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BOLETIM DO CEIB Belo Horizonte, Volume 22, Número 69, Março/2018

OS TERCEIROS E A SUA PROCISSÃO DE PENITÊNCIA


EDITORIAL
Uma memória Franciscana em S. Miguel, Açores, Portugal,
dos séculos XVII a XIX
O Boletim do Ceib tem o prazer
de apresentar, neste número 69, Duarte Nuno Chaves*
artigo do Dr. Duarte Nuno Chaves,
português dos Açores. Ele fez
doutorado em Évora e continua
f a zen do pes qu is a s o bre a
imaginária sacra e sua função
social, uma das abordagens de
interesse de nossa associação.
Outra boa notícia é que, conforme
informação recebida de Dr. Mozart
Bonazzi da Costa, que presidiu o
IX Congresso Internacional do
Ceib, realizado na PUC/São Paulo
em 2015, a publicação eletrônica
da revista Imagem Brasileira, que
correspo nde ao s A na i s do I X
Congresso já estão em fase final
e, em breve, estará à disposição
dos autores dos artigos, sócios do
Ceib e de outros interessados.
Informamos que economizamos Figura 1: As imagens de vestir da procissão de penitência da Ribeira Grande,
bastante durante todo o ano de década de 1950. Arquivo do Museu Vivo do Franciscanismo.
2017 (vejam a Prestação de Contas
na página 6), e conseguimos, com INTRODUÇÃO
recursos próprios, já em 2018, Este artigo tem por base parte de uma Falar da importância da Venerável Ordem
i m pri mi r e env ia r pa r a o s investigação realizada no Terceira da Penitência no Império
associados,instituições e confe- arquipélago dos Açores, aos ultramarino português, durante a Idade
encistas, os quatro números do fenómenos processionais oriundos Moderna, é falar de uma dinâmica
Boletim do Ceib, (65 e 66, e 67 e dos cortejos de penitência evangelizadora imposta pela família
68), que tínhamos disponibilizado Franciscana dos séculos XVII a XIX. franciscana a uma escala global com
a pe nas em e di çõ e s di gi ta is . Das nove ilhas que compõem este influência direta em quatro continentes.
Juntando dois números de cada espaço insular, apenas as ilhas de S.
v e z, f ic ou ma is ba r a ta a Miguel e da Terceira ainda mantêm Particularmente durante os séculos XVII
impressão e também o envio pelos e XVIII, os leigos franciscanos utilizaram
manifestações processionais
Correios. Esperamos que seja uma os cortejos penitenciais no período
provenientes desta época 1 . As
satisfação para nossos sócios e
manifestações processionais quaresmal, como forma de catequização
amigos.
quaresmais tiveram e, continuam a de uma população maioritariamente
Temos ainda outra informação ter, um papel de relativa importância analfabeta. Estas manifestações
importante: no dia 26 de outubro na formação identitária destes povos descreviam-se pela dramatização
de 2 0 1 8 , um a s ext a -f ei r a , insulares. Em pleno século XXI estas litúrgica, utilizando para esse fim um
estaremos realizando mais uma manifestações de religiosidade programa iconográfico composto de
eleição para a diretoria do Ceib, católica encontram-se agora incluídas grupos escultóricos formados
mandato 2018/2020. De acordo nos roteiros de turismo cultural e principalmente por imagens de vestir,
com o Estatuto, as chapas com religioso, enquanto elemento situação que potenciou um fenómeno que
ca ndi dat ura s dev erã o s er potenciador da sustentabilidade e se representou pela presença de rituais
encaminhas até um mês antes, ou promoção das localidades onde as inerentes ao costume de trajar a
seja até 26 de setembro de 2018. mesmas se encontram inseridas. escultura sacra, com mantos e vestuário
Esclarecemos que fazer parte da apropriado na caracterização dos quadros
di ret o r i a é um a a t iv i da de processionais. Este fenómeno foi
Os acontecimentos que a seguir
inteiramente voluntária, sem
transcrevemos são parte de um potenciado em Portugal devido ao
valores a serem recebidos pelos
estudo de fundo realizado na ilha de primeiro Capítulo Geral dos seculares
participantes.
S. Miguel, Açores (2012-2016). franciscanos, efectuado em Toledo, na
2 Belo Horizonte, Volume 22, Número 69, Março/2018 BOLETIM DO CEIB

manifestações era potenciado


implementação de práticas de
penitência colectiva, reflectidas nas
procissões da Ordem Terceira da
Penitência, provavelmente na ilha de
Santa Maria, decorriam os primeiros
anos da década de 1620. Nestas
manifestações era potenciado muito o
uso da imaginária processional,
particularmente imagens de vestir,
como um elemento catequizador das
populações insulares3.

