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1

CAPÍTULO PRIMEIRO

A VERDADE NO EVANGELHO DE JOÃO

1.1- NA BUSCA DO SENTIDO DE “VERDADE” NO QUARTO


EVANGELHO

a) Fazendo perguntas... Buscando respostas...:

Nos escritos do Quarto Evangelho, o conceito de “verdade” é trabalhado ampla e


freqüentemente1. Uma primeira leitura deste evangelho vai nos mostrar que a compreensão de
“verdade” não é colocada no absoluto do ser da transcendência de Deus (ou no mundo das
idéias), buscando-se uma definição filosófica da “verdade”, mas ela é experencial – concreta,
pois, está sempre ligada à missão temporal de Jesus, à sua palavra e ao dom do Espírito e, em
seguida, também ao acolhimento desta “verdade” por parte dos crentes. Ou seja, viver a partir
da verdade cristã, no Quarto Evangelho equivale viver “na verdade e no amor”2.

Basicamente, na comunidade joanina o entendimento da “verdade” ocupa um lugar


importante e está enraizada nas expressões de Jesus. Segundo o evangelista João 3, Jesus
anuncia a verdade “vós, porém, procurais matar-me a mim, que vos falei a verdade que ouvi
de Deus”4; “no entanto, eu vos digo a verdade” 5; porque Ele próprio é a “verdade” “eu sou o
caminho, a verdade e a vida”6 e esta é a síntese de todo o Antigo e o Novo Testamentos 7 a
respeito deste termo.

1
Uma descrição mais exaustiva sobre este tema no Evangelho de João será destacada no segundo capítulo deste
estudo.
2
Cf 2 Jo 3,1ss.
3
Colocar sobre a autoria do 4 evangelho.
4
Cf Jo 8,40.
5
Cf Idem, 16,7.
6
Cf Idem, 14,6.
7
Consideramos neste estudo a terminologia comum: Antigo e Novo Testamentos usada nos documentos magisteriais
da Igreja Católica Apostólica Romana (ex: Dei Verbum nº 15 e 16). Todavia, não ignoramos que no contexto
ecumênico prefere-se usar a terminologia Primeiro e Segundo Testamentos, em respeito à religião judaica, que não
aceita “o evento” Cristo, respectivamente, negando o Segundo Testamento. A conotação neste estudo de Antigo e
Novo Testamentos não visa elencar a superioridade do Novo Testamento em detrimento ao Antigo Testamento, mas
partimos de um pressuposto central de que: “Deus, pois, inspirador e autor dos livros de ambos os testamentos, de tal
modo dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse latente no Antigo e o Antigo se tornasse claro no Novo. (...),
pois os livros do Antigo Testamento, recebidos íntegros na pregação evangélica, adquirem e manifestam sua completa
significação no Novo Testamento (cf Mt 5,17; Lc 24,27; Rm 16, 25-26; 2 Cor 3, 14-16), e por sua vez o iluminam e
explicam” (DEI VERBUM, Nº 16).
2

No Quarto Evangelho, Jesus ainda promete a “verdade” aos que a ela não se
fecham: “quando vier o Espírito da Verdade ele vos conduzirá à verdade plena”8 e esta
“verdade”, uma vez aceita e conhecida se torna libertadora “e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”9 e nesta expressão está o grande diferencial do conceito de “verdade”
em relação ao Antigo Testamento (vista como compromisso pessoal com a realidade) e ao
contexto grego (compreendida a partir da adequação do conceito com a realidade), pois agora,
com Jesus, a “verdade” é pessoal e ela tem a capacidade de libertar as pessoas, não só em
relação às mentiras, mas a todas às situações que angustiam e aprisionam os seres humanos:
“mas vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
verdade”10 – libertação religiosa; “como sendo judeu, tu me pedes de beber a mim que sou
samaritana”11 – libertação cultural e “eu sou a porta das ovelhas”12 – libertação social.

Contudo, a questão que se levanta é: por que só o Quarto Evangelista trabalha


ampla, freqüente e profundamente o tema da “verdade”, insistindo que ela é ao mesmo tempo,
concreta, pessoal, libertadora, a ponto de identificá-la com o Filho de Deus?

Uma primeira indução à resposta pode provir do contexto histórico em que foi
escrito o evangelho de João e neste, dentre outros fatores, nos deparamos com o movimento
esotérico chamado de gnose13, que também apregoava a “verdade” e, por conseguinte, à
aquisição dos mistérios divinos somente a partir da razão. Por outro lado, o Jesus descrito no
Quarto Evangelho, rompe com esta concepção racional, elitista e exclusivista da revelação de
Deus, pois apresenta a “verdade-salvação” não como “a salvação individual, longe deste
mundo mau”14, mas a partir do critério do amor fraterno: “dou-vos um mandamento novo: que
vos ameis uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes
amor uns pelos outros”15.

Uma segunda resposta à questão do porquê do uso freqüente do tema da “verdade”


no Quarto Evangelho, pode ser buscada dentro do próprio contexto judaico, que também
influenciou o evangelho de João, onde alguns judeus fervorosos igualavam a “sabedoria” ao
desempenho de “compreender as escrituras16 e para alcançar tal intento, rejeitavam e
8
Cf Idem, 16,13.
9
Cf Idem, 8,32.
10
Cf Jo, 4,32.
11
Cf Idem, 4,9.
12
Cf Idem, 10,7.
13
Na próxima parte deste estudo, aprofundaremos melhor o contexto histórico no qual foi escrito o Quarto
Evangelho.
14
Cf KONINGS, 2000, p. 54.
15
Cf Jo 13,34-35.
16
Cf Idem, 5,39.
3

desprezavam as pessoas mais simples. Usavam a própria Lei para justificar sua ascensão
social em detrimento ao desmerecimento dos pobres e humildes. O Jesus apresentado pelo
evangelho de João, portador da “verdade”, por outro lado, mostra que a sabedoria só é útil se
ela nos aproxima de Deus 17 e do próximo: “se portanto, eu, o mestre e o Senhor, vos lavei os
pés, também, deveis lavar-vos os pés uns aos outros”18.

Assim, fazendo algumas perguntas e buscando respostas..., a partir do uso


constante do termo “verdade” no evangelho de João, compreendendo-o dentro de um contexto
histórico, político e religioso, fica mais explícito que para este evangelista, a “verdade”
poderia ser a própria realidade de Deus divinamente revelada, na história da humanidade, nas
palavras, ações e na pessoa de Jesus Cristo. A “verdade” em João, a partir desta perspectiva, é
a revelação de Deus por meio e em Jesus Cristo e, por conseguinte, exclusivista: “eu sou o
Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” 19. Todavia, a
compreensão de “verdade” no evangelho de João não é uma percepção conceitual da
realidade, mas a constante e firme realidade de Deus que se alcança através da fé por meio da
adesão do crente.

b) Em busca do contexto histórico do tema da “verdade” em João:

Os textos bíblicos surgiram a partir e no contexto histórico e especifico de uma


comunidade concreta, visando interpretar, responder e apontar razões de esperança 20 a esta
comunidade, como ao mesmo tempo, oferecer saídas frente aos desafios sociais e eclesiais às
novas comunidades que iam aparecendo ao longo da história de um povo.

Nesta ótica, procuraremos instigar as razões históricas do primeiro século da era


cristã, onde foi escrito o evangelho de João, com o intuito de levantar algumas hipóteses
acerca dos motivos históricos e religiosos que levaram este evangelista a insistir no tema da
“verdade” em seu evangelho.

Um primeiro esboço histórico acerca do evangelho de João, no tocante à sua


origem21, diz respeito à sua ligação com a cidade de Alexandria, no Egito, onde no primeiro
século da era cristã, floresceu a chamada “filosofia neoplatônica” e, por intermédio de Filo22,

17
Cf Jo, 4,23.
18
Cf Idem, 13,14.
19
Cf Idem, 14,6.
20
Cf 1 Pd 3,15.
21
Cf segundo KONINGS, cerca do ano 90 dC, p. 37.
22
Filo de Alexandria viveu entre os anos de 13 aC a 42 dC.
4

essa corrente de pensamento penetrou na comunidade judaica. Foi também na cidade de


Alexandria que cresceu a cultura helenística em geral. Nesta cidade ficava a famosa
biblioteca23.
Uma das características da filosofia neoplatônica era a concepção de Logos (em
grego λόγος = palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada - o
Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito passou a ter um significado mais
amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a
capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da
Beleza24.
Quando lemos os escritos de Filo, nos deparamos com a doutrina do “Logos”,
sendo este um conceito equivalente à revelação de Deus no Cristianismo e, por conseguinte, a
mesma afirmação é feita sobre Jesus Cristo no Novo Testamento. Na teologia cristã, o
conceito filosófico do Logos viria a ser adotado no evangelho de João, onde este evangelista
se refere a Jesus Cristo como o Logos, isto é, a Palavra: "No princípio era a Palavra, e a
Palavra estava com o Deus, e a Palavra era Deus"25.

Este “Logos-Cristo” aparece nos escritos Neotestamentários como a


personificação da Sabedoria Divina26, pois, no Cristianismo o Logos passa a ser Jesus Cristo.
Segundo o renomado Dicionário de Filosofia “durante os 3 primeiros séculos do
Cristianismo os filósofos e líderes das comunidades primitivas insistiram nos 2 pontos
seguintes: - A perfeita igualdade do Logos-Filho com Deus-Pai; e - A participação da
natureza humana no Logos”27.
Por isso, a doutrina do “Logos” influenciou a comunidade cristã a partir do
ensinamento de que “Deus veio ao mundo na pessoa do “Logos”, do Verbo (...)” e isso
“adaptou-se maravilhosamente à mensagem inteira sobre Cristo, que é a manifestação
especial de Deus neste mundo”28.
23
A Biblioteca de Alexandria foi uma das maiores bibliotecas do mundo e se localizava na cidade egípcia de
Alexandria. Considera-se que tenha sido fundada no início do século III a.C., durante o reinado de Ptolomeu II
do Egito, após seu pai ter construído o Templo das Musas (Museum). É atribuída a Demétrio de Falero sua
organização inicial.
A instituição da antiga biblioteca de Alexandria tinha como o principal objetivo preservar e divulgar a
cultura nacional. Continha livros que foram levados de Atenas. Existia também matemáticos ligados à biblioteca,
como por exemplo Euclides de Alexandria. Ela se tornou um grande centro de comércio e fabricação de papiros.
Segundo a tradição, foi ali que 72 eruditos judeus traduziram as Escrituras Hebraicas para o grego,
produzindo assim a famosa Septuaginta. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria.
24
Cf REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. 2.ed. São Paulo:
Paulus, 2005, v.2.
25
Cf João 1,1 (εν αρχη ην ο λογος και ο λογος ην προς τον θεον και θεος ην ο λογος).
26
Cf Idem, 1,14-16.
27
Cf ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 630.
28
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 256.
5

Contudo, o evangelista João evitou o ensino panteísta do neoplatonismo, e


também, não é um estudioso de Filo de Alexandria ou de sua filosofia em geral, mas o
conceito “Logos”, tinha grande circulação no mundo greco-romano daquela época, e de certa
forma, retratava a influência desta filosofia cristã na formação dos textos bíblicos. Vejamos
um comentário de Irineu (nasceu no ano 130 d.C. e foi Bispo de Esmirna atual Turquia):

"De fato, reconhecemos também um Filho de Deus. E que ninguém considere ridículo
que, para mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não pensamos sobre Deus, e
também Pai, e sobre seu Filho como fantasiavam vossos poetas, mostrando-nos deuses
que não são em nada melhores do que os homens, mas que o Filho de Deus é o Verbo do
Pai em idéia e operação, pois conforme a ele e por seu intermédio tudo foi feito, sendo o
Pai e o Filho um só. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do
Espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai"29

Esta concepção do “Logos”, como percebemos acima, aparece claramente no


Prólogo do Evangelho de João30 e está de certa forma, relacionado também com o conceito de
“verdade” que estamos abordando neste estudo. A “verdade” em João é a verdade-Cristo,
encarnada na história humana, que caminha com ela, mas a transcende e aponta caminhos de
libertação e superação, na busca da “verdade” plena e definitiva31. O que pretendemos
relacionar neste estudo é a doutrina do “Logos” com a “cristologia joanina do Logos”, onde se
abrange também a idéia da mediação da criação pelo “Logos”, “pois, o Prólogo Joanino
alude, logo nos primeiros versículos a ação criadora de Deus no princípio (Gn 1,1) e o
anúncio da atividade mediadora da criação, por meio de Cristo, associa-se à doutrina da
comunhão preexistente do “Logos” com Deus antes da criação do mundo (Jo 17,24), como
também a denominação do “Logos” como “luz” e “vida” 32. Para nosso estudo, isso chama a
atenção, uma vez que o sentido de “verdade” em João: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida”33, vincula-se à doutrina do “Logos”, no significado do termo: “Vida”. Além disso, ela é

29
Cf IRINEU. Contra as heresias.In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
30
Cf Jo 1,1-18.
31
Cf Idem, 14,6.
32
Cf SCHNEIDER, 2000, p.139 (Vol I).
33
Cf Jo 14,6.
6

uma das 7 auto-proclamações de Jesus no evangelho de João 34, sendo que em 10, 7, Jesus se
apresenta como a Luz do mundo, e o “Logos” também é luz35.

Uma segunda razão histórica, agora numa perspectiva teológica, mas com
influência filosófica que levou o evangelista João a trabalhar o tema da “verdade”, poderia
provir da influência do gnosticismo sobre as comunidades judaico-cristãs na época em que foi
redigido este evangelho. O gnosticismo provém de “gnose, um substantivo do verbo
gignósko, que significa conhecer. Para os gnósticos, “gnose é conhecimento superior,
interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é
semelhante ao da palavra epistéme”36.

Numa dimensao mais teológica, a gnose é um conhecimento que brota do coração


de forma misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual,
mas aquele que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado, porque permite o
encontro do ser humano com sua Essência Eterna, que no fundo é Deus. O objeto do
conhecimento da Gnose seria Deus, ou tudo o que deriva d'Ele. Para seus seguidores, toda
gnose parte da aceitação firme na existência de um Deus absolutamente transcendente,
existência que não necessita ser demonstrada. "Conhecer" significa ser e atuar (na medida do
possível ao ser humano), no âmbito do divino.

