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21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais

09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

CARACTERIZAÇÃO DA MICROESTRUTURA DO AÇO COMPLEX PHASE VIA


TÉCNICAS DE MICROSCOPIA ÓPTICA

E.X. Dias1; M.S. Pereira1


Av. Dr. Ariberto Pereira da Cunha, 333, 12.516-410 – Guaratinguetá, SP, Brazil
ericaximenes@yahoo.com.br
1
UNESP, Faculdade de Engenharia - Campus de Guaratinguetá, Guaratinguetá, SP,
Brazil

RESUMO

O desenvolvimento dos aços avançados de alta resistência tornou-se muito


importante na produção de automóveis com redução de peso, redução da emissão
de gases poluentes, maior segurança e viabilidade econômica. Dentre os aços
avançados de alta resistência destacam-se os aços Complex Phase (CP) que são
caracterizados por apresentarem alto limite de escoamento (superiores a 550 MPa);
alta resistência à tração e elevado alongamento (entre 10 a 20%). Eles são
considerados aços multifásicos por apresentarem uma microestrutura complexa
formada por ferrita, bainita, martensita e austenita retida. Este trabalho teve como
objetivo utilizar diferentes técnicas de microscopia óptica como iluminação em
campo claro; iluminação em campo escuro; método de luz polarizada e contraste por
interferência diferencial (DIC), utilizando o reagente químico Nital 3% para
caracterizar a microestrutura do aço Complex Phase, a partir de uma análise
qualitativa, para a identificação das fases presentes neste aço e de uma análise
quantitativa, para a quantificação destas respectivas fases. Os resultados, de
maneira qualitativa, foram eficazes quanto à identificação das fases presentes no
aço CP para as quatro condições de microscopia óptica tais como iluminação em
campo claro; iluminação em campo escuro; método de luz polarizada e contraste por
interferência diferencial (DIC); de maneira quantitativa, mostraram-se eficientes e
coerentes na determinação da fração de área da fase ferrita⁄austenita retida, cuja
média variou entre 64,7 a 67,3%; e da fração de área da fase bainita⁄martensita, cuja
média variou entre 37,1 a 39,0%, para as quatro condições de microscopia óptica.

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Palavras-chave: aço Complex Phase, caracterização microestrutural, microscopia


óptica.

INTRODUÇÃO

O setor automotivo é o maior cliente da indústria siderúrgica. Cerca de 10% do


aço produzido no mundo é canalizado ao setor automobilístico. O aço representa de
55 a 60 % do peso do veículo e cerca de 4 a 6% do preço final do carro, ou seja, ele
constitui a maior parte dos automóveis, e é pouco provável que um dia ele seja
completamente excluído deste mercado. Isso estimulou as siderúrgicas a acionar
mecanismos capazes de antecipar tendências em termos de novos materiais,
buscando agregar maior conteúdo tecnológico ao aço consumido pelo setor
automotivo(1).
Hoje em dia, o foco das indústrias automotivas aliadas às indústrias
siderúrgicas é conseguir uma redução do peso total da estrutura, suas peças e
componentes produzidos em aços de seus veículos; visando assim, uma maior
segurança e um melhor conforto; uma diminuição do consumo de combustível e da
emissão de gases poluentes(2).
A partir de estudos feitos, as montadoras passaram a substituir os aços
convencionais, tais como, aços de alta resistência e baixa liga e de baixo carbono,
pelos aços avançados de alta resistência, tais como, aços Dual Phase (DP); aços
TRIP (Plasticidade Induzida por Transformação) e aços Complex Phase (CP)(2).
O que diferenciou os aços convencionais de alta resistência dos aços
avançados de alta resistência foi a sua microestrutura.
Aços convencionais apresentam microestruturas ferríticas; Aços avançados de
alta resistência apresentam microestruturas multifásicas, ou seja, contendo ferrita,
bainita, martensita e/ou austenita retida.
Os aços Complex Phase apresentam uma morfologia bastante peculiar de
fases duras (martensita e bainita) e de menor dureza intercaladas, combinadas com
precipitados finos e dispersos entre as fases(3).
A aplicação dos aços Complex Phase é favorecida pela sua alta capacidade de
absorção de energia e resistência à fadiga, estas classes são particularmente
adequadas para os componentes de segurança do automóvel (tais como pilares,
vigas de impacto lateral e de pára-choque) exibindo boa resistência ao impacto,
sendo apropriados também para componentes do sistema de suspensão(4).

