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A PRISÃO É UMA INSTÂNCIA DE DOMINAÇÃO

FACULDADE - SENSO COMUM TEÓRICO

FÁBRICA – ALIENAÇÃO PELO TRABALHO

HOSPITAL/HOSPÍCIO/ASILO

3 TIPOS DE PODER: SOBERANO (OU MONARQUICO) / DISCIPLINAR (OU BURGUÊS) / BIOPODER

SOCIEDADE DISCIPLINAR (PODER DISCIPLINAR)

= VIGILÂNCIA GENERALIZADA (AS PRÓPRIOS PESSOAS SE VIGIAM)


PRISÃO (O PANÓPTICO DE BENTHAM)

NOVA FORMA DE PODER: DOMINAÇÃO DA VIDA

3 DOENÇAS

LEPRA = AFASTAMENTO SOCIAL (DIVISÃO SOCIAL) = MODELO JURÍDICO-PENAL

PESTE = CONTROLE GENERALIZADO/DISSEMINADO/TOTAL, POIS TODOS PODIAM SER


POTENCIAMENTE PORTADORES DA PESTE = PODE DISCIPLINAR

VARÍOLA = VACÍNA (INCULAR A PRÓPRIO VARÍOLA NO ORGANISMO VIVO PARA PRODUÇÃO DE


ANTICORPUS = ESTRATÉGIA DE CONTROLE VAI TER COMO PRINCIPAL A INOCULAÇÃO DA
PRÓPRIA DOENÇA E NÃO APENAS SEPARAÇÃO DE CORPOS = BIOPODER
NOVA FORMA DE ECONOMIA = ESCACEZ ALIMENTAR = FISIOCRACIA = O MERCADO É ALGO
NATURAL, REGULAMENTA A SI PRÓPRIO (MÃO INVÍSIVEL DO MERCADO) = BIOPODER NA
ECONOMIA

SLAVOJ ZIZEK = ANIMISMO CAPITALISTA

Tratar fenômenos sociais como mercados ou o capital financeiro como uma entidade viva.

POPULAÇÃO – TERRITÓRIO

ESTADO MÍNIMO

RELAÇÃO PODER-SABER

RACIONALIDADE COMO INSTÂNCIA DE DOMINAÇÃO IDEOLOGICA

DIREITO ENVOLVIDO POR PRÁTICAS DE FETICHIZAÇÃO DOS


CONTEÚDOS/FICÇÕES/ABSTRAÇÕES/FABULAÇÕES

BIOPODER
Este ano gostaria de comecar o estudo de algo que eu havia chamado, um pouco no ar, de
bíopoder', isto é, essa série de fenómenos que me parece bastante importante, a saber, o
conjunto dos mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie humana, constitui suas
características biológicas fundamentais vai poder entrar numa política, numa
estratégiapolítica, numa estratégia geral de poder. Emoutras palavras, como a socíedade, as
sociedades ocidentais modernas, a partir do século XVllI, voltaram a levar em canta o fato
biológico fundamental de que o ser humano constitui urna espécie humana. É em linhas gerais
o que chamo, o que chameí, para !he dar um nome, de biopoder. Entáo, antes de mais nada,
um certo número de proposícóes, por assim dizer, proposicóes no sentido de índicacóes de
opcáo: nao sao nem principios, nem regras, nem teoremas.

O poder é um conjunto de mecanismos e de procedimentos que tém como papel ou funcáo e


tema manter- mesmo que não o consigam - justamente o poder

Atendo-se a uma análise nominalista, Foucault recusa-se a pensar o poder enquanto coisa ou
substância, as quais seriam possuídas por uns e extorquidas de outros. O poder opera de modo
difuso, capilar, espalhando-se por uma rede social que inclui instituições diversas como a
família, a escola, o hospital, a clínica. Ele é, por assim dizer, um conjunto de relações de força
multilaterais (Foucault, 1999).

Primeira questão, claro: o que se pode entender por "segurança"?