Logo, o gnosticismo era uma corrente de pensamento que “atribuía a salvação ao


conhecimento que provinha da revelação de segredos divinos. Tudo quanto se referia ao
corpo era desprezível. A alma devia ser libertada da matéria e era inconcebível que um
enviado divino pudesse se comprometer com a carne”37. No entanto, mesmo na ocasião da
influência do gnosticismo, sua doutrina foi constantemente combatida, seja pelas Cartas
Paulinas (Efésios, Colossenses e Hebreus38), como também, pelo evangelho e as três Cartas de
João. Aqui, todo o esforço, nessas literaturas bíblicas foi com o intuito de exaltar a pessoa de

34
No evangelho de João encontramos sete auto-proclamações de Jesus - EU SOU: 6,35 – O pão da vida; 8,12 –
luz do mundo; 10,7 – a porta; 10,10 – o bom pastor; 11,25 – a ressurreição e a vida; 14,6 – caminho, a verdade
e a vida e 15,1- videira verdadeira.
35
Cf O PROTRÉPTICO. Discurso do bispo de Antioquia, Teófilo de Antioquia (séc. II dC): "Igualmente os três
dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de
sua Sabedoria [=Espírito Santo]". In: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e
Escolástica. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005, v.2.
36
Cf INTERNET: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnose.
37
Cf JAUBERT, 1985, p. 07.
38
Falar da carta aos Hebreus.
7

Jesus Cristo, a fim de provar que Ele não pertencia meramente à ordem dos anjos, segundo o
que os gnósticos apregoavam, mas Ele é perfeitamente divino39.

Mas, se por um lado alguns termos preferidos dos gnósticos como: o


conhecimento, a fé, o saber, o crer, a sabedoria e a verdade, por outro, esses vocábulos
também foram muito usados pelo autor do evangelho de João. Daí a relação entre gnosticismo
e o sentido de “verdade” em João. Todavia, não existe “qualquer conexão vital entre os dois,
mas parece certo bastante que, na realidade, o evangelho de João foi escrito como refutação
das idéias gnósticas básicas, ao invés de ter sido um reflexo do mesmo”40.

Uma terceira influência histórica que poderia ter ocasionado o desenvolvimento


do tema da “verdade” em João, diz respeito a uma característica comum das comunidades
judaicas e helênicas que existiam naquela época, onde nossa afirmação se fundamenta quanto
à perseguição que muitos membros dessas comunidades sofreram, agora, “convertidos” ao
cristianismo, por parte dos judeus ortodoxos (ou da comunidade sinagogal judaica)41.

Uma constatação dessa afirmação é encontrada no Quarto Evangelho no seu


contexto sócio-histórico, quando este faz referência à expulsão dos cristãos da sinagoga:
“seus pais assim disseram por medo dos judeus, pois os judeus já tinham combinado que, se
alguém reconhecesse Jesus como Cristo, seria expulso da sinagoga” 42; e “contudo, muitos
chefes creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem
expulsos da sinagoga”43. Esta difícil situação dos primeiros cristãos tem relevância em nosso
estudo, uma vez que “os outros evangelhos não deixam transparecer decisão alguma neste
sentido da parte das autoridades judaicas durante a vida de Jesus”44.

Assim, o conflito entre as autoridades judaicas e os “convertidos” judeu-cristãos,


no contexto do Quarto Evangelho, relacionado com o tema da “verdade”, consiste em que as
primeiras davam muito valor ao conhecimento, especialmente no empenho de “perscrutar as
Escrituras”45, e por outro lado, desprezavam os pobres e simples, porque estes “não
conheciam a Lei”46. O Jesus descrito no evangelho de João, porem, é Aquele que valoriza a
sabedoria dos simples e pequeninos, e prega uma sabedoria salvífica, que não é cultura deste
mundo, mas conhecimento (= a verdade) de Jesus e do Pai – que nós conhecemos nele: “que
39
Cf Jo 1,1.14; 8,24.27.42.
40
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 256.
41
Cf BORTOLINI, 1994, p. 09, onde o autor descreve amplamente o conflito.
42
Cf Jo 9,22.
43
Cf Idem, 12,42.
44
Cf KONINGS, 2000, p. 47.
45
Cf Jo 5,39.
46
Cf Jo, 7,49.
8

eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” 47, e esse
saber não vem através da sabedoria deste mundo, mas do amor a Cristo: “assim, como o Pai
me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor”48.

Finalmente, um quarto aspecto histórico referente ao emprego constante tema da


“verdade” em João, diz respeito aos discípulos de João Batista, onde segundo Bortolini: “o
discípulo amado fora um dos que deixaram João Batista e seguiram Jesus (...), mas nem
todos os discípulos do Batista fizeram essa passagem”49. Isto deve ter ocasionado conflitos na
comunidade joanina, no sentido de estes apontarem para João Batista como o Messias ou
mesmo a Luz. Contudo, João Batista, no evangelho de João era muito explícito: “eis o
cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”50, ou ainda, quando o próprio evangelista
escreve: “ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” 51. E a luz no Quarto
Evangelho é o próprio Jesus52, sendo por correlação, também a “verdade”53.

c) Em busca de uma Teologia do conceito “Verdade” em João:

A partir do conceito freqüentemente usado em João αλήθεια = verdade como


característica da ação divina ou humana, ou ainda: “a verdade como sendo o próprio Jesus, o
Logos, que o prólogo apresenta como ´cheio de graça e de verdade´(Jo 1,14)” 54; o
evangelista João não desenvolve a teologia deste conceito do absoluto do ser da
transcendência de Deus, mas a verdade equivale à revelação; se relaciona diretamente com “a
missão temporal de Jesus, a sua palavra e ao dom do Espírito, em seguida, também ao
acolhimento desta verdade por parte dos crentes”55.

Para o evangelista João, Jesus é a verdade e a verdade foi manifestada por Ele 56. O
Filho de Deus é ainda o depositário da verdade; Jesus prega a Palavra de Deus 57 e faz até da

47
Cf Idem, 17,3.
48
Cf Idem, 15,9.
49
Cf BORTOLINI, 1994, p. 10.
50
Cf Jo 1,29.
51
Cf Idem, 1,8.
52
Cf Idem, 8,12b.
53
Cf Idem, 14,6. Fizemos esta correlação a partir de que a auto-proclamação de Jesus: “Eu sou a luz”, insere-se
no contexto das 7 auto-proclamações existentes no Evangelho de João.
54
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
55
Cf LATOURELLE, 1994, p.1052.
56
Cf Jo 1,17.
57
Cf Idem, 17,17.
9

58 59
sua morte um testemunho da verdade . Ele também a possui plenamente , pois veio de
Deus 60. A sua pessoa “é a melhor expressão possível do plano divino da salvação (14,6)”61.

Notamos também que freqüentemente no evangelho de João e nas suas Epístolas,


são usadas as palavras “verdade” e “verdadeiro”, que guardam em primeiro lugar, o sentido
grego de manifestação da realidade, da essência mesma de uma coisa. Contudo, a “verdade”
para o evangelista João não é apenas “o sustentáculo” de uma existência ameaçada, mas é a
luz que sobre ela recai: “pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é
verdadeiramente uma bebida”62. A “verdade” é a própria revelação, a realidade divina
descoberta ao ser humano visando livrá-lo da mentira, de quem é prisioneiro, permitindo-lhe
conhecer a Deus e, portanto, conhecer-se a si mesmo: “e conhecereis a verdade, e a verdade
vos libertará”63.
64
Jesus ainda prega, diz, anuncia a “verdade” . O Espírito da Verdade que Ele
promete aos que não se fecham à verdade introduz os crentes em toda a verdade 65 e esta
“verdade, uma vez sendo conhecida, liberta 66 todas as pessoas.

Todavia, mesmo sendo uma “verdade” libertadora, ela é constantemente


“ofuscada” pelo pecado, sendo então compreendida pelos seres humanos como uma realidade
de Deus a qual as próprias pessoas fecharam os olhos. Por isso, tornando-se prisioneiros de si
mesmos, os seres humanos não podem reconhecer pela simples razão o que é a “verdade”:
“como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de
sua mãe e nascer?”67; “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem
tenha de vir mais aqui para tirá-la”68. A compreensão falsa da “verdade-Jesus” no evangelho
de João é caracterizada como pecado, pois revolta o ser humano contra Deus, levando aquele
a ver falsidade ou pecado na revelação do próprio Deus: “os judeus lhe responderam: não
dizíamos, com razão, que és samaritano e tens um demônio?”69; “chamaram, então, uma

58
Cf Idem, 18,37.
59
Cf Idem, 1,14.
60
Cf Idem, 1,1; 8,40.
61
Cf MONLOUBOU, 1997, p. 816.
62
Cf Jo 6,55.
63
Cf Idem, 8,32.
64
Cf Idem, 8,40.45; 16,7; 18,37.
65
Cf Idem, 16,13.
66
Cf Idem, 8,32.
67
Cf Jo, 3,4.
68
Cf Idem, 4,15.
69
Cf Idem, 8,48.
10

segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: dá glória a Deus! Sabemos que esse
homem é pecador”70.
71
Aos discípulos de Jesus, estes também devem ser santificados pela “verdade” ,
mesmo que para isso precisem ser odiados pelo mundo, uma vez que não serão aceitos pelo
mundo, mas através disto que se evidenciará a autenticidade do discipulado de Jesus 72. Mas
os discípulos não suportam o que Jesus lhes diz, por isso, o Espírito da Verdade terá de
conduzi-los a toda “verdade”, revelando-lhes Jesus por meio do desocultamento de seus
tesouros: “tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar”73.

Contudo, aos crentes que praticam a “verdade”, eles se aproximam da luz para que
se manifestem as obras de Deus e a Luz é Jesus 74. O diálogo com Nicodemos, por exemplo, 75

conclui em contraste as exposições sobre a finalidade da missão de Jesus que se revela como
oferta salvífica e escatológica do amor de Deus. Jesus é rejeitado como portador da salvação e
vida, em contraposição às trevas e a mentira.

Mas o testemunho que Jesus deu da “verdade” deve, no Quarto Evangelho, ser
completado pelo Espírito, pois, Jesus não disse tudo, e além do mais, o sentido de suas
palavras não eram claras no início. Por isso, o Espírito tem o papel de completar e fazer
recordar aos discípulos a verdade que Jesus anunciou e guiá-los à verdade76.

É o Espírito que fará com que os discípulos se lembrem daquilo que Jesus lhes
dissera, isto é, distribuir-lhes a realidade divina: “mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”77; “
quanto a vós, a unção que recebestes dele permanece em vós, e não tendes necessidade de
que alguém vos ensine, mas como sua unção vos ensina tudo, e ela é verdadeira e não
mentirosa, assim como ela vos ensinou, permanecei nele”78. Logo, o Espírito Santo,
igualmente, o próprio Jesus, são chamados de “a verdade” 79, demonstrando que ele (o Espírito
Santo) é a realidade divina, agente da própria revelação, com a finalidade de capacitar os seres
humanos ao reconhecimento da verdade.

70
Cf Idem, 9,24.
71
Cf Idem, 17,17.
72
Cf Idem, 15,18-20.
73
Cf Idem, 16,12.
74
Cf Idem, 8,12.
75
Cf Idem, 3,1ss.
76
Cf Jo, 14,26.
77
Cf Idem, 14,26.
78
Cf 1 Jo 2,27.
79
Cf Jo 14,17 e 1 Jo 5,6.
11

A célebre frase de Jesus: “Eu sou a Verdade”80 traduz de certa forma, o conceito
de “verdade” que queremos explicitar neste estudo. Com Jesus, “a verdade” de Deus se
encarna81 e ela aparece plena e somente em Jesus: “ninguém vai ao Pai a não ser por mim” 82.
O homem Jesus é verdadeiramente para a humanidade “a verdade”, por que Ele manifestou à
humanidade, através da encarnação o mistério de sua filiação divina, da qual somos chamados
a participar também83.

Logo, segundo o Quarto Evangelho a “verdade” definitiva é Jesus Cristo, sendo


Este o depositário dela, pois, Ele prega a Palavra de Deus 84, que é a “verdade” e que faz da
sua vida, até de sua morte, um testemunho da “verdade” “para isso nasci e para isso vim ao
mundo; para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz” 85. Jesus
ainda a possui em plenitude86, pois ele é o Verbo, vindo junto de Deus “no princípio era o
verbo e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus” 87 e a sua pessoa é a melhor revelação
do plano divino de salvação.

Por conseguinte, uma das tarefas das comunidades cristãs é atualizar a “verdade”
trazida pelo Jesus histórico aos nossos tempos e, para isso, elas contam com a força do
Espírito, que é também “verdade”88. O Espírito “vos guiará em toda a verdade”89 e é ele que
conduzirá estas comunidades cristãs para a “Verdade” plena 90 visando à compreensão de tudo
o que Jesus disse e fez 91.

Por isso, para o evangelista João, caminhar na “verdade” significa viver


dignamente e isto se traduz na “verdade e no amor” 92. A vida do verdadeiro cristão e cristã
consiste em viver “na verdade”, e a “verdade” inspirará o seu caminho, seu amor fraterno,
sua adoração ao Pai, sua santificação93. Neste sentido, quanto mais nos tornamos discípulos de
Jesus e cooperadores da “verdade”, tanto mais seremos pessoas livres pela “verdade”, ou seja,
libertadas pelo próprio Cristo – pelo Filho de Deus. E o Filho de Deus faz com que “ a
80
Cf Idem, 14,6.
81
Cf Idem, 1,14.
82
Cf Idem, 14,63.
83
Cf Fl 2, 6-11, com destaque ao ver. 7: “mas, esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando
a semelhança humana”. Bíblia de Jerusalém, 1985.
84
Cf Idem, 17,17.
85
Cf Idem, 18,37.
86
Cf Idem, 1,14.
87
Cf Jo, 1,1.
88
Cf Idem, 1Jo 5,6.
89
Cf Idem, 16,13.
90
Cf Idem, 16,13.
91
Cf Idem, 14,26.
92
Cf 2 Jo 3.
93
Cf Jo 17,17.
12

verdade que está em nós não envelheça; e todo o nosso modo de ser é irrigado por esta
verdade”94.

Todavia, o conhecimento da “verdade” no evangelho de João não é teórico-


conceitual, mas “existencial”, vital e prático, acarretando um compromisso do ser humano
inteiro com Deus e com a própria humanidade. A sabedoria provinda do Espírito diz respeito
apenas que “Jesus é o Cristo”95 e no evangelho de João, conhecer a “verdade” equivale a ser
santificado por ela96, livrando-se da escravidão da falsidade. A “verdade” do Quarto
Evangelho corresponde na permanência do fiel em Jesus Cristo 97, sendo que tal permanência
só é real numa vida guiada com os mandamentos de Deus: “aquele que diz: eu o conheço,
mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele” 98. Logo, o
mandamento e a Palavra, ou seja, o Evangelho, só é compreendido quando se discerne neste o
chamado à obediência e quando a resposta se traduz na prática em andar assim como Jesus
Cristo andou99.

A teologia joanina acerca da “verdade” pode ser resumida então na frase: o próprio
Deus é a “verdade”, a fonte e o alvo de toda a “verdade” e, por conseguinte, como afirma
Paulo: viver nele, por ele e para ele: “para nós, contudo existe um só Deus, o Pai, de quem
tudo procede e para quem nós somos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e
por quem nós somos”100; e outro tanto se aplica a Cristo: “porque nele foram criadas todas as
coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis” 101. A “verdade” joanina tem raízes em
Deus, seja ela cientifica, filosófica ou religiosa. Diz respeito ainda em crescer na “verdade” e
crescer em Deus e crescer em Deus é participar da liberdade de seu Ser 102, pois são removidos
os obstáculos ao crescimento e ao bem estar, para que Ele se torne tudo em todos103.

