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Coeficiente de Poisson

Blog: Mecânica das Estruturas

Eu gostaria muito de poder intitular esse texto como “Tensão Real, Estricção, Ductilidade e o Módulo de
Poisson”, mas ficaria feio na capa, ficou esse tema mesmo. No entanto, esteja ciente, incauto leitor, que os
conceitos do tema desejado serão tratados. Portanto, adianto que os textos anteriores a este são de suma
importância para a compreensão. Tanto que, mais uma vez, vamos começar observando nosso plano
retirado do grão de um corpo sólido, como é mostrado na Figura 1.
Figura 1 – Plano de Grão

Para a explicação do primeiro conceito, utilizaremos um grão perfeito. Sem defeitos pontuais, lineares ou
planares. Lembremos que tanto as moléculas de um material quanto seus átomos possuem uma força de
ligação e uma distância de equilíbrio. Qualquer perturbação na distância de equilíbrio causará uma
tendência de alteração da posição desses átomos. Começaremos deslocando um átomo em apenas uma das
estruturas hexagonais repetitivas desse grão (plano de célula unitária), como mostra a figura 2. Mas, como é
fácil intuir, para mover um átomo é preciso aplicar uma força sobre ele. Guardemos esse conceito para
futuros textos: Deslocamentos exigem carregamentos.

Ao aplicarmos uma carga, gerando assim um deslocamento de um átomo de um grão, as forças de ligação
entre os átomos agirão para manter o material unido. Assim, a força é transmitida e os dois átomos se
deslocarão a fim de manter a mesma distância interatômica. Ao deslocarem-se, não existem as fronteiras
dos outros dois átomos para manter a distância que mantinha o hexágono perfeito. Os átomos se
aproximam alterando o ângulo inicial do hexágono, assim, também, mudam o ângulo formado entre a
vertical e os próximos dois átomos a serem deslocados, alterando seus deslocamentos.

Figura 2 – Deslocamento entre átomos de um grão.

Ampliando o conceito, há de se lembrar que ocorre a dissipação das tensões de forma amortizada como foi
visto no texto “O princípio de Saint-Vernant”. Onde o deslocamento era causado por uma força de
compressão. Esse mesmo conceito aplica-se à tração, que será utilizada aqui para explicar outros conceitos.
Utilizando a compressão neste momento e se valendo daquilo que foi explicado na figura 2, é compreensível
que, se uma força de tração altera o hexágono original como mostra a Figura 3ª, então uma força de
compressão causará a alteração mostrada na figura 3b.

Figura 3 – Deformações causadas pela tração e compressão em um plano de célula unitária.

Como já foi explicado no blog, uma célula unitária é a menor estrutura de repetição de um corpo sólido. Se
essa célula se repete, então é fácil perceber que, essa deformação ocorrerá em todo o corpo. Utilizando o
plano de grão é fácil perceber que, como o deslocamento ocorrerá em mais átomos quanto mais embaixo
estivermos neste plano-exemplo, então as mudanças dimensionais transversais á carga serão mais sensíveis
quanto mais distante estivermos da aplicação de carga. Já nos deslocamentos longitudinais à carga, a
sensibilidade será maior quanto mais próximos estivermos da carga. Isso é possível deduzir observando a
figura 4 que mostra a distribuição das cargas de compressão no plano.

Figura 4 – Distribuição das cargas de compressão em um plano de grão.

Portanto, ocorrerá a deformação do plano reduzindo sua altura e aumentando sua largura, como mostra a
figura 3b. expandindo o conceito, poderemos observar esse efeito na figura 5. Esse efeito explica-se
basicamente por estarmos deslocando massa. E como os átomos não podem se penetrar mutuamente,
ocorre um rearranjo das posições de seus átomos que alteram as dimensões transversais e longitudinais.
Para compressão, redução da altura e aumento da largura como mostra a Figura 5. Para a tração, aumento
da altura e redução da largura como mostra a figura 6.
Figura 5 – Mudança nas dimensões de um corpo de prova cilíndrico devido à compressão
Figura 6 – Mudança nas dimensões de um corpo de prova cilíndrico devido à tração

Assim sendo, tomando a compressão como exemplo, e lembrando os conceitos apresentados no texto
“Tensão e Deformação”, podemos escrever as deformações específicas longitudinais e transversais
conforme as equações 1 e 2 baseando suas relações na figura 7.

