Crise Pensão Doenças graves Impostos

ANSIEDADE REFORMA SEGURO DE SAÚDE CABEÇA DE CASAL

Dificuldades financeiras podem Passo-a-passo para simular a Vale a pena pagar coberturas Guia para cumprir as
gerar stresse e insónia idade permitida e o valor mensal extra para oncologia? obrigações fiscais do falecido
Pág. 8 Pág. 11 Pág. 36 Pág. 40

Número 179 // setembro/outubro 2023 // Bimestral 11,75 €

Diretora e editora Cláudia Maia

www.deco.proteste.pt

D EC O P R O T E S T E

D E S C A R R EG U E
R E V I S TA S

A APP
PRESTAÇÃO
BAIXAR A

Os encargos com o crédito à habitação não param de subir. Antes que se tornem
incomportáveis, adote uma das sete soluções propostas para aliviar a prestação
DISCURSO DIRETO NESTA EDIÇÃO

CAPA

24
Baixar a prestação
A subida dos juros do crédito à habitação
continua a penalizar as finanças dos
portugueses, e os apoios do Estado são
insuficientes. Conheça sete formas de
renegociar o crédito e reduzir o peso da
prestação da casa no orçamento familiar
Filipa Rendo
Jornalista e
coordenadora editorial

Um sofrimento
a menos
A partir do final de agosto, um peso será aligeirado para os
herdeiros a braços com as formalidades decorrentes do falecimento
de um familiar. A comissão cobrada pelos bancos pelo processo
de habilitação de herdeiros e consequente emissão da declaração
de saldos de conta do falecido passa a estar limitada a 10% do
Indexante dos Apoios Sociais. Ou seja, durante este ano, os bancos
não podem cobrar mais do que 48,04 euros por este pedido.
No estudo que a DECO PROTeste realizou em novembro último,
alertou para os custos desmesurados exigidos pelos bancos:
em média, 84 euros, chegando aos 185 euros nalguns casos, por
exemplo, se houvesse urgência na emissão dos documentos. Por
considerá-los desproporcionais, defendeu a definição de um teto
DA AMORTIZAÇÃO PARCIAL,
para esta cobrança, e que deveria ser inferior aos valores praticados À REDUÇÃO DO SPREAD, DO
naquele momento. Defendeu ainda que nesse serviço estivessem ALARGAMENTO DO PRAZO À
incluídas todas as operações, desde a análise da documentação ao ADOÇÃO DE UMA TAXA MISTA,
bloqueio e desbloqueio das contas, ao cancelamento dos meios de VEJA O QUE É MAIS VANTAJOSO
pagamento, à emissão de declarações, à transferência de fundos
para os herdeiros e ao encerramento da conta.
A DECO PROTeste congratula-se pelo facto de a nova lei ter
atendido às suas pretensões, fixando ainda que, pela remoção do Chamadas para a rede fixa nacional.
Consulte o seu tarifário
titular falecido de uma conta, nada possa ser exigido. Nesta isenção
218 410 858
devem caber todas as formalidades relacionadas, como o fecho da Serviço de informação
conta ou o cancelamento dos meios de pagamento. 218 410 801
Ciente de que o processo sucessório é caro e burocrático, a DECO Assinaturas e encomendas

PROTeste estará atenta à operacionalização da lei e continuará a Cidadãos Surdos

12472 ou Skype
trabalhar no sentido de facilitar e desonerar os herdeiros. Num computador com câmara, smartphone ou tablet,
procure “Serviin-intérprete LGP à Distância”
ENVIE-NOS OS SEUS COMENTÁRIOS editorial@deco.proteste.pt

2 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

 11 O assédio laboral não é
novo. O fenómeno mais
recente é a forma como
se associa a problemas
de saúde mental

20

32
ANÁLISES E ESTUDOS RUBRICAS

08
Ansiedade financeira
Inflação, salários baixos e crise
na habitação são algumas
causas. Conheça os sintomas
e o tratamento
20
Seguros para estudantes
A DECO PROTeste elegeu os
melhores seguros de viagem
para quem vai estudar no
estrangeiro
36
Seguro para doenças
oncológicas
Alguns planos contemplam
plafonds alargados para
doenças graves ou oncológicas
4
Grande plano
Depósitos vs. Certificados de
Aforro. Literacia financeira em
Portugal e na Europa. Evitar
endividamentos com o cartão de

11 29 40
crédito. Consumidores exigem o
fim do PVPR. Programa Arrendar
Reforma Ginásios IRS do falecido para Subarrendar. Novas regras
Saiba em que condições pode Os meios presenciais de Os herdeiros têm a obrigação nas portagens eletrónicas

39
pedir a reforma, antecipada marcação de aulas nos ginásios de regularizar os impostos do
ou não não devem ser esquecidos falecido. Descubra como
Opinião
16 32 44 António Ribeiro, analista da
Deduções no IRS Entrevista a Duarte Rolo Satisfação com seguros DECO PROTeste, alerta para as
Engorde o reembolso do IRS A perspetiva do investigador Saiba quais são as seguradoras (des)vantagens de resgatar o PPR

ao longo do ano. Veja o que
pode ser deduzido e como
48
e psicólogo acerca do assédio que mais agradam aos
no local de trabalho portugueses
Sem recurso
Veja como os tribunais decidiram
num caso idêntico ao seu

50
Livro de reclamações
Histórias, dúvidas e testemunhos
dos leitores

OS NOSSOS VALORES

INDEPENDÊNCIA CREDIBILIDADE PROXIMIDADE

A nossa missão exige indepen­dência total:
financeira, política e ideológica. Os conselhos e
tomadas de posição resultam dos nossos estudos
e análises, livres de qualquer tipo de pressão.
A totalidade das receitas da nossa atividade é
reinvestida em prol dos consumidores.
A concretização da nossa missão assenta na
credibilidade e no reconhecimento da qual­idade
do nosso trabalho. Esta resulta do profissionalismo
das nossas equipas e de métodos comprovados,
transparentes e constantemente reavaliados,
baseados numa ética profissional exigente.
A nossa missão é permanent­emente orientada
para a satisfação das necessidades dos
consumidores. A concretização passa por interagir
com todos os interlocutores – consumidores,
comunicação social, poderes políticos, etc. – de
forma direta, concreta e adequada.

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 3

 GRANDE
PLANO TODA A ATUALIDADE E AS RECOMENDAÇÕES DOS NOSSOS ESPECIALISTAS
CERTIFICADOS DE AFORRO VS. DEPÓSITOS
E tudo a banca levou...
O Governo parece ter cedido à banca e suspendeu a série E dos Certificados
de Aforro, criando outra com rendimento mais baixo. A concorrência nivela-se
pelo poucochinho...
2,5%
é o rendimento bruto
proporcionado pela nova série
de Certificados de Aforro
100
euros
Valor mínimo da primeira
subscrição
4 D&D//setembro/outubro 2023
Adeus, série E; olá, série F. No que parece
ser um filme de série B, o Governo optou
por substituir uma série dos Certificados de
Aforro com um rendimento de 3,5% brutos
por outra de 2,5 por cento.
Depois de alguma hesitação, o Ministério
das Finanças começou por aumentar o
limite de emissão de dívida destes títulos
do Estado de 7 para 16,5 milhões de euros,
mas acabou por ceder às pressões da
banca: afinal, o sucesso dos Certificados
de Aforro – mais rentáveis que os pífios
juros da banca – estava a conduzir a um
levantamento maciço dos depósitos,
que passaram a ser canalizados para os
Certificados.
Os Certificados de Aforro eram o maior
concorrente dos depósitos bancários,
cujas taxas estão ainda muito baixas. Os
maiores bancos continuam a praticar taxas
muito próximas de zero ou mesmo zero.
Por isso, a suspensão da série E anuncia,
de facto, maus tempos para a poupança.
E como funciona? À semelhança
da série anterior, a taxa-base aplicável
é determinada mensalmente, no
antepenúltimo dia útil do mês, para vigorar
durante o mês seguinte. Corresponde à
média dos valores da Euribor a três meses
observados nos 10 dias úteis anteriores, e
o resultado é arredondado à terceira casa
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 97,55 €
Poupança na amortização parcial do crédito à habitação
Página 24
decimal. Não pode ser superior a 2,5%
nem inferior a zero por cento.
A série anterior, recorde-se, era
calculada com base na média da Euribor a
três meses, acrescida de 1% e limitada a 3,5
por cento. Na atual, há um corte de 1% na
taxa-base.
Mas há novidades: a série F permite a
aplicação da poupança por um prazo mais
longo, de 15 anos (em vez dos 10 anos
da série E), e prevê uma remuneração
crescente ao longo do tempo, através de
um prémio de permanência.
Esses prémios de permanência
crescentes começam em 0,25%, entre o
segundo e o quinto ano, permitindo atingir
1,75% adicionais à taxa-base nos últimos
dois anos da subscrição.
Cada pessoa só pode ser titular de
uma Conta Aforro, à qual está associado
um IBAN. Não é possível indicar quem
movimenta os títulos. O valor mínimo da
primeira subscrição é de 100 euros, e
nas seguintes é de 10 euros. O máximo
são 50 mil euros. A lei define um máximo
acumulado de 250 mil euros, por Conta
Aforro, de Certificados da série F e
Certificados da série E. A subscrição
pode ser realizada através do AforroNet
(aforronet.igcp.pt), nas lojas dos CTT, ou na
rede de Espaços Cidadão.
A PROTESTE INVESTE analisou,
entretanto, o rendimento possível em
diversos bancos, por comparação aos
Certificados de Aforro. Os depósitos
a prazo de 45 contas já os superam...
destacam-se, a 3 e a 6 meses, os
Superdepósitos do Banco BiG para novos
clientes. No primeiro prazo, com um
montante mínimo de 500 euros, a taxa
anual nominal bruta (TANB) é de 3,5%; no
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51 €
É quanto poupa num seguro para estudar lá fora
Página 20
LITERACIA FINANCEIRA
Sabe a pouco
Alinhados com a Europa – é o que
se pode concluir de um estudo
sobre literacia financeira feito nos
países da União entre março e abril
segundo, com um valor mínimo inicial de
passados. Mas esta constatação
25 mil euros, a TANB ascende aos 4 por
não deixa de ser preocupante. A
cento.
Comissão Europeia inquiriu mais
A 12 meses, com um montante mínimo
de 26 mil cidadãos europeus
de 1000 euros, o depósito a prazo Mais
sobre poupança, investimentos,
do Banco CTT assegura uma TANB de 4
reforma, entre outros aspetos da
por cento. Já a 24 meses, vários depósitos
vida financeira. Portugal aparece
remuneram a 3,5% de TANB, como pode
alinhado, em quase todos os
ver no portal financeiro em www.deco.
aspetos, com o conhecimento
proteste.pt/investe/depositos-certificados/
geral sobre estas matérias. No
depositos-prazo. Estes produtos eram
item “conhecimento financeiro”,
Escolhas Acertadas à data de fecho desta
por exemplo, 56% dos inquiridos
edição (início de agosto), mas já dezenas
nacionais acertaram em duas ou
de contas ultrapassam a taxa de 2,5% da
três questões, o que corresponde
nova série de Certificados de Aforro.
a um conhecimento médio; no
No entanto, a PROTESTE INVESTE
campo dos comportamentos, que
continua a recomendar os Certificados
avaliava o acompanhamento das
de Aforro: ainda proporcionam um
despesas e os objetivos financeiros,
rendimento superior à maior parte das
o desempenho é maior: quase 70%
taxas oferecidas pelos bancos para
concordaram com as boas práticas
poupanças de capital garantido a médio e
elencadas no inquérito. Já quanto à
longo prazo. Além disso, têm um prémio
poupança, apenas 30% diz dispor de
de permanência crescente; e montante
dinheiro suficiente para as despesas
mínimo de subscrição baixo (10 unidades,
para os próximos seis meses, caso
ou seja, 10 euros, com um mínimo de 100
perdesse a fonte de rendimento
unidades por Conta Aforro), ao contrário
atual...
do que acontece com alguns depósitos,
que exigem milhares de euros. Permitem
ainda reforços a qualquer momento e
têm elevada liquidez, pois podem ser
resgatados após o primeiro trimestre.
A pressão da banca parece ter, contudo,
resultado, num país em que as taxas de
poupança rondam os 6% – as piores do
século – e em que os bancos sobem as
taxas de juro para crédito e não para os
depósitos. É preciso mais do que um
“esforçozinho” por parte da banca: é
uma questão de responsabilidade social
perante os contribuintes, que a têm
sustentado nos períodos difíceis.
setembro/outubro 2023//D&D 5
 GRANDE
PLANO
CARTÃO DE CRÉDITO
Não há dívida nenhuma
Para usar sem abusar: poderia ser este
o mote de uma campanha séria sobre a
utilização correta de um cartão de crédito.
Com o confinamento e a vulgarização das
compras online, a sua utilização aumentou
consideravelmente.
Mas pode haver a tentação de o utilizar
em despesas mais avultadas. O perigo de
uma maior utilização deste tipo de cartões
é o sobre-endividamento. No financiamento
ao consumo, os cartões de crédito são os
principais responsáveis pelas situações de
incumprimento. Por isso, deve, antes de
mais, tentar cortar nos custos inerentes ao
cartão. Se tem a possibilidade de pagar o
cartão de crédito na totalidade, saldando as
compras que faça nos 20 a 50 dias seguintes
para não pagar juros, opte por um cartão
sem anuidade. E, neste caso, confirme se a
isenção se mantém depois do primeiro ano de
PELO FIM DO PVPR
“Superpromoções”?
Nem a brincar...
Comparar preços no âmbito das
promoções com base no PVPR (Preço
de Venda ao Público Recomendado) é
ilegal. É este o mote da ação da DECO
PROTeste contra esta prática, que leva os
consumidores a pensar que estão perante
descontos que parecem imperdíveis.
Mas nem sempre isso acontece. Num
estudo realizado em 2022, a DECO
PROTeste descobriu que, em mais de
um terço dos casos, as lojas estavam
a infringir a lei ou a usar formas de
contorná-la, ao recorrer a alegações de
grandes descontos. É, no entanto, cada
vez mais comum encontrar anúncios
6 D&D//setembro/outubro 2023
subscrição ou se depende de um montante
mínimo de movimentos. Caso prefira fasear
os pagamentos, o cartão com os juros mais
baixos é a melhor opção.
Compare cartões de crédito
na ferramenta online em www.deco.proteste.pt/
cartoes-credito
de reduções de preço baseados no
PVPR. Isto é ilegal, pois esta referência
para o valor dos produtos nem sempre
corresponde ao preço mais baixo dos
últimos 30 dias na loja. Aliás, até pode
nunca ter sido praticado. E nem sempre
o consumidor consegue confirmar
essa informação. Por isso, muitos
consumidores estão a ser enganados,
assumindo que o preço com desconto é
uma promoção real. O PVPR deve deixar
de ser usado como prática comercial,
no âmbito de uma promoção, pois é
enganador. Pode denunciar esta prática
em www.deco.proteste.pt/pvpr.
TUDO O QUE PRECISA DE
SABER sobre o regresso às
aulas e não tem vergonha de
perguntar: calendário escolar?
Materiais dedutíveis no IRS?
Candidaturas ao ensino superior?
Tudo em www.deco.proteste.pt/
regresso-aulas.
PRECISA DE
COMPROVATIVO DE
MORADA? Pode descarregar
uma certidão de domicílio
fiscal no portal das Finanças.
O documento é gerado
imediatamente e é gratuito. Entre
em www.portaldasfinancas.gov.
pt, registe-se, selecione “Todos
os serviços” e escolha, a seguir,
“Documentos e certidões”, “Pedir
certidão” e “Domicílio fiscal”.
Carregue no botão “Obter” e
indique “visualizar certidão”. Já
está disponível... só falta fazer
o download para a apresentar
quando for necessário.
POD PENSAR SOBRE
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
As proezas do ChatGPT, sistema
de inteligência artificial, estão no
centro de mais um episódio do
POD Pensar, o podcast da DECO
PROTeste. Estes sistemas vão
substituir o trabalho humano? Ou
vão abrir novos caminhos para
o futuro? Com a moderação de
Aurélio Gomes e a presença de
Luiz Moniz Pereira, da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da
Universidade Nova de Lisboa,
do jornalista Flávio Nunes e de
António Alves, da equipa Digital
Society da DECO PROTeste.
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MAIS HABITAÇÃO
Arrendar para subarrendar
O Governo lançou o Programa Arrendar
para Subarrendar. Incluído no Pacote Mais
Habitação, consiste no arrendamento de
casas pelo Instituto da Habitação e da
Reabilitação Urbana (IHRU) ao proprietário.
As casas são, depois, subarrendadas a
preços mais baixos. O valor da renda é
fixado livremente entre as partes (IHRU
e proprietário) até 30% acima dos limites
gerais do preço da renda por tipologia e
concelho. O subarrendamento não pode
ultrapassar uma taxa de esforço de 35% do
rendimento médio mensal.
Podem concorrer agregados com uma
pessoa com rendimento até ao 6.º escalão
do IRS (38 632 euros); agregados de duas
pessoas com rendimento igual ou inferior
ao 6.º escalão do IRS acrescido de 10 mil
euros (até 48 632 euros); e agregados com
PORTAGENS ELETRÓNICAS
Devagar se paga ao longe
Pagamentos e coimas nas portagens
eletrónicas vão passar a ter novas regras.
Este modelo, aplicado nas antigas SCUT e
outras vias rápidas, tinha apenas afixada
a informação sobre o valor da taxa de
portagem junto aos pórticos, sem referência
à forma de pagar, nem a prazos limite. As
dívidas acumulavam-se quando o prazo de
pagamento era de apenas cinco dias úteis.
www.deco.proteste.pt
mais de duas pessoas com rendimento até
ao 6.º escalão do IRS acrescido de 10 mil
euros e de 5 mil euros por cada pessoa
adicional (58 632 euros, tratando-se, por
exemplo, de casal e dois filhos).
A DECO PROTeste exigiu o alargamento
e prazo passou, de facto, a 15 dias úteis.
O desencontro entre infratores e avisos
de pagamento, já que a concessionária
só tem acesso à morada registada na
Conservatória do Registo Automóvel para
cada matrícula, pode ter fim à vista. A
concessionária pode pedir outros dados
das pessoas singulares à conservatória.
Em caso de dúvida, a Autoridade Tributária
pode ser chamada a fornecer a morada
fiscal do cidadão identificado.
As coimas também sofrem alterações:
a partir de 1 de julho de 2024, a coima
mínima aplicada a quem falhar o
pagamento de portagens corresponde a
cinco vezes o valor da taxa de portagem.
Ou seja, numa taxa de 6 euros, a coima
terá o valor mínimo de 30 euros.
Margarida Zacarias
A ESPECIALISTA RECOMENDA
ESCOLHA
CRÉDITO
ACERTADA À HABITAÇÃO
Banco Crédito
Montepio Agrícola Bankinter
4,5% 4,5% 4,6%
TAEG TAEG TAEG
993,98 € 999,87 € 1005,78 €
por mês por mês por mês
Para escolher as melhores
condições de crédito à habitação
deve comparar várias simulações
e optar pela que apresenta a menor
TAEG (taxa anual de encargos
efetiva global), já que nesta estão
refletidos todos os custos com
o crédito. Para um financiamento
de 200 mil euros a pagar em
30 anos, com taxa variável e
com a contratação de vendas
associadas (imóvel de 250 mil
euros, ou seja, financiamento de
80%), a Escolha Acertada recai
sobre o Banco Montepio, com
uma TAEG de 4,5 por cento.
Permite uma poupança de 914
euros por ano face à média das
ofertas analisadas. Segue-se-lhe
o Crédito Agrícola, com uma TAEG
igual para este cenário, e uma
prestação que se aproxima dos mil
euros mensais, e, portanto, uma
poupança anual mais modesta.
O Bankinter, com uma TAEG de
4,6%, fecha o top 3.
Pode simular o seu crédito à habitação
em creditohabitacao.protestecredito.pt
setembro/outubro 2023//D&D 7
 Com os bolsos
cheios de medo
A
O salário é baixo e não
estica, a prestação da
casa bate máximos e
o preço dos bens de
primeira necessidade
torna-os distantes. Eis
os ingredientes para a
“ansiedade financeira”
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo
8 D&D//setembro/outubro 2023
economia oscila como as
marés, mas estas correntes
arrastam-nos para a incerteza
quase total: uma crise na
habitação, com rendas ou prestações de
crédito a subirem estratosfericamente;
some-se-lhes a inflação e a crise
económica e subtraia-se da equação os
salários, dos mais baixos da Europa. O
caldo do medo está servido.
Todos estes fatores podem contribuir
para a ansiedade. Quando a ansiedade
ocorre de forma excessiva e provocada
por uma crise ou uma adversidade
económica, tem sido chamada
“ansiedade financeira”.
Um mecanismo de defesa
A ansiedade é uma experiência comum
e até importante nos seres humanos.
É, aliás, essencial à sua sobrevivência,
por funcionar como um “mecanismo
de alerta” que sinaliza uma ameaça. Ou
seja, quando nos sentimos em perigo é
até saudável ter alguma ansiedade, para
que nos possamos defender, antecipando
a adversidade. Porém, uma alteração
desta defesa, por causas genéticas ou
adquiridas, leva a que a experiência
deixe de ser adaptativa para se tornar
anormalmente intensa, prolongada e
inadequada face ao perigo real. Surgem
assim as perturbações de ansiedade.
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A crise é um rastilho
Uma situação de crise económica pode
desencadear estes mecanismos de alerta
de forma excessiva, já que a capacidade
económica é fundamental para a nossa
sobrevivência. E se o dinheiro ao fim do
mês for incerto ou insuficiente...
E como se manifesta? A perturbação da
ansiedade manifesta-se, geralmente, em
pelo menos três dos seguintes sintomas:
sentimento de inquietação ou sensação
de se estar no limite; sentir-se facilmente
cansado, sofrer de dificuldades de
concentração, irritabilidade, tensão
muscular, e perturbações de sono.
As pessoas com esta perturbação
relatam angústia devido à preocupação
constante, e a consequente diminuição
do seu funcionamento social,
profissional, ou em outras áreas
importantes.
Orçamento e sentimento
“Podemos dizer que qualquer questão
económica, no orçamento individual
Sintomas
Situação de stresse prolongado
Perante uma crise económica, a ansiedade pode
prolongar-se no tempo, além de uma situação de ansiedade
normal. Pode ser anormalmente intensa e inadequada face
ao perigo real da situação;
Inquietação
Ou sensação de se estar no limite;
Sentir-se facilmente cansado
Dificuldades de concentração
Irritabilidade
Quando qualquer situação, por mais anódina que seja,
provoca irritação;
Tensão muscular
Perturbações do sono
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D&D//ANSIEDADE FINANCEIRA
impacto no equilíbrio emocional,
funções vitais e saúde mental.” Quem o
A ANSIEDADE afirma é Susana Ferreira, psicóloga que
É UM MECANISMO estuda casos como estes.
O bolso mexe com o cérebro, e não
DE ALERTA SAUDÁVEL. é pouco. E mexe com as sensações.
PORÉM, VÁRIOS FATORES Uma situação instável, que se instale
PODEM LEVAR A QUE ESTA na sociedade, vai forçosamente
DEFESA PASSE A SER ter reflexos individuais: “Qualquer
situação económica imprevista em que
PATOLÓGICA o indivíduo se sinta assaltado na sua
estabilidade económica trará ansiedade
e provavelmente outros sentimentos
associados”, afirmou a psicóloga à
DECO PROTeste.
Anos de medo: 2008 e 2020
ou familiar, poderá ser geradora de Os números confirmam estas
ansiedade. A ansiedade é uma reação observações. Na crise de 2008, que
emocional natural associada a várias culminou com a intervenção da troika
circunstâncias, possam ser elas sobre a economia portuguesa, houve
económicas ou de outra ordem. A sua uma deterioração da saúde mental, com
vivência dependerá das características aumento da prevalência da ansiedade.
individuais e de personalidade de cada O mesmo aconteceu há três anos, quando
um e, desta forma, terá mais ou menos uma pandemia conseguiu parar o
Tratamento
Ansiolíticos
São as chamadas benzodiazepinas, que se dividem em três
grupos: curta ação (menos de 12 horas), ação intermédia (12
a 24 horas), e longa ação (mais de 24 horas). As primeiras
são geralmente prescritas para a insónia, e as outras duas
são utilizadas para as perturbações de ansiedade.
O período de tratamento deve ser o mais curto possível,
entre 8 e 12 semanas, devido aos efeitos adversos, como
cefaleias, e ao seu potencial para criar habituação e
sintomas de abstinência.
Antidepressivos
Existe uma sobreposição de sintomas entre as perturbações
de ansiedade e as perturbações depressivas. Por isso,
alguns antidepressivos também são usados para a
ansiedade.
Psicoterapia
A mais eficaz para combater a ansiedade é a cognitivo-
-comportamental e centra-se na identificação, compreensão
e mudança dos padrões de pensamento e comportamento.
setembro/outubro 2023//D&D 9
D&D//ANSIEDADE FINANCEIRA
mundo.
No primeiro caso, estudos
mostram uma associação entre
piores indicadores económicos e
a deterioração da saúde mental. O
problema atingiu particularmente os
homens, verificando-se um aumento
significativo de suicídios. Apesar de as
mulheres terem uma prevalência geral
mais elevada de ansiedade, são mesmo
os homens que parecem apresentar
piores resultados durante estes períodos
de crise.
Mais 30% de deprimidos
Outros estudos compararam dados pré e
pós-recessão e mostram um agravamento
do estado de saúde mental, não só no
aumento da prevalência de perturbações
mentais mais comuns (ansiedade e
depressão), como de perturbações de
uso de substâncias. Em Portugal, houve
um crescimento de 30% dos casos de
depressão entre 2011 e 2012, com um
aumento de quase 8% na venda de
antidepressivos e estabilizadores do
humor durante esse ano. Os portugueses
reportaram níveis mais elevados de
stresse e um decréscimo na sua qualidade
de vida: 38% tinham problemas de sono.
Em 2020 o problema foi semelhante.
Susana Ferreira assinala também este
marco na saúde pública nacional: “A
pandemia expôs a comunidade ao
risco de saúde pública, foi um abalo
catastrófico mundial, gerador de muita
angústia, a vários níveis.”
Dados desse ano revelam que
pelo menos metade da população
portuguesa reportou impactos
psicológicos moderados ou severos
durante a fase inicial da pandemia.
Este número, provavelmente, terá
aumentado desde então. Pensa-se que
a atual crise sócio-económica terá mais
impacto em áreas como o desemprego,
a precariedade laboral e a perda de
rendimento; a pobreza e a exclusão
social; desigualdades no acesso a
cuidados de saúde (física e mental); e
literacia (digital e não só). Mas é difícil
prever os verdadeiros danos causados
por esta conjuntura.
10 D&D//setembro/outubro 2023
30%
mais casos
trabalhadores de baixa qualificação cujos
salários estão ainda abaixo da reduzida
média nacional, entre outros que vivem
permanentemente no limiar da pobreza,
de depressão estão entre os grupos de risco.
em Portugal entre
E como se pode tratar?
2011 e 2012 Medicação e psicoterapia são os
tratamentos normalmente indicados.
Os ansiolíticos e antidepressivos e a
8%
terapia cognitivo-comportamental
podem ser a chave do tratamento,
e parecem ter melhores resultados
de aumento quando combinados. A segunda
centra-se na identificação, compreensão
da venda de e mudança dos padrões de pensamento
antidepressivos e comportamento. O objetivo é,
em 2012 antes de tudo, levar o paciente a uma
compreensão mais profunda do
problema.
Atividades que tragam alívio de tensão,
38%
ou mudança de foco das preocupações,
como o exercício físico, o relaxamento
ou a meditação, também podem ser
reportaram uma ajuda.
problemas de sono Se a ansiedade estiver a ter reflexos no
no mesmo período seu dia-a-dia, e na sua saúde, procure
uma consulta com o seu médico de
família. Este avaliará a situação e poderá
referenciá-lo para uma consulta de
49%
psiquiatria ou psicologia, se necessário.
DOSSIÊ TÉCNICO Susana Santos
dos portugueses
sofreram impactos
psicológicos na
fase inicial da
pandemia
Nos próximos anos ainda veremos,
com certeza, mais estudos sobre o VIVER SEM DÍVIDAS
período de pandemia e o seu impacto em (G407)
toda a extensão, bem como os efeitos dos Toda a informação
sobre uma gestão
anos de guerra na Ucrânia.
equilibrada das
É claro que há grupos socioeconómicos
finanças pessoais.
que vivem permanentemente sob este Encomende com o
stresse, haja ou não crises conjunturais código 23094 em
que afetam grande parte da população. www.deco.proteste.
Os desempregados de longa duração, pt/guiaspraticos
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 D&D//ACESSO À REFORMA

