1180 abril 2022 www.deco.proteste.

pt/investe

MENSAL | 20,25 € | NÃO É PUBLICADA EM AGOSTO | Diretora e editora Cláudia Maia

LUCRO MÁXIMO
A CURTO PRAZO
Níquel, trigo e petróleo valorizaram mais de 60%
no último ano. Há cinco ETF de matérias-primas
para tirar partido da volatilidade do mercado

CRIPTOMOEDAS IRS DEPÓSITOS QUEM APLICOU

Apostar no “ouro Saiba como evitar a Taxa média a EM CERTIFICADOS
digital” da bitcoin dupla tributação, se 12 meses é quase DO TESOURO ATÉ
ou na mais inovadora obteve rendimentos 70 vezes inferior OUTUBRO DE 2017
ethereum? do estrangeiro à inflação prevista RECEBERÁ 7,5%
P.11 P.14 P.26 P.04
Proprietária, editora e redação
DECO PROTESTE, Editores, Lda.,
Av. Eng.º Arantes e Oliveira, 13, Olaias,
1900-221 Lisboa.
Editora registada sob o número 215 705.
NIPC: 502 611 529.

Conselho de gerência Armand De Wasch,

Guido Adriaenssens, Daniel Stons, Ivo Mechels,
Luís Silveira Rodrigues e Vasco Colaço

Capital Social
DECO – Associação Portuguesa para a Defesa
do Consumidor (25%) | Presidente:
Luís Silveira Rodrigues
Euroconsumers (75%) | Presidente:Daniel Stons

Country manager e representante legal

António Balhanas

Diretora e editora de publicações

Cláudia Maia Editorial Filipa Rendo
Responsável de estudos jurídico-económicos
Joaquim Rodrigues da Silva editorial@deco.proteste.pt

VÍTIMAS DA INFLAÇÃO
Colaboradores
Analistas financeiros do mercado nacional:
André Gouveia (bens de consumo, construção,
papel, energia, serviços informáticos);
João Sousa (banca); Rui Ribeiro (distribuição,

E DA FALTA DE ALTERNATIVAS
media, telecomunicações, energia, serviços
postais).
Outros valores mobiliários e instrumentos
financeiros: André Gouveia, António Ribeiro,
João Sousa, Jorge Duarte.

H
Na análise do mercado internacional, a proteste
investe cede e recebe alguns conteúdos
de organizações europeias de consumidores
á muito que as famílias muitas vezes, como uma opção
com as quais definiu metodologias idênticas: portuguesas se debatem contra segura, não o são. Nem podem ter
Euroconsumers S.A., Avenue Guillaume 13B, L-1651
Luxembourg; Altroconsumo Edizioni Finanziarie a falta de soluções de poupança essa pretensão. Rendem pouco, menos
S.R.L., Via Valassina, 22 – 20159 Milano; Test- que garantam simultaneamente até do que os melhores depósitos e
-Achats S.C., Rue de Hollande 13, 1060 Bruxelles;
OCU Ediciones S.A., C/ Albarracín, 21-28037 segurança e algum rendimento. Certificados de Aforro e do Tesouro.
Madrid. As análises publicadas na proteste investe
são independentes e elaboradas de acordo
Os produtos de capital garantido, Incluem penalizações pelo resgate
com uma metodologia que pode consultar devido às baixas taxas de juro, pouco antecipado, que engolem todo ou boa
em deco.proteste.pt/investe/metodologia.
As análises nunca são enviadas à entidade
proporcionam e não são certamente um parte do rendimento. E há ainda a
emitente dos instrumentos financeiros objeto de incentivo à poupança. E a contribuir questão da segurança do investimento.
avaliação e, por isso, não estão sujeitas a alterações
a pedido destas. A deco proteste e os responsáveis para esta dificuldade está agora a Temos reservas acerca da solvabilidade
pela informação financeira não têm interesses inflação. Atingiu, em março, 5,5%, face da associação que emite os planos
suscetíveis de prejudicar a objetividade.
ao período homólogo – um máximo não mutualistas – não confundir Associação
Estatuto editorial
deco.proteste.pt/investe/estatuto-editorial registado desde há 26 anos, em Portugal. Mutualista Montepio com o Banco
Políticas e procedimentos Nos Estados Unidos, chegou aos 8,5%, Montepio. Receio agravado pelo facto
deco.proteste.pt/investe/politicas-procedimentos
e na zona euro está em 7,5 por cento. de estes produtos não estarem ao abrigo
Tiragem 20 000 exemplares. Registo na ERC
n.º 120 152. Depósito legal n.º 102931/96. São notícias terríveis para quem de um sistema de garantia ou proteção,
Assinaturas Tel: 218 410 801. depende quase em exclusivo de como acontece com os depósitos a
E-mail: assinaturas@deco.proteste.pt.
Assinatura anual da Proteste Investe produtos mais defensivos para fazer prazo, cobertos pelo Fundo de Garantia.
257,40 € (21,45 € por mês) > 48 edições
semanais de 12 páginas + 11 edições mensais
crescer as poupanças. Basta pensar Em caso de dificuldades financeiras da
de 32 páginas. que a taxa média de um depósito associação, reaver o dinheiro investido
Assinatura anual da Proteste Poupança
177,84 € (14,82 € por mês) > 11 edições
a 12 meses (0,06%) é 66 vezes inferior a pode ser uma missão impossível. A isto
mensais de 32 páginas. 4%, a inflação estimada para 2022 pelo junta-se a deficiente supervisão a que
Impressão Sogapal, Comércio e Indústria
de Artes Gráficas, S.A., Estrada de São Marcos, Banco de Portugal. Assim, qualquer que estes planos estão sujeitos. Não são
n.º 27, 2735-521 Agualva-Cacém. seja o produto de capital garantido, se monitorizados por uma entidade isenta,
Capa IStock/Nuno Semedo
Fotografia e ilustração 4See/Fernando Piçarra, oferecer uma taxa líquida abaixo de 4%, autónoma e competente, como outros
iStock.
Todos os direitos de reprodução, adaptação
é um péssimo negócio. O consumidor produtos financeiros. Já o denunciámos
e tradução são reservados, e a utilização não perde dinheiro no sentido literal da no passado e voltaremos a fazê-lo junto
para fins comerciais é proibida.
Gráficos ©Thomson Financial Datastream
palavra, já que não resgatará menos do do novo Governo e da Assembleia da
e deco proteste. que o que aplicou, mas estará a perder República.
poder de compra, pois o rendimento não O nível de poupança dos portugueses,
acompanha sequer o ritmo da inflação. historicamente baixo, precisa de bons
Chamadas para a rede fixa nacional.
Consulte o seu tarifário. O que resta a estas famílias de perfil investimentos para ser contrariado. Para
218 410 858
Serviço de informação mais conservador? Muito pouco! isso, conte, como sempre, connosco, com
218 410 801
Assinaturas e encomendas Os planos mutualistas vendidos, a nossa análise crítica e recomendações.
Cidadãos Surdos
12472 ou Skype
Precisa de computador com câmara
ou smartphone com Skype para contactar o Serviin www.deco.proteste.pt/investe
CAPA ARTIGOS
08 Entrevista 22 Fundos multiativos
16 Luciano Amaral traça o retrato Uma forma de diversificar
Matérias-primas do País em termos económicos a carteira a partir
com preço ao rubro. na última década de pequenas quantias
Uma oportunidade?
26 Depósitos
Se não receia A subida da inflação supera
a volatilidade largamente as taxas dos
dos mercados depósitos a prazo. Quanto
financeiros, rendem 10 mil euros a um ano?
veja como
arriscar
na subida
de algumas 11 Criptomoedas
matérias- Bitcoin ou ethereum? Duas
-primas formas distintas de investir
e engorde a em moedas digitais
sua carteira
14 Fiscalidade
Como evitar a dupla tributação
na declaração de IRS e pagar
menos impostos
28 Fundos PRR
20 Planos mutualistas Em março, recuperaram graças
Montepio continua a emitir à subida das bolsas. As nossas
novas séries, mas valerá a pena Escolhas Acertadas continuam
investir? no topo

RUBRICAS
04 Contas em Dia
Subida do PIB beneficiou
antigos Certificados do Tesouro.
Poupança voltou aos níveis
pré-pandemia. SPAC já podem
ser admitidas na bolsa
06 Vantagens para si
Seguro de vida ao melhor preço,
com oferta de duas mensalidades
associado ao crédito à habitação,
e desconto de 10% na tarifa do
primeiro ano
30 Mundo
O valor do PIB per capita nacional
quase duplicou desde o virar do
século, mas Portugal continua a
crescer pouco e aquém da média
registada pela zona euro