Figura 7 – Relações dimensionais de um corpo de prova cilíndrico comprimido

Eq. 1.

Eq. 2.

A fim de generalizar o conceito, entenda que tanto para as direções x e y podemos ter deformações
diferentes. Por exemplo, se um corpo de prova for de base retangular, então suas dimensões e, x e em y
serão diferentes e teremos εx eεy com valores não-coincidentes, como ocorreu no nosso exemplo com o
corpo de prova cilíndrico que culmina numa coincidência dos valores.

A partir das equações 1 e 2 (lembrando que é necessário generalizar a equação 2 para corpos de dimensões
diferentes), Siméon Denis Poisson, em 1800, na França, postulou o Coeficiente de Poisson. Que nada mais é
do que relacionar a razão entre as deformações ocorridas transversalmente com as deformações ocorridas
longitudinalmente como consta na equação 3. Como, o cientista francês estudou gases à compressão, não
corpos rígidos (contudo o conceito pôde ser expandido), à compressão, o comprimento final é menor do que
o comprimento inicial, o que culmina em um valor negativo da deformação específica na direção z. Da
mesma forma, na tração, a largura final é menor do que a largura inicial tornando a deformação específica
negativa nas direções x e y. Como o coeficiente precisa ter valor positivo para ter sentido físico, isso foi
corrigido na equação 3 adicionando um sinal negativo antes da relação de Poisson.
Eq. 3

Esse conceito interfere em diversas análises de Engenharia e o caso da tensão real, que será mostrada no
próximo texto e em áreas de análises por Elementos Finitos, Teoria da Elasticidade, teorias da plasticidade,
Estados bi e triaxiais de tensão entre outras. Cada conceito até aqui apresentado nos permite avançar em
áreas diversas e tudo o que foi visto apresenta a necessidade de estudos, outros, como o estudo da ciência
dos materiais, para melhor compreensão da mecânica das estruturas e até mesmo do seu projeto e detalhes
de suas construções. Como dito, a função pensada para este blog é a apresentação através de uma ótica
menos densa dos conceitos básicos a intermediários da mecânica das estruturas. Assim seguiremos.

Estádios de tensão
Blog: Pilares do Concreto Armado

Estádios de Tensão

Quando falamos de estádios de tensão, estamos falando de critérios relativos à seção, não à viga como um
todo. Portanto, é importante salientar que, dependendo dos esforços atuantes em cada seção de uma viga
(consideradas infinitas), teremos infinitos estádios de tensão e infinitos domínios de deformação.

É importante tratar sobre os materiais participantes da seção, uma vez que cada um se comporta de maneira
particular e são suas propriedades que modificam o funcionamento das estruturas. Ao mesmo tempo, cada
mudança no comportamento das tensões nos materiais e, consequentemente, as deformações das vigas
influenciadas pelas tensões, alteram o comportamento da estrutura tanto em seu estado íntegro quanto ao
colapso. Por isso precisamos compreender esses dois temas a fim de torná-los realmente aplicáveis à prática
da boa Engenharia.

As propriedades dos materiais são, na verdade, seu comportamento-resposta frente à diversos estímulos. A
depender do comportamento esperado o desejado, é possível que sejam reforçados a fim de alterar um
comportamento considerado inadequado e torna-lo aceitável. As propriedades podem ser relativas a
estímulos de carga, deformação, propagação de trincas, propagação do som, temperatura, absorção d’água
ou qualquer outro estímulo que se deseje compreender. Sobre as vigas e nosso tema em específico, apenas
os estímulos mecânicos de resposta à aplicação de forças serão importantes.

