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AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA DE UM HOSPITAL ATRAVÉS DO


MÉTODO DE HIROSAWA ADAPTADO À REALIDADE BRASILEIRA

Conference Paper · October 2013

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Tereza Denyse Pereira de Araújo


Universidade Federal do Ceará
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AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SÍSMICA DE UM
HOSPITAL ATRAVÉS DO MÉTODO DE HIROSAWA ADAPTADO
À REALIDADE BRASILEIRA

SEISMIC VULNERABILITY EVALUATION OF AN HOSPITAL THROUGH THE HIROSAWA METHOD


ADAPTED TO BRAZILIAN REALITY

Flávia Pereira Moreira(1); Tereza Denyse Pereira de Araújo(2)

(1) Graduanda em Engenharia Civil - Universidade Federal do Ceará


(2) Professora Doutora, Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil - Universidade Federal
do Ceará
Campus Universitário do Pici, Bloco 710 - Fortaleza - Ceará - Brasil - CEP: 60455-760

Resumo
Desde a publicação da NBR 15421 (ABNT, 2006) que os projetos de novas estruturas de concreto armado
passaram a ter requisitos de resistência a sismos. Entretanto, a norma não abrange os edifícios já
existentes, as quais estão mais vulneráveis a abalos sísmicos. Vários métodos de avaliação de
vulnerabilidade sísmica foram desenvolvidos, principalmente por países que apresentam terremotos
constantes, como o Japão. O método de Hirosawa, também conhecido como método Japonês, foi adaptado
à realidade predial brasileira por MIRANDA (2010), mais precisamente o seu primeiro nível. Este nível
consiste em uma avaliação qualitativa da estrutura, indicando apenas o quanto esta é vulnerável
sismicamente de acordo com as suas características gerais. O objetivo deste trabalho é avaliar a
vulnerabilidade do Centro Médico Gabriel Soares, localizado em Aracajú/SE, utilizando o método de
Hirosawa adaptado à realidade brasileira. As estruturas de hospitais são consideradas essenciais em
situações de emergência. Portanto, o diagnóstico desta vulnerabilidade sísmica permite adotar
procedimentos de reforço estrutural.
Palavra-Chave: Vulnerabilidade, Terremotos, Hirosawa, Hospital.

Abstract
Since the publication of NBR 15421 (ABNT, 2006) that projects of new reinforced concrete structures have
requirements for resistance to earthquakes. However, the code does not apply to existing buildings, which
are more vulnerable to seismic activity. Several methods to evaluating the seismic vulnerability were
developed mainly by countries with continuous earthquakes, such as Japan. The Hirosawa method, also
known as Japanese method, was adapted to Brazilian building reality by MIRANDA (2010), more precisely
its first level. This level consists of a qualitative assessment of structure, indicating just how much the
structure is seismically vulnerable according to their general characteristics. The aim of this work is
evaluating the vulnerability of Gabriel Soares Medical Center, located in Aracaju / SE, using the Hirosawa
method adapted to Brazilian reality. The hospital structures are considered essential in emergency
situations. Therefore, the diagnosis of this seismic vulnerability allows adopt procedures for structural
reinforcement.
Keywords: Vulnerable, Earthquakes, Hirosawa, Hospital.

ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 1


1 Introdução

Os terremotos ou abalos sísmicos são vibrações na superfície da terra resultantes do