UM GUIA ENCOMENDE
COM O CÓDIGO 22040
POR 1,95 € DO MÊS
TELEFONE 211 215 652
Uma vantagem exclusiva dos nossos subscritores ONLINE WWW.DECO.PROTESTE.PT/GUIASPRATICOS
contas em dia
atualidade • formação • recomendações
DÍVIDA PÚBLICA
CERTIFICADOS DO
TESOURO MAIS ANTIGOS
RENDEM 7,5%
S
e seguiu as nossas recomendações
e subscreveu os Certificados do
Tesouro Poupança Mais (CTPM),
em comercialização até ao final
de outubro de 2017, irá agora receber
um rendimento de 7,53% bruto, ou seja,
5,4% líquidos. Um oásis no deserto atual
das aplicações de rendimento garantido.
Recordamos que esta série tinha um
prazo de cinco anos, com rendimento
crescente entre 1,25% e 3,25 por cento.
A esta taxa acrescia ainda um prémio
nos quarto e quinto anos, em função do
crescimento do PIB. Atualmente, o PIB
tem registado subidas significativas e o
IGCP divulga todos os meses o prémio
para as várias séries. Como pode ver no
gráfico, esse prémio, em abril, é de 4,28%
nos CTPM. Assim, quem subscreveu
em 2017, e manteve os título até agora,
TAXA DE POUPANÇA
DE VOLTA AOS NÍVEIS PRÉ-PANDEMIA
A pandemia abrandou, e com ela
baixaram também os níveis de poupança.
Segundo o Serviço de Estatística da União
Europeia (Eurostat), as famílias da zona
euro pouparam substancialmente menos
nos últimos três meses de 2021 (13,3%)
quando comparado com o segundo
trimestre de 2020 (25,3%), altura em que
estava meio mundo confinado. Como
4  Proteste Investe 1180 abril 2022
usufrui de uma taxa que corresponde
à soma de 3,25%, mais o prémio de
4,28%, o que dá um rendimento total
de 7,53 por cento. Motivo pelo qual temos
referido para não resgatar as séries mais
antigas dos Certificados do Tesouro, pois
são as que oferecem melhor rendimento.
As sucessivas emissões têm
apresentado taxas cada vez mais
baixas, acompanhando as tendências
de mercado nas restantes aplicações de
capital garantido. Ainda assim, e apesar
da emissão atual dos Certificados do
CERTIFICADOS DO TESOURO
PRÉMIO EM FUNÇÃO DO PIB
Certificados do Tesouro Poupança Mais
Certificados do Tesouro Poupança Crescimento
1,56% 1,56%
0,78%
0% 0%
dez/21 jan/22 fev/22 mar/22 abr/22
pode ver no gráfico, a taxa de poupança
está agora ao mesmo nível que estava
antes do surgimento da covid-19.
O fim dos confinamentos, que vigoraram
alguns meses em 2020 e 2021, e a
crescente taxa de vacinação permitiram
a reabertura gradual das economias e
o regresso aos níveis de consumo que
existiam anteriormente.
Tesouro Poupança Valor ser a menos
rentável de todas, continuamos
a recomendar a subscrição. Não espere,
contudo, rendimentos da mesma
ordem, pois as taxas anuais da série
atual são bastante inferiores (entre 0,7
e 1,6% bruta), e a previsão da taxa de
crescimento do PIB, por enquanto,
é de 2% (para 2024), bastante mais
baixa do que a atual. Segundo os nossos
cenários, os atuais Certificados do
Tesouro Poupança Valor deverão render
entre 0,7% e 0,9% líquidos ao ano.
4,28%
1,56%
1,20%
0,78% 0,78%
Os valores do Eurostat escondem, porém,
as assimetrias entre os vários países
da zona euro. Por exemplo, Portugal
é dos países com a mais baixa taxa de
poupança. Segundo o INE, decresceu
de 11,7%, no terceiro trimestre do
ano passado, para 10,9%, no final de
dezembro de 2021. Os baixos salários
podem ser uma das explicações.
www.deco.proteste.pt/investe
 Jorge Duarte
Analista financeiro
da DECO PROTESTE

EM QUEDA, MAS POUCO

A invasão da Ucrânia apanhou as bolsas
BOLSA num movimento de queda mas, se
excetuarmos os primeiros dias, o conflito

CMVM ABRE A não provocou um agravamento da descida.

PORTA ÀS SPAC
Ao invés, muito mercados recuperaram
bastante terreno desde março, e o índice
global está agora pouco negativo face ao
É oficial. As SPAC (sigla em início do ano. Os

9,7%
inglês para “empresas com investidores estão
especial propósito aquisitivo”) confiantes de que o
podem ser cotadas na bolsa impacto económico da
nacional, anunciou a CMVM guerra será limitado
no início do mês. Criadas e que a maior parte FOI QUANTO VALORIZOU
para reunir capital, têm o objetivo de adquirir ou fundir-se com do globo não será A BOLSA PORTUGUESA DE
uma empresa que não esteja ainda cotada, que, por sua vez, tem muito afetada. Além
JANEIRO A 11 DE ABRIL
a vantagem de não ter de observar todas as regras, nem os custos disso, apostam que
relativos ao processo de oferta pública. Contudo, o regulador a Reserva Federal
estabeleceu alguns requisitos: mecanismos de proteção dos contenha a inflação sem penalizar em demasia
fundos que garantam que o valor entregue pelos investidores o dinamismo económico dos Estados Unidos.
só servirá para os fins previstos; garantias de direitos de voto De facto, se a bolsa norte-americana está em
sobre a aquisição, e de saída do investimento aos investidores, e a recuperação, os mercados da zona euro estão
existência de um prazo limite para a aquisição. No caso das SPAC ainda a ser duramente castigados pela guerra
cujo público-alvo inclua os pequenos investidores, os fundos na Ucrânia. Em 2022, acumulam uma perda
devem ser aplicados em instrumentos de baixo risco, deve haver de quase 11 por cento. As bolsas chinesas estão
um montante mínimo de subscrição, e disposições relativamente com uma pior performance, mas isso deve-se
à prestação da informação e salvaguardas em caso de liquidação à política de “covid zero” que tem paralisado
da SPAC. Embora, em nossa opinião, as SPAC exijam cautelas cidades como Xangai. Pela positiva, o Brasil
adicionais aos investidores e não sejam para os menos experientes tem beneficiado dos elevados juros, que
e informados, há que reconhecer que o pouco dinamismo do tornam o real brasileiro bastante apelativo.
mercado de valores mobiliários nacional exige medidas flexíveis.
Mercado
Variação
EVOLUÇÃO Brasil 37,7%
TAXA DE POUPANÇA NA ZONA EURO Lisboa 9,7%
25,3%
Londres 3,7%
EUA (S&P 500) -3,4%
Bolsas mundiais (média) -2,9%
Bolsas emergentes (média) -5,8%
Zona Euro -10,7%
13,4% 13,3% Tóquio -10,8%
China -14,7%
2019-1T 2020-2T 2021-4T
Em euros; em 2022 até 11/04/2022

www.deco.proteste.pt/investe
 SEGURO DE VIDA
INFORME-SE EM
WWW.DECO.PROTESTE.PT/
AO MELHOR PREÇO
CARTAO-DECO-MAIS/SEGUROS
Se precisa de contratar um seguro de vida, conheça a proposta
VANTAGENS destas seguradoras. Todas oferecem descontos no prémio,
mas a melhor opção depende da cobertura pretendida
PARA SI

DESCONTO NA
DESCONTO NA
TARIFA DO SEGURO
OFERTA DAS TARIFA DO PRIMEIRO
ASSOCIADO AO

10%
DUAS PRIMEIRAS ANO (METLIFE)

5%
CRÉDITO (REAL)
MENSALIDADES
(APRIL)

PARCEIROS

Um seguro de vida serve para
proteger a família, de modo a
conseguir um suporte financeiro
em caso de morte prematura
de um dos elementos do
agregado, ou para garantir que
o empréstimo será pago ao
banco, quando se faz um crédito
à habitação. Os subscritores das
nossas revistas beneficiam de
condições mais vantajosas em
três seguradoras.
Com a April, acordámos a oferta
das duas primeiras mensalidades
na subscrição do seguro Vida
Crédito April, associado ao
crédito à habitação, e Vida
April, indicado para proteger
a família em caso de morte
prematura. A estes seguros é
possível adicionar coberturas
facultativas, bem como aceder a
consultas telefónicas de medicina
geral e familiar e de orientação
nutricional gratuitas. Com a Real,
negociámos uma redução de 5%
na tarifa do seguro associado ao
crédito à habitação, que inclui as
coberturas de morte por acidente
(à indemnização adiciona 10%
do capital em dívida à data do
sinistro, até 10 mil euros) e filhos
menores a cargo (duplica o capital
seguro). Por sua vez, a Metlife
garante um desconto de 10%
no prémio do primeiro ano. Se
o consumidor tiver até 50 anos
e contratar um capital até 350 mil
euros, só tem de preencher uma
declaração de saúde. Em todas
as parcerias, conte com o apoio
de uma equipa especializada.
 MAIS PARA POUPAR
Tem à disposição vários serviços e parcerias para poupar ou esclarecer
dúvidas que surjam no dia-a-dia

DESCONTOS ATÉ 11 CÊNTIMOS POR LITRO APRESENTE UMA RECLAMAÇÃO OU PEÇA RECEBA REEMBOLSOS DE COMPRAS
NO ABASTECIMENTO DO AUTOMÓVEL AJUDA AOS NOSSOS JURISTAS ONLINE DE PRODUTOS E SERVIÇOS
WWW.DECO.PROTESTE.PT/ WWW.DECO.PROTESTE.PT/ WWW.DECO.PROTESTE.PT/CARTAO-DECO-
CARTAO-DECO-MAIS/MOBILIDADE CARTAO-DECO-MAIS/RECLAMAR MAIS/PROGRAMA-CASHBACK-DECO
 ENTREVISTA

P
assada mais de uma década sobre a
primeira edição do livro Economia
Portuguesa, as Últimas Décadas,
Luciano Amaral publicou uma
segunda, acrescentando um capítulo
de atualização, que inclui a intervenção
da Troika, os anos da geringonça e a
pandemia. O saldo é tudo menos positivo.

Em 2020, o PIB português era o

mesmo que em 2005, e estamos
mais pobres do que em 2010. Qual
é a explicação?
Isso não significa que não tenha havido
crescimento entre 2005 e 2020. O que
houve foi momentos de queda muito
pronunciada. Nos primeiros anos
do século XXI, o crescimento estava
praticamente estagnado, mas, no
período da Troika, foi bastante negativo.
Depois recuperámos. Com a pandemia,
voltámos a cair. Juntando todos estes
períodos, temos um PIB idêntico ao de
2005. O principal problema é o nosso
LUCIANO AMARAL desempenho comparado com o de
DOUTORADO PELO
outros países. Ou seja, chegámos a um
INSTITUTO UNIVERSITÁRIO
pico, digamos, de PIB per capita ou de
DE FLORENÇA, É
PROFESSOR ASSOCIADO
rendimento relativo às economias mais
DA NOVA SCHOOL OF ricas por volta de 1999, e, desde então,
BUSINESS AND ECONOMICS temos sempre vindo a descer como
E AUTOR DE VÁRIOS LIVROS tendência. Em termos absolutos, estamos
SOBRE ECONOMIA melhor, mas em termos comparados
estamos mais ou menos como estaríamos
na segunda metade dos anos 80. Somos
tão ricos em relação aos mais ricos
quanto éramos nessa altura.

