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Artigo - Alberto Do Amaral Júnior - Comércio Internacional e Meio Ambiente - Abordagens No Âmbito Do GATT e Da OMC PDF
Artigo - Alberto Do Amaral Júnior - Comércio Internacional e Meio Ambiente - Abordagens No Âmbito Do GATT e Da OMC PDF
RESUMO
Este artigo tem por objetivo identificar o tratamento dispensado às questões ambientais na
esfera do GATT e OMC, bem como analisar os fundamentos do eixo de tensão entre
ambientalistas e aqueles favoráveis ao livre comércio. Utilizou-se, como metodologia, uma
revisão bibliográfica descritiva, realizada através de pesquisas em diferentes publicações, tais
como livros, artigos científicos e, principalmente, informações, via mídia eletrônica, na
homepage da Organização Mundial do Comércio (OMC, ou WTO, do inglês, World Trade
Organization). Entre os quadros teóricos de autores de referência, encontram-se Thorstensen,
que discorreu amplamente sobre o tema do comércio internacional; Oliveira, que se dedicou ao
estudo das barreiras não tarifárias, comércio e desenvolvimento; e Amaral Junior, cuja
pesquisa foi direcionada à relação existente entre comércio e proteção ao meio ambiente. Para
traçar o caminho do comércio multilateral que culminou na celebração do GATT–1947,
analisou-se o papel determinante das duas grandes guerras mundiais e subsequentes crises na
confecção do Acordo. Considerando o entrelaçamento e interdependência dos temas comércio
internacional e meio ambiente, abordou-se o tratamento inicialmente marginal dispensado
pelo GATT–1947 no rol de exceções do Acordo e sua escalada global, a qual resultou na
*
Advogada graduada pela Instituição Toledo de Ensino (1991). Especialista em Direito Empresarial pela PUC -
São Paulo – COGEAE (2001). Mestranda em Direito Internacional, pela Universidade Católica de Santos.
Email: sileliaszago@gmail.com.
incorporação da temática ambiental nos princípios norteadores da OMC. Em razão da
crescente consciência e inquietude quanto aos impactos do comércio multilateral no uso
sustentável dos recursos naturais, constatou-se a inserção definitiva da problemática ambiental
na Rodada Doha de negociações, ainda em curso. Finalmente, foram analisados os
argumentos que sustentam as posições favoráveis e desfavoráveis ao comércio multilateral.
Na conclusão, verificou-se a relevância do pioneirismo determinante do GATT na liberação
das barreiras ao comércio e iniciativas para proteção do meio ambiente, seguido pelo viés
fortemente ambiental instalado nos acordos celebrados no âmbito da OMC. Considerando-se
que a comunidade global está em busca de soluções para a manutenção da vida no planeta,
sem comprometimento do desenvolvimento das nações e, ainda, em atenção ao princípio 10,
da Agenda 21, cujo preceito aponta para a participação nas decisões de todos os interessados,
propõe-se, em suma, a construção de soluções através da convergência de esforços, formação
de consenso e participação ativa da sociedade nas decisões dos Estados, como meio eficaz de
obtenção de resultados integrativos no cenário do comércio e meio ambiente.
EXCEÇÕES GERAIS
Desde que essas medidas não sejam aplicadas de forma a constituir quer um
meio de discriminação arbitrária, ou injustificada, entre os países onde
existem as mesmas condições, quer uma restrição disfarçada ao comércio
internacional, disposição alguma do presente capítulo será interpretada como
impedindo a adoção ou aplicação, por qualquer Parte Contratante, das
medidas:
I – a) necessárias à proteção da moralidade pública;
b) necessárias á proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais e á
preservação dos vegetais;
c) que se relacionem à exportação e a importação do ouro e da prata;
d) necessárias a assegurar a aplicação das leis e regulamentos que não sejam
incompatíveis com as disposições do presente acôrdo, tais como, por
exemplo, as leis e regulamentos que dizem respeito à aplicação de medidas
alfandegárias, à manutenção em vigor dos monopólios administrados na
conformidade do § 4º do art. II e do art. XVII à proteção das patentes, marcas
de fábrica e direitos de autoria e de reprodução, e a medidas próprias a
impedir as práticas de natureza a induzir em êrro;
e) relativas aos artigos fabricados nas prisões:
f) impostas para a proteção de tesouros nacionais de valor artístico, histórico
ou arqueológico;
g) relativas à conservação dos recursos naturais esgotáveis, se tais medidas
forem aplicadas conjuntamente com restrições à produção ou ao consumo
nacionais;
h) tomadas em aplicação de compromissos contraídos em virtude de acôrdos
intergovernamentais sôbre produtos básicos, concluídos dentro dos princípios
aprovados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, na sua
resolução de 28 de março de 1947, que instituiu uma Comissão Provisória de
Coordenação para os acôrdos Internacionais relativos aos produtos básicos;
i) que impliquem em restrições à exportação de matérias primas produzidas
no interior do país e necessárias para assegurar a uma indústria nacional de
transformação as quantidades essenciais das referidas matérias-primas
durante os períodos nos quais o preço nacional seja mantido abaixo do preço
mundial, em execução de um plano governamental de estabilização; sob
reserva de que essas restrições não tenham por efeito reforçar a exportação ou
a proteção concedida à referida indústria nacional e não sejam contrárias às
disposições do presente acôrdo relativas à não discriminação.