movimento das placas tectônicas (blocos rochosos de grandes dimensões que formam a
crosta terrestre). Estes movimentos podem causar o afastamento das placas, a colisão
delas, ou o deslizamento de uma placa em relação à outra (PASENTI, 2011), liberando
uma imensa quantidade de energia que se propaga em todas as direções sob a forma de
ondas elásticas. No encontro entre duas placas são formadas zonas de fraqueza
conhecidas como falhas geológicas, onde são gerados os maiores terremotos (SILVA,
2008).
Os abalos sísmicos são caracterizados pela sua magnitude e intensidade. A magnitude
está associada com a energia liberada pelo terremoto, a qual é determinada pelos
sismógrafos, que mede a amplitude das ondas produzidas pelo sismo. A Escala Richter é
utilizada para medir essa liberação de energia, numa escala logarítmica. Isto quer dizer
que um aumento unitário na magnitude significa um aumento de dez vezes na amplitude
do movimento de onda. Já o conceito de intensidade sísmica está relacionado com o
modo como se percebe a vibração do solo e os danos produzidos pelo sismo, ou seja, é
uma medida qualitativa, enquanto a magnitude é uma medida quantitativa. A escala
Mercalli Modificada é a mais utilizada pelos profissionais, possuindo 12 níveis de
intensidade que variam de movimentos imperceptíveis pelo homem até destruições
catastróficas.
Os danos causados às sociedades pelos terremotos não são provocados pelo
deslocamento das placas tectônicas, mas sim pelas vibrações (ondas sísmicas) que
atingem a superfície da Terra. Os prejuízos financeiros, o grande número de vidas
perdidas e a destruição das cidades é o resultado do colapso das estruturas devido aos
esforços gerados pelos abalos sísmicos. Estas estruturas, geralmente, não são
preparadas para suportar esse tipo de esforço, causando a sua ruptura.
Países como China e Japão são conhecidos por apresentarem com frequência abalos
sísmicos de alta magnitude, o que impulsionou estudos mais aprofundados sobre os
efeitos destes abalos nas estruturas e gerando edificações menos vulneráveis aos
tremores de terra, diminuindo assim os efeitos destes na sociedade.
O Brasil se situa no centro da placa tectônica Sul-Americana, onde a ocorrência de
terremotos é relativamente baixa. Entretanto, isto não significa que o território brasileiro
seja totalmente inativo sismicamente, ou seja, os abalos sísmicos são causados em geral
por falhas existentes, ou por reflexos de tremores ocorridos em países vizinhos, como por
exemplo, na Cordilheira dos Andes (SILVA, 2008).
O País possui 48 falhas geológicas identificadas que se concentram nas Regiões
Sudeste e Nordeste (PASENTI, 2011). No entanto, é conhecido o registro de abalos em
todo o território, entre o século XX e XXI, podendo-se citar o que ocorreu na Serra do
Tombador, no Mato Grosso, atingindo 6,6 graus na escala Richter. Em 2007, foi
registrada a primeira morte causada por um terremoto no Brasil, no município de
Itacarambi em Minas Gerais, cujo tremor atingiu 4,9 graus na escala Richter.
No Nordeste, vale a pena citar a sequência de tremores que ocorreram em 1986 na
cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, chegando a atingir 5,1 graus de
magnitude o que provocou danos significativos. Já em 2008, a cidade de Sobral, no
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Ceará, registrou um terremoto de 4,3 graus de magnitude e outros pequenos tremores
foram sentidos em cidades vizinhas. Não houve feridos, entretanto o tremor assustou a
população local. Desde então, a região vem sofrendo constantes abalos de menores
magnitudes (DIÁRIO DO NORDESTE, 2012).
O Brasil, em 2006, publicou a NBR 15421 – Projeto de estruturas resistentes a sismos
com o intuito de estabelecer requisitos para a verificação da segurança das estruturas
usuais da construção civil em relação às ações de sismos. Esta norma trata da
obrigatoriedade da consideração das ações sísmicas nos projetos de novas estruturas.
Contudo, a grande maioria dos edifícios existentes no país foi construída sem levar em
consideração as recomendações desta norma, fazendo-se necessário à aplicação de
métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica nestas estruturas.
A vulnerabilidade sísmica de estruturas é definida como sendo a susceptibilidade ao
dano devido ao movimento de base imposto por um terremoto de determinada
intensidade (CALVI et al., 2006). O objetivo da avaliação da vulnerabilidade é obter a
probabilidade de um determinado tipo de estrutura sofrer um determinado nível de dano
devido a um cenário sísmico.
Vários são os métodos de avaliação de vulnerabilidade sísmica utilizados no mundo,
podendo-se citar os trabalhos de LANTADA et al. (2004), BERNARDINI (2000),
ROSSETO e ELNASHAI (2003), HIROSAWA (1992), e CALVI (1999). Estes métodos são
classificados em três grupos: os qualitativos, os quantitativos e os experimentais. Os
métodos qualitativos são indicados para uma avaliação inicial de um conjunto de
estruturas, enquanto que os métodos quantitativos e experimentais são indicados para
situações e edificações específicas, possuindo como vantagem a indicação do
comportamento da estrutura em termos de evolução de danos, quando submetida a um
abalo sísmico.
Dentre os métodos citados, o que merece destaque é o método proposto por
HIROSAWA (1992), também conhecido como método japonês. Este é aplicado em escala
mundial na avaliação de edificações de concreto, possuindo três níveis de avaliação: o
primeiro nível de ordem qualitativa e os demais de ordem quantitativa. O volume de
informações necessárias, a complexidade do cálculo e a precisão dos resultados, variam
em ordem crescente, ou seja, do primeiro para o terceiro nível de avaliação.
O primeiro nível de avaliação do método de Hirosawa foi adaptado à realidade predial
brasileira por MIRANDA (2010) para as estruturas de concreto armado. Para tal, foram
usados parâmetros da NBR 15421 (ABNT, 2006) e as características construtivas
brasileiras, podendo ser aplicado a edifícios de até oito pavimentos (ALBUQUERQUE,
2008), limitação imposta pelo método de Hirosawa original.
O objetivo deste trabalho é avaliar a vulnerabilidade sísmica do Centro Médico Gabriel
Soares, localizado em Aracajú/SE, utilizando o método de Hirosawa adaptado à realidade
predial brasileira.