De um total de cinco, ou eventualmente


seis procissões de penitência que se
realizaram na ilha de S. Miguel, no
período que compreende a segunda
metade do século XVII até à primeira
metade do século XX, apenas a cidade
da Ribeira Grande mantém em
atividade, em pleno século XXI, a sua
procissão dos Terceiros com origem em
Figura 2: A procissão de penitência na Figura 3: Preparação das imagens de
1664. Uma das principais atribuições vestir da procissão de penitência da
década de 1970. Arquivo do Museu
Vivo do Franciscanismo.
dos Irmãos da Penitência era a Ribeira Grande, no ano de 2011. Arquivo
organização das diversas mani- do Museu Vivo do Franciscanismo.
festações religiosas na Quaresma,
Espanha, no ano de 1606, tendo como através de funções de carácter litúrgico Estamos em crer que as primeiras
consequência imediata a difusão dos que anunciavam um tempo de procissões Seiscentistas realizadas em
seus ideais na metrópole, sendo que purificação e preparação para o S. Miguel, apenas contariam com a
estes rapidamente se propagam no Mistério Pascal. Esta liturgia era presença escultórica da imagem do
eixo atlântico, num primeiro momento composta por cortejos processionais, Cristo preso à coluna. Esta tese é
aos arquipélagos da Madeira e Açores de entre os quais se destacam as baseada pelos acontecimentos
e posteriormente ao Brasil, ainda antes procissões dos Terceiros ou da ocorridos no concelho da Ribeira
da década de 1620. Penitência, Passos, Ecce-Homo, Grande, em meados do século XVII, em
Via- sacra e Enterro do Senhor. que os leigos franciscanos desta
O principal préstimo processional dos localidade já haviam tentado adquirir
Terceiros era realizado tradi- No dia 16 de maio de 1624 a população no reino uma imagem de “Cristo à
cionalmente na Quarta-feira de Cinzas, da cidade de Ponta Delgada, capital da coluna” para a sua procissão de
ou no primeiro Domingo da Quaresma, ilha de S. Miguel, saiu à rua para penitência. Esta intenção resultou, no
período entendido pelos católicos como assistir às cerimónias de tomada de entanto, numa adversidade, devido ao
uma preparação da Páscoa, sendo esta hábito dos primeiros irmãos da Ordem ataque de corsários que teriam feito a
época utilizada pelos leigos Terceira da Penitência, tendo o cortejo imagem cativa na viagem de Lisboa
franciscanos para historiar e percorrido algumas ruas desta cidade para S. Miguel. Numa segunda
dramatizar o percurso da Ordem em procissão 4. Este evento poderá tentativa, com sucesso, em 8 de Junho
Franciscana e do seu patriarca S. eventualmente ter sido a primeira de 1664, aporta na costa norte da ilha
Francisco de Assis. A existência procissão de penitência da Ordem uma caravela transportando a imagem
Seráfica é narrada num cortejo Terceira da Penitência ocorrida nesta do “Senhor dos Terceiros”, seguindo
teatralizado por intermédio de ilha. Num livro de inventário desta depois em procissão até à igreja Matriz
“Atores” trajados a rigor — “As fraternidade, datado de 1702, é de N.ª Sr.ª da Estrela, onde esteve até
Imagens de Vestir” que representam o referida uma imagem do “Senhor atado à quinta-feira de Corpus Cristi e, na
percurso do fundador da Ordem desde à coluna” que utilizavam na procissão, tarde desse mesmo dia, acompanhada
a entrega da Regra em 1209 até à sua e uma segunda imagem de “Cristo com pelo povo, seguiu até ao seu destino
morte em 1226, sendo a sua trajectória a sua túnica”. Nesta altura a final, o convento de frades
de vida aclamada perante uma fraternidade ainda não possuía o franciscanos desta vila, com invocação
comunidade de Santos que representam tradicional acervo escultórico a N.ª Sr.ª de Guadalupe7.
os três ramos da família franciscana2. elucidativo dos principais momentos da
Ordem5. No mesmo documento existe Esta notícia sobre a fraternidade da
1. A memória das procissões de uma reportação a despesas efetuadas Ribeira Grande vem alicerçar a tese que
penitência em S. Miguel. Da entre 1716/17, na qual são aludidas as últimas décadas do século XVII ainda
origem ao apogeu gastos com a procissão de penitência seriam um momento de cimentação do
Cerca de cento e oitenta anos após a e as celebrações alusivas a St.ª Isabel, movimento terciário na ilha de S.
fixação da Ordem Franciscana nos rainha de Portugal . Miguel, pois este importante município
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Figura 5: Procissão dos Terceiros da Ribeira Grande, no ano de 2012.


