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CAPÍTULO PRIMEIRO
1
Uma descrição mais exaustiva sobre este tema no Evangelho de João será destacada no segundo capítulo deste
estudo.
2
Cf 2 Jo 3,1ss.
3
Colocar sobre a autoria do 4 evangelho.
4
Cf Jo 8,40.
5
Cf Idem, 16,7.
6
Cf Idem, 14,6.
7
Consideramos neste estudo a terminologia comum: Antigo e Novo Testamentos usada nos documentos magisteriais
da Igreja Católica Apostólica Romana (ex: Dei Verbum nº 15 e 16). Todavia, não ignoramos que no contexto
ecumênico prefere-se usar a terminologia Primeiro e Segundo Testamentos, em respeito à religião judaica, que não
aceita “o evento” Cristo, respectivamente, negando o Segundo Testamento. A conotação neste estudo de Antigo e
Novo Testamentos não visa elencar a superioridade do Novo Testamento em detrimento ao Antigo Testamento, mas
partimos de um pressuposto central de que: “Deus, pois, inspirador e autor dos livros de ambos os testamentos, de tal
modo dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse latente no Antigo e o Antigo se tornasse claro no Novo. (...),
pois os livros do Antigo Testamento, recebidos íntegros na pregação evangélica, adquirem e manifestam sua completa
significação no Novo Testamento (cf Mt 5,17; Lc 24,27; Rm 16, 25-26; 2 Cor 3, 14-16), e por sua vez o iluminam e
explicam” (DEI VERBUM, Nº 16).
2
No Quarto Evangelho, Jesus ainda promete a “verdade” aos que a ela não se
fecham: “quando vier o Espírito da Verdade ele vos conduzirá à verdade plena”8 e esta
“verdade”, uma vez aceita e conhecida se torna libertadora “e conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”9 e nesta expressão está o grande diferencial do conceito de “verdade”
em relação ao Antigo Testamento (vista como compromisso pessoal com a realidade) e ao
contexto grego (compreendida a partir da adequação do conceito com a realidade), pois agora,
com Jesus, a “verdade” é pessoal e ela tem a capacidade de libertar as pessoas, não só em
relação às mentiras, mas a todas às situações que angustiam e aprisionam os seres humanos:
“mas vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
verdade”10 – libertação religiosa; “como sendo judeu, tu me pedes de beber a mim que sou
samaritana”11 – libertação cultural e “eu sou a porta das ovelhas”12 – libertação social.
Uma primeira indução à resposta pode provir do contexto histórico em que foi
escrito o evangelho de João e neste, dentre outros fatores, nos deparamos com o movimento
esotérico chamado de gnose13, que também apregoava a “verdade” e, por conseguinte, à
aquisição dos mistérios divinos somente a partir da razão. Por outro lado, o Jesus descrito no
Quarto Evangelho, rompe com esta concepção racional, elitista e exclusivista da revelação de
Deus, pois apresenta a “verdade-salvação” não como “a salvação individual, longe deste
mundo mau”14, mas a partir do critério do amor fraterno: “dou-vos um mandamento novo: que
vos ameis uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes
amor uns pelos outros”15.
desprezavam as pessoas mais simples. Usavam a própria Lei para justificar sua ascensão
social em detrimento ao desmerecimento dos pobres e humildes. O Jesus apresentado pelo
evangelho de João, portador da “verdade”, por outro lado, mostra que a sabedoria só é útil se
ela nos aproxima de Deus 17 e do próximo: “se portanto, eu, o mestre e o Senhor, vos lavei os
pés, também, deveis lavar-vos os pés uns aos outros”18.
17
Cf Jo, 4,23.
18
Cf Idem, 13,14.
19
Cf Idem, 14,6.
20
Cf 1 Pd 3,15.
21
Cf segundo KONINGS, cerca do ano 90 dC, p. 37.
22
Filo de Alexandria viveu entre os anos de 13 aC a 42 dC.
4
"De fato, reconhecemos também um Filho de Deus. E que ninguém considere ridículo
que, para mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não pensamos sobre Deus, e
também Pai, e sobre seu Filho como fantasiavam vossos poetas, mostrando-nos deuses
que não são em nada melhores do que os homens, mas que o Filho de Deus é o Verbo do
Pai em idéia e operação, pois conforme a ele e por seu intermédio tudo foi feito, sendo o
Pai e o Filho um só. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do
Espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai"29
29
Cf IRINEU. Contra as heresias.In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
30
Cf Jo 1,1-18.
31
Cf Idem, 14,6.
32
Cf SCHNEIDER, 2000, p.139 (Vol I).
33
Cf Jo 14,6.
6
uma das 7 auto-proclamações de Jesus no evangelho de João 34, sendo que em 10, 7, Jesus se
apresenta como a Luz do mundo, e o “Logos” também é luz35.
Uma segunda razão histórica, agora numa perspectiva teológica, mas com
influência filosófica que levou o evangelista João a trabalhar o tema da “verdade”, poderia
provir da influência do gnosticismo sobre as comunidades judaico-cristãs na época em que foi
redigido este evangelho. O gnosticismo provém de “gnose, um substantivo do verbo
gignósko, que significa conhecer. Para os gnósticos, “gnose é conhecimento superior,
interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é
semelhante ao da palavra epistéme”36.
34
No evangelho de João encontramos sete auto-proclamações de Jesus - EU SOU: 6,35 – O pão da vida; 8,12 –
luz do mundo; 10,7 – a porta; 10,10 – o bom pastor; 11,25 – a ressurreição e a vida; 14,6 – caminho, a verdade
e a vida e 15,1- videira verdadeira.
35
Cf O PROTRÉPTICO. Discurso do bispo de Antioquia, Teófilo de Antioquia (séc. II dC): "Igualmente os três
dias que precedem a criação dos luzeiros são símbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de
sua Sabedoria [=Espírito Santo]". In: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Patrística e
Escolástica. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2005, v.2.
36
Cf INTERNET: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnose.
37
Cf JAUBERT, 1985, p. 07.
38
Falar da carta aos Hebreus.
7
Jesus Cristo, a fim de provar que Ele não pertencia meramente à ordem dos anjos, segundo o
que os gnósticos apregoavam, mas Ele é perfeitamente divino39.
eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” 47, e esse
saber não vem através da sabedoria deste mundo, mas do amor a Cristo: “assim, como o Pai
me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor”48.
Para o evangelista João, Jesus é a verdade e a verdade foi manifestada por Ele 56. O
Filho de Deus é ainda o depositário da verdade; Jesus prega a Palavra de Deus 57 e faz até da
47
Cf Idem, 17,3.
48
Cf Idem, 15,9.
49
Cf BORTOLINI, 1994, p. 10.
50
Cf Jo 1,29.
51
Cf Idem, 1,8.
52
Cf Idem, 8,12b.
53
Cf Idem, 14,6. Fizemos esta correlação a partir de que a auto-proclamação de Jesus: “Eu sou a luz”, insere-se
no contexto das 7 auto-proclamações existentes no Evangelho de João.
54
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
55
Cf LATOURELLE, 1994, p.1052.
56
Cf Jo 1,17.
57
Cf Idem, 17,17.
9
58 59
sua morte um testemunho da verdade . Ele também a possui plenamente , pois veio de
Deus 60. A sua pessoa “é a melhor expressão possível do plano divino da salvação (14,6)”61.