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MATERIAIS E MÉTODOS

O aço Complex Phase foi cedido pela indústria automobilística Renault. É um


aço multiconstituído de baixo carbono e baixa liga. Ele apresenta alto limite de
resistência, entre 800 e 950 MPa, limite de escoamento entre 600 a 720 MPa e alto
alongamento entre 10 a 20%.
Para caracterizar a microestrutura do aço de fases complexas (Complex Phase)
foram utilizadas outras técnicas de microscopia óptica como iluminação em campo
escuro, método de luz polarizada e contraste por interferência diferencial (DIC), além
da técnica mais clássica que é a iluminação em campo claro. As técnicas de
microscopia óptica foram executadas a partir de técnicas metalográficas para a
preparação das amostras tais como, seccionamento; embutimento a frio; lixamento e
polimento e com a utilização de ataque químico com o reagente químico Nital 3%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise metalográfica para caracterizar a microestrutura do material mostrou


ter eficiência tanto de maneira qualitativa como quantitativa, pois a partir das
fotomicrografias obtidas por microscopia óptica, não houve nenhuma deformação e
risco na superfície da amostra.
1) Técnica qualitativa:
Nesta primeira etapa foram apresentados e discutidos os resultados obtidos
neste trabalho, sob um aspecto qualitativo, referente à identificação das fases
presentes no aço de fases complexas.
- Reagente Químico: Nital 3%
Na Figura 1(a), a amostra foi atacada com Nital 3%, utilizando-se o método de
ataque por esfregamento, por um tempo de 15s, no sentido longitudinal paralelo à
laminação e seca ao ar frio forçado a uma distância de aproximadamente 10cm da
superfície da amostra, onde se evidenciou duas tonalidades das fases presentes,
uma mais clara e uma mais escura. Para a iluminação em campo claro, a mais clara
corresponde à fase ferrita e austenita retida, enquanto a mais escura corresponde à
martensita e bainita. Foi possível delinear os contornos de grãos, os quais para o
aço de fases complexas são mais refinados. Na Figura 1(b), a amostra foi atacada
também utilizando-se o método de ataque por esfregamento com o reagente
químico Nital 3% em iluminação em campo escuro, pode-se observar o inverso das

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tonalidades das fases presentes. A mais escura corresponde à fase ferrita e


austenita retida enquanto a mais clara corresponde à fase martensita e bainita.
Pode-se observar contornos de grãos bem definidos e homogêneos.

Fig. 1 - (a) Ataque com Nital 3% por 15s em campo claro. Ampliação 500X. (b)
Ataque com Nital 3% por 15s em campo escuro. Ampliação 500X.

Na Figura 2(a), a amostra foi atacada por esfregamento com Nital 3% por 15s,
usando o contraste por interferência diferencial (DIC), pode-se observar pequenas
diferenças de topografia ou de altura na superfície da amostra. Foi possível definir
os contornos de grãos, os quais são homogêneos e refinados. Destacou-se a fase
ferrita e austenita retida nos pontos de topografia e a fase bainita e martensita nos
pontos que não há topografia. Na Figura 2(b), a amostra foi atacada com o reagente
químico Nital 3%, usando o método de luz polarizada, identificou-se tonalidades de
cinza, em que o cinza mais claro representa à fase ferrita e austenita retida e o cinza
mais escuro representa à fase bainita e martensita. Foi possível observar grãos mais
refinados, característica do aço de fases complexas.

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Fig. 2 - (a) Fotomicrografia de DIC após ataque com Nital 3% por 15s.
Ampliação1000X. (b) Fotomicrografia de luz polarizada após ataque com Nital 3%
por 15s. Ampliação 500X.

2) Metalografia quantitativa:

Nesta segunda etapa do trabalho serão apresentados e discutidos os


resultados obtidos referentes à quantificação das fases presentes no aço Complex
Phase.
Utilizando-se ferramentas de processamento digital de imagens foi possível
calcular as frações de área da fase ferrita⁄ austenita retida e da fase
bainita⁄martensita, a partir dos campos obtidos pelos ataques químicos com o
reagente químico Nital 3%.
Para o processamento digital de imagens utilizou-se o software Image J. O
nível de segmentação ou também chamado de threshold significa o limiar em que
toda a fase, ou seja, o local certo da quantificação é demarcada pelo usuário, de
maneira que o software Image J possa contabilizar a área selecionada.
- Nital 3% (Fase ferrita⁄austenita retida):
Com os valores das frações de área obtidos no Image J, como mostrado na
Tabela 1, pode-se notar que a porcentagem da fase ferrita⁄austenita retida variou
entre 60,7% até 70,6%, e a partir destes valores, foi calculada a média e o desvio
padrão, cujos valores são respectivamente, 64,7% e 3,1.