Arquivo do Museu Vivo do Franciscanismo.
Figura 4: Preparação das imagens de
vestir da procissão de penitência da vão realizar uma visita a S. Miguel,
A prática de “tomar a disciplina”
Ribeira Grande, no ano de 2011.
pelos irmãos terceiros, da qual fazia durante 8 meses, com início a 6 de
Arquivo do Museu Vivo do
Franciscanismo. parte o açoitamento e a Dezembro de 1838. É através desta
autoflagelação em público, bem como obra que nos chega uma descrição
micaelense apenas dava os primeiros o uso de crânios humanos, coroas de pormenorizada do ritual utilizado pelos
passos na sua criação, e espinhos e cruzes utilizadas como Terceiros de Vila Franca do Campo, no
consequentemente na organização da adereços cénicos durante a procissão, decorrer de uma das suas procissões
tradicional procissão de penitência. Só passam a ser um costume comum de penitência.
em 1668 os seculares franciscanos vão neste tipo de manifestação pública,
possuir as condições necessárias à condizente, aliás, com o seu caráter Em relação a esta descrição, será de
instituição de uma sede no espaço de movimento penitente. As registar que o evento em causa
conventual situado no município da investigações realizadas pelo Pe. João acontece precisamente seis anos após
Ribeira Grande, devido à construção de José Tavares (1860-1930), no a expulsão das Ordens Religiosas dos
capela anexa à Igreja de N.ª Sr.ª de decorrer das primeiras décadas do Açores, devido à legislação Liberal de
Guadalupe8. século XX aos arquivos presentes nas 1832/34, pelo que não é relatada a
igrejas do concelho da Lagoa, presença de frades no decorrer da
No concelho vizinho da Lagoa, a associadas à sua vivência religiosa solenidade. A descrição está centrada
fraternidade instituída no convento de iniciada no final da década de 1870, em dois momentos, o religioso, da
invocação a St.º António manteve, ao apontam-nos alguns indícios na forma celebração litúrgica no interior da
longo dos séculos XVIII e XIX, uma forte de estruturação destas procissões na igreja, e o secular, no qual o acervo
atividade de envangelização, traduzida segunda metade do século XIX. escultórico acompanhado pelo
nas múltiplas procissões que organizava. contingente de irmãos terciários
Fruto das diversas viagens percorre as ruas da localidade
É disso exemplo a constante empreendidas por naturalistas aos praticando atos de mortificação
preocupação com a renovação do acervo Açores nos séculos XVIII e XIX, perante os olhares da população.
escultórico da procissão dos Terceiros, chegam-nos alguns olhares sobre a
ocorrida ao longo do último quartel deste vivência nas ilhas durante este O livro retrata de forma primorosa a
século 9 , bem como com os valores período, particularmente na ilha de visão que estes dois viajantes
despendidos com as solenidades da S. Miguel. Estas descrições são desfrutaram do interior da igreja
Quaresma, que apresentavam o gasto efetuadas com base na metodologia durante o sermão, achando-se a ação
executado no orçamento de 1827, com científica da época, sendo publicados descrita como se de uma representação
uma verba de 11$200 reis, representando estudos descritivos não só da teatral se tratasse, onde os atores
26% da despesa para esse ano10. Já na geologia e botânica da ilha, mas apresentavam papéis bem definidos.
segunda metade desta centúria, no ano também temáticas relativas ao modo A celebração solene da missa era
de 1861, é efetuada uma despesa de de vida das populações, com relato dirigida por um reverendo, descrito
8$630 reis, utilizada para a compra de da sua agricultura, comércio e como possuidor de uma expressão
hábitos para a procissão e para a costumes sociais. É nesta perspetiva intelectual, situação pouco comum na
imagem de Sto. Ivo11. que os irmãos Joseph e Henry Bullar generalidade dos clérigos referenciados
4 Belo Horizonte, Volume 22, Número 69, Março/2018 BOLETIM DO CEIB