Bem-vindo
à reforma!
Conheça as regras para aceder à pensão de velhice e em que condições se pode
reformar antes da idade legal. Em alguns casos, não sofre penalizações
Texto Myriam Gaspar & Filipa Rendo

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 11

D
esejada por todos aqueles que
contam os anos para chegar à
idade mágica definida por lei,
e temida por quem tem uma
vida ativa intensa e não quer ficar sem
fazer nada, a reforma é uma bênção dos
deuses. Como dizia o filósofo e ensaísta
Agostinho da Silva, “o homem não nasce
para trabalhar, nasce para criar, para ser
o tal poeta à solta”. O ócio é bom (não
em demasia), mas poucos se livram de
trabalhar uma parte significativa da
vida, para usufruir, quando atingem a
reforma, da pensão de velhice paga pelo
Estado.
Por conta da pandemia, a idade legal
da reforma, calculada com base na
esperança média de vida, baixou, em
2023, para 66 anos e 4 meses, menos
três meses do que no ano anterior. Em
2024, manter-se-á. Apesar de ter descido
devido à elevada mortalidade provocada
pela covid, a tendência é de subida nos
próximos anos. O aumento da esperança
de vida e a sustentabilidade do sistema
de segurança social a isso obrigam.
Fator de sustentabilidade
penaliza pensões antecipadas
Como não há regra sem exceção, a lei
contempla situações em que é possível
aceder à reforma antes da idade legal,
como pode confirmar na página ao
lado. Na maioria dos casos, implica um
corte no valor da pensão por via do fator
de sustentabilidade. Em que consiste?
Introduzido em 2005, traduz-se numa
percentagem definida anualmente
pelo Governo (13,83%, em 2023), tendo
por base a esperança média de vida.
Como o nome indica, visa assegurar
a sustentabilidade dos sistemas de
previdência.
Em algumas situações (descritas no
quadro ao lado), reformar-se mais cedo
pressupõe ainda uma penalização de
0,5% por cada mês de antecipação,
para dissuadir os mais apressados.
Tudo somado, pode levar um rombo
significativo no montante da pensão,
dependendo da idade e dos anos de
descontos para a Segurança Social.
Convém, portanto, fazer contas.
12 D&D//setembro/outubro 2023
CONDIÇÕES PARA PEDIR A REFORMA
Idade e período de garantia
Em 2023, bem como no próximo Para que um ano seja contabilizado,
ano, a idade legal para a reforma é necessário um mínimo de 120
dias de descontos. É, também,
é de 66 anos e 4 meses. Têm
direito a pedir pensão de velhice possível juntar dias de vários anos.
todos os cidadãos que, tendo Por exemplo, 80 dias num ano e
auferido rendimentos de trabalho 60 noutro permitem, em conjunto,
(dependente e independente) contabilizar mais um ano de
ou sido membros estatutários contribuições. É ainda permitido
de órgãos sociais (gerentes utilizar os anos de descontos
ou administradores), tenham para outros regimes de proteção
contribuído, pelo menos, durante 15 social (por exemplo, Caixa Geral
de Aposentações), nacionais ou
anos para a Segurança Social, seja
de forma seguida ou interpolada. estrangeiros, desde que tenha, pelo
É o chamado período de garantia. menos, um ano de descontos.
Seguro social voluntário o trabalho. É o caso, por exemplo, dos
De acordo com a lei, todos os bombeiros voluntários, dos praticantes
trabalhadores (seja por conta de outrem de desporto de alto rendimento,
ou independentes), bem como os que dos bolseiros de investigação ou dos
assumiram um cargo estatutário numa cuidadores informais.
empresa (administrador, diretor ou As taxas contributivas, entre
gerente) e cumpriram o período de 21,4% e 29,6%, variam consoante os
garantia (15 anos de descontos para a beneficiários – os voluntários sociais,
Segurança Social) têm direito à reforma. por exemplo, pagam uma taxa de 27,4%;
Há, no entanto, quem não esteja nesta os desportistas de alto rendimento, 26,9
situação. Ainda assim, pode ter direito por cento. Quanto aos escalões, são 10.
à pensão de velhice. Como? Através do Por exemplo, o valor-base de incidência
regime de seguro social voluntário, um dos cuidadores informais corresponde
sistema de contribuições de caráter ao primeiro (480,43 euros).
facultativo, que exige um mínimo de 144 O beneficiário tem a opção de, a
meses de descontos, e tem como objetivo qualquer altura, alterar o valor-base de
garantir o direito à Segurança Social a incidência contributiva para escalões
pessoas maiores de 18 anos e aptas para inferiores. Aceder a um escalão superior
só é possível se fizer descontos durante,
pelo menos, 12 meses seguidos e tiver
66 anos
uma determinada idade. Por exemplo,
62,5 anos em 2023, e 63 anos, em 2024.
Pensão social de velhice
e 4 meses é a idade Se não está abrangido por qualquer
da reforma legal regime de proteção social obrigatório,
em 2023 e 2024. nem pelos regimes transitórios dos
rurais (regime não contributivo
A tendência é para que abrange um grupo fechado de
aumentar trabalhadores agrícolas), ou não
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 D&D//ACESSO À REFORMA

REFORMA ANTECIPADA

Quem pode reformar-se mais cedo?

Se tem 60 anos ou mais de idade e
fez descontos para a Segurança Social
durante, pelo menos, 40 anos, pode
aceder à reforma mais cedo. Mas, para
não sofrer um corte no valor da pensão,
é fulcral ter aquilo a que a lei classifica
como carreira muito longa. Ou seja, além
da idade mínima de 60 anos, é preciso
apresentar, pelo menos, 46 anos ou 48
anos de descontos, e ter começado a
carreira contributiva antes dos 17 anos.
Só satisfazendo estas condições é que
não se aplica a penalização, nem o fator
de sustentabilidade (13,8%, em 2023 e
2024). Nestes dois casos, a idade normal
para aceder à pensão é reduzida em
quatro meses por cada ano à medida
que a carreira contributiva aumenta
além dos 40 anos. Exemplo: 49 anos de
contribuições permitem a reforma aos
63 anos.
A lei também permite, pelas regras
de flexibilização, antecipar a reforma
noutras situações, mas isso implica
uma redução no valor da pensão, como
pode constatar no quadro em baixo.
Assim, se tem 60 anos ou mais de idade
e, pelo menos, 40 anos de descontos,
sofrerá uma penalização de 0,5% por
cada mês de antecipação face à idade
de acesso à pensão. Suponha que
decide reformar-se aos 63 anos e tem
43 anos de descontos. Com esta carreira
contributiva, terá uma penalização de 30
meses, que, na prática, corresponde a
uma redução de 15 por cento.
Se tem 60 anos ou mais de idade, mas
menos de 40 anos de descontos, só é
possível antecipar a reforma se estiver
numa situação de desemprego de
longa duração, ou tiver uma profissão
considerada desgastante. É o caso
dos mineiros, trabalhadores marítimos,
profissionais de pesca, controladores de
tráfego aéreo, bailarinos, trabalhadores
portuários, bordadeiras da Madeira e
trabalhadores da indústria das pedreiras.
Cada uma destas atividades tem um
regime e condições diferentes para
aceder à pensão de velhice.
No caso de estar desempregado, a
redução do valor da pensão dependerá
da data em que pediu o subsídio de
desemprego, da sua idade e dos anos de
descontos. Quem tem 60 anos e 80% de
incapacidade não é penalizado.

Reforma antecipada Condições Penalização Fator de sustentabilidade (13,8%)

0,5% por cada mês de antecipação

40 ou mais anos de descontos não
face à idade de acesso à pensão

A partir dos 60 anos 48 ou mais anos de descontos não não

46 anos de descontos iniciados

não não
aos 16 anos de idade ou antes

Início do desemprego Data em que começou a receber a pensão

57 anos de idade
52 anos de idade e,
pelo menos, 22 anos Esgotou o período de concessão
0,5% por cada mês de antecipação
de descontos na data do subsídio de desemprego ou do subsídio sim
em relação aos 62 anos
em que ficou social de desemprego
desempregado
Continua em situação de desemprego involuntário não sim

62 anos de idade

15 ou mais anos de descontos não sim

57 anos ou mais Esgotou o período de concessão

do subsídio de desemprego ou do subsídio não sim
social de desemprego (inicial)