Ainda sobre esses, os estímulos de longa duração são os que tratamos, já que as construções são bens de
consumo duráveis com longa vida útil de projeto. Dos materiais estudados, trataremos sobre estruturas de
concreto armado, o que nos obriga a conhecer os comportamentos-resposta de dois materiais: O concreto,
com bom comportamento às tensões de compressão e frágil à tração, e o aço, seu reforço à tração que visa
melhorar o comportamento da peça onde ocorre a falha do concreto e torna adequado o comportamento
do elemento.

Relativo ao concreto, é preciosa, a compreensão do seu funcionamento. É um material que não obedece
totalmente ao regime elástico, possuindo, comportamento curvilíneo. Para o aço, após a saída do regime
elástico, o comportamento volta a ser linear horizontal. A NBR 6118 (ABNT (2014) utiliza os parâmetros
mostrados na figura 1 como comportamento padrão do concreto à compressão.

Figura 1 – comportamento do concreto à compressão

É possível observar que a equação é considerada linear até metade da sua resistência característica (0,5 fck),
possui uma parcela curva até alcançar a resistência característica (fck) e torna a ter um comportamento
linear horizontal apenas deformando-se sob a mesma tensão. Para as armaduras, o comportamento é
descrito conforme a figura 2. Observe que para a NBR 61118 (ABNT, 2014) até seu escoamento o aço tem
comportamento totalmente linear elástico mantendo comportamento escoado até a ruptura.
Figura 2 – Comportamento do aço à tração

A falta de confiabilidade em diversas etapas laboratoriais e de obra, no entanto, obrigaram os códigos


normativos a utilizarem coeficientes de segurança que garantissem que em nenhuma instância obtivéssemos
valores menores do que aqueles calculados. A NBR 6118 (ABNT, 2014) indica a minoração das resistências
características (fck e fsk) indicadas nas equações 1 e 2 (Para concretos de até 50 MPa) para resistências de
cálculo (fcd e fsd). O fcd é ainda reduzido para 85% de sua resistência devido ao efeito Rush, as resistências
minoradas estão indicadas nas equações 3 e 4. Os módulos de elasticidade estão mostrados nas equações 5
e 6 e as resistências de cálculo e características são mostradas comparadas nas figuras 3 e 4.

Eq. 1.

Eq. 2.
Eq. 3.

Eq. 4.

Eq. 5.

Eq. 6.

Figura 3 – Comportamento minorado do concreto


Figura 4 – Comportamento minorado do aço

Os estádios de tensão são caracterizados por mudanças físicas internas da seção de concreto. Como o
concreto armado é configurado pela existência do aço embebido em concreto como forma de reforçar a
estrutura pós fissuração, então, a primeira alteração física é caracterizada pela fissuração do concreto. A
equação 7 presenta o valor da tensão de fissuração do concreto.

Eq. 7.

Há de se lembrar, como mostra a figura 5, que as transmissões de tensão são simétricas enquanto o
concreto estiver no seu regime linear elástico. A tabela 1 mostra os valores de fctk para algumas resistências
de concreto.
Figura 5 – Tensões simétricas lineares e elásticas em uma seção de viga

Tabela 1 – Valores de fck e fctk calculados para concretos de resistência normal (Valores em MPa)
Após fissurado, o concreto não é mais considerado resistente e todos os esforços de tração da seção são
resistidos pelo aço. Repare que os valores de 0,5fck são sempre maiores do que os valores de fctk. Isso quer
dizer que, mesmo após fissurado, o concreto à tração, o concreto a compressão ainda está em seu estado
elástico, então, existe ainda valore de tensão a serem alcançados antes da plastificação do concreto.
Portanto, a segunda mudança física na seção ocorre quando o concreto inicia sua plastificação e assim segue
até a ruptura.

A cada alteração física das tensões na seção dá-se o nome de Estádio. O primeiro estádio de tensão é
configurado pelo estado elástico total do concreto (Estádio I). No Segundo estádio temos a seção fissurada, o
aço agindo à tração, e o concreto ainda em sua fase elástica à compressão (Estádio II). E o terceiro e último
estádio é configurado pela plastificação do concreto à compressão, maior fissuração à tração e o aço agindo
à tração.