2 Método de Hirosawa adaptado à realidade brasileira

A avaliação de vulnerabilidade sísmica de edifícios foi inicialmente desenvolvida nos anos


70. Nos países de grande atividade sísmica, como por exemplo, o Japão, vários métodos
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de avaliação da vulnerabilidade de edifícios em estruturas de concreto são
constantemente desenvolvidos e aplicados. Nos projetos das edificações destes países,
já é considerado os esforços causados pelos tremores de terra. Contudo, alguns destes
métodos são bastante trabalhosos e caros e a sua aplicação não se justifica em um país
de baixa atividade sísmica como o Brasil. Para regiões de baixa sismicidade, são
desenvolvidos e testados, em todo o mundo, métodos de baixo custo que sejam
adequados a esta configuração.
O primeiro nível do método de Hirosawa, adaptado à realidade brasileira por MIRANDA
(2010), se baseia nas características gerais da estrutura para indicar sua vulnerabilidade,
podendo ser aplicado em grande escala. A base do método consiste em comparar a ação
das forças sísmicas horizontais com a resistência ao cisalhamento dos elementos
estruturais, através da comparação direta do índice de solicitação sísmica, I s0, e o índice
de desempenho sísmico, Is. A resposta obtida da comparação destes índices leva a duas
situações: Is ≥ Is0, a edificação tem segurança frente ao evento sísmico idealizado e pode
continuar a ser usada sem a necessidade de reforço sísmico; I s < Is0, a edificação tem um
comportamento incerto frente ao evento sísmico idealizado.
O método original considera como elementos verticais os pilares curtos, os pilares e as
paredes de concreto. Contudo, no método adaptado só são considerados os pilares de
concreto, pois no Brasil não é comum a presença de paredes de concreto e pilares curtos
em edifícios de até oito pavimentos (limite imposto pelo método original). Nestes edifícios,
os pilares apresentam larguras de no máximo 30 cm, sendo que a presença de pilares
curtos fica condicionada à altura livre dos pilares de no máximo 60 cm (MIRANDA, 2010).
Os índices de desempenho sísmico, Is, e de solicitação sísmica, Is0, são definidos por:

