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O P L U R A L ISM O JU R Í D I C O C O M O O P Ç Ã O À I N A C ESSI B I L I D A D E D A
JUST I Ç A .
O presente artigo tem como objeto demonstrar a possibilidade das práticas extraoficias
para resolução de conflitos quando o Estado é omisso nas suas ações. O judiciário é o
órgão competente para dizer o direito e resolver os conflitos legalmente, porém
restritivo quanto no seu acesso. Como os indivíduos não podem ficar sem respostas e
sem resolução de seus conflitos as responsabilidades para soluções das adversidades
ficam nas mãos da sociedade, convalidando, neste sentido, o Pluralismo Jurídico:
sistema que trata de uma multiplicidade de manifestações ou práticas normativas,
dentro de uma mesma localidade, formal ou informal, a fim de dar garantia às
necessidades individuais, portanto, concorrente ao ordenamento jurídico imposto pelo
Estado.
INTRODUÇ Ã O
1
Acadêmico do curso de Direito das Faculdades Integradas do Brasil ± UniBrasil orientado
pelo professor Ms. Flavio Bortolozzi Junior.
2
1 P L U R A L ISM O JU R I D I C O
2
EHRLICH, Eugen. F undamentos da sociologia do direito. Brasília: UnB, 1986. p.27-29,
286.
3
3
MALISKA, Carlos Augusto. Pluralismo Jurídico e Direito Moderno: notas para pensar a
racionalidade jurídica da modernidade. Curitiba: Juruá, 2000. p.23.
4
EHRLICH, Eugen. Op.cit. p.25.
5
Ibidem, p.110.
4
6
SANTOS, Boaventura Sousa. O discurso e o poder. Ensaios sobre a sociologia retórica
jurídica. Porto Alegre: SAFE, 1988. p.7-99.
7
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: fundamentos de uma nova cultura no
direito. 3.ed. São Paulo: Alfa Omega, 2001. p.219.
8
BORTOLOZZI JUNIOR, Flavio. Pluralismo jurídico e a crise da modernidade. Curitiba,
2005. 66 f. Monografia (curso de direito). Pontifícia Universidade Católica do Paraná. p. 38.
5
rupturas e a adoção desses novos direitos, de acordo com a vontade de uma sociedade
marginalizada na iminente busca por melhores condições de vida. Quando os
segmentos passam por privações, carências e exclusões são motivadas a criarem seus
próprios direitos.
Portanto, reconhecer e valorizar as ações das associações na busca pela
resolução dos conflitos é uma realidade e realmente funcionam como modelos
alternativos de justiça, totalmente adequados principalmente nas comunidades
periféricas marginalizadas, inseridas em determinados modelos culturais e referindo-se
à criação de modelos mais democráticos de justiça.
O pluralismo é um projeto diferenciado para superar as tradicionais formas de
democracia e construir um sistema jurídico que resulte em práticas sociais insurgentes,
motivadas para a satisfação das necessidades que são essenciais aos indivíduos.
Muitas comunidades adotaram o pluralismo jurídico como forma influente em
suas comunidades, pois a desigualdade social, característica inerente ao forte
capitalismo, transforma os indivíduos em seres alienados, espoliados e desiguais, sem
valores, sem animo para a busca do direito positivado. A vida precária, de exclusão,
abandono, descaso e falta de atenção do Estado, configura a razão da adoção nas
comunidades do ordenamento mais favorável e que possa atender as necessidades
básicas de cada individuo.
Assim sendo, o Estado deve evitar condutas desviantes das funções de ajuda às
associações em constantes conflitos, tal que esta apatia estatal é tão verdadeira, não
propiciando subsídios para os indivíduos resolverem seus conflitos, que se torna
válido, na busca da dignidade da pessoa humana, a prática de medidas alternativas,
como fonte de satisfação das necessidades básicas. Incontestável, portanto, a presença
do pluralismo jurídico na realidade, trazendo consigo uma democratização e
socialização do direito, não podendo ser ignorado pelo Estado mas visto como meio de
evolução jurídica.