A primeira forma, voces conhecem, a que consiste em a;ar.urna 1;1 e estabelecer ';!IDa
punícáo para os que a infríngírem, e o sistema do codigo legal com dívísáo bináría entre o
permitido e o proibido, e urn acoplamento, que é precisamente no que consiste o código, o
acoplamento entre um tipo de acáo proibida e urn tipo de punícáo. É portanto o mecanismo
legal ou jurídico.

O segundo mecanismo, a lei e,:,quadrada por m~canismos de vigilancia e de correcáo, nao


voltareí a ISSO, e ~dentemente o mecanismo disciplinar'. É o mecamsmo disciplinar que vai se
caracterizar pelo fato de que dentro do sistema binárío do código aparece urn terceiro
personagem, que é o culpado, e ao mesmo tempo, fora, além do ato legislativo que cria a lei e
do ato judicial que pune o culpado, aparece toda urna série de técnicas adjacentes, policiais,
médicas, psicológicas, que sao do domínio da vigilancia, do diagnóstico, da eventual
transformacáo dos individuos. Tudo isso nós já vimos.

A terceira forma é a que. caracterizaría nao mais o código legal, nao mais mec;nusmo
disciplinar; ~as o dispositivo de seguranca , IStO e, o conjunto dos fenomenos que eu gestaría
de estudar agora. Dispositivo de seguranca que vai, para dizer as coisas de maneira
absolutamente global, inserir o fenómeno ero questáo, a saber, o roubo, numa série de
acontecimentos prováveis. Em segundo lugar, as reacóes do poder ante esse fenómeno váo
ser inseridas num cálculo que é urn cálculo de custo. Enfim, em terceiro lugar, em vez de
instaurar urna divisáobinária entre o permitido e o proíbído, vaise fixar de urn lado urna média
considerada ótima e, depois, estabelecer os limites do aceitável, além dos quais a coisa nao
deve ir. Éportanto toda urna outra distríbuicáo das coisas e dos mecanismos que assim se
esboca.

O sistema legal é o funcionamento penal arcaico, aquele que se conhece da Idade Média aos
séculos XVII-XVIII. O segundo é o que poderíamos chamar de moderno, que é implantado a
partir do século XVIII; e o terceiro é o sistema, dígamos, contemporáneo, aquele cuja
problemática come- ~ou a surgir bem cedo, mas que está se organizando atualmente em tomo
das novas formas de penalidade e do cálculo do custo das penalidades: sao as técnicas
americanas', mas também européias que encontramos agora.
Portante, voces nao tém urna série na qual os elementos váo se suceder, os que aparecem
fazendo seus predecessores desaparecerem. Nao há a era do legal, a era do disciplinar, a era
da seguran~a.Voces nao tém mecanismos de seguran,a que tomam o lugar dos mecanismos
disciplinares, os quaís teriam tomado o lugar dos mecanismos [urídíco-legaís. Na verdade,
voces tém urna série de edificios complexos nos quais o que vai mudar, claro, sao as próprias
técnicas que váo se aperfeícoar ou, em todo caso, se complicar, mas o que vai mudar,
principalmente, é a dominante ou, mais exatamente, o sistema de correlacáo entre os
mecanismos jurídico-legaís, os mecanismos disciplinares e os mecanismos de seguranca.

No fundo, a economia e a relacáo económica entre o custo da repressáo e o custo da


delinqüéncía é a questáo fundamental.