58
Cf Idem, 18,37.
59
Cf Idem, 1,14.
60
Cf Idem, 1,1; 8,40.
61
Cf MONLOUBOU, 1997, p. 816.
62
Cf Jo 6,55.
63
Cf Idem, 8,32.
64
Cf Idem, 8,40.45; 16,7; 18,37.
65
Cf Idem, 16,13.
66
Cf Idem, 8,32.
67
Cf Jo, 3,4.
68
Cf Idem, 4,15.
69
Cf Idem, 8,48.
10
segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: dá glória a Deus! Sabemos que esse
homem é pecador”70.
71
Aos discípulos de Jesus, estes também devem ser santificados pela “verdade” ,
mesmo que para isso precisem ser odiados pelo mundo, uma vez que não serão aceitos pelo
mundo, mas através disto que se evidenciará a autenticidade do discipulado de Jesus 72. Mas
os discípulos não suportam o que Jesus lhes diz, por isso, o Espírito da Verdade terá de
conduzi-los a toda “verdade”, revelando-lhes Jesus por meio do desocultamento de seus
tesouros: “tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar”73.
Contudo, aos crentes que praticam a “verdade”, eles se aproximam da luz para que
se manifestem as obras de Deus e a Luz é Jesus 74. O diálogo com Nicodemos, por exemplo, 75
conclui em contraste as exposições sobre a finalidade da missão de Jesus que se revela como
oferta salvífica e escatológica do amor de Deus. Jesus é rejeitado como portador da salvação e
vida, em contraposição às trevas e a mentira.
Mas o testemunho que Jesus deu da “verdade” deve, no Quarto Evangelho, ser
completado pelo Espírito, pois, Jesus não disse tudo, e além do mais, o sentido de suas
palavras não eram claras no início. Por isso, o Espírito tem o papel de completar e fazer
recordar aos discípulos a verdade que Jesus anunciou e guiá-los à verdade76.
É o Espírito que fará com que os discípulos se lembrem daquilo que Jesus lhes
dissera, isto é, distribuir-lhes a realidade divina: “mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”77; “
quanto a vós, a unção que recebestes dele permanece em vós, e não tendes necessidade de
que alguém vos ensine, mas como sua unção vos ensina tudo, e ela é verdadeira e não
mentirosa, assim como ela vos ensinou, permanecei nele”78. Logo, o Espírito Santo,
igualmente, o próprio Jesus, são chamados de “a verdade” 79, demonstrando que ele (o Espírito
Santo) é a realidade divina, agente da própria revelação, com a finalidade de capacitar os seres
humanos ao reconhecimento da verdade.
70
Cf Idem, 9,24.
71
Cf Idem, 17,17.
72
Cf Idem, 15,18-20.
73
Cf Idem, 16,12.
74
Cf Idem, 8,12.
75
Cf Idem, 3,1ss.
76
Cf Jo, 14,26.
77
Cf Idem, 14,26.
78
Cf 1 Jo 2,27.
79
Cf Jo 14,17 e 1 Jo 5,6.
11
A célebre frase de Jesus: “Eu sou a Verdade”80 traduz de certa forma, o conceito
de “verdade” que queremos explicitar neste estudo. Com Jesus, “a verdade” de Deus se
encarna81 e ela aparece plena e somente em Jesus: “ninguém vai ao Pai a não ser por mim” 82.
O homem Jesus é verdadeiramente para a humanidade “a verdade”, por que Ele manifestou à
humanidade, através da encarnação o mistério de sua filiação divina, da qual somos chamados
a participar também83.
Por conseguinte, uma das tarefas das comunidades cristãs é atualizar a “verdade”
trazida pelo Jesus histórico aos nossos tempos e, para isso, elas contam com a força do
Espírito, que é também “verdade”88. O Espírito “vos guiará em toda a verdade”89 e é ele que
conduzirá estas comunidades cristãs para a “Verdade” plena 90 visando à compreensão de tudo
o que Jesus disse e fez 91.
verdade que está em nós não envelheça; e todo o nosso modo de ser é irrigado por esta
verdade”94.
A teologia joanina acerca da “verdade” pode ser resumida então na frase: o próprio
Deus é a “verdade”, a fonte e o alvo de toda a “verdade” e, por conseguinte, como afirma
Paulo: viver nele, por ele e para ele: “para nós, contudo existe um só Deus, o Pai, de quem
tudo procede e para quem nós somos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e
por quem nós somos”100; e outro tanto se aplica a Cristo: “porque nele foram criadas todas as
coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis” 101. A “verdade” joanina tem raízes em
Deus, seja ela cientifica, filosófica ou religiosa. Diz respeito ainda em crescer na “verdade” e
crescer em Deus e crescer em Deus é participar da liberdade de seu Ser 102, pois são removidos
os obstáculos ao crescimento e ao bem estar, para que Ele se torne tudo em todos103.
94
Cf Clemente de Alexandria, in: LATOURELLE, 1994, p. 1051.
95
Cf 1 Jo 2,20-22.
96
Cf Jo 17,17.
97
Cf Idem, 8,31.
98
Cf 1 Jo 2,4.
99
Cf Idem, 2,6.
100
Cf 1 Cor 8,6.
101
Cf Col 1,16.
102
Cf Jo 8,32.
103
Cf Idem, 12,24.
104
Cf Idem, 14,11.
105
Cf Idem, 14,6.
13
também se tornam uma partícula da “verdade”, desde que venham a ser remidos pelo Sangue
do Cordeiro106.
CAPÍTULO SEGUNDO
Uma leitura minuciosa do texto original grego do evangelho de João mostra que
este possui quatro locuções referentes à palavra “αλήθεια”, expressando todas elas uma
relação direta com o conceito de “verdade” estudado neste estudo bibliográfico. Estes termos
aparecem alternadamente no texto, mas pesquisando-os no Léxico Gramatical Grego,
notamos que há uma ligeira diferenciação de significadso das palavras que, na maioria dos
casos, a tradução à língua portuguesa das bíblias não consegue exprimir adequadamente.
106
Cf Idem, 3,33; 17,3 e Ap 3,7.
107
Cf Jo, 8,32.
14
Todavia, a primeira vista estes quatro termos têm um radical comum (αλήθ), mas
no Léxico Gramatical Grego eles denotam significados diferentes, embora todos estejam
relacionados diretamente com a compreensão da “verdade”.
108
Cf texto extraído do Léxico do Novo Testamento: grego / português, de: GINGRICH F. Wilbur. São Paulo:
Edições Vida Nova, 1993. (trad: Júlio Zalatiero), pp. 16-17.
15
1) a) 1,9 +Hn to. fw/j to. avlhqino,n( o] fwti,zei pa,nta a;nqrwpon( evrco,menon
começo quando de sua encarnação (...), mas antes mesmo de sua encarnação Jesus já
iluminava aos Homens”117.
2) a) 1,14 Kai. o` lo,goj sa.rx evge,neto kai. evskh,nwsen evn h`mi/n( kai.
evqeasa,meqa th.n do,xan auvtou/( do,xan w`j monogenou/j para. patro,j( plh,rhj
ca,ritoj kai. avlhqei,ajÅ
b) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem
junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade.118
c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. “junto com Χάρις estes
termos se baseiam nos conceitos do AT da graça e da verdade com base na lealdade e
fidelidade de Deus à sua aliança e ao seu povo”119.