A “verdade” de Cristo é a “verdade” porque é a “verdade” de Deus: “eu estou no


Pai e o Pai em mim”104, transmitida para nós na pessoa de Jesus Cristo. E, a “verdade” que
está em Cristo conduz os seres humanos à “verdade” de Deus105, porque, em realidade, eles

94
Cf Clemente de Alexandria, in: LATOURELLE, 1994, p. 1051.
95
Cf 1 Jo 2,20-22.
96
Cf Jo 17,17.
97
Cf Idem, 8,31.
98
Cf 1 Jo 2,4.
99
Cf Idem, 2,6.
100
Cf 1 Cor 8,6.
101
Cf Col 1,16.
102
Cf Jo 8,32.
103
Cf Idem, 12,24.
104
Cf Idem, 14,11.
105
Cf Idem, 14,6.
13

também se tornam uma partícula da “verdade”, desde que venham a ser remidos pelo Sangue
do Cordeiro106.

Então, a concepção de “verdade” no evangelho de João, a partir do “evento Cristo”


é aquela que é comprovada na vida daqueles que são transformados segundo a própria
imagem de Cristo, ou seja, “são cristificados” pela “verdade”. E esta “verdade” precisa
proporcionar aos seres humanos uma atitude em que na medida em que se tornem adultos na
fé, possam reconhecer cada vez mais a vastidão da “verdade”, e isso, certamente é o caso da
“verdade” de Cristo, pois essa é infinitamente ampla e não pode ser contida por qualquer
credo ou denominação religiosa. Por isso, Jesus sintetiza a expressão máxima da “verdade” no
evangelho de João; “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”107.

CAPÍTULO SEGUNDO

O TERMO “αλήθεια” (VERDADE) EM JOÃO

2.1- ANÁLISE GRAMATICAL DO TERMO αλήθεια NO EVANGELHO DE


JOÃO

a) Uma chave de leitura gramatical:

Uma leitura minuciosa do texto original grego do evangelho de João mostra que
este possui quatro locuções referentes à palavra “αλήθεια”, expressando todas elas uma
relação direta com o conceito de “verdade” estudado neste estudo bibliográfico. Estes termos
aparecem alternadamente no texto, mas pesquisando-os no Léxico Gramatical Grego,
notamos que há uma ligeira diferenciação de significadso das palavras que, na maioria dos
casos, a tradução à língua portuguesa das bíblias não consegue exprimir adequadamente.

Assim, no texto Joanino do Quarto Evangelho, encontramos os seguintes termos


relacionados com o conceito de “verdade”:

1) αλήθεια (p. ex: 1,17; 3,21; 4,23 (2x)...);

106
Cf Idem, 3,33; 17,3 e Ap 3,7.
107
Cf Jo, 8,32.
14

2) αληθής (p. ex: 3,33; 4,18; 5,31; 5,32...);

3) αληθινός (p. ex: 1,19; 4,23; 4,37; 6.32...);

4) αληθως (p. ex: 4.42; 6,14; 7,26; 7,40...).

Todavia, a primeira vista estes quatro termos têm um radical comum (αλήθ), mas
no Léxico Gramatical Grego eles denotam significados diferentes, embora todos estejam
relacionados diretamente com a compreensão da “verdade”.

Por isso, descreveremos agora literalmente do Léxico Gramatical Grego, cada


significado das palavras, para identificarmos as semelhanças e diferenças existentes entre
ambas108:

1) αλήθεια “verdade, fidedignidade, confiabilidade, justiça Rm 15,8; 2 Cor 7,14;


verdade oposta à falsidade Mc 5,33; Ef 4,25. Verdade como característica da
ação divina ou humana Jo 1,17; 3,21; 1 Co 13,6; Ef 4,24. Realidade Fl 1,18; 2 Jo
1. Com έν, έπί,κατά em realidade, verdadeiramente, certamente Mt 22,16; Mc
12,14; Lc 22,59; Rm 2,2”.

2) αληθής “verdadeiro Jo 19,35; Fl 4,8; 2 Pe 2,22; confiável Jo 5,31; Tt 1,13.


Sincero, honesto, autêntico Mt 22,16; Jo 3,33; 2 Cor 6,8. Real, genuíno At 12,9; 1
Pe 5,12” .

3) αληθινός “verdadeiro, confiável Hb 10,22; Ap 6,10; verdadeiro, em


conformidade com a verdade Jo 4,37; 19, 35; Ap 19,9; genuíno, real Lc 16,11; Jo
4,23; 17,3”.

4) αληθως “verdadeiramente, realmente Mt 14,33; Lc 9,27; 1 Jo 2,5. Com função


adverbial = real Jo 1,47; 8,31”.

A partir destas diferenças constatadas no Léxico Grego, visamos neste capítulo,


elencar as nuanças gramaticais, semânticas e seu significado no texto original grego do
evangelho de João. Esta diferenciação do emprego das palavras gregas alternadas faz-se

108
Cf texto extraído do Léxico do Novo Testamento: grego / português, de: GINGRICH F. Wilbur. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1993. (trad: Júlio Zalatiero), pp. 16-17.
15

necessária para distinguir uma autêntica compreensão do conceito de “verdade” em João,


sobretudo, quando estes termos aparecem na boca de Jesus: “eu sou o caminho, a verdade e a
vida”109; “se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não será verdadeiro” 110;
“mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu”111 e, “ora, a vida eterna é esta: que eles
te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” 112. Logo, eles
têm um peso diferenciado de relação com a “verdade” no evangelho de João.

Visando então constatar as diferenças do uso dos termos αλήθεια, αληθής,


αληθινός e αληθως no evangelho de João, descreveremos todas as citações bíblicas do Quarto
Evangelho que contenham estes termos, partindo do seguinte esquema interpretativo:

a) citação bíblica grega: 113

b) tradução literal: 114

c) significado do termo em questão a partir do léxico gramatical grego:

b) Descrição dos termos αλήθεια, αληθής, αληθινός e αληθως no evangelho de João:

1) a) 1,9 +Hn to. fw/j to. avlhqino,n( o] fwti,zei pa,nta a;nqrwpon( evrco,menon

eivj to.n ko,smonÅ


b) O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo115.

c) léxico: verdadeiro em conformidade com a verdade. “Cristo é luz perfeita. Todas as


demais luzes parecem tenebrosas”116. Ou segundo Champlin: “Jesus Cristo veio a este
mundo como a verdadeira Luz e, nessa capacidade, a sua função iluminadora não teve
109
Cf Jo 14,6.
110
Cf Idem, 5,31.
111
Cf Idem, 6,32b.
112
Cf Jo, 17,3.
113
Cf ALAND Kurt. The Greek New Testament. USA: Deutsche Bibelgesellschaft. 4ª edition. United Bible
Societis.
Cf BÍBLIA DE JERUSALÉM.7.ed. São Paulo: Paulus, 1985.
114
Cf Léxico do Novo Testamento: grego / português, de: GINGRICH F. Wilbur. São Paulo: Edições Vida
Nova, 1993. (Trad: Júlio Zalatiero) e CHAMPLIN Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo
por versículo. São Paulo: Milenium, 1982, Vol II.
115
Cf BÍBLIA DE JERUSALÉM, no referido texto a nota “f” onde se diz: “outras possíveis traduções: a luz
verdadeira, que ilumina todo homem, vinha ao mundo; ou Ele (o Verbo) era a luz verdadeira que ilumina todo
homem vindo a este mundo”, p. 1985.
116
Cf RIENECKER, 1985, p. 161.
16

começo quando de sua encarnação (...), mas antes mesmo de sua encarnação Jesus já
iluminava aos Homens”117.

2) a) 1,14 Kai. o` lo,goj sa.rx evge,neto kai. evskh,nwsen evn h`mi/n( kai.
evqeasa,meqa th.n do,xan auvtou/( do,xan w`j monogenou/j para. patro,j( plh,rhj
ca,ritoj kai. avlhqei,ajÅ
b) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem
junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.118

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. “junto com Χάρις estes
termos se baseiam nos conceitos do AT da graça e da verdade com base na lealdade e
fidelidade de Deus à sua aliança e ao seu povo”119.

3) a) 1,17 o[ti o` no,moj dia. Mwu?se,wj evdo,qh( h` ca,rij kai. h` avlh,qeia dia.

VIhsou/ Cristou/ evge,netoÅ


b) Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

c) léxico: (mesmo sentido de 1,14). Sentido de que “em Cristo se encontra a plenitude de
Deus, e essa plenitude é estendida aos homens por meio dele; e tudo isso tem por motivo a
graça de Deus, que é um grande e constante vocábulo nas páginas do Novo Testamento,
fazendo contraste com o sistema legalista do Antigo Testamento”120.

4) a) 3,33 o` labw.n auvtou/ th.n marturi,an evsfra,gisen o[ti o` qeo.j avlhqh,j

evstinÅ
b) Quem acolhe o seu testemunho certifica que Deus é verdadeiro.
117
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 269.
118
Este versículo é o central do Prólogo do Evangelho de João (1,1-18), e representa três aspectos centrais da
história da salvação: 1) “a carne”, que sublinha o realismo da vinda do Filho de Deus na humanidade
(Encarnação), que João não cessa de pôr em evidência (Cf BJ, nota “m”, p 1986); 2) “ a glória”, que era a
manifestação da presença de Deus (Cf Ex 24,16ss), sendo seu fulgor temível, que nenhum ser vivo podia
contemplar (Cf Ex 33,20), que estava ainda velada pela nuvem, mas agora, pela encarnação de Jesus transparece
à humanidade; e 3) “graça e verdade”, que correspondem à ‘graça (ou amor) e fidelidade’, na definição que
Deus dá de si mesmo a Moisés (Cf Ex 34,6) e ainda, o sentido explorado pelos profetas: Oséias, Amós, Isaías e
Miquéias (Cf Mq 6,8). (Cf Bj, notas “o” e “p”, p. 1986).
119
Cf RIENECKER, 1985, p. 162. A verdade corresponde à revelação de Deus como luz (1 Jo 1,5), por meio
daquele que é luz. A graça e a verdade são os principais atributos de Iaweh no Antigo Testamento, posto que o
espírito messiânico reconhecia-o como Deus da redenção. Cristo, como redenção absoluta, era pura graça e,
como revelação absoluta, era pura verdade. (Cf CHAMPLIN, 1982, p. 274).
120
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 275.
17

c) léxico: sincero, honesto, autêntico. Este é um tema que o Evangelista João constantemente
acena, esforçando-se para certificar que Deus é verdadeiro. Isto transparece através dos
discípulos (2,22); as multidões (2,23); Nicodemos (3,2) e João Batista (3,22-30).

5) a) 4,18 pe,nte ga.r a;ndraj e;scej kai. nu/n o]n e;ceij ouvk e;stin sou avnh,r\

tou/to avlhqe.j ei;rhkajÅ


b) Pois tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; nisso falaste a verdade.

c) léxico: verdadeiramente, ou esta é uma coisa verdadeira.

6) a) 4,23 avlla. e;rcetai w[ra kai. nu/n evstin( o[te oi` avlhqinoi. proskunhtai.

proskunh,sousin tw/| patri. evn pneu,mati kai. avlhqei,a|\ kai. ga.r o` path.r
toiou,touj zhtei/ tou.j proskunou/ntaj auvto,nÅ
b) Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura.

c) léxico: genuíno, real, autêntico e o segundo sentido é de fidedignidade. “Aqui está em foco
a espiritualidade substancial ou real, em contraste com a adoração formal, simbólica e
ritualística, como sucedia tanto com a religião judaica como a religião dos samaritanos”121.

7) a) 4,24 pneu/ma o` qeo,j( kai. tou.j proskunou/ntaj auvto.n evn pneu,mati kai.

avlhqei,a| dei/ proskunei/nÅ


b) Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.

c) léxico: (mesmo sentido de 4,23b).

8) a) 4,37 evn ga.r tou,tw| o` lo,goj evsti.n avlhqino.j o[ti a;lloj evsti.n o`
spei,rwn kai. a;lloj o` qeri,zwnÅ
b) Aqui, pois, [se verifica o provérbio:] ‘ um é o que semeia, outro o que ceifa´122

121
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 327.
122
Outra tradução: “Porque nisto é verdadeiro o ditado: um é o que semeia, e outro o que ceifa”. (CHAMPLIN,
1982, p. 332).
18

c) léxico: em conformidade com a verdade ou neste caso, com a escritura que diz...123

9) a) 4,42 th/| te gunaiki. e;legon o[ti ouvke,ti dia. th.n sh.n lalia.n
pisteu,omen( auvtoi. ga.r avkhko,amen kai. oi;damen o[ti ou-to,j evstin
avlhqw/j o` swth.r tou/ ko,smouÅ
b) e diziam à mulher: ‘já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o
ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo’.124

c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial. Frase que está no contexto da conclusão da
afirmação que tem por intenção provar como Jesus demonstrou a sua missão messiânica, bem
como os pobres que haveriam de acompanhar essa missão, especialmente no aspecto de
conduzir homens à experiência da regeneração, pondo-os, dessa maneira, a caminho do
destino, que lhes convinha como Homens125.

10) a) 5,31 Ea.n evgw. marturw/ peri. evmautou/( h` marturi,a mou ouvk e;stin

avlhqh,j\
b) se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não será verdadeiro;

c) léxico: não é confiável, genuíno126.

11) a) 5,32 a;lloj evsti.n o` marturw/n peri. evmou/( kai. oi=da o[ti avlhqh,j

evstin h` marturi,a h]n marturei/ peri. evmou/Å


b) Um outro é que dá testemunho de mim, e sei que é verdadeiro o testemunho que presta de
mim.127.

c) léxico: (mesmo sentido de 5,31, mas na forma positiva).

123
Provável alocução aos textos de Os 2,25 “eu a semearei para mim na terra, amarei a Lo-Ruhamah e direi a
Lo-Ammi: ‘Tu és meu povo’, e ele dirá: ‘Meu Deus’”; e Am 9,13 “eis que virão dias – oráculo do Senhor – em
que aquele que semeia está próximo daquele que colhe, aquele que pisa as uvas, daquele que planta; as
montanhas destilarão mosto e todas as colinas derreter-se-ão”.
124
Cf também em 1 Jo 4,14, onde diz: “e nós contemplamos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como
Salvador do mundo”.
125
Cf CHAMPLIN, 1882, p. 333.
126
Afirmação diz respeito que se encontram diversas citações dos escritos rabínicos revelando que o testemunho
de um homem a seu próprio favor não era admissível. Um tribunal humano requer pelo menos duas testemunhas,
conforme vemos em Nm 35,30 e Jo 8,16.17.
127
Cf a nota “v” onde diz: “o Pai”, se relaciona ao termo: um outro. (cf Bj, p. 1998).
19

12) a) 5,33 u`mei/j avpesta,lkate pro.j VIwa,nnhn( kai. memartu,rhken th/|


avlhqei,a|

b) Vós enviastes emissários a João e ele deu testemunho da verdade128.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

13) a) 6,14 Oi` ou=n a;nqrwpoi ivdo,ntej o] evpoi,hsen shmei/on e;legon o[ti ou-

to,j evstin avlhqw/j o` profh,thj o` evrco,menoj eivj to.n ko,smonÅ


b) Vendo o sinal que ele fizera, aqueles homens exclamavam: ‘esse é, verdadeiramente, o
profeta que deve vir ao mundo!’.

c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial.

