Bela Bartók (25 de março de 1881/26 de setembro de 1945), figura central do
século XX, foi um compositor húngaro, pianista e investigador da música popular da Europa Central e do Leste pertencente ao Modernismo, sendo um dos seus maiores e mais conhecidos nomes. Juntamente com o seu amigo e companheiro, o compositor Zoltán Kodály (que aliás foi responsável pelo seu interesse em Debussy), percorreu cidades do interior da Hungria e da Romênia, onde recolheu e anotou um grande número de canções de origem popular. Entre a sua produção destacam-se os dois Concertos para Violino, os Três para Piano e a Sonata para Dois Pianos e Percussão. Além da sua clara influência de música tradicional, é de notar no seu percurso biográfico a coicidência com ambas as Guerras Mundiais em tempo de vida, a sua educação pianística a ficar encarregue a um antigo pupilo de Franz Linz, István Thomán, e o seu encontro com Richard Strauss em 1902, na estreia em Budapeste de Also sprach Zarathustra.
O excerto apresentado, correspondente a um jornal do século XX, Musical Courier,
em que Bartók expressa a sua opinião sobre a estranheza com que músicos comuns encaram a música tradicional do seu país, representa bem o seu carácter revolucionário face à dita música erudita. Critica abertamente a superstição atribuída a música mais simples e antiga que o reportório clássico ou romântico, com um característico uso de mecanismos mais antigos que a tonalidade (escala pentatónica, inerente à música cigana que inspira as Rapisódias Húngaras de Liszt e a a modalidade sob a forma de dórico, mixolídeo entre outras "estranhas sequências de sons") e a clara oposição de complexidade rítmica patente entre este dois universos, com a atribuição de um determinado compasso a uma determinada secção perseguindo o objetivo de encontrar simetria e proporcionalidade contrastante com o desequlíbrio e variação rítmica que Bartók destaca como "recital de rubato". Um exemplo desta tese será o primeiro quarteto de cordas, que remonta a 1909, marcando um interesse crescente nesta temática partilhado por Kodály. A estranheza denotada pelo músico comum do século XX terá origem então na variação que os compositores aplicam a melodias já elas distantes da estética mainstream dos principais polos europeus, apresentando novas e frescas cores ao ouvido do público geral.
Dado o referido, a incompreensão que Bartók demonstra face aos seus
contemporâneos é justificável pelo período de transição que viveu, sendo um dos herdeiros da época pós-tonalidade, sendo que se afirma no plano internacional pelo refinamento que executa sobre o já sobre-usado mecanismo de citação popular, executando um trabalho de investigação profundo sobre fontes pouco exploradas, e adicionando um toque de nacionalismo, inserindo-se num movimento que integra Dvorak, Shostakovich, Smetana, Sibelius ou Grieg. Não abole a tonalidade no seu processo de composição apesar de não se enquandrar nos tradicionais processos de análise pelo uso que faz de dois sistemas tonais opostosl segundo Ernõ Lendvai (1971).