3) a) 1,17 o[ti o` no,moj dia. Mwu?se,wj evdo,qh( h` ca,rij kai. h` avlh,qeia dia.
c) léxico: (mesmo sentido de 1,14). Sentido de que “em Cristo se encontra a plenitude de
Deus, e essa plenitude é estendida aos homens por meio dele; e tudo isso tem por motivo a
graça de Deus, que é um grande e constante vocábulo nas páginas do Novo Testamento,
fazendo contraste com o sistema legalista do Antigo Testamento”120.
evstinÅ
b) Quem acolhe o seu testemunho certifica que Deus é verdadeiro.
117
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 269.
118
Este versículo é o central do Prólogo do Evangelho de João (1,1-18), e representa três aspectos centrais da
história da salvação: 1) “a carne”, que sublinha o realismo da vinda do Filho de Deus na humanidade
(Encarnação), que João não cessa de pôr em evidência (Cf BJ, nota “m”, p 1986); 2) “ a glória”, que era a
manifestação da presença de Deus (Cf Ex 24,16ss), sendo seu fulgor temível, que nenhum ser vivo podia
contemplar (Cf Ex 33,20), que estava ainda velada pela nuvem, mas agora, pela encarnação de Jesus transparece
à humanidade; e 3) “graça e verdade”, que correspondem à ‘graça (ou amor) e fidelidade’, na definição que
Deus dá de si mesmo a Moisés (Cf Ex 34,6) e ainda, o sentido explorado pelos profetas: Oséias, Amós, Isaías e
Miquéias (Cf Mq 6,8). (Cf Bj, notas “o” e “p”, p. 1986).
119
Cf RIENECKER, 1985, p. 162. A verdade corresponde à revelação de Deus como luz (1 Jo 1,5), por meio
daquele que é luz. A graça e a verdade são os principais atributos de Iaweh no Antigo Testamento, posto que o
espírito messiânico reconhecia-o como Deus da redenção. Cristo, como redenção absoluta, era pura graça e,
como revelação absoluta, era pura verdade. (Cf CHAMPLIN, 1982, p. 274).
120
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 275.
17
c) léxico: sincero, honesto, autêntico. Este é um tema que o Evangelista João constantemente
acena, esforçando-se para certificar que Deus é verdadeiro. Isto transparece através dos
discípulos (2,22); as multidões (2,23); Nicodemos (3,2) e João Batista (3,22-30).
5) a) 4,18 pe,nte ga.r a;ndraj e;scej kai. nu/n o]n e;ceij ouvk e;stin sou avnh,r\
6) a) 4,23 avlla. e;rcetai w[ra kai. nu/n evstin( o[te oi` avlhqinoi. proskunhtai.
proskunh,sousin tw/| patri. evn pneu,mati kai. avlhqei,a|\ kai. ga.r o` path.r
toiou,touj zhtei/ tou.j proskunou/ntaj auvto,nÅ
b) Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura.
c) léxico: genuíno, real, autêntico e o segundo sentido é de fidedignidade. “Aqui está em foco
a espiritualidade substancial ou real, em contraste com a adoração formal, simbólica e
ritualística, como sucedia tanto com a religião judaica como a religião dos samaritanos”121.
7) a) 4,24 pneu/ma o` qeo,j( kai. tou.j proskunou/ntaj auvto.n evn pneu,mati kai.
8) a) 4,37 evn ga.r tou,tw| o` lo,goj evsti.n avlhqino.j o[ti a;lloj evsti.n o`
spei,rwn kai. a;lloj o` qeri,zwnÅ
b) Aqui, pois, [se verifica o provérbio:] ‘ um é o que semeia, outro o que ceifa´122
121
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 327.
122
Outra tradução: “Porque nisto é verdadeiro o ditado: um é o que semeia, e outro o que ceifa”. (CHAMPLIN,
1982, p. 332).
18
c) léxico: em conformidade com a verdade ou neste caso, com a escritura que diz...123
9) a) 4,42 th/| te gunaiki. e;legon o[ti ouvke,ti dia. th.n sh.n lalia.n
pisteu,omen( auvtoi. ga.r avkhko,amen kai. oi;damen o[ti ou-to,j evstin
avlhqw/j o` swth.r tou/ ko,smouÅ
b) e diziam à mulher: ‘já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o
ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo’.124
c) léxico: verdade = realmente. Função adverbial. Frase que está no contexto da conclusão da
afirmação que tem por intenção provar como Jesus demonstrou a sua missão messiânica, bem
como os pobres que haveriam de acompanhar essa missão, especialmente no aspecto de
conduzir homens à experiência da regeneração, pondo-os, dessa maneira, a caminho do
destino, que lhes convinha como Homens125.
10) a) 5,31 Ea.n evgw. marturw/ peri. evmautou/( h` marturi,a mou ouvk e;stin
avlhqh,j\
b) se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não será verdadeiro;
11) a) 5,32 a;lloj evsti.n o` marturw/n peri. evmou/( kai. oi=da o[ti avlhqh,j
123
Provável alocução aos textos de Os 2,25 “eu a semearei para mim na terra, amarei a Lo-Ruhamah e direi a
Lo-Ammi: ‘Tu és meu povo’, e ele dirá: ‘Meu Deus’”; e Am 9,13 “eis que virão dias – oráculo do Senhor – em
que aquele que semeia está próximo daquele que colhe, aquele que pisa as uvas, daquele que planta; as
montanhas destilarão mosto e todas as colinas derreter-se-ão”.
124
Cf também em 1 Jo 4,14, onde diz: “e nós contemplamos e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como
Salvador do mundo”.
125
Cf CHAMPLIN, 1882, p. 333.
126
Afirmação diz respeito que se encontram diversas citações dos escritos rabínicos revelando que o testemunho
de um homem a seu próprio favor não era admissível. Um tribunal humano requer pelo menos duas testemunhas,
conforme vemos em Nm 35,30 e Jo 8,16.17.
127
Cf a nota “v” onde diz: “o Pai”, se relaciona ao termo: um outro. (cf Bj, p. 1998).
19
13) a) 6,14 Oi` ou=n a;nqrwpoi ivdo,ntej o] evpoi,hsen shmei/on e;legon o[ti ou-
14) a) 6,32 ei=pen ou=n auvtoi/j o` VIhsou/j\ avmh.n avmh.n le,gw u`mi/n( ouv
Mwu?sh/j de,dwken u`mi/n to.n a;rton evk tou/ ouvranou/( avllV o` path,r mou
di,dwsin u`mi/n to.n a;rton evk tou/ ouvranou/ to.n avlhqino,n\
b) Respondeu-lhes Jesus: ‘em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés que vos deu o
pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu;’.
c) léxico: em conformidade com a verdade. O verdadeiro pão do céu é Cristo, como também é
a verdadeira luz (1,9) e a verdadeira videira (15,1).
15) a) 6,55 h` ga.r sa,rx mou avlhqh,j evstin brw/sij( kai. to. ai-ma, mou avlhqh,j
evstin po,sijÅ
b) Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue é verdadeiramente
uma bebida.
128
Cf A confirmação desta passagem encontra-se no texto paralelo de Jo 1,19-28.