Uma outra observação é importante! Vamos relembrar a equação das tensões elásticas em uma viga
qualquer em regime elástico como consta na equação 8:

  Eq. 8.

Se isolarmos os momentos, podemos encontrar com facilidade os momentos fletores limites em que a viga
muda de estádio. A equação 9 guiará nosso cálculo!

Eq. 9.

Assim, Sabendo que o Estádio I inicia exatamente após o concreto atingir seu momento de
fissuração (σ=fctk) o momento limite do Estádio I é obtido a partir da equação 10.

  Eq. 10.

O Estádio II ocorre quando o concreto atinge seu limite elástico (σ=0,5fck). A equação 11 monta a equação
limite do Estádio II.

Eq. 11.

Para o Estádio III, a equação 9 não vale, pois não estamos mais sob o regime elástico. Então, a linha neutra
não encontra-se à meia altura da seção. Obtemos a linha neutra segundo a equação 12.
Eq. 12.

Assim sendo, todas as seções cujos momentos ultrapassarem os momentos limites do Estádio II estarão no
estádio III. Sabendo que uma viga tem infinitas seções, e por exemplo, biapoiada com carregamento
uniformemente distribuído (figura 6a) terá o diagrama como mostrado na figura 6b, Todas as seções
compreendidas com momentos fletores menores que os respectivos limites, estará no Estádio respectivo
como mostra a figura 6c (em vermelho, Estádio II, em Verde Estádio II, em azul, Estádio III). Cada estádio terá
as tensões distribuídas segundo a figura 7 sendo o Estádio I conforme mostra a figura 7ª, A Figura 7b mostra
o Estádio II e o Estádio III é mostrado na figura 7c.

Figura 6 – Diagramas da viga-exemplo


Figura 7 – Estádios de Tensão

Domínios de Deformação
Blog: Pilares do Concreto Armado
As estruturas existem porque existem esforços a serem resistidos. Esforços aplicados, é necessário que a
estrutura resista. O mecanismo pelo qual a estrutura devolver às solicitações as forças implementadas, é a
deformação. A partir da inserção de carregamentos nas estruturas, é ativado o mecanismo reativo. As forças
solicitantes deformações, as deformações geram forçar resistentes que combatem as forças solicitantes em
mesmo módulo e direção, mas, sentido contrário.

Quando tratamos de domínios de deformação é preciso esquecer um pouco os estádios. Isso não quer dizer
que uma coisa está totalmente desconectada da outra. Mas, apenas que é preciso entender um novo
conceito para depois mesclar e ampliar. É quase como primeiro andar, depois correr para, posteriormente,
aprender a andar de bicicleta, plantar bananeira, plantar bananeira andando de bicicleta e, aí sim, entrar pra
um circo e plantar bananeira andando de bicicleta em cima de uma corda a 12 metros de altura.

Portanto, os domínios de deformação são independentes dos estádios (na questão de compreensão, mas,
não em funcionamento, necessariamente). Os domínios de deformação são amplitudes de deformações que
mantêm uma mesma característica e utilizam uma deformação de referência de um dos materiais. A
exemplo, o Domínio 1, domínio de tração total, é o domínio onde não existe compressão na seção e utiliza
como deformação de referência a deformação máxima do aço (10‰) ocorrendo a rotação da seção entorno
dessa posição. Todo e qualquer domínio de deformação só ocorre com a ação de carregamentos internos
que geram tensões internas de reação. Ou seja, as deformações que configuram-se dentro de algum
domínio de deformações só é possível com a estrutura em funcionamento e podem surgir desde uma peça
indeformada até através de uma mudança de configurações de cargas.

