Você está na página 1de 5

Material Teórico - Módulo Teorema de Pitágoras e Aplicações

Aplicações do Teorema de Pitágoras

EP
Nono Ano

BM
Autor: Prof. Ulisses Lima Parente
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

26 de maio de 2019
O
l da
rta
Po
1 Algumas aplicações simples Exemplo 2. Na figura abaixo, temos um triângulo
retângulo ABC, inscrito em um semicı́rculo, e dois ou-
Nessta aula, apresentaremos mais algumas aplicações do tros semicı́rculos cujos diâmetros são os catetos de ABC.
Teorema de Pitágoras. Encontre a soma das medidas das áreas das duas regiões
Exemplo 1. Calcule a área do trapézio retângulo dese- coloridas (essas regiões são conhecidas como lúnulas de
nhado na figura a seguir. Hipócrates1 ).

EP
D 18 C A

h 8 6

C B
A 50 B

BM
Solução. Vamos denotar por x a medida da diagonal AC.
Solução. Denotemos (acompanhe na figura a seguir) por
Agora, veja que
x e y as medidas das áreas coloridas e por z e w as dife-
b = 90◦ − C AB
DAC b = C BA,
b renças entre essas áreas e as áreas dos semicı́rculos cujos
diâmetros são os catetos de ABC.
logo, os triângulos DAC e CBA são semelhantes (pelo caso
AA).
O A
D 18 C
y
x
w z
8 6
h x

C 10 B
da
A 50 B
Uma vez que os raios de tais semicı́rculos são 3 e 4, temos
Desse modo, obtemos
1 9π
x 18 x+z = π · 32 =
= =⇒ x2 = 18 · 50 = 900. 2 2
50 x
√ e
1 16π
l

(Neste ponto, poderı́amos calcular x = 900 = 30, mas, y+w = π · 42 = .


como queremos obter a área do trapézio, procederemos de 2 2
rta

outra forma.) Somando essas duas equações, chegamos a


Por outro lado, utilizando o Teorema de Pitágoras no
9π 16π 25π
triângulo ACD, obtemos x+y+z+w = + = . (1)
2 2 2
2 2 2 2 2 2
h + 18 = x =⇒ h = x − 18
Agora, observe que z + w é a diferença entre as áreas
=⇒ h2 = 900 − 182 do semicı́rculo de diâmetro BC e do triângulo retângulo
Po

=⇒ h2 = 302 − 182 ABC. Por um lado, temos


=⇒ h2 = (30 + 18)(30 − 18) = 48 · 12 6·8
2 2 2 [ABC] = = 24.
=⇒ h = 4 · 12 · 12 = 2 · 12 2
=⇒ h = 2 · 12 = 24. Por outro, a fim de calcular a área do semicı́rculo, veja que
Então, o Teorema de Pitágoras fornece
2
(18 + 50)h 68 · 24 BC = 62 + 82 = 100,
[ABCD] = = = 816.
2 2 1 Em homenagem a Hipócrates de Chios, matemático, geômetra e

astrônomo grego que viveu aproximadamente de 470 a 410 a.C.

http://matematica.obmep.org.br/ 1 matematica@obmep.org.br
de sorte que BC = 10. Assim, obtemos
A
1 25π
z+w = π · 52 − 24 = − 24. y
2 2
x
w z
Por fim, substituindo o valor de z +w em (1), concluı́mos 8 6
que
25π 25π

EP
x+y+ − 24 = =⇒ x + y = 24. C 10
2 2 B

Um outro modo de mostrar que a soma das áreas das Observação 3. Em geral, a construção das lúnulas de
lúnulas é igual à área do triângulo ABC é a seguinte: se Hipócrates pode ser feita em todo triângulo retângulo. As-
F1 , F2 e F3 são as áreas de figuras semelhantes construı́das sim fazendo, e adaptando os argumentos de uma qual-
sobre os catetos e a hipotenusa de ABC, respectivamente, quer das soluções que apresentamos, pode ser mostrado

BM
então que a soma das áreas das lúnulas é sempre igual à área
F1 + F2 = F3 . (2) do triângulo ABC.
(Observe que esse fato generaliza o teorema de Pitágoras, Agora vamos reobter a Lei dos Cossenos como aplicação
quando damos a ele a seguinte interpretação: a área do do Teorema de Pitágoras.
quadrado construı́do sobre a hipotenusa de um triângulo Proposição 4 (Lei dos Cossenos). Seja ABC um triângulo
retângulo é igual à soma das áreas dos quadrados cons- com AB = c, AC = b, BC = a e B AC b = α. Então, vale
truı́dos sobre os dois catetos – aliás, era exatamente essa a relação
a forma pela qual os gregos entendiam e enunciavam o te- a2 = b2 + c2 − 2bc cos α. (3)
orema de Pitágoras.)
Podemos justificar (2) observando que

F1
F3
=

6
10
2
=
36
100
O Prova. Evidentemente, (3) é válida se α = 90◦ , uma
vez que, nesse caso, temos cos α = 0. Supondo α 6= 90◦ ,
dividiremos a prova da Lei dos Cossenos em dois casos:

(i) Se α é agudo, sejam H o pé da perpendicular à reta


e suporte do lado AB passando por C, h = CH e m = AH
da
 2
F2 8 64 (veja a figura a seguir, na qual ilustramos o caso em que
= = . b < 90◦ – de forma que H ∈ AB; os
F3 10 100 também tem-se ABC
demais casos podem ser tratados de modo análogo).
Daı́, segue que

