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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO


3a VARA DO TRABALHO DE CUIABÁ - MT

Aos vinte dias do mês de janeiro, do ano 2.005, às 17:56 horas, na 3 a VARA FEDERAL
DO TRABALHO DE CUIABÁ – MT, por determinação do JUIZ JOÃO HUMBERTO
CESÁRIO, foi aberta a sessão de julgamento relativa ao processo 01022.2004.003.23.00-2, onde
contendem LUIZ CARLOS BERLOFFA (RECLAMANTE) e MECÂNICA AATS LTDA – ME
(RECLAMADA). Observada a praxe, o processo foi submetido a julgamento, sendo prolatada a
seguinte sentença:

I – RELATÓRIO

CARLOS BERLOFFA (RECLAMANTE), ajuizou a presente reclamatória em face de


MECÂNICA AATS LTDA – ME (RECLAMADA), em 31.05.04. Formulou, face aos fatos e
fundamentos expendidos, os pedidos elencados no libelo. Colacionou documentos. Deu à causa o
valor de R$10.996,77.

Regularmente citada, a reclamada compareceu à sessão inaugural da audiência,


apresentando resposta na forma de contestação aos itens postulados, com documentos.

Réplica do reclamante às fls. 86/93, contudo que intempestiva, conforme os termos da


certidão de fls. 95 em cotejo com o protocolo de fls. 86.

Realizada a sessão instrutória da audiência, sendo registrada a ausência do reclamado.

Este, no que importa, o relatório. Cuidadosamente vistos e examinados, decido.

II – FUNDAMENTAÇÃO

EM PRELIMINAR: INÉPCIA DA INICIAL

Sem razão a reclamada no que diz respeito ao eriçamento de preliminar de inépcia da


inicial. Embora a primígena não seja de fato um primor de técnica jurídica, acabou por atender
aos rudimentares requisitos perfilhados no artigo 840 da CLT, permitindo à vindicada o regular
exercício de seu direito de defesa, desenvolvido a contento no plano da abstração. Rejeito.

EM PREJUDICIAL: AUSÊNCIA DA RECLAMADA NA SESSÃO EM


PROSSEGUIMENTO EM QUE DEVERIA DEPOR - APLICAÇÃO DO E.74/TST -
CONFISSÃO FICTA QUE SE RECONHECE

Não comparecendo a reclamada à sessão instrutória da audiência (ata de fls. 96), apesar
de regularmente intimada para a prestação de depoimento pessoal, sob as cominações do
E.74/TST (ata de fls. 40), é considerada confessa quanto à matéria fática.

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Entretanto, os efeitos da confissão ficta, ensejando mera presunção relativa de veracidade
dos fatos articulados na primígena, não acarretam no imediato acolhimento dos pedidos do autor,
que serão desafiados sob a ótica do direito e em relação aos demais elementos existentes nos
autos, inclusive a intempestividade da réplica de fls. fls. 86/93 (observe-se o cotejo da certidão de
fls. 95 com o protocolo de fls. 86).

EM MÉRITO

APLICAÇÃO DE MULTAS COM BASE NOS ARTIGOS 644 e 645 DO CPC

A rigor, o “requerimento” em questão (vide penúltimo parágrafo de fls. 09) haveria que ser
considerado inepto, haja vista que do narrado não decorre lógica conclusão (inciso II, do parágrafo
único, do artigo 295 do CPC), já que estamos na fase cognitiva de um procedimento judicial,
enquanto que artigo 645 do CPC cuida da execução das obrigações de fazer ou não fazer lastreadas
em títulos extrajudiciais.

Por outro lado, é de se ver ainda, que o artigo 644 do codex adjetivo, quando em si
considerado, não traz em seu bojo a previsão multa. Muito provavelmente, o que pretende o
vindicante, com efeito, seria a aplicação das astreintes previstas no § 5o do artigo 461 do CPC, a
cujo teor o parágrafo único do artigo 644 faz expressa remissão. Todavia, as sanções ali previstas
podem ser impostas até mesmo de ofício pelo magistrado.

Em sendo assim, e a rigor, diante da sofrível técnica jurídica articulada, o “requerimento”


em questão haveria que ser extinto sem exame meritório. Todavia, sendo tão notória a
impropriedade do pleito, resolvo desafiá-lo quanto ao mérito, a fim de rejeitá-lo sem maiores
delongas.

Em caso de necessidade, com o desiderato de implementar efetividade ao decidido, valer-


me-ei dos poderes espontâneos que me são conferidos pelo § 5o do artigo 461 do CPC.

QUESTÕES FÁTICAS PRIMORDIAIS: SALÁRIO E JORNADA PRATICADOS –


CONDENAÇÃO DA VINDICADA

Assevera o reclamante que percebia o salário de R$850,00 mensais, dos quais apenas
R$443,00 eram contabilizados oficialmente (somados ao adicional de insalubridade em grau
médio), sendo pagos extrafolha os R$407,00 restantes. Postula, a partir daí, as diferenças que
entende de direito.