I s  E0  S D  TD (Equação 1)

I s 0  Es 0  Z  G  U (Equação 2)

onde E0 é o subíndice de desempenho sísmico básico estrutural; SD é o subíndice de


configuração estrutural; TD é o subíndice de deterioração estrutural; Es0 é o subíndice de
solicitação sísmica básica; Z é o subíndice de sismicidade; G é o subíndice topográfico e
geotécnico; U é o subíndice de importância da edificação.
O subíndice E0 considera apenas a capacidade resistente dos pilares, sendo
determinado pela seguinte equação:

 n  1   fc ( c1  Ac1   c 2  Ac 2 ) 
E0     a1     Fc (Equação 3)
 n  i   20 W 

onde n é o número de pavimentos; a1 é o fator de redução da capacidade resistente dos


pilares de acordo com o deslocamento das paredes verificado no momento da ruptura
destas; fc é a resistência do concreto à compressão; τc1 é a resistência média ao
cisalhamento no estado limite último dos pilares cuja altura livre dividida pela base da
seção do pilar é menor que 6,0; τc2 é a resistência média ao cisalhamento no estado limite
último dos pilares cuja altura livre dividida pela base da seção do pilar é maior ou igual a
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6,0; Ac1 é o somatório das áreas de seção transversal dos pilares cuja altura livre dividida
pela base da seção do pilar é menor que 6,0; Ac2 é o somatório das áreas de seção
transversal dos pilares cuja altura livre dividida pela base da seção do pilar é maior ou
igual a 6,0; W é o peso da estrutura (segundo a NBR 15421:2006) e Fc é o índice de
ductilidade dos pilares.
Os subíndices SD e TD (Eq. 1) são os mesmos recomendados pelo método de
Hirosawa original. O subíndice SD considera a influência da irregularidade de forma e da
distribuição de rigidez e massa da edificação no desempenho sísmico, o qual é calculado
por:

S D1  q1a  q1b  ......... q1k (Equação 4)

onde:

q1i  1  1  Gi  Ri  i  a, b, c, d , e, f , g , i, j, k (Equação 5)

q1i  1,2  1  Gi  Ri  i  h (Equação 6)

Os termos a, b, c, ..., k (Eq. 5) são itens que se referem às irregularidades encontradas na


edificação; Gi (Eq. 6) são fatores de escala para determinação do valor de cada item i; e Ri
(Eq. 6) são fatores que representam o peso atribuído a cada item i. Os valores dos
parâmetros Gi e Ri são mostrados na Tabela 1, segundo cada item i. O índice 1 nas
equações (4), (5) e (6) refere-se ao primeiro nível de avaliação do método de Hirosawa.

Tabela 1 – Fatores Gi e Ri para avaliação do índice SD (Hirosawa) - Fonte: Miranda (2010)


Valor Gi Valor
Nível Itens
1,0 0,9 0,8 Ri
a. Regularidade em planta a1 a2 a3 1,0
b. Relação entre dimensões em
b<5 5<b<8 8>b 0,5
planta (b=m/n)
c. Contração em planta (c=C1/C0) c>0,8 0,8>c>0,5 0,5>c 0,5
d. Juntas de dilatação d>1/100 1/100>d>1/200 1/200>d 0,5
e. Pátio interno e<0,1 0,1<e<0,3 0,3<e 0,5
f. Excentricidade do pátio interno f1<0,4 e f1<0,4 e 0,4<f1 ou
Primeiro nível 0,25
de avaliação f2<0,1 0,1>f2>0,3 0,3<f2
g. - - - - -
h. Pisos enterrados h>1,0 1,0<h<0,5 0,5>h 1,0
i. Uniformidade nas alturas entre
i>0,8 0,8>i>0,7 0,7>i 0,5
pisos dos pavimentos
j. Uniformidade da rigidez dos Inexistente com
Existente Inexistente 0,5
elementos verticais em altura efeito de torção
k. - - - - -

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Na Tabela 1, os termos a1, a2 e a3 são classificações para a regularidade em planta da
edificação (Figura 1a), sendo que a1 refere-se a uma simetria aproximada em planta e a
área de projeção é inferior a 10% da área total do pavimento; em a2, os pavimentos do
edifício têm forma de L, T ou U em planta, sendo o somatório das projeções inferior a 30%
da área total do pavimento; e em a3 observa-se maiores irregularidades em planta do que
no caso a2 e o somatório das projeções é superior a 30% da área total do pavimento. As
projeções a serem consideradas devem satisfazer a relação y/x ≥ 0,5.