II. a) essenciais à aquisição e à repartição de produtos dos quais se faz sentir
uma penúria geral ou local; todavia, as referidas medidas deverão ser
compatíveis com todos os acôrdos multilaterais destinados a assegurar uma
repartição internacional eqüitativa dêsses produtos ou, na ausência de tais
acôrdos, com o princípio segundo o qual tôdas as Partes Contratantes têm
direito a uma parte equitativa do aprovisionamento internacional dos
referidos produtos;
b) essenciais ao funcionamento do contrôle de preços estabelecido por uma
Parte Contratante que, em conseqüência da guerra, sofra de penúria de
produtos;
c) essenciais à liquidação metódica dos excedentes temporários de estoques
pertencentes a qualquer Parte Contratante ou por ela controlados ou de
indústrias que se tenham desenvolvido no território de uma Parte Contratante
por motivo das exigências da guerra e cuja manutenção em tempo normal
seja contrária à sã economia, ficando entendido que nenhuma Parte
Contratante poderá instituir medidas dessa natureza, a não ser depois de
haver consultado as outras Partes Contratantes interessadas com o fim de ser
adotada uma ação internacional apropriada.
As medidas instituídas ou mantidas nos têrmos da Parte Segunda do presente
artigo, incompatíveis com as outras disposições do presente Acôrdo, serão
suprimidas, logo que as circunstâncias que as motivaram cessarem de existir
e, em qualquer caso, a 1 de janeiro de 1951 o mais tardar, ficando entendido
que, com o consentimento das Partes Contratantes, o período considerado
poderá ser prorrogado no que se refere a aplicação, por qualquer Parte
Contratante, de uma medida relativa a um produto determinado, para novos
períodos que as Partes Contratantes fixarem (BRASIL, 1948).
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Durante a Rodada Tóquio foi celebrado o Technical Barriers to Trade (TBT), também conhecido como
Código de Normas. O Acordo, além de outras disposições, contemplou a não-discriminação no
desenvolvimento, na adoção e aplicação dos regulamentos e normas técnicas.
prática da pesca causou a morte de golfinhos. Essa disputa ressaltou o estreito vínculo
existente entre as políticas ambientais e comerciais (WTO, 2011c).
Outro fato de grande repercussão e que merece destaque foi a apresentação no
final do ano de 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
do relatório “Nosso Futuro Comum”, ou como também é conhecido, Relatório
Brundtland3, berço do conceito de “desenvolvimento sustentável”, tema que será
abordado de forma mais ampla no decorrer desse trabalho.
Nesse contexto de recorrentes debates e crescente vínculo entre comércio e meio
ambiente, em 1991, tendo em vista a proximidade da realização da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, para a qual o GATT deveria
aportar sua contribuição, os países signatários do Acordo de Livre Comércio Europeu
(EFTA, do inglês, European Free Trade Agreement) propuseram a reativação do EMIT
(WTO, 2011b).
O pedido de reativação do Grupo voltou a enfrentar forte resistência dos países
em desenvolvimento sob a alegação de que as questões de ordem ambiental deveriam
ser geridas por organizações internacionais especializadas neste tema. Permanecia ainda
o temor de que as medidas eventualmente adotadas poderiam apresentar-se como
barreiras disfarçadas ao comércio (AMARAL JUNIOR, 2011, p. 149).