129
Cf Segundo CHAMPLIN, 1982, que diz; “superficialmente, o adjetivo αληθής parece ser impróprio, pelo que
vários testemunhos substituem-no pelo advérbio αληθως. No todo, a evidência externa em apoio a αληθής goza
de peso preponderante” (p, 369).
20
16) a) 7,18 o` avfV e`autou/ lalw/n th.n do,xan th.n ivdi,an zhtei/\ o` de. zhtw/n
th.n do,xan tou/ pe,myantoj auvto.n ou-toj avlhqh,j evstin kai. avdiki,a evn
auvtw/| ouvk e;stinÅ
b) Quem fala por si mesmo procura a sua própria glória. Mas aquele que procura a glória de
quem o enviou é verdadeiro e nele não há injustiça.
17) a) 7,26 kai. i;de parrhsi,a| lalei/ kai. ouvde.n auvtw/| le,gousinÅ mh,pote
18) a) 7,40 VEk tou/ o;clou ou=n avkou,santej tw/n lo,gwn tou,twn e;legon\ ou-
19) a) 8,13 ei=pon ou=n auvtw/| oi` Farisai/oi\ su. peri. seautou/ marturei/j\ h`
20) a) 8,14 avpekri,qh VIhsou/j kai. ei=pen auvtoi/j\ ka'n evgw. marturw/ peri.
evmautou/( avlhqh,j evstin h` marturi,a mou( o[ti oi=da po,qen h=lqon kai. pou/
u`pa,gw\ u`mei/j de. ouvk oi;date po,qen e;rcomai h' pou/ u`pa,gwÅ
21
21) a) 8,16 kai. eva.n kri,nw de. evgw,( h` kri,sij h` evmh. avlhqinh, evstin( o[ti
22) a) 8,17 kai. evn tw/| no,mw| de. tw/| u`mete,rw| ge,graptai o[ti du,o
avnqrw,pwn h` marturi,a avlhqh,j evstinÅ
b) e está escrito na vossa Lei que o testemunho de duas pessoas [é válido]131.
23) a) 8,26 polla. e;cw peri. u`mw/n lalei/n kai. kri,nein( avllV o` pe,myaj me
avlhqh,j evstin( kavgw. a] h;kousa parV auvtou/ tau/ta lalw/ eivj to.n ko,smonÅ
b) Tenho muito que falar e julgar sobre vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro e digo
ao mundo tudo o que dele ouvi.
c) léxico: (o mesmo sentido que 8,17). “Digno de confiança, autêntico, jamais mostrando
falso. O Pai aparece aqui como padrão da verdade, como aquela veracidade da qual toda e
qualquer outra verdade depende, porquanto em Deus se encontra a verdade completa”132.
130
Na cultura judaica, era necessário o testemunho de duas pessoas para este ter validade (Cf Dt 17,6). Com
Jesus isto muda, pois “o Filho, por si mesmo, é sua verdadeira testemunha, porque só ele conhece o mistério
divino de seu ser (Cf Mt 11,27)”. (Cf Bj nota “a”, p. 2006). Ou segundo CHAMPLIN, 1982: “o auto-testemunho
de Jesus era válido porque Ele não buscava os seus próprios interesses ou o seu engrandecimento pessoal, mas
o seu testemunho era totalmente destituído da presença do eu, embora fosse proferido pessoalmente, porquanto
vinha da parte do Pai, exposto em união com o Pai e, não independentemente dele”. (p. 402).
131
Cf Dt 17,6; 19,15.
132
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 407.
22
26) a) 8,40 u/n de. zhtei/te, me avpoktei/nai a;nqrwpon o]j th.n avlh,qeian u`mi/n
lela,lhka h]n h;kousa para. tou/ qeou/\ tou/to VAbraa.m ouvk evpoi,hsenÅ
b) Vós, porém, procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isso
Abraão não fez!
27) a) 8,44 u`mei/j evk tou/ patro.j tou/ diabo,lou evste. kai. ta.j evpiqumi,aj tou/
b) Vós sois do diabo, vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na
verdade, porque nela não há verdade; quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é
mentiroso e pai da mentira134.
28) a) 8,45 evgw. de. o[ti th.n avlh,qeian le,gw( ouv pisteu,ete, moiÅ
b) Mas, porque digo a verdade, não credes em mim.
29) a) 8,46 ti,j evx u`mw/n evle,gcei me peri. a`marti,ajÈ eiv avlh,qeian
le,gw( dia. ti, u`mei/j ouv pisteu,ete, moiÈ
b) Quem dentre vós, me acusa de pecado?135 Se digo a verdade, por que não credes em mim?
30) a) 14,6 le,gei auvtw/| Îo`Ð VIhsou/j\ evgw, eivmi h` o`do.j kai. h` avlh,qeia
kai. h` zwh,\ ouvdei.j e;rcetai pro.j to.n pate,ra eiv mh. diV evmou/Å
b) Diz-lhe Jesus; ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida 136. Ninguém vem ao Pai a não ser
por mim’.
c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. Champlin afirma acerca
deste versículo: “provavelmente essa é a melhor conhecida e a mais repetida das declarações
do Senhor Jesus nas quais ele diz: Eu sou” (p. 523). Em relação à expressão “..... e a
Verdade”, o mesmo autor destaca alguns pontos: 1) Jesus é a verdade de Deus, porque ele é a
perfeita revelação de Deus e de sua vontade; 2) Jesus é a revelação de Deus aos seres
humanos, no que concerne à salvação deles; 3) Jesus é a verdade do caminho pelo qual os
134
Cf a nota “o”, onde se diz que: “a mentira, contrário da palavra (1,10) e da verdade (8,31), está ligada ao
nada e ao mal. Os judeus que negam a verdade de Jesus estão sujeitos ao chefe de todos os inimigos dessa
verdade” (BJ, p. 2009). CHAMPLIN, 1982, comenta: “essa é a mais importante declaração do Senhor Jesus
acerca da natureza e da pessoa do diabo”, extraindo ainda 5 fatos importantes ensinados por este versículo: 1) o
satanás é uma personalidade real; 2) ele foi o agente da queda humana; 3) a liberdade da vontade tornou isso
possível; 4) satanás continua exercendo poder sobre os que caíram e 5) satanás é o pai espiritual daqueles que
ainda não se encontraram com o Filho de Deus. (p. 415).
135
Cf nota “p”: “quer dizer, de infidelidade a Deus na missão dele recebida” (Bj, p. 2009).
136
Cf a nota “s” “Jesus é o Caminho, enquanto revela o Pai (12,45; 14,9); Ele nos faz conhecer o caminho (At
9,20) para o Pai; é Ele o único acesso ao Pai (1,18; 14,4-7); Ele vem do Pai e volta ao Pai e, no entanto, é um
com ele. Ele é a Verdade (8,32), a Vida (3,15)”. (BJ, p. 2023).
24
seres humanos devem retornar a Deus e 4) Jesus é a verdade, em oposição à religião falsa (cf
idem).