Desde a primeira edição do seu

livro (2010), o País não está

“NÃO SOMOS NENHUMA

numa situação estruturalmente
diferente. É cético em relação à
intervenção da Troika nesse ano?
Não sou cético em relação àquilo que

CALIFÓRNIA”
a Troika conseguiu, cujo objetivo
principal, no fundo, era reequilibrar a
balança externa. Tínhamos um défice
externo de 10% ao ano, que desapareceu
quase de um ano para o outro. O
problema é como crescer de maneira
Atrair investimento estrangeiro é essencial para tirar o equilibrada, uma dificuldade que já
vem do passado. Se queremos crescer
País da cauda da Europa, defende o professor da Nova SBE mais depressa, vamos voltar a ter esse
desequilíbrio externo, porque a nossa
de Carcavelos, que explica porque a economia não cresce grande desvantagem é a competitividade
face ao exterior. A questão é saber se as
Texto Myriam Gaspar e Filipa Rendo • Fotografia António Azevedo/4See reformas que foram feitas na altura, para

8  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

tornar a economia mais competitiva,
resultaram ou não.
Na sua opinião, resultaram?
Não tenho a certeza. Só o tempo o dirá.
Mas, face ao que foi feito, não estou muito
otimista. Não resolveram o problema
da competitividade, porque o nosso
problema de competitividade reside em
coisas para as quais a intervenção apenas
marginalmente apontou, que são, por um
lado, aquilo a que eu chamo no livro a
existência de capital, de equipamento, de
maquinaria, para sermos mais produtivos
e, por outro lado, a qualificação da
mão‑de‑obra. Estas duas coisas não
existem em grande abundância em
Portugal. Portanto, não contribuíram
excecionalmente para aumentar estes
fatores. Como tal, sou cético. Não quer
dizer que esteja certo. Sendo que, agora
introduzindo uma nota de atualidade,
quase todas estas coisas podem ser
completamente revistas, graças ao
acontecimento que estamos a viver, a
guerra na Ucrânia.
Manuela Ferreira Leite disse há
pouco que este conflito poderia ter
um efeito positivo, por exemplo no
setor energético.
Em termos económicos, o impacto
pode ser positivo ou negativo, é uma
grande incógnita. Todas as minhas
considerações são, por um lado, muito
afetadas pela pandemia – nunca tinha
havido um choque assim na economia
portuguesa e na de outros países, isto é,
parar tudo de um dia para o outro. Foi um
imponderável que não era antecipável, e
agora esta guerra, cujas consequências
não sabemos quais serão. Para já, temos
o aumento do preço dos combustíveis,
que terão uma implicação geral e se
inserem já num excesso inflacionário.
Isto é, as cadeias logísticas mundiais
que existiam foram muito afetadas e
não se recuperaram completamente
a seguir à pandemia, colocando uma
pressão sobre os preços. O crescimento
da inflação, para já, tem um efeito claro.
Ainda por cima, a Ucrânia e a Rússia
são grandes produtores de cereais.
O paradigma da união económica e
monetária não contempla choques deste
género. Francamente, não sabemos
www.deco.proteste.pt/investe
onde esta guerra vai parar. Não quero
ser pessimista, mas neste momento é
uma guerra circunscrita àqueles dois
países, mas a Ucrânia faz fronteira com
a União Europeia. Esperemos que não
se generalize… já é suficientemente
mau assim. Se se alargar, a situação
é imponderável. É muito difícil fazer
previsões. Isto vai introduzir um corte,
mas não sabemos bem o ponto a partir
do qual vamos recomeçar, que é o que
acontece com todas as guerras. Quando
são muito graves, o choque é muito
grande.
Portugal tem, no entanto, uma
dependência energética menor do
que outros países europeus.
O nosso país tem uma grande
dependência energética, mas não tanto
da Rússia e da Ucrânia como ponto de
passagem. Importamos sobretudo da
Nigéria, da Argélia e de Marrocos. Mas o
aumento dos preços dos combustíveis vai
afetar toda a gente.
Voltando ao rácio de capital de
trabalho, a disponibilidade de
maquinaria e equipamento por
trabalhador: a situação piorou,
aumentando o desfasamento
relativamente ao resto da Europa.
Este é um fator fundamental para
sairmos da cauda da Europa?
No livro, dou o exemplo dos países
do leste europeu, cuja técnica de
crescimento foi atrair investimento
estrangeiro em grande quantidade, para
produtos de exportação. Maquinaria
nova, de origem alemã ou sueca, isto
é, com um desenvolvimento elevado,
e tecnologia também proveniente
desses países, aplicada à mão‑de‑obra
“Se acabámos de dar maioria
absoluta a uma pessoa que
promete aprofundar ainda
mais o Estado Social, é porque
continuamos contentes com
este modelo de crescimento
relativamente lento”
que existia. Isso gerou um aumento da
produtividade e de competitividade
que levou alguns desses países a
aproximarem‑se rapidamente de nós e
a ultrapassarem‑nos. Nós não fizemos
esse esforço de atrair investimento
estrangeiro… não dessa forma. Atraímos
algum investimento durante o período da
Troika, mas foi para setores do mercado
interno, sem grande capacidade de
exportação.
Tivemos o programa dos vistos
gold.
Toda a gente teve, aliás, mas para
o imobiliário, e este não é propriamente
um setor produtivo que sirva para
exportar… Não digo que não tenha
ajudado, mas não foi o choque de
investimento de que precisávamos.
Junta‑se a isto o facto de, durante o
período da Troika e da geringonça, o
investimento público simplesmente ter
desaparecido, o que foi absolutamente
desastroso. Ora, o investimento público
também faz parte desse rácio capital/
trabalho. Aí voltamos à tal questão do
meu ceticismo sobre a intervenção da
Troika. O que é que aquela intervenção
contribuiu para aumentarmos o
investimento per capita ou o nível de
qualificação per capita? Não parece que
tenha servido de muito.
Seguir o exemplo da Estónia teria
um custo, como refere no livro.
Estaríamos disponíveis para
abdicar do Estado de Previdência?
Não é que eles não tenham Estado de
Previdência, mas é menos generoso.
Este custo não é falado. Só se
fala do crescimento “milagroso”
desses países.
Como sou historiador económico,
tenho uma visão talvez mais alargada.
De facto, os fenómenos económicos
estão inseridos em fenómenos sociais
e políticos. E podemos dizer: sim, o
crescimento económico talvez fosse
melhor se tivéssemos um mercado
de trabalho mais flexível, se não
gastássemos tanto em programas
sociais… Mas, por outro lado, na nossa
organização social, temos muito
enraizado a forma como fomos
Proteste Investe 1180 abril 2022  9
 “Temos outra ilusão, que é fazer de Portugal
a Califórnia da Europa. A Califórnia não
é um país, é uma parte de um país, que tem
a maior inovação e evolução tecnológica
à face da Terra. Não vale a pena ter a ilusão
de que vamos ser capazes”

construindo a nossa democracia a produtividade continua a ser o entre patrões e empregados… Ou

desde 1974. Quando houve a crise em
2008, essa maior flexibilidade e menor
dependência do Estado Social custou
muito às pessoas nesses países. Para nós,
foi o choque da Troika, que pôs o País
num estado depressivo, não só a nível
económico como também mental, social,
com inúmeros portugueses a perderem
o emprego. Naqueles países foi, contudo,
muito pior. Claro que eles recuperaram
muito depressa, mas aquelas flutuações
para nós seriam muito chocantes.
Faz sentido adotar o modelo
desses países, ou é impensável?
Faz, se quisermos. O modelo que temos
tem custos. Vamos ficar mais pobres
do que eles. A comunidade política,
portanto nós, enquanto portugueses,
temos de chegar a acordo sobre isso.
Como disse a Susana Peralta no debate
da Fundação Francisco Manuel dos
Santos, acabámos de dar maioria
absoluta a uma pessoa que promete
aprofundar ainda mais o Estado Social.
Se demos, é porque continuamos
contentes com este modelo de
crescimento relativamente lento, mas
que garante uma certa proteção social.
A produtividade é o nosso
calcanhar de Aquiles. Há a ideia de
que, se trabalharmos mais horas,
aumentamos a produtividade.
O melhor caminho para aumentar
investimento estrangeiro para um país
relativamente atrasado como o nosso.
Não somos famosos pela tecnologia nem
pelo conhecimento. Temos outra ilusão,
que é fazer de Portugal a Califórnia da
Europa. A Califórnia não é um país, é
uma parte de um país, que tem a maior
inovação e evolução tecnológica à face da
Terra. Não somos nenhuma Califórnia,
não vale a pena ter a ilusão de que
vamos ser capazes, porque não temos
mão‑de‑obra qualificada. Formamos as
pessoas, temos um nível educativo baixo
por comparação com os outros, e mesmo
assim não os conseguimos reter.
Como referiu no livro, queremos
ter a administração pública
escandinava, os têxteis italianos,
a inovação americana e o mercado
de trabalho holandês...
Não é possível. Há outros países que,
em muitas destas dimensões, são piores
do que nós. Eu vivi em Itália alguns
anos e, por comparação, o nosso Estado
é uma maravilha. A verdade é que é
possível ultrapassar alguns dos nossos
limites e colocar um certo esforço para
os melhorar, mas o caminho tem de
ser pela via dos incentivos. O que é a
Autoeuropa se não um investimento
alemão para fazer carros? Algures entre
Palmela e Setúbal, há uma zona do país
que parece quase a Alemanha, até na
cultura de gestão, no entendimento
seja, no passado, conseguimos atrair
investimento, com negociações fortes.
Portanto, precisamos de mais
Autoeuropas?
Sim, foi o que os países do Leste fizeram.
Atraíram uma série de “Autoeuropas”.
Se queremos ser competitivos, temos
de fazer muita coisa para sermos
competitivos, e agora não somos.
Trinta e cinco anos de fundos
europeus contribuíram para
muita coisa em Portugal, mas não
para um crescimento económico
acentuado. Corremos o mesmo
risco com o PRR?
Só vendo, mas não estou otimista. Por
aquilo que conhecemos do passado... O
que é que aconteceu nesses 35 anos? Não
nos desenvolvemos excecionalmente,
continuamos na dita cauda da Europa
e com dificuldades em aproximar‑nos
dos outros países. Os fundos europeus
tiveram contributos importantes que,
às vezes, esquecemos. Neste momento,
temos uma das melhores redes várias do
mundo graças aos fundos europeus, e
isso não é de negligenciar. Mas também
são conhecidas imensas histórias de
corrupção. Há muitas empresas que
receberam fundos e que não vingaram. ¬
LEIA A ENTREVISTA COMPLETA
em www.deco.proteste.pt/investe