Desta feita, a resistência dos países em desenvolvimento não impediu que a
reativação do Grupo ocorresse naquele mesmo ano, tendo como atribuições o exame das
regras em vigor face às políticas nacionais para proteção do meio ambiente e, segundo
Amaral Junior (2011, p. 149), “visava, sobretudo, analisar a questão sob a ótica dos
países em desenvolvimento de modo a verificar o impacto que a aplicação dos artigos
do GATT teria sobre os seus interesses.”
Uma vez superada a resistência e o temor dos países em desenvolvimento
quanto à reativação do EMIT, abriu-se caminho para o surgimento em 1994 do
Subcomitê sobre Comércio e Meio Ambiente e, em 1995, por ocasião da Rodada
Uruguai, o EMIT vem a transformar-se no Comitê de Comércio e Meio Ambiente
(CTE, do inglês, Committee on Environment and Trade) no ambiente da Organização
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Gro Harlem Brundtland, médica, com mestrado em Saúde Pública, Ministra do Ambiente, e
posteriormente Primeira-Ministra da Noruega. Presidiu a Comissão Mundial das Nações Unidas para o
Ambiente e Desenvolvimento. Recebeu inúmeros prêmios, com destaque para o Prêmio Indira Ghandhi
para a Paz, Desarmamento e Desenvolvimento, em 1988, e o título de Doutor Honoris Causa, pelo
Departamento e Ordenamento da Universidade de Aveiro, em 1992.
Mundial de Comércio (OMC), com alargamento de suas atribuições, conforme mandato
outorgado na Rodada Doha (WTO, 2001).
Assim, apesar de incipientes e tratadas como excepcionalidades, as medidas
adotadas pelo GATT 47 destinadas a proteger o meio ambiente dos impactos do
comércio, revelaram-se como fontes inspiradoras de diversos tratados. O artigo XX do
GATT estabelece circunstâncias que excepcionam os compromissos assumidos, e trás à
luz o fato de que o sistema multilateral do comércio deve conviver com outros
interesses não menos importantes, como é o caso do meio ambiente.
O mesmo se conclui da criação do EMIT o qual, em que pese sua escassa
atividade, foi o precursor do Comitê de Comércio e Meio Ambiente, o qual estabelece
de forma decisiva a interface entre o comércio internacional e o meio ambiente.
Considerando que a criação do Comitê deu-se já na plataforma da Organização
Mundial do Comércio, cumpre analisar a visão da OMC, uma organização de vocação
eminentemente comercial, sobre as questões relacionadas ao meio ambiente.
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Capital do Qatar.
Inicialmente foi previsto o prazo de 03 anos para sua conclusão. Todavia, em
razão da sua extensa e complexa agenda de temas, em especial sua dimensão ambiental
e comercial, a rodada permanece em andamento até a presente data.
Não é de se estranhar a duração da rodada, nem os impasses com que se depara,
nem tampouco o grau de conflito de interesses entre os países membros, haja vista a
extensa pauta de temas que compõem seu Programa de Trabalho, que vão desde a
abertura de mercados para produtos agrícolas, até a entrada de bancos estrangeiros em
países historicamente mais fechados. São eles: a) implementação dos acordos pelos
países mais pobres; b) agricultura: setor agrícola passa a integrar a alçada dos acordos
da OMC; c) serviços: trata da abertura de mercados para bancos e seguradoras
estrangeiras; d) acesso a mercados de produtos não agrícolas: negociações para
reduzir ou eliminar tarifas e outras barreiras protecionistas para importação de produtos
manufaturados de países em desenvolvimento, que normalmente são sobretaxados por
países desenvolvidos; e) TRIPs (Acordo de Direitos de Comércio Relacionados à
Propriedade Intelectual): criação de uma comissão para estudar o relacionamento entre
o TRIPs e a Convenção de Biodiversidade; f) investimentos: negociação para a
harmonização de leis nacionais controlando a entrada de investimentos externos e de
estudos para o estabelecimento de mecanismos de proteção de investimentos diretos
externos; g) política de competição: criação de um grupo para avaliação de propostas
sobre políticas de transparência nos governos, de não-discriminação (em concorrências),
mecanismos de impedimento de criação de cartéis, etc.; h) transparência: negociações
para criação de regras de transparência de concorrências públicas para os países
membros que ainda não as têm, e harmonização das regras dos países que já possuem
legislação específica; i) regras: identificação de práticas que criam distorção de preços
nos mercados, revisão das regras de concessão de subsídios à pesca, e regras aplicadas a
acordos regionais de comércio, para que estejam de acordo com regras já existentes na
OMC; j) comércio e meio-ambiente: outorga de mandato ao Comitê de Comércio e
Meio Ambiente para estudo da relação das regras dos acordos da OMC com acordos
ambientais multilaterais; k) entendimento de solução de disputas: fixado o prazo até
2003 para por fim às negociações de melhorias no sistema de solução de disputas; l)
economias pequenas: negociações para a integração de economias pequenas e
vulneráveis ao sistema multilateral de comércio; m) comércio eletrônico; n) comércio,
dívida e financiamento: criação de grupo de trabalho para estudar a relação entre
comércio, dívida e financiamento, com vista a contribuir para a solução do problema do
endividamento; o) comércio e transferência de tecnologia: grupo de trabalho para
estudar formas de aumentar o fluxo de transferência de tecnologia para países em
desenvolvimento, dentro das competências da OMC; p) cooperação técnica e
capacitação: assistência técnica a países menos desenvolvidos para se ajustar à regras e
disciplinas da OMC; q) países menos desenvolvidos: a OMC se comprometeu a
considerar a criação de novos instrumentos de abertura de mercados para os países
menos desenvolvidos (BENEVIDES, 2001).