Outro exemplo que vou simplesmente esbocar aqm, mas para introduzir outra ordem
de.proble?,as ?U para realcar e generalizar o problema (aquí tambem sao exemplos de que já
falei n vezes"). 0': seja, I?odemos dízer, a e~clu; sao dos leprosos na Idade Media, ate o fim da
Idade Media. É urna exclusáo que se fazia essencialmente, embora também houvesse outros
aspectos, por urn conjunto mais urna vez jurídico, de leis, de regulamentos, conjunto reli~,:so
também de rituais, que em todo caso traziam urna divísáo, e urna divísáo de tipo binário entre
os que eram leprosos e,os que nao eram. Segundo exemplo: o da peste (deste tambem já !hes
havia falado", logo tomo a ele rapidamente). Os regulamentos relativos apeste, tai~ corno os
vernos form~ados no firn da Idade Média,no seculo XVIe ainda no seculo XVII, dáo urna
ímpressáo bem diferente, agem de urna maneira bem diferente, tém urna finalidade bem
diferente e, sobretudo, instrumentos bem diferentes. Trata-se nesses regulamentos relativos a
peste de quadrilhar literalmente as regíóes, as cidades no interior das quais existe a peste, com
urna regulamentacáo indicando as pessoas quando podem sair, como, a que horas, o que
devem fazer em casa, que tipo de alímentacáo devem ter, proibindo-!hes este ou aquele tipo
de contato, obrigando-as a se apresentar a insperores, a abrir a casa aos inspetores. Pode-se
dizer que ternos, aí,urn sistema que é de tipo disciplinar.

Terceiro exemplo: o que estudamos atualmente no seminário, isto é, a varíola ou, a partir do
século XVIII, as práticas de inocula- ~ao". O problema se coloca de maneira bem diferente: nao
tanto impor urna disciplina, embora a disciplina [seja]* chamada em auxilio: o problema
fundamental vai ser o de saber quantas pessoas pegaram varíola, com que idade, com quais
efeitos, qual a mortalidade, quais as lesóes ou quais as seqüelas, que riscos se corre fazendo-se
inocular, qual a probabilidade de um individuo vir a morrer ou pegar varíola apesar da
inoculacáo, quais os efeitos estatísticos sobre a populacáo em geral, em suma, todo um
problema que já nao é o da exclusáo,como na lepra, que já nao é o da quarentena, como na
peste, que vai ser o problema das epidemias e das campanhas médicas por meio das quais se
tentam jugular os fenómenos, tanto os epidémicos quanto os endémicos.

Aquí também, por sínal, basta ver o conjunto legislativo' as obrígacóes disciplinares que os
mecanismos de seguranca modernos incluem, para ver que nao há urna sucessáo: leí, depois
disciplina, depois seguranca, A seguranca é urna certa maneira de acrescentar, de fazer
funcionar, além dos mecanismos propriamente de seguranca, as ve!has estruturas da lei e da
disciplina. Na ordem do direito, portante, na ordem da medicina, e poderia multiplicar os
exemplos - foi por isso que !hes citei este outro -, voces estáo vendo que encontramos apesar
de tudo urna evolucáo um tanto ou quanto parecida, transformacóes mais ou menos do
mesrno tipo nas sociedades, digamos, como as nossas, ocidentais. Trata -se da emergencia de
tecnologias de seguran~a no interior' seja de mecanismos que sao propriamente mecanismos
de controle social, como no caso da penalidade, seja dos mecanismos que tém por funcáo
modificar em algo o destino biológico da espécie. Entáo, e é essa a questáo central do que eu
gastarla de analisar, poderíamos dizer que em nossas sociedades a economia geral de poder
está se tomando da ordem da seguran~a? Eu gastarla portanto de fazer aqui urna espécie de
história das tecnologias de seguranca e tentar ver se podemos efetivamente falar de urna
sociedade de seguranca. Em todo caso, sob o nome de sociedade de seguran~a eu gostarla
simplesmente de saber se há efetivamente urna economia geral de poder que tenha a forma
[de] ou que, em todo caso, seja dominada pela tecnología de segurança.

Entáo, algumas características gerais desses dispositivos de seguran~a. Gostarla de ressaltar


quatro, nao sei quantos..., enfim, vou comecar analisando alguns para voces. Em primeiro
lugar, gastarla de estudar um pouquinho, assim por alto, o que poderíamos chamar de espacos
de seguranca.

Em segundo, estudar o problema do tratamento do aleatório.