Continua desempregado não sim

Deficiência 60 ou mais anos de idade e 80% de incapacidade não não

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 13

 SIMULADOR DA SEGURANÇA SOCIAL DIRETA
E DA CAIXA GERAL DE APOSENTAÇÕES
Como calcular a pensão de velhice?
Através da ferramenta “Simular pensão”,
disponível no site da Segurança Social
Direta, pode obter uma estimativa da sua
pensão de velhice. Esta previsão pode
ajudá-lo não só a tomar decisões sobre
a sua carreira contributiva, mas também
decidir o momento mais adequado
para se reformar, tendo em conta as
penalizações ou bonificações previstas
na lei.
Os resultados são apenas indicativos
e não vinculativos. Isto é, não são
definitivos. Para aceder ao simulador,
terá de se registar na Segurança
Social Direta (https://app.seg-social.
pt/sso/login), introduzir o seu número
de Segurança Social e palavra-passe
para entrar, selecionar o menu
“Pensões” e a opção “Simulador
de pensões”. Encontrará dois tipos
possíveis de simulação: automática
e à medida.
A automática é calculada com base
nos salários que recebeu até ao
ano anterior (se calcular em 2023,
contam os rendimentos até 2022).
Não necessita de introduzir o ano em
que cessará funções, pois é calculado
automaticamente. O resultado devolvido
é a idade prevista para a reforma e uma
Simule o valor da
sua pensão e a idade
para a reforma com
o passo-a-passo
em vídeo
14 D&D//setembro/outubro 2023
estimativa do valor bruto da pensão
a receber. Caso tenha uma carreira
contributiva longa, é referido se o valor
da pensão inclui alguma bonificação.
Caso abandone a vida ativa numa data
diferente, basta que, depois de fazer
a simulação automática, clique em “O
que pode esperar se simular noutra
data”. Assim, conhecerá a redução por
antecipar a reforma, ou, pelo contrário,
quanto aumentará a pensão se
prolongar a vida ativa.
Se optar pela simulação à medida,
pode introduzir dados sobre a sua
carreira contributiva ou escolher outras
opções. Por exemplo, antecipação
por desemprego de longa duração
ou invalidez, e introduzir percentagens
diversas na inflação e na taxa anual
de crescimento.
Se fez descontos para a Caixa Geral
de Aposentações, tem duas opções:
simular em www.cga.pt, devendo para
isso registar-se, ou presencialmente
nos Espaços Cidadão.
Quem seja subscritor ativo inscrito
até 31 de agosto de 1993, utiliza o
“Simulador automático”. Os restantes
escolhem o “Simulador público”. Para ter
direito à aposentação tem de ter, pelo
menos, cinco anos de serviço.
43%
do último salário será
o valor da reforma
daqui a quase três
décadas
fez os descontos necessários – pelo
menos, 15 anos de contribuições para
a Segurança Social –, pode ter direito à
denominada pensão social de velhice.
Os valores mínimos são definidos e
revistos todos os anos. Em 2023, oscilam
entre 291,48 e 421,75 euros, conforme a
carreira contributiva (quadro ao lado).
Esta pensão é ainda facultada
a pensionistas de velhice ou de
sobrevivência, que usufruam de um
valor inferior. Quem tem rendimentos
mensais ilíquidos iguais ou inferiores
a 192,17 euros ou a 288,26 euros,
tratando-se de casal, também tem direito
à pensão social de velhice. Para mantê-la,
tem de efetuar prova de rendimentos de
três em três anos ou quando solicitada
pela Segurança Social.
Acumulação com outros
benefícios
À pensão social de velhice acresce
o complemento extraordinário de
solidariedade (não necessita de ser
requerido, é acrescido automaticamente).
O valor varia de acordo com a idade.
Quem usufrui do rendimento social de
inserção, de pensão de sobrevivência ou
pensão de viuvez também pode acumular
com a pensão social de velhice. Contudo,
a soma desta com a pensão de viuvez não
pode ser superior a 291,48 euros em 2023
(valor da pensão mínima de invalidez e
de velhice do regime geral de Segurança
Social, como pode ver em cima).
Se os rendimentos ultrapassarem
estes limites, o montante da pensão será
reduzido pelo valor correspondente ao
excesso. Por último, a lei permite ainda
acumular a pensão social de velhice com
o complemento por dependência ou o
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MONTANTE MENSAL
Quanto vou receber?
O montante da pensão de
velhice é influenciado pelo
valor das remunerações
registadas na Segurança
Social e pelo número
de anos em que fez
descontos. Há, porém,
uma fórmula para quem
se inscreveu até 31 de
dezembro de 2001 e outra
para os inscritos após 1 de
janeiro de 2002. Nesta,
são tidos em conta todos
os anos de descontos até
ao limite de 40. A primeira
destaca, sobretudo, os
melhores 10 anos dos
últimos 15.
O montante da pensão
é ainda influenciado por
eventuais penalizações
e aplicação do fator de
sustentabilidade, se pedir a
PENSÃO EM 2023 VALOR MÍNIMO
Carreira contributiva (anos de descontos)
Menos de 15
De 15 a 20
De 21 a 30
31 anos ou mais
complemento solidário para idosos.
Em suma, só a pensão de invalidez, de
velhice (fora das condições já referidas)
ou a prestação social para a inclusão não
podem ser usufruídas conjuntamente.
Apesar de os valores estarem a subir
desde a década de 80, o certo é que 74%
das pensões de velhice são inferiores
ao salário mínimo nacional. Em 2050, a
Comissão Europeia estima que o valor
das reformas deverá cair para menos de
metade do último salário (43 por cento).
DOSSIÊ TÉCNICO Sónia Covita
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antecipação da reforma, ou
bonificações, caso decida
prolongar a vida ativa.
Ainda que o cálculo
da pensão resulte num
montante inferior, há um
valor mínimo, variável com
o número de anos com
contribuições, que pode
consultar no quadro em
baixo. Nos meses de julho
e dezembro, o pensionista
recebe o dobro. Trata-se
de uma espécie de
subsídio de férias e de
Natal.
Como outro rendimento,
a pensão está sujeita a
retenção na fonte para
efeitos de IRS. Pode obter
a declaração anual de
rendimentos de pensões
na Segurança Social Direta.
Valor (€)
291,48
305,77
337,41
421,75
D&D//ACESSO À REFORMA
PEDIDO
Como solicitar a reforma?
Tem duas opções para
apresentar o pedido de
acesso à pensão de velhice:
nos serviços da Segurança
Social, incluindo no Centro
Nacional de Pensões; ou
no site da Segurança Social
Direta. Pode fazê-lo com a
antecedência máxima de três
meses em relação à data em
que pretende reformar-se.
Os formulários estão
disponíveis em www.
seg-social.pt. Devem
ser acompanhados
de um documento de
identificação válido, cartão
de contribuinte, fotocópia
do comprovativo do tempo
de serviço militar, no caso
de esse tempo não ter sido
contado, comprovativo
de IBAN e declaração
da atividade profissional
exercida, se beneficiar de
um regime especial que
permita antecipar a reforma.
A resposta demora, em
média, 50 dias. Todavia, os
pedidos feitos através da
Segurança Social Direta são
tratados mais rapidamente.
A chamada “Pensão na hora”
permite a atribuição de uma
reforma em 24 horas, sendo
atribuído à pensão um valor
provisório. Para ter direito,
é necessário reunir alguns
requisitos: possuir a idade
legal de acesso à reforma
(66 anos e 4 meses em 2023
e 2024); ter o mínimo de 15
anos de carreira contributiva
apenas na Segurança Social;
estar abrangido pelo regime
normal de reforma e não
por carreiras especiais; ser
residente em Portugal; e
não ter dívidas à Segurança
Social, como trabalhador
independente.
Para tornar o processo mais
célere, faça uma simulação
alguns meses antes de
atingir a idade da reforma,
para confirmar se está tudo
bem com os seus dados e a
carreira contributiva. Por fim,
tem 15 dias a contar da data
em que lhe é comunicada
a aceitação do pedido da
reforma, bem como o valor
da pensão, para desistir do
pedido. Pode concluir que
vale mais a pena continuar
a trabalhar.
O MEU DINHEIRO (G391)
Defina uma quantia para ir
pondo de lado, ganhe a
disciplina para o fazer e
aplique esse montante de
forma rentável. Encomende
este guia com o código
23094 em www.deco.
proteste.pt/guiaspraticos
setembro/outubro 2023//D&D 15
Despesa a despesa...
... pode engordar o reembolso do IRS, ao longo do ano, ou, pelo menos,
reduzir o valor do imposto a pagar. Saiba quanto pode deduzir
N
uma altura em que os
rendimentos das famílias
parecem encurtar a cada mês
que passa, qualquer alívio nos
orçamentos mensais é bem-vindo. Em
julho, as tabelas de retenção na fonte
sofreram alterações, dando um ligeiro
impulso aos salários líquidos. Mas
adiantar menos dinheiro ao Estado,
todos os meses, tem uma consequência
inevitável: por altura da entrega do IRS,
há que contar com reembolsos inferiores
ou, no pior dos cenários, com mais
imposto a pagar.
Deduzir no IRS as despesas que faz ao
16 D&D//setembro/outubro 2023
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
longo do ano pode ajudar a equilibrar os
cálculos. Para tal, é fundamental que peça
fatura com o seu número de contribuinte
sempre que faça uma despesa, e que
2500 EUROS valide esses valores no e-Fatura.
Os dados serão depois importados
VALOR MÁXIMO QUE para a declaração de IRS, onde
É POSSÍVEL DEDUZIR, encontrará valores relativos a outras
deduções à coleta que o Fisco considera
DEPENDENDO DO automaticamente. É o caso do eventual
RENDIMENTO DO AGREGADO pagamento de pensões de alimentos, por
exemplo, cujo valor pode ser deduzido
até 20 por cento. Ou dos montantes que
o contribuinte tenha aplicado em planos
de poupança-reforma, também com um
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benefício de 20%, que, consoante a idade
e as deduções à coleta do subscritor,
podem atingir os 400 euros. Ou, até, de
donativos que tenha feito a organizações
de cariz social, cultural, ambiental,
desportivo ou educacional, e que são
dedutíveis em 25 por cento.
Para as contas entra ainda o número
de dependentes a cargo das famílias:
por cada filho com mais de três anos
beneficiam de 600 euros, por filhos até
aos três anos, de 726 euros, sendo que,
a partir do segundo filho, e até que este
perfaça seis anos, há que contar com mais
300 euros.
Todas estas (e outras) deduções não
são, obviamente, cumulativas. Estão
sujeitas a um limite que varia consoante
o escalão de IRS de cada agregado.
Em 2023, e excluindo as deduções de
despesas gerais e familiares, esses limites
são de 1000 a 2500 euros, para quem
aufere anualmente entre 7480 euros e
78 834 euros, e de 1000 euros para quem
tem rendimentos superiores a 78 834
euros. No primeiro escalão (até 7479
euros), não existe teto para as deduções.
Concentre-se no e-Fatura
Há um conjunto de deduções que,
para serem consideradas pelas
Finanças, exigem maior proatividade
do contribuinte. É aqui que entra a
validação de faturas, tarefa que não
deve deixar para a última hora. Ainda
que tenha sempre até 25 de fevereiro
do ano seguinte para o fazer, deve
aceder ao e-Fatura de mês a mês, por
exemplo. Deste modo, evita que as
faturas pendentes se avolumem e previne
esquecimentos sobre a origem dessas
despesas. Lembre-se de que tem de
validar as faturas uma a uma, o que pode
tornar a tarefa demorada, sobretudo se
tiver de o fazer para vários membros do
agregado familiar.
No e-Fatura, as despesas estão
organizadas de acordo com a sua
categoria – despesas gerais familiares,
saúde, educação, lares e habitação (mais
à frente, detalharemos cada uma delas).
Caso alguma das despesas não tenha sido
associada à respetiva categoria pelo
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Posso deduzir?
SIM, NÃO ou TALVEZ Nem sempre é claro que despesas são ou não
elegíveis para dedução. Nalguns casos, há que respeitar uma série
de condicionantes. Conheça alguns exemplos.
Pomada para problema de
pele
Mesmo que sujeita a uma taxa
de IVA de 23%, desde que tenha
uma receita médica a prescrever
a pomada, pode deduzi-la como
despesa de saúde. Neste caso, a
despesa fica pendente no e-Fatura
até que o contribuinte indique se
dispõe ou não de receita. Se não
indicar que tem receita até 25
de fevereiro, o Fisco juntará essa
despesa à categoria das despesas
gerais familiares.
Fraldas
As fraldas para bebés não
são consideradas despesas
de saúde, mesmo se prescritas
por um médico. Já as fraldas para
incontinentes são dedutíveis em 15%,
até 1000 euros, quando compradas
num estabelecimento com código
de atividade de saúde, como as
farmácias. As respetivas faturas
devem ser registadas e validadas
no e-Fatura.
Terapia da fala
Se o seu filho ainda é seu
dependente, eventuais
encargos com terapia da fala são
considerados despesas de saúde.
No entanto, é necessário que
apresente prescrição médica e que
a entidade que presta o serviço
tenha atividade aberta na categoria
de saúde.
D&D//DEDUÇÕES DE IRS
Acompanhamento a idoso
Caso um idoso (ou uma
pessoa que sofra de invalidez)
necessite de auxílio para fazer as
suas deslocações, por exemplo,
pode deduzir 15% dos montantes
pagos a quem o auxilia, desde que
se trate de um profissional de saúde
(como um enfermeiro) e que este
passe recibos com o código de
atividade de saúde.
Calculadora científica
O material escolar sujeito à
taxa máxima de IVA de 23%,
em que se incluem as calculadoras
científicas, e muitos outros artigos
utilizadas na sala de aula, não
pode ser deduzido como despesa
de educação. Da mesma forma,
cadernos, canetas, mochilas e
outros artigos também estão
excluídos. Só é possível deduzir no
IRS manuais escolares, propinas ou
mensalidades, entre outros bens e
serviços isentos de IVA ou taxados a
6 por cento.
Juros do crédito à habitação
É possível deduzir 15% dos
juros pagos pelo crédito à
habitação, para compra de habitação
própria e permanente. No entanto, a
regra aplica-se apenas aos contratos
celebrados até ao final de 2011.
Empréstimos feitos após essa data
não são elegíveis para dedução de
IRS.
setembro/outubro 2023//D&D 17
 sistema, assinale o campo correto.
Deve ainda indicar, em cada uma, se
realizou a despesa no âmbito da sua
atividade profissional. À medida que as
for validando, a plataforma indica o valor
reunido, até ao momento momento, em
cada categoria.
Se perceber que determinada fatura
não está visível na plataforma, pode
inserir os dados manualmente. Mas não
se precipite. Os prestadores de serviços
têm até ao dia 20 do mês seguinte à sua
emissão para a lançarem no sistema.
Se, até ao fim desse prazo, permanecer
em falta, clique no menu “Faturas”,
de seguida, em “Registar Faturas”, e
preencha os campos necessários. Na
eventualidade de algum comerciante se
recusar a emitir o recibo, deve denunciar
a situação à Autoridade Tributária.
Entre 15 e 31 de março, os contribuintes
podem consultar os montantes globais
que lhe foram atribuídos para dedução
no IRS. Nesta fase, o total inclui os
valores que só ficam visíveis depois de
terminado o prazo para validação, no
final de fevereiro, como as rendas da
casa, os juros de crédito à habitação,
as taxas moderadoras ou despesas não
comparticipadas por seguradoras.
Se falhar estas etapas “preparatórias”,
a sua última oportunidade para ver as
despesas deduzidas ao valor do imposto
é inseri-las manualmente na altura da
entrega da declaração de IRS. No entanto,
tal só é válido para as categorias de saúde,
educação, lares e imóveis. As despesas
gerais familiares ficam de fora, assim
NÃO DEIXE A VALIDAÇÃO DE
FATURAS PARA A ÚLTIMA
HORA: EVITA QUE AS
FATURAS PENDENTES SE
AVOLUMEM E PREVINE
ESQUECIMENTOS
SOBRE A SUA ORIGEM
18 D&D//setembro/outubro 2023
como a possibilidade de deduzir mais
algumas centenas de euros ao imposto.
DESPESAS GERAIS
FAMILIARES
Nesta rubrica, cabem
despesas como as faturas da
água, da eletricidade, das
telecomunicações, do supermercado, do
combustível, entre outras. Cada
contribuinte, independentemente de ser
ou não casado, pode deduzir até 35% das
despesas gerais, com um limite de 250
euros. Nas famílias monoparentais, o
limite é superior: 45%, ou seja, 335 euros.
Em ambos os casos, o benefício máximo é
atingido através de uma despesa anual de
745 euros, sendo que o número de filhos
não faz aumentar esse teto. Ao contrário
do que acontece com outras rubricas, os
dependentes não podem contribuir para
a dedução de despesas gerais e familiares.
SAÚDE
É possível deduzir 15% das
despesas de saúde de todos
os membros do agregado
familiar, até ao limite global
de 1000 euros. Se o casal optar pela
tributação separada, o limite passa a ser
de 500 euros.
Nesta categoria, incluem-se despesas
com serviços prestados por profissionais
de saúde, intervenções cirúrgicas,
internamento, seja no setor público
ou no privado, taxas moderadoras,
pagamentos a subsistemas de saúde,
como a ADSE, por exemplo, seguros
de saúde ou contribuições para
associações mutualistas. São também
dedutíveis as despesas com a aquisição
de medicamentos isentos de IVA ou
tributados à taxa reduzida de seis por
cento. As despesas com bens taxados
a 23% de IVA só são elegíveis se
acompanhadas de receita médica, caso
contrário são incluídas na categoria
das despesas gerais familiares. Aqui,
incluem-se não só alguns medicamentos,
mas também produtos alimentares sem
glúten, tratamentos termais, ginástica,
óculos, aparelhos auditivos, produtos
ortopédicos, cremes ou pomadas, terapia
da fala, fraldas para incontinentes, etc.
Pode ainda deduzir como suas as
despesas de saúde dos ascendentes (pais,
sogros ou avós) que residam consigo,
desde que não tenham rendimentos
superiores à pensão mínima.
LARES
As despesas com lares de
idosos ou com apoio
domiciliário para o próprio
contribuinte ou para o
cônjuge também podem ser deduzidas ao
IRS em 25 por cento. Além disso, se sofrer
de deficiência ou tiver a seu cargo, na
mesma situação, dependentes,
ascendentes e colaterais até ao terceiro
grau (irmãos ou tios, por exemplo, com
rendimentos mensais até 705 euros),
também pode deduzir no IRS eventuais
encargos com lares ou residências
autónomas. Para tal, é imprescindível que
a fatura seja emitida com o número de
contribuinte do utente. Nestes casos, é
provável que tenha de rejeitar a
importação automática dos dados
registados no e-Fatura quando estiver a
preencher a declaração de IRS. Só assim
conseguirá acrescentar manualmente os
dados relativos às despesas associadas a
um contribuinte que não integra o
agregado familiar.
Para este tipo de despesa, e ainda que
declare a totalidade dos encargos com
estas instituições, a Autoridade Tributária
só terá em conta um máximo de 403,75
euros anuais no cálculo da dedução.
HABITAÇÃO
O Fisco admite ainda a
dedução de 15% dos juros
de créditos para compra de
habitação própria ou
permanente. O mesmo se aplica a créditos
para obras neste tipo de habitação. No
entanto, apenas os contratos celebrados
até ao final de 2011 são elegíveis. Em regra,
esta dedução tem um limite de 296 euros
anuais, embora os agregados familiares
cujo rendimento coletável não exceda os
30 mil euros anuais possam ver este teto
aumentar para 459 euros.
Já se viver em casa arrendada, pode
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 D&D//DEDUÇÕES DE IRS

deduzir 15% das rendas, desde que esteja
em causa um contrato comunicado às
Finanças. Caso beneficie de apoios como
o subsídio de arrendamento jovem, por
exemplo, deve subtrair esses montantes
ao total declarado como rendas. Ao
preencher a declaração de IRS, embora
possa indicar a totalidade paga ao longo
do ano, o Fisco apenas terá em conta um
montante máximo de 502 euros. Para os
contribuintes com rendimento até 7116
euros, este limite sobe para 800 euros. Já
para os contribuintes com rendimento
entre 7116 e 15 216 euros, a dedução
máxima varia entre 799 e 503 euros.
Ou seja, à medida que o rendimento vai
subindo, a bonificação vai descendo.
EDUCAÇÃO
Sobretudo para as famílias
com filhos em idade
escolar, esta é uma
categoria crítica. Embora
as despesas com a educação se
multipliquem, quando chega a hora de
deduzir, o Fisco não se mostra generoso.
Apenas os bens isentos de IVA ou com
IVA a 6% são elegíveis. É o caso dos
encargos com matrículas, propinas e
mensalidades de estabelecimentos de
ensino de qualquer nível. Estão ainda
FATURAS SEM PAPEL
incluídas despesas com manuais
escolares, explicações (desde que
comprovadas com fatura), ensino de
línguas, música, canto ou teatro (em
estabelecimentos integrados no Sistema
Nacional de Educação), refeições
escolares e amas que passem recibo. As
famílias podem deduzir 30% deste tipo
de despesas, com um limite de 800 euros
por agregado. Este valor sobe para os
1000 euros nos casos dos estudantes
deslocados, que podem deduzir um
máximo de 300 euros em rendas.
De fora ficam as despesas com material
escolar, como cadernos ou lápis, por
exemplo, com material informático
ou eletrónico, instrumentos musicais,
explicações sujeitas à taxa máxima de
IVA, transporte, entre outras. A DECO
PROTeste continua a contestar que a taxa
de IVA seja o principal critério usado
para definir o que é considerado despesa
de educação. Se todas as despesas com
material escolar pudessem ser deduzidas
no IRS, muitas famílias poderiam poupar
centenas de euros todos os anos.
O IVA é outra coisa
Além da dedução deste conjunto de
despesas, os contribuintes podem ainda
reaver uma parcela do IVA pago pela
AS DEDUÇÕES À COLETA
NÃO DEVEM CONFUNDIR-SE
COM AS DESPESAS COM
BENEFÍCIO DE IVA
aquisição de alguns bens ou serviços,
pelo simples facto de exigirem fatura no
ato da compra. Esta é uma importante
distinção a fazer: as deduções à coleta
não devem confundir-se com as despesas
com benefício de IVA.
Entre as despesas que permitem reaver
uma parte do IVA estão os encargos
com a reparação e manutenção de
automóveis e motociclos, restauração
e alojamento, cabeleireiros, institutos
de beleza e estabelecimentos de
atividade física, como ginásios ou clubes
desportivos. Assim, 15% do IVA pago
por estes serviços ser-lhe-ão devolvidos
se validar as respetivas despesas no
e-Fatura. Pode também reaver 35% do
IVA pago em despesas com veterinários
e medicamentos de uso veterinário e
ainda a totalidade do imposto, no caso
dos passes ou bilhetes de transportes
públicos e das assinaturas de publicações
periódicas. No total, este benefício –
que é atualizado no e-Fatura, à medida
que for validando as despesas – tem o
limite anual de 250 euros. Qualquer que

Acesso facilitado seja o valor, e embora não apareça na

declaração de IRS, é tido em consideração
na hora de as Finanças acertarem contas
Porquê?
A maioria das faturas deve ser preservada durante quatro anos. No caso das
com o contribuinte: se estiver em causa
rendas, esse prazo estende-se para cinco anos. um reembolso, o benefício do IVA é
adicionado a esse montante, se houver
Onde? mais imposto a pagar, é deduzido ao total.
O serviço Faturas Sem Papel permite armazenar estes documentos em Uma nota importante: no caso do
formato digital. Ao aderirem ao serviço, os contribuintes passam a receber IVA, somente a validação das despesas
as faturas passadas com número de contribuinte por e-mail, desde que no e-Fatura dá direito ao benefício. Se
emitidas por estabelecimentos aderentes.
deixar passar o prazo de 25 de fevereiro
e nada fizer, tais valores não poderão ser
Como?
Pode aderir ao serviço em https://eportugal.gov.pt/faturas-sem-papel, inseridos manualmente na declaração de
através da chave móvel digital ou do cartão de cidadão. Deve indicar em que IRS e ficará, certamente, a perder.
e-mail pretende receber as faturas e definir um código PIN para abri-las. Se
apagar alguma fatura por engano, por exemplo, pode pedir o seu reenvio. DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 19

D&D//SEGUROS PARA ESTUDAR NO ESTRANGEIRO

Protegidos lá fora
Há seguros específicos para quem vai estudar durante uns meses
no estrangeiro. Pagam as despesas médicas e os danos provocados
a terceiros, mas não só
Texto Isabel Vasconcelos

A
possibilidade de estudar num
estabelecimento de ensino
estrangeiro durante algum
tempo – um mês, um semestre
ou um ano – é algo que alicia muitos
jovens, pois é uma forma de conhecer
outras culturas, métodos de ensino
diferentes e praticar outro idioma.
O programa europeu Erasmus, por
exemplo, permite que jovens no ensino
superior, e não só, possam fazer parte
do percurso escolar numa instituição
estrangeira. Mas também há escolas de
línguas que organizam cursos em países
como Reino Unido ou França, para o
aperfeiçoamento do idioma.
Qualquer que seja a razão que
leva jovens ou adultos a estudar no
estrangeiro, uma preocupação dos pais,
ou do próprio estudante, costuma ser
a segurança e o bem‑estar, sobretudo
se adoecerem ou sofrerem algum
acidente. Existem seguros de viagem
que, por serem complementados com
determinadas coberturas, garantem o
pagamento de várias despesas a quem
estiver fora de Portugal. A maioria
garante indemnizações por morte ou
invalidez, em caso de acidente, bem
como o pagamento de despesas médicas
ou de danos a terceiros.
Um seguro para quem estuda fora
A DECO PROTeste foi pesquisar a oferta
das seguradoras para quem vai estudar no
estrangeiro e encontrou 11 produtos que,