Na esteira de suas ponderações, aduz ainda o vindicante, que labutava de segunda a sexta-
feira das 07:30 às 18:00 horas, com uma 1:30 h de intervalo intrajornada, e aos sábados das
07:30 às 11:30 horas. Pugna por extraordinárias e reflexos.

Em defesa, a reclamada adota a linha de negativa dos fatos constitutivos do direito do


autor, imputando-lhe o encargo probatório. Todavia, ao deixar de comparecer à sessão instrutória
da audiência, tornou-se confessa quanto à matéria fática, não havendo nos autos elementos
elidentes da presunção relativa de veracidade dos fatos estampados na exordial.

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Frise-se que, ainda que extemporânea a réplica de fls. 86/93 (em míseros dois meses....),
tal fato não possui o condão de transmudar a sorte da vindicada, pois mesmo não impugnados os
recibos de pagamento carreados com sua resposta, foram eles denunciados, já na exordial, como
insatisfatórios ao reconhecimento da total extensão salarial.

De tal arte, tenho como reais o salário e a jornada apontados pelo trabalhador.

Em corolário lógico, condeno a reclamada ao pagamento das diferenças circulares


expansionistas postuladas em FGTS + 40% de todo o lapso temporal laborado, férias simples +
1/3 do interregno 2002/2003, 08/12 de férias proporcionais + 1/3, 19 dias de saldo de salário do
mês 03/2004, 4/12 de 13o salário do ano 2002 (respeitados os limites do pedido do autor), 13o
salário integral do ano 2003, 03/12 de 13o salário do ano 2004 (não há que se falar em projeção
de aviso incontroversamente trabalhado – lembre-se que os campos “23 e “24” do TRCT de fls.
64 não foram impugnados). Indefiro as diferenças em aviso prévio (vide primeiro item de fls.
09), na medida em que o instituto, como visto, foi cumprido de modo trabalhado, com as
diferenças abrangidas no saldo de salário.

Em igual tom, condeno a reclamada a pagar ao reclamante, como extraordinárias


acrescidas do adicional constitucional de 50%, as horas laboradas além da 8 a diária e 44a semanal
durante todo o período contratual.

Reflexos, observadas as médias duodecimais pertinentes e os parâmetros do E. 347/TST,


em férias integrais e proporcionais + 1/3 de todo o período trabalhado, 13 os salários integrais e
proporcionais de todo o período laborado e FGTS + 40% também de todo o contrato.

A apuração dos valores devidos será realizada através de liquidação por cálculos, com
observância do Enunciado 264 do TST, observado o divisor de 220.

Outrossim, acolho o pedido de natureza executiva lato sensu veiculado no libelo, para
determinar, com fulcro do artigo 39, §§ 1 o e 2o da CLT, que após o trânsito em julgado, a
Secretaria retifique a CTPS do autor, para nela constar o salário de sentido estrito reconhecido
em sentença (R$850,00 mensais), com a subseqüente expedição de oficio, dando conta do
ocorrido, à DRT, CEF e INSS.

DIFERENÇAS EM INSALUBRIDADE

Rejeito o pedido à balha.

A questão é singela, não comportando fundamentação demasiado alongada.

Ocorre que, pelo incontroverso da matéria, o autor fazia jus à insalubridade em grau
médio (inicial e contestação não destoam quanto ao constatado).

Logo, com os olhos voltados para a dicção do artigo 192 da CLT e com base na
documentação carreada pelo próprio demandante (vide, v. g., o documento de fls. 18), o

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adicional de insalubridade foi pago de modo correto, já que 20% do salário mínimo praticado no
mês 01/2004 correspondem aos R$48,00 adimplidos (R$240,00 X 20% = R$48,00).

Em verdade, o pedido tangenciaria a má-fé, contudo, parece-me que, ao revés disso,


nasceu da debilidade do reclamante em interpretar seu recibo de pagamento, já que ao asseverar
que recebia apenas R$20,00 a título do crédito em tela (vide último parágrafo de fls. 03), deixou
entrever que considerou, como valor pago, a indicação lançada na coluna “referência” dos
recibos de pagamento, não se atentando para o fato de que o montante adimplido está relacionado
na coluna “vencimento”.

Por fim, se aproxima do teratológico a insurgência do autor para com os R$30,00


recebidos a título de insalubridade no mês da rescisão (vide ainda o último parágrafo de fls. 03).
Ora, se trabalhados apenas 19 dias no aludido mês, o autor jamais poderia receber o pagamento
total do crédito, fazendo jus, portanto à proporcionalidade de sua labuta. Logo, se para 30 dias de
labor deveria receber R$48,00 de pagamento a título de adicional de insalubridade, nada mais
razoável que, trabalhando apenas 19 dias, receba os R$30,40 pagos no campo “41” do TRCT de
fls. 17. Nada a deferir.

