descendente de reis: seu bisavô tinha sido um dos maiores reis thembu,
“que unira todas as tribos antes que os britânicos impusessem seu domínio”. O menino foi deixado aos cuidados de
Jongintaba, o regente do Grande Lugar, que seria seu tutor e o educaria como conselheiro do rei.
Aos 16 anos, o adolescente passou pela cerimônia de circuncisão, que marcava a passagem para a vida adulta, e
trocou o nome de Rolihlahla pelo de Dalibhunga, seu nome de homem, de conselheiro do rei que significa “aquele que
promove o diálogo”. O tutor de Nelson cuidou para que ele completasse os estudos em escolas missionárias e ingressasse
na universidade.
Mas, na universidade, Nelson começou a lutar por seus princípios e acabou sendo expulso. Foi morar em Soweto,
Joanesburgo, subúrbio restrito aos negros. Lá, trabalhava como estagiário em um escritório de advocacia de brancos,
enquanto estudava à noite para concluir o curso de Direito a distância. Logo Nelson deu início a sua militância política,
aderindo a uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus reservados aos negros.

Perseguição política

Mandela foi preso pela primeira vez durante a Campanha de Desafio às leis do apartheid, o sistema de segregação
racial. Durante cinco meses, manifestantes negros desarmados entravam em áreas reservadas aos brancos, como salas de
espera de estações, ônibus e banheiros públicos. O objetivo era justamente serem presos sem resistência, promovendo
uma luta pacífica.
Quando perceberam que dessa forma não avançavam, Nelson e seus companheiros criaram a organização militar
Umkhonto we Sizwe (A Lança da Nação), que tinha como objetivo sabotar centrais elétricas, instalações militares e
outros edifícios governamentais, evitando, porém, atingir pessoas inocentes. Vivendo na clandestinidade, Nelson acabou
sendo preso. Depois de um longo julgamento, foi condenado à prisão perpétua.
Antes de ouvir a sentença, proferiu um discurso de 4 horas, no qual destacou:

“Durante toda minha vida, dediquei-me à luta do povo africano. Combati a dominação dos brancos e combati
contra a dominação dos negros. Acalentei no meu coração o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas
as pessoas possam viver juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual desejo viver. E é um
ideal pelo qual estou disposto a morrer, se necessário.”

Construção do diálogo

A vida de Mandela é retratada no livro de Viviana Mazza que aborda com leveza assuntos como opressão,
racismo, segregação, conflitos e desigualdade sociais. A narrativa oferece ainda a reflexão sobre valores humanos,
liberdade, superação, violência e preconceito e ressalta a importância da construção do diálogo.
Entendendo que não era possível derrotar o governo sul-africano em seu campo de batalha, Mandela começou a
trabalhar pelo diálogo ainda na prisão. Precisou de longos anos para construir essa ponte entre o governo dos brancos e as
lideranças de seu povo oprimido. Mas, em 11 de fevereiro de 1990, quando foi libertado após 27 anos de prisão e
encontrou milhares de pessoas à sua espera, tinha um campo propício para semear os ideais de igualdade e democracia
que marcaram sua vida de ativista.

Link do vídeo sobre Nelson Mandela


https: //www.youtube.com/watch?v=UvrIdiPj0PY

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