10  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

 CRIPTOMOEDAS

BITCOIN OU ETHEREUM?
Depende do que pretende. Se pretende investir no “ouro digital”, escolha a bitcoin.
Mas se valoriza as vertentes mais inovadoras das criptomoedas, aposte
na ethereum. Conheça ainda outras moedas digitais que estão a ganhar terreno

A
especulação é indissociável dos
criptoativos. A explicação: ninguém
sabe se e quando se esgotará
o potencial da tecnologia associada
a estes ativos. Explicações à parte,
os mais críticos defendem que se trata
apenas de especulação. Nada mais.
Os mais otimistas consideram-na
positiva, pois atrai mais recursos
e talentos para o setor, permitindo
criar mais valor.
Com que tese se identifica? Prefere olhar
para as criptomoedas apenas como
um ativo intangível que sobe ou desce
segundo a lei da oferta e da procura
do mercado? Ou valoriza o potencial
de inovação de uma moeda digital que,
se for bem-sucedida, continuará a existir
por muitos e bons anos?
Investir no ouro digital
O conceito de ouro digital, que se
aplica quase exclusivamente à bitcoin,
assenta na escassez. Programada para só
existirem 21 milhões de unidades,
a bitcoin tem um limite que nunca será
alterado, porque seria contrário aos
interesses dos participantes. Portanto,
estando a quantidade fixa, o preço
desta criptomoeda sobe à medida
que a procura aumenta. E vice-versa.
Apesar de haver uma quantidade limitada
de bitcoin, é possível criar uma infinidade
de moedas digitais com as mesmas
funções. O que torna, então, a bitcoin
merecedora de um estatuto especial?
Desde logo, o facto de ser a criptomoeda
original. Depois, o chamado “efeito de
rede”: é mais conhecida, mais suportada
e tem mais utilizadores. Até o seu elevado
consumo energético (neste momento,
será semelhante ao consumo de Portugal
e da Bélgica somados), problemático em
termos ambientais, serve como uma forte
proteção contra atacantes que queiram
corromper a rede. É uma criptomoeda
relativamente menos sofisticada,
sem as aplicações inovadoras de que
falaremos adiante, mas neste cenário isso
não é um problema. Pelo contrário,
a sua simplicidade técnica torna-a menos
suscetível a ataques. Finalmente, o facto
de existirem já produtos financeiros
regulados que permitem o investimento
na bitcoin abre caminho aos investidores
institucionais. Este ponto é fundamental
para quem defende esta tese:
se as grandes carteiras de fundos de

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  11

 CRIPTOMOEDAS
investimento e fundos de pensões
começarem a comprar bitcoins, o preço
pode ser pressionado em alta.
Façamos um exercício simples: quanto
valeria cada bitcoin se fosse investido
o mesmo valor que os investidores detêm
em ouro físico (moedas, barras e ETF que
detém o ativo)? No final de 2021, existiam
nestas condições 45,5 mil toneladas
de ouro, e o preço era de 51,3 mil euros
por tonelada, o que dá um total de 2,3
triliões de euros. Dividido por 18 milhões
de bitcoins (21 milhões possíveis menos
cerca de 3 milhões que se estimam
estarem perdidas), temos um valor
de quase 130 mil euros por bitcoin,
ou 3,25 vezes o preço atual.
Concorde-se ou não, o facto é que
analistas de diversas instituições
financeiras respeitadas, como
o Deutsche Bank ou a Fidelity
Investments, têm vindo a apoiar
esta teoria.
Parece-nos, no entanto, pertinente
apontar algumas críticas. Esta abordagem
dá por adquirido que a procura
vai aumentar continuamente – um
pressuposto perigoso. Mas, na ausência
de motivos práticos para usar a bitcoin
CORRELAÇÃO A 90 DIAS
BITCOIN E BOLSAS QUASE A PAR
Desde o final de 2019, as correlações da bitcoin com os mercados financeiros têm vindo a
subir, o que indicia um comportamento semelhante.
0,6
0,4
0,2
0 Investir na inovação
-0,2
-0,4
abr 15  out 15  abr 16  out 16  abr 17  out 17  abr 18  out 18  abr 19  out 19  abr 20  out 20  abr 21  out 21
12  Proteste Investe 1180 abril 2022
Saiba o que são
NFT, DeFI e muito mais
em vez de outras criptomoedas, como
os que veremos adiante, é um raciocínio
um tanto ou quanto circular: a bitcoin
vai valorizar porque cada vez mais
investidores vão querer detâ-la. Por que
razão cada vez mais investidores vão
querer detê-la? Porque vai valorizar. Por
que razão vai valorizar? Porque cada vez
mais investidores vão querer detê-la, etc.
Outro risco deste modelo, claro, é
a possibilidade de os investidores
reconhecerem atributos semelhantes
a outras criptmoedas e decidirem
diversificar o seu investimento,
reduzindo os valores destinados à
bitcoin. Nesta tese de investimento,
o aumento da utilização e os projetos
inovadores não são o mais importante.
É mais relevante tentar perceber se, de
facto, os investidores tradicionais estão a
aceitar a bitcoin como investimento para
fins de diversificação.
Correlação com as bolsas
A correlação com outros ativos de risco
é um dado importante. No passado,
a bitcoin apresentou uma correlação
baixa, até negativa, com as bolsas. Isto é,
quando desciam, esta criptomoeda subia.
Do ponto de vista dos gestores de
carteiras, um ativo pouco correlacionado
com os restantes é uma dádiva, em
termos de diversificação das suas
carteiras. Mas, desde o final de 2019 que
as correlações da criptomoeda com as
ações começaram a subir. Por exemplo,
ronda agora 0,6 em relação ao índice
NASDAQ e ao S&P 500 (a partir de 0,8
já teríamos uma correlação forte, dado
que o máximo teórico é 1). Se a bitcoin
se movimentar cada vez mais a par com
os mercados acionistas, perde interesse
do ponto de vista da diversificação, para
os investidores institucionais.
Uma nota final: o “flippening”,
termo que a comunidade cripto usa
para a possibilidade de a bitcoin ser
ultrapassada em valor, é uma ameaça
considerável. Como veremos, a bitcoin
já não é líder destacada em termos de
número de utilizadores e transações.
Se perder a distinção de “mais valiosa”,
pode começar a ser vista menos como
“ouro digital” e mais como
uma “relíquia”. Mas, por enquanto,
este cenário está muito afastado,
já que a bitcoin ainda vale muito
mais do que a ethereum.
As criptomoedas têm outra vertentes
de investimento assente nas suas
capacidades de inovação. Neste
momento, já não servem só para fazer
pagamentos. Graças a desenvolvimentos
como os “smart contracts”, estão
a ser usadas para registar direitos
de propriedade no mundo digital (NFT),
www.deco.proteste.pt/investe
 permitir a perfeitos desconhecidos
VALORIZAÇÃO
colaborarem em projetos e fazer

BITCOIN VS ETHEREUM investimentos conjuntos (DAO), oferecer

serviços financeiros sem a intervenção
Desde o início de 2021, a valorização da ethereum superou claramente a da bitcoin, que, ainda dos bancos (DeFi), etc.
assim, vale mais do dobro daquela: cerca de 762 milhões de euros contra 362 milhões Ainda que se possa questionar a euforia,
% estas inovações, a que vamos chamar
“aplicações cripto”, estão a permitir
700
novas formas de criar valor. O que têm
600 em comum? Todas são construídas
500 e funcionam sobre a rede de uma
400 393% blockchain, como uma camada adicional.
Quem quer usar a aplicação tem de
300 participar na rede dessa blockchain.
200 Neste momento, a “vencedora” da
100 74% inovação seria, claramente, a ethereum.
No seu ecossistema foram criados
0 standards que popularizaram muitas
-100 das inovações no espaço dos criptoativos,
dez 20  jan 21  fev 21  mar 21  abr 21  mai 21  jun 21  jul 21  ago 21  set 21  out 21  nov 21  dez 21  jan 22  fev 22  mar 22 como o standard ERC 20 para os tokens
BTC em euros ETH em euros com várias finalidades, ou o ERC 721 para
tokens não fungíveis (a base dos NFT).
Ora, no mundo das criptomoedas, onde
o código informático é, por regra, aberto
e pode ser copiado, o verdadeiro valor
está no tamanho da rede. Um maior
número de utilizadores traz vantagens
RIVAIS DA ETHEREUM decisivas: mais rendimentos (cada
transação na rede tem um custo), maior
Blockchain inovadoras oferecem transações mais rápidas, liquidez (facilita as transações), maior
segurança (é mais difícil a um atacante
com menores custos e em maior quantidade dominar a rede).
A ethereum, apesar de ter atualmente
uma capitalização inferior à da bitcoin,
Ethereum, vítima do seu próprio sucesso? talvez possua a rede mais valiosa de
As múltiplas atividades da ethereum estão a congestionar a sua rede, refletindo-se em todas as criptomoedas. No último ano,
transações mais lentas e, sobretudo, mais caras. Cada transação na rede tem um custo (na gíria, a quantidade de transações processadas
“gas fees”), e, no último ano, estes custos subiram consideravelmente, chegando a ultrapassar diariamente na rede rondou tipicamente
65 dólares em momentos de pico. Em março, variaram entre 5 e 25 dólares – valores que 1,2 milhões, e chegou a ultrapassar
desincentivam transações de baixo valor ou mais frequentes. 1,6 milhões. Por comparação, a
bitcoin processou entre 200 e 300 mil
Esta situação abriu espaço a outras blockchains inovadoras que procuram desafiar o domínio
transações. E, a partir de abril de 2021, a
da ethereum nas “aplicações cripto”, esgrimindo inovações técnicas e potencial para mais
ethereum apanhou a bitcoin no número
transações, que serão também mais rápidas e com menores custos. Destacamos quatro: Solana
(SOL), Cardano (ADA), Avalanche (AVAX) e Polkadot (DOT). Respetivamente, sexta, oitava,
de endereços ativos diariamente, em
décima e décima primeira em termos de capitalização. Estas pretendentes ao trono alcançaram torno de 800 mil.
progressos junto dos utilizadores. Por exemplo, a Solana tem-se mantido perto dos 500 mil Em conclusão, qual é preferível?
endereços ativos, e a Cardano entre 100 e 200 mil (com grandes oscilações ocasionais). Depende do objetivo do investidor.
Neste momento não recomendamos o
No entanto, tudo isto é código informático que pode ser melhorado, e a ethereum está a sofrer investimento: ambas são incrivelmente
atualizações. Em particular, está a mudar o mecanismo de validação de transações e a testar arriscadas (volatilidade de 86% e 107%
novas técnicas que permitam processar mais transações simultaneamente, como o “sharding”. para a BTC e ETH, respetivamente).
Na luta da inovação, é importante estar atento a dados como o número de endereços Mas, a existir valor sustentável nos
ativos, volume de transações e quantidade de projetos lançados. Será interessante ver se os criptoativos, estará na via da inovação, da
pretendentes vão conseguir aumentar a rede de utilizadores e conquistar quota de mercado
ethereum e suas concorrentes. ¬
antes de a evolução tecnológica da ethereum reduzir ou anular as desvantagens presentes.