No nosso exemplo do domínio I mostrado na Figura 2, podemos observar uma viga indeformada (Figura 1a)
que foi submetida à uma carga longitudinal em seu eixo sofrendo um alongamento, como mostra a Figura
1b, no valor máximo da armadura (10‰), que é o valor de referência desse domínio e máxima deformação à
tração admitida para um material tracionado desse sistema estrutura (Concreto Armado). A forma mostrada
na Figura 1b é o primeiro limite do Domínio 1. Conforme a configuração das cargas vai se alterando, por
exemplo, ao ocorrer a ação de um momento (advindo de excentricidade da carga longitudinal ou até mesmo
de ações perpendiculares que geral momentos solicitantes na estrutura), a seção vai inclinando-se
(mantendo sua configuração plana) como mostra a Figura 1c. Conforme os valores de momento aumentam
e de carregamento horizontal reduzem, a seção vai aumentando sua inclinação como mostram as figuras 1d,
e 1e até que uma lamela da seção seja totalmente destracionada (Deformação zera). A partir de então, 
acaba a propriedade apresentada como referência deste Domínio (Tração total na seção). Então, a forma
mostrada na Figura 1f é o segundo limite do Domínio I.

Figura 1 – Evolução do Domínio 1

A NBR 6118 (ABNT, 2014) conceitua vigas como sendo peças que trabalham majoritariamente à flexão e
sujeitas a carregamentos transversais em seu eixo. A Mecânica conceitua flexão como uma combinação
binária de tensões (tração e compressão) em sua seção. Ou seja, qualquer das seções mostradas na Figura 1
representam uma viga porque não ocorre flexão. Então a peça mostrada na Figura 1 representa um tirante
cujas tensões atuantes variam de totalmente tracionado à flexo-tracionado.

Nesse caso, a peça trabalha sempre fissurada. Com a armadura no seu limite e o concreto totalmente
desconsiderado. Então, a seção deve ser calculada apenas com o concreto de cobrimento e proteção da
armadura. Como o mesmo estará muito fissurado, é aconselhável que não sejam dimensionadas peças com
essas características.

De forma semelhante, o Domínio 2 ocorre. No entanto, o Domínio II é configurado pela necessidade de


continuarmos descomprimindo a seção até um novo limite de um dos materiais da estrutura. O Domínio 2
começa onde Domínio 1 termina (Figura 2a). A Figura 2a é resultado da ação de momento e carga de tração
como mostra a Figura 1f. O Domínio 2, ao contrário do Domínio 1, não precisa da existência de cargas
solicitantes de tração para existir. Mas, pode aparecer de outras formas como veremos no nosso Webinar.
Assim como no Domínio 1, os demais Domínios precisam de mudanças nas ações. No entanto, os domínios
de flexão podem depender também de fatores como a redução ou aumento da área de aço que reduzem ou
aumentam sua deformação específica ou até mesmo da resistência do concreto que imprime o mesmo
efeito à inclinação da seção como mostram as figuras 8b, 8c e 8e, sendo esta última, o segundo limite deste
Domínio, quando o concreto atinge sua deformação máxima (3,5‰).
No caso do Domínio 2, o aço está totalmente tracionado, no entanto, um aumento nas cargas de momento
poderá exigir maior carregamento resistente do concreto que aumenta sua área comprimida (e obviamente
do aço que terá sua área aumentada a fim de evitar ruptura). Outra forma de induzir o Domínio 2 é reduzir a
(na fase de projeto) resistência axial do concreto (fck). Isso obrigará maiores deformações a fim de aumentar
sua área comprimida.

Nesse caso, a linha neutra se encontrará dentro da seção, existe um binário de cargas internas, então a peça
pode configurar-se como viga. Também, o concreto tem suas deformações variando de 0‰ a 3,5‰
(deformação máxima admissível ao concreto pela norma vigente). Então, o colapso da peça dá-se na
armadura (que está em seu máximo) enquanto o concreto ainda está dentro de seu intervalo seguro de
trabalho. A peça encontra-se fissurada na região tracionada e a armadura em seu valor máximo de
deformação (10‰). O colapso é dúctil, já que a armadura é um material dúctil. As fissuras avisam da
possibilidade de colapso.