20 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

embora sejam seguros de viagem, pelas
características que têm, abrangem quem
for estudar fora do País. São vendidos
em pacotes com várias coberturas e têm
a duração do período em que o segurado
estiver a estudar no estrangeiro.
Segundo as seguradoras, estes
produtos podem ser contratados para
qualquer parte do mundo, embora possa
haver capitais diferentes consoante o
país de destino. É o caso da apólice da
InterMundial, que, na cobertura de
despesas médicas, inclui um capital
superior para quem estudar nos Estados
Unidos da América, dado a assistência
médica neste país ser mais cara.
A maioria das apólices não aplicam
nenhum limite de idade, pelo que podem
ser contratadas por qualquer estudante.
As exceções são a Fidelidade e a Europ
Assistance, que não aceitam maiores de
74 anos no seguro, e a Allianz Assistance,
que só contrata a pessoas até 35 anos.
Doença, acidentes e não só
A cobertura de despesas médicas
é, talvez, um motivo de peso para a
contratação deste tipo de seguro. Adoecer
ou sofrer um acidente quando se está
no estrangeiro pode deixar tanto quem
está a estudar, como quem está longe,
preocupado, e há que garantir que se
consegue uma boa assistência.
Contudo, na Europa, os portugueses
podem usar o cartão europeu de
seguro de doença. Este facilita o acesso
a tratamentos médicos aquando de
estadas temporárias noutro país da União
Europeia, na Islândia, no Liechtenstein,
na Noruega, na Suíça e no Reino Unido.
Regra geral, este documento permite o
acesso aos cuidados médicos nos moldes
aplicáveis a qualquer beneficiário do
sistema público de Segurança Social
desse país.
Por outro lado, se tiver um seguro de
saúde, também pode recorrer a cuidados
de saúde privados. Mas, em regra, a
estada terá de ser inferior a 60 dias e a
seguradora deverá ser avisada antes da
partida.
Um seguro de viagem para quem vai
estudar no estrangeiro inclui, além
www.deco.proteste.pt
SE A EUROPA É O LOCAL DE
DESTINO, O CARTÃO EUROPEU
DE SEGURO DE DOENÇA
COBRE AS DESPESAS
MÉDICAS COMO SE DE
UM CIDADÃO DO PAÍS
SE TRATASSE
ESCOLHA
A seleção
ACERTADA DECO PROTeste
A melhor apólice é a da InterMundial
Study Plus. Para determinar os prémios,
foram usados dois cenários: um jovem
de 20 anos que foi estudar para a
Bélgica, por seis meses, e um menor de
16 anos que foi fazer um curso intensivo
de um mês, ao Reino Unido.
ESTUDAR POR SEIS MESES
Fidelidade Viagem 2
Erasmus 67 POUPE
Prémio 143,24 € 51 €
Inclui um capital
de 25 mil euros para despesas médicas,
farmacêuticas e de hospitalização.
Disponibiliza mil euros para odontologia.
Reembolsa 50 mil euros em caso de
morte ou invalidez, e 1250 euros por
danos em bagagem não acompanhada.
ESTUDAR POR UM MÊS
InterMundial
Study Plus 72 POUPE
Prémio 37,55 € 45 €
Paga até 60 mil euros das
despesas médicas na Europa e no
mundo, e 100 mil euros nos EUA. Inclui
150 euros para despesas odontológicas.
Garante um milhão de euros para
responsabilidade civil, bem como
15 mil por morte e 15 mil por invalidez
permanente.
de despesas médicas, um conjunto de
outras coberturas que visam apoiar o
estudante que se encontra fora do País
em diferentes situações. Vejamos o que
está incluído na maioria das apólices
analisadas.
As despesas médicas constam em todos
os produtos. Válidas em todo o mundo, as
garantias são semelhantes às do seguro
de assistência em viagem do automóvel,
e a cobertura pode ser ativada em caso de
acidente ou doença. Entre outras, pode
ser usada para o pagamento de despesas
médicas e farmacêuticas, transporte ou
repatriamento de feridos ou doentes e
custos com a deslocação de um familiar,
quando o período de hospitalização se
prolonga. Esta cobertura não abrange
despesas odontológicas, mas estas
acabam por estar incluídas na maioria
das apólices, numa cobertura separada.
Outra situação quase sempre coberta
pelos produtos analisados é morte e
invalidez permanente. Nestas situações,
é paga uma indemnização no valor
do capital seguro aos herdeiros, ou ao
segurado, em caso de invalidez. Com
exceção da Allianz AP Estudantes
Plano3, os capitais não são muito
altos – começam nos 15 mil euros –,
provavelmente por ser um seguro que
poderá ser mais usado por jovens. Daí
esta cobertura também ter menos peso
na Qualidade Global.
O capital para responsabilidade
civil garante o pagamento de despesas
devidas a danos provocados de forma
involuntária a outras pessoas. Por
exemplo, se, ao deslocar‑se de bicicleta,
o estudante embater num carro e
riscar a pintura deste. Na apólice da
Europ Assistance esta cobertura não
está incluída no pacote, mas pode ser
contratada e paga em separado.
Nem tudo interessa
Há coberturas importantes que devem
estar incluídas, outras são dispensáveis.
Se fizerem parte do pacote da apólice,
nada há a fazer, mas, se forem opcionais,
não compensa contratar. É o caso de
danos em bagagens, das despesas por
interrupção escolar ou da proteção
setembro/outubro 2023//D&D 21
D&D//SEGUROS PARA ESTUDAR NO ESTRANGEIRO

de propinas. Esta última é opcional
na Fidelidade. Os danos em bagagem,
por exemplo, excluem certas situações
e objetos. Mais: quem viaja de avião e
vê a sua bagagem perdida, danificada
ou atrasada, pode ter direito a uma
indemnização da companhia aérea no
valor máximo de cerca de 1400 euros:
perto do valor que as seguradoras dão.
No quadro, as apólices são avaliadas
segundo a importância das coberturas
que incluem e os capitais propostos em
cada uma. Para o cálculo do prémio,
foram considerados dois cenários que
envolvem jovens que vão estudar para
fora. Um tem 20 anos e vai fazer um
semestre de estudos na Bélgica, através
do programa Erasmus. No segundo
cenário, um jovem de 16 anos vai
frequentar um curso intensivo de inglês
no Reino Unido, durante um mês.
Os valores dos prémios variam bastante,
mas as apólices também. A InterMundial
Study Plus é a melhor apólice, das 11
analisadas, e é também a que apresenta o
prémio mais baixo para quem vai estudar
fora durante um mês: 37,55 euros. Já quem
for um semestre, a Fidelidade Viagem 2
Erasmus revela uma boa qualidade e um
prémio mais em conta: 143,24 euros.
O que fica de fora
Por muitas coberturas que as apólices
tenham, há sempre aspetos que ficam de
fora. É o caso dos acidentes resultantes
de crimes ou atos intencionais,
originados pelo consumo de álcool ou
estupefacientes, ou ocorridos durante
a prática profissional de desportos.
O suicídio ou a sua tentativa é outra
situação excluída, bem como os danos
provocados por guerra, terrorismo,
tumultos e greves, e os decorrentes
da utilização de veículos motorizados
de duas rodas. Na verdade, a lista de
exclusões é extensa, incluindo a prática
de desportos considerados perigosos
(como parapente ou boxe), cataclismos
da natureza, e hérnias e lombalgias.
Algumas apólices podem abranger certas
exclusões, como os cataclismos, por um
sobreprémio. Noutras, é possível incluir
atos de terrorismo, como opção.
Seja como for, o melhor mesmo, para
garantir a melhor proteção enquanto se
estuda no estrangeiro, é ler com atenção
as exclusões incluídas no seguro que lhe
interessa.
DOSSIÊ TÉCNICO Sandra Justino

SEGUROS PARA ESTUDAR NO ESTRANGEIRO

Seguradora e produto Coberturas e capitais (€) Prémio (€)

em Erasmus por seis meses,

curso intensivo de inglês de

Estudante, de 16 anos, num

QUALIDADE GLOBAL (%)

um mês, no Reino Unido
Estudante, de 20 anos,
Responsabilidade civil
Despesas médicas

Morte ou invalidez
permanente

na Bélgica

Europa 60 mil; Mundo 60 mil; Morte 15 mil; invalidez

FF InterMundial Study Plus 1 milhão 195,26 37,55 72
EUA 100 mil permanente 15 mil
IATI Estudos 100 mil não inclui 60 mil 258,56 47,88 70
F Fidelidade Viagem 2 Erasmus 25 mil (franquia 50 €) 50 mil não inclui 143,24 100,92 67
10 mil
Europ Assistance Erasmus Travel 60 mil (franquia 50 €) 25 mil (opcional) 251,10 107,88 61
(opcional)
Morte 150 mil; invalidez
Allianz AP Estudantes Plano3 15 mil não inclui 232,18 232,18 52
permanente 150 mil
Tranquilidade 5 mil (franquia 75 €) 25 mil 20 mil 105,21 56,99 51
Allianz Assistance 60 mil não inclui não inclui 357,31 62,31 49
Tranquilidade Base 5 mil (franquia 75 €) 25 mil 10 mil 82,44 43,98 48
Morte 75 mil; invalidez
Allianz AP Estudantes Plano2 10 mil não inclui 130,21 130,21 48
permanente 75 mil
Allianz Assistance Estudante Standard 30 mil não inclui não inclui 323,84 56,47 48
Morte 35 mil; invalidez
Allianz AP Estudantes Plano1 5 mil não inclui 61,55 61,55 45
permanente 35 mil

F MELHOR DO TESTE PRODUTO COM OS MELHORES RESULTADOS NOS TESTES F ESCOLHA ACERTADA PRODUTO COM A MELHOR RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE E O PREÇO
A MUITO BOM B BOM C MÉDIO D MEDÍOCRE E MAU MUITO BOA QUALIDADE BOA QUALIDADE MÉDIA QUALIDADE MÁ QUALIDADE

22 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

CAPA//RENEGOCIAÇÃO DE CRÉDITOS

Missão:
renegociar
Numa altura em que os encargos com o crédito à habitação continuam a subir,
renegociar é a palavra de ordem. Embora os bancos não estejam a facilitar a tarefa
a quem procura um alívio na prestação, há que insistir. Porque existem soluções.
Pelo menos, sete
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo

24 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

A 205 milhões
pesar de alguns sinais de
abrandamento, a escalada dos
juros do crédito à habitação
prossegue imparável. Segundo
o Instituto Nacional de Estatística, em
junho, os juros já representavam, em
média, 50% do valor da prestação, nos
contratos em vigor. Um ano antes, com a
Euribor ainda em terreno negativo, essa
parcela era de apenas 16 por cento.
Uma diferença tão significativa
num tão curto período de tempo
encontra explicação na subida
meteórica da Euribor, o indexante
dos créditos com taxa variável. Se,
em 2008, quando a média a 12 meses
bateu recordes e chegou aos 5,392%,
a variação de aproximadamente três
pontos percentuais levou três anos a
consumar‑se, desta vez, a subida de 4,5
pontos percentuais (de -0,5% para 4%)
ocorreu em metade do tempo.
O impacto tem sido brutal para
as famílias que detêm 1,33 milhões
de contratos de crédito à habitação
indexados à Euribor. Quem, por exemplo,
tenha contratado, em julho de 2021, um
crédito de 100 mil euros, a 20 anos, com
um spread de 1%, começou por pagar
uma prestação de 437 euros. Passados
dois anos, terá visto esse montante sofrer
um agravamento de 45%, para 632 euros.
No mesmo período, o encargo com os
juros multiplicou‑se por 9, disparando
dos 40 para os 367 euros mensais.
Resultado: estima‑se que, ao longo
destes dois anos, a fatura mensal das
famílias portuguesas com o empréstimo
da casa tenha sofrido um aumento na
ordem dos 205 milhões de euros.
Em julho, num inquérito online da
DECO PROTeste a 945 portugueses,
entre os 30 e os 74 anos, 46% dos que
têm crédito à habitação afirmavam que o
encargo com a prestação já ultrapassava
35% do seu rendimento mensal, limite
máximo recomendado. Destes, 6%
assumiam mesmo que destinavam mais
de metade do rendimento a essa despesa.
Não admira, por isso, que cerca de metade
tenha admitido correr, pelo menos,
algum risco de deixar de conseguir pagar
o crédito ao banco.
www.deco.proteste.pt
720 euros anuais, valor muito aquém das
centenas de euros mensais de aumentos
que os consumidores têm sentido.
Montante pago Os inquiridos pela DECO PROTeste
a mais pelas famílias, com crédito à habitação são
nos últimos dois anos, peremptórios: para 63%, o programa
Mais Habitação não responde de
pelo empréstimo da casa forma adequada às necessidades dos
portugueses, por ser pouco abrangente.
Foi precisamente por partilhar dessa
50%
visão que, em abril, a DECO PROTeste
apresentou um conjunto de propostas,
dirigidas a um universo de consumidores
muito mais alargado. Tal permitiria às
Peso médio dos juros famílias acionarem um “travão” para
nas prestações, em junho manter as prestações constantes sempre
que os juros sofram um aumento de
três pontos percentuais acima da taxa
contratada, ocorrendo um ajuste no
prazo do empréstimo. Mas, vários
Apoios são insuficientes meses volvidos, nem Governo, nem os
O agravamento deste quadro levou o grupos parlamentares se mostraram
ministro das Finanças, Fernando Medina, interessados em discutir estas propostas,
a anunciar, para setembro, o alargamento que não só se traduzem numa ajuda
do apoio público à bonificação de juros a efetiva às famílias, como não têm
quem tenha ultrapassado os 50% de taxa qualquer custo para os cofres do Estado.
de esforço. Mas o alcance destas medidas
continua limitado. Além das apertadas Contra os aumentos,
condições de acesso, que deixam muitos renegociar, renegociar
milhares de famílias de fora, garantem, No esforço de minimizar o impacto
na melhor das hipóteses, uma ajuda de da subida dos juros, resta aos
CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES
O insustentável peso dos juros
Em Portugal, a maioria dos empréstimos para a compra de casa usa o sistema
de amortização francês para calcular o valor das prestações. Este método
determina, em teoria, que as prestações são constantes, independentemente
do capital em dívida (isto é, a prestação não baixa à medida que aquele vai
sendo amortizado). Ou seja, se a taxa de juro não variasse (o que, naturalmente,
não acontece nos créditos com taxa variável), o valor da prestação manter‑se‑ia
inalterado ao longo de todo o contrato. O que muda, a cada prestação, é o
peso das duas variáveis que a compõem: juros e capital amortizado. Como o
banco calcula os juros com base no capital em dívida – que, com este método,
não é dividido, de forma aritmética, pelo número de meses contratados –,
nos primeiros anos, aqueles representam uma parcela muito superior à da
amortização. Conforme o empréstimo vai avançando, a parcela dos juros
vai diminuindo e a prestação passa a ser composta maioritariamente pelo
montante que é subtraído à dívida. Este método faz ainda com que, em alturas
de subidas das taxas de juro, para acomodar o aumento dessa parcela, a
amortização sofra uma redução muito acentuada.
setembro/outubro 2023//D&D 25
D&D//RENEGOCIAÇÃO DE CRÉDITOS
consumidores apostarem na
renegociação dos seus contratos. Seja
através de reduções do spread (que se
soma ao indexante da taxa de juro), do
alargamento do prazo dos empréstimos
ou até da mudança para um contrato com
taxa mista. Ao longo deste artigo poderá
conhecer sete soluções possíveis.
Recorde‑se que, em novembro de
2022, foi aprovada legislação que passou
a obrigar os bancos a renegociarem os
contratos de crédito à habitação, sempre
que a taxa de esforço dos titulares atinja
os 36 por cento. Mas, na prática, os
consumidores relatam pouca disposição
da banca para encetar negociações.
Que o diga a leitora Paula S., que, em
2011, no seguimento de um processo
de divórcio, assinou um contrato de
crédito hipotecário com taxa variável,
Alívio na prestação
Renegociar o crédito à habitação para
reduzir o peso da prestação no orçamento
familiar pode passar por um conjunto de
soluções, enumeradas nas sete fichas
ao lado. Optar por cada uma delas vai
depender das condições de cada caso
concreto.
Veja um exemplo de quanto poderia baixar
o encargo mensal com cada solução, qual o
peso dos juros e da amortização de capital
nas prestações revistas e ainda os eventuais
custos acrescidos que algumas das opções
acarretam.
Cenário
Capital em dívida 100 000 €
Prazo 20 ANOS
Spread 1%
Euribor 6 MESES
PRESTAÇÃO 650,33 €
26 D&D//setembro/outubro 2023
indexado à Euribor a 3 meses, com um
spread de 3,159 por cento. Elevado aos
olhos de hoje, o valor estava, no entanto,
dentro do que se praticava na altura.
Além disso, o montante solicitado não
era particularmente alto e, por isso,
pagar a prestação, que não chegava aos
300 euros, não era um problema. Até
há pouco tempo. A partir de 2022, a
prestação sofreu aumentos sucessivos,
a cada trimestre, até atingir um valor
incomportável. Após a última revisão,
Paula viu a taxa de juro do crédito atingir
os 6,329%, e o encargo com a casa
agigantar‑se para 600 euros, absorvendo
cerca de 60% do orçamento familiar.
A conselho da DECO PROTeste,
solicitou ao banco a revisão do spread.
Este acedeu a avaliar a hipótese de uma
revisão “ligeira”, mas, passados dois
1. AMORTIZAR
O CRÉDITO
Se tem algumas poupanças, esta é
a melhor solução para reduzir, de
uma forma global, o peso do crédito
da casa. Antes de avançar, e se tiver
esse dinheiro aplicado, compare a
TAEG do empréstimo com a taxa
de rentabilidade líquida (TANL) do
produto em questão. Se a taxa do
crédito for superior, então, amortize.
Ganha duplamente: não só reduz a
prestação e o encargo global com
os juros, como poupa no prémio do
seguro de vida. Até ao final do ano, a
comissão de amortização de 0,5%, nos
créditos com taxa variável, não pode
ser cobrada.
DESVANTAGEM Fica sem poupanças
ou, pelo menos, sem uma parte.
AMORTIZAÇÃO PARCIAL
15 000 €
PRESTAÇÃO REVISTA
552,78 €
amortização 211,01 € + juros 341,77 €
POUPANÇA MENSAL
97,55 €
meses, Paula continua sem qualquer
resposta. Entretanto, contactou outras
instituições; no entanto, a dívida
inferior a 50 mil euros não se tem
revelado suficientemente atrativa para a
concorrência.
Além disso, e embora preencha a
maioria dos requisitos para beneficiar
da bonificação de juros, por estar em
causa um crédito hipotecário (e não
à habitação), Paula não pode recorrer
ao mecanismo do Estado.
Pondere bem
Só no primeiro semestre de 2023, a
DECO PROTeste recebeu mais de 2 mil
contactos de consumidores que estão
a tentar renegociar os seus contratos.
Os relatos variam consoante os bancos,
os montantes envolvidos, os prazos
2. RENEGOCIAR
O SPREAD
Excluindo uma eventual amortização,
esta é a única forma de baixar o custo
total do financiamento. Se tem um
spread superior a 1,5%, com facilidade
encontrará melhores propostas. O
simulador da DECO PROTeste, em
deco.proteste.pt/comprar-casa,
ajudá-lo-á nesta tarefa. Confronte
o seu banco com as propostas
da concorrência e, se este não as
acompanhar, pondere transferir o
crédito. Se tem um spread abaixo
dos 1,5%, também pode renegociá‑lo,
embora a poupança seja menor, devido
ao atual nível de taxas de juros.
DESVANTAGEM Não há.
REDUÇÃO
de 1% para 0,75%
PRESTAÇÃO REVISTA
636,70 €
amortização 255,45 € + juros 381,25 €
POUPANÇA MENSAL
13,63 €
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contratados e os contextos das próprias
famílias.
Vejamos o caso de Maria S., que
comprou casa em 2021, ainda com a
Euribor em valores negativos. Alarmada
com as notícias sobre os aumentos
de centenas de euros nos créditos à
habitação, quis perceber o que a esperava,
aquando da revisão do seu contrato,
em agosto deste ano. O resultado fez
soar os alarmes: com uma taxa de juro a
rondar os 5,3%, teria a pagar mais 300
euros mensais. Contactou o banco e, em
simultâneo, pediu propostas a outras
instituições. Da concorrência obteve uma
oferta de taxa mista, com um período
inicial de dois anos de taxa fixa, no valor
de 3,25%, a que se seguiria taxa variável,
pelo prazo remanescente, com um
spread de 1,05 por cento. Comparou estes
3. ALARGAR O PRAZO
Para aliviar o peso da prestação no
orçamento mensal, pondere alargar o
prazo para pagamento do empréstimo.
Tenha atenção aos limites máximos
para a concessão de crédito, ou seja,
40 anos, para mutuários com idade até
30 anos; 37 anos, para pessoas entre
30 e 35 anos; e 35 anos, para quem
tem mais de 35 anos. Se optar por
esta solução, logo que a sua situação
financeira o permita, tente reduzir o
prazo.
DESVANTAGEM Esta solução implica
sempre um acréscimo de encargos
com os juros. Neste caso, de mais
16 253,45 euros, até ao final do
contrato.
ALARGAMENTO
de 20 para 25 anos
PRESTAÇÃO REVISTA
574,44 €
amortização 172,36 € + juros 402,08 €
POUPANÇA MENSAL
75,89 €
www.deco.proteste.pt
números com a proposta de renegociação
enviada pelo próprio banco: taxa
mista de 3,75%, também de dois anos,
mantendo o spread de 1,2%, que já tinha
no momento, durante o período de taxa
variável.
Ao confrontar o seu banco com a
proposta concorrente, não recebeu a
resposta que esperava: a instituição
recusou‑se a igualar o valor da taxa fixa,
que vigoraria nos dois anos seguintes.
Mas propôs‑lhe a redução do spread
do período variável, de 1,2% para 0,8
por cento. Maria ponderou e decidiu
manter‑se no seu banco. Apesar de a
taxa fixa oferecida ser mais elevada do
que a da concorrência, esta renegociação
permitiu‑lhe reduzir para quase metade
o impacto da subida prevista para o seu
contrato, nas condições então em vigor.
4. PEDIR UM PERÍODO
DE CARÊNCIA
A forma mais eficaz de reduzir
significativamente a prestação, no
imediato, é através de um período
de carência, durante o qual pagará
apenas juros. Segundo as estatísticas,
esta é a solução encontrada numa em
cada três renegociações de contratos.
O alívio no encargo mensal é inegável,
mas, em contrapartida, o crédito sofre
um aumento de custos.
DESVANTAGEM Como, durante o
período de carência, o capital em
dívida não sofre qualquer alteração,
haverá mais juros a pagar – 9649,92
euros, neste exemplo.
CARÊNCIA DE CAPITAL
2 anos
PRESTAÇÃO REVISTA
402,08 €
amortização 0 € + juros 402,08 €
POUPANÇA MENSAL
248,25 €
Além disso, acabou por obter um spread
mais reduzido do que aquele que havia
contratado inicialmente.
De entre as várias opções de
renegociação de um contrato de crédito,
e se excetuarmos a amortização de
capital, a redução do spread é a única
solução inteiramente vantajosa, sem
implicações indesejadas, como o
aumento do custo total do crédito a
longo prazo. Por outro lado, esta é uma
consequência inevitável quando a
solução encontrada é, por exemplo, o
alargamento do prazo do empréstimo
ou a fixação de um período de carência.
Embora, no imediato, estas opções
sirvam o propósito de aliviarem o valor
das prestações mensais, carregam
consigo custos acrescidos que serão
sentidos no futuro (exemplos abaixo).
5. ESTABELECER
UM VALOR RESIDUAL
Pode ainda transferir uma
percentagem do capital em dívida
para uma prestação única, no final do
contrato, e assim reduzir o valor das
prestações atuais. No entanto, assim
que possível, tente ir amortizando o
valor residual. Porque esta solução
também resulta em mais dinheiro
pago ao banco.
DESVANTAGEM Além da prestação
final ser de montante muito elevado,
o encargo global com os juros
aumentará substancialmente em
24 125 euros.
ÚLTIMA PRESTAÇÃO
25 000 €
PRESTAÇÃO REVISTA
588,26 €
amortização 186,18 € + juros 402,08 €
POUPANÇA MENSAL
62,07 €
setembro/outubro 2023//D&D 27
D&D//RENEGOCIAÇÃO DE CRÉDITOS
Taxa fixa, mas...
Os alertas à navegação não ficam por
aqui. Há que avançar para a renegociação
atento às letras miúdas.
É o que prova o caso de Maria R.
Ainda com o orçamento sob controlo,
mas com os olhos postos em futuros
aumentos, procurou melhorar as suas
condições. Sem resposta satisfatória do
seu banco, resolveu ir à concorrência.
À semelhança do caso anterior, foi‑lhe
proposta uma taxa mista. Depois de um
período inicial de dois anos, com uma
taxa fixa de 3,75%, seguir‑se‑ia a taxa
variável, com um spread de 0,8 por cento.
A oferta ia, precisamente, ao encontro
do que procurava: permitia manter a
prestação inalterada por dois anos,
tempo, eventualmente, suficiente para as
6. MUDAR PARA
TAXA MISTA
As taxas de juro propostas pela
banca têm vindo a subir e não são,
atualmente, minimamente atrativas.
O mesmo se aplica às taxas fixas,
principalmente nos prazos longos.
No entanto, muitos bancos estão a
apresentar propostas competitivas
de taxa mista, com um período inicial
de taxa fixa de até dois ou três anos,
seguido de um regime de taxa variável.
Esta poderá ser uma boa solução para
baixar a prestação da casa, se o valor
proposto no período inicial for inferior
às médias da Euribor.
DESVANTAGEM Se, eventualmente,
decidir amortizar o crédito no período
de taxa fixa, pagará uma comissão de
2% do valor amortizado.
TAXA FIXA
3,5% durante 2 anos
PRESTAÇÃO REVISTA
579,96 €
amortização 288,29 € + juros 291,67 €
POUPANÇA MENSAL
70,37 €
28 D&D//setembro/outubro 2023
taxas de juro normalizarem e, quem sabe,
até, iniciarem uma rota descendente.
Mas após analisar a Ficha de Informação
Normalizada Europeia (FINE), percebeu
que o spread também se aplicava ao
período de taxa fixa, resultando esta em
4,55%, e o que parecia uma boa proposta
deixou de o ser.
O problema não se resume à falta de
transparência do banco. Passamos a
explicar: enquanto, nos contratos com
taxa variável, os juros resultam da soma
de um indexante com o spread, à taxa
fixa não deveria adicionar‑se qualquer
tipo de componente. Mas, como a oferta
de taxa fixa não está regulamentada,
cada instituição tem total liberdade para
determiná‑la como entender. Enquanto
não for criada legislação para o efeito,
7. TROCAR
O INDEXANTE
Os contratos de taxa variável são
compostos por um indexante de
referência (Euribor a 3, 6 ou 12 meses)
a que acresce um spread, em função
do risco do cliente. Quanto maior for
a maturidade do indexante, maior é,
geralmente, o seu valor. Por isso, se
o seu contrato utiliza a Euribor a 12
meses, alterar o indexante para prazos
inferiores (3 ou 6 meses) gera uma
poupança, no imediato.
DESVANTAGEM Implica uma revisão
mais regular do valor da prestação, o
que, em alturas de subida dos juros,
poderá trazer mais instabilidade ao
orçamento familiar.
TROCAR EURIBOR A 6 MESES
pelo indexante a 3 meses
PRESTAÇÃO REVISTA
634,59€
amortização 256,59 € + juros 378 €
POUPANÇA MENSAL
15,74 €
há que ficar especialmente atento às
condições propostas pelos bancos.
Garanta as melhores condições
Os consumidores não devem sentir‑se
desencorajados de renegociarem os
seus créditos. Mesmo nos casos em que
a situação ainda não é particularmente
difícil, é preferível negociar melhores
condições com o banco, para mantê‑la
controlada.
Para tal, verifique, periodicamente,
se as condições do seu financiamento
estão em sintonia com o que está a ser
praticado no mercado. Se não for o
caso, não hesite em renegociá‑las. Se a
resposta tardar, insista. Nenhum banco
tem interesse em obter menos lucro com
um crédito que já está contratado e, por
isso, tendem a protelar as respostas a
estes pedidos.
Mas não fique por aí. Solicite
simulações noutras instituições, que
podem ser bastante úteis para levar o seu
banco a aproximar‑se, ou, até, a superar
as propostas da concorrência.
Por último, não receie transferir o
crédito. Embora possa ser um processo
burocrático e dispendioso, é frequente
os bancos de destino assegurarem
os encargos, nomeadamente com as
despesas notariais e de avaliação do
imóvel. Além disso, até ao final do ano, a
amortização antecipada de créditos com
taxa variável continua isenta da comissão
de 0,5 por cento. Aproveite.
DOSSIÊ TÉCNICO Bruno Carvalho, Margarida Zacarias
e Nuno Rico
COMPRAR E VENDER
CASA (G419)
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 D&D//GINÁSIOS