Figura 1 – Irregularidades encontradas em edificações: (a) Regularidade em planta; (b) Relação entre
dimensões; (c) Contração em planta. (Fonte: MIRANDA, 2010)

O parâmetro b é a razão entre a maior dimensão em planta da edificação, m, com a


menor dimensão da edificação, n. Em estruturas não retangulares, considera-se a maior
dimensão, m, igual a 2w, sendo que w é como indicado na Figura1b; a variável c é a
relação entre as medidas C1 e C0 conforme mostra a Figura 1c; d é a relação entre a
espessura da junta de dilatação e a distância desta ao solo; e é a relação entre a área do
pátio interno e a área total do pavimento, incluindo a área do pátio interno; f1 é a relação
entre a distância do centro geométrico do pátio interno ao centro geométrico do pavimento
e a menor dimensão do pavimento; f2 é a relação entre a distância do centro geométrico
do pátio interno ao centro geométrico do pavimento e a maior dimensão do pavimento; h é
a relação entre a área do piso enterrado e a área do primeiro pavimento; e i é a relação
entre a altura do pavimento imediatamente superior ao pavimento analisado e a altura
deste pavimento. Os itens g e k são considerados “outros” no método original, que não
explica exatamente a que se referem.
Na análise da vulnerabilidade de uma estrutura, cada pavimento é avaliado segundo os
itens da Tabela 1 e o menor valor obtido é aplicado ao edifício, ou seja, é atribuído ao
parâmetro SD.
O subíndice TD considera o desempenho estrutural da edificação devido a sua
deterioração no tempo. É determinado através de levantamento de campo, ou seja, a
estrutura é inspecionada segundo os itens expostos na Tabela 2. A inspeção estrutural
consiste de uma entrevista com o proprietário e observação visual da edificação. O menor
dos valores extraídos da tabela deve ser tomado como valor único deste subíndice.
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Tabela 2 – Itens de inspeção para o índice TD (Fonte: MIRANDA, 2010).
Item Grau de intensidade Valor de TD
- edificação com inclinação ou recalque diferencial 0,7
- edificação construída sobre aterro artificial 0,9
Deformação
- deformações visíveis em vigas ou pilares 0,9
- sem deformação 1,0
- infiltrações e corrosão de armaduras 0,8
- fissuras inclinadas em pilares 0,9
Fissuras em paredes e pilares - muitas fissuras nas paredes 0,9
- infiltrações sem a presença de armaduras corroídas 0,9
- nenhuma observação anterior 1,0
- acontecido e não reparado 0,7
Incêndio - acontecido, mas reparado 0,8
- não acontecido 1,0
- armazenamento de produtos químicos 0,8
Uso da edificação
- sem armazenamento de produtos químicos 1,0
- mais de 30 anos 0,8
Idade da edificação - mais de 20 anos 0,9
- menos de 20 anos 1,0
- deterioração nas camadas externas do revestimento 0,9
Acabamentos - deterioração nas camadas internas do revestimento 0,9
- nenhuma verificação 1,0

Na determinação do índice de solicitação sísmica, Is0, o subíndice de solicitação


sísmica básica, Es, assume o valor 0,83 que é proveniente do método original. Os valores
do subíndice de sismicidade, Z, correspondem aos valores das acelerações sísmicas
(Tabela 3), ag, da NBR 15421 (ABNT, 2006) divididos pela aceleração da gravidade g,
segundo as zonas sísmicas.