14) a) 6,32 ei=pen ou=n auvtoi/j o` VIhsou/j\ avmh.n avmh.n le,gw u`mi/n( ouv

Mwu?sh/j de,dwken u`mi/n to.n a;rton evk tou/ ouvranou/( avllV o` path,r mou
di,dwsin u`mi/n to.n a;rton evk tou/ ouvranou/ to.n avlhqino,n\
b) Respondeu-lhes Jesus: ‘em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés que vos deu o
pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu;’.

c) léxico: em conformidade com a verdade. O verdadeiro pão do céu é Cristo, como também é
a verdadeira luz (1,9) e a verdadeira videira (15,1).

15) a) 6,55 h` ga.r sa,rx mou avlhqh,j evstin brw/sij( kai. to. ai-ma, mou avlhqh,j

evstin po,sijÅ
b) Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente
uma bebida.

c) léxico: confiável, autêntica129.

128
Cf A confirmação desta passagem encontra-se no texto paralelo de Jo 1,19-28.
129
Cf Segundo CHAMPLIN, 1982, que diz; “superficialmente, o adjetivo αληθής parece ser impróprio, pelo que
vários testemunhos substituem-no pelo advérbio αληθως. No todo, a evidência externa em apoio a αληθής goza
de peso preponderante” (p, 369).
20

16) a) 7,18 o` avfV e`autou/ lalw/n th.n do,xan th.n ivdi,an zhtei/\ o` de. zhtw/n

th.n do,xan tou/ pe,myantoj auvto.n ou-toj avlhqh,j evstin kai. avdiki,a evn
auvtw/| ouvk e;stinÅ
b) Quem fala por si mesmo procura a sua própria glória. Mas aquele que procura a glória de
quem o enviou é verdadeiro e nele não há injustiça.

c) léxico: confiável, honesto, autêntico.

17) a) 7,26 kai. i;de parrhsi,a| lalei/ kai. ouvde.n auvtw/| le,gousinÅ mh,pote

avlhqw/j e;gnwsan oi` a;rcontej o[ti ou-to,j evstin o` cristo,jÈ


b) Eis que fala publicamente e nada lhe dizem! Porventura as autoridades reconheceram
[verdadeiramente] ser ele o Cristo?

c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial.

18) a) 7,40 VEk tou/ o;clou ou=n avkou,santej tw/n lo,gwn tou,twn e;legon\ ou-

to,j evstin avlhqw/j o` profh,thj\


b) Alguns entre a multidão, ouvindo essas palavras, diziam: ‘Esse é, verdadeiramente, o
profeta!’

c) léxico: (mesmo sentido de 7,26).

19) a) 8,13 ei=pon ou=n auvtw/| oi` Farisai/oi\ su. peri. seautou/ marturei/j\ h`

marturi,a sou ouvk e;stin avlhqh,jÅ


b) disseram-lhe os fariseus: ‘tu dás testemunho de ti mesmo: teu testemunho não é [válido]’.

c) léxico: não é confiável, sincero, autêntico.

20) a) 8,14 avpekri,qh VIhsou/j kai. ei=pen auvtoi/j\ ka'n evgw. marturw/ peri.

evmautou/( avlhqh,j evstin h` marturi,a mou( o[ti oi=da po,qen h=lqon kai. pou/
u`pa,gw\ u`mei/j de. ouvk oi;date po,qen e;rcomai h' pou/ u`pa,gwÅ
21

b) Jesus respondeu-lhes: ‘embora eu dê testemunho de mim mesmo, meu testemunho é


[válido], porque sei de onde venho e para onde vou. Vós, porém, não sabeis de onde venho
nem para onde vou’130.
c) léxico: (mesmo sentido que 8,13).

21) a) 8,16 kai. eva.n kri,nw de. evgw,( h` kri,sij h` evmh. avlhqinh, evstin( o[ti

mo,noj ouvk eivmi,( avllV evgw. kai. o` pe,myaj me path,rÅ


b) Se eu julgo, porém, o meu julgamento é verdadeiro, porque eu não estou só, mas comigo
está o Pai;

c) léxico: é averiguado. Conformidade com a verdade. Confiável.

22) a) 8,17 kai. evn tw/| no,mw| de. tw/| u`mete,rw| ge,graptai o[ti du,o
avnqrw,pwn h` marturi,a avlhqh,j evstinÅ
b) e está escrito na vossa Lei que o testemunho de duas pessoas [é válido]131.

c) léxico: confiável, sincero, autêntico.

23) a) 8,26 polla. e;cw peri. u`mw/n lalei/n kai. kri,nein( avllV o` pe,myaj me

avlhqh,j evstin( kavgw. a] h;kousa parV auvtou/ tau/ta lalw/ eivj to.n ko,smonÅ
b) Tenho muito que falar e julgar sobre vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro e digo
ao mundo tudo o que dele ouvi.

c) léxico: (o mesmo sentido que 8,17). “Digno de confiança, autêntico, jamais mostrando
falso. O Pai aparece aqui como padrão da verdade, como aquela veracidade da qual toda e
qualquer outra verdade depende, porquanto em Deus se encontra a verdade completa”132.

130
Na cultura judaica, era necessário o testemunho de duas pessoas para este ter validade (Cf Dt 17,6). Com
Jesus isto muda, pois “o Filho, por si mesmo, é sua verdadeira testemunha, porque só ele conhece o mistério
divino de seu ser (Cf Mt 11,27)”. (Cf Bj nota “a”, p. 2006). Ou segundo CHAMPLIN, 1982: “o auto-testemunho
de Jesus era válido porque Ele não buscava os seus próprios interesses ou o seu engrandecimento pessoal, mas
o seu testemunho era totalmente destituído da presença do eu, embora fosse proferido pessoalmente, porquanto
vinha da parte do Pai, exposto em união com o Pai e, não independentemente dele”. (p. 402).
131
Cf Dt 17,6; 19,15.
132
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 407.
22

24) a) 8,31 e;legen ou=n o` VIhsou/j pro.j tou.j pepisteuko,taj auvtw/|


VIoudai,ouj\ eva.n u`mei/j mei,nhte evn tw/| lo,gw| tw/| evmw/|( avlhqw/j
maqhtai, mou, evste
b) Disse, então, Jesus aos judeus que nele haviam crido: ‘se permanecerdes na minha
palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos’.

c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial.

25) a) 8,32 kai. gnw,sesqe th.n avlh,qeian( kai. h` avlh,qeia evleuqerw,sei


u`ma/jÅ
b) e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará133.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

26) a) 8,40 u/n de. zhtei/te, me avpoktei/nai a;nqrwpon o]j th.n avlh,qeian u`mi/n

lela,lhka h]n h;kousa para. tou/ qeou/\ tou/to VAbraa.m ouvk evpoi,hsenÅ
b) Vós, porém, procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso
Abraão não fez!

c) léxico: (mesmo sentido que 8,32).

27) a) 8,44 u`mei/j evk tou/ patro.j tou/ diabo,lou evste. kai. ta.j evpiqumi,aj tou/

patro.j u`mw/n qe,lete poiei/nÅ evkei/noj avnqrwpokto,noj h=n avpV avrch/j


kai. evn th/| avlhqei,a| ouvk e;sthken( o[ti ouvk e;stin avlh,qeia evn auvtw/|Å
o[tan lalh/| to. yeu/doj( evk tw/n ivdi,wn lalei/( o[ti yeu,sthj evsti.n kai. o` path.r
auvtou/Å
133
Cf a nota “h”: “Jesus é a verdade, a realidade plena do dom do Pai e do seu desígnio salvífico (14,6; 17,17;
Ap 3,7; 19,11). Nele tornaram-se presentes às realidades anunciadas pela Lei (1,17). Ele proclama as palavras
que recebe do Pai que o enviou (3,11; 8,26.40) e, assim, faz-nos conhecer aquele que ele conhece (1,18) e nos
convida a lhe darmos a nossa fé (3,12; 8,45-47). Ele é a verdadeira luz (1,9) e pode dizer: ‘eu sou o pão
verdadeiro’ etc. (6,35). Após sua glorificação (12,32), o Espírito da verdade (9,14.17) conduzirá os fiéis à
verdade plena (16,13). O fiel, que é da verdade (18,37; 1 Jo 3,19; 2 Ts 2,10-12), é por ela santificado (17,17-
19), nela permanece (8,31), nela caminha (2 Jo 4; 3 Jo 4). Ele adora o Pai em espírito e em verdade (4,23-24).
É arrancado da mentira (8,44)” (Cf BÍBLIA DE JERUSALÉM, 1985, p.2008). CHAMPLIN, 1982, afirma
acerca deste versículo: “uma das grandes declarações joaninas” (p. 409).
23

b) Vós sois do diabo, vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na
verdade, porque nela não há verdade; quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é
mentiroso e pai da mentira134.

c) léxico: (mesmo sentido de 8,40).

28) a) 8,45 evgw. de. o[ti th.n avlh,qeian le,gw( ouv pisteu,ete, moiÅ
b) Mas, porque digo a verdade, não credes em mim.

c) léxico: (mesmo sentido de 8,40.44).

29) a) 8,46 ti,j evx u`mw/n evle,gcei me peri. a`marti,ajÈ eiv avlh,qeian
le,gw( dia. ti, u`mei/j ouv pisteu,ete, moiÈ
b) Quem dentre vós, me acusa de pecado?135 Se digo a verdade, por que não credes em mim?

c) léxico: (mesmo sentido de 8,40.44.45).

30) a) 14,6 le,gei auvtw/| Îo`Ð VIhsou/j\ evgw, eivmi h` o`do.j kai. h` avlh,qeia

kai. h` zwh,\ ouvdei.j e;rcetai pro.j to.n pate,ra eiv mh. diV evmou/Å
b) Diz-lhe Jesus; ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida 136. Ninguém vem ao Pai a não ser
por mim’.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. Champlin afirma acerca
deste versículo: “provavelmente essa é a melhor conhecida e a mais repetida das declarações
do Senhor Jesus nas quais ele diz: Eu sou” (p. 523). Em relação à expressão “..... e a
Verdade”, o mesmo autor destaca alguns pontos: 1) Jesus é a verdade de Deus, porque ele é a
perfeita revelação de Deus e de sua vontade; 2) Jesus é a revelação de Deus aos seres
humanos, no que concerne à salvação deles; 3) Jesus é a verdade do caminho pelo qual os
134
Cf a nota “o”, onde se diz que: “a mentira, contrário da palavra (1,10) e da verdade (8,31), está ligada ao
nada e ao mal. Os judeus que negam a verdade de Jesus estão sujeitos ao chefe de todos os inimigos dessa
verdade” (BJ, p. 2009). CHAMPLIN, 1982, comenta: “essa é a mais importante declaração do Senhor Jesus
acerca da natureza e da pessoa do diabo”, extraindo ainda 5 fatos importantes ensinados por este versículo: 1) o
satanás é uma personalidade real; 2) ele foi o agente da queda humana; 3) a liberdade da vontade tornou isso
possível; 4) satanás continua exercendo poder sobre os que caíram e 5) satanás é o pai espiritual daqueles que
ainda não se encontraram com o Filho de Deus. (p. 415).
135
Cf nota “p”: “quer dizer, de infidelidade a Deus na missão dele recebida” (Bj, p. 2009).
136
Cf a nota “s” “Jesus é o Caminho, enquanto revela o Pai (12,45; 14,9); Ele nos faz conhecer o caminho (At
9,20) para o Pai; é Ele o único acesso ao Pai (1,18; 14,4-7); Ele vem do Pai e volta ao Pai e, no entanto, é um
com ele. Ele é a Verdade (8,32), a Vida (3,15)”. (BJ, p. 2023).
24

seres humanos devem retornar a Deus e 4) Jesus é a verdade, em oposição à religião falsa (cf
idem).

31) a) 14,17 to. pneu/ma th/j avlhqei,aj( o] o` ko,smoj ouv du,natai labei/n( o[ti

ouv qewrei/ auvto. ouvde. ginw,skei\ u`mei/j ginw,skete auvto,( o[ti parV u`mi/n
me,nei kai. evn u`mi/n e;staiÅ
b) O Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem conhece. Vós
o conheceis, porque permanece convosco137

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

32) a) 16,7 avllV evgw. th.n avlh,qeian le,gw u`mi/n( sumfe,rei u`mi/n i[na

evgw. avpe,lqwÅ eva.n ga.r mh. avpe,lqw( o` para,klhtoj ouvk evleu,setai pro.j
u`ma/j\ eva.n de. poreuqw/( pe,myw auvto.n pro.j u`ma/jÅ
b) No entanto, eu vos digo a verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o
Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

33) a) 16,13 o[tan de. e;lqh| evkei/noj( to. pneu/ma th/j avlhqei,aj( o`dhgh,sei

u`ma/j evn th/| avlhqei,a| pa,sh|\ ouv ga.r lalh,sei avfV e`autou/( avllV o[sa
avkou,sei lalh,sei kai. ta. evrco,mena avnaggelei/ u`mi/nÅ
b) Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de
si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras.

c) léxico: (mesmo sentido de 16,7).

34) a) 17,3 au[th de, evstin h` aivw,nioj zwh. i[na ginw,skwsin se. to.n mo,non

avlhqino.n qeo.n kai. o]n avpe,steilaj VIhsou/n Cristo,nÅ

137
O Espírito Santo é chamado de Espírito da Verdade por causa: 1) que Ele vem de Deus e representa a verdade
de Deus; 2) Ele é a revelação especial e a iluminação da verdade do Logos Eterno; 3) Ele é o revelador da
verdade de Jesus em sua encarnação; 4) Ele torna a verdade divina subjetiva para os seres humanos e 5) em sua
própria pessoa Ele é a verdade (Cf CHAMPLIN, 1982, p. 529).
25

b) ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que
enviaste, Jesus Cristo.

c) léxico: genuíno, real, autêntico.

35) a) 17,8 o[ti ta. r`h,mata a] e;dwka,j moi de,dwka auvtoi/j( kai. auvtoi. e;labon

kai. e;gnwsan avlhqw/j o[ti para. sou/ evxh/lqon( kai. evpi,steusan o[ti su, me
avpe,steilajÅ
b) porque as palavras que me deste eu as dei a eles, e eles as acolheram e reconheceram
verdadeiramente que saí de junto de ti e creram que me enviaste138.

c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial.