Diante de tão extensa pauta, segundo Magalhães (2008, p. 107), a IV
Conferência Ministerial da OMC foi marcada pelo clima de quase antagonismo
decorrente do conflito de interesses entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento, tendo pesado nas negociações, pressões da opinião pública mundial e
das organizações não governamentais – já inseridos como atores ativos no palco das
relações internacionais. Tais pressões foram manifestadas através de intensos protestos
e tumultos combatendo a globalização da economia.
Em continuação, Magalhães (2008) esclarece que tamanha tensão teve como
fatos geradores as aspirações dos países em desenvolvimento, o exame das políticas
protecionistas e de subsídios, bem como as preocupações com os direitos humanos,
meio ambiente e dumping social, este último caracterizado por menor rigor, nas
políticas de relação de trabalho, adotados pelos países menos desenvolvidos (a exemplo
dos baixos salários e menor organização sindical) do que aquelas adotadas pelos países
desenvolvidos.
Some-se a este cenário, o atentado terrorista às Torres Gêmeas, ocorrido em
setembro de 2001, que ressaltou a necessidade de cooperação dos países membros para
vencer a ameaça terrorista que preocupava o mundo.
Envoltos neste árido contexto de desconfianças e pressões, a Declaração
Ministerial adotada em 14 de novembro de 2001, em Doha, dedica o seu mais extenso
parágrafo do rol de compromissos para definir os objetivos que deveriam pautar aquela
rodada, vale dizer, o desenvolvimento sustentável e a proteção ao meio ambiente,
conforme se apresenta no parágrafo 6 da Declaração, que reproduzimos a seguir:
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United Nations Environment Programme.
31. Com vista a reforçar o apoio recíproco entre comércio e meio ambiente,
concordamos com negociações, sem prejuízo de seus efeitos, sobre: (i) o
relacionamento entre as regras da OMC existentes, e as obrigações
específicas de comércio estabelecidas em acordos ambientais multilaterais
(MEAs). As negociações serão limitadas no escopo da aplicabilidade de cada
regra existente na OMC, como partes do MEA em questão. As negociações
não prejudicarão os direitos de qualquer Membro da OMC, que não seja parte
do MEA em questão; (ii) procedimentos para troca de informações regulares
entre MEA Secretarias do MEA e os comitês relevantes da OMC, e os
critérios para a atribuição do status do observador; (iii) a redução ou, se
adequado, eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias para o
desenvolvimento de produtos e serviços (WTO, 2001, tradução nossa).
Segundo Genee (2007), sob esse mandato, o CCMA dispensa grande parte do
tempo tentando identificar as relações entre comércio e políticas ambientais, incluindo a
possibilidade de ganhos “Triple–win”, ou seja, resultados benéficos dessa relação a
serem obtidos no comércio, desenvolvimento e meio ambiente, sendo que esses
benefícios têm um forte potencial de se concretizarem através da eliminação de
restrições comerciais e distorções em setores como agricultura, pesca e energia.
Por fim, a Organização Mundial do Comércio através de seu secretariado e sob a
coordenação do CCMA, ainda mantém relações com o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), e com a Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Segundo Amaral Junior (2010, p. 291),
atualmente a OMC demonstra um grande e inequívoco propósito cooperar com o
secretariado das convenções multilaterais ambienteis.