DOSSIÊ TÉCNICO André Gouveia

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  13

 FISCALIDADE

COMO EVITAR A DUPLA TRIBUTAÇÃO

Se investe no estrangeiro e obteve rendimentos através da
distribuição de dividendos ou outros valores mobiliários, pode
ser tributado duas vezes. Saiba o que fazer para pagar menos

A
EDP Renováveis é uma empresa
portuguesa, correto? Errado:
tem sede fiscal em Espanha. Isso
significa que, se recebeu dividendos
no ano passado e usa um intermediário
financeiro nacional, será tributado
duas vezes. Os lucros distribuídos
pelas empresas estrangeiras aos seus
acionistas são rendimentos de capitais
(categoria E) sujeitos a retenção na fonte
no país onde são pagos, de acordo com as
taxas em vigor nesse país (19% ao abrigo
da lei espanhola), e na residência fiscal
do contribuinte. Desde 2012, Portugal
aplica uma taxa liberatória de 28 por
cento. Feitas as contas, são 47 por cento.
Esta não é, contudo, a única situação em
que pode haver dupla tributação. Se o
intermediário financeiro for estrangeiro
(por exemplo, Degiro) ou se as empresas aceder aos formulários no portal das

que pagam dividendos estão cotadas
em bolsas internacionais, pode também
haver retenção nos dois países sobre
o montante bruto recebido.
O que fazer para pagar menos impostos?
Tem duas opções: as convenções para
evitar a dupla tributação celebradas por
Portugal e o crédito de imposto, que
explicaremos de seguida.
Convenções
15%
É a taxa acordada para evitar a
dupla tributação na Alemanha,
Canadá, França, Espanha, EUA,
Índia, Inglaterra, Irlanda, Itália,
Suíça, Turquia
Finanças, que visam simplificar e
agilizar o reembolso total ou parcial do
imposto que tenha sido retido na fonte.
O formulário destinado à administração
fiscal portuguesa, acompanhado de
prova da residência nos termos da
respetiva Convenção para Evitar a
Dupla Tributação, deve ser enviado
para a Direção de Serviços de Relações
Internacionais (DSRI), para a morada
nele indicada, no prazo máximo de dois

Para evitar pagar duas vezes, o Estado
português assinou acordos com
mais de sete dezenas de países, que
visam eliminar ou atenuar esta dupla
tributação. As taxas convencionadas
estão disponíveis no portal das Finanças.
O processo, contudo, não é automático.
Tem de acionar a convenção, pedindo às
Finanças um certificado de residência
fiscal que deverá entregar à empresa
que pagará os dividendos, antes que
efetue o pagamento. Pode também
10%
É a taxa convencionada
com China, Dinamarca,
Hong Kong, Japão, Países
Baixos, Singapura, Suécia
anos, contados a partir do termo do ano
em que se verificou o facto gerador do
imposto, salvo se prazo mais dilatado
estiver previsto na convenção.
Este é um serviço que pode ser feito pelo
intermediário financeiro, mas os custos
podem ser elevados.
Ações cotadas nas bolsas
americanas
Se tem ações cotadas nas bolsas
americanas e quer usufruir da convenção

14  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

 visa evitar que o investidor seja tributado
duas vezes: pagamento de imposto
em Portugal e no país onde foi gerado
o rendimento. O investidor nacional irá
ser reembolsado de, pelo menos, parte
do valor que foi retido duplamente.
Contudo, a taxa total nunca será inferior
aos 28 por cento.
Note que se declarasse apenas os
rendimentos obtidos no anexo E,
a autoridade tributária não teria
como saber o valor que foi retido no
estrangeiro. Razão pela qual é essencial
preencher o anexo J, para não ser
duplamente tributado e beneficiar
do crédito de imposto.
Se o seu banco ou corretora não estão
sediados em Portugal, terá mesmo de
declarar os dividendos ao Fisco. Como?
Preenchendo o anexo J (referente a
rendimentos obtidos no exterior) da
declaração de rendimentos. Indique o
montante total dos dividendos recebidos
no exterior, bem como o valor do imposto
que lhe foi retido no país de origem.
A taxa que foi aplicada pode ser maior ou
menor do que a taxa do imposto que seria
retida em Portugal. Por exemplo, apesar
de o nosso país ter uma taxa liberatória
de 28%, o valor retido pela Degiro sobre
empresas portuguesas é de 35 por cento.
Segundo a Autoridade Tributária, devem
ser declarados no anexo J utilizando
como país da fonte os Países Baixos.
Note que esta corretora não emite
comprovativo do imposto retido que
permita solicitar o crédito de imposto.
As regras que a Degiro e outras podem
ter de aplicar são devidas ao facto de
não ser possível identificar, claramente,
o beneficiário do rendimento. Ou seja,
são seguidas as regras dos rendimentos
colocados em off-shores.
Em resumo, deve preencher o
anexo J nas seguintes situações: quando
o intermediário financeiro e a empresa
que pagou os dividendos não têm sede
fiscal em Portugal; a empresa que pagou
os dividendos está listada numa bolsa
estrangeira.
Não se esqueça também da opção pelo
englobamento. Faça a simulação com e
sem a indicação dessa opção. Pode ser
vantajoso se o rendimento coletável
total (já incluindo os rendimentos de
capitais) for inferior a 10 732 euros. Se
tiver menos-valias ou perdas de anos
anteriores, também é uma boa opção. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO Ernesto Pinto

de dupla tributação entre Portugal e os

Estados Unidos, que estipula uma taxa
de 15% em vez dos habituais 30%, deve
preencher o formulário W-8BEN que a
sua corretora disponibiliza. Caso não
o tenha preenchido, pode contactar a
autoridade tributária dos EUA, para o
reembolsar sobre o montante pago em
excesso. Veja se compensa o esforço.
Como preencher a declaração
Se o intermediário financeiro é nacional,
não é obrigado a declarar os dividendos
recebidos, mas, neste caso, sujeita-se
à dupla tributação. Ou seja, pegando
no caso da EDP Renováveis, pagará 47%
de impostos sobre o montante bruto
dos dividendos que recebeu.
Em alternativa, preencha
o anexo J, indicando o imposto retido
no estrangeiro e em Portugal. Neste
caso, o Fisco fará as contas, utilizando
o mecanismo de crédito de imposto
por dupla tributação internacional, que
ACERTO DE CONTAS
COMO FUNCIONA O CRÉDITO DE IMPOSTO
Outra forma de evitar a dupla tributação é solicitar um crédito de imposto quando preencher
a declaração de IRS. Como funciona? É considerada a menor das seguintes importâncias:
o imposto pago no estrangeiro ou a fração da coleta de IRS, calculada antes da dedução,
correspondente aos rendimentos que possam ser tributados no país em causa. Isto significa
que a dedução a efetuar não pode ultrapassar o imposto pago no estrangeiro definido na
convenção.
Como beneficiar do crédito de imposto? Terá de entregar um comprovativo do imposto já
pago no estrangeiro. Este documento tem de ser emitido ou autenticado pelas autoridades
fiscais do Estado onde se efetuaram as retenções ou pagamentos. Só são aceites originais ou
fotocópias autenticadas. Se não estiverem redigidos em inglês, francês, alemão ou espanhol,
deverão ser ainda acompanhados da respetiva tradução.
Em regra, estes documentos são apresentados juntamente com a declaração de IRS, até
30 de junho. No entanto, se o apuramento do imposto no Estado estrangeiro não tiver sido
efetuado até essa data, a apresentação dos documentos em Portugal pode ser feita até ao
final do ano.
Esta é a forma mais fácil de recuperar o imposto a mais retido. Não invalida, porém, que
acione a convenção internacional.