36) a) 17,17 a`gi,ason auvtou.j evn th/| avlhqei,a|\ o` lo,goj o` so.j avlh,qeia,

evstinÅ
b) Santifica-os139 na verdade; a tua palavra é verdade.

c) léxico: ambos os termos têm conotação de verdade como característica da ação divina ou
humana. Champlin acena para alguns aspectos dessa verdade: 1) é a verdade de Deus, que se
acha em Cristo; 2) é a verdade que milita contra a incredulidade dos judeus e é a verdade que
milita contra toda a incredulidade humana (Jo 3,17)140

37) a) 17,19 kai. u`pe.r auvtw/n evgw. a`gia,zw evmauto,n( i[na w=sin kai.
auvtoi. h`giasme,noi evn avlhqei,a|Å
b) E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

138
Subentende-se aqui: 1) a preexistência de Cristo (Jo 1,1); 2) sua missão messiânica e divina; 3) sua união com
o Pai; 4) sua autoridade recebida da parte do Pai e 5) Jesus é representante das regiões celestiais (Cf
CHAMPLIN, 1982, p. 576).
139
Cf Bj, “o sentido literal do verbo é separar para Deus, votar (no sentido primário desse termo), consagrar a
Deus”. (Cf nota “a”, p. 2032).
140
Cf p. 581.
26

38) a) 18,37 ei=pen ou=n auvtw/| o` Pila/toj\ ouvkou/n basileu.j ei= su,È
avpekri,qh o` VIhsou/j\ su. le,geij o[ti basileu,j eivmiÅ evgw. eivj tou/to
gege,nnhmai kai. eivj tou/to evlh,luqa eivj to.n ko,smon( i[na marturh,sw th/|
avlhqei,a|\ pa/j o` w'n evk th/j avlhqei,aj avkou,ei mou th/j fwnh/jÅ
b) Pilatos lhe disse: ‘então, tu és rei?’ Respondeu Jesus: ‘tu o dizes: eu sou rei. Para isso
nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta
a minha voz’.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. Neste contexto, Jesus se
apresenta como sendo: 1) a verdade de Deus (14,7-10); 2) a verdade do Salvador (3,15.16;
14,6) e 3) a verdade do destino humano (1,11.12; 3,15). É a tese: “a verdade se evidencia por
si mesma”.

39) a) 18,38 le,gei auvtw/| o` Pila/toj\ ti, evstin avlh,qeiaÈ Kai. tou/to eivpw.n

pa,lin evxh/lqen pro.j tou.j VIoudai,ouj kai. le,gei auvtoi/j\ evgw. ouvdemi,an
eu`ri,skw evn auvtw/| aivti,anÅ
b) Disse-lhe Pilatos: ‘que é a verdade?’ E tendo dito isso, saiu de novo e foi ao encontro dos
judeus e lhes disse: ‘nenhuma culpa encontro nele’.

c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana.

40) a) 19,35 kai. o` e`wrakw.j memartu,rhken( kai. avlhqinh. auvtou/ evstin h`

marturi,a( kai. evkei/noj oi=den o[ti avlhqh/ le,gei( i[na kai. u`mei/j
pisteu,ÎsÐhteÅ
b) Aquele que viu141 dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a
verdade, para que também vós creais.

c) léxico: em conformidade com a verdade. Genuíno, real.

41) a) 21,24 Ou-to,j evstin o` maqhth.j o` marturw/n peri. tou,twn kai. o` gra,yaj

tau/ta( kai. oi;damen o[ti avlhqh.j auvtou/ h` marturi,a evsti,nÅ

141
Cf Bj “o discípulo do v. 26, o próprio evangelista, certamente” (Cf nota “f”, p. 2037).
27

b) Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu; e sabemos que
seu testemunho é verdadeiro142.

c) léxico: confiável, honesto, sincero.

2.2- ALGUMAS DEDUÇÕES DA ANÁLISE GRAMATICAL

a) O emprego dos termos no conjunto do evangelho de João:

Ü 47 vezes é usado no evangelho de João o termo com a raiz αλήθεια, sendo que:

αλήθεια = verdade como característica da ação Ocorre em: 1,14; 1,17; 4,23 (2x);
divina/humana, ou como sendo a própria manifestação 4,24; 5,33; 8,32; 8,40; 8,44 (2x);
de Deus, aparece 21 vezes. Este termo predomina no 8,45; 8,46; 14,6; 14,17; 16,7; 16,13
Quarto Evangelho. (2x); 17,17 (2x); 17,19 e 18,37.

αληθής,= verdadeiro, confiável, sincero, honesto, Ocorre em: 3,33; 4,18; 5,31; 5,32;
autêntico aparece 13 vezes no evangelho de João. É o 6,55 (2x); 7,18; 8,13; 8,14; 8,17;
segundo termo mais usado. 8,26; 19,35 e 21,24.

αληθινός = verdadeiro, em conformidade com a Ocorre em: 1,19; 4,23; 4,37; 6,32;
verdade. Ou genuíno, real, aparece 7 vezes. 8,16; 17,3 e 19,35.

αληθως = verdadeiramente, realmente. Tem função Ocorre em: 4,42; 6,14; 7,26; 7,40;
adverbial. Aparece 6 vezes no Evangelho de João 8,32 e 17,8.

142
Este versículo se inclui na segunda conclusão do Evangelho de João, pois a primeira está em 19,30-31.
28

b) Algumas particularidades do termo αλήθεια no evangelho de João:

Ü o termo αλήθεια é usado na maioria dos casos, quando Jesus está falando ou
discursando no Quarto Evangelho, sobretudo, com os judeus;

Ü este termo é usado 7 vezes no conjunto da obra, dentro do contexto dos conflitos
diretos de Jesus com os judeus (p. ex: 5,33; 8,32; 8,40; 8,44 (2x); 8,45; 8,46)143;

Ü ocorre também na auto-proclamação de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e


a Vida” (Jo 14,6)144;

Ü em síntese: se este termo freqüentemente é usado no Evangelho de João,


significa que o mesmo tem certa relevância neste Evangelho e, por conseguinte,
pode-nos dar algum indício acerca da compreensão e intenção do conceito de
“verdade” no Quarto Evangelho. Ou ainda: mostra qual é o sentido de “verdade”
que o evangelista João quer frisar no texto bíblico.

CAPÍTULO TERCEIRO

3.1- JESUS: A VERDADE QUE LIBERTA

a) O contexto de libertação de Jo 8,32:

“CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ”

Tendo presente o contexto histórico e o pano de fundo ideológico e teológico do


Quarto Evangelho, esboçados sinteticamente no primeiro capítulo deste estudo, com mais a
análise exegética realizada no segundo capítulo, tentaremos traçar uma chave de leitura na
perspectiva da libertação do versículo de Jo 8,32, visando detectar o tipo de libertação e as
razões históricas e teológicas que levaram Jesus a afirmar solenemente: “conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará”, que por sinal, como escreve Champlin, é “uma das
143
Cf O sumário do livro de KONINGS: O evangelho segundo João. Amor e fidelidade, onde o autor classifica a
perícope de Jo 5,1 – 12,50 como a obra de Jesus e o conflito com o judaísmo, p. 03.
144
No evangelho de João encontramos sete auto-proclamações de Jesus - EU SOU: 6,35 – O pão da vida; 8,12 –
luz do mundo; 10,7 – a porta; 10,10 – o bom pastor; 11,25 – a ressurreição e a vida; 14,6 – caminho, a verdade
e a vida e 15,1- videira verdadeira.
29

grandes declarações joaninas”145 e Hernann afirma que esta fala colocada na boca de Jesus,
“já faz parte do melhor patrimônio da humanidade”146.

O versículo de Jo 8,32 situa-se literariamente no conjunto do evangelho de João na


primeira parte, que vai de 1,19 a 12, 50, sendo a segunda parte deste evangelho, composta
pelos capítulos: 13 a 20. Basicamente, o plano do evangelho de João segue uma estrutura que
é unânime na maioria dos autores. Por isso, visando proporcionar uma visão de conjunto do
Quarto Evangelho, bem como, querendo situar especificamente a passagem de Jo 8,32 neste
conjunto, apresentaremos o esboço elaborado por Konings sobre a estrutura do evangelho de
João:147

1,1-18 1,19 – 12,50 13 -20 21


Prólogo 1ª parte- obra e sinais perante 2ª parte – “chegou a hora”: a Epílogo
O Mundo: “ainda não a hora” “exaltação”
A Palavra 1,19 - 4,54 5 – 12 13 – 17 18 – 20 O ressuscitado
do Pai inícios dos sinais, Conflito crescente despedida a obra ea
ao mundo apresentação do e opção de fé dos “seus” consumada comunidade
dom

Dentro deste conjunto da obra do evangelho de João, o versículo 8,32 insere-se no


contexto literário do conflito crescente e opção de fé por parte dos seguidores de Jesus.
Jaubert148 por vez, coloca este versículo no sub-plano dos capítulos 7 a 10, que ela caracteriza
com o tema: “grandes controvérsias”, situando 8,32 “nos discursos polêmicos de Jesus
(8,12-59)”. Basicamente Champlin149 segue um esquema semelhante, divergindo apenas nos
capítulos, onde o mesmo autor insere nosso versículo na “controvérsia sobre a autoridade de
Jesus (8,21-29)” dentro dos capítulos: “diversos sinais e controvérsias (5,1-9,41)”. O autor
Ney Brasil Pereira enquadra o versículo 8,32 nos capítulos 7-8, onde nos coloca também o
contexto histórico e teológico da afirmação: “conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”. Para este biblista, nos capítulos 7-8, “João apresenta a grande revelação de Jesus
aos “judeus” no ambiente fervilhante da “festa das Tendas” ou Sukot”150.

“A Festa das Tendas” era uma festa muito popular de características


Messiânicas151, sendo que os habitantes de Jerusalém e os romeiros que para lá se dirigiram
esperavam que, durante essa festa, o Messias se manifestasse no templo e desse início a um
145
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 409.
146
Cf HERMANN, 1991, p. 15.
147
Cf KONINGS, 2000, p. 19. Conferir também o capítulo: A estrutura do quarto evangelho. In: FABRIS,
Rinaldo, Os Evangelhos II. Loyola, 1992, p. 256-259.
148
JAUBERT, 1985, p. 40.
149
CHAMPLIN, 1982, p. 260.
150
Cf PEREIRA, 1996, p. 05.
151
Cf Zc 14,16-17 e Ez 47,1-12.
30

processo que conduziria o povo judeu à libertação do jugo do poder político romano. A festa
durava 7 dias e durante esse período, “todos habitavam em cabanas cobertas com ramos de
árvores, lembrando o tempo do êxodo, quando o povo de Deus peregrinou pelo deserto rumo
à terra prometida”152. Usavam também a água, lembrando a água que jorra do templo de
Jerusalém e vai inundando de vida tudo o que encontra 153. Por isso, Jesus afirma solenemente
no último dia da festa: “se alguém tem sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim!
conforme a palavra da Escritura: de seu seio jorrarão rios de água viva” 154. Jesus usa esta
expressão porque ainda estamos no contexto da procissão diária que se fazia nesta festa, até a
piscina de Siloé, de onde se trazia a água que se oferecia em libação no altar do templo – um
rito propiciador das chuvas do inverno155.

A “Festa das Tendas”, no horizonte teológico era ainda a manifestação do Messias


como luz para a humanidade, dentro do contexto das tochas que se acendiam no átrio das
mulheres e da iluminação irradiada dos 4 candelabros de ouro que se acendiam sobre os
muros do templo156, fazendo referência a profecia de Zacarias 14,7 e de Isaías 9,1. Dentro
desta concepção histórico-teológica, Jesus afirma também solenemente: “Eu sou a luz do
mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” 157. Assim, segundo
Konings: “Jesus ultrapassa as fronteiras do judaísmo, reunido na mais festiva de suas festas
(...), porque “a própria pessoa de Jesus é a manifestação daquilo que o símbolo da luz quer
dizer (...)”, sendo que todas as “significações ressoam na exclamação de Jesus: “Eu sou a
luz do mundo””158.

A partir de 8,24, acontecem sucessivas referências de Jesus a si mesmo como EU


SOU, que caracteriza, ou exprime “a participação de Jesus na eternidade de Deus”159 ou
ainda, a revelação do próprio Deus a Moisés no livro do Êxodo 160: “se não credes que EU
SOU, morrereis em vossos pecados...161; “quando tiverdes levantado o Filho do Homem,
então sabereis que EU SOU162; “em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão

152
Cf BORTOLINI, 1994, p. 80.
153
Cf Ez 47,1-12.
154
Cf Jo 7,37-38.
155
Cf PEREIRA, 1996, p. 05.
156
Cf Idem, p. 05.
157
Cf Jo 8,12.
158
Cf KONINGS, 2000, p. 206.
159
Cf O capitulo de SANTOS, Bento Silva. Eu Sou. In: Teologia do Evangelho de São João. 1994, p. 61-79.
160
Cf Ex 3,13-15.
161
Cf Jo 8,24.
162
Cf Idem, 8,28.
31

existisse, EU SOU163. É dentro desse contexto de auto-revelação messiânica e divina, que


insere-se o versículo 8,32: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Contudo, podemos nos perguntar: qual é a “verdade” deste versículo?


Basicamente, neste versículo está envolvida a doutrina (ou o evangelho da “verdade”) que
Cristo nos trouxe164. Subjaz ainda um conhecimento da “verdade” destinada aos fiéis para que
eles, transformados, fiquem livres do pecado: “se, pois, o Filho vos libertar, sereis realmente
livres”165, caso contrário: “quem comete o pecado é escravo”166. Também, a partir de João
17,17, mostra-se algo parecido: “santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” e isso
conduz à revelação de Deus em Cristo e esta mensagem pode santificar e libertar os crentes
em Jesus.

Uma outra explicitação da “verdade”, dentro do contexto de Jo 8,32, relaciona-se


com Jo 1,14, onde, neste versículo, Jesus trouxe a “graça e a verdade” e essa revelação divina,
no “Logos”, nos livrará das algemas do mal, pela própria encarnação do Filho de Deus na
história da humanidade. Também, no versículo de Jo 14,6, Jesus se apresenta como a
personificação da verdade divina: “eu sou o caminho, a verdade e a vida(...)”, mostrando à
humanidade meios para que ela consiga viver mais concretamente sua busca pela vida plena,
libertando-se do pecado e das limitações mortais, chegando a participar da própria forma de
vida de Cristo: “(...) e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho
único”167.

Assim, “a verdade de Cristo é a verdade porque é a verdade de Deus, a nós


transmitida na pessoa de seu Filho” 168 e esta “verdade” que está em Cristo nos conduz à
“verdade” de Deus, porque, em realidade, nos tornamos uma partícula da “verdade”, desde
que venhamos a ser remidos pelo sangue do Cordeiro: “quem fala por si mesmo procura a
sua própria glória. Mas aquele que procura a glória de quem o enviou é verdadeiro e nele
não há injustiça”169.

