PERSISTÊNCIA, FRACASSOS E CONQUISTAS: NOT A INTRODUTÓRIA
À história do petróleo no Brasil A procura por fontes de petróleo no Brasil iniciou-se na década de 1860, mesma época em que a indústria do petróleo dava os primeiros passos nos Estados Unidos, após a descoberta da primeira jazida comercial, no estado da Pensilvânia, em 1859. Porém, contrariamente ao intenso processo de descobertas de petróleo que, a partir de então, ocorreu em várias partes do mundo, mais de 70 anos se sucederiam sem que se conseguisse encontrar jazidas de petróleo no Brasil. A questão do “difícil petróleo brasileiro” foi, ao longo do tempo que antecedeu a primeira descoberta, na Bahia, em 1939, acirrada por dúvidas sobre a própria ocorrência do mineral no País, cujas descobertas iniciais foram dificultadas pela baixa ocorrência de exsudações naturais de petróleo no solo, diferentemente do que ocorria em diversas regiões no mundo (Dias e Quaglino, 1993). As incertezas sobre a existência de hidrocarbonetos no País somente começariam a ser resolvidas em 1939, com a descoberta da primeira acumulação de petróleo, na localidade de Lobato, no Recôncavo Baiano, e das descobertas seguintes com potencial comercial, tais como os campos de Candeias, Itaparica e Aratu, em 1941-1942, e outros campos no estado da Bahia. Após o encontro dessas primeiras jazidas, outras três décadas de explorações e descobertas em terra se sucederiam, em diversos estados do Nordeste, mas sem que as bacias sedimentares brasileiras revelassem fontes de petróleo em volumes capazes de diminuir a crescente dependência de importações.11 Somente 35 anos depois das descobertas iniciais na Bahia, com a revelação dos primeiros campos de petróleo na Bacia de Campos, em 1974-1976, começaria a se descortinar, em bases objetivas, a possibilidade de se produzir petróleo em volumes capazes de viabilizar a autossuficiência brasileira na produção. Dado o cenário acima, a longa trajetória brasileira em busca de petróleo e da autossuficiência pode ser desdobrada em cinco fases históricas, caracterizadas por eventos importantes que devem ser lembrados para o melhor entendimento dos desafios enfrentados pelos exploradores em busca de reservas que proporcionassem a autonomia do País em petróleo.12 11. As importações de petróleo cru para abastecer as refinarias produtoras de derivados cresceram acentuadamente ao longo dos anos 1950 até 1979, como mostram os dados seguintes, em volumes médios de barris por dia: 1955- 59: 98.000; 1960-69: 203.500; 1970-79: 695.000 (para dados até 1969: IBGE, 1987; dados a partir de 1970: www. anp.gov.br). A partir de 1980 as importações de petróleo começaram a diminuir, como resultado da intensificação da produção na Bacia de Campos, iniciada em 1977. 12. A procura por jazidas de petróleo foi marcada, a partir da década de 1920, por intensas atividades de equipes de geólogos de órgãos estatais em trabalhos de mapeamentos de bacias sedimentares, nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e parte do Sul, em busca de estruturas geológicas favoráveis à existência de hidrocarbonetos. Muitas das expedições foram realizadas nas florestas do Norte do Brasil, em acampamentos improvisados: “naqueles idos tempos de pioneirismo, o geólogo, fiador de tais expectativas, aturava uma vida monótona, inalterável, dia após dia, na barraca de palha de chão batido, iluminada por lampião de querosene, dentro do acampamento às margens do Tapajós, sem ler nem ouvir notícias sobre o resto do mundo” (Em Busca do Petróleo Brasileiro, Pedro de Moura e Felisberto Carneiro, 1976, p. 125).