A boa forma
é para todos
A marcação de aulas de grupo e o acesso às instalações do ginásio,
por vezes, obrigam o utente a ter um smartphone com a aplicação instalada.
A DECO PROTeste defende que a utilização de meios presenciais
não deve ser esquecida pelos ginásios
Texto Rita Santos Ferreira & Filipa Rendo

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 29

F
requentar o ginásio é um direito
de todos os utentes. No entanto,
a digitalização, cada vez mais
comum, pode excluir quem não
tenha possibilidade de aceder a meios
digitais. Mas o que tem que ver a prática
de atividade física em ginásios com as
novas tecnologias? Hoje em dia, quase
tudo. Ora veja.
Marcação de aulas só pela app
gera exclusões?
O agendamento de aulas em grupo,
em diversas cadeias de ginásios, é
feito através da aplicação do clube, o
que presume que o consumidor tenha
um smartphone. No entanto, alguns
utentes podem não ter acesso ou estar
à vontade com esse dispositivo, ou ter
falta de memória no equipamento, o
que os impossibilita de descarregarem a
aplicação. E, como tal, veem-se privados
de aceder à aula. Embora seja possível,
na maioria dos casos, solicitarem
uma senha na receção, estas estão
dependentes das vagas da aplicação. Ou
seja, se as vagas para uma determinada
aula já estiverem esgotadas na aplicação,
não terá senhas na receção, pois não
existem mais lugares disponíveis para
essa sessão. Terá de esperar que alguém
desista para poder frequentar a aula.
Este problema pode ocorrer em
ginásios de maior dimensão, como o
Holmes Place e o Fitness Hut. Neste
último, ainda acontece outra coisa: o
acesso ao estabelecimento é feito através
de um código, em formato código QR,
AS MARCAÇÕES REALIZADAS
ATRAVÉS DA APLICAÇÃO
DO GINÁSIO NÃO DEVEM SER
PRIVILEGIADAS EM
DETRIMENTO DAS
MARCAÇÕES PRESENCIAIS
que deve ser apresentado, junto dos
torniquetes de entrada. Ou seja, mais
uma vez, para aceder às instalações, é
necessário a aplicação do ginásio e, como
tal, o consumidor terá de dispor de um
smartphone.
Estas questões não se verificam tanto
em cadeias de ginásios mais pequenos.
Por exemplo, no Lemonfit, as aulas são
marcadas mediante a obtenção de uma
senha no ginásio ou no balcão, e o acesso
às instalações é realizado através de um
cartão dado aquando da inscrição. Já
no Time to Fitness 24, não é necessária
qualquer marcação prévia, pois basta
aparecer nas aulas. O acesso é também
feito com um cartão. Por sua vez, apesar
de mais pequeno, o Supera também
disponibiliza a marcação de aulas por
meio da sua aplicação, no site ou no
balcão. É necessário marcar as aulas de
grupo com 24 horas de antecedência. O
acesso ao ginásio é feito mediante um
cartão de sócio, também.
O que deve ser feito?
A DECO PROTeste considera que o acesso
aos ginásios pode ficar “reservado”,
em determinadas circunstâncias, aos
utentes que possuam um smartphone.
Mas todos os estabelecimentos deveriam
adotar medidas alternativas de acesso,
nomeadamente, tal como muitos o fazem,
através da atribuição de um cartão.
A mesma lógica aplica-se à marcação
das aulas. Por vezes, são privilegiadas as
marcações realizadas através da aplicação
do ginásio, as quais, uma vez esgotadas,
impedem a marcação presencial. Não
está em causa o uso da aplicação em si,
que, desde logo, é uma ótima forma de
tornar o processo mais confortável para
o consumidor, mas, sim, o facto de não
serem asseguradas vagas para a atribuição
de senhas presenciais, mediante a ordem
de chegada. O mundo está cada vez mais
digital, mas, para que continue a ser
democrático, há que pensar em quem não
tem acesso a estes meios. Todos temos o
direito a ir ao ginásio, por isso não deve
ser um smartphone a impedi-lo.
Contratos de adesão
com melhorias
A DECO PROTeste aproveitou para
verificar as questões legais referentes
aos contratos de adesão e à atualização
dos preços. Revelando já as conclusões
principais, é de assinalar uma melhoria.
Desde já, as cláusulas dos contratos de
adesão devem ser justas, uma vez que é
importante existir um equilíbrio entre
os direitos e as obrigações de ambas as

MELHORIAS 2018 2021 2023

AO LONGO A DECO PROTeste denunciou a
DOS ANOS pressão exercida pelos ginásios para
a assinatura do contrato, a alteração
das condições contratadas sem dar a
hipótese ao consumidor de terminar
o vínculo, aumento dos preços sem
aviso prévio, a dificuldade no acesso
às cláusulas e, em caso de força
maior, como doença, nem todos os
ginásios admitiam a saída de utentes.
Três anos depois, as melhorias foram
imensas. No entanto, a DECO
PROTeste continuou a apontar
algumas falhas aos
estabelecimentos: resistência em
facultarem os contratos de adesão
e a existência de cláusulas ilegais,
relacionadas com alterações de
preços, por exemplo.
Verificou-se uma melhoria nos
problemas apontados em estudos
anteriores. Embora continue a não
ser fácil obter os contratos, alguns
ginásios já disponibilizam as
condições de adesão no site.
Devem ser revistas as questões da
marcação de aulas e o acesso às
instalações, preferencialmente,
via meios digitais.

30 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt


partes – do ginásio e do cliente –, devendo
ser redigidas numa linguagem acessível
e clara. Outra nota a realçar é o facto de
que alguns ginásios (o Fitness Hut, por
exemplo) já disponibilizarem as condições
de adesão no próprio site.
Em estudos anteriores, a DECO
PROTeste detetou ilegalidades nos
contratos de adesão de diversos
ginásios. Entre as cláusulas ilegais
estavam a alteração das condições, sem
conferir ao consumidor a possibilidade
de terminar o contrato, ou o aumento
do preço sem aviso prévio. Veja na
barra cronológica, na página ao lado,
as reivindicações que têm sido feitas
por parte da defesa do consumidor. É
de realçar que, na presente data, existe
uma melhoria significativa nas cláusulas
contratuais.
A maioria dos ginásios, como o
Holmes Place, já admitem a celebração
de contratos de curta duração, por
norma, 30 dias, renováveis por igual
período. E, neste caso, o consumidor
pode terminar o contrato com relativa
facilidade. Apesar de os contratos anuais
serem mais vantajosos, pois o cliente tem
vários benefícios, dependendo da política
comercial do ginásio, a desvinculação
poderá ser mais difícil. Assim, antes de
assinar um contrato, pondere a hipótese
de uma mudança de casa ou de emprego,
e confirme se essas situações estão
previstas no contrato.
O Fitness Hut, por exemplo, não tem um
período de fidelização, e o consumidor
pode solicitar o cancelamento da adesão
a qualquer momento. O Lemonfit, por sua
vez, na modalidade de adesão, prevê uma
fidelização de 12 meses, mas o contrato
pode ser terminado por motivos médicos,
desemprego involuntário ou mudanças
do local de trabalho. Prevê, ainda, a opção
de não compromisso, que requer, ainda
assim, um aviso prévio de desistência.
Também o Time to Fitness 24 tem ambos
os regimes: anual ou livre (contrato sem
fidelização).
Preços estão no contrato
Um detalhe a que deve estar atento é a
atualização anual de preços. E qualquer
www.deco.proteste.pt
D&D//GINÁSIOS
CONTRATO
Boas práticas antes de assinar
Prazo do contrato, atualização do preço e exceções que permitem terminar o
contrato antecipadamente são alguns dos pontos a que deve prestar atenção.
A DECO PROTESTE aconselha a que consoante o ginásio em questão),
leia o contrato previamente e em justificando-se o período de
detalhe. Se lhe surgir alguma dúvida, fidelização. Ao terminar um contrato
não hesite em pedir os devidos antes do seu termo, por norma, é
esclarecimentos, antes de assinar. exigido o pagamento das restantes
mensalidades. Alguns contratos já
ATENTE, ainda, em alguns pormenores preveem exceções, como doença,
importantes, nomeadamente, o prazo mudança de emprego ou situações de
do contrato, pois já existem bastantes desemprego involuntário.
contratos sem fidelização. Não se
esqueça de que pode desvincular-se VERIFIQUE, ainda, se existem
com maior facilidade num contrato alterações de preço previstas, quais
mensal do que num anual. No entanto, as circunstâncias em que se admite
este último permite-lhe beneficiar terminar o contrato de adesão ou em
de outras vantagens (que variam que prazo o pode fazer.
alteração no contrato, que fuja ao Primeiro, apresente queixa no
inicialmente acordado, é fundamento estabelecimento. Pode recorrer ao livro
suficiente para a resolução do mesmo. de reclamações físico ou em formato
Fazendo a ronda por alguns clubes, eletrónico. Se a reclamação incidir
o Fitness Hut faz a atualização de preços sobre as instalações e condições técnicas
automaticamente, tendo em conta a taxa de segurança, deve apresentar queixa
de variação média do índice harmonizado à ASAE. Pode, ainda, usar a plataforma
dos preços no consumidor. O ginásio Reclamar, da DECO PROTeste (www.
também tem direito a alterar o preçário, deco.proteste.pt/reclamar).
fundamentando essa alteração com várias Também tem a opção de recorrer
razões (excesso de procura, aumento a um Centro de Arbitragem. Se ainda
dos custos, entre outras), mediante assim não ficar resolvido, opte por
um aviso prévio de 30 dias. No entanto, um Julgado de Paz ou tribunal.
o utente tem sempre direito a terminar Por último, as cláusulas contratuais
o contrato. O Holmes Place também abusivas são divulgadas no site
o faz automaticamente, mas de acordo da Direção-Geral dos Serviços
com o índice do INE, com margem de Informática. De acordo com o
de um ponto percentual. Apesar disso, princípio constitucional da proteção
neste, o consumidor também pode do consumidor, as decisões que
recusar a atualização desde que respeite decretem a nulidade de cláusulas
um determinado prazo. contratuais gerais devem ser divulgadas.
Todos temos os mesmos direitos no
Quero reclamar. Como faço? que ao estar em forma diz respeito.
Está com problemas no ginásio que
frequenta? Reclame. DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima
setembro/outubro 2023//D&D 31
D&D//ASSÉDIO LABORAL
ENTREVISTA
DUARTE ROLO
“O trabalhador assediado n
DUARTE ROLO
Quem Psicólogo clínico
Formação Doutorado em psicologia
do trabalho. Docente e investigador
nas áreas de psicodinâmica e
psicopatologia do trabalho
Insultos, tarefas inúteis,
ordens sem sentido –
muitos trabalhadores
sofrem de mobbing,
nefasto para a autoestima.
Duarte Rolo estuda o
fenómeno. A mudança
está no isolamento do
trabalhador face ao
assédio, afirma
Entrevista Deonilde Lourenço & Ricardo Nabais
Fotografia João Ribeiro
O
que é o mobbing? O termo,
recente, designa práticas
antigas de assédio no local
de trabalho. A intimidação,
as ameaças e uma atitude de exclusão
dirigidas a trabalhadores definem, em
traços largos, este fenómeno, capaz de
causar grande sofrimento.
Duarte Rolo, psicólogo, dedica-se ao
estudo do assédio laboral, nos campos
da psicodinâmica e do sofrimento no
local de trabalho. Para o especialista, são
as recentes formas de organização das
empresas que são um verdadeiro campo
de cultivo para estas atitudes dirigidas a
trabalhadores: uma gestão que promove
o individualismo, a precariedade e a
concorrência entre colegas que deveriam
estar a trabalhar no mesmo sentido.
A solução? Mudar o paradigma da gestão
dos locais de trabalho.
www.deco.proteste.pt
não tem o apoio dos colegas”
O assédio laboral é cada vez mais
falado. O que mudou?
O assédio sempre existiu. O que é mais
recente é a forma como as práticas de
assédio se associaram cada vez mais
a problemas de saúde mental. O que é
novo não é este tipo de comportamentos
no local de trabalho, não é o abuso de
poder. Sempre existiram chefes mais
cruéis, manobras de intimidação,
ameaças... O que se transformou foram as
consequências, no fundo, destas práticas
e o tipo de relações sociais. Se olharmos
para a empresa moderna, a forma como
as técnicas de gestão entram, num
primeiro tempo, é essencialmente através
de métodos de direção dos trabalhadores
que vêm, na maior parte das vezes,
do exército. São experimentadas há
muito como técnicas de disciplina,
de obediência.
Agora há mais noção
das consequências?
Porque é que falamos mais de assédio?
Porque há pessoas que ficam doentes.
O assédio não é o quadro clínico de uma
doença. É uma qualificação jurídica
que tem que ver com comportamentos
que podem atentar à dignidade, ter
um impacto sobre as condições de
trabalho, a carreira e a saúde mental.
Cada vez mais, as situações de assédio
aparecem associadas a quadros clínicos
mais graves. A questão central é porque
é que estas práticas existiam e não
produziam o mesmo? Aqui entra outro
aspeto, que é a forma como os meios e
a organização do trabalho mudaram e a
forma como mudaram as relações entre
trabalhadores e a situação psicológica
www.deco.proteste.pt
na qual se encontra um trabalhador face
ao assédio. Aquilo que se transformou
muito foi o isolamento dos trabalhadores.
É completamente diferente estar face a
um comportamento de assédio – práticas
de intimidação, chefia que descredibiliza
aquilo que fazemos – , se o enfrentarmos
sozinhos, ou se contarmos com a
solidariedade dos colegas. O que é muito
complicado para quem é assediado?
Se enfrentamos continuadamente
uma pessoa que nos diz que aquilo que
fazemos não vale nada, começa-se a
duvidar daquilo que se faz, e a perceção
da realidade começa até potencialmente
a ser alterada. Gera uma espiral de
culpabilização, de desvalorização, que,
muitas vezes, se associa aos primeiros
sinais das patologias depressivas.
A maioria dos trabalhadores, quando
são assediados, não podem contar com
o apoio dos colegas. Porque estão todos
em concorrência, uns contra os outros
e, às vezes, até dá jeito que aquele seja
assediado, porque é um rival a menos...
Não tem que ver também com
precariedade laboral?
Claro que sim. Porque este cocktail
O ASSÉDIO LABORAL NÃO É
NOVO. O FENÓMENO MAIS
RECENTE É A FORMA COMO
ESSA PRÁTICA SE ASSOCIA
CADA VEZ MAIS A PROBLEMAS
DE SAÚDE MENTAL
entre concorrência e precariedade é
completamente explosivo. Se tenho um
vínculo precário e se a condição para
o renovar, ou assegurar um contrato
mais estável, é ter um desempenho
superior ao dos meus colegas, isso pode
dar azo a práticas desleais. Gera-se uma
concorrência que não tem nada que ver
com a elevação do nível geral do trabalho,
mas com práticas individualistas de
concorrência, de rivalidade, que, muitas
vezes, geram conflitos.
Não houve sempre rivalidade?
Sim, mas agora é potenciada por métodos
da organização do trabalho, cujo objetivo
é colocar as pessoas em concorrência.
E há uma conjugação de elementos muito
perniciosa. Por um lado, a introdução
da precariedade. O facto de as pessoas,
para garantirem o vínculo laboral,
terem de atingir metas ou objetivos.
Não é garantido. Está condicionado a
um certo desempenho. A introdução
da precariedade não tem um impacto
só naqueles com vínculo precário, mas
em todos os outros, porque a partir do
momento em que há precários, posso
passar a sê-lo. Os precários também estão
em concorrência com os trabalhadores
com vínculos permanentes. É uma
espécie de cavalo de Tróia que faz com
que toda a gente esteja insegura quanto
ao futuro profissional.
A diminuição da importância
dos sindicatos também contribui
para essa insegurança?
Sim, em grande parte. De facto, a
transformação dos meios do trabalho
setembro/outubro 2023//D&D 33
D&D//ASSÉDIO LABORAL

por via destes novos métodos faz com

que a ação coletiva seja mais complicada,
porque os laços de solidariedade já não
se constituem de forma tão espontânea.
Há outro aspeto com um forte impacto:
o fenómeno da subcontratação. Ao O COCKTAIL ENTRE
disseminar os trabalhadores e partir as CONCORRÊNCIA E
empresas em várias entidades distintas, PRECARIEDADE É
o sentimento de pertença e a luta por
direitos comuns tornam-se muito
COMPLETAMENTE EXPLOSIVO.
mais complicados. Embora também se GERAM-SE PRÁTICAS
possa dizer que foi precisamente pelos INDIVIDUALISTAS QUE LEVAM
sindicatos não terem conseguido dar AO CONFLITO
a devida importância às questões do
assédio e do sofrimento no trabalho que
perderam adesão. Por outro lado, há, cada
vez mais, uma parte da remuneração que
é individualizada. Não ganhamos todos o
mesmo. Ganhamos em função de metas,
de avaliações, de prémios.