31) a) 14,17 to. pneu/ma th/j avlhqei,aj( o] o` ko,smoj ouv du,natai labei/n( o[ti
ouv qewrei/ auvto. ouvde. ginw,skei\ u`mei/j ginw,skete auvto,( o[ti parV u`mi/n
me,nei kai. evn u`mi/n e;staiÅ
b) O Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem conhece. Vós
o conheceis, porque permanece convosco137
32) a) 16,7 avllV evgw. th.n avlh,qeian le,gw u`mi/n( sumfe,rei u`mi/n i[na
evgw. avpe,lqwÅ eva.n ga.r mh. avpe,lqw( o` para,klhtoj ouvk evleu,setai pro.j
u`ma/j\ eva.n de. poreuqw/( pe,myw auvto.n pro.j u`ma/jÅ
b) No entanto, eu vos digo a verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o
Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós.
33) a) 16,13 o[tan de. e;lqh| evkei/noj( to. pneu/ma th/j avlhqei,aj( o`dhgh,sei
u`ma/j evn th/| avlhqei,a| pa,sh|\ ouv ga.r lalh,sei avfV e`autou/( avllV o[sa
avkou,sei lalh,sei kai. ta. evrco,mena avnaggelei/ u`mi/nÅ
b) Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de
si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras.
34) a) 17,3 au[th de, evstin h` aivw,nioj zwh. i[na ginw,skwsin se. to.n mo,non
137
O Espírito Santo é chamado de Espírito da Verdade por causa: 1) que Ele vem de Deus e representa a verdade
de Deus; 2) Ele é a revelação especial e a iluminação da verdade do Logos Eterno; 3) Ele é o revelador da
verdade de Jesus em sua encarnação; 4) Ele torna a verdade divina subjetiva para os seres humanos e 5) em sua
própria pessoa Ele é a verdade (Cf CHAMPLIN, 1982, p. 529).
25
b) ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e aquele que
enviaste, Jesus Cristo.
35) a) 17,8 o[ti ta. r`h,mata a] e;dwka,j moi de,dwka auvtoi/j( kai. auvtoi. e;labon
kai. e;gnwsan avlhqw/j o[ti para. sou/ evxh/lqon( kai. evpi,steusan o[ti su, me
avpe,steilajÅ
b) porque as palavras que me deste eu as dei a eles, e eles as acolheram e reconheceram
verdadeiramente que saí de junto de ti e creram que me enviaste138.
36) a) 17,17 a`gi,ason auvtou.j evn th/| avlhqei,a|\ o` lo,goj o` so.j avlh,qeia,
evstinÅ
b) Santifica-os139 na verdade; a tua palavra é verdade.
c) léxico: ambos os termos têm conotação de verdade como característica da ação divina ou
humana. Champlin acena para alguns aspectos dessa verdade: 1) é a verdade de Deus, que se
acha em Cristo; 2) é a verdade que milita contra a incredulidade dos judeus e é a verdade que
milita contra toda a incredulidade humana (Jo 3,17)140
37) a) 17,19 kai. u`pe.r auvtw/n evgw. a`gia,zw evmauto,n( i[na w=sin kai.
auvtoi. h`giasme,noi evn avlhqei,a|Å
b) E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade.
138
Subentende-se aqui: 1) a preexistência de Cristo (Jo 1,1); 2) sua missão messiânica e divina; 3) sua união com
o Pai; 4) sua autoridade recebida da parte do Pai e 5) Jesus é representante das regiões celestiais (Cf
CHAMPLIN, 1982, p. 576).
139
Cf Bj, “o sentido literal do verbo é separar para Deus, votar (no sentido primário desse termo), consagrar a
Deus”. (Cf nota “a”, p. 2032).
140
Cf p. 581.
26
38) a) 18,37 ei=pen ou=n auvtw/| o` Pila/toj\ ouvkou/n basileu.j ei= su,È
avpekri,qh o` VIhsou/j\ su. le,geij o[ti basileu,j eivmiÅ evgw. eivj tou/to
gege,nnhmai kai. eivj tou/to evlh,luqa eivj to.n ko,smon( i[na marturh,sw th/|
avlhqei,a|\ pa/j o` w'n evk th/j avlhqei,aj avkou,ei mou th/j fwnh/jÅ
b) Pilatos lhe disse: ‘então, tu és rei?’ Respondeu Jesus: ‘tu o dizes: eu sou rei. Para isso
nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta
a minha voz’.
c) léxico: verdade como característica da ação divina ou humana. Neste contexto, Jesus se
apresenta como sendo: 1) a verdade de Deus (14,7-10); 2) a verdade do Salvador (3,15.16;
14,6) e 3) a verdade do destino humano (1,11.12; 3,15). É a tese: “a verdade se evidencia por
si mesma”.
39) a) 18,38 le,gei auvtw/| o` Pila/toj\ ti, evstin avlh,qeiaÈ Kai. tou/to eivpw.n
pa,lin evxh/lqen pro.j tou.j VIoudai,ouj kai. le,gei auvtoi/j\ evgw. ouvdemi,an
eu`ri,skw evn auvtw/| aivti,anÅ
b) Disse-lhe Pilatos: ‘que é a verdade?’ E tendo dito isso, saiu de novo e foi ao encontro dos
judeus e lhes disse: ‘nenhuma culpa encontro nele’.
marturi,a( kai. evkei/noj oi=den o[ti avlhqh/ le,gei( i[na kai. u`mei/j
pisteu,ÎsÐhteÅ
b) Aquele que viu141 dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a
verdade, para que também vós creais.
41) a) 21,24 Ou-to,j evstin o` maqhth.j o` marturw/n peri. tou,twn kai. o` gra,yaj
141
Cf Bj “o discípulo do v. 26, o próprio evangelista, certamente” (Cf nota “f”, p. 2037).
27
b) Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi quem as escreveu; e sabemos que
seu testemunho é verdadeiro142.
Ü 47 vezes é usado no evangelho de João o termo com a raiz αλήθεια, sendo que:
αλήθεια = verdade como característica da ação Ocorre em: 1,14; 1,17; 4,23 (2x);
divina/humana, ou como sendo a própria manifestação 4,24; 5,33; 8,32; 8,40; 8,44 (2x);
de Deus, aparece 21 vezes. Este termo predomina no 8,45; 8,46; 14,6; 14,17; 16,7; 16,13
Quarto Evangelho. (2x); 17,17 (2x); 17,19 e 18,37.
αληθής,= verdadeiro, confiável, sincero, honesto, Ocorre em: 3,33; 4,18; 5,31; 5,32;
autêntico aparece 13 vezes no evangelho de João. É o 6,55 (2x); 7,18; 8,13; 8,14; 8,17;
segundo termo mais usado. 8,26; 19,35 e 21,24.
αληθινός = verdadeiro, em conformidade com a Ocorre em: 1,19; 4,23; 4,37; 6,32;
verdade. Ou genuíno, real, aparece 7 vezes. 8,16; 17,3 e 19,35.
αληθως = verdadeiramente, realmente. Tem função Ocorre em: 4,42; 6,14; 7,26; 7,40;
adverbial. Aparece 6 vezes no Evangelho de João 8,32 e 17,8.
142
Este versículo se inclui na segunda conclusão do Evangelho de João, pois a primeira está em 19,30-31.
