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A Rede Profibus DP

Na edição anterior, iniciamos uma série de quatro de artigos sobre redes da Organização PROFIBUS,
cujas principais redes suportadas são PROFIBUS DP, PROFIBUS PA e PROFInet. Naquela edição,
fizemos uma abordagem geral da Organização PROFIBUS. Nesta, analisaremos com mais detalhes a
primeira das três redes suportadas: PROFIBUS DP

Osmar Brune

Aplicações de Profibus DP

Esta rede tem sido aplicada principalmente na área de manufatura na indústria automobilística, de
bebidas e outras. Mas sua participação na indústria de processos também tem crescido, por exemplo, na
indústria química e petroquímica. Em indústrias de processo onde segurança intrínseca é exigida (áreas
classificadas por risco de explosão), pode-se utilizar a rede PROFIBUS PA, que será objeto do próximo
artigo desta série.

Meios Físicos de Transmissão

Existem duas possibilidades de meios físicos para PROFIBUS DP:

-elétrico em padrão RS-485


-fibra ótica.

Além disso, será analisada a redundância de meios físicos.

Meio Físico RS-485 em Topologia de Barramento

Quando este meio físico é utilizado, deve ser empregada uma topologia de barramento, mostrada na
figura 1.

F.1 Topologia de Barramento para um Segmento RS-485

Um cabo PROFIBUS tipo A (roxo na figura 1, e na prática também normalmente fornecido na cor roxa)
possui as características resumidas na tabela 1.

T.1 Características de um cabo PROFIBUS tipo A.


Considerando a utilização de um cabo tipo A, a tabela 2 mostra a velocidade de transmissão (baudrate)
em função do comprimento do segmento (do cabo roxo mostrado na figura 1).
T.2 Baudrate X Comprimento.

Cada segmento RS-485 pode ter até 32 equipamentos, entre mestres, escravos e repetidores.
Considerando que uma rede PROFIBUS pode ter até 126 estações (entre mestres e escravos), devem
ser empregados repetidores para quebrar a rede em diversos segmentos RS-485, cada um deles com no
máximo 32 equipamentos. Os repetidores podem ser elétricos (RS-485 para RS-485) ou óticos (RS-485
para fibra ótica).

Na instalação de uma rede PROFIBUS DP em meio físico RS-485, as seguintes recomendações devem
ser seguidas, como ilustra a figura 2:

-nas duas extremidades da rede devem ser utilizados terminadores ativos (com alimentação em VP = +5
V e DGND = 0 V) para evitar problemas de reflexão e recepção -espúria de dados, quando nenhuma
estação estiver transmitindo na linha.
-aterramento da blindagem do cabo em cada estação
-encaminhamento dos cabos longe de cabos de energia.

F.2 Fiação e terminação para um segmento RS-485.

Meio Físico Ótico

O uso de fibra ótica é recomendável em diversas situações:

-para interligar áreas distantes entre si, sem reduzir o baudrate como aconteceria com um cabo RS-485
(ver tabela 2);
-para interligar áreas onde seja impossível aterrar a blindagem em cada equipamento, por exemplo,
devido a grandes diferenças de potencial de terra;
-para conseguir isolação e imunidade a ruído;
-para conseguir proteção contra transientes e descargas atmosféricas, principalmente em redes que
passam por áreas abertas.

Normalmente as estações PROFIBUS (mestres e escravos) vêm equipadas com conectores RS-485. O
meio físico ótico geralmente é uma alternativa para unir diferentes segmentos RS-485 que estejam em
áreas diferentes. Uma estratégia freqüentemente utilizada é criar pequenos segmentos RS-485 dentro de
um armário elétrico, sala ou prédio, de preferência com comprimento de cabo até 100 metros para
possibilitar altos baudrates (3 Mbps, ver tabela 2). E finalmente, unir estes diferentes segmentos RS-485
através de repetidores óticos. A figura 3 exibe dois segmentos RS-485 interligados via repetidores óticos.
F.3 Uso de repetidores óticos simples.

Uma característica adicional do meio físico ótico é a utilização de repetidores óticos que podem ser
ligados na forma de anel, provendo uma tolerância a falha adicional, pois pode-se perder uma fibra do
anel sem descontinuar a comunicação. Ilustra-se quatro segmentos RS-485 ligados opticamente entre si
na forma de anel na figura 4. Para tanto, os repetidores óticos devem ter 2 canais óticos, e um dos
repetidores deve ser configurado como gerenciador do anel (abrir ou fechar o anel, em função de testes
cíclicos de integridade das fibras).