F1 + F2 F1 F2
C
= +
F3 F3 F3 b a
36 64 h
l

= +
100 100 α
rta

= 1,
A m H B
sendo a última igualdade decorrente, em última análise, do
teorema de Pitágoras.
Em particular, quando construı́mos semicı́rculos sobre c
os catetos de ABC (veja a figura a seguir), temos que a
soma das áreas dos dois semicı́rculos construı́dos sobre os Utilizando o teorema de pitágoras em AHC, obtemos
Po

catetos é igual à área do semicı́rculo construı́do sobre a m2 + h2 = b2 =⇒ h2 = b2 − m2 .


hipotenusa, pois semicı́rculos são figuras semelhantes. Nas
notações da figura, essa afirmação fornece a igualdade Da mesma forma, utilizando o teorema de Pitágoras em
BHC, chagamos a
(y + w) + (x + z) = w + z + [ABC]. h2 + (c − m)2 = a2 =⇒ h2 = a2 − (c − m)2
Então, cancelando as parcelas w e z, obtemos =⇒ h2 = a2 − c2 − m2 + 2mc.
Igualando as expressões para h2 obtidas nas duas
y + x = [ABC], equações acima, concluı́mos facilmente que
conforme desejávamos. a2 = b2 + c2 − 2mc. (4)

http://matematica.obmep.org.br/ 2 matematica@obmep.org.br
Por outro lado, invocando as razões trigonométricas no B
triângulo AHC, obtemos cos α = m b ou, ainda,

b cos α. (5)
4
Finalmente, substituindo (5) em (4), segue que
P
2 2 2 5

EP
a = b + c − 2bc cos α.
3
(ii) Se α é obtuso, então, definindo o ponto H como no caso C
A
anterior, temos que está situado sobre o prolongamento do
lado AB, com A entre H e C (veja a próxima figura).
Marque no plano o ponto D tal que AP D é equilátero e
B e D estão situados em semiplanos opostos em relação à
C ←→
reta AP (veja a figura abaixo). Então,

BM
a
b = 60◦ − P AC
B AP b
h b
α b
= C AD.
H m A c B
Além disso, BA = CA = ℓ e AP = AD = 3. Assim, os
triângulos BAP e CAD são congruentes, pelo caso LAL.
Também como antes, sejam m = AH e h = AH. Neste Segue daı́ que DC = BP = 4.
caso, utilizando o teorema de Pitágoras em AHC e em Uma vez que
BHC, obtemos, respectivamente,
2 2 2
h + m = b =⇒ h = b − m 2 2 2
O 2 2
CD + DP = 42 + 32 = 52 = CP ,

a recı́proca do teorema de Pitágoras garante que o


2

e triângulo CDP é retângulo em D. Portanto,


da
h2 + (m + c)2 = a2 =⇒ h2 = a2 − m2 − c2 − 2mc. b = ADP
ADC b + P DC
b = 60◦ + 90◦ = 150◦.

Igualando os valores de h2 obtidos nas duas equações, che-


B
gamos a
a2 = b2 + c2 + 2mc. (6)

Agora, sendo β = C AH, b temos β = 180◦ − α, de 4


sorte que cos β = − cos α. Além disso, as relações tri- ℓ
l

gonométricas no triângulo AHC fornecem cos β = m b , de P


rta

onde obtemos 5
3
m = b cos β = −b cos α. 3
A C
Substituindo essa expressão para m em (6), chegamos a 3 4
D
2 2 2
a = b + c − 2bc cos α.
Agora, a ideia é aplicar a lei dos cossenos ao triângulo
Po

ACD, a fim √ de calcular ℓ. De fato, como cos 150◦ =


− cos 30◦ = − 23 , obtemos
Finalizamos este material com uma aplicação do teorema
de Pitágoras um pouco mais elaborada: ℓ2 = 32 + 42 − 2 · 3 · 4 · cos 150◦

3
Exemplo 5. Seja P um ponto no interior de um triângulo = 9 + 16 + 24 ·
√ 2
equilátero ABC tal que P A = 3, P B = 4 e P C = 5.
Encontre a medida do lado de ABC. = 25 + 12 3.
p √
Solução. Denotemos a medida dos lados de ABC por ℓ. Então, ℓ = 25 + 12 3.

http://matematica.obmep.org.br/ 3 matematica@obmep.org.br
Dicas para o Professor
Recomendamos que sejam utilizadas duas sessões de
50min para expor todo o conteúdo deste material. É im-
portante que os alunos percebam a igualdade entre a soma
das medidas das áreas das lúnulas e a medida da área
do triângulo retângulo, observando apenas a semelhança

EP
entre os semicı́rculos e a geometria presente no problema
(sem fazer as contas). Esse tipo de exercı́cio é fundamen-
tal para que eles desenvolvam a habilidade de raciocı́nio
geométrico, a qual os permitirá resolver diversos outros
problemas de Geometria.
As referências listadas abaixo apresentam outras
aplicações do Teorema de Pitágoras.

BM
Sugestões de Leitura Complementar
1. E. L. Lima. Meu Professor de Matemática e Outras
Histórias. Rio de Janeiro, Editora S.B.M., 2012.
2. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar, Vo-
lume 2: Geometria Euclidiana Plana. Rio de Janeiro,
Editora S.B.M., 2013.
O
l da
rta
Po

http://matematica.obmep.org.br/ 4 matematica@obmep.org.br

Você também pode gostar