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Visualizando o Corpo
A ideia de que a biologia é destino - ou, melhor ainda, o destino é biologia - foi
um grampo do pensamento ocidental por séculos. 1 Se a questão é quem é que
na polis2 de Aristóteles ou que é pobre no final do século XX nos Estados
Unidos,
a noção de que a diferença e a hierarquia na sociedade são determinadas
biologicamente continua a ter credibilidade, mesmo entre os cientistas sociais
que pretendem explicar a sociedade humana em termos não genéticos. No
Ocidente, as explicações biológicas parecem ser especialmente privilegiadas
em relação a outras maneiras de explicar as diferenças de gênero, raça ou
classe. A diferença é expressa como degeneração. Ao traçar a genealogia da
ideia de degeneração no pensamento europeu, J. Edward Chamberlain e
Sander Gilman observaram o modo como era usado para definir certos tipos de
diferença, particularmente no século XIX. “Inicialmente, a degeneração reunia
duas noções de diferença, uma científica - um desvio de um tipo original - e a
outra moral, um desvio de uma norma de comportamento. Mas eles eram
essencialmente a mesma noção, de uma queda da graça, um desvio do tipo
original.”3 Consequentemente, aqueles em posições de poder acham
imperativo estabelecer sua biologia superior como uma forma de afirmar seu
privilégio e domínio sobre “Outros”. Aqueles que são diferentes são vistos
como geneticamente inferiores, e isso, por sua vez, é usado para explicar suas
posições sociais desfavorecidas.
Glaucon responde: “Não na geração atual; não há como conseguir isso; mas
seus filhos podem ser levados a crer na história, os filhos de seus filhos e a
posteridade depois deles.”18 Glaucon estava enganado que a aceitação do mito
só poderia ser alcançada na próxima geração: o mito daqueles que nasceram
para governar já estava em operação; mães, irmãs, e filhas - mulheres - já
foram excluídas da consideração em qualquer uma dessas fileiras. Num
contexto em que as pessoas foram classificadas de acordo com associação
com certos metais, as mulheres eram, por assim dizer, feitas de madeira, e
assim nem sequer foram considerados. Stephen Gould, historiador da ciência,
chama a observação de Glaucon de profecia, uma vez que a história mostra
que o conto de Sócrates foi promulgado e acreditado pelas gerações
subsequentes.19 O ponto, no entanto, é que, mesmo na época de Glaucon, era
mais do que uma profecia: já era uma prática social excluir as mulheres das
fileiras dos governantes.
Nos últimos tempos, graças em parte aos estudos feministas, o corpo está
começando a receber a atenção que merece como local e material para a
explicação da história e do pensamento europeus. 21 A contribuição distintiva do
discurso feminista para nossa compreensão das sociedades ocidentais é que
ele torna explícita a natureza de gênero (portanto incorporada) e dominante
pelo homem de todas as instituições e discursos ocidentais. A lente feminista
despe o homem de ideias para todos verem. Até discursos como a ciência que
se supunha ser objetivo demonstraram ser preconceituosos pelos homens. 22