Em terceiro, estudar a forma de normalizacáo que é específica da seguran~ae que nao me


parece do mesmo tipo da normalizacáo disciplinar.

E, enfim, chegar ao que vai ser o problema preciso deste ano, a correlacáo entre a técnica de
seguran~a e a populacáo, ao mesmo tempo como objeto e sujeito desses mecanismos de
seguranca, isto é, a emergencia nao apenas da nocáo, mas da realidade da populacáo.

Entáo, em primeiro lugar, em linhas geraís, as questóes de espa~o. Poderíamos dízer,


¡¡primeira vista e de urna maneira urotanto esquemática: a soberaniase exercenos limites de
um território, a disciplina se exerce sobre o corpo dos individuos e, por fím,a seguranca se
exerce sobre o conjunto de urna populacáo.

Limites do território, corpo dos individuos, conjunto de urna populacáo, tudo bem, mas nao é
isso e creio que isso nao cola. Nao cola, primeiro, porque o problema das multiplicidades é um
problema que já encontramos a propósito da soberania e a propósito da disciplina. Embora
seja verdade que a soberania se inscreve e funciona essencialmente nurn território e que,
afinal de contas, a idéia de urna soberania sobre urn território nao povoado é urna idéia
juridica e politicamente nao apenas aceitável, mas perfeitamente aceita e prímeíra, o fato é
que o exercício da soberania em seu desenrolar efetivo, real, cotidiano, indica sempre, é claro,
urna certa multíplicidade, mas que vai ser tratada justamente seja como a multiplicidade de
sujeitos, seja [como] a multiplicidade de um POyo.

A disciplina também, é claro, se exerce sobre o corpo dos indivíduos, mas procurei lhes
mostrar como, na verdade, o individuo nao é na disciplina o dado primeiro sobre o qual ela se
exercia. A disciplina só existe na medida em que há urna multiplicidade e um fím, ou um
objetivo, ou urn resultado a obter a partir dessa multiplicidade. A disciplina escolar, a disciplina
militar, a disciplina penal também, a disciplina nas fábricas, a disciplina operaría, tudo isso é
urna determinada maneira de administrar a multiplicidade, de organizá-la, de estabelecer seus
pontos de ímplantacáo, as coordenacóes, as trajetórias laterais ou horizontaís, as trajetórias
verticais e piramidais, a hierarquia, etc.

E, para urna disciplina, o individuo é muito mais urna determinada maneira de recortar a
multiplicidade do que a matéria-prima a partir da qual ela é construida. A disciplina é urn
modo de indívidualizacáo das multiplicidades, e nao algo que, a partir dos individuos
trabalhados primeiramente a título individual, construiria em seguida urna espécie de edifício
de elementos múltiplos. Portante, afínal, a soberanía, a disciplina, como também, é claro, a
seguranca só podem lidar com multiplicidades.

" Como voces estáo vendo, voltamos a encontrar aqui o problema do soberano, mas desta vez
o soberano nao é mais aquele que exerce seu podersobre um território a partir de uma
localízacáo geográfica da sua soberania política, o soberano é algo que se relaciona com uma
natureza, ou antes, com a interferencia, a intríncacáo perpétua de um meio geográfico,
climático, físico com a espécie humana, na medida em que ela tem um corpo e uma alma, uma
existencia física [e] moral; e o soberano será aquele que deverá exercer seu poder nesse ponto
de artículacáo em que a natureza no sentido dos elementos físicos vem interferir com a
natureza no sentido da natureza da espécie humana, nesse ponto de articulacáo em que o
meio se toma determinante da natureza. É aí que o soberano vai intervir e, se ele quiser mudar
a espécie humana, só poderá fazé-lo, diz Moheau, agindo sobre o meio. Creio que ternos aí um
dos eíxos, um dos elementos fundamentais nessa ímplantacáo dos mecanismos de seguran~a,
isto é, o aparecímento, nao ainda de uma no- ~ao de meío, mas de um projeto, de uma técnica
política que se dirigiria ao meio.

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