penitência dos irmãos Terceiros em


Ponta Delgada 15 . Apesar destas
restrições ao cortejo penitencial em
1892, o Diário dos Açores noticiava a
realização da procissão dos Terceiros16.
Em 1894 Francisco Maria Supico,
importante jornalista e intelectual da
época, na sua publicação periódica,
intitulada de Persuasão, efetua o
seguinte comentário: “Sexta-feira
começam os Sermões de Penitência, em
S. José. Este ano deixa de fazer-se a
procissão denominada de Terceiros”17.

As notícias fornecidas por João José


Tavares, Joaquim Cândido de Avelar e
José Maria Supico não correspondem,
quanto a nós, ao término destas
procissões nos concelhos de Lagoa e
Ponta Delgada, como se poderia supor
numa primeira leitura das suas notas
históricas. Estas realidades
representam antes, uma demonstração
Figura 6: Saída da imagem do Senhor Santo Cristo dos Terceiros. da diminuição e consequente supressão
das ações de mortificação expressas ao
pelos autores ao longo desta obra. O longo da segunda metade desta centúria. longo dos cortejos. Aliás, Tavares
templo estava repleto de crentes, Socorrendo-nos novamente do trabalho descreve o desprendimento com que
realçando-se que a componente do Pe. João José Tavares, verificamos alguns terciários se posicionavam
feminina se encontrava em maior que os penitentes já não se durante os momentos de piedade
número, em contraposição à incorporavam no cortejo penitencial do popular e penitência decorridos no
representação masculina, que se concelho da Lagoa no ano de 1862, pois passar das procissões: “Alguns deles
achava representada essencialmente os sacos dos profetas e dos penitentes iam tão pouco compenetrados do seu
por “homens idosos ou de idade foram vendidos em 1861 por 9$500 reis. papel, que dirigiam gracejos aos
madura e de rapazitos”12. As mulheres, Para o ano de 1864, o investigador espectadores, incutindo medo às
interpretadas maioritariamente por Joaquim Cândido Abranches, na crianças e às mulheres (…)” 18. Se
elementos de condição social inferior, publicação Álbum Micaelense, informa efetuarmos uma breve leitura pelos
envergavam o tradicional traje de que os penitentes “vestidos de saco e periódicos da época, facilmente se
capote e capelo, situação que segundo com uma cruz ás costas” foram constata que estas procissões ainda se
os autores originava um cenário único, proibidos de participar na procissão de mantiveram em atividade até ao final
constituído por capelos azuis-escuros
com um lenço escarlate ou amarelo13.
É ainda de destacar nesta descrição a
organização no interior da igreja, feita
de forma hierárquica, onde as senhoras
da “nata da sociedade” se deparavam
diferençadas por um vestuário distinto,
envergando mantos e cabeças cobertas
por “chapéus ingleses”, e posicionadas
de forma discreta no interior do templo
“felizmente para o bom efeito da cena”
14
.