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  15

 CAPA

MÁXIMO LUCRO, MÁXIMO RISCO

O preço das matérias-primas está ao rubro. Se gosta
de arriscar e não receia a volatilidade dos mercados,
pode investir numa perspetiva de curto prazo
em alguns ETF que elegemos

E
stá a ser um ano agitado nas bolsas.
Os receios de inflação e o conflito
militar na Ucrânia abalaram
o otimismo dos investidores. Mas
há mercados que continuam a valorizar.
É o caso das matérias-primas, cuja
procura já vinha em crescendo, com
a saída da pandemia. A oferta foi atingida
agora com as sanções à Rússia;
em consequência, os preços dispararam.
A energia e o petróleo, em particular,
são os exemplos mais visíveis do
boom de preços das matérias-primas,
mas o conflito na Ucrânia destacou a
O presidente da Rússia assinou
um decreto que permite proibir
a exportação de matérias-
-primas não especificadas
importância de outras commodities
produzidas pelos países envolvidos,
como o trigo e o níquel.
Os ETF são um dos produtos financeiros
disponíveis através dos quais pode
investir nas matérias-primas. Trata-se
de fundos de investimento cotados em
bolsa e cujo valor, nestes casos, reflete
o preço da matéria-prima subjacente.
De facto, se um ETF “normal” está bem
diversificado e pode ser adequado à
maioria dos investidores, estes ETF
sobre commodities estão concentrados
e são muito arriscados. Mas se pode

16  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

facilmente especular sobre a evolução
das matérias-primas, resta a questão:
deve fazê-lo?
Se aceita uma boa dose risco,
indicamos, na página seguinte,
alguns ETF em que pode especular
diretamente de forma a aumentar
o valor da sua carteira.
É possível especular com a valorização
de produtos tão diferentes como trigo,
cobre ou petróleo, além do tradicional
ouro. De facto, se é possível comprar
barras do metal dourado e guardá-las
num cofre, o mesmo não é válido para
as restantes matérias-primas. Será
absurdo guardar um barril de petróleo
na marquise ou encher a arrecadação
com sacos de trigo.
Especular não é para todos
O risco é, sem dúvida, muito elevado.
Mas se está confortável, continue
a ler o artigo. Explicamos de seguida
as múltiplas razões pelas quais
a cotação das matérias-primas pode
ser extremamente volátil.
Por norma, a oferta tende a ser lenta
na resposta à procura. Por exemplo,
demora tempo a explorar um novo
poço de petróleo ou uma mina, e não é
possível aumentar a produção de trigo
de um momento para o outro. Quando,
finalmente, a oferta aumenta, os níveis
de procura já são diferentes – e pode
haver produção em excesso. Em recessão
económica, também pode haver quedas
abruptas de procura. As empresas que
extraem ou produzem commodities
perdem receitas e são forçadas a cortar
no investimento, o que limita a sua
capacidade de produção.
Neste momento, a incerteza em torno
da guerra da Ucrânia trouxe ainda mais
oscilações aos mercados. Até que ponto a
oferta da Rússia está comprometida?

VALORIZAÇÃO

MATÉRIAS-PRIMAS EM DESTAQUE
Nos últimos 12 meses, o preço das matérias-primas disparou, não só por causa do aumento da procura, com o fim da pandemia, mas também
porque os dois países, Rússia e Ucrânia, envolvidos no conflito, são importantes produtores.

2022 (jan-mar) 1 ANO 2022 (jan-mar) 1 ANO 2022 (jan-mar) 1 ANO

ALUMÍNIO

COBRE
NÍQUEL

60% 114% 27% 68% 9% 26%

PROD. AGRÍCOLAS
PETRÓLEO

PLATINA

47% 101% 23% 50% 6% -12%

PALÁDIO

CACAU

32% 63% 17% -9% 6% 8%

TRIGO
MILHO

PRATA

29% 53% 10% 7% 2% 83%

CAFÉ
BOLSAS MUNDIAIS
MÉDIA MATÉRIAS-

9% 19%
-PRIMAS

-3% 17%
OURO

28% 58%
Fonte: Lipper; em 31/3/2022. Evolução em % incluindo a variação do euro

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  17

 E se houver uma recessão global,
quanto pode cair a procura? O resultado é
altamente incerto.
Acresce que as matérias-primas não
têm os trunfos de outros ativos. As
ações geram dividendos, e os lucros das
empresas mais bem-sucedidas tendem
consistentemente a aumentar e suportam
a evolução das bolsas. Nas obrigações, o
investidor pode contar com o rendimento
proveniente do pagamento regular dos
juros. Mas as matérias-primas só podem
produzir mais-valias se a procura exceder
a oferta em permanência ou se os
investidores tiverem fortes expectativas
de que tal vá concretizar-se. Logo, não
possuem fatores estruturais óbvios que
as impulsionem a longo prazo. Terá, pois,
de possuir uma costela de especulador
para apostar nestes produtos. E nunca
mantenha estes ETF por mais de algumas
semanas: é melhor limitar as perdas
do que esperar para ver. Paciência e
postura de longo prazo não valem nestes
produtos.
Apostar nas quedas
Também pode especular num movimento
inverso, ou seja, na queda da cotação
das matérias-primas no curto prazo,
recorrendo a ETF específicos. Este tipo
de produtos é, por norma, identificável
pela presença da palavra short (curto) ou
WisdomTree Gold 1x Daily Short
Cotação 13,682 € em Frankfurt
Código ISIN DE000A0V9X09
TER 1,88%
Variação média 5 anos -9,7%
Variação 12 meses -8,2%
WisdomTree Nickel 1x Daily Short
Cotação 3,38 € em Frankfurt
Código ISIN DE000A0V9X58
TER 1,88%
Variação média 5 anos -35,2%
Variação 12 meses -73,7%
18  Proteste Investe 1180 abril 2022
ETF QUE INVESTEM EM MATÉRIAS-PRIMAS
Ao contrário de outros produtos financeiros, a estratégia de investim
deve representar mais do que 5% da carteira.
PETRÓLEO
A morte anunciada do petróleo foi
prematura. A transição verde pode continuar
a ser um objetivo político, mas a guerra na
Ucrânia complicou o desígnio. Sem surpresa,
não há capacidade de produção renovável
para substituir a energia russa, nem haverá
tão cedo. E após o subinvestimento das
petrolíferas dos últimos anos, nem os outros
exportadores de crude conseguem colmatar
a oferta da Rússia.
Como resultado, o preço do barril passou
de 80 dólares, no final de 2021, para 120
dólares em março. Um fenómeno sobretudo
especulativo, porque o embargo ao petróleo
russo é (ainda) muito limitado e o gás
natural continuar a fluir para a Europa. A
curto/médio prazo, estes receios sobre a
oferta podem continuar a suportar o barril,
mas nada é garantido. Um cessar-fogo ou
uma recessão mundial podem rapidamente
mudar a perceção dos investidores. Se quiser
especular, tem o ETF WisdomTree Petroleum,
que duplicou de valor em doze meses.
WisdomTree Petroleum
Cotação 18,32 € em Frankfurt
Código ISIN DE000A0KRKJ1
TER 0,99%
Variação média 5 anos 14,5%
Variação 12 meses 118,9%
Petróleo (dólares por barril)
130
123
120
110
100
90
80
70 72
60 63
50
2021 2022
METAIS INDUSTRIAIS
A recuperação da economia mundial
aumentou a procura de metais para uso
industrial (alumínio, cobre, zinco, níquel,
chumbo e estanho). A Rússia fornece cerca
de 20% do níquel de classe 1 do mundo. É
utilizado em aço inoxidável, mas também é
um elemento crítico nas baterias, incluindo
as utilizadas em veículos elétricos. Tem
havido uma escassez de níquel de alta
qualidade em todo o mundo nos últimos
anos, o que vai piorar à medida que a
produção de carros elétricos aumenta.
Nos dois anos anteriores à invasão da
Ucrânia, os preços duplicaram. A incerteza
sobre as sanções e as preocupações de que
a Rússia bloqueasse as exportações fizeram
com que os preços disparassem de repente.
Putin tem meios para proibir a exportação
de matérias-primas, e a Bolsa de Metais
de Londres suspendeu a negociação de
níquel, pela primeira vez desde 1985. Após o
regresso, a correção foi igualmente colossal.
O risco é muito elevado.
WisdomTree Nickel
Cotação 32,5 € em Frankfurt
Código ISIN DE000A0KRJ44
TER 0,99%
Variação média 5 anos 28,3%
Variação 12 meses 147,8%
Níquel em dólares(tonelada métrica)
50 000
48 211
45 000
40 000
35 000
30 000 31 580
22 558
25 000
20 000
15 000
2021 2022