CONCLUSÃO
A celebração do Acordo Geral de Tarifas e Comércio representou um divisor de
águas no cenário do comércio internacional pós-guerra, constituindo-se na base
derivativa do modelo do comércio multilateral, sendo que seus princípios continuam a
nortear as relações de trocas comerciais até os dias de hoje.
Por outro lado, o senso de que o êxito do novo sistema econômico dependeria
em grande medida do equilíbrio entre a liberalização das barreiras alfandegárias e a
autonomia dos países em adotar medidas para proteger interesses domésticos, levou a
criação de exceções gerais às regras do Acordo, expressas no artigo XX, desde que não
utilizadas como forma discriminatória ou injustificada em relação a países em iguais
condições, ou ainda como restrição disfarçada ao comércio.
Se bem que dentre às exceções encontravam-se a expressa autorização para
descumprimento do Acordo, se a medida destinar-se a conservação dos recursos
naturais esgotáveis ou se necessárias à proteção da saúde e da vida das pessoas, animais
e à preservação dos vegetais, o conceito atual de proteção ao meio ambiente não foi
vislumbrado pelo GATT.
Todavia, com o estreitamente da relação causa-efeito entre comércio,
crescimento econômico e meio ambiente, o GATT também inovou ao criar o Grupo de
Medidas Ambientais e Comércio Internacional – EMIT Group, o qual, apesar de
permanecer inativo por duas décadas, deu lugar para a criação do Comitê de Comércio e
Meio Ambiente, já no âmbito da OMC.
É de se notar que por ocasião da criação da OMC, o tema “meio ambiente” já
havia percorrido um longo caminho. Destaque-se nesse percurso a Conferência de
Estocolmo, cujos princípios formaram a base do Direito Ambiental Internacional, a
construção do conceito de desenvolvimento sustentável, através do relatório Brundtland,
e a formulação da Agenda 21, por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente.
Assim, com o acirramento do processo de globalização, o surgimento de novas e
dinâmicas demandas na esfera do comércio internacional, e com a sedimentação do
entendimento da estreita relação existente entre comércio internacional,
desenvolvimento econômico e meio ambiente, não é de se estranhar que a OMC –
diferentemente do GATT – já em seu nascimento, contemple regras e princípios que
buscam equacionar tais interesses e necessidades.
Hoje a OMC enfrenta novos desafios, em especial com os denominados “novos
temas” e, dentre eles, aqueles relacionados com medidas ambientais que afetam o fluxo
do comércio. Segundo Thorstensen (1999, p. 391) “os acordos internacionais sobre
meio ambiente acabam utilizando as restrições ao comércio como forma de se fazerem
respeitar”, enquanto, por outro lado, existem países que utilizam, aleivosamente, de
medidas ambientais para proteger seus mercados.
O tema ambiental tem ocupado cada vez mais espaço na agenda de negociações,
fato esse demonstrado pela extensa pauta de discussões da Rodada Doha, cuja
Declaração Ministerial prevê que as negociações desta rodada devem potencializar o
apoio mutuo entre comércio e meio ambiente, levando-se em consideração as
necessidades dos países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos.
Ocorre que a Rodada Doha se estende até a presente data em razão dos conflitos
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e, em especial, devido ao temor
destes últimos com políticas protecionistas e de subsídios adotadas pelos países
desenvolvidos.
Assim, a questão do meio ambiente na esfera do comércio multilateral suscita
inúmeros conflitos, exigindo maior atenção da OMC e, nesse sentido, foram criados
comitês e grupos de trabalho para analisá-los, competindo-lhes ainda o julgamento dos
impasses.
Questão não menos conflituosa é a que se instala entre os que são favoráveis à
inserção da OMC nas questões relacionadas ao meio ambiente e aqueles que são contra.
Os argumentos a favor e contra, ao que parece, dizem respeito à legitimidade,
em outras palavras, questiona-se qual a legitimidade da OMC – uma organização de
vocação eminentemente comercial – para opinar no campo ambiental.
Tal questionamento toma lugar, em maior ou menor grau, toda vez que ocorrem
mudanças, tais quais as suportadas pela sociedade contemporânea. Legitimidade tem a
ver com aceitação e esta com consenso, ou seja, quando o mútuo consenso deixa de ser
uma meta; quando as divergências e antagonismos ideológicos ultrapassam as raias da
razão, o bem maior que se procura proteger passa a ocupar uma posição marginal diante
das posições sustentadas pelas partes envolvidas nas disputas.