F.4 Uso de repetidores óticos duplos e anéis óticos.

Redundância de Meio Físico, Escravos e Mestres

A rede PROFIBUS DP vem sendo utilizada em aplicações críticas, onde tolerância a falhas é uma
exigência (exemplo: plataformas de exploração de petróleo). A redundância tem sido empregada para
obter esta tolerância a falhas.

A figura 5 apresenta uma arquitetura típica formada por um controlador programável redundante, ligado a
estações de E/S remoto redundantes, através de uma rede PROFIBUS redundante. Mostra-se também
algumas estações remotas simples ligadas em rede PROFIBUS simples, admitidas em sub-sistemas
menos críticos de uma aplicação crítica. Neste caso, um equipamento especial (Y) é utilizado para
interligar a rede simples (S) às redes redundantes (A e B).
F.5 Sistema redundante.

As seguintes observações podem ser feitas na figura 5:

Existem duas rede PROFIBUS independentes, denominadas A e B, onde se interligam dispositivos


mestres ou escravos com suporte à redundância PROFIBUS. Cada uma destas redes, na figura 5, é um
segmento elétrico RS-485. No entanto, é possível criar redes maiores compostas de vários segmentos
RS-485 unidos opticamente entre si, na forma simples como mostra a figura 3, ou no feitio de anel como
mostra a figura 4. Na forma de anel, consegue-se uma tolerância a falhas ainda maior.

Encontra-se ilustrada também uma rede simples (S), destinada a escravos PROFIBUS sem suporte à
redundância. O chaveador (Y) conecta a rede S ou à rede A, ou à rede B. Se o Y estiver conectando a
rede S à rede A, e a rede A falhar, o mesmo comuta automática e rapidamente para conectar a rede S à
rede B. Este chaveamento deve ser mais rápido do que o tempo de “watch-dog” da rede PROFIBUS, que
será discutido posteriormente.

Os controladores programáveis centrais (CP1 e CP2) são duplicados, sendo que um deles (CP ativo) está
controlando o sistema, e o outro (CP reserva) está apto a assumir o controle em caso de falha do
primeiro. Cada CP central possui dois interfaces de rede PROFIBUS DP mestres para comunicação com
os escravos, denominados de 1A e 1B para o CP1, e 2A e 2B para o CP2.

As estações de E/S remota PROFIBUS DP com suporte à redundância possuem duas interfaces
PROFIBUS DP escravas independentes e substituíveis a quente em caso de falha (denominadas cabeça
A e cabeça B), além de módulos de E/S. Uma destas interfaces (cabeça ativa) se comunica com os
módulos de E/S e o outro (cabeça reserva) está apta a assumir a comunicação com os módulos de E/S
em caso de falha da primeira.

Em um mesmo instante, algumas estações de E/S remota poderão estar com a cabeça A ativa, e outras
com a cabeça B ativa.

Neste exemplo, como o CP1 e CP2 são redundantes, somente os mestres do CP em estado ativo (ou
CP1, ou CP2) se comunicam com as estações de E/S remota das redes A e B. Por exemplo, se o CP1
estiver ativo, utilizará sua interface mestre 1A para se comunicar com as cabeças A, e sua interface
mestre 1B para se comunicar com as cabeças B. Além disso, os mestres do CP2 (interfaces 2A e 2B)
ficam supervisionando a comunicação dos respectivos mestres do CP1 (1A e 1B) para diagnosticar falhas
na rede.
A comunicação ocorre simultaneamente nas redes A e B. O mestre da rede A escreve saídas e
parâmetros nas cabeças da rede A, e lê entradas e diagnósticos das cabeças da rede A, enquanto o
mesmo acontece na rede B. No entanto, considerando que somente uma das cabeças de uma remota
está ativa (A ou B), as saídas recebidas do mestre pela cabeça reserva não são repassadas para os
módulos de saída, e as entradas recebidas da cabeça reserva pelo mestre não são consideradas.

Funções Típicas de Comunicação do Protocolo DP V0

A comunicação entre um mestre e seus escravos PROFIBUS DP na versão DP V0 tem 4 funções


principais além de outras secundárias:

1.Escrita nas saídas nos escravos (até 244 bytes por escravo).
2.Leitura das entradas dos escravos (até 244 bytes por escravo).
3.Escrita de parâmetros de configuração nos escravos (por exemplo, para definir se um módulo analógico
se configura em 4-20 mA ou 0 a 10 V).
4.Leitura de diagnósticos dos escravos (exemplo: falha em um módulo de E/S).