6
Afastar a pobreza no sentido legal ± a incapacidade que muitas pessoas têm de utilizar
plenamente a justiça e suas instituições ± não era preocupação do Estado. A justiça, como
outros bens, no sistema do laissez-faire, só podia ser obtida por aqueles que pudessem
enfrentar seus custos; aqueles que não pudessem fazê-lo eram considerados os únicos
responsáveis por sua sorte. O acesso formal, mas não efetivo à justiça, correspondia à
igualdade, apenas formal, mas não efetiva.10
9
MELO, Raissa de Lima e. Pluralismo jurídico: para alem da visão monista. Campina
Grande: EDUEP, 2002. p.355.
10
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: SAFE, 1988. p.
09.
7
11
PIOVESAN, Flavia. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo comparativo
dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 23.
12
CESAR, Alexandre. Acesso à justiça e cidadania. Cuiabá: UFTM, 2002. p.49.
13
RODRIGUES, Horacio Wanderlei. Acesso à justiça no direito processual brasileiro. São
Paulo: Acadêmica, 1994. p.28.
14
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Op.cit. p.15.
8
Quando o ordenamento é por demais rígido e distante das realidades e necessidades sociais as
comunidades criam seus próprios mecanismos e ignoram as leis os remédios estatais. Quando
o acesso à justiça é negado a determinados segmentos da sociedade, obviamente aos mais
pobres, a comunidade como que cria mecanismos de sobrevivência e acaba por instituir regras
próprias que lhes possibilite sobreviver.17
15
BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da
realização do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p.101.
16
HERKNHOFF, João Batista. O papel progressista do direito, dos juristas e dos juízes.
In:_____ (Org.). Direito e utopia. São Paulo: Acadêmica, 1993. p. 31-38.
17
BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Op.cit. p.104.
9
Já que as ações estatais são omissas, os indivíduos devem superar a inércia das
decisões dando garantia para os direitos inerentes aos cidadãos. São imprescindíveis
iniciativas destes para introduzir uma melhor participação nas decisões estatais e não
aceitar apenas imposições, garantindo a efetividade dos direitos.
A justiça deveria ser perfeitamente alcançada por todas as camadas sociais, mas
para isso são necessárias amplas reformas para atingir os pertinentes objetivos. É
preciso viabilizar uma justiça rápida e menos custosa que atenda os anseios da
população sem discriminação. Por outro lado, a sociedade precisa estar consciente e
exercer sua cidadania coerentemente, conhecendo as formalidades do sistema estatal a
fim de que possa também ser contribuinte para uma justiça eficaz.
São precisas soluções eficazes para a busca de uma justiça mais efetiva e
democrática, bem como reavaliar os obstáculos já colocados, tais como: a melhoria
dos instrumentos e condições de trabalho, aprimoramento dos procedimentos judiciais,
preparação dos operadores do direito, primar por medidas processuais céleres, adotar
postura de garantias efetivas dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana,
entre tantas outras possibilidades de melhorias.
O parâmetro de democratização do Poder Judiciário também é proposta viável
de reforma, concernente a questão da abertura de suas portas para os setores mais
carentes da população. Salienta-se ainda a desburocratização das exigências legais,
através da simplificação dos procedimentos, pautado pela economia de tempo e custos,
sem colocar em risco as garantias do devido processo legal e dos direitos individuais.18
Incumbe, portanto, ao Estado a organização de meios alternativos para dirimir
os conflitos da sociedade, alem daqueles tradicionais já existentes. Quando o Estado
não se organiza, essas práticas alternativas passam para as mãos dos indivíduos que
visam satisfazer suas necessidades básicas.
Enquanto não se consolidam leis, emendas, instituições de órgãos aptos para
atenderem as demandas que surgem, estes grupos buscam a forma alternativa para
consolidar seus litígios.
18
SADECK, Maria Tereza Aina. Poder judiciário: perspectiva de reforma. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-62762004000100002&lang=pt>
Acesso em: 16 abr 2009.
10
19
WOLKMER, Antonio Carlos. Op.cit., p.286.
20
Ibidem, p.287.
11
C O NSI D E R A Ç Õ ES F I N A IS
R E F E R Ê N C I AS
HERKNHOFF, João Batista. O papel progressista do direito, dos juristas e dos juízes.
In:_____ (Org.). Direito e utopia. São Paulo: Acadêmica, 1993. p. 31-38.
MELO, Raissa de Lima e. Pluralismo jurídico: para alem da visão monista. Campina
Grande: EDUEP, 2002.