Logo, o versículo de Jo 8,32 nos induz a percebermos que a verdadeira liberdade


consiste em chegarmos a participar da própria forma de vida de Deus, ou seja, de sermos
libertados de todas as limitações de qualquer espécie, e não somente das limitações impostas

163
Cf Idem, 8,58.
164
Cf Jo, 3,15-18.
165
Cf Idem, 8,36.
166
Cf Idem, 8,34.
167
Cf Jo 1,14b.
168
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 409.
169
Cf Jo 7,18.
32

pelo pecado170. Fazendo isso, nos tornamos moralmente livres, participando assim da
santidade de Deus, na perfeição: “portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é
perfeito”171 e nas virtudes positivas172. Ou seja, a partir da “verdade”-Cristo, nos tornamos
plenamente livres e ajudamos os outros a também fazerem este processo de libertação.

Finalmente, este versículo bíblico, dentro dos contextos da estrutura do evangelho


de João e da história do judaísmo, dado os constantes conflitos entre as lideranças judaicas
com as comunidades cristãs, oriundas do judaísmo 173, pode nos sugerir uma interpretação
onde o próprio Cristo livra os cristãos das cadeias do judaísmo intransigente e concede-lhes a
liberdade da fé que se faz presente na sua Boa Nova! Jesus questiona a intenção de seus
ouvintes, que se criam livres por aderirem à Lei, mas no fundo, eram ainda escravos, pois,
estavam cometendo o pecado, que para o evangelista João “se expressa na máxima da
incredulidade e a obstinação em não crer e aceitar a “verdade-Jesus””174.

b) O contexto de libertação de Jo 14,6:

“EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA. NINGUÉM VEM AO PAI A NÃO SER
POR MIM”.

Novamente retomamos o plano geral da obra do evangelista João e nele,


identificamos a estrutura literária em que se situa o versículo 14,6:

1,1-18 1,19 – 12,50 13 -20 21


Prólogo 1ª parte- obra e sinais perante 2ª parte – “chegou a hora”: a Epílogo
O Mundo: “ainda não a hora” “exaltação”
A Palavra 1,19 - 4,54 5 – 12 13 – 17 18 – 20 O ressuscitado
do Pai inícios dos sinais, Conflito crescente despedida a obra ea
ao mundo apresentação do e opção de fé dos “seus” consumada comunidade
dom

170
Cf Idem, 8,34.
171
Cf Mt 5,48.
172
Cf Gl 5,22-23.
173
Cf JAUBERT, 1985, p. 09.
174
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
33

Basicamente, este versículo encontra-se na segunda parte do evangelho de João


(cap. 13 a 20) a qual os autores denominam de: “O Grande Sinal”175; ou: “O Livro da
Glorificação: a revelação perante a comunidade”176 e ainda: “A Hora de Jesus. A Páscoa do
Cordeiro de Deus”177. Dentro deste bloco, a passagem de Jo 14,6, encontra-se na sub-parte
que também diverge entre os autores, quanto a sua estrutura literária: “Discurso de
Despedida (13,13-17,26)”178; “No Cenáculo (13-16)”179 e “Despedida dos “seus” (13-
17)”180. Também ainda, “Despedida dos “seus”, mas englobando os capítulos 13 a 14181.

Os capítulos 13 a 17, constituem, na maioria dos autores, o “adeus” de Jesus, pois,


trata-se de uma série de diálogos de despedida de Jesus (13,31 – 14,31; 15,1 – 16,31),
seguidos com a oração de Jesus ao Pai (17,1-26). Ainda, quanto à estrutura dos capítulos 13 a
17, seguiremos na íntegra o esquema proposto por Konings:182

13,1-30: o gesto simbólico/profético do lava-pés e o anúncio da traição


13,31-38: diálogo introdutório (“pouco tempo”) e comunicação do “legado” de Jesus (o
mandamento do amor fraterno)
14,1-14: despedida e promessa de reencontro
14,15-31: o dom do Paráclito e da paz.
15,1-17: a alegoria da vinha: explicitação do legado de Jesus: “amor fraterno, sua
fonte e seu dinamismo”.
15,18-16,4a: a inimizade do mundo
16,4b-15: a missão do Paráclito perante o mundo e na comunidade
16,16-33: dialogo de conclusão: o significado do “pouco tempo” e a alegria do
reencontro e da paz.
17,1-26: oração de quem se despede pelos que permanecem “no mundo”.

Anteriormente acenado pelo título desta seção: A despedida dos “seus”, o


conjunto de Jo 14,1-14, lembra no contexto bíblico, a despedida de Jacó (Gn 49,33); de Davi
(1 Cr 28-29) e de “todo o Livro do Deuteronômio que é um grande discurso de despedida de
175
Cf BORTOLINI, 1994, p. 13.
176
Cf A Palavra na Vida, 2000, Nº 147/148, p. 14.
177
Cf BIBLIA DE JERUSALÉM, 1985, introdução ao capítulo 13 do Evangelho de João.
178
Cf BORTOLINI, 1994, p. 13.
179
Cf CHAMPLIN, 1982, p, 261.
180
Cf KONINGS, 2000, p. 19.
181
Cf A Palavra na Vida, 2000, Nº 147/148, p. 14.
182
Cf KONINGS, 2000, p. 289.
34

Moisés, com o cântico e as bênçãos em Dt 32-33. Por isso, há quem chame Jo 13-17; ‘ o
Deuteronômio do Novo Testamento’”183.

No horizonte teológico do Quarto Evangelho, a passagem de Jo 14,6 insere-se na


declaração central de Jesus, resumindo ao mesmo tempo a prática do Filho de Deus e a prática
da comunidade cristã: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. O versículo constitui a síntese
do ensinamento de Jesus à comunidade dos que o seguem, na perspectiva da herança e da
missão, onde a primeira consiste no seu amor sem limites que leva Jesus a dar a sua vida por
amor; enquanto, a missão, diz respeito em fazer-se o que Ele fez, através do
comprometimento com a vida, a ponto, de entregá-la por amor aos irmãos.

Logo, uma chave de leitura na perspectiva da libertação de Jo 14,6 fundamenta-se


a partir de cada afirmação de Jesus: o Caminho, a Verdade e a Vida. Ou seja, na perspectiva
do Caminho, Jesus apresenta-se como horizonte de libertação a partir de que sem este, não
pode haver, nem crescimento, uma vez que se alguém se põe a caminhar, necessariamente
precisa traçar um caminho. Assim, “Eu sou o Caminho” nos propõe que Jesus é o Caminho
para Deus184, o qual é o destino final da humanidade redimida e, este é o caminho da
libertação. Consiste também de que Cristo conduz os fiéis aos lugares celestiais, onde, habita
a divindade. Finalmente, Jesus é ainda o Caminho para a transformação espiritual, visando
que a humanidade venha a participar da forma de vida divina – a vida necessária e
independente do próprio Pai: “vem a hora – e é agora – em que os mortos ouvirão a voz do
Filho de Deus e os que o ouvirem, viverão” 185. Por isso, Jesus é o pioneiro deste Caminho e
mostra à humanidade como ela pode se desenvolver espiritual e comunitariamente, pois Jesus
é o ser humano ideal a ser seguido, o ser humano-divino a ser cultuado. A Verdade –
Caminho sintetiza-se então no Senhor que não é somente o fim, mas igualmente o Caminho
para esse fim e “Jesus é o Caminho da Verdade e da Vida, não tanto, por causa de uma
adesão mística individual a ele, mas antes, por causa da fidelidade a ele em sua
comunidade”186.

No “Eu sou a Verdade”, faz-se menção àquele que se deve crer, sendo Jesus a
“Verdade” de Deus, porque Ele é a perfeita revelação de Deus e de sua “Verdade”. O
horizonte de libertação insere-se no contexto desta afirmação porque, Jesus é a revelação de
Deus aos seres humanos, no que representa essa “verdade”, e Ele, segundo os eternos

183
Cf KONINGS, 2000, p. 305.
184
Cf NICACCI, 1980, p. 167.
185
Cf Jo 5,25.
186
Cf KONINGS, 2000, p. 311.
35

conselhos divinos, esteve sempre unido ao Pai e o plano da redenção se originou dele 187.
Assim, através da Encarnação Jesus trouxe essa “verdade” da redenção (libertação) à
humanidade. Na sua Ascensão, Ressurreição e Glorificação, Jesus assegurou aos remidos a
mais plena participação em toda a sua glória e na sua natureza divina. Jesus é ainda a
“Verdade do Caminho” pelo qual os seres humanos devem retornar a Deus, porquanto Ele é o
exemplo supremo e o ilustrador desse caminho: “ninguém vem ao Pai a não ser por mim”188.
Essa é a “Verdade” envolvida em sua encarnação e tudo “quanto os seres humanos precisam
saber está contido em sua pessoa, pois Jesus é a Verdade ética do ser humano”189.

Finalmente, Jesus é a “Verdade” em oposição a uma religião falsa e ritualista,


descrita pelo evangelista João nos conflitos de Jesus com as autoridades judaicas 190. Cristo é
aquela “Verdade” para a qual apontava a Lei Mosaica e da qual a aliança do Antigo
Testamento era apenas uma sombra. Jesus é a materialização da “verdade-espiritual” e não
somente um profeta de Deus ou um representante parcial de Deus contra os judeus incrédulos
que rejeitaram o seu próprio Messias: “em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão
existisse, EU SOU”191. Na sua própria essência, Cristo é também a “Verdade de Deus”,
porque Ele mesmo é divino e assim nos mostrou qual é a natureza ou a verdadeira forma de
vida que Ele possui, e está transmitindo aos seres humanos. Logo, o Caminho libertador do
Quarto Evangelho, no contexto de Jo 14,6 consiste em que Jesus “se tornou um de nós, ou
seja, trouxe para dentro da nossa caminhada, o projeto de Deus (...)”, como ao mesmo
tempo “(...) abre o caminho para a comunidade que o segue: sua vida e sua prática
conduzem a humanidade ao encontro definitivo com Deus. Ele é o único caminho”192.

Na afirmação: “Eu sou a Vida”: Jesus é a vida porque Ele na qualidade de


“Logos” divino e eterno (1,1), compartilha da mais elevada forma de toda espécie de vida - a
vida do próprio Deus193 e, por conseguinte, Ele é verdadeiramente divino.

Com sua encarnação, Jesus nos ensinou um caminho de libertação, pelo qual a
humanidade deve compartilhar dessa sua vida, porque Ele demonstrou aos seres humanos
como a recebeu. Na Ressurreição, trouxe uma “nova” forma de vida, por ter saído da
sepultura como o primeiro ser humano realmente imortal. Na sua Ascensão e Glorificação,
Cristo veio participar mais intensamente da vida de Deus, tornando-se assim, as primícias de
187
Cf Jo 1,1.
188
Cf Idem, 14,6b.
189
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 523.
190
Cf por exemplo: Jo 9,40-41, dentre outros.
191
Cf Jo 8,58.
192
Cf BORTOLINI, 1994, p. 137.
193
Cf Fl 2,6-11.
36

muitos outros seres humanos, igualmente imortais. Por isso, Cristo está conduzindo muitos
filhos(as) à Glória, os quais participam dessa mesma vida.

Enfim, Jesus é a Vida, tanto a vida futura, como o princípio e a fonte originária de
toda a vida “porque, caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a
vida em nós!”194.

c) O contexto de libertação de Jo 18,37:

“EU PARA ISSO NASCI, E PARA ISSO VIM AO MUNDO, A FIM DE DAR TESTEMUNHO
DA VERDADE. TODO AQUELE QUE É DA VERDADE OUVE A MINHA VOZ”.

Retomando mais uma vez o plano do evangelho de João, segundo Konings,


identificamos que a passagem de Jo 18,37 situa-se também na segunda parte da respectiva
obra, na sua sub-parte: capítulos 18 a 20, na qual o autor denomina de: “a obra
consumada”195. Vejamos:

1,1-18 1,19 – 12,50 13 -20 21


Prólogo 1ª parte- obra e sinais perante 2ª parte – “chegou a hora”: a Epílogo
O Mundo: “ainda não a hora” “exaltação”
A Palavra 1,19 - 4,54 5 – 12 13 – 17 18 – 20 o ressuscitado
do Pai inícios dos sinais, Conflito crescente despedida a obra ea
ao mundo apresentação do e opção de fé dos “seus” consumada comunidade
dom

Bortolini, seguindo o mesmo esquema, enquadra o versículo 37, do capitulo 18, no


contexto da “Paixão, morte e ressurreição de Jesus (18,1-20,29)”196. Annie Jaubert insere a
referida passagem nos “relatos da paixão (18-19)”197, e Champlin, encaixa este versículo nos
capítulos (18,1-19,42), sob o título: “de Getsêmani ao Calvário”, na sub-parte dos capítulos:
(18,28 – 19,16), que ele classifica como: “Jesus na presença de Pilatos”198.

194
Cf Palavra na Vida, Nº 147/148, 2000, p. 108.
195
Cf KONINGS, 2000, p, 19.
196
Cf BORTOLINI, 1994, p, 13.
197
Cf JAUBERT, 1985, p. 40.
198
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 261.
37

A passagem de Jo 18,37 situa-se no contexto da apresentação de Jesus a Pilatos,


onde acontece um diálogo entre os dois e, nesta conversa, Jesus contrapõe seu “reinado” ao
reinado romano199. O julgamento acontece depois que Jesus passou por Anás200 e do Sumo
Sacerdote Caifás201, sendo então conduzido ao tribunal romano, presidido por Pilatos, onde
Jesus vai ser julgado e condenado. O cenário do julgamento revela de antemão, a incoerência
e a hipocrisia dos acusadores de Jesus: eles não entraram na casa de Pilatos, pois isto os
tornaria impuros para celebrarem a Páscoa: “eles não entraram no pretório para não se
contaminarem e poderem comer a Páscoa”202. A acusação deles também não tem nenhuma
consistência: “que acusação trazeis contra esse homem? Responderam: se não fosse um
malfeitor, não o entregaríamos a ti”203.

O diálogo entre Jesus e Pilatos continua e este o interroga: “você é rei?”204.


Pilatos pensava na concepção de um rei político daquela época 205, ou como um líder
carismático-religioso que o povo seguia206. Todavia, Jesus é rei, mas um rei diferente: sem
exército e sem súditos. Seu poder é o serviço. Seu trono é a cruz. Seu objetivo é a paz e vida
para todos. Sua arma é a “verdade”: “quem é pela verdade, escuta a minha voz”207. A realeza
de Jesus, portanto, “não é deste mundo”208, e não pertence a este âmbito, mas “situa-se no
âmbito escatológico (...)”, onde “a autoridade que ele exerce pertence a Deus, e o que ele faz
é execução da vontade de Deus”209.

A perspectiva teológica da libertação, a partir deste versículo, dentro do contexto


da Paixão e Morte de Jesus (cap. 18-20), encontra-se na afirmação de Jesus que trouxe a
“verdade” às pessoas, nos aspectos da “verdade-Deus”, ou seja, como Deus é, e o que os seres
humanos podem saber a respeito Dele. A libertação também está presente na dimensão da
“verdade- revelação”, através de Jesus que vem ao encontro da humanidade, mostrando a ela
o caminho para alcançar a vida eterna: “a fim de que todo aquele que crer tenha nele a vida
eterna”210. E, ainda, no sentido da própria “verdade” sobre o destino humano, pois, quando

199
Cf Jo 18,36-37.
200
Cf Idem, 18,12-23.
201
Cf Idem, 18,24-27.
202
Cf Idem, 18,28.
203
Cf Idem, 18,29-30.
204
Cf Jo, 18,33.
205
Cf KONINGS, 2000, p, 376.
206
Mencionar alguns líderes carismáticos surgidos naquela época.
207
Cf Jo 18,37.
208
Cf Idem, 18,36.
209
Cf KONINGS, 2000, p, 377.
210
Cf Jo 3,15.
38

este é corretamente compreendido, encontra-se o por quê da existência do ser humano: “veio
para o que era seu e os seus não o receberam”211.