Acabou o tempo do “trabalho

igual, salário igual”?
Sim. E até o princípio mais consagrado de
progressão graças à antiguidade...

A antiguidade, aliás, é um
estigma, de certa forma...
A antiguidade tornou-se um perigo, pois
procura-se sobretudo trabalhadores
dóceis, flexíveis, adaptáveis e facilmente
exploráveis. Os trabalhadores com mais
antiguidade eram também os vetores
de transmissão de uma certa tradição.
Transmitiam regras, conhecimento:
como é que se faz certas coisas, a que
princípios se obedece, o que é ou não
correto nesta profissão. E essas regras
são um empecilho para a gestão, de uma
forma geral... O termo que os gestores
usam sempre é a resistência à mudança.
Quando os trabalhadores não querem
adaptar-se a uma série de novas políticas,
novos princípios, estão do lado do
passado, dos refratários, daqueles que
não querem abraçar a modernidade.
Quais são os sintomas de quem
sofre assédio laboral?
Há exemplos do que se chama stress
pós-traumático, ou de neurose
traumática, quadros clínicos que estavam
associados a situações de catástrofes, de
guerra, ou de catástrofes naturais. Graves,
muitas vezes. Há situações de assédio em
que temos pessoas com pesadelos, com
revivescências... Em termos de gravidade,
há essa equivalência. É surpreendente.
Há, também, muitos quadros que são do
espetro da depressão e das patologias
ansiosas. O processo de assédio atinge
de forma muito específica a dimensão
da autoestima, do valor que damos a nós
próprios, do reconhecimento.
Quais são os sinais de alerta?
É muito difícil responder. O trabalhador
isolado está numa posição muito precária
ou muito vulnerável para reconhecer os
sinais. Muitos descrevem uma linguagem
insultuosa, altamente degradante e
desvalorizante, que atenta à dignidade.
E também ordens ou intimações
sem qualquer sentido, represálias ou
momentos de coação sem função em
termos produtivos ou sem relação com as
tarefas e o conteúdo do trabalho.
Há algum setor onde o fenómeno
seja mais crítico?
Todos os setores em que os trabalhadores
estão mais dependentes são mais
propícios. Onde abundam vínculos mais
precários, trabalho menos qualificado…
A grande distribuição é um exemplo,
mas também há quadros de grandes
empresas que são assediados. É difícil
identificar setores muito específicos,
embora, em estudos realizados com o
Observatório para as Condições de Vida

34 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt


e Trabalho, o número de trabalhadores
que se queixam de assédio seja
impressionante. Por exemplo, no setor
da saúde, os enfermeiros, os professores,
os maquinistas do metro e da ferrovia...
Há um sentido de injustiça enorme nos
locais de trabalho. Os trabalhadores
sentem abuso de poder, poder
discricionário, impunidade.
Os casos que chegam a tribunal,
como o da funcionária da
corticeira de Santa Maria da Feira,
criam jurisprudência.
Sim, esse caso teve provavelmente um
papel precursor. O recurso jurídico foi
a principal resposta para as situações
de assédio. Os representantes dos
trabalhadores apoiaram-se na lei para
tentar agir. Mas a via jurídica não é
www.deco.proteste.pt
nem o único recurso, nem o melhor em
termos de prevenção. Pode ter um papel
importante para os outros trabalhadores,
porque a partir do momento em que
há jurisprudência, antecedentes, há
impacto. O mais conhecido é o caso
do julgamento da France Telecom,
por assédio moral institucional.
As chefias foram condenadas por terem
introduzido o assédio como prática de
gestão, no quadro de uma privatização.
As principais chefias foram consideradas
responsáveis por suicídios no trabalho.
O teletrabalho trouxe outra
mudança de paradigma.
Parece-me que potencia o isolamento
e a solidão. Se as pessoas já estavam
sozinhas, ficam mais sozinhas.
O teletrabalho tem tendência a fazer
desaparecer os tempos informais, beber
um café, fumar um cigarro... Nesses
momentos resolvem-se uma série de
problemas. Há coisas que se podem dizer
nos momentos informais que não se pode
dizer numa reunião, por exemplo, mas
que são importantes para o trabalho.
De que modo se pode prevenir
o assédio laboral?
A prevenção passa essencialmente por
repensarmos os modos de organização
do trabalho. Ou seja, tem de haver
transformações estruturais na gestão
e na organização da forma como
as empresas e os locais de trabalho
funcionam.
SE UMA PESSOA NOS DIZ
CONTINUADAMENTE QUE NÃO
VALEMOS NADA, ENTRAMOS
NUMA ESPIRAL DE
CULPABILIZAÇÃO E
DESVALORIZAÇÃO
Que alterações são necessárias
na organização do trabalho?
Primeiro, a insistência na precariedade e
na concorrência. Segundo, a ideia de que
o trabalho pode ser avaliado individual e
quantitativamente. É muito importante
que o trabalho seja avaliado. A maior
parte dos trabalhadores anseiam por
saber se estão a trabalhar bem ou não.
Agora, há outras formas de avaliar o
trabalho, que existem há muito e que
sempre se praticaram. Por exemplo,
a avaliação pelos pares, a gestão
democrática nas escolas, nos hospitais...
Mas este tipo de avaliação implica tempo,
presença, confiança, juntar as pessoas no
mesmo sítio a conversarem francamente,
o que é cada vez mais raro. Porque estes
métodos entram em concorrência.
A aceleração, a intensificação do trabalho,
com prazos cada vez mais apertados,
com precariedade, com a acumulação de
vários trabalhos, porque os rendimentos
não são suficientes, o clima de medo e de
ameaça, de concorrência e de rivalidade.
E, sobretudo, as fracas remunerações.
Os baixos salários condicionam a relação
entre trabalho profissional produtivo, e
trabalho doméstico. Se o que ganho não
chega para pagar as despesas, tenho de
acumular biscates.
A Agenda do Trabalho Digno
deveria incidir mais nessa
reorganização?
Sim. Pauta-se por uma abordagem muito
formal do trabalho, muito em linha com
a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), que é a defesa das condições de
trabalho digno, o que é muito nobre como
intenção. É preciso não esquecer que a
OIT está a braços com o trabalho infantil.
Mas há um grande ausente dessa agenda,
que é o conteúdo do trabalho.
Definimo-nos através do trabalho?
Muitas vezes reduzimo-lo a uma questão
económica, mas na realidade, o trabalho
pode ter um papel muito importante
em termos de equilíbrio psicológico,
de sentido de realização, de gratificação
e identitário.
setembro/outubro 2023//D&D 35
D&D//SEGURO DE SAÚDE

F
ace às dificuldades de acesso ao
Serviço Nacional de Saúde, muitos
consumidores procuram acautelar
a assistência médica no sistema
privado, através de um seguro de saúde.
Porém, não serão poucos os casos em
que a cobertura falha quando o paciente
mais precisa, isto é, quando a infelicidade
de uma doença grave, como um cancro
ou um acidente vascular cerebral, bate à
porta. Porque os tratamentos são caros
e prolongados, os limites de capital
esvaem-se num abrir e fechar de olhos.
Para responder a este género de queixas e
preocupações, os planos mais completos,
e mais caros, de algumas seguradoras
contemplam plafonds específicos (e
avantajados) para doenças oncológicas
e/ou graves. Outras há que permitem a
contratação de coberturas adicionais
para estas patologias. Refira-se, contudo,

É grave?
que grande parte destes planos já têm,
na base, capitais elevados, sobretudo
para hospitalização, que cobrem doenças
graves e oncológicas.
Como em qualquer seguro de saúde,

Há limites
os prémios a pagar aumentam com a
idade. Os valores do quadro ao lado
respeitam a uma pessoa de 50 anos e
incluem as coberturas de doenças graves

alargados
e oncológicas, quando opcionais.

Tratamento de doenças graves

Alguns seguros de saúde apresentam plafonds
só no estrangeiro
Convém esclarecer o que as seguradoras
entendem por doenças graves e
oncológicas. O primeiro conceito inclui
doenças do foro oncológico, transplante
de órgãos, neurocirurgias, bypass das
artérias coronárias e acidentes vasculares

específicos, mais elevados, para cobrir

despesas com doenças graves ou oncológicas.
Saiba o que incluem e quais os capitais
disponíveis
Texto Fátima Ramos
cerebrais. As doenças oncológicas,
como o nome indica, abrangem apenas
situações de cancro. Ambas garantem
o pagamento total das despesas com
diagnóstico, tratamentos, internamento
e serviços ou prescrições médicas
consideradas clinicamente necessárias,
quando resultem das doenças indicadas.
No geral, não estão previstas franquias,
mas também não há comparticipação por
reembolso, pelo que o acompanhamento
tem de ocorrer obrigatoriamente na rede
de prestadores indicada pela seguradora.

36 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

 Ao contrário do que acontece com pela companhia de seguros. Está também
os plafonds exclusivamente destinados incluída a viagem de ida e volta para o A seleção
à oncologia, os de doenças graves, país em que se realizam os tratamentos, DECO PROTeste
geralmente, só são válidos para despesas em classe económica, para o beneficiário
no estrangeiro, e com o acordo prévio e um acompanhante. A
MELHOR ESCOLHA
DO TESTE ACERTADA
da seguradora, o que retira interesse à
cobertura. Do top 10, apenas a Real Vida Reforço de um milhão completa
comparticipa despesas em Portugal. cobertura de hospitalização SUBSCRITORES
Fora desta seleção, a Lusitania tem uma Das 10 melhores apólices de seguros
cobertura opcional de 50 mil euros de saúde, seis apresentam capitais Asisa + Saúde Premium 72
também aplicável na rede nacional de reforçados para hospitalização por Prémio anual 909 €
prestadores de cuidados de saúde. doenças graves e/ou oncológicas, sem
A cobertura relativa às doenças aumento do prémio. A maioria atinge um NÃO-SUBSCRITORES
graves abrange também despesas com milhão de euros. A Real Vida Total é um
Asisa + Saúde Premium 66
transporte em ambulâncias, se prescrito pouco mais contida, com apenas 50 mil
Prémio anual 1010 €
por um médico e aprovado previamente euros para doenças graves. A Médis

TOP 10 SEGUROS DE SAÚDE

Seguradora Coberturas Prémio

QUALIDADE GLOBAL (%)

anual

doenças graves (€)

Relacionadas com
Hospitalização (€)

com 50 anos (€)

Ambulatório (€)

Consumidor
Asisa
FF Ilimitado Ilimitado Despesas no estrangeiro: 2500 909 72
+ Saúde Premium
Multicare
500 000 10 000 Oncologia: 1 milhão; doenças graves: 1 milhão 1696 65
Proteção Vital
Doenças graves: 1 milhão
Médis Hospitalização por doenças oncológicas: ilimitado
1 000 000 5000 1302 65
Opção 3 Reforço de ambulatório para doenças
oncológicas: 5000
Real Vida Extra na hospitalização por doenças graves: 50 000
100 000 3000 1048 63
Total Extra de ambulatório para doenças graves: 1500
Allianz Oncologia: 1 milhão
500 000 10 000 1952 63
Total Cobertura internacional: 1 milhão
Cobertura internacional : 1 milhão
Tranquilidade
500 000 5000 Hospitalização e tratamentos oncológicos 1728 62
Top
na Fundação Champalimaud: 150 000
Multicare
100 000 2500 ou 5000 Doenças graves: 1 000 000 (opcional) 1338 61
Multicare 3
1000; ou 2000;
Extra na hospitalização por doenças
ou acesso a rede;
Real Vida graves: 25 000 (opcional)
50 000 ou oito consultas, 789 61
Completo Extra no ambulatório para doenças
duas análises e dois
graves: 1000 (opcional)
exames
Extra na hospitalização
Médis por doenças oncológicas: 50 000
50 000 2500 871 61
Opção 2 Extra de ambulatório
para doenças oncológicas: 2500
Multicare
50 000 1000 ou oito consultas Doenças graves: 1 milhão (opcional) 606 59
Multicare 2
PREÇOS E RESULTADOS COMPLETOS WWW.DECO.PROTESTE.PT/SEGURO-SAUDE

F MELHOR DO TESTE PRODUTO COM OS MELHORES RESULTADOS NOS TESTES F ESCOLHA ACERTADA PRODUTO COM A MELHOR RELAÇÃO ENTRE A QUALIDADE E O PREÇO
A MUITO BOM B BOM C MÉDIO D MEDÍOCRE E MAU MUITO BOA QUALIDADE BOA QUALIDADE MÉDIA QUALIDADE MÁ QUALIDADE

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 37

D&D//SEGURO DE SAÚDE
Opção 2 oferece o mesmo valor, mas
para oncologia.
No caso do ambulatório, a Real Vida
acrescenta 1500 euros à cobertura de
base, se for diagnosticada uma doença
grave durante o contrato. A Médis,
por sua vez, duplica os capitais, caso
surja um cancro, o que significa mais
5 mil euros, na Opção 3, e 2500 euros,
na Opção 2. Estes dois planos incluem
ainda a comparticipação de próteses
mamárias externas, sutiãs e cabeleiras.
Para próteses e sutiãs, há um plafond
anual; para as cabeleiras, está prevista
uma única comparticipação por segurado
durante a vida, com limite de 500 euros.
AS COBERTURAS DE BASE
DE HOSPITALIZAÇÃO
E AMBULATÓRIO JÁ
CONTEMPLAM DOENÇAS
GRAVES E ONCOLÓGICAS.
OS PLAFONDS ESPECÍFICOS
FUNCIONAM COMO
COMPLEMENTO
Doenças graves na base
do seguro
Os reforços de capital significam um
alargamento da proteção, mas todas as
coberturas de base de hospitalização
e ambulatório também incluem
doenças oncológicas e a maioria das
doenças graves. Regra geral, apenas os
transplantes de órgãos ficam de fora.
Contudo, alguns limites de capital podem
não ser suficientes para cobrir todas
as despesas. Por exemplo, alguns dos
produtos mais simples (e com Qualidade
Global mais baixa) garantem apenas
15 mil euros para a hospitalização. A
apólice mais abrangente é a da ASISA
+Saúde Premium, com capital ilimitado.
Por este motivo, é melhor do que
qualquer outra com capital específico.
38 D&D//setembro/outubro 2023
“AS APÓLICES
ABRANGENTES
TÊM COBERTURAS
ESPECÍFICAS
PARA DOENÇAS
ONCOLÓGICAS”
A especialista da DECO PROTeste
Sandra Justino
Contratar ou não um seguro
de saúde com cobertura para
doenças graves e oncológicas?
Quem tem um plano mais
abrangente (e mais caro) não tem
de se preocupar com a questão,
porque os capitais são elevados
e, por norma, incluem estas
coberturas. Nos restantes casos,
a resposta depende dos riscos
que está disposto a correr, mas
também do que pode pagar. Estas
apólices são caras. A existência
destas doenças na família é um
ponto a favor da contratação. Caso
pretenda assegurar sobretudo
uma eventual necessidade de
hospitalização, é mais vantajoso
optar por apólices com capital
mais elevado nesta cobertura.
Se tem um seguro de saúde, por
exemplo, no pacote salarial, e quer
reforçar as garantias de doenças
graves ou oncológicas, o plano
Extra (Tranquilidade) e o Doenças
Graves (Real Vida) oferecem essa
possibilidade. O primeiro é mais
barato (200 euros anuais, para
uma pessoa de 50 anos) e inclui
150 mil euros de hospitalização,
com franquia de 10 mil euros, outro
tanto para cuidados na Fundação
Champalimaud e 1 milhão de
euros para doenças graves no
estrangeiro. O segundo custa 350
euros e inclui 100 mil euros para
hospitalização por doenças graves
e acesso a uma rede ibérica de
prestadores.
É também a apólice com a melhor
relação entre a qualidade e o preço,
sendo a Escolha Acertada para todos
os consumidores. Mas os subscritores
da DECO PROTeste beneficiam de um
prémio e de condições mais vantajosas.
Não há seguros totalmente
inclusivos
Apesar de alguns pacotes serem
muito abrangentes, nenhuma apólice
cobre a totalidade dos problemas de
saúde. Para começar, como sucede
com quase todos os seguros de saúde,
só são comparticipadas as despesas com
doenças que surjam durante a vigência
do contrato. Todos os problemas de saúde
preexistentes ficam excluídos à partida.
A cobertura de doenças graves,
além de, na maioria dos casos, só
comparticipar despesas no estrangeiro,
exclui problemas de saúde sérios
resultantes de atos de imprudência ou
negligência grave do segurado (como
as consequências de uma tentativa
de suicídio ou um transplante devido
a cirrose alcoólica), sida e patologias
associadas, bem como doença
coronária tratada com técnicas que não
requeiram cirurgia. Aparelhos e sapatos
ortopédicos, cintas, ligaduras, muletas,
membros ou órgãos artificiais e perucas,
em geral, também ficam de fora.
As doenças oncológicas, por seu lado,
não incluem, por exemplo, cancros de
pele que não sejam melanoma (o mais
agressivo), nem tumores em que apenas
haja suspeitas de cancro. O tratamento de
tumores localizados, que, clinicamente,
não apresentem risco de progressão,
também não é comparticipado.
Assim, seja pelos limites de capital,
pelas exclusões ou pela pouca amplitude
da rede de prestadores, nenhum seguro
abrange todas as condições de saúde.
As coberturas específicas para doenças
graves ou oncológicas, quando opcionais,
podem ter interesse se os limites de
capital das coberturas de base forem
restritos e, sobretudo, se houver história
familiar deste tipo de doenças.
DOSSIÊ TÉCNICO Sandra Justino
www.deco.proteste.pt