No protocolo DP V0, ciclicamente o mestre manda uma mensagem para cada escravo contendo as
saídas que devem ser transferidas para os módulos de saída deste escravo. Na mensagem de resposta,
o escravo devolve as entradas lidas de seus módulos de entrada. Este ciclo é muito rápido e eficiente.

A figura 6 ilustra um gráfico de desempenho que assume a existência de um único mestre DP V0, e que
cada escravo tenha 2 bytes de entrada e 2 bytes de saídas (por exemplo, 16 entradas digitais e 16 saídas
digitais). No gráfico, observa-se que em menos de 2 ms pode-se varrer as entradas e saídas de 30
escravos nesta situação, em 12 Mbps.

F.6 – Alta Performance da Rede PROFIBUS

Os parâmetros são escritos na energização do sistema, ou após uma falha de comunicação. Os


diagnósticos são lidos por exceção, isto é, quando um escravo tem diagnósticos para informar ao mestre,
ele liga um bit na mensagem de resposta cíclica com as entradas. Isto faz com que o mestre execute uma
leitura de diagnósticos neste escravo em seguida.

Quando um escravo fica sem receber requisições do seu mestre por um tempo superior ao tempo de
watchdog, o mesmo pode ativar uma condição de segurança, desligando suas saídas por exemplo. Os
projetos elétricos de sistemas normalmente devem prever que as saídas digitais e analógicas, quando
desligadas, conduzam o processo controlado a uma parada segura. O tempo de watchdog é um
parâmetro, transmitido do mestre para os escravos na inicialização.

Numa mesma rede PROFIBUS pode haver diversos mestres, cada um com seu grupo de escravos. Cada
escravo deve pertencer a um único mestre.

Controle de Acesso ao Meio Físcico Determinístico - Token Big

Numa arquitetura onde só existe um mestre e diversos escravos deste mestre, existe apenas
comunicação mestre-escravo, cujo controle de acesso ao meio é muito simples (similar àquele observado
no protocolo MODBUS RTU, objeto de um artigo anterior). Esta simplicidade advém do fato de que
somente o mestre inicia as comunicações, fazendo requisições que devem ser respondidas pelo escravo
endereçado. É como numa sala de aula (dos velhos tempos é claro...) onde somente o professor falava, e
um aluno só respondia ao professor quando indagado.

No entanto, pode haver diversos mestres em uma mesma rede PROFIBUS DP, sendo que cada um deles
gerencia um grupo de escravos. Neste caso, é necessária uma disciplina de acesso ao meio físico para
os diversos mestres transmitirem suas requisições. Esta disciplina se chama token-ring, e consiste em dar
uma fatia de tempo para que cada mestre se comunique com seus respectivos escravos. Se não
houvesse tal disciplina, vários mestres poderiam transmitir simultaneamente no meio físico comum, e a
mistura das mensagens seria um ruído incompreensível (como várias pessoas falando ao mesmo tempo).

A necessidade do token-ring degrada a performance da rede PROFIBUS em relação àquela mostrada na


figura 6, no entanto, de forma pouco significativa.

É importante ressaltar que a metodologia token-ring é determinística, o que é extremamente importante


em uma rede de comunicação industrial. Em outras palavras, considerando as características da rede
(baudrate, número de mestres, escravos e alguns outros parâmetros), é possível determinar o maior
tempo que um mestre terá de esperar para ganhar acesso ao meio físico.

Em contraposição a isto, existem redes que utilizam métodos estatísticos de controle de acesso ao meio,
onde o tempo de espera pelo acesso ao meio não pode ser limitado (depende de métodos randômicos, e
um mestre azarado poderia esperar para sempre teoricamente, embora a probabilidade de que isto
aconteça seja baixa). Um exemplo de tal método é o CSMA/CD (Carrier Sense Multiple Access with
Colision Detect), utilizado na rede Ethernet. Neste caso, um mestre só fala quando sentir que há silêncio
na rede. Entretanto, outros mestres podem estar esperando pelo silêncio, e começarem a transmitir ao
mesmo tempo, gerando uma colisão. Esta colisão é detectada pelos mestres, todos voltam a ficar em
silêncio, e tentam transmitir novamente após um tempo estabelecido randomicamente. Devido a este
tempo randômico, não se pode garantir que um mestre azarado (que sorteie altos tempos randômicos)
consiga acesso ao meio num tempo máximo determinável.