Tabela 3 – Subíndices de sismicidade do método de Hirosawa adaptado ao Brasil


Zona sísmica Valores de Z
Zona 0 0,025
Zona 1 0,050
Zona 2 0,100
Zona 3 e 4 0,150

Os valores do subíndice topográfico e geotécnico, G, correspondem aos valores dos


fatores de amplificação sísmica do solo (Tabela 4) para períodos de 0,0 s extraídos da
NBR 15421 (ABNT, 2006).

Tabela 4 – Subíndices topográfico e geotécnico do método de Hirosawa adaptado ao Brasil


G
Classe do terreno
Z ≤ 0,100 Z = 0,150
A 0,8 0,8
B 1,0 1,0
C 1,2 1,2
D 1,6 1,5
E 2,5 2,1

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Os valores do subíndice de importância da edificação, U, correspondem aos fatores de
importância de utilização (Tabela 5), I, da NBR 15421 (ABNT, 2006).

Tabela 5 – Subíndices de importância da edificação do método de Hirosawa adaptado ao Brasil


Categoria de utilização U
I 1,00
II 1,25
III 1,50

No processo de adaptação do método, o índice de solicitação sísmica, Is0, corresponde


ao coeficiente sísmico, Cs, da NBR 15421 (ABNT, 2006), que é dado por:

H
Cs  (Equação 7)
W

Sendo H as forças horizontais na base da estrutura. Como a NBR 15421 (ABNT, 2006)
limita o coeficiente sísmico, Cs, inferiormente e superiormente, estes limites também são
impostos ao índice Is0. O limite inferior, Is0,inf é igual a 0,01 e o limite superior, Is0,sup é
determinado por:

0,33  Gs  Z  U
I s 0,sup  (Equação 8)
Ta

onde Ta é o período natural aproximado da estrutura determinado pela NBR 15421


(ABNT, 2006) e os valores do subíndice Gs (Tabela 6) correspondem aos valores dos
fatores de amplificação sísmica do solo para períodos de 1,0 s extraídos da NBR 15421
(ABNT, 2006).

Tabela 6 – Subíndices Gs do método de Hirosawa adaptado ao Brasil


Gs
Classe do terreno
Z ≤ 0,100 Z = 0,150
A 0,8 0,8
B 1,0 1,0
C 1,7 1,7
D 2,4 2,2
E 3,5 3,4

3 Hospital Centro Médico Gabriel Soares

A NBR 15421 (ABNT, 2006) classifica as edificações em três categorias de utilização


baseadas na importância de uso e na garantia de funcionamento após a ocorrência de um
evento sísmico. A categoria I são aquelas que não estão classificadas como II ou III; a
categoria II são as de importância substancial para a preservação da vida humana,

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podendo-se citar as escolas; e a de categoria III são aquelas de uso essencial, tais como
hospitais, instalações de corpo de bombeiros, centros de emergência, dentre outros.
O edifício do Centro Médico Gabriel Soares, localizado em Aracajú\SE, é constituído
por três pavimentos (Figura 2), sendo um térreo (Figura 3) e dois pavimentos tipos.

Figura 2 – Vista lateral– Centro Médico Gabriel Soares

Figura 3 – Térreo – Centro Médico Gabriel Soares

De acordo com a NBR 15421 (ABNT, 2006), o território brasileiro é dividido em cinco
zonas sísmicas (Figura 4) que são definidas de acordo com a variação da aceleração
sísmica horizontal. O estado de Sergipe se encontra na zona sísmica zero (Z = 0),
apresentando aceleração sísmica de 0,025g, assim como a maior parte do território
nacional.