ento é de curto prazo e nunca
PRODUTOS AGRÍCOLAS
Há um conjunto de produtos agrícolas que
podem ser alvo de investimento (trigo, milho,
soja, açúcar, algodão, café, cacau). Com a
produção concentrada em poucos países
e, naturalmente, dependente de fatores
climatéricos, as oscilações dos seus preços
tendem a ser particularmente elevadas. Há
exemplos bem ilustrativos. As secas fazem
disparar o preço dos bens agrícolas. Contudo,
é frequente que, atraídas pelos altos
preços, as explorações agrícolas apostem
fortemente no cultivo, no ano seguinte, e
atinjam uma produção recorde que leva ao
colapso do preço...
Agora, é o trigo que está mais em foco. A
Rússia e a Ucrânia são responsáveis por mais
de 25% das exportações globais deste cereal
e são fornecedores importantes para o Médio
Oriente, norte de África e Ásia. Por isso, o
conflito tem levantado receios de escassez,
tendo os futuros do trigo atingido o nível
mais alto desde 2008. Após vários meses
adormecido, o preço do trigo quase duplicou.
WisdomTree Wheat
Cotação 1,04 € em Frankfurt
Código ISIN DE000A0KRJ93
TER 0,99%
Variação média 5 anos 9,8%
Variação 12 meses 75,2%
Trigo (bushel) em dólares
12
11,41
11
10
9
8 Código ISIN IE00B4556L06
6,47
7
6 Variação média 5 anos 11,3%
5 Variação 12 meses 19,4%
2021 2022
METAIS PRECIOSOS
As perspetivas para o ouro tornaram-se mais
favoráveis perante o aumento da inflação,
e a guerra na Ucrânia também fez renascer
o interesse pelos valores de refúgio. Pela
negativa, com a subida dos juros, sobretudo
nos EUA, o ouro sairá a perder na comparação
com o rendimento das obrigações soberanas.
Pode comprar barras de ouro, mas o
investimento direto tem muitos custos e
inconvenientes. Prefira um ETF de ouro físico
(physical gold), mas não lhe dedique mais do
que 5% do valor total da sua carteira.
A guerra na Ucrânia também está a
provocar a valorização de outros metais
preciosos. Receia-se que, sendo a Rússia
um grande produtor global, haja disrupções
na oferta. É o caso do paládio e, em menor
medida, da platina, que têm importantes
utilizações industriais e nos quais é
possível investir através de ETF.
iShares Physical Gold ETC
Cotação 38,28 USD em London
Código ISIN IE00B4ND3602
TER 0,12%
Variação média 5 anos 8,9%
Variação 12 meses 21,9%
Preço do ouro por onça
2000
1980
1950
1906
1900
1850
1800
1797
1750
1729
1700
2021 2022
iShares Physical Palladium ETC
Cotação 4640 pence em Londres
TER 0,20%
Variação média 5 anos 20,6%
Variação 12 meses -13,2%
reverse na sua designação. Vamos
a um exemplo: imagine que o preço
da matéria-prima desce hoje 1%, o ETF
“curto” ganhará 1 por cento. Contudo,
é um “processo” repetido todos os
dias. Portanto, não permite beneficiar
de tendências de quedas por períodos
longos. A relação inversa vai sendo
distorcida ao longo do tempo.
Se os ETF sobre matérias-primas
são arriscados, este tipo de aposta “curta”
é ainda mais arriscada.
Investimento indireto
Existe ainda outra forma de beneficiar
com a valorização das matérias-primas,
numa perspetiva mais sustentada. Ao
invés de especular sobre a cotação
das commodities propriamente ditas,
pode investir em empresas ativas
na sua exploração. A relação entre o
resultado do investimento e a cotação
da matéria-prima é menos linear, mas as
empresas têm a vantagem de gerar lucros
recorrentes, o que é mais favorável a
longo prazo.
Através de fundos ou ETF de
ações setoriais pode seguir uma
abordagem mais prudente na área das
matérias-primas. Damos um exemplo
em baixo. São mais arriscados do que
os fundos de ações diversificados a
nível global, mas menos do que os ETF
dedicados a matérias-primas. Não lhes
dedique mais de 5 a 10% da sua carteira.
Como dizia Jesse Livermore, notável
especulador norte-americano do início
do século XX, “a especulação é um
trabalho difícil, ao qual o especulador
se deve dedicar a tempo inteiro,
ou em breve não terá trabalho”. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO Jorge Duarte
Xtrackers MSCI World Materials
UCITS ETF 1C
Cotação 52,81 € em Frankfurt
Código ISIN IE00BM67HS53
TER 0,25%
Avaliação PI 98 (máximo 100)
Proteste Investe 1180 abril 2022  19
 PLANOS
MUTUALISTAS

ESTRATÉGIA PARA
ENCHER OS COFRES
Todos os meses, o Banco Montepio
acena aos clientes com uma nova
série de três planos mutualistas da
associação. Uma estratégia comercial
que se repete há anos e que visa
recolher fundos dos seus associados

H
á quem ainda confunda a
Associação Mutualista Montepio
com o Banco Montepio, que antes
se designava Caixa Económica
Montepio Geral. Convém distingui-los.
A criação das caixas económicas remonta
a 1836 e visava o estabelecimento
de instituições habilitadas a receber
depósitos e a efetuar empréstimo sobre
penhores, com um intuito benemérito.
Com o passar do tempo, ganharam uma
dimensão lucrativa, mas sem perder
o caráter assistencialista e mutualista
na atividade bancária. Recentemente
com o nome Banco Montepio, quem nele
subscrever um depósito fica ao abrigo
do Fundo de Garantia de Depósitos.
Outro conceito é o da Associação
Mutualista Montepio Geral, que emite
regularmente planos mutualistas,
como forma de captar capital para
a sua atividade. Estes planos são
modalidades de poupança e de proteção,
que cobrem os riscos de morte,
invalidez, e sobrevivência ou velhice.
São disponibilizados aos associados e
comercializados aos balcões do Banco
Montepio. Alguns apresentam benefícios
nas áreas de saúde, bem-estar e cultura,
mas, neste artigo, interessam-nos apenas
os de cariz puramente financeiro.
Razões para não subscrever
Há vários anos que acompanhamos
as sucessivas emissões de planos
mutualistas e o conselho mantém-se
inalterado: não subscreva. Rendimento,
liquidez e segurança são três aspetos que
merecem muita atenção em qualquer
produto financeiro, mas, no caso dos
planos mutualistas, apresentam alguns
contornos especiais e, por vezes, menos
favoráveis para o aforrador. Nem sempre
o subscritor tem consciência dessas
particularidades, até porque estes
Consulte no nosso portal
www.deco.proteste.pt/investe
a análise da 4.ª série, em
subscrição até 22 de abril
planos são-lhe apresentados como
alternativa aos depósitos: não são. Ainda
que o rendimento seja ligeiramente
superior, não têm a mesma segurança
dos depósitos, nem a liquidez. Isso
não impede de, todos os meses, serem
emitidas novas séries de vários planos
mutualistas, uma importante fonte
de financiamento para a associação
mutualista (63% das receitas em 2020).
Além das dúvidas que pairam sobre
a solvabilidade da associação, há três
razões pelas quais não recomendamos
a subscrição dos planos mutualistas.
Para começar, o baixo rendimento. Os
melhores depósitos para os respetivos
prazos e os Certificados de Aforro e do
Tesouro proporcionam rendimentos mais
interessantes.
Depois, as penalizações pelo resgate
antecipado podem fazer perder todo o
rendimento (nos primeiros anos), ou
a maior parte dele, o que traduz uma
grande desvantagem face aos restantes
produtos de capital garantido.
Por fim, a segurança. Os planos
mutualistas não estão abrangidos por

20  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

qualquer sistema de garantia ou proteção,
como beneficiam os depósitos com
o Fundo de Garantia de Depósitos, ou os
fundos, com o Sistema de Indemnização
aos Investidores. Assim, caso a associação
mutualista enfrente problemas
financeiros, poderá ter mais dificuldade
em reaver o dinheiro aplicado.
Em apenas um ano foram lançadas
36 emissões, ou seja, 12 séries em cada
um dos três produtos que integram o
“Capital Certo”. Podem os aforradores
ficar tranquilos com tantas emissões?
A associação é capaz de pagar os juros
e devolver o dinheiro? Há anos que
alertamos para a deficiente supervisão
destes produtos, que continua sob
a alçada do Ministério do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social, algo
atípico nos produtos financeiros.
Rendimento a encolher
Os planos mutualistas de poupança são
produtos financeiros parecidos com
os seguros de capitalização. Não têm
mecanismos externos de proteção. Até na
fiscalidade têm as mesmas regras, sendo
cobrada uma taxa de imposto de 28%
quando o prazo é inferior a cinco anos;
22,4% se aplicar por mais de cinco anos e
menos de oito anos; e 11,2% se detiver o
produto por mais tempo.
PRODUTOS
PLANOS MUTUALISTAS MONTEPIO CAPITAL CERTO
4.ª SÉRIE DE 2022
POUPANÇA EXPRESSO
NET
PRAZO 3 ANOS
Mínimo de subscrição 250 euros
Indexante do rendimento Taxa fixa
Sim, pelo resgate antecipado. Consoante o ano do resgate, pode
Comissões
perder todo ou parte do rendimento conseguido.
Rendimento complementar
do fundo de reserva
Sim
Rendimento mínimo estimado
0,07%
na análise (TAEL)
TAEL: taxa anual efetiva líquida.
www.deco.proteste.pt/investe
Exigem um mínimo de subscrição
relativamente baixo, permitem entregas
únicas ou planos de entrega regulares.
Têm uma determinada duração (prazo)
e rendimento, que pode ser fixo ou
variável. Muitas vezes o rendimento
apresenta uma combinação dessas duas
formas: um mínimo fixo e conhecido
à partida, mas que pode ser acrescido,
por exemplo, em função do resultado
do fundo de reserva da associação
mutualista. É o que acontece com os
três planos atualmente em subscrição
no Montepio. São produtos a três,
cinco e seis anos (ver quadro em baixo).
No boletim semanal da PROTESTE
INVESTE, analisamos regularmente
as novas séries, podendo também ser
consultadas no nosso portal financeiro.
Ao longo dos últimos anos, o rendimento
dos planos mutualistas tem vindo a
encolher. A série mais recente de taxa
fixa proporciona entre 0,07% e 0,3%, e o
plano de rendimento variável indexado
à Euribor pode, segundo as nossas
estimativas, gerar um rendimento anual
líquido entre 0,4 e 0,6 por cento. Não
são particularmente sedutores. Ainda
assim, podem ser superiores às taxas
dos depósitos no Banco Montepio. ¬
DOSSIÊ: ANTÓNIO Ribeiro
POUPANÇA POUPANÇA MAIS NET
MUTUALISTA PRAZO 5.1
5 ANOS 6 ANOS
150 euros 250 euros
Taxa variável,
Taxa fixa em função da Euribor
a 12 meses
Sim Sim
0,3% 0,4 a 0,6%
COMENTÁRIO
PROTESTE INVESTE
António Ribeiro
Economista
O DINHEIRO ESTÁ SEGURO?
A pergunta “Quem toma conta deles?”
foi tema de capa da PROTESTE
INVESTE em fevereiro de 2016, quando
exigimos alterações nas regras dos
planos mutualistas e questionámos a
segurança do dinheiro. Defendíamos
que a supervisão dos planos
mutualistas era insuficiente e deveria
ser feita por uma entidade isenta,
autónoma e competente, na medida
em que regule produtos financeiros
semelhantes. Demos conta da nossa
exigência por carta enviada
à Autoridade de Supervisão de Seguros
e Fundos de Pensões (ASF) e ao
Ministério da Solidariedade, Emprego
e Segurança Social, em abril de 2015.
Passados sete anos, mantemos
a pergunta, apesar das alterações
registadas em 2018. O Código das
Associações Mutualistas disciplina
um novo regime de supervisão
financeira a aplicar ao Montepio Geral,
mas consagra um período transitório
de 12 anos, durante o qual a associação
mutualista Montepio Geral fica sujeita,
com as devidas adaptações, ao regime
de supervisão do setor segurador.
Doze anos é muito tempo! Entretanto,
multiplicam-se as séries de planos
mutualistas, bem como as dúvidas
sobre a segurança desta instituição
e, consequentemente, do dinheiro dos
aforradores que aplicam nestes planos.
Um aspeto positivo foi a melhoria da
informação técnica destes produtos e
um esclarecimento sobre o risco, ficando
claro que não são depósitos, nem têm
os mesmos mecanismos de proteção.
Vamos voltar a comunicar as nossas
exigências e preocupações ao novo
Governo e à ASF.
Proteste Investe 1180 abril 2022  21
 FUNDOS
MULTIATIVOS

