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Restaurar a mente, restaurar a atenção

A base do sucesso em todas as áreas da vida é sua capacidade de ter foco. É o que diz Daniel
Goleman, psicólogo mundialmente reconhecido e premiado por sua obra Inteligência Emocional. Em
seu livro Foco, o autor mostra como a atenção funciona de forma muito parecida com um músculo –
se não o utilizamos, fica atrofiado; se o exercitamos, se desenvolve e se fortalece; se o exercitarmos
demais, sentimos dores e prejudicamos o movimento.

Numa era de distrações intermináveis, Goleman argumenta que precisamos aprender a aprimorar
nosso foco se quisermos prosperar no mundo complexo em que vivemos. Ainda, explica como
mentes que nunca descansam produzem menos, mesmo que seja por excesso de foco.

Foco é, acima de tudo, equilíbrio.


Como os músculos do corpo, argumenta o psicólogo, é preciso exercitar e relaxar o cérebro para que
ele atinja seu máximo potencial. Leia abaixo o que o psicólogo tem a nos ensinar sobre o tema em
nosso primeiro post da série Daniel Goleman:

Restauração da Atenção
“Há não muito tempo”, [o jornalista norte-americano] William Falk reflete, “eu teria considerado
impensável trabalhar durante as férias. Eu me lembro de períodos gloriosos de duas semanas em
que eu não tinha qualquer contato com chefes, subordinados ou mesmo amigos. Mas isso era antes
de eu viajar com um smartphone, um iPad e um laptop e aprender a gostar de viver num fluxo
constante de informação e conexão”.

Levemos em conta o esforço cognitivo demandado por nossa nova sobrecarga normal de
informações — a explosão de fluxos de notícias, e-mails, telefonemas, tweets, blogs, chats, reflexões
sobre opiniões a que expomos diariamente nossos processadores cognitivos. Esse zumbido neural
adiciona tensão às demandas de se fazer alguma coisa.

Selecionar um foco preciso exige inibir muitos outros.


A mente precisa lutar para se afastar de todo o resto, separando o que é importante do que é
irrelevante. Isso demanda esforço cognitivo. A atenção firmemente focada se cansa — muito
parecido com o que ocorre com um músculo que trabalha demais — quando a forçamos ao ponto da
exaustão cognitiva.

Os sinais de fadiga mental, como uma queda na efetividade e um aumento da distração e da


irritabilidade, significam que o esforço necessário para manter o foco esgotou a glicose que alimenta
a energia neural.

O antídoto para a fadiga da atenção é o mesmo para a fadiga física: descansar.


Mas como descansar um músculo mental? Tente trocar do esforço de controle descendente para
atividades mais passivas ascendente, fazendo uma pausa relaxante num ambiente tranquilo. Os
ambientes mais tranquilos estão na natureza, argumenta Stephen Kaplan, da Universidade de
Michigan, que propõe o que ele chama de “teoria da restauração da atenção”.

Essa restauração ocorre quando passamos de um estado de atenção esforçada, em que a mente
precisa anular as distrações, para um estado em que nos deixamos livres e permitimos que nossa
atenção seja capturada pelo que quer que se apresente. Mas apenas certos tipos de foco
ascendente agem de modo a restaurar energia para a atenção focada. Navegar na Internet não é o
caso. Fazemos bem de nos desconectarmos regularmente.
Tempos em silêncio restauram nosso foco e nossa serenidade.
Mas essa desconexão é apenas o primeiro passo.
O que fazemos a seguir também importa.

Dar uma caminhada por uma rua da cidade, observa Kaplan, ainda exige da nossa atenção —
precisamos atravessar multidões, desviar de carros e ignorar os barulhos de buzina e os demais
ruídos da rua. Por outro lado, uma caminhada num parque ou bosque exige pouco desse tipo de
atenção. Podemos nos restaurar passando algum tempo na natureza — até mesmo alguns minutos
caminhando num parque ou em qualquer local rico em coisas fascinantes como os tons
avermelhados das nuvens durante o pôr do sol ou o voo de uma borboleta. Isso provoca
“modestamente” a atenção ascendente, como define o grupo de Kaplan, permitindo que os circuitos
que fazem os esforços descendentes recuperem sua energia, restaurando a atenção e a memória, e
melhorando a cognição.

Uma caminhada em meio às arvores leva a um melhor foco para a retomada de tarefas que exigem
concentração do que um passeio a pé pelo centro da cidade. Até mesmo se sentar diante de um
mural que retrate uma cena da natureza — especialmente alguma cena com água — é melhor do
que a cafeteria da esquina.

Mas eu me coloco uma questão. Esses momentos relaxantes parecem ótimos para desligar de uma
concentração intensa, mas abrem o caminho para a atitude de divagação, que ainda mantém
ocupado o circuito-padrão.

Há mais um passo que podemos dar para desligar a mente ocupada: foco total em alguma coisa
relaxante.

A chave é uma experiência imersiva, em que a atenção possa ser total, mas largamente passiva. Isso
começa a acontecer quando estimulamos gentilmente os sistemas sensoriais, que acalmam os
sistemas do foco esforçado. Um filme interessante pode produzir um pouco deste efeito neural.
Qualquer coisa em que consigamos nos perder prazerosamente servirá. Lembre-se: naquela
pesquisa sobre os humores das pessoas, a atividade mais focada no dia de qualquer pessoa, e a mais
agradável, é fazer amor. Mas a absorção total e positiva bloqueia a voz interior, aquele diálogo
constante com nós mesmos que acontece mesmo durante nossos momentos tranquilos. Esse é o
principal efeito de quase todas as práticas contemplativas que mantêm a sua mente focada num
alvo neutro, como a sua respiração ou um mantra.

Conselhos tradicionais sobre o local adequado para um “retiro” parecem incluir todos os
ingredientes necessários para a restauração cognitiva. Mosteiros designados à meditação são
sempre ambientes tranquilos, silenciosos e próximos à natureza. Não que precisemos chegar a tais
extremos.

Para William Falk, o remédio foi simples: ele parou de trabalhar e foi brincar com a filha nas ondas
do mar. “Pulando e gritando nas ondas com a minha filha, eu estava completamente presente no
momento. Completamente vivo.”

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