Tab. 1 - Porcentagem de ferrita⁄austenita retida para Nital 3%.

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- Nital 3% (Fase bainita⁄martensita):


Com os valores das frações de área obtidos no Image J, como mostrado na
Tabela 2, pode-se notar que a porcentagem da fase bainita⁄martensita variou entre
34,4% até 43,0%, e a partir destes valores, foi calculada a média e o desvio padrão,
cujos valores são respectivamente, 39,0% e 3,1.

Tab. 2 - Porcentagem de bainita⁄martensita para Nital 3%.

Com este gráfico pode-se notar uma linearidade bastante grande das médias
com seus respectivos desvios padrões tanto para uma porcentagem de
ferrita⁄austenita retida como para uma porcentagem de bainita⁄martensita, o que
mostra que a variação do número de campos para cada condição de microscopia
óptica não afeta na eficiência e coerência dos resultados. Pode-se observar que os
desvios padrões variaram entre 2,0 e 3,0.

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Fig. 3 - Gráfico das médias em função de seus respectivos desvios padrões para
uma porcentagem de ferrita⁄austenita retida e de bainita⁄martensita.

CONCLUSÕES

Pode-se concluir que:


Modos de secagem:
- Utilizando ar frio forçado a uma distância de aproximadamente 10 cm da superfície
da amostra foi eficaz para ataque químico com Nital 3%.
Modos de ataques químicos:
- O modo de esfregamento foi eficiente para ataque químico com Nital 3%.
Técnica Qualitativa:
- Nital 3%: os resultados foram eficazes quanto à identificação das fases presentes
no aço Complex Phase.
Metalografia Quantitativa:
- Nital 3%: Com relação à fração de área da fase ferrita⁄austenita retida se
mostraram eficientes.
- Nital 3%: Com relação à fração de área da fase bainita⁄martensita foram coerentes
e eficazes.

REFERÊNCIAS

1. VEIGA, J. P. C.; COVINO, M. Da Carroça ao estado da arte. Metalurgia e


Materiais, v. 56, n. 500, p. 388-398, Jul. 2000.
2. MARTINS, M.S. Caracterização em Impacto e Fadiga do Aço Estrutural de
Fases Complexas, utilizado na Indústria Automotiva. Tese (Doutorado em
Engenharia Mecânica na Área de Projetos e Materiais) UNESP, Campus de
Guaratinguetá, 2011.
3. FUKUGAUCHI, C.S. Metodologia para caracterização metalográfica de um
aço TRIP por microscopia óptica. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica
na área de Materiais) – UNESP, Campus de Guaratinguetá, 2010.
4. BHATTACHARYA, D., FONSTEIN, N., GIRINA, O., GUPTA, I., YAKUBOVSKY,
O., A Family of 590 MPa, Advanced High Strength Steels with Various
Microstructures. 45th MWSP Conference Proceedings, Vol. XLI. MS&T, 2003.

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CHARACTERIZATION
OF COMPLEX PHASE STEEL MICROSTRUCTURE VIA OPTICAL MICROSCOPY
TECHNIQUES

ABSTRACT

The development of advanced high-strength steels became very important in


the production of automobiles with weight reduction, reduction of emission of
polluting gases, greater security and economic viability. Among the advanced high-
strength steels are steels Complex Phase (CP) that are characterized by high yield
(over 550 MPa); high tensile strength and high elongation (between 10 to 20
percent). They are considered multiphase steels for presenting a complex
microstructure consisting of ferrite, Bainite, martensite and retained austenite. This
work aimed to use different optical microscopy techniques as bright field lighting;
dark field lighting; polarized light method and differential interference contrast (DIC),
using the chemical reagent Nital 3% to characterize the Complex Phase steel
microstructure, from a qualitative analysis, in order to identify the phases present in
this steel and a quantitative analysis for quantification of these respective phases.
The results of qualitative way, were effective as the identification of phases present in
steel CP to the four conditions such as optical microscopy in brightfield illumination;
dark field lighting; polarized light method and differential interference contrast (DIC);
quantitative way, proved to be efficient and consistent in determining the fraction of
ferrite phase ⁄ area retained austenite, whose average ranged from 64.7 to 67.3%;
and the fraction of Bainite/martensite phase area, whose ages ranged from 37.1 to
39.0%, to the four conditions of optical microscopy.

Keywords: Complex Phase Steel, Microstructural characterization, Optical


microscopy.

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