Figura 2 – Evolução do Domínio 2

Se a deformação máxima do aço ainda é a referência do Domínio 2, ao alcançar a deformação máxima do


concreto, o que impossibilita aumento da compressão a partir daí, só resta rotacionar a seção em torno
desse ponto. Portanto, o Domínio 3 é caracterizado pela redução da tração do aço, iniciando quando tanto o
concreto quanto o aço estão com seus valores máximos de deformação, como mostram as figuras 2e e 3a,
que representam a mesma configuração de seção, sendo esse, portanto, o primeiro limite do Domínio 3.

Devido à redução da deformação do aço ocasionada por fatores internos da estrutura como aumento da
área de aço, reduz-se a deformação à tração e rebaixa-se a linha neutra. Esse Domínio configuração pelo
concreto estar com sua deformação máxima à compressão e o aço estar com deformação com valor entre
10‰ e sua deformação específica de escoamento (εsk), sendo o primeiro, seu primeiro limite (Figura 3a) e o
segundo limite mostrado na Figura 3e. Nesse caso, a ruptura é dúctil sendo avisada através de uma
fissuração moderada a alta. A ruptura do aço só ocorre no seu primeiro modo de deformação (10‰), Nos
demais valores do intervalo, o colapso só é possível com a ruptura do concreto que se mantêm no máximo,
porém, como já dito, sob um enorme estado de fissuração). A Existência de esforços internos binários
caracteriza como vigas, as peças encontradas neste domínio.

Figura 3 – Evolução do Domínio 3

O Domínio 4 é uma configuração perigosa de vigas. Mas, também pode representar um elemento flexo-
comprimido devido a quantidade de compressão existente na peça. Como o Domínio 4 inicia ao fim do
Domínio 3 (Figuras 3e e 4a), então ele continua destracionando o aço a partir de sua deformação específica
de escoamento (Figura 4a) até que acabe a tração no aço (Figura 4c). O perigo nesse caso é que a fissuração
da viga varia de microssifurada a inexistente. Não ocorre ruptura do aço devido ao seu estado de
deformação ser elástico. A linha neutra encontra-se muito abaixo do meio da viga e possui muito concreto
comprimido, o que só possibilita ruptura por compressão excessiva. Com isso, o colapso da viga é frágil como
o do concreto.

Para que isso não ocorra, adicionamos barras de aço na região comprimidas para que reduzam a altura da
linha neutra e reconfigure as tensões da viga para Domínio 3 alterando o tipo de ruptura para ruptura dúctil.
Também é necessário cumprir a determinação normativa da NBR 6118 (ABNT (2014) para vigas que impõe
relação x/d máxima como 0,45. Esse critério, como pode ser visto, obriga que a linha neutra esteja sempre
acima do meio da viga. Portanto, não podemos dimensionar a viga no Domínio 4.
Figura 4 – Evolução do Domínio 4

O Domínio 4a é um complemento do domínio 4 que basicamente destraciona a viga por completo e


configura um pilar. Ou seja, é um domínio de transição de viga para pilar. Possui todas as características do
domínio 4.
Figura 5 – Evolução do Domínio 4ª

O Domínio 5 inicia-se ao fim do Domínio 4a. Corresponde a pilares. Mas, o ponto fixo deste domínio é a
deformação εc2 do concreto. A peça em questão está com aço e concreto deformados a compressão.
Algumas vigas protendidas tem essa configuração (e são exceção para o caso de vigas tanto para os domínios
4, 4a e 5), mas no geral, para concreto armado, não-protendido, as peças em configuração de deformação
(Domínio) 5 são pilares ou bielas.

