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Por que este esporte movimenta tanta gente assim?

Antes da Copa do Mundo de 1986, foi publicado um texto do então cardeal


Joseph Ratzinger, com o título: “Busquem as coisas do alto”. O texto foi escrito em
resposta à seguinte pergunta: “Por que este esporte movimenta tanta gente assim?”. O
jornal italiano tempo.it publicou a resposta de Bento XVI.
A cada quatro anos a Copa do Mundo se transforma num evento que fascina milhões de
pessoas. Nenhum acontecimento na Terra pode ter um efeito vasto assim, o que
demostra que esta manifestação esportiva toca qualquer elemento primordial da
humanidade.
O jogo vai além da vida do dia a dia. Mas, sobretudo nas crianças, tem a característica
de exercício para a vida. Simboliza a própria vida e a antecipa a experiência, por assim
dizer, de uma maneira de viver livremente estruturada.
Força o homem a se impor uma disciplina de modo a obter com treinamento o domínio
de si. Com o domínio, a superioridade; e com a superioridade, a liberdade. Ensina
sobretudo uma disciplinada harmônica: como jogo de equipe obriga à inclusão do
indivíduo na equipe. Unir os jogadores com um objetivo comum; o sucesso e o insucesso
de cada um está no sucesso e no insucesso de tudo.
Ensina também uma leal rivalidade, onde a regra comum permanece no elemento que
liga e une na oposição. Enfim, a liberdade do jogo, se este se executa corretamente,
anula a seriedade da rivalidade. Assistindo, os homens se identificam com o jogo e com
os jogadores, e participam assim, pessoalmente da união e rivalidade, da serenidade e
liberdade: os jogadores se tornam um símbolo da própria vida; o que repercute a sua
volta sobre eles: esses sabem que os homens representam neles, eles mesmos, e se
sentem confirmados. Naturalmente tudo pode ser inclinado a um espírito empresarial,
sujeitando tudo à seriedade sombria do dinheiro, transformando o jogo em indústria, e
criando um mundo fictício de dimensão assustadora.
Mas nem mesmo este mundo fictício poderia existir sem o aspecto positivo que está na
base do jogo: o exercício à vida e a superação da vida em direção ao Paraíso perdido. Em
ambos os casos se trata porém de buscar uma disciplina de liberdade; para exercer com
harmonia a rivalidade e o acordo em obediência à regra.
Talvez, refletindo sobre estas coisas, podemos novamente aprender do jogo a viver,
porque em si mesmo é evidente uma coisa fundamental: o homem não vive somente de
pão, o mundo do pão é somente o prelúdio da verdadeira humanidade, do mundo da
liberdade. A liberdade se nutre porém da regra, da disciplina, que ensina a harmonia e a
rivalidade leal, a independência do sucesso exterior e do arbítrio, e torna-se
precisamente assim verdadeiramente livre. O jogo, uma vida. Se vamos mais fundo, o
fenômeno de modo apaixonado pelo futebol pode nos dar mais do que um pouco de
diversão.

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