2. Da decadência à extinção
O período a que corresponde à narração
efetuada pelos irmãos Bullar, acontece
num momento de viragem para a
importância que estas manifestações
processionais passariam a ter no
calendário litúrgico dos católicos
micaelenses, acabando estas por
decair no interesse demonstrado pela Figura 7: Trabalhos de conservação preventiva no Museu Vivo do Franciscanismo,
população em geral, nomeadamente ao 2009. Arquivo do Museu Vivo do Franciscanismo.
BOLETIM DO CEIB Belo Horizonte, Volume 22, Número 69, Março/2018 5
na centúria seguinte, desde o ano de
2013, com o entretanto criado Museu
Vivo do Franciscanismo, sediado no
antigo convento franciscano da Ribeira
Grande. Apesar da religiosidade do povo
açoriano, a associação efetuada entre
as novas entidades responsáveis pela
realização do préstimo processional,
resulta numa lógica de sustentabilidade
cultural do Centro Histórico da Ribeira
Grande, inserido nos dias de hoje numa
dinâmica de cartaz turístico.
Quanto ao acervo escultórico desta
procissão, continua a estabelecer uma
forte atividade de mediação cultural
junto da sociedade local, nomeadamente
no primeiro domingo da Quaresma,
altura em que as imagens são resgatadas
pela comunidade para saírem em
cortejo, regressando ao museu no fim
da solenidade. Esta realidade contraria
o conceito “estanque” da musealização,
Figura 8: O interior do Museu Vivo do Franciscanismo na cidade da Ribeira no qual os objetos são privados da sua
Grande, (2018). Arquivo do Museu Vivo do Franciscanismo. função original, imbuídos de novos
significados, já que as imagens de vestir
da procissão de penitência da Ribeira
do século XIX, no caso lagoense, e XIX, e às atas da Mesa existentes até
Grande mantêm, em permanência, o
irrompendo até meados do século meados do século seguinte. A
seu significado original aglutinado ao
seguinte como aconteceu com a contabilidade da fraternidade da
novo significado museológico.
procissão realizada na cidade de Ponta Ordem Terceira da Ribeira Grande dá-
Delgada. nos informações precisas, e
confirmam os gastos com as NOTAS E REFERÊNCIAS
Com o expirar do século XIX, todas as solenidades religiosas até ao ano 1
O arquipélago dos Açores, situado no
fraternidades da Ordem Terceira na ilha económico de 1931/32, época em que Atlântico Norte, é constituído por nove ilhas,
de S. Miguel apresentam um ponto em já não encontrámos nenhuma rubrica reunidas em três grupos geográficos: grupo
comum, a falta de identidade Oriental, composto por Santa Maria e São
específica para gastos com Mig u el ; g r u p o Ce n tr al, p o r Ter ce ir a,
franciscana no interior destas celebrações religiosas. Paralelamente Graciosa, São Jorge, Pico e Faial; e grupo
organizações, potenciadas por uma aos analisarmos o Fundo da Ordem Ocidental, por Flores e Corvo. O ponto mais
progressiva descaraterização das suas Terceira, depositado no arquivo or ie n tal do ar q u ip é l a g o d is t a
manifestações públicas, que vão municipal desta cidade micaelense, aproximadamente 1300 km da costa europeia
culminar com uma lenta e agoniante e africana e no seu ponto mais ocidental
deparámo-nos com documentos aproximadamente 2000 Km do continente
extinção da estrutura terciária, avulsos confirmando que, em 1939, já americano.
deixando, em pleno século XX, ao não competia à Mesa Administrativa Na atualidade, um dos principais centros
abandono grande parte do seu da Ordem Terceira a organização das políticos e económicos do arquipélago está
património. cerimónias da sua principal procissão, constituído na ilha de S. Miguel, sendo aliás
a sede do Governo Regional dos Açores. A ilha,
já que os custos com a realização do com uma população residente de 137.699
3. A procissão dos Terceiros de evento passam a ser suportados por habitantes (246.102 habitantes em todo o
Ribeira Grande – A difusão de uma subscrição pública da arquipélago).
uma memória no Séc. XXI. responsabilidade da Comissão
A cidade da Ribeira Grande, na costa Organizadora da Procissão dos
2
Cf. CHAVES, Duarte Nuno. 2018. AS IMAGENS
norte da ilha de S. Miguel, representa DE VESTIR DA PROCISSÃO DOS TERCEIROS: Um
Terceiros, que era constituída por
legado patrimonial franciscano em S. Miguel,
na atualidade o último ponto de elementos que não constavam da Açores, Séculos
identificação com as tradições última lista de Irmãos datada de 1946. XVII a XXI. Ribeira Grande, Museu Vivo do
franciscanas de paramentar e ostentar Devido a estes dados, concluímos que Franciscanismo.
a imaginária sacra em cortejos a extinção dos seculares franciscanos
processionais, neste espaço insular.
3
Cf. CHAVES, Duarte Nuno. 2013.
acontece em meados do século XX nesta Os Terceiros e os seus “santos de vestir”: Os
A responsabilidade de organização da localidade de S. Miguel. últimos guardiões do património franciscano
procissão dos Terceiros encontrou-se a na cidade da Ribeira Grande, S. Miguel Açores.
cargo dos leigos franciscanos de 1664 O encargo na organização da procissão Ribeira Grande, Câmara Municipal da Ribeira
até à década de 1930, situação dos Terceiros passou desde meados da Grande, 2013.
comprovada pela observação dos livros década de 1950 para a misericórdia 4
Cf. Arquivo Paroquial de São José
de receita e despesa relativos ao século local, sendo essa tarefa repartida, já (APSJ),Livro de Profissões da Venerável
6 Belo Horizonte, Volume 22, Número 69, Março/2018 BOLETIM DO CEIB
Ordem Terceira da Penitência de Ponta
Delgada, com auto de abertura de 1624: fl. 3. PRESTAÇÃO DE CONTAS - 2017
CENTRO DE ESTUDOS DA IMAGINÁRIA BRASILEIRA - CEIB
5
Cf. APSJ, Livro de Inventário da Venerável
Ordem Terceira da Penitência de Ponta
Delgada, de 1702 a 1766.