28
Ü o termo αλήθεια é usado na maioria dos casos, quando Jesus está falando ou
discursando no Quarto Evangelho, sobretudo, com os judeus;
Ü este termo é usado 7 vezes no conjunto da obra, dentro do contexto dos conflitos
diretos de Jesus com os judeus (p. ex: 5,33; 8,32; 8,40; 8,44 (2x); 8,45; 8,46)143;
CAPÍTULO TERCEIRO
grandes declarações joaninas”145 e Hernann afirma que esta fala colocada na boca de Jesus,
“já faz parte do melhor patrimônio da humanidade”146.
processo que conduziria o povo judeu à libertação do jugo do poder político romano. A festa
durava 7 dias e durante esse período, “todos habitavam em cabanas cobertas com ramos de
árvores, lembrando o tempo do êxodo, quando o povo de Deus peregrinou pelo deserto rumo
à terra prometida”152. Usavam também a água, lembrando a água que jorra do templo de
Jerusalém e vai inundando de vida tudo o que encontra 153. Por isso, Jesus afirma solenemente
no último dia da festa: “se alguém tem sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim!
conforme a palavra da Escritura: de seu seio jorrarão rios de água viva” 154. Jesus usa esta
expressão porque ainda estamos no contexto da procissão diária que se fazia nesta festa, até a
piscina de Siloé, de onde se trazia a água que se oferecia em libação no altar do templo – um
rito propiciador das chuvas do inverno155.
152
Cf BORTOLINI, 1994, p. 80.
153
Cf Ez 47,1-12.
154
Cf Jo 7,37-38.
155
Cf PEREIRA, 1996, p. 05.
156
Cf Idem, p. 05.
157
Cf Jo 8,12.
158
Cf KONINGS, 2000, p. 206.
159
Cf O capitulo de SANTOS, Bento Silva. Eu Sou. In: Teologia do Evangelho de São João. 1994, p. 61-79.
160
Cf Ex 3,13-15.
161
Cf Jo 8,24.
162
Cf Idem, 8,28.
31
163
Cf Idem, 8,58.
164
Cf Jo, 3,15-18.
165
Cf Idem, 8,36.
166
Cf Idem, 8,34.
167
Cf Jo 1,14b.
168
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 409.
169
Cf Jo 7,18.
32
pelo pecado170. Fazendo isso, nos tornamos moralmente livres, participando assim da
santidade de Deus, na perfeição: “portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é
perfeito”171 e nas virtudes positivas172. Ou seja, a partir da “verdade”-Cristo, nos tornamos
plenamente livres e ajudamos os outros a também fazerem este processo de libertação.
“EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA. NINGUÉM VEM AO PAI A NÃO SER
POR MIM”.
170
Cf Idem, 8,34.
171
Cf Mt 5,48.
172
Cf Gl 5,22-23.
173
Cf JAUBERT, 1985, p. 09.
174
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
33
Moisés, com o cântico e as bênçãos em Dt 32-33. Por isso, há quem chame Jo 13-17; ‘ o
Deuteronômio do Novo Testamento’”183.
No “Eu sou a Verdade”, faz-se menção àquele que se deve crer, sendo Jesus a
“Verdade” de Deus, porque Ele é a perfeita revelação de Deus e de sua “Verdade”. O
horizonte de libertação insere-se no contexto desta afirmação porque, Jesus é a revelação de
Deus aos seres humanos, no que representa essa “verdade”, e Ele, segundo os eternos
183
Cf KONINGS, 2000, p. 305.
184
Cf NICACCI, 1980, p. 167.
185
Cf Jo 5,25.
186
Cf KONINGS, 2000, p. 311.
35
conselhos divinos, esteve sempre unido ao Pai e o plano da redenção se originou dele 187.
Assim, através da Encarnação Jesus trouxe essa “verdade” da redenção (libertação) à
humanidade. Na sua Ascensão, Ressurreição e Glorificação, Jesus assegurou aos remidos a
mais plena participação em toda a sua glória e na sua natureza divina. Jesus é ainda a
“Verdade do Caminho” pelo qual os seres humanos devem retornar a Deus, porquanto Ele é o
exemplo supremo e o ilustrador desse caminho: “ninguém vem ao Pai a não ser por mim”188.
Essa é a “Verdade” envolvida em sua encarnação e tudo “quanto os seres humanos precisam
saber está contido em sua pessoa, pois Jesus é a Verdade ética do ser humano”189.
Com sua encarnação, Jesus nos ensinou um caminho de libertação, pelo qual a
humanidade deve compartilhar dessa sua vida, porque Ele demonstrou aos seres humanos
como a recebeu. Na Ressurreição, trouxe uma “nova” forma de vida, por ter saído da
sepultura como o primeiro ser humano realmente imortal. Na sua Ascensão e Glorificação,
Cristo veio participar mais intensamente da vida de Deus, tornando-se assim, as primícias de
187
Cf Jo 1,1.
188
Cf Idem, 14,6b.
189
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 523.
190
Cf por exemplo: Jo 9,40-41, dentre outros.
191
Cf Jo 8,58.
192
Cf BORTOLINI, 1994, p. 137.
193
Cf Fl 2,6-11.
36
muitos outros seres humanos, igualmente imortais. Por isso, Cristo está conduzindo muitos
filhos(as) à Glória, os quais participam dessa mesma vida.
Enfim, Jesus é a Vida, tanto a vida futura, como o princípio e a fonte originária de
toda a vida “porque, caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a
vida em nós!”194.
“EU PARA ISSO NASCI, E PARA ISSO VIM AO MUNDO, A FIM DE DAR TESTEMUNHO
DA VERDADE. TODO AQUELE QUE É DA VERDADE OUVE A MINHA VOZ”.
194
Cf Palavra na Vida, Nº 147/148, 2000, p. 108.
195
Cf KONINGS, 2000, p, 19.
196
Cf BORTOLINI, 1994, p, 13.
197
Cf JAUBERT, 1985, p. 40.
198
Cf CHAMPLIN, 1982, p. 261.
37
199
Cf Jo 18,36-37.
200
Cf Idem, 18,12-23.
201
Cf Idem, 18,24-27.
202
Cf Idem, 18,28.
203
Cf Idem, 18,29-30.
204
Cf Jo, 18,33.
205
Cf KONINGS, 2000, p, 376.
206
Mencionar alguns líderes carismáticos surgidos naquela época.
207
Cf Jo 18,37.
208
Cf Idem, 18,36.
209
Cf KONINGS, 2000, p, 377.
210
Cf Jo 3,15.
38
este é corretamente compreendido, encontra-se o por quê da existência do ser humano: “veio
para o que era seu e os seus não o receberam”211.
Todavia, para alcançar-se uma libertação integral, entendida como aquela que
permeia todas as dimensões do ser humano, faz-se necessário aderir-se ao Reino de Jesus, que
é “verdade”, pois tudo o que Ele fez é Palavra de Deus, e esta palavra e atitudes de Jesus,
libertam as pessoas da escravidão, seja nos âmbitos: político, cultural, antropológico e
religioso. Jesus é rei, mas sua realeza é diferente, pois, ela não pertence a esta ordem social,
muitas vezes, injusta! Sua realeza é serviço para a vida integral dos seres humanos até as
últimas conseqüências. A libertação, portanto é a própria pessoa de Jesus Cristo –
personificada pelo Reino de Deus “agindo em defesa e promoção da vida do povo (...)”,
sendo “doação da vida para que o povo possa viver. E por isso, que a realeza de Jesus tem
seu ponto alto na cruz”213.