Essa atitude libertadora a partir de Jo 18,37, ainda poderia ser entendida na


dimensão do reinado da veracidade do Deus fiel, que se manifesta na prática e na palavra de
Jesus: “glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” 212.
Poderia também ser relacionada com a prática da entrega total de Jesus à humanidade, que
permeia o trecho de Jo 18,28-19,16, sendo o reinado da “verdade” também decorrente do
amor de Jesus para com os “seus”.

Todavia, para alcançar-se uma libertação integral, entendida como aquela que
permeia todas as dimensões do ser humano, faz-se necessário aderir-se ao Reino de Jesus, que
é “verdade”, pois tudo o que Ele fez é Palavra de Deus, e esta palavra e atitudes de Jesus,
libertam as pessoas da escravidão, seja nos âmbitos: político, cultural, antropológico e
religioso. Jesus é rei, mas sua realeza é diferente, pois, ela não pertence a esta ordem social,
muitas vezes, injusta! Sua realeza é serviço para a vida integral dos seres humanos até as
últimas conseqüências. A libertação, portanto é a própria pessoa de Jesus Cristo –
personificada pelo Reino de Deus “agindo em defesa e promoção da vida do povo (...)”,
sendo “doação da vida para que o povo possa viver. E por isso, que a realeza de Jesus tem
seu ponto alto na cruz”213.

d) A Verdade-Jesus e outros tipos de libertação:

No aspecto econômico e social:

A linguagem do evangelho de João reflete mais um contexto urbano de relações,


que uma realidade rural. Esta dedução se faz observando a prática e os discursos de Jesus
presentes neste evangelho: as núpcias em Caná (Jo 2, 1-12); o encontro com Nicodemos (Jo 3
1-21); o diálogo com a Samaritana (Jo 4, 1-42); a cura do enfermo na piscina de Betesda (Jo
5, 1-18); a cura do cego de nascença (Jo 9, 1-41), dentre outros. Embora, tenhamos uma cena
que nos leve a imaginar um contexto rural: o pastor (Jo 10, 1-18), há autores que afirmam que

211
Cf Idem, 1,11.
212
Cf Idem, 1,14.
213
Cf BORTOLINI, 1994, p. 170.
39

esta passagem já revela uma transição do ambiente rural ao urbano, presentes na vida
cotidiana dos destinatários do evangelho de João214.

Assim, dando um realce ao mundo urbano, descrevendo suas relações a partir da


ótica econômica e social, encontramos no evangelho de João, algumas práticas libertadoras de
Jesus, que podem nos sugerir uma releitura mais comprometida deste evangelho, para as
comunidades urbanas de hoje. Como são muitas as práticas libertadoras de Jesus, explicitadas
no evangelho de João, selecionaremos algumas, mas por meio delas, poderemos ter uma visão
global deste evangelho sobre este assunto.

Um primeiro contexto urbano presente no evangelho de João e que desencadeou


uma prática libertadora de Jesus foi numa família, quando ela ofereceu uma ampla festa de
casamento215, e nela, Jesus transformou a água em vinho, restabelecendo assim, a alegria que
a comunidade cristã primitiva havia perdido, pois, “na tradição bíblica, o vinho é símbolo da
alegria e da plenitude das dádivas de Deus”216.

Embora o vinho seja um dos principais símbolos joaninos217, e que também se fez
presente na caminhada do Povo de Israel, simbolizando a amizade (Sir. 9,10); o amor humano
(Ct 1,3; 4,10) e em geral, toda a alegria que se desfruta na terra com sua ambigüidade (Ecl 10,
19; Zc 10,7; Jt 12,13; Jo 1,18...), no evangelho de João ele é um “sinal” da revelação
escatológica de Jesus, sendo que deste relato “deduz-se que Jesus é o criador ou realizador
da nova economia salvífica, simbolizada pelo vinho “bom” em substituição da água para a
purificação dos judeus. O sinal de Caná é um ato salvífico-divino de Jesus, mediante o qual a
antiga religião é substituída pela nova, centrada na pessoa do Verbo feito carne, lugar do
culto em “espírito e verdade” (4,23)”218.

No diálogo de Jesus com Nicodemos (3,1-21), este “que era um dos notáveis entre
os judeus”219, e que vai procura-lo “a noite”, Jesus se apresenta como proposta de libertação,
na dimensão de um novo nascimento, de uma conversão, provocando uma mudança radical na
vida deste notável fariseu. A proposta de Jesus para Nicodemos seria de libertação, saindo do
status de fariseu e chefe dos judeus, e ingressando na comunidade cristã dos simples e
humildes, ou dos seguidores de Jesus. O processo libertador descrito neste discurso joanino,
214
Procurar esta descrição de autores: pastor como imagem da cidade.
215
Cf Jo 2,1-11.
216
Cf BECKER, 1999, p. 297.
217
Cf O capítulo XIV do livro: Teologia do Evangelho de São João, onde o autor faz uma descrição interessante
sobre o simbolismo presente no evangelho de João, dentre eles, o vinho. SANTOS, Silva Bento. Santuário, São
Paulo, 1994, p. 371-373.
218
Cf SANTOS, 1994, p. 373.
219
Cf Jo 3,1.
40

supõe que Nicodemos, possa alcançar este objetivo, a partir de dois passos: o interior; que se
traduz na mudança de vida pessoal e comunitária, e o exterior; que supõe ruptura com um
sistema excludente religioso-político dos Fariseus. Contudo, Nicodemos representa no
evangelho de João o grupo dos seguidores e seguidoras de Jesus que não conseguiu se
desvencilhar completamente da religião oficial: “contudo, muitos chefes creram nele, mas
por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga”220.

Nascer de novo da água e do Espírito (Jo 3,5), implica numa constante caminhada
de conversão, de mudança nas práticas pessoais, eclesiais e sociais. Diz respeito ainda na
freqüente renovação do compromisso assumido; na busca de uma atualização dos nossos
conhecimentos e das práticas cotidianas, iluminadas e confrontadas com a proposta de Jesus
Cristo. E para nós cristãos e cristãs da América Latina, pode significar “estar registrado como
cristão ao novo nascimento (...), na medida em que acontece “a radical transformação
interna e externa, inclusive cultural e sociológica”221.

Um terceiro fato de um processo de libertação descrito no evangelho de João,


acontece na cidade de Cafarnaum, quando um funcionário real (um pagão) se converte com
“todos os da sua casa”222, isto é, com a família, os servos, crianças ao cristianismo. Neste
caso, a prática libertadora de Jesus ilumina o alto funcionário e a partir dele, acontece à
mudança pessoal e comunitária (da família). Aqui se evidencia que a conversão atinge
diversos tipos de pessoas, que também tem diversos acessos a Jesus, em variadas situações
comunitárias, com uma característica comum: por si mesmas, as pessoas muitas vezes, não
entendem o dom de Deus223, por isso, da importância de uma prática de conversão pessoal,
mas com incidência social: “então o pai reconheceu ser precisamente aquela a hora em que
Jesus lhe dissera: ‘o teu filho vive’; e creu, ele e todos os da sua casa” 224. Este ato de fé do
funcionário real, juntamente com a mesma atitude da crença de Tomé (Jo 20,28), mereceu no
evangelho de João, a única bem-aventurança colocada na expressão de Jesus: “felizes os que
não viram e creram”225.

Outro contexto de libertação descrito no Quarto Evangelho, a partir de uma atitude


relacional concreta de Jesus, acontece com as mulheres que aparecem descritas neste

220
Cf Jo 12,42. Ler também as citações de Jo 7,48.50-52 e 19,39. São textos que mostram a caminhada de fé de
Nicodemos. Contudo, todas mostram que ele não conseguiu romper com o judaísmo oficial. A expressão em Jo
3,2 “a noite ele veio encontrar Jesus (...)” revela esta dificuldade de Nicodemos.
221
Cf KONINGS, 2000, p. 133.
222
Cf Jo 4,46-54.
223
Cf Idem, 4,52.
224
Cf Jo 4,53.
225
Cf Jo 20,29.
41

evangelho: a conversa com a Samaritana (Jo 4, 1-42); com a adúltera 226 (Jo 8,2-11); com
Marta e Maria (Jo 11, 1-44); com Maria, na unção em Betânia (Jo 12, 1-8); na hora de sua
morte (Jo 19, 25-27) e com Maria Madalena (Jo 20, 11-18). O grande ato libertador de Jesus
para com elas consiste na não exclusão das mulheres do processo familiar, social e religioso,
pois, “no sistema religioso e político do judaísmo rabínico, as mulheres ocupavam, mais do
que na época patriarcal ou mesmo no Israel clássico, um lugar secundário. Mas, no
Evangelho de João, ao contrário, o papel desempenhado pelas mulheres é notável” 227. Esta
exclusão da mulher do contexto social, religioso e político da Palestina, no tempo de Jesus,
acontecia devido que neste país, a estrutura social era patriarcal, onde a família se
denominava a “casa do pai”, porque este governava como senhor absoluto, sendo dono dos
bens e da família. Em síntese, no tempo de Jesus, a mulher era “em tudo inferior ao
Homem”228. E com as crianças, não eram nem contadas229.

Todavia, a prática libertadora de Jesus não condizia com este sistema excludente e
machista, ao contrário, para Ele, a mulher tinha a mesma dignidade, categoria e direitos que o
homem230. Jesus rejeitava abertamente as leis e costumes discriminatórios, que
menosprezavam a dignidade e os direitos igualitários das mulheres em relação aos homens 231.
Não tinha medo de ficar sozinho com uma mulher (Jo 4,27); tinha amigas (Jo 11,5.33; 12,1-8)
e também discípulas (Jo 19,25-26; 20,16). Enfim, para o reinado de Deus, anunciado por
Jesus, todos são convidados: as mulheres e os homens, as prostitutas e os piedosos fariseus.
Nisso consiste a prática integradora e libertadora de Jesus.

Finalmente, Jesus instaura ainda uma prática libertadora para sociedade capitalista
e egoísta daquela época, quando realiza a partilha dos pães em Jo 6, 1-15, onde no final “eles
recolheram e encheram 12 cestos com os pedaços dos 5 pães de cevada deixados de sobra
pelos que se alimentaram”232. Jesus também liberta seus discípulos do medo “SOU EU, não

226
Cf. Muitos estudiosos da bíblia são unânimes em afirmar que a perícope de Jo 7,53 – 8,11 não faz parte da
literatura joanina, mas que poderia ser atribuída a Lucas (cf Lc 21,38). Contudo, “sua canonicidade, seu caráter
e seu valor histórico, no entanto, não sofrem contestação”. Veja na Bíblia de Jerusalém, nota “v”, pg. 2005.
Outra confirmação da interpolação desta perícope dá-se olhando às partes anterior e posteriores da mesma. Ali se
percebe que o assunto tratado em Jo 7, 40-52, continua em Jo 8,12ss. Ou seja, o encontro de Jesus com a mulher
adúltera aparece unicamente nesta perícope do evangelho de João.
227
Cf KONINGS, 2000, p. 43.
228
Cf MORACHO, 1994, p. 23.
229
Cf Mt 14,21, onde se diz: “ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e
crianças”. Confira ainda Mc 6,44.
230
Cf Jo 4,7-9.
231
Cf Idem, 8,1-11; 11,1-44.
232
Cf Idem, 6,13.
42

temais”233. Afasta da sociedade as injustiças “nem eu te condeno”234, e conduz o seu rebanho


à vida plena, libertando-o dos ladrões e assaltantes “eu sou a porta das ovelhas”235.

No aspecto religioso:

A primeira afirmação acerca de uma prática de libertação religiosa presente no


evangelho de João refere-se a Jesus quando Ele se caracteriza não somente como um
instrumento de transmissão da Palavra de Deus, que é a “verdade”, como fez Moisés e os
profetas do AT, mas quando Jesus se apresenta como a própria revelação do Pai: “Eu e o Pai
somos um”236. Nisto Jesus inova, de certa forma, em relação à compreensão da “verdade” do
AT, pois, Ele se coloca numa dimensão comum com o Pai, deixando entrever um mistério de
unidade mais vasto e profundo. Os constantes conflitos de Jesus com os judeus, descritos no
evangelho de João são porque os judeus percebem que Jesus tem a pretensão de ser Deus; “os
judeus lhe responderam: ‘não te lapidamos por causa de uma boa obra, mas por blasfêmia,
porque, sendo apenas um homem, tu te fazes Deus’”237. Logo, com Jesus tem-se a revelação
total e completa de Deus na história da humanidade, por isso Ele pôde dizer: “Eu sou a
verdade”238.

Esta prática libertadora de Jesus, no âmbito religioso, e em relação com a


“verdade” no evangelho de João, indica que Jesus é a revelação personificada de Deus na
história da humanidade, porque Ele está no Pai e o Pai está nele 239. É na pessoa de Jesus
Cristo que acontece o encontro com Deus. Daí, uma conclusão: há em Jesus uma força
libertadora da “verdade”: “a verdade vos libertará”240.

Todavia, pergunta-se: de que libertação se trata? “Não se trata (...) diretamente da


política (...) nem da autonomia interior (...), mas é a libertação em relação ao pecado, à
mentira e à própria morte” 241. A verdade “é o próprio Jesus, a sua palavra e a sua prática,
que se tornam caminho de vida e, por isso mesmo, de liberdade (14,6)”242.

233
Cf Idem, 6,20.
234
Cf Idem, 8,11.
235
Cf Idem, 10,7.
236
Cf Jo 10,30.
237
Cf em Jo 10, 33. Veja também outros conflitos em Jo 1,1; 2,11; 8,16.29; 10,38; 14,9-10; 17,11.21.
238
Cf Idem, 14,6.
239
Cf Idem, 14,9-11.
240
Cf Jo, 8,32.
241
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
242
Cf Idem.
43

Logo, uma grande libertação religiosa, a partir da “verdade-Jesus”, testemunhada


por João Batista, é a libertação do pecado, pois, este torna o ser humano escravo do mal 243.
Por isso, o precursor de Jesus Cristo quando vê o Filho de Deus se aproximar, afirma em alto
e bom tom: “eis o Cordeiro de Deus, que veio para tirar o pecado do mundo”244.