INCIDÊNCIAS FUNDIÁRIAS NÃO DEPOSITADAS

Relata o postulante que mesmo quando considerado o salário contabilizado, não foram
depositadas as competências fundiárias alusivas aos meses 08, 09, 11 e 12/2002 e 01, 02 e
03/2004. Postula-as acrescidas de 40%.

Em defesa, a reclamada redargúi a tese, fazendo remissão aos documentos que a instruem,
que, como visto, não foram objeto de impugnação tempestiva por parte do obreiro.

Contudo, o fato é que, detidamente analisada a prova documental carreada pela reclamada
(fls. 70 e 72/83), denoto que, à exceção da incidência 03/2004 (adimplida conforme doc. de fls
70), as demais não foram de fato depositadas.

De tal arte, mesmo não impugnada tempestivamente, a prova documental não possui
força para isentar a reclamada das obrigações fundiárias pendentes.

Dessarte, condeno-a ao pagamento direto das competências 08, 09, 11 e 12/2002 e 01 e


02/2004, acrescidas de 40%.

Esclareço que no tópico vertido a base de cálculo será o salário contabilizado, pois quanto
à paga marginal pronunciei-me alhures.

JUSTIÇA GRATUITA

Ao reclamante os benefícios da Justiça Gratuita, eis que presentes os requisitos previstos


no artigo 790, parágrafo 3o da CLT.

III – DISPOSITIVO

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Assim sendo, resolvo, nos autos da Reclamação Trabalhista No 01022.2004.003.23.00-2,
onde contendem LUIZ CARLOS BERLOFFA (RECLAMANTE) e MECÂNICA AATS LTDA
– ME (RECLAMADA):

1 – Acolher integralmente o pedido de cunho executivo lato sensu, para determinar à


Secretaria da Vara que, após o trânsito em julgado, retifique a CTPS do autor, para nela constar o
salário de sentido estrito reconhecido em sentença (R$850,00 mensais), com a subseqüente
expedição de oficio, dando conta do ocorrido, à DRT, CEF e INSS.

2 – Acolher em parte os pedidos condenatórios contidos na ação, para condenar a


reclamada a pagar ao reclamante, com correção monetária e juros de mora ex lege, observados o
E.200/TST e a OJ124/SDI-TST, no prazo de 48 horas do trânsito em julgado da presente, as
seguintes verbas: 2.1 - diferenças marginais postuladas em FGTS + 40% de todo o lapso
temporal laborado, férias simples + 1/3 do interregno 2002/2003, 08/12 de férias proporcionais +
1/3, 19 dias de saldo de salário do mês 03/2004, 4/12 de 13o salário do ano 2002, 13o salário
integral do ano 2003, 03/12 de 13o salário do ano 2004; 2.2 - horas extras, com reflexos em férias
integrais e proporcionais + 1/3 de todo o período trabalhado, 13 os salários integrais e
proporcionais de todo o período laborado e FGTS + 40% também de todo o contrato; incidências
fundiárias dos meses 08, 09, 11 e 12/2002 e 01 e 02/2004, acrescidas de 40%.

3– Rejeitar os demais pedidos contidos na ação, para deles absolver a reclamada.

Liquidação por cálculos, observados os parâmetros descritos no corpo da sentença.

Tudo nos termos da fundamentação, que passa a fazer parte do presente dispositivo, para
todos os fins que se fizerem necessários.

Para efeitos do parágrafo 3o, do artigo 832 da CLT, declaro que as parcelas “diferenças
marginais em 19 dias de saldo de salário do mês 03/2004, 4/12 de 13 o salário do ano 2002, 13o
salário integral do ano 2003, 03/12 de 13 o salário do ano 2004; e horas extras, com reflexos em
13os salários integrais e proporcionais de todo o período laborado” possuem natureza salarial,
sendo devidos os recolhimentos previdenciários que lhe são pertinentes, a cargo das respectivas
partes, observadas as regras legais atinentes, bem como o provimento 01/96 da E. Corregedoria
do TST, inclusive para efeitos de imposto de renda.

A reclamada deverá proceder ao recolhimento das contribuições sociais previstas no


artigo 195, I, ‘a’ e II da CRFB, no prazo de 48 horas após o trânsito em julgado da presente, sob
pena de execução de ofício (artigo 114, par. 3o da CRFB).

Custas pela reclamada, no importe de R$200,00, calculadas sobre R$10.000,00, valor


arbitrado à condenação.

Ciente o reclamante (E.197/TST).


Notifique-se a reclamada.

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Prestação jurisdicional cognitiva entregue.

Juiz JOÃO HUMBERTO CESÁRIO

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