Com os novos atores no cenário das relações internacionais, e a complexidade
dos problemas que desafiam a própria manutenção da humanidade, a legitimidade
distanciou-se da concepção simplista de que para ser reconhecida bastaria estar em
conformidade com a lei. Atualmente a legitimidade reclama pelo concurso da opinião
pública, daí a importância da formação de consenso, inclusive para maximizar as
potencialidades do sistema multilateral de comércio.
Nesse contexto, o caráter bélico instalado entre as correntes ambientalistas e
defensores do livre comércio, a nosso ver, teriam suas forças enfraquecidas se atacado
por uma maciça dose de constante informação e participação da sociedade nas decisões
das questões que lhe são pertinentes e, nesse ponto, a sociedade contemporânea dispõe
dos avanços tecnológicos na seara da informação, os quais revelam-se como ferramenta
de especial eficácia, conforme discorre Frey (2003) ao abordar o potencial da tecnologia
da informação na construção do desenvolvimento sustentável: “...as TICs representam
um possível novo canal por que as comunidades podem expressar as suas demandas e
expectativas, por que cidadãos podem ser envolvidos em processos de tomada de
decisão política,...”
Sobre a participação da sociedade na definição de políticas públicas de nível
mundial, destaca com propriedade e sensatez Ortiz et al. (2005, p. 14) que para eficácia
dessas políticas deve ser levada em consideração as aspirações dos indivíduos e,
segundo os autores:
Assim, diante da ineficiência dos governos, compete a OMC operar num sistema
de maior informação à sociedade, privilegiando o princípio da transparência, sendo
válida nessa direção sua iniciativa de promover um amplo sistema de notificação, e da
realização de audiências com a participação de outras organizações governamentais e
não governamentais, a fim de promover a inclusão da opinião pública nos foros
mundiais.
Por fim, vale lembrar que a OMC, inobstante ter personalidade jurídica distinta
da de seus membros, respeita a vontade manifestada pelos países e, numa sociedade em
que não impera o senso comum de que o poder não emana de Deus, nem tampouco da
natureza, mas sim dos homens – conforme reflexão do destacado jurista e pensador Carl
Schimitt (2010, p. 18) – justifica-se a participação da sociedade nas decisões dos
Estados, competindo àqueles que exercem o poder em seu nome, prestar-lhe as devidas
contas.
ABSTRACT
This article aims to identify the treatment of environmental issues in the realm of the
GATT and WTO, and to examine the foundations of the axis of tension between
environmentalists and those who favor free trade. The methodology used was a
descriptive literature review, carried out through research in various publications such
as books, papers, and especially information, via electronic media, on the homepage of
the World Trade Organization (WTO). Among the theoretical frameworks of reference
authors are Thorstensen, who spoke extensively on the subject of international trade;
Oliveira, who has studied non-tariff barriers to trade and development; and Amaral
Junior, whose research is directed to the relationship between trade and environmental
protection. To trace the path of multilateral trade which culminated in the celebration of
the GATT-1947, we analyzed the role of the two world wars and subsequent crisis in
the Agreement celebration. Given the intertwining and interdependence of international
trade issues and the environment, we dealt with the treatment accorded by GATT,
initially, marginal-1947 in the list of exceptions to the Agreement and its global scale,
which resulted in the incorporation of environmental issues in the guiding principles of
the WTO. Due to the growing awareness and concern regarding the impact of
multilateral trade on the sustainable use of natural resources, there was a definite
inclusion of environmental issues in the Doha Round of negotiations still underway.
Finally, we analyzed the arguments that sustain the favorable and unfavorable positions
for multilateral trade. In conclusion, we verified the importance of the GATT pioneer
determinant in the release of trade barriers and initiatives to protect the environment,
followed by the bias strongly installed in environmental agreements in the WTO.
Considering that the global community is looking for solutions to the maintenance of
life on the planet, and also did not compromise the development of nations, as well as to
keep attention to the principle 10 of Agenda 21, whose precept points to the
participation in all decisions stakeholders, we proposed, in short, building solutions
through the convergence of efforts, consensus building, and active participation of
society in the decisions of States, as an effective means to obtain results in the setting of
integrative trade and environment.
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