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Figura 4 – Zonas sísmicas do território brasileiro (Fonte: NBR 15421:2006)

A classe do terreno em que se encontra o hospital é classe ‘E’ (Tabela 4), pois se trata
de um terreno arenoso. Portanto, o subíndice G é igual a 2,5.
O Centro Médico Gabriel Soares é considerado um edifício de caráter essencial, ou
seja, é classificado como Categoria III, pois é uma instituição de saúde com instalações
de tratamento de emergência e de cirurgias. Logo, é considerada pela defesa civil uma
edificação de função crítica. Nesse caso, o subíndice de importância U é 1,5 (Tabela 5).
Com as informações obtidas pelos responsáveis do projeto do Centro Médico Gabriel
Soares, foi possível relatar algumas características do edifício que são consideradas para
o subíndice de deteriorização (TD): a edificação está sem deformação; não há ocorrências
de infiltrações nem a presença de armaduras corroídas; não houve a ocorrência de
incêndios; e a edificação tem mais de 30 anos de utilidade. Baseando-se nestes dados e
usando a Tabela 2, o valor deste subíndice para o hospital é 0,8.
A edificação possui uma área total de 747,3 m², sendo que a área do térreo é 291,3 m²
e a área de cada um dos dois pavimentos superiores é 228 m². A irregularidade em planta
do edifício define um subíndice de configuração estrutural, SD, igual a 0,8.
Para o cálculo do índice de desempenho sísmico (Eq. 1) é necessário a soma das
seçoes dos pilares de cada pavimento, a qual é calculada de acordo com o projeto
estrutural da edificação. Os valores das variáveis a1, Fc, c1, e c2 são 1,0; 1,0; 1,0 MPa; e
0,7 MPa, respectivamente. A resistência média ao cisalhamento depende da divisão da
altura livre dos pilares pela seção do pilar. Como a altura livre do pilar da estrutura é 2,8 m
e a área de sua seção transversal é 0,09 m² (30cmx30cm), a divisão da altura pela seção
é um quociente maior do que 6, e segundo o método de Hirosawa adaptado, se este
quociente for menor do que 6, deve-se utilizar na Eq. 3 a resistência média ao
cisalhamento 2(c2 ) que apresenta o valor já estabelecido pelo método de 0,7 MPa.
A resistência do concreto à compressão é 30 MPa e o peso específico adotado para o
concreto armado é 25,0 kN/m³.
A Tabela 7 resume as características e propriedades necessárias para o cálculo do
índice de desempenho sísmico, Is, da edificação.

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Tabela 7 – Índice de desempenho sísmico do Centro Médico Gabriel Soares
1º Pavimento 2º Pavimento 3º Pavimento
Nível da laje 2,80 m 5,85 m 8,90 m
Peso Total acima do nível W(kgf) 443569,5 Kgf 299565,5 Kgf 135053 Kgf
Área do pavimento(m²) 291,3 m² 228 m² 228 m²
Soma das seções dos pilares do pavimento A c2(cm²) 38700 cm² 38700 cm² 31500 cm²
Subíndice de desempenho Eo 0,745 0,883 1,328
Subíndice de deteriorização Td 0,8 0,8 0,8
Subíndice de configuração Sd 0,8 0,8 0,8
Índice de desempenho sísmico 0,477 0,565 0,849

Portanto, o menor valor encontrado para o índice de desempenho sísmico é 0,477.


Na determinação do índice de solicitação sísmica (Eq. 2), o subíndice de solicitação
sísmica básica, Eso, assume o valor 0,83. Utilizando os valores determinados para as
variáveis Z, G e U, obtém-se o valor de 0,078 para este índice.

4 Discussão

Comparando-se os índices desempenho sísmico (Is) e de solicitação sísmica (Is0),


verifica-se que o primeiro é maior do que o segundo, logo o edifício não apresenta
vulnerabilidade sísmica e é considerado seguro.
Além da verificação da vulnerabilidade da estrutura, determina-se também a reserva da
capacidade resistente, RCR, que é dada por:

 I  IS0 
RCR   S  % (Equação 9)
 I S 

Então, o valor do RCR para o hospital é 83,65%, que é maior do que zero o que indica
ainda mais a não vulnerabilidade da estrutura.
MIRANDA (2010), em seu trabalho, aplicou o método adaptado à estruturas-modelos
inseridas em várias regiões do país. Uma destas estruturas (Estrutura Modelo II) possuía
área de 1.363,68 m² distribuída em três pavimentos, cada um com 454,56 m² e também
apresentando irregularidade em planta do edifício (Figura 5).
Esta estrutura modelo foi a que mais se encaixou com as características estruturais do
Centro Médico Gabriel Soares, possibilitando comparar os resultados aqui encontrados.
Os resultados obtidos por MIRANDA (2010) são apresentados nas tabelas 8 e 9 para os
índices de solicitação sísmica e reserva de capacidade resistente, respectivamente.
É possível perceber, que para a Zona sísmica zero e classe E, o I so é 0,08 enquanto
que no Centro Médico Gabriel Soares foi encontrado um I so = 0,078, uma diferença de
2,5%. Já o índice de desempenho sísmico da Estrutura Modelo é 0,12, enquanto o menor
valor do hospital é 0,477.

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Figura 5 – Pórtico da Estrutura Modelo II (Fonte: MIRANDA, 2010)

Tabela 8 – Índices de solicitação sísmica da Estrutura Modelo II. (Fonte: MIRANDA, 2010)

Tabela 9 – Reserva de capacidade resistente da Estrutura Modelo II. (Fonte: MIRANDA, 2010)

Já a reserva de capacidade resistente encontrado por MIRANDA (2010) para um


terreno na zona sísmica zero e classe E foi de 33%, enquanto para o Centro Médico
Gabriel Soares obteve-se 83,65%. Neste caso, a estrutura real apresentou maior
capacidade resistente, ou seja, maior segurança estrutural do que era esperado pela
estrutura modelo.
As divergências nos resultados devem-se principalmente as diferenças estruturais
existentes entre o hospital e a estrutura modelo. A principal delas é que a estrutura
modelo tem um esquema estrutural bem comportado, ou seja, os três pavimentos são
exatamente iguais, o que não acontece com a estrutura do hospital.

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MIRANDA (2010) gerou ainda mapas de vulnerabilidade sísmica para cada uma das
estruturas-modelos e para cada classe de terreno em todo o território nacional. O mapa
para a Estrutura Modelo II e classe de terreno E é mostrado na Figura 6. Verifica-se que a
capacidade resistente determinada para o hospital encontra-se fora do intervalo [20%-
40%) sugerido pelo mapa.

Figura 6 – Mapa de vulnerabilidade sísmica da Estrutura Modelo II – Terreno Classe E. (Fonte: MIRANDA,
2010)

5 Conclusões

O objetivo deste trabalho foi de aplicar o método de Hirosawa adaptado à realidade


predial brasileira, proposto por MIRANDA (2010) em hospital localizado em no estado de
Sergipe. Desta aplicação pode-se concluir que este método pode ser utilizado na
avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios em estruturas de concreto armado no
Brasil, principalmente em estruturas consideradas essenciais como hospitais, corpos de
bombeiro e prédios considerados com função crítica pela defesa civil.
Apesar de não haver concordância entre os todos os valores encontrados para o
hospital, quando comparado com a estrutura modelo, a estrutura do hospital ainda assim
não é vulnerável a abalos sísmicos. Pode-se dizer que a estrutura tem grande influência
nos cálculos dos parâmetros necessários para avaliar a vulnerabilidade.
Os mapas de vulnerabilidade sísmica propostos por MIRANDA (2010) servem de guia
para saber se as estruturas em determinadas localidade são vulneráveis, contudo, seus
valores não são definitivos, pois dependem fortemente da forma do edifício e de onde
está inserido. Como o método de Hirosawa adaptado à realidade predial brasileira é um
método qualitativo e de caráter conservador, seria interessante a adaptação de um
método quantitativo que viesse a corroborar os resultados obtidos por este método, ou
aplicando-se, por exemplo, uma análise pushover para verificar essa vulnerabilidade.

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2008. 264 p.

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