António Ribeiro
A n al i sta fi na nc eir o d a D E C O P R OTes t e
Resgatar ou não?
Plano de poupança-reforma
Nunca os PPR tiveram tanta liquidez como este
ano – algo quase sempre referido nos media
como positivo. Em momentos recentes de crise
– da pandemia ou da intervenção da Troika
– e, agora, com a subida dos preços e taxas de
juro, tem-se facilitado o resgate dos PPR sem
penalização fiscal. Inicialmente para pagar
a prestação da casa; este ano, no limite, até
para amortizar o empréstimo da casa e pagar
as férias ou qualquer outra despesa. Os PPR
parecem ter-se tornado uma receita anticrise
para os governos e uma benesse para as
famílias, que, assim, podem usar as poupanças
de longo prazo para mitigar as dificuldades
financeiras de curto prazo. Mas será isso
mesmo uma vantagem?
Os PPR são um dos produtos de poupança
de longo prazo mais populares pelo benefício
fiscal que proporcionam, e que visa motivar
os portugueses a criar um complemento à
pensão de reforma, para minimizar a perda de
rendimento no futuro. A Comissão Europeia
estima uma taxa de substituição de cerca de
55% em 2040, e 44% em 2050, em Portugal.
Ou seja, dentro de 20 a 30 anos, as reformas
corresponderão a metade do último salário,
ou menos. Por isso, é urgente educar para a
poupança de longo prazo e evitar uma nova
geração de pobreza – a de quem sempre fez
descontos, mas cuja pensão do Estado não
chegará para cobrir as despesas no futuro.
Infelizmente, poupar não é popular, em
particular numa sociedade orientada para
o consumo e modo de vida centrado no
presente. Todos temos os nossos vícios, é
certo, da tecnologia ao lazer, e não é fácil
abdicar desse impulso hoje para precaver um
www.deco.proteste.pt
D&D//OPINIÃO
futuro longínquo. Mas se tivesse hoje 20 anos,
o melhor conselho financeiro que poderia
receber era precisamente o de iniciar um PPR.
Não espere pelos 40 anos. Muito menos pelos
50. Já irá tarde! Quanto mais cedo começar,
mais acumulará, quer por via das entregas,
quer pelo efeito de capitalização, que será tanto
maior quanto mais longo for o prazo. Já dizia
Einstein que a capitalização dos rendimentos
é a oitava maravilha do mundo e que “os
juros compostos são a maior invenção da
humanidade, por permitirem uma confiável e
sistemática acumulação de riqueza”.
O tempo é o maior aliado da poupança. Já
resgatar é interromper o efeito de capitalização.
Além disso, se levantar o PPR quando este
está a perder, estará a efetivar a perda, ou
seja, a resgatar unidades de participação a
um valor desfavorável – por exemplo, 1000
euros que um ano antes podiam valer 1300.
Não só perde a poupança, como qualquer
hipótese de recuperar o ganho. E está a
hipotecar a almofada para a reforma que é, na
verdade, o verdadeiro fim dos PPR. Por isso,
pense duas vezes antes de o fazer. Precisa
mesmo desse montante para pagar despesas
imprescindíveis? Se não precisa, não resgate.
Proteja o processo de capitalização. Se tem um
PPR sob a forma de fundo, lembre-se de que
o primeiro semestre foi já bastante positivo e
tudo leva a crer que o pior terá passado. Este
pode bem ser o ano de regresso aos ganhos.
Defina o montante a aplicar
por mês e compare o seu PPR
com os melhores do mercado
em www.deco.proteste.pt/
investe/reforma
setembro/outubro 2023//D&D 39
D&D//IRS DE FALECIDO
Certos como
a morte
Regularizar os impostos de alguém
falecido é obrigação dos herdeiros.
Mas a tarefa depende do acesso
a informação confidencial, o que
a torna, por vezes, um verdadeiro
suplício. Saiba como proceder
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
ENTREGAR
O IRS DO
FALECIDO
40 D&D//setembro/outubro 2023
1 OBTER DADOS DE ACESSO
AO PORTAL DAS FINANÇAS
Se desconhecer a senha de acesso
do falecido, deve solicitar o seu
cancelamento à Autoridade
Tributária, indicando o motivo, e, de
seguida, fazer um novo registo. Os
dados serão enviados para o
domicílio fiscal do falecido, no prazo
médio de cinco dias úteis.
2 ATUALIZAR O AGREGADO
FAMILIAR
Se o falecido fazia parte do seu
agregado familiar, deve comunicar
essa alteração às Finanças. Se o óbito
tiver ocorrido até 31 de dezembro do
ano anterior, a atualização da
composição do agregado familiar
deve ser feita até 15 de fevereiro do
ano seguinte, no portal das Finanças.
3 VALIDAR DESPESAS
NO E-FATURA
Usando o NIF e a password do
falecido para o portal das Finanças,
deve aceder ao e-Fatura e validar
eventuais faturas pendentes. Só
assim essas despesas serão
consideradas pela Autoridade
Tributária por altura da entrega
da declaração de IRS.
www.deco.proteste.pt
À
dor pela perda de um
ente querido junta-se,
invariavelmente, um rol
de obrigações que torna o
processo de luto ainda mais penoso.
Acertar as contas com o Estado é uma
das mais importantes, e começa com a
comunicação do óbito às Finanças, que
deve ser feita até ao final do terceiro
mês a contar do mês seguinte ao do
falecimento. A partir daí, e entre outras
obrigações, quem fica terá de atualizar o
agregado familiar, validar as faturas do
falecido, declarar os seus rendimentos
e, finalmente, pagar eventuais impostos
que incidam sobre os bens que lhe
pertenceram em vida.
Pessoal e intransmissível
Normalmente, cabe ao viúvo, o
chamado “cônjuge sobrevivo”, tratar das
formalidades. Se o falecido não fosse
casado ou unido de facto à data do óbito,
há que nomear, junto das Finanças,
outro cabeça de casal, como um filho ou
outro familiar próximo, que representará
todos os herdeiros até à realização das
partilhas. Se se der o caso de haver um
testamenteiro, ou seja, alguém que
tenha ficado encarregado de garantir o
cumprimento do testamento, será ele a
assumir esse papel.
Chegada a hora, há que perceber, antes
de mais, se conhece os dados de acesso
do falecido ao portal das Finanças. Essas
credenciais serão necessárias não apenas
4 ENTREGAR A DECLARAÇÃO DE IRS
Nos casos em que esta obrigação cabe
ao viúvo, este deve optar entre entregar a
declaração conjunta ou em separado. No
segundo caso, deve entrar no portal das
Finanças com as credenciais de acesso do
falecido e preencher a declaração como se
fosse o próprio. O mesmo se aplica quando
não é o cônjuge, mas sim outro herdeiro, a
cumprir esta obrigação fiscal.
www.deco.proteste.pt
OS DADOS DE ACESSO AO
PORTAL DAS FINANÇAS SERÃO
NECESSÁRIOS NÃO SÓ
PARA A APRESENTAÇÃO DA
DECLARAÇÃO DE IRS, MAS
TAMBÉM PARA A VALIDAÇÃO
DE FATURAS
para a apresentação da declaração de
IRS, mas, numa fase anterior, também
para a atualização do agregado familiar
e para a validação de faturas. Se não
possuir essas informações, e a menos que
queira aventurar-se em tentar descobrir a
resposta à pergunta de segurança, há que
fazer o pedido dos dados à Autoridade
Tributária, processo que se revelará um
tanto ou quanto sinuoso. Comece por
enviar um e-mail para portal-senhas@
at.gov.pt, com o assunto “Cancelamento
de senha NIF (redigir número de
contribuinte do falecido)”, com o nome
completo do falecido, o número de
contribuinte e o domicílio fiscal. Na
improvável hipótese de conseguir entrar
no e-mail que o falecido associou aos
seus dados no portal das Finanças,
obterá por essa via a confirmação de
cancelamento das credenciais de acesso.
5 VERIFICAR IBAN PARA EVENTUAL
REEMBOLSO
Nas declarações previamente preenchidas,
o Fisco mantém o último IBAN de que teve
conhecimento. Se é herdeiro e está a
preencher a declaração do falecido como
se fosse o próprio, verifique se tem acesso
à conta que corresponde ao IBAN indicado.
Se não for o caso, pode alterá-lo.
Não sendo esse o caso, deve enviar para
o endereço atrás indicado um pedido
de cancelamento da senha assinado e
juntar-lhe as cópias do seu documento de
identificação e do falecido, bem como a
cópia da habilitação de herdeiros, em que
consta como cabeça de casal.
Seguidamente, deve fazer novo
registo no portal das Finanças, na opção
“Registar-se”. Aguarde pela nova senha,
que será enviada para o domicílio fiscal
do falecido, no prazo médio de cinco dias
úteis.
Se a pessoa que morreu tiver feito em
vida o pedido da chave móvel digital, esta
poderá ser outra via para aceder à sua
área pessoal, no portal das Finanças.
No entanto, é preciso que o cabeça de
casal esteja na posse, não só, dos códigos
que permitem usá-la, como também
do telefone do falecido (partindo do
princípio de que está operacional),
essencial para autorizar a autenticação.
Demasiados “ses” que poderiam ser
evitados se o cabeça de casal, que terá a
responsabilidade de cumprir uma série
de obrigações fiscais, passasse a receber,
de forma automática, uma nova senha
de acesso ao portal das Finanças, logo
que comunique o óbito à Autoridade
Tributária (veja as reivindicação
da DECO PROTeste na página 43 ).
e-Fatura, aqui vou eu
Terminada a epopeia do acesso ao
portal das Finanças, há que passar à
6 PAGAR IMPOSTO (SE SE APLICAR)
Caso a entrega da declaração resulte
no pagamento de mais imposto, os
herdeiros devem pagar o montante em
causa, até ao limite do valor da herança
(especificado na relação de bens). Se esta
não for suficiente para liquidar a dívida, têm
de comprová-lo, já que a Autoridade
Tributária não faz esta verificação de forma
automática.
setembro/outubro 2023//D&D 41
D&D//IRS DE FALECIDO

validação das faturas. A data-limite tenha nas categorias abrangidas (saiba pelo número de identificação fiscal, para
para o fazer é 25 de fevereiro, embora mais no artigo da página 16 desta edição). assim identificar a empresa em causa ou,
seja recomendável que trate deste Se tiver dúvidas sobre os valores ou as pelo menos, o setor de atividade.
assunto logo que obtenha os dados de atividades a validar, consulte as faturas
acesso ao e-Fatura (os mesmos do portal (desde que saiba onde encontrá-las) ou Entrega do IRS
das Finanças). Se tiver conhecimento faça uma pesquisa rápida na internet Entre 1 de abril e 30 de junho, há que
de faturas que ainda não tenham sido apresentar a declaração de IRS do
disponibilizadas pelo sistema, vá falecido. Se essa obrigação couber ao
acedendo à plataforma até que fiquem viúvo, existe, desde logo, uma escolha
visíveis e possa, finalmente, validá-las. a fazer, tal como aconteceria se o
Este procedimento tem particular cônjuge fosse vivo: entrega conjunta
importância, já que a Autoridade ou em separado? Antes de optar
Tributária só considera automaticamente VALIDAÇÃO DE FATURAS: definitivamente por uma ou por outra,
dedutíveis no IRS as despesas validadas SE SALTAR ESTE PASSO, simule ambas para perceber qual a mais
naquela plataforma. Se saltar este passo, O PREENCHIMENTO DA vantajosa.
o preenchimento da declaração de IRS Se escolher a tributação conjunta,
será, certamente, mais trabalhoso, além
DECLARAÇÃO DE IRS SERÁ deve indicá-lo no quadro 5B do menu
de que pode perder dinheiro se não MAIS TRABALHOSO E PODE “Rosto”, depois de se autenticar no
validar todas as despesas que o falecido PERDER DINHEIRO portal das Finanças com as suas próprias
credenciais de acesso. Identifique-se
como sujeito passivo A e assinale a opção
“viúvo”.
Se o falecido tiver auferido
rendimentos das categorias A (trabalho
Entrega da declaração de IRS dependente) ou H (pensões), estes
surgirão indicados no quadro 4 do
anexo A. Havendo rendimentos prediais,
devem ser declarados no anexo F.
POR OUTRO
PELO VIÚVO OU VIÚVA Se preferir entregar o IRS em separado,
CABEÇA DE CASAL
deverá entrar no portal das Finanças com
as credenciais de acesso do falecido, e
SEPARADA CONJUNTA preencher a declaração como se fosse
● Precisa das credenciais ● Entra no portal ● Precisa das credenciais o próprio. O mesmo se aplica quando
de acesso do falecido. com as próprias de acesso do falecido. não é o cônjuge, mas sim outro herdeiro,
Se as desconhecer, terá credenciais de acesso. Se as desconhecer, a cumprir esta obrigação fiscal (ver
de as obter. ● Indica a opção “viúvo” terá de as obter esquema ao lado).
● Preenche a declaração no quadro 4 da (saiba como fazê-lo,
Nestes casos, certifique-se de que
como se fosse o próprio. declaração Modelo 3. neste artigo).
o IBAN para receber um eventual
● Na sua própria ● Se o falecido auferiu ● Preenche a
declaração, no quadro rendimentos das declaração como
reembolso, indicado no quadro 9 do
6A do menu “Rosto”, categorias A ou H, se fosse o próprio. menu “Rosto”, pertence a uma conta
deve indicar o número preenche o anexo A, e bancária a que os herdeiros têm acesso.
de contribuinte do identifica-o como “F”, Se assim não for, altere-o.
falecido. no quadro 4, na coluna
● Pode não ser tão respeitante ao titular À prova de esquecimentos
vantajoso, sobretudo desses rendimentos. Se, no turbilhão de emoções e
se os rendimentos Havendo rendimentos
burocracias, o dever de declarar os
de um dos membros prediais, estes devem
do casal forem ser declarados no
rendimentos que o falecido obteve
significativamente mais anexo F. no ano anterior ficar esquecido, o IRS
elevados do que os do automático garante o seu cumprimento.
outro. Faça a simulação Atingido o prazo-limite, a declaração é
para perceber as considerada automaticamente entregue.
implicações. Pode ainda recorrer a esta modalidade
se pretender apenas ficar liberto desta

42 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

obrigação. Desde que concorde com as
contas feitas pelo Fisco, uma vez na área
pessoal do falecido, basta clicar na opção
“Aceitar” e a declaração será considerada
entregue. Se, pelo contrário, discordar
dos valores apresentados, não confirme
a entrega e preencha manualmente a
declaração.
Para ser elegível para o IRS
automático, o falecido (ou quaisquer
outros contribuintes) tem de reunir
algumas condições, como, no ano a
que reporta a declaração, ter auferido
rendimentos de trabalho por conta de
outrem (categoria A) ou ser pensionista,
por exemplo; além disso, não pode ter
usufruído de benefícios fiscais, como os
decorrentes da subscrição de planos de
poupança-reforma, nem ter suportado
pensões de alimentos.
Importa referir que, qualquer que seja
a modalidade escolhida, mantém-se a
possibilidade de consignar a entidades
com fins sociais, culturais ou religiosos
0,5% do imposto que o falecido teria a
pagar ao Estado – ou seja, não é retirado
qualquer valor ao contribuinte .
Quando há imposto a pagar
Se, depois da entrega da declaração de
IRS, os cálculos do Fisco resultarem em
mais imposto a pagar, cabe aos herdeiros
fazerem face a essa despesa, até ao
limite do valor da herança, indicado na
relação de bens. Se não for suficiente para
liquidar a dívida, têm de fazer prova dessa
impossibilidade.
E, como mais vale prevenir do que
remediar, para descartar a hipótese
da existência de quaisquer dívidas
EMBORA O NIF DA HERANÇA
NÃO POSSA SER UTILIZADO
PARA EFEITOS DE IRS, PERMITE
CUMPRIR OBRIGAÇÕES
FISCAIS, COMO O PAGAMENTO
DO IMI OU DO IUC
www.deco.proteste.pt
às Finanças, aceda ao portal com os
dados de acesso do falecido e, no item
“Todos os serviços”, procure “Consulta
Dívidas Fiscais”. Pode também fazer
esta investigação presencialmente,
num serviço de Finanças, desde que
acompanhado da habilitação de
herdeiros.
Caso os herdeiros não queiram
ser responsabilizados pelas dívidas
do falecido (ao Estado ou a outras
entidades), resta-lhes uma solução:
repudiarem a herança, prescindindo de
todos os direitos relacionados com ela.
Uma nota sobre as contraordenações
e as multas que, ao contrário de todas as
outras dívidas, se extinguem com a morte
do titular.
IRS e não só
A regularização do IRS é apenas uma
das responsabilidades dos herdeiros
perante as Finanças. Como tal, outro
dos cuidados que devem ter logo após
a comunicação da morte do familiar é
a obtenção do número de identificação
fiscal da herança indivisa. Embora este
não possa ser utilizado para efeitos de
IRS, permite ao cabeça de casal cumprir,
até à partilha dos bens, obrigações fiscais,
como o pagamento do imposto municipal
sobre imóveis ou do imposto único
automóvel.
Este dado pode ser consultado no
portal das Finanças. Para tal, o cabeça
de casal deve fazer login no site com
os seus dados de acesso e escrever
“ISTG” no campo de pesquisa. Ao clicar
em “Modelo 1 ISTG”, tem acesso ao
comprovativo da participação do óbito
à Autoridade Tributária, em que consta,
entre outras informações, o NIF da
herança. Uma vez na sua posse, basta
pedir as credenciais de acesso no próprio
portal.
Este processo é mais lógico do que o
exigido para regularizar o IRS do falecido,
que, ao obrigar os herdeiros a acederem a
dados de caráter confidencial, acrescenta
uma camada de angústia a um quadro já
de si desgastante.
DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas
CONSUMIDORES EXIGEM
Acesso facilitado aos
dados do falecido
● A lei impõe uma série de
obrigações fiscais aos herdeiros,
que, muitas vezes, passam por
um verdadeiro calvário para
conseguirem cumprir as suas
responsabilidades. É o caso da
entrega da declaração de IRS do
falecido, que, atualmente, só pode
ser feita online, obrigando a que
o cabeça de casal da herança
esteja na posse de dados que,
por natureza, são pessoais e
intransmissíveis. No processo
para obtê-los, que é tudo menos
intuitivo, facilmente os herdeiros
podem ver-se num verdadeiro
beco sem saída.
● A atribuição automática de uma
nova senha de acesso à área
pessoal do falecido, no portal das
Finanças, quando o cabeça de casal
comunica o óbito à Autoridade
Tributária, seria uma das soluções
possíveis para que a entrega da
declaração de IRS ficasse facilitada.
Outra alternativa poderia passar
pela utilização do número fiscal
da herança indivisa e respetiva
palavra-passe para este efeito, já
que estes dados serão necessários
para o cumprimento de outras
obrigações fiscais.
● Além disso, é também
imprescindível que se disponibilize
aos herdeiros mais informação
sobre as suas obrigações
fiscais, de maneira a evitar que
sejam penalizados por não
estarem cientes de todas as
responsabilidades. Quem acede
ao portal das Finanças em busca
de informação sobre esta matéria
dificilmente vê as suas dúvidas
esclarecidas.
● A DECO PROTeste vai enviar
uma carta ao Governo e aos
grupos parlamentares com as
suas reivindicações, e promete
mantê-lo ao corrente de eventuais
desenvolvimentos.
setembro/outubro 2023//D&D 43
 SEGURO
AUTOMÓVEL

Fidelidade 7,3
Liberty 7,2
Zurich 7,1
Ok! seguros 7
Mapfre 6,5
Allianz 6,5
Tranquilidade 6,5
Lusitania Seguros 6,3
Ageas 6

Nem aquece,
Direct 6
Logo 5,7
Ocidental Seguros 5,7

nem arrefece... CLIENTES QUE ATIVARAM

O SEGURO E TIVERAM
PROBLEMAS

C
É assim que está ontratar um seguro permite-lhe
ter menos preocupações
6,9%
Ao ativar o seguro, fui confrontado com despesas
a satisfação dos em caso de imprevistos. não cobertas pela apólice (exclusões)

consumidores
Salvaguardar a casa, o carro FIDELIDADE
e até a saúde é o objetivo de quem
com as seguradoras. contrata seguros. São, em certos casos,
despesas inevitáveis e com as quais terá 3,2%
O principal problema de lidar durante a vida toda. Mas será A minha apólice não foi renovada
(devido a demasiados acidentes)
continuam a ser que, quando se fala de satisfação com
seguradoras, a opinião dos portugueses FIDELIDADE

as exclusões
Texto Rita Santos Ferreira & Filipa Rendo
Estudo DECO PROTeste
Durante o mês de janeiro de 2023, a
DECO PROTeste realizou um inquérito
online aos seus subscritores sobre a
satisfação com seguros. Obteve 3899
questionários válidos. Para ter resultados
mais robustos, juntaram-se os do ano
anterior, dando-lhes menor peso, o que
perfez um total de 9954 respostas.
2,1%
“azeda”?
A DECO PROTeste realizou, em janeiro
de 2023, um inquérito online aos seus Fui a tribunal por desacordo relativamente
subscritores, de forma a perceber se estes ao montante da indemnização
estão satisfeitos com as companhias do FIDELIDADE
seu seguro automóvel, do seu seguro de
saúde e do seu multirriscos-habitação.
Os resultados não são extraordinários, e
um dos principais motivos desse “sorriso
amarelo” são as exclusões, ou seja, as
despesas que as apólices não cobrem.
Numa escala de 1 a 10, a nota mais alta,
1 Níveis de satisfação 10
relativa à satisfação global, dada a uma Satisfação Satisfação
seguradora, foi 7,7 – Ageas na categoria baixa elevada

44 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt

 D&D//SATISFAÇÃO COM SEGURADORAS

SEGURO SEGURO
MULTIRRISCOS- DE SAÚDE
-HABITAÇÃO
Zurich 7,4 Ageas 7,7
Fidelidade 6,5 Médis 7,2
Ageas 6,5 MGEN 7,1
Ok! seguros 6,1 Fidelidade 7,1
Ocidental Seguros 6,1 Multicare 7
Tranquilidade 5,9 Allianz 6,7
Allianz 5,8 Tranquilidade 6,5
Lusitania Seguros 5,6 Mudum 6,5
Generali 6,5
Lusitania Seguros 6,4
Victoria Seguros 6,3