Após o Domínio 4a ser atingido, o que acontece é uma mudança nas cargas de forma que ocorra
simultaneamente uma descompressão em uma lateral e aumento da compressão na outra. Tudo
convenientemente de forma a termos non máximo uma compressão uniforme com deformação máxima a

2‰ (εck ).
Figura 6 – Evolução do Domínio 5

Os domínios de Deformação resumidos a seus intervalos de interpretação (entre os limites) se apresentam


como mostra na Figura 7. Como, para vigas, o

Figura 7 – Resumo dos domínios de deformação


A Figura 8 mostra uma vista lateral com as marcações dos pontos de referência das deformações.
Lembrando, para concreto armado, basicamente nos é importante a parte cabível até a armadura, nos
domínios 1 (Figura 8a), 2 (Figura 8b), 3 (Figura 8c) e 4 (Figura 8d). Os domínios 4a (Figura 8d) e 5 (Figura 8e).
A primeira coluna mostra a vista lateral da Figura 7. Na segunda coluna foram alterados os sistemas de cores
(tração em vermelho e compressão em azul) para cores únicas para todo o domínio.

Figura 8 – Vista lateral dos domínios de deformação


A Figura 9a mostra a imagem padrão do resumo dos domínios resultado da segunda coluna em cores. E a
Figura 9b é a figura mais convencional encontrada nas bibliografias.

Figura 9 – Gráfico de Domínios de Deformação

O que as rachaduras nas estruturas de concreto querem


dizer?




Guarde este artigo
 Escrito por João Carlos Souza

 há 10 meses
As fendas, classificadas conforme sua espessura como fissuras, trincas ou rachaduras, são
manifestações patológicas que afetam a construção civil e que podem interferir negativamente na
estética, na durabilidade e, principalmente, nas características estruturais da obra. Acontecem em
qualquer lugar, mas principalmente em paredes, vigas, pilares e lajes e, geralmente, são causadas por
tensões não previstas nos projetos.

As fissuras, normalmente, são de menor gravidade. Em geral, aparecem mais na superfície da peça
estrutural. São estreitas e alongadas, com aberturas com menos de 0,5 mm. Às vezes nem são
visíveis a olho nu. Geralmente não implicam em problemas estruturais, porém podem evoluir para
consequências mais graves. É importante observar se a fissura evolui com o decorrer do tempo ou se
permanece estável, pois ela pode ser o primeiro estágio da trinca e da rachadura.
As trincas são aberturas mais acentuadas e profundas, de 0,5 a 1,5 mm. Podem ser visualizadas a
olho nu e são bem mais perigosas que as fissuras pois já ocorreu a ruptura do elemento estrutural e
podem afetar a segurança da peça.

As rachaduras são fendas com abertura superior a 1,5 mm, profundas e bem destacadas. Com esta
magnitude permitem que o ar e a água penetrem no interior da peça, o que exige atenção imediata.
Podem gerar corrosão da armadura ou reações químicas indesejadas no material. Não se deve
simplesmente fechá-las sem pesquisar a causas e providenciar a solução do problema que a originou.

De forma mais explícita, pode-se dizer que as principais razões que podem estar relacionadas à
ocorrência dessas fendas são as seguintes:

 Comprometimento estrutural não previsto: devido a cálculos mal elaborados e sobrecargas de uso