A libertação religiosa tem também uma relação profunda com Deus, a partir do
conhecimento: “e esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo que enviaste”245. Conhecer no mundo semita não é um saber especulativo, ou uma
adequação da idéia à realidade, como é na cultura helênica. Mas é a experiência concreta e
completa do amor. Logo, conhecer Jesus – que é a “verdade-Deus”, corresponde em aceitá-lo
com fé e amor, dando testemunho Dele na comunidade cristã. Assim, o processo de libertação
acontece quando nos tornamos filhos de Deus no Filho 246, pois os que crêem Nele são também
“consagrados na verdade”247.

A libertação religiosa a partir da “verdade-Jesus”, diz respeito ainda ao


rompimento com as trevas (o pecado) visando o encontro da Luz, que é o próprio Jesus 248. É
libertar-se através do querer, ou da “sede”, pela busca da verdadeira água viva, personificada
em Jesus249. Ou ainda, libertar-se do processo definitivo da morte, através da fé na
ressurreição, que é também o próprio Jesus250.

A “verdade-Jesus”, no contexto de uma libertação religiosa, é também aquela que


provoca o rompimento com as barreiras do nacionalismo, do proselitismo e do desprezo às
pessoas mais simples: “como sendo judeu, tu me pedes de beber a mim que sou samaritana?
(Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos)”251. Isto acontece quando Jesus se
torna para os simples, um sinal de alegria plena: “tu guardaste o vinho bom até agora”252 e
ajuda-os na libertação das angústias da vida. Logo, a “verdade-Jesus” liberta a religião das
falsas crenças e conduz ao verdadeiro culto e ao verdadeiro Deus: “ele, porém, falava do
templo do seu corpo”253.

243
Cf Jo 8,34.
244
Cf Idem, 1,29.
245
Cf Idem, 17,3.
246
Cf Idem, 17,19.
247
Cf Idem, 17,19.
248
Cf Idem, 8,120b.
249
Cf Idem, 7,38c.
250
Cf Idem, 11,25.
251
Cf Jo 4,9; a nota “x’ da Bíblia de Jerusalém: “os judeus odiavam os samaritanos (..) e explicavam a sua
origem (2 Rs 17,24-41).
252
Cf Idem, 2,10.
253
Cf Idem, 2,21.
44

Enfim, uma grande força libertadora de Jesus Cristo acontece através do


conhecimento da “verdade plena” – que é o próprio Jesus e esta “verdade” é uma das grandes
novidades do Quarto Evangelho. Com efeito, já dizia são Jerônimo: “em nenhum dos
patriarcas, em nenhum dos profetas, em nenhum dos apóstolos existiu a verdade: somente em
Jesus. Com efeito, os outros conheceram em parte.., viam como que num espelho confuso. A
verdade de Deus apareceu somente em Jesus, que disse sem hesitar: eu sou a verdade” 254. Ou
ainda como afirmava Apolinário de Laodicéia ao tratar de Jesus Cristo como sendo para nós a
verdade: “Jesus é a manifestação da filiação divina à humanidade e, por meio do
conhecimento de si mesmo, o dom da salvação feito a ela” 255. Esta é a grande novidade
religiosa-libertadora de Jesus no evangelho de João para nós hoje, pois, em muitos momentos,
também vivemos num contexto de exclusão, proselitismo e indiferentismo religioso e social.

No aspecto cultural:

O processo de libertação cultural, a partir da “verdade-Jesus” se fundamenta na


insistência no conhecimento como via de salvação, explicitada no “Logos” encarnado de Jo
1,1, que é diferente do “logos” do judeu alexandrino Filão. Ou seja, o “logos” alexandrino
fundamentava-se na “criação por obra de Deus, que formou a matéria sem forma, nem
propriedade, sem vida nem ordem (...)”, onde “(...) a matéria sem vida é o oposto absoluto
de Deus”256. Por outro lado, o “Logos” joanino é a encarnação do Filho de Deus na
humanidade, comunicando a ela, tudo o que Deus quis mostrar (Jo 1,14): que Ele nos ama até
o fim e não precisamos de ‘conhecimentos esotéricos’ para ver esse Deus, mas basta olhar
para a pessoa de Jesus Cristo na “hora” de sua glória, à qual o Evangelho de João nos conduz
constantemente257.

Um segundo aspecto libertador, agora a partir de uma matriz cultural das


comunidades cristãs destinatárias do evangelho de João, refere-se à relação de Jesus com as
mulheres258. Aqui, logo vem à tona a cena de Jesus com a samaritana (4,1-30); com a adultera
(8,1-11); Marta e Maria (11,1-43); Maria (unção em Betânia) (12,1-8); com sua mãe (2,1-11;
19,25-27) e com a Maria Madalena (20,11-18).

254
Cf LATOURELLE, 1994, p. 1050-1051.
255
Cf Idem.
256
Cf LOHSE, 2000, p. 127.
257
Cf A “hora” de Jesus é a hora de sua glorificação (da morte). O evangelista João tem uma preocupação em
destacar a “hora” de Jesus. Veja em Jo 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1 e 17,1.
258
Cf Talvez o leitor esteja lembrado que trabalhamos a relação de Jesus com as mulheres na parte dos aspectos
econômicos e sociais. A leitura aqui proposta será de matriz cultural.
45

A partir do conhecimento do sistema religioso do judaísmo rabínico, onde as


mulheres ocupavam um lugar secundário259, Jesus propõe que as exigências e
responsabilidades do seguimento e da dignidade das pessoas sejam iguais para todos: homens
e mulheres. Por isso, Jesus, no evangelho de João, realiza seu primeiro sinal depois de um
pedido de sua mãe (2,4-5); a primeira pessoa a colher da boca de Jesus a declaração
messiânica “EU SOU” é a samaritana (4,26), que depois se torna a apóstola dos samaritanos
(4,28-29). Uma mulher (Marta) fez a grande profissão de fé (11,27). É pela intervenção de
Maria de Betânia, que Jesus reergue Lázaro (11,32). A mesma Maria unge os pés de Jesus
(12,1-8) e a Maria Madalena recebe a notícia mais importante do Novo Testamento,
pessoalmente de Jesus - a sua ressurreição (20,10-18).

Enfim, o contexto libertador referente à prática de Jesus para com as mulheres no


Quarto Evangelho, consiste na abertura e na afetividade que Jesus tinha para com elas,
rompendo uma estrutura predominantemente patriarcal e machista. Este tipo de
relacionamento, por parte de Jesus, “não é apenas um traço cultural, mas uma opção
consciente. A maneira adequada com que João apresenta as personagens femininas leva a
supor um papel ativo de mulheres na evangelização e na vida da comunidade”260.

e) A verdade em João como uma chave de releitura bíblica:

Destacamos freqüentemente neste estudo, que a “verdade” no evangelho de João


iguala-se à Pessoa de Jesus Cristo e, nesta concepção, ela é uma verdade personificada,
histórica, que exige dos crentes uma adesão de fé e que finalmente, liberta as pessoas da
preguiça de aceitar meias-verdades e da arrogância de pensarmos que conhecemos toda a
“verdade”.

Nesta ótica, nos aventuraremos a partir do contexto do evangelho de João,


fazermos uma releitura da “verdade” acerca de Deus e Cristo, dos ímpios, finalizando com a
verdade-evangelho (a Boa Nova) – como sendo a “verdade” plena anunciada por Jesus Cristo.
Partimos do pressuposto de que a “verdade” que nós conhecemos, ainda é pouca, mas daquilo
que compreendemos é imensamente importante para nossa fé e a convivência humana.

259
Cf MORACHO, 1994, p. 23.
260
Cf KONINGS, 2000, p. 44.
46

A Verdade Deus e Cristo:

Fundamentalmente, encontra-se no contexto bíblico a afirmação de que Deus é o


Deus da “verdade”: “ele é a rocha, e sua obra é perfeita, pois toda sua conduta é o direito. É
Deus verdadeiro e sem injustiça, ele é a justiça e a retidão” 261; “em tuas mãos eu entrego
meu espírito, és tu que me resgatas, Iahweh. Deus verdadeiro” 262. Por isso, Jesus no
evangelho de João pôde dizer claramente que Ele também é a “verdade” 263 e que estava
repleto de “verdade”264, porque falou somente a “verdade”: “mas porque digo a verdade, não
credes em mim”265.

O Espírito Santo, neste contexto teológico também é o Espírito da Verdade266 e nos


guia à toda “verdade”267, porque ele também é Deus268, e intercede a nosso favor, nos
animando e encorajando frente às vicissitudes da vida269.

A verdade-Deus se identifica ainda com a sua Palavra, porque a própria Palavra de


Deus é a “verdade”: “mas vou anunciar-te o que está escrito no Livro da Verdade” 270 e “
santifica-os na verdade, a tua palavra é verdade”271. Por isso, Deus encara a “verdade”
favoravelmente: “Iahweh, não é para a verdade que teus olhos se dirigem?”272, e os seus
juízos divinos são também segundo a “verdade”: “diante de Iahweh, pois ele vem, pois ele
vem para julgar a terra: ele vai julgar o mundo com justiça, e as nações com sua verdade” 273
e “sabemos que o julgamento de Deus se exerce segundo a verdade contra aqueles que
praticam tais ações”274.

A verdade e os ímpios:

No contexto bíblico, a verdade freqüentemente é contraposta e ameaçada pela


mentira, que é o pecado, e aqueles que apregoam a mentira, são caracterizados como ímpios.
Assim, a estes, resta apenas que sejam também destituídos da e pela “verdade”: “ouvi a
261
Cf Dt 32,4.
262
Cf Sl 31,6.
263
Cf Jo 7,18; 14,6.
264
Cf Jo, 1,14.
265
Cf Idem, 8,45.
266
Cf Idem, 14,17.
267
Cf Idem, 16,13.
268
Cf Idem, 16,13-16.
269
Cf At 2,1-11.
270
Cf Dn 21a.
271
Cf Jo 17,17.
272
Cf Jr 5,3.
273
Cf Sl 96,13.
274
Cf Rm 2,2.
47

palavra de Iahweh, filhos de Israel, pois Iahweh vai abrir um processo contra os habitantes
da terra, porque não há fidelidade, nem amor, nem conhecimento de Deus na terra” 275;
porque eles não dizem a “verdade” e nem a sustentam: “o direito foi expelido, mantém-se a
justiça a distância, porque a verdade estrebuchou na praça e a retidão não pode apresentar-
se”276; mas ao contrário, pleiteiam contra a “verdade”: “não há quem acuse com justiça, não
há quem mova uma causa com lealdade. Todos põem a sua confiança em coisas vãs e
pronunciam falsidade, concebem trabalheira e dão à luz iniqüidade” 277 e não soam corajosos
na defesa da verdade: “cada um zomba de seu próximo, eles não dizem a verdade,
habituaram suas línguas à mentira, eles se cansam de agir mal” 278, e por isso, serão punidos
por não terem a verdade nas suas vidas, muito menos, na conduta pessoal e comunitária,
dizimando e espalhando a mentira na sociedade, a ponto, de ocasionar divisão entre as
pessoas e os grupos sociais e religiosos: “e Iahweh disse: porque eles abandonaram a minha
Lei, que eu lhes dera, e não escutaram a minha voz e não a seguiram; mas seguiram a
obstinação de seu coração, assim, disse Iahweh dos Exércitos, o Deus de Israel. Eis que vou
fazer esse povo comer absinto e lhes darei a beber água envenenada”279.

A verdade e o Evangelho:

É o tema que mais estamos explorando neste estudo bibliográfico. Contudo,


queremos também fazer uma releitura, a partir da chave da verdade da Boa Nova, tentando
resgatar outros elementos que ainda não abordamos nos capítulos anteriores do trabalho.

Neste sentido, o evangelho, como a verdade, diz respeito em primeiro lugar, que a
verdade veio por meio de Cristo: “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” 280; que
Cristo dá testemunho da verdade: “para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar
testemunho da verdade”281, porque ele é a verdade: “eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida”282.

Contudo, esta verdade passa também a ser anunciada pelas pessoas, por exemplo:
por João Batista que deu testemunho da verdade: “um outro é que dá testemunho de mim e sei

275
Cf Os 4,1.
276
Cf Is 59,14.
277
Cf Idem, 59,4.
278
Cf Jr 9,4.
279
Cf Idem, 9,12-14.
280
Cf Jo 1,17.
281
Cf Idem, 1837.
282
Cf Idem, 14,6.
48

que é verdadeiro o testemunho que presta de mim” 283; por Paulo, quando afirma que a
verdade se acha em Cristo: “digo a verdade em Cristo, não minto e disto me dá testemunho a
minha consciência no Espírito Santo”284; ou ainda em Tito 1,1: “Paulo, servo de Deus,
apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus a fé e ao conhecimento da verdade
conforme a piedade”, e pelos próprios santos, quando a verdade permanece com eles: “por
causa da verdade que permanece em nós e estará conosco para sempre”285.

Mas o evangelho como a verdade produz também nos crentes alguns efeitos: a
santificação: “santifica-os na verdade”286; a purificação: pela obediência à verdade
purificastes as vossas almas para praticardes um amor fraternal sem hipocrisia. Amai-vos
uns aos outros ardorosamente e com coração puro” 287 e como armadura cristã: “portanto,
ponde-vos de pé e cinge os vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça”288.

Também, neste contexto, a verdade deveria sempre ser reconhecida por todos,
sobretudo, pelos crentes: “é com suavidade que deves educar os opositores, na expectativa de
que Deus lhes dará não só a conversão para o conhecimento da verdade” 289; deveria ser
crida: “quando Deus os criou para serem recebidos, com ação de graças, pelos que têm fé e
conhecem a verdade”290; também obedecida: “a ira e a indignação para os egoístas, rebeldes
à verdade e submissos à injustiça” 291; e, sobretudo, ser amada: “e por todas as seduções da
injustiça, para aqueles que se perdem, porque não acolheram o amor de verdade, a fim de
serem sábios”292.

Finalmente, o evangelho, como verdade, provoca interpelações aos fiéis, no


sentido de que estes não se tornem ímpios, afastando-se da verdade: “desviarão os seus
ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas” 293; nem resistam à verdade: “assim
também estes se opõem a verdade; são homens de espírito corrupto, de fé inconsistente” 294;
porque se fizerem isto serão destituídos da verdade: “alterações intermináveis entre homens
de espírito corrupto e desprovidos de verdade”295. Todavia, aos que dizem a verdade, o

283
Cf Idem, 5,32.
284
Cf Rm 9,1.
285
Cf 2 Jo 2.
286
Cf Jo 17,17.
287
Cf 1 Pd 1,22.
288
Cf Ef 6,14.
289
Cf 1 Tm 2,25.
290
Cf 1 Tm 4,3.
291
Cf Rm 2,8.
292
Cf 2 Ts 2,10.
293
Cf 2 Tm 2,4.
294
Cf Idem, 3,8.
295
Cf 1 Tm 6,5.
49

evangelho-verdade também ocasiona mudança de vida, no sentido de que estes são exibidores
da retidão divina: “quem revela a verdade proclama a justiça, a falsa testemunha diz
mentiras”296; são firmados na fé e coerentes na prática: “o lábio sincero está firme para
sempre”297 e deleitáveis para Deus: “o seu favor é para os que praticam a verdade”298.

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296
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297
Cf Idem, 12,19.
298
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