CLIENTES QUE ATIVARAM CLIENTES QUE ATIVARAM O SEGURO

O SEGURO E TIVERAM E TIVERAM PROBLEMAS
PROBLEMAS
13,2% 4,3%
24,1% Ao ativar o seguro, fui confrontado com
despesas não cobertas pela apólice (exclusões)
Houve erros na faturação da
responsabilidade da seguradora
Não tive autorização para ser reembolsado
pela reparação de parte dos danos TRANQUILIDADE AGEAS GENERALI

8% 3,2%
FIDELIDADE

20,8% Não tive autorização para fazer

um tratamento/exame
A seguradora aumentou o prémio do seguro
no momento da renovação devido
Ao ativar o seguro, fui confrontado com despesas ao meu estado de saúde
não cobertas pela apólice (exclusões) TRANQUILIDADE
FIDELIDADE

5,9%
ZURICH

2,9% A seguradora atrasou-se a pagar o valor

do reembolso (face à data prevista)
1,8%
A seguradora anulou o contrato
Fui a tribunal por desacordo relativamente TRANQUILIDADE do seguro devido à minha idade
ao montante da indemnização

2,7% 5,8% 0,3%

A seguradora atrasou-se a enviar A seguradora anulou o contrato do seguro
A minha apólice não foi renovada devido a pré-autorização devido ao meu estado de saúde
ao elevado risco que represento
GENERALI, MUDUM

Seguradoras com incidência de problemas acima da média Seguradoras com incidência de problemas abaixo da média

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2023//D&D 45

D&D//SATISFAÇÃO COM SEGURADORAS
dos seguros de saúde. Isto significa
que, no que à satisfação diz respeito, as
opiniões dos clientes espelham relações
mornas com as seguradoras. O valor mais
baixo foi 5,6, da Lusitania Seguros, no
seguro multirriscos-habitação.
Poucos problemas
com o seguro auto
Nos últimos cinco anos, 89% dos
inquiridos tiveram um seguro automóvel,
que é, desde já, obrigatório se for
proprietário de um carro. A Fidelidade
ocupa o primeiro lugar do pódio na
satisfação, com 7,3 (lugar do qual já é
repetente). As restantes posições de
prestígio são ocupadas pela Liberty e
pela Zurich (7,2 e 7,1, respetivamente).
As companhias que menos agradaram
aos portugueses inquiridos, em relação
ao seguro automóvel, foram a Ocidental
Seguros e a Logo, que obtiveram a mesma
avaliação (5,7).
Face aos resultados de 2022, nos
últimos lugares da tabela nada mudou.
Já na frente do ranking, foram registadas
algumas alterações. A Ok! seguros, que
estava, em 2022, no segundo lugar, cai
para quarto.
E a Zurich, por sua vez, passa a integrar os
três primeiros lugares da tabela.
24%
dos inquiridos tiveram
problemas com as
exclusões no seguro
multirriscos-habitação
7,7
foi o nível de satisfação
mais elevado deste
estudo
46 D&D//setembro/outubro 2023
Quase 7% dos inquiridos que ativaram
o seu seguro automóvel tiveram
problemas ao confrontarem-se com
exclusões. Já 3,2% queixam-se de que
a apólice não foi renovada, devido a ter
demasiados acidentes com o carro. E
2,1% garantem que foram a tribunal por
desacordo em relação ao montante da
indemnização. A Fidelidade foi a única
seguradora com incidência de problemas
abaixo da média. Ou seja, foi a seguradora
que menos dores de cabeça deu aos
consumidores em todos os problemas
mencionados.
Multirriscos é rei nas queixas
por causa das exclusões
Mais de sete em cada 10 portugueses que
participaram no inquérito tiveram, nos
últimos cinco anos, a casa protegida de
vários infortúnios, através de um seguro
multirriscos-habitação.
As exclusões voltam a ser as rainhas do
desagrado dos consumidores: cerca de
um quinto dos inquiridos queixaram-se
de despesas que não estavam cobertas
pela apólice do seguro contratado. A
Zurich foi a seguradora que menos
desagradou neste sentido. No entanto,
mais problemas foram apontados pelos
portugueses. Um quarto garante que não
teve autorização para ser reembolsado
pela reparação de parte dos danos —
desta vez, é a Fidelidade a levar a melhor
como sendo a seguradora que menos
“chatices” provocou.
No seguro multirriscos-habitação,
na frente da corrida da seguradora que
mais agrada aos consumidores, aparece
a Zurich, com 7,4 de avaliação — mais
1,8 pontos do que o último classificado,
a Lusitania Seguros. Os mesmos 6,5
pontos posicionam a Fidelidade e a
Ageas no segundo e terceiro lugares,
respetivamente.
É neste seguro que encontramos mais
discrepâncias face a 2022. A fotografia
do ano transato colocava a Ok! seguros
em primeiro, a Liberty em segundo
e a Zurich em terceiro. A Ageas foi a
seguradora que deu o salto maior: passou
da antepenúltima posição, em 2022, para
a terceira, em 2023, subindo 0,5 pontos.
AS EXCLUSÕES FORAM
O PROBLEMA MAIS
MENCIONADO PELOS
INQUIRIDOS NOS TRÊS
SEGUROS ANALISADOS
Autorizações recusadas na saúde
Ageas (7,7), Médis (7,2), MGEN (7,1)
e Fidelidade (7,1) são as seguradoras
que mais satisfazem os portugueses
inquiridos. Exatamente as mesmas
protagonistas do estudo de 2022, sendo
que a Fidelidade e a MGEN trocaram
de posição. De facto, não há grandes
mexidas na tabela. Porém, no estudo
atual, a Victoria Seguros (6,3) herda
o último lugar, outrora ocupado pela
Lusitania Seguros.
Pouco mais de metade dos portugueses
tiveram um seguro de saúde nos últimos
cinco anos. Com a crise no Serviço
Nacional de Saúde, a procura por serviços
de saúde privados tem vindo a aumentar.
E, como tal, estar protegido por um bom
seguro de saúde pode salvar vidas. Mas
nem sempre é fácil encontrar um que não
lhe faça cabelos brancos. Apesar de não
ser brilhante, a satisfação com seguros de
saúde não é negativa.
Mais uma vez, as exclusões são o
principal problema apontado pelos
inquiridos: 13,2% dos segurados viu-se
num “braço de ferro” com esta questão.
Se, por um lado, a Ageas levantou
menos problemas do que a média, nesta
matéria, por outro, a Tranquilidade
ocupa o extremo oposto. Outra queixa
mencionada por 8% dos portugueses
foi o facto de não terem tido autorização
para realizarem um exame/tratamento, e
volta a ser a Tranquilidade a seguradora
com mais incidência deste problema.
Na página anterior, pode ver todos os
problemas destacados pelos inquiridos,
referentes aos três seguros.
DOSSIÊ TÉCNICO Ana Almeida e Sandra Justino
www.deco.proteste.pt
 DEFENSIVO, BASE
OU AGRESSIVO?
Para investir a longo prazo, escolha um dos três fundos Optimize Selecção que
seguem as nossas recomendações. Os subscritores das revistas beneficiam
de uma redução de 0,2% na comissão de gestão do fundo. Se também for
subscritor da PROTESTE INVESTE recebe ainda um prémio anual de 0,4%
sobre o valor do fundo. Em 10 anos, a rentabilidade média da carteira “Base”
(4% ao ano até 30-06-2023) corresponde a um ganho anual de 400 euros,
para quem investir 10 mil euros.

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0,2% 0,4%
REDUÇÃO PRÉMIO ANUAL
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E RESGATE DE GESTÃO DO FUNDO

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PARCEIROS
 SEM
RECURSO veja como os tribunais decidiram num caso como o seu

PENSÃO DE ALIMENTOS

Deveres dos pais não cessam com a maioridade

Ana e José foram casados e tiveram
uma filha em comum, nascida em 2003.
Após o divórcio, por se sentir prejudicada
relativamente aos custos de educação da
filha, Ana pediu a alteração do valor da
pensão de alimentos paga por José. Foi
fixado, a título provisório, o pagamento
de 150 euros. José contestou, alegando
ter várias despesas mensais. Salientou
ainda que a filha não lhe dirigia a palavra,
violando, no seu entender, o dever de
respeito para com o pai, e também nada
sabia sobre o seu aproveitamento escolar.
Assim, considerava que devia cessar o
pagamento da pensão de alimentos.
O tribunal decidiu a favor de Ana e fixou
uma pensão de alimentos de 250 euros
mensais, valor a atualizar anualmente de
acordo com a taxa de inflação. O tribunal
reforçou que ambos os progenitores
devem comparticipar em igual parte as
despesas médicas, com medicamentos e
com a educação da jovem, devendo haver
sempre recibos de todos os custos.
José, inconformado, interpôs recurso
da decisão, mas o tribunal agravou o valor
da sua contribuição. Isto porque a jovem
ingressara no ensino superior, tendo, por
isso, despesas acrescidas, nomeadamente
40 euros do passe social de transporte
e 100 euros de propinas. Ana tinha um
vencimento de 730 euros e, além das
despesas com alimentação, vestuário,
saúde e educação da filha, e dos gastos
com a manutenção da habitação, pagava
uma renda mensal de 400 euros. Para
fazer face a todas as despesas, teria de
recorrer à ajuda de familiares.
Por sua vez, José revelou ter uma
capacidade económica quatro vezes
superior à de Ana – 2921,17 euros mensais
–, mas as suas despesas perfaziam 2200
euros. Com efeito, sobram-lhe 721,17 euros
por mês, o que correspondia praticamente
ao vencimento da ex-mulher. ● Tribunal da Relação de Lisboa,
Assim, o Tribunal da Relação não deu 27 de abril de 2023
razão a José. Estimou ainda em cerca de
500 euros as necessidades da jovem e A ESPECIALISTA DA DECO
determinou que o pai devia suportar 350 PROTESTE COMENTA
euros mensais de pensão de alimentos Sofia Lima
desde que a filha ingressara no ensino
superior e enquanto perdurasse a Os pais devem suportar as despesas de
formação académica daquela e até que educação dos filhos consoante as suas
completasse 25 anos. possibilidades económicas, o que implica

PROPRIEDADE PRIVADA condomínio havia atividade de alojamento

Um condomínio fechado intentou uma
ação contra a empresa proprietária de um
Casa-barco ganha lugar de ancoragem. Justificou a medida
a condomínio alegando que se tratava de um condomínio
“de luxo e distinto” e que aquela devia
retirar uma casa-barco ancorada numa
fluvina, explorada por um terceiro, e que,
além de servir como alojamento local,
descaracterizava o ambiente harmonioso.
A empresa contestou a ação
defendendo que a embarcação, embora
esteticamente diferente do tradicional,
não desrespeitava a arquitetura do
empreendimento, e que no próprio
local, sem oposição dos moradores.
Em primeira instância, a ação foi
considerada improcedente. O condomínio
interpôs recurso, mas o Tribunal da
Relação de Guimarães manteve a decisão:
não existia disposição legal que impedisse
a ancoragem da casa-barco à fluvina, nem
o regulamento do condomínio deliberava
que esta fosse uma parte comum. Neste
caso, prevalecia o exercício do direito de
propriedade privada.
● Tribunal da Relação de Guimarães,
16 de fevereiro de 2023

48 D&D//setembro/outubro 2023 www.deco.proteste.pt


INDEMNIZAÇÃO
aferir em concreto a capacidade de cada
um. O facto de um filho, mesmo que
maior de idade, não falar com o pai ou
com a mãe não representa a violação do
dever de respeito e, portanto, não serve
de escusa ao pagamento da pensão. Já
a falta de pagamento da prestação de
alimentos por parte de um progenitor só
pode ser justificado por uma razão grave,
como desemprego.
A ESPECIALISTA DA DECO PROTESTE
COMENTA
Sofia Lima
O Código Civil consagra a possibilidade
de equivaler a situação da típica
propriedade horizontal aos condomínios
fechados. Do mesmo modo, as limitações
ao exercício dos direitos dos condóminos
não podem implicar restrições ao direito
de propriedade, neste caso, à ancoragem
da casa-barco. O regulamento de
condomínio só pode incidir sobre uso,
conservação e fruição das partes comuns.
www.deco.proteste.pt
Atropelamento ou legítima defesa?
André intentou uma ação contra
uma companhia de seguros,
pedindo uma indemnização de
51 782,85 euros. Tudo começou
com uma perseguição: João
acusou André de lhe ter assaltado
a casa e perseguiu-o de carro,
embatendo nele pouco depois com
a frente do automóvel. André caiu no
chão, fraturou os membros inferiores,
sofreu ferimentos na cabeça e foi
ainda pontapeado por João enquanto
aguardava a chegada da ambulância.
A seguradora contestou afirmando
que, mesmo que se provasse o
atropelamento de André, não estaria
obrigada a indemnizá-lo num caso
em que a utilização do veículo fora
instrumental. João foi então chamado
a contar a sua versão e defendeu-se
alegando que se tratara de um
acidente de viação provocado pela
mudança repentina de circulação.
Afirmou ainda que não utilizara o
carro com o intuito de atropelar
André, mas para recuperar os objetos
que lhe teriam sido roubados.
O tribunal de primeira instância
condenou a seguradora a pagar a
André 352,85 euros a título de danos
patrimoniais, e 30 mil euros a título de
danos não-patrimoniais. Descontente
com a decisão, a seguradora
recorreu para o Tribunal da Relação,
que viria a condená-la a pagar uma
indemnização de 40 mil euros a título
de danos não-patrimoniais, dividida
em duas parcelas de 20 mil euros:
uma referente ao défice permanente
da integridade físico-psíquica, a outra
relativa a danos morais.
Inconformado com o valor, João
recorreu para o Supremo Tribunal de
Justiça que, após apreciar diversas
Textos Filipa Rendo
questões, concluiu que se tratava
de um caso de excesso de legítima
defesa não justificada e de uma
manifesta desproporção entre o bem
sacrificado (lesões provocadas a
André) e o bem protegido (pertences
de João). Acresce que a perturbação
ou o medo provocados por André
não justificavam aquela conduta.
Ainda assim, o STJ reduziu o valor
a pagar a André para 30 mil euros,
acrescido de juros.
● Supremo Tribunal de Justiça,
27 de abril de 2023
JOÃO ACUSOU ANDRÉ DE
LHE TER ASSALTADO
A CASA E PERSEGUIU-O,
EMBATENDO NELE COM A
FRENTE DO AUTOMÓVEL
A ESPECIALISTA DA DECO
PROTESTE COMENTA
Sofia Lima
De acordo com a Constituição, os
cidadãos têm o direito de repelir
pela força qualquer agressão,
quando não seja possível recorrer
à autoridade pública. Porém, os
meios usados não podem ser
desproporcionados face aos danos
provocados. É compreensível o
estado de tensão quando alguém
surpreende um intruso a assaltar
a sua casa, mas tal não justifica a
conduta descrita, tratando-se de
uma situação de legítima defesa não
justificada.
setembro/outubro 2023//D&D 49
 LIVRO DE
RECLAMAÇÕES
MAILBOX
O sistema informático
de um parque de
estacionamento em
Lisboa não permite
emitir faturas com
número de contribuinte
MAIS INFORMAÇÕES sobre IRS, em
www.deco.proteste.pt/dinheiro/
impostos/dicas/irs-ajudamos-
preencher-passo-a-passo
50 D&D//setembro/outubro 2023
histórias, dúvidas e testemunhos dos nossos
TRABALHO
Sem lugar para a
Uma trabalhadora, mãe de uma criança de dois
anos, não tem com quem deixar a filha em agosto,
já que a creche está encerrada. Tentou marcar
férias, mas a entidade patronal não aceita. Já
trabalha nessa empresa há mais de seis meses.
O que pode fazer neste caso? A licença parental
complementar é uma opção?
A ESPECIALISTA DA DECO
PROTESTE COMENTA
Sónia Covita
Há que saber, antes de tudo, o que faz a
trabalhadora e quais os motivos da recusa da
entidade empregadora. Uma vez que é sempre
esta que tem a última palavra, a trabalhadora
poderá fazer queixa à Autoridade para as
Condições de Trabalho, se estiver em causa
a conciliação da vida pessoal, o que parece
ser o caso.
Poderá, efetivamente, pedir uma licença parental
complementar, desde que cumpra os requisitos
para a atribuição – seis meses de registos
DAR UMA MÃOZINHA para efeitos contabilísticos
AO SISTEMA e fiscais?
Deixei o carro num parque de F.R., via e-mail
estacionamento subterrâneo.
Dirigi-me depois ao guichê A especialista da DECO
PROTeste comenta Há
de pagamento, para obter
Magda Canas
prestadores
uma fatura com número de
de serviços
contribuinte. Disseram-me que podem
que seria impossível, mas que Em princípio, a emissão de não emitir
faturas simplificadas deve
poderia adicionar o número faturas com
pretendido à mão. A fatura cumprir as exigências do número de
emitida desta maneira é válida Código do IVA, tanto no que contribuinte
www.deco.proteste.pt
 Envie-nos os seus comentários para
s leitores correioleitores@deco.proteste.pt

Textos Ricardo Nabais & Filipa Rendo

DINHEIRO & DIREITOS

CONDOMÍNIO
Gestão contestada
criança
Armand De Wasch, Guido Adriaenssens,
Um leitor queixa-se da empresa
que gere o condomínio, por não
exercer prontamente as suas
funções. Entre outros problemas,
numa ocasião, por volta das
3h00 da manhã, um tubo de
A TRABALHADORA PODE PEDIR água rebentou no rés-do-chão,
DECO PROTeste, Editores, Lda.
Proprietária, Editora e Redação
Av. Eng.º Arantes e Oliveira, n.º 13,
Olaias, 1900-221 Lisboa
Conselho de Gerência
Daniel Stons, Ivo Mechels,
Luís Silveira Rodrigues, Vasco Colaço
Capital Social
DECO — Associação Portuguesa
para a Defesa do Consumidor (25%)
Presidente Luís Silveira Rodrigues
Euroconsumers (75%)
Presidente Daniel Stons

UMA LICENÇA PARENTAL perto dos contadores da água, Country Manager

e Representante Legal
COMPLEMENTAR, MAS FICARÁ A inundando apartamentos e o António Balhanas
elevador, que não chegou a ter
GANHAR 30% DA REMUNERAÇÃO reparação entretanto.
Diretora e Editora de Publicações
Cláudia Maia
DE REFERÊNCIA Registo de pessoa coletiva 502 611 529
A ESPECIALISTA DA DECO Registo da Editora 215 705
PROTESTE COMENTA Registo na ERC 116 476
contribuitivos, por exemplo. Mas vai ganhar ISSN 0873-8793
Sofia Lima
Depósito legal 63477/93
menos do que se estivesse em férias. Em gozo de
Tiragem 256 000 exemplares
férias, recebe 100%: no caso de licença parental A rutura da canalização requer
Execução gráfica
complementar, o valor é de 30% da remuneração uma reparação indispensável e Capa: iStock/Nuno Semedo
de referência, caso pretenda gozá-la sem urgente. Qualquer condómino Fotografia sem crédito atribuído em página:
a acumular com trabalho a tempo parcial. pode tomar a iniciativa de 4See/Fernando Piçarra; iStock
O pedido da licença deve ser feito na Segurança mandar fazê-la, na falta ou no Impressão: Sogapal, Comércio e Indústria
de Artes Gráficas, S.A. Estrada de São Marcos,
Social Direta, e a trabalhadora deverá avisar impedimento do administrador n.º 27, 2735-521 Agualva-Cacém
a entidade empregadora de que a vai requerer. do condomínio. Neste caso Estatuto editorial
Só será recusada se não reunir as condições concreto, convém confirmar www.deco.proteste.pt/estatuto-editorial
exigidas, como o tempo de trabalho mínimo, que a a eventual responsabilidade
UTILIZAÇÃO PARA FINS COMERCIAIS
trabalhadora cumpre, e a possibilidade de o outro da empresa de águas no
A DECO PROTeste proíbe a reprodução
progenitor ficar com a criança, que não sabemos. rompimento da canalização. e a citação dos seus artigos, bem como
a referência ao nome da editora e às publicações
(proteste, dinheiro & direitos, teste saúde,
proteste investe e guias práticos) com fins
comerciais. O uso das designações “Escolha
Acertada”, “Melhor do Teste”, “Escolha Verde”,
diz respeito à indicação do estacionamento, mas também “Marca Mais Fiável”, “Loja Online Aprovada”,
“Líder em Satisfação” e “Satisfação Elevada”
nome ou da denominação de entradas em monumentos, só é autorizado nas condições previstas
social e do número de portagens e bilhetes para em www.deco.proteste.pt/selos.
identificação fiscal do espetáculos, por exemplo. COTIZAÇÃO DE ACORDO Trimestral (2) Anual
prestador do serviço, como ao A obrigação de emissão COM A SUBSCRIÇÃO (1)
PROTESTE 30,45 € 121,80 €
número de identificação fiscal de fatura ficou, por isso, 11 edições anuais
DINHEIRO & DIREITOS + GUIA FISCAL 12,90 € 51,60 €
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