INVESTIR DE FORMA
DIVERSIFICADA
Beneficie do potencial de valorização dos mercados financeiros
a partir de algumas dezenas de euros, subscrevendo fundos
multiativos. Destacamos alguns

P
ara muitos pequenos aforradores,
investir na bolsa pode parecer
um quebra-cabeça devido
à complexidade e aos receios
associados ao investimento nos
mercados financeiros. No entanto,
a maioria dos obstáculos pode ser
facilmente ultrapassada. Há outras
formas de investir sem necessitar
de ser milionário ou passar o tempo
embrenhado em literatura financeira.
A subscrição de fundos multiativos,
também conhecidos como mistos,
permite dar os primeiros passos nos
mercados financeiros e não ficar preso
apenas aos produtos tradicionais,
como os depósitos a prazo. É essencial
expandir as opções no que diz respeito
às suas aplicações financeiras, sob pena
de o rendimento real desses produtos
de capital garantido ser cada vez mais
negativo e perder poder de compra com
a subida da inflação. Se não pretende
ver minguar a sua carteira, pode, com
poucas dezenas de euros, aceder a todo
o potencial dos mercados financeiros.
Como? Explicaremos de seguida.
As carteiras dos fundos multiativos
são, sobretudo, compostas por ações,
obrigações soberanas e de empresas

22  Proteste Investe 1180 abril 2022 www.deco.proteste.pt/investe

e unidades de participação de outros
fundos e ETF. Em menor proporção,
podem também deter depósitos,
produtos derivados e alternativos.
Ou seja, a diversificação
do seu investimento está garantida
com a compra de um fundo multiativo.
Os níveis de risco
Dada a diversificação dos ativos onde
investem, os fundos multiativos
podem ter níveis de risco bem
diferentes. Convém, por isso, escolher
um fundo com um nível de risco
com o qual esteja confortável. Isto é,
dentro dos parâmetros que está disposto
a aceitar para melhor rentabilizar
o seu património.
De forma a facilitar a comparação
e a adequação aos perfis dos
investidores, subdividimos os fundos
em três categorias em função do risco:
defensivos, equilibrados e agressivos.
O risco (e o potencial de valorização)
tenderá a ser mais elevado consoante
o peso dos ativos mais arriscados,
nomeadamente, ações, obrigações
de alto risco (high yield), moedas
diferentes do euro e investimentos
alternativos. Por exemplo,
um multiativo defensivo tende
a aplicar, sobretudo, em obrigações
denominadas em euros, e as ações
costumam pesar bem menos de 30%
da carteira. Como pode ver na figura
ao lado, um fundo agressivo tem
um nível de risco (volatilidade) mais
próximo do registado pelos fundos
de ações, dado que é este tipo de
ativos que mais pesam nas respetivas
carteiras. Por norma, bastante acima
de 50% e de forma consistente.
Se tem maior aversão ao risco, opte
por um misto defensivo. O potencial
de valorização, embora ligeiramente
superior aos produtos de capital
garantido, será, contudo, ainda reduzido
e pouco atrativo na conjuntura atual.
É preferível mais risco e ter
o dinheiro investido por vários anos
para poder alcançar uma rentabilidade
mais atrativa, subscrevendo um fundo
multiativo equilibrado ou agressivo.
Qual o seu perfil?
Fazer o diagnóstico das suas
www.deco.proteste.pt/investe
VOLATILIDADE
RISCO MÉDIO DAS CATEGORIAS DE FUNDOS
Há vários tipos de fundos, com diferentes níveis de risco. Quanto mais elevado, maior a hipótese
de incorrer em perdas. Em compensação, fundos mais agressivos permitem, a longo prazo,
esperar um rendimento superior. Os multiativos têm um risco mais baixo do que os de ações.
16
14
14,5%
12
11,1%
10
8
7,9%
6
5,7%
4 4,7%
2
0
Multiativos Obrigações Multiativos Multiativos Ações
defensivos globais equilibrados agressivos globais
necessidades e objetivos para correr um certo risco ao investir
estabelecer a estratégia de investimento ou prefere ser 100% prudente? Entra
é uma regra de ouro para obter o maior em pânico quando vê o valor do seu
sucesso possível e evitar surpresas património a diminuir? Se não possui
desagradáveis. Todavia, nem sempre alguma disciplina para suportar perdas
é uma tarefa fácil. potenciais, nem tem paciência para
Sabe como determinar qual o tipo de procurar obter melhores retornos
fundo multiativo mais adequado ao seu no futuro, então, não deve investir
perfil? Deve começar por responder a em fundos. Terá de se contentar
perguntas mais simples. Está disposto a com os produtos de capital garantido.
É certo que não sofrerá perdas em
termos nominais, mas perderá poder
de compra devido à elevada inflação.
As carteiras dos fundos Mais difícil é quantificar o nível
de perdas que estaria disposto
multiativos são compostas a suportar no curto prazo. Até que
por ações, obrigações ponto se sentiria confortável se, daqui
a um ano, o valor do seu portefólio
soberanas e de empresas estivesse a encolher mais de 10%
devido a um cenário adverso? Se isso
e unidades de participação não o deixa desesperado, pode optar por
de outros fundos e ETF um misto agressivo. Mas se 5% for
Proteste Investe 1180 abril 2022  23
 FUNDOS MULTIATIVOS EM DESTAQUE
Existe uma considerável oferta de produtos no mercado. Opte pela subcategoria
mais adequada ao seu perfil de risco, com montantes mínimos acessíveis
e uma boa avaliação à luz do indicador da PROTESTE INVESTE.
MULTIATIVO DEFENSIVO
BPI Moderado
Subscrição no Banco BPI
Montante mínimo: 250 euros
Código ISIN: PTYPJKHM0009
TER: 1,20%
Avaliação PI – 100 (máximo 100)
Variação média 5 anos: 1,3%
Variação 12 meses: 0,2%
o seu limite psicológico de perda,
prefira um defensivo.
Se está entre estes dois extremos,
a solução mais adequada passa
por um fundo equilibrado.
Note que estes valores pertencem
ao campo das probabilidades. Pode
nunca passar por momentos de perdas
potenciais, mas também não é de
descartar que, em certos momentos
dos mercados, as cotações possam
atravessar momentos bem piores. Foi
o que aconteceu em fevereiro e março
de 2020, quando ocorreram quedas
bem acentuadas, com o impacto inicial
da covid no Ocidente. Contudo, quem foi
paciente rapidamente voltou aos ganhos.
Após escolher a subcategoria
de multiativos mais adequada ao seu
perfil, selecione os fundos com essas
características e que sejam mais bem
geridos. É importante que, ao longo dos
últimos anos, o fundo tenha registado
um bom e consistente desempenho, sem
incorrer num nível excessivo de risco,
quando comparado com os seus pares.
Bem classificados
Em cima, destacamos três fundos
que têm, atualmente, das melhores
classificações à luz do indicador
PROTESTE INVESTE, e com montantes
mínimos mais acessíveis.
24  Proteste Investe 1180 abril 2022
MULTIATIVO EQUILIBRADO
MFS Meridian Prudent Wealth A1 EUR
Subscrição no Banco Best
Montante mínimo: 25 euros
Código ISIN: LU0583242994
TER: 2,02%
Avaliação PI - 89 (máximo 100)
Variação média 5 anos: 6,8%
Variação 12 meses: 4,9%
Há investidores que subscrevem vários
fundos multiativos. Essa estratégia
pode diminuir o risco associado
à qualidade da entidade gestora,
mas não terá um impacto relevante
na proteção das oscilações dos
mercados. Além disso, porque haveria
de subscrever um fundo defensivo
e um agressivo se pode escolher
um misto equilibrado? Diversificar,
simultaneamente, por vários fundos
mistos é uma estratégia algo ilusória.
Mais importante é acompanhar
com alguma regularidade a qualidade
da gestão do fundo.
Também tem pouco sentido subscrever
um fundo multiativo se já segue uma
das estratégias de fundos da PROTESTE
INVESTE (ver adiante). Para quem tem
uma carteira de ações ou de fundos de
ações, o ideal é combiná-la com fundos
de obrigações, e não com mistos.
Os fundos Optimize Selecção
Defensiva, Base e Agressiva
replicam as três estratégias
multiativos de referência
da PROTESTE INVESTE
MULTIATIVO AGRESSIVO
CS Portfolio Fund Growth USD B
Subscrição no ActivoBank
Montante mínimo: 315 euros
Código ISIN: LU0078042453
TER: 2,15%
Avaliação PI - 80 (máximo 100)
Variação média 5 anos: 6,6%
Variação 12 meses: 9%
Como investir?
Para aplicar em fundos de investimento
só precisa de ter conta no banco onde
são vendidos. Se prefere não mudar
de instituição para subscrever os fundos
que destacamos, questione se o seu
banco habitual disponibiliza outros
fundos multiativos. Não terão uma
classificação tão elevada, mas podem
ser uma opção viável. Consulte o nosso
portal financeiro para confirmar. Temos
cerca de 200 fundos multiativos, com
avaliação à luz do indicador PROTESTE
INVESTE,que se enquadram numa das
subcategorias: defensivos, equilibrados
ou agressivos.
Não há bela sem