previstas inadequadamente;
 Acomodação não prevista de elementos construtivos: sempre que se constrói uma edificação, há
uma acomodação do solo, um assentamento em maior ou menor grau. Assim, dependendo de como foi
feita a fundação, uma parte da construção pode ceder mais que a outra e com esse deslocamento causar
as fendas, conhecido na área técnica como recalque diferencial;
 Retirada antes do tempo de elementos de escoramento: durante a fase construtiva é necessário
aguardar que as peças estruturais adquiram uma resistência mínima antes de se retirar o escoramento.
Por exemplo, as lajes e vigas devem permanecer apoiadas, pelo menos, por 28 dias;
 Dilatação térmica: algumas partes do edifício ficam mais ou menos expostas ao sol durante períodos
do dia, assim dilatam ou retraem mais do que outras, podendo causar as fendas, como uma laje que
dilata com o sol causando as trincas;
 Retração do material: é a perda de água por reações químicas ou evaporação nas camadas de
revestimento e em peças de concreto como lajes, pilares e vigas. Por exemplo, a tinta no período de
secagem, a argamassa de reboco, a laje ao receber muito sol e pelas reações químicas do cimento, em
todos estes casos ocorre à perda da umidade e assim as peças retraem, seu tamanho é reduzido e podem
surgir fissuras;
 Infiltração: quando há algum vazamento ou má impermeabilização da laje ou reservatórios acontece
a entrada de água para o interior da peça, no caso do concreto a água penetrará e aos poucos atingirá a
armadura de ferro provocando sua oxidação e, consequentemente, aumento de diâmetro das barras, o
que ocasionará na pressão do concreto e daí o início das rachaduras. A consequência disto será a queda
de partes do concreto, deixando a ferragem exposta, acelerando o processo de corrosão;
 Vibrações e trepidações: fundações mal projetadas em conjunto com excesso de veículos trafegando
na rua, elevadores, proximidades com obras e metrô são algumas razões para ocorrer as vibrações
contínuas e assim causar as rachaduras e trincas;
 Defeitos na formulação do produto e erros na aplicação: O traço do concreto, representado pela
proporção dos diversos materiais que o compõem, deve ser muito bem dimensionado, pois é
fundamental para se obter a resistência para suportar as cargas prevista. Uma argamassa com muita ou
pouca água, ou sendo utilizada após seu período de pega, pode ocasionar inúmeras fissuras no
revestimento de uma parede.
Veja abaixo quais as causas de cada tipo de fendilhamento:

Fissuras em viga por insuficiência de armadura positiva

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© Matheus Pereira
Prováveis causas:

 Insuficiência de armadura longitudinal;


 Ancoragem insuficiente da armadura positiva;
 Sobrecargas acima do previsto no cálculo estrutural.
Fissura em viga por insuficiência de armadura negativa

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Insuficiência de armadura longitudinal (negativa);


 Ancoragem insuficiente da armadura negativa;
 Sobrecargas acima do previsto no calculo estrutural.
Fissura em viga por cisalhamento

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Insuficiência de armadura transversal (estribos);


 Concreto de baixa resistência;
 Sobrecargas acima do previsto no cálculo estrutural;
 Estribos mal posicionados
Fissuras em viga por retração do concreto

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Secagem prematura do concreto (cura inadequada provocando a evaporação da água);


 Contração térmica devido a diferenças de temperatura;
 Relação água-cimento inadequada;
 Adensamento inadequado ou concreto mal vibrado.
Fissuras em pilar por recalque da fundação

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Recalque de fundação;
 Carga superior à prevista;
 Concreto de resistência inadequada.
Fissuras em pilar por insuficiência de estribos

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Insuficiência de estribos;
 Sobrecarga da armadura longitudinal;
 Flambagem da armadura longitudinal.
Fissuras em laje por insuficiência de armadura positiva

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Insuficiência de armadura positiva;


 Sobrecarga acima do previsto no cálculo estrutural;
 Ancoragem insuficiente da armadura.
Fissuras em laje por sobrecarga excessiva

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Espessura insuficiente do concreto;


 Sobrecarga acima do previsto no cálculo estrutural.
Fissuras nos cantos de janelas e portas

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Sobrecargas não previstas;


 Vergas e contra-vergas inexistentes ou mal executadas.
Trincas em alvenarias de fachadas

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Encunhamento prematuro da alvenaria;


 Deficiência do método de encunhamento;
 Deformações por flexões de lajes e vigas que sustentam as paredes.
Trincas inclinadas em fachadas

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© Matheus Pereira

Prováveis causas:

 Tensões de cisalhamento
Pode-se dizer que, ao se constatar o aparecimento de fendas em elementos estruturais como pilar,
viga ou laje, ou mesmo em paredes, é necessário comunicar o problema ao engenheiro calculista ou,
caso não seja possível, chamar outro profissional habilitado, para se possa estabelecer um
diagnóstico preciso e determinar as alternativas para correção do defeito para que se providenciem os
devidos reparos.

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