211
Cf Idem, 1,11.
212
Cf Idem, 1,14.
213
Cf BORTOLINI, 1994, p. 170.
39
esta passagem já revela uma transição do ambiente rural ao urbano, presentes na vida
cotidiana dos destinatários do evangelho de João214.
Embora o vinho seja um dos principais símbolos joaninos217, e que também se fez
presente na caminhada do Povo de Israel, simbolizando a amizade (Sir. 9,10); o amor humano
(Ct 1,3; 4,10) e em geral, toda a alegria que se desfruta na terra com sua ambigüidade (Ecl 10,
19; Zc 10,7; Jt 12,13; Jo 1,18...), no evangelho de João ele é um “sinal” da revelação
escatológica de Jesus, sendo que deste relato “deduz-se que Jesus é o criador ou realizador
da nova economia salvífica, simbolizada pelo vinho “bom” em substituição da água para a
purificação dos judeus. O sinal de Caná é um ato salvífico-divino de Jesus, mediante o qual a
antiga religião é substituída pela nova, centrada na pessoa do Verbo feito carne, lugar do
culto em “espírito e verdade” (4,23)”218.
No diálogo de Jesus com Nicodemos (3,1-21), este “que era um dos notáveis entre
os judeus”219, e que vai procura-lo “a noite”, Jesus se apresenta como proposta de libertação,
na dimensão de um novo nascimento, de uma conversão, provocando uma mudança radical na
vida deste notável fariseu. A proposta de Jesus para Nicodemos seria de libertação, saindo do
status de fariseu e chefe dos judeus, e ingressando na comunidade cristã dos simples e
humildes, ou dos seguidores de Jesus. O processo libertador descrito neste discurso joanino,
214
Procurar esta descrição de autores: pastor como imagem da cidade.
215
Cf Jo 2,1-11.
216
Cf BECKER, 1999, p. 297.
217
Cf O capítulo XIV do livro: Teologia do Evangelho de São João, onde o autor faz uma descrição interessante
sobre o simbolismo presente no evangelho de João, dentre eles, o vinho. SANTOS, Silva Bento. Santuário, São
Paulo, 1994, p. 371-373.
218
Cf SANTOS, 1994, p. 373.
219
Cf Jo 3,1.
40
supõe que Nicodemos, possa alcançar este objetivo, a partir de dois passos: o interior; que se
traduz na mudança de vida pessoal e comunitária, e o exterior; que supõe ruptura com um
sistema excludente religioso-político dos Fariseus. Contudo, Nicodemos representa no
evangelho de João o grupo dos seguidores e seguidoras de Jesus que não conseguiu se
desvencilhar completamente da religião oficial: “contudo, muitos chefes creram nele, mas
por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga”220.
Nascer de novo da água e do Espírito (Jo 3,5), implica numa constante caminhada
de conversão, de mudança nas práticas pessoais, eclesiais e sociais. Diz respeito ainda na
freqüente renovação do compromisso assumido; na busca de uma atualização dos nossos
conhecimentos e das práticas cotidianas, iluminadas e confrontadas com a proposta de Jesus
Cristo. E para nós cristãos e cristãs da América Latina, pode significar “estar registrado como
cristão ao novo nascimento (...), na medida em que acontece “a radical transformação
interna e externa, inclusive cultural e sociológica”221.
220
Cf Jo 12,42. Ler também as citações de Jo 7,48.50-52 e 19,39. São textos que mostram a caminhada de fé de
Nicodemos. Contudo, todas mostram que ele não conseguiu romper com o judaísmo oficial. A expressão em Jo
3,2 “a noite ele veio encontrar Jesus (...)” revela esta dificuldade de Nicodemos.
221
Cf KONINGS, 2000, p. 133.
222
Cf Jo 4,46-54.
223
Cf Idem, 4,52.
224
Cf Jo 4,53.
225
Cf Jo 20,29.
41
evangelho: a conversa com a Samaritana (Jo 4, 1-42); com a adúltera 226 (Jo 8,2-11); com
Marta e Maria (Jo 11, 1-44); com Maria, na unção em Betânia (Jo 12, 1-8); na hora de sua
morte (Jo 19, 25-27) e com Maria Madalena (Jo 20, 11-18). O grande ato libertador de Jesus
para com elas consiste na não exclusão das mulheres do processo familiar, social e religioso,
pois, “no sistema religioso e político do judaísmo rabínico, as mulheres ocupavam, mais do
que na época patriarcal ou mesmo no Israel clássico, um lugar secundário. Mas, no
Evangelho de João, ao contrário, o papel desempenhado pelas mulheres é notável” 227. Esta
exclusão da mulher do contexto social, religioso e político da Palestina, no tempo de Jesus,
acontecia devido que neste país, a estrutura social era patriarcal, onde a família se
denominava a “casa do pai”, porque este governava como senhor absoluto, sendo dono dos
bens e da família. Em síntese, no tempo de Jesus, a mulher era “em tudo inferior ao
Homem”228. E com as crianças, não eram nem contadas229.
Todavia, a prática libertadora de Jesus não condizia com este sistema excludente e
machista, ao contrário, para Ele, a mulher tinha a mesma dignidade, categoria e direitos que o
homem230. Jesus rejeitava abertamente as leis e costumes discriminatórios, que
menosprezavam a dignidade e os direitos igualitários das mulheres em relação aos homens 231.
Não tinha medo de ficar sozinho com uma mulher (Jo 4,27); tinha amigas (Jo 11,5.33; 12,1-8)
e também discípulas (Jo 19,25-26; 20,16). Enfim, para o reinado de Deus, anunciado por
Jesus, todos são convidados: as mulheres e os homens, as prostitutas e os piedosos fariseus.
Nisso consiste a prática integradora e libertadora de Jesus.
Finalmente, Jesus instaura ainda uma prática libertadora para sociedade capitalista
e egoísta daquela época, quando realiza a partilha dos pães em Jo 6, 1-15, onde no final “eles
recolheram e encheram 12 cestos com os pedaços dos 5 pães de cevada deixados de sobra
pelos que se alimentaram”232. Jesus também liberta seus discípulos do medo “SOU EU, não
226
Cf. Muitos estudiosos da bíblia são unânimes em afirmar que a perícope de Jo 7,53 – 8,11 não faz parte da
literatura joanina, mas que poderia ser atribuída a Lucas (cf Lc 21,38). Contudo, “sua canonicidade, seu caráter
e seu valor histórico, no entanto, não sofrem contestação”. Veja na Bíblia de Jerusalém, nota “v”, pg. 2005.
Outra confirmação da interpolação desta perícope dá-se olhando às partes anterior e posteriores da mesma. Ali se
percebe que o assunto tratado em Jo 7, 40-52, continua em Jo 8,12ss. Ou seja, o encontro de Jesus com a mulher
adúltera aparece unicamente nesta perícope do evangelho de João.
227
Cf KONINGS, 2000, p. 43.
228
Cf MORACHO, 1994, p. 23.
229
Cf Mt 14,21, onde se diz: “ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e
crianças”. Confira ainda Mc 6,44.
230
Cf Jo 4,7-9.
231
Cf Idem, 8,1-11; 11,1-44.
232
Cf Idem, 6,13.
42
No aspecto religioso:
233
Cf Idem, 6,20.