Mestres Classe 1 e Classe 2

Um mestre classe 1 faz comunicação cíclica com os escravos para escrita de saídas e leitura de
entradas, conforme descrito anteriormente, com eventuais leituras de diagnóstico e parametrizações. Um
exemplo típico é um controlador programável. Ou seja, o mestre classe 1 contém as funções básicas
necessárias para um sistema de automação.

Mestres classe 2 são utilizados para funções de engenharia, manutenção e calibração. Eles não precisam
estar conectados permanentemente à rede.

Protocolo DP V1 e DP V2

O protocolo DP V0 foi o primeiro disponível historicamente para PROFIBUS DP. Posteriormente, foram
definidos os protocolos V1 e V2 com funções estendidas.

A principal novidade do protocolo DP V1 é a capacidade de comunicações acíclicas, em paralelo com as


comunicações cíclicas do DP V0, mas com prioridade menor. Isto permite, por exemplo, fazer
parametrizações de escravos durante a operação, e não somente na energização. Uma das vantagens
disso é ultrapassar o limite máximo de dados de E/S transferidos ciclicamente por escravo (máximo 244
bytes de entrada e 244 bytes de saída por escravo), pois blocos de dados agora podem ser lidos
aciclicamente sob requisição do mestre. Outra vantagem é diminuir o tráfego na rede, através da leitura e
escrita de dados menos prioritários de forma acíclica.

O protocolo DP V2 introduziu outras novidades interessantes:

Comunicação entre escravos: os dados de entradas respondidos por um escravo a uma requisição de
seu mestre podem ser capturados por outros escravos (broadcast da resposta), e utilizados como
entradas para estes escravos. Isto possibilita diversas aplicações, por exemplo, um escravo inteligente do
tipo válvula pode utilizar a leitura de um escravo tipo transmissor para fechamento de um laço PID sem
intermediação do mestre.

Modo isócrono: permite que todos mestres e escravos da rede sincronizem ações de controle (por
exemplo, posicionamentos precisos) com erros menores do que um microssegundo.

Acerto de relógio: permite que mestres e escravos tenham seus relógios internos sincronizados com
erro menor do que 1 milissegundo, para a datação de eventos. Isto é muito importante, por exemplo, para
a organização cronológica de eventos capturados em estações distintas da rede.

upload e download: permite a carga ou descarga de qualquer quantidade de dados de estações da rede,
por exemplo, leitura de eventos, atualizações de programas de um
escravo inteligente, e outras funções.

Arquivos GSD: Chave para a Interoperabilidade

Todo mestre ou escravo PROFIBUS DP possui um arquivo texto em formato padrão (GSD) definido pelo
Organização PROFIBUS, que define as características do dispositivo (quantidade e formato dos dados de
entrada e saída, diagnósticos e parâmetros, e outras características).

Este arquivo acompanha o dispositivo na venda, e tipicamente também pode ser facilmente obtido no site
do fabricante via Internet. Os programas de configuração de rede PROFIBUS, geralmente construídos
para cada mestre, utilizam os arquivos GSD deste mestre e dos escravos da rede (independente do
fabricante) para importar as características dos dispositivos. Os arquivos GSD, portanto, possibilitam a
interoperabilidade entre dispositivos de vários fabricantes.

Remotas Compactas e Modulares

Remotas compactas possuem uma estrutura de E/S fixa, isto é, uma quantidade fixa de pontos de E/S.
Remotas modulares podem ser expandidas em módulos. No caso de remotas modulares, cada um dos
módulos é definido no arquivo GSD da mesma.

A figura 7 mostra um exemplo de remota modular, formado por uma cabeça remota (o interface de
comunicação escravo PROFIBUS DP) com fonte embutida (à esquerda) e de diversos módulos de E/S à
direita da cabeça.

F.7 – Exemplo de Remota Modular.

Conclusões

Este artigo é o segundo de uma série de quatro artigos sobre as principais redes suportadas pela
Organização PROFIBUS. Os próximos dois artigos abordarão, respectivamente, as redes PROFIBUS PA
e PROFInet.

Bibliografia

www.profibus.com
*Originalmente publicado na revista Mecatrônica Atual - Nº17 - Set/04

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