6
Idem: fl. 88.
7
Cf. CHAVES, Duarte Nuno. 2013. Os Terceiros
e os seus “santos de vestir”: Os últimos
guardiões do património franciscano na cidade
da Ribeira Grande, S. Miguel Açores. Ribeira
Grande, Câmara Municipal da Ribeira Grande,
2013: 90.
8
Cf. Arquivo Municipal da Ribeira Grande
(AMRG), Fundo da Ordem Terceira, Cópia de
Público Instrumento de Doação de 15-02-
1668.
9
Cf. TAVARES, João José (P.e). 1979. A Vila
da Lagoa e o seu Concelho: Subsídio para a
sua história. F. Carreiro da Costa (coord.),
Ponta Delgada, Câmara Municipal da Lagoa.
10
Cf. Arquivo Paroquial de Santa Cruz (APSC),
Livro de contabilidade da Ordem Terceira da
Lagoa -1825 a 1883 : fl.19.

Cf. APSC,Livro de contabilidade da Ordem


11

Terceira da Lagoa – 1825 a 1883: fl 54.


12
Cf. BULLAR, Joseph e Henry. 2001.Um
inverno nos Açores e um verão no Vale
das Furnas. Ponta Delgada, Instituto Cultural
de Ponta Delgada:96-97.
13
Idem ibidem. Total de Receitas: R$19.976,49 Obs. O reembolso corresponde a despesas do Ceib pagas
pela presidente, enquanto o Banco do Brasil não
Total de Despesas: R$10.544,21 autorizava a reabertura da conta. Motivo: nova diretoria
14
Idem ibidem.

15
Cf. ABRANCHES, Joaquim Cândido. 1869.
Álbum Michaelense Ponta Delgada, Typ. de * Duarte Nuno Chaves é professor
Manoel Corrêa Botelho.
CEIB
convidado da Universidade dos Açores,
Presidente de Honra: Myriam Andrade
Pesquisador Integrado do CHAM – Ribeiro de Oliveira; Presidente: Beatriz
16
“No domingo, 6 do próximo mez de
Centro de Humanidades e Consultor Coelho; Vice-Presidente: Maria Regina
Março, de tarde, sairá da egreja de S. José a
científico do Museu Vivo do Emery Quites; 1o Secretário: Agesilau
procissão dos Terceiros, feita a expensas da Neiva Almada; 2 o Secretário: Fábio
Franciscanismo. Bolsista de pós
Ordem de S. Francisco, ereta na mesma Zaratini; 1a Tesoureira: Daniela Cristina
egreja. Pregará o reverendo sr. João Jacintho
doutorado do Fundo Regional de Ciência
e Tecnologia do Governo Regional dos Ayala; 2a Tesoureira: Carolina Maria Pro-
de Sousa, cura em Rabo de Peixe.” Cf. Diário ença Nardi.
dos Açores, nº 325, de 19-02-1892. Açores. ENDEREÇO
Avenida Antônio Carlos, 6627
17
Cf. A Persuasão, 7 de fevereiro de 1894. OBS. : O texto e normatização foram 31.270-091, Belo Horizonte, MG
mantidos em português de Portugal, Tefefone: + 55 31 3409-5290
18
Cf. Tavares, 1979: 216. conforme o original do autor. E-mail: ceibimaginaria@gmail.com
Site: www.ceib.org.br

BOLETIM
ISSN:1806-2237
Projeto gráfico, arte e editoração:
Helena David (In memoriam) e
Beatriz Coelho;
Revisão: Agesilau Neiva Almada,
Maria Regina Emery e Daniela Ayala.
Tiragem 300 exemplares;
Periodicidade: quadrimestral.
Os artigos assinados são de
responsabilidade dos autores e não
refletem necessariamente a opinião
do BOLETIM DO CEIB.

É permitida a reprodução de fotos


ou artigos desde que citada a fonte.
Figura 9: Mapa dos Açores, Portugal.

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