234
Cf Idem, 8,11.
235
Cf Idem, 10,7.
236
Cf Jo 10,30.
237
Cf em Jo 10, 33. Veja também outros conflitos em Jo 1,1; 2,11; 8,16.29; 10,38; 14,9-10; 17,11.21.
238
Cf Idem, 14,6.
239
Cf Idem, 14,9-11.
240
Cf Jo, 8,32.
241
Cf PEREIRA, 1996, p. 07.
242
Cf Idem.
43
A libertação religiosa tem também uma relação profunda com Deus, a partir do
conhecimento: “e esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro e a Jesus
Cristo que enviaste”245. Conhecer no mundo semita não é um saber especulativo, ou uma
adequação da idéia à realidade, como é na cultura helênica. Mas é a experiência concreta e
completa do amor. Logo, conhecer Jesus – que é a “verdade-Deus”, corresponde em aceitá-lo
com fé e amor, dando testemunho Dele na comunidade cristã. Assim, o processo de libertação
acontece quando nos tornamos filhos de Deus no Filho 246, pois os que crêem Nele são também
“consagrados na verdade”247.
243
Cf Jo 8,34.
244
Cf Idem, 1,29.
245
Cf Idem, 17,3.
246
Cf Idem, 17,19.
247
Cf Idem, 17,19.
248
Cf Idem, 8,120b.
249
Cf Idem, 7,38c.
250
Cf Idem, 11,25.
251
Cf Jo 4,9; a nota “x’ da Bíblia de Jerusalém: “os judeus odiavam os samaritanos (..) e explicavam a sua
origem (2 Rs 17,24-41).
252
Cf Idem, 2,10.
253
Cf Idem, 2,21.
44
No aspecto cultural:
254
Cf LATOURELLE, 1994, p. 1050-1051.
255
Cf Idem.
256
Cf LOHSE, 2000, p. 127.
257
Cf A “hora” de Jesus é a hora de sua glorificação (da morte). O evangelista João tem uma preocupação em
destacar a “hora” de Jesus. Veja em Jo 7,30; 8,20; 12,23.27; 13,1 e 17,1.
258
Cf Talvez o leitor esteja lembrado que trabalhamos a relação de Jesus com as mulheres na parte dos aspectos
econômicos e sociais. A leitura aqui proposta será de matriz cultural.
45
259
Cf MORACHO, 1994, p. 23.
260
Cf KONINGS, 2000, p. 44.
46
A verdade e os ímpios:
palavra de Iahweh, filhos de Israel, pois Iahweh vai abrir um processo contra os habitantes
da terra, porque não há fidelidade, nem amor, nem conhecimento de Deus na terra” 275;
porque eles não dizem a “verdade” e nem a sustentam: “o direito foi expelido, mantém-se a
justiça a distância, porque a verdade estrebuchou na praça e a retidão não pode apresentar-
se”276; mas ao contrário, pleiteiam contra a “verdade”: “não há quem acuse com justiça, não
há quem mova uma causa com lealdade. Todos põem a sua confiança em coisas vãs e
pronunciam falsidade, concebem trabalheira e dão à luz iniqüidade” 277 e não soam corajosos
na defesa da verdade: “cada um zomba de seu próximo, eles não dizem a verdade,
habituaram suas línguas à mentira, eles se cansam de agir mal” 278, e por isso, serão punidos
por não terem a verdade nas suas vidas, muito menos, na conduta pessoal e comunitária,
dizimando e espalhando a mentira na sociedade, a ponto, de ocasionar divisão entre as
pessoas e os grupos sociais e religiosos: “e Iahweh disse: porque eles abandonaram a minha
Lei, que eu lhes dera, e não escutaram a minha voz e não a seguiram; mas seguiram a
obstinação de seu coração, assim, disse Iahweh dos Exércitos, o Deus de Israel. Eis que vou
fazer esse povo comer absinto e lhes darei a beber água envenenada”279.
A verdade e o Evangelho:
Neste sentido, o evangelho, como a verdade, diz respeito em primeiro lugar, que a
verdade veio por meio de Cristo: “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” 280; que
Cristo dá testemunho da verdade: “para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar
testemunho da verdade”281, porque ele é a verdade: “eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida”282.
Contudo, esta verdade passa também a ser anunciada pelas pessoas, por exemplo:
por João Batista que deu testemunho da verdade: “um outro é que dá testemunho de mim e sei
275
Cf Os 4,1.
276
Cf Is 59,14.
277
Cf Idem, 59,4.
278
Cf Jr 9,4.
279
Cf Idem, 9,12-14.
280
Cf Jo 1,17.
281
Cf Idem, 1837.
282
Cf Idem, 14,6.
48
que é verdadeiro o testemunho que presta de mim” 283; por Paulo, quando afirma que a
verdade se acha em Cristo: “digo a verdade em Cristo, não minto e disto me dá testemunho a
minha consciência no Espírito Santo”284; ou ainda em Tito 1,1: “Paulo, servo de Deus,
apóstolo de Jesus Cristo para levar os eleitos de Deus a fé e ao conhecimento da verdade
conforme a piedade”, e pelos próprios santos, quando a verdade permanece com eles: “por
causa da verdade que permanece em nós e estará conosco para sempre”285.
Mas o evangelho como a verdade produz também nos crentes alguns efeitos: a
santificação: “santifica-os na verdade”286; a purificação: pela obediência à verdade
purificastes as vossas almas para praticardes um amor fraternal sem hipocrisia. Amai-vos
uns aos outros ardorosamente e com coração puro” 287 e como armadura cristã: “portanto,
ponde-vos de pé e cinge os vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça”288.
Também, neste contexto, a verdade deveria sempre ser reconhecida por todos,
sobretudo, pelos crentes: “é com suavidade que deves educar os opositores, na expectativa de
que Deus lhes dará não só a conversão para o conhecimento da verdade” 289; deveria ser
crida: “quando Deus os criou para serem recebidos, com ação de graças, pelos que têm fé e
conhecem a verdade”290; também obedecida: “a ira e a indignação para os egoístas, rebeldes
à verdade e submissos à injustiça” 291; e, sobretudo, ser amada: “e por todas as seduções da
injustiça, para aqueles que se perdem, porque não acolheram o amor de verdade, a fim de
serem sábios”292.
283
Cf Idem, 5,32.
284
Cf Rm 9,1.
285
Cf 2 Jo 2.
286
Cf Jo 17,17.
287
Cf 1 Pd 1,22.
288
Cf Ef 6,14.
289
Cf 1 Tm 2,25.
290
Cf 1 Tm 4,3.
291
Cf Rm 2,8.
292
Cf 2 Ts 2,10.
293
Cf 2 Tm 2,4.
294
Cf Idem, 3,8.
295
Cf 1 Tm 6,5.
49
evangelho-verdade também ocasiona mudança de vida, no sentido de que estes são exibidores
da retidão divina: “quem revela a verdade proclama a justiça, a falsa testemunha diz
mentiras”296; são firmados na fé e coerentes na prática: “o lábio sincero está firme para
sempre”297 e deleitáveis para Deus: “o seu favor é para os que praticam a verdade”298.
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296
Cf Pr 12,17.
297
Cf Idem, 12,19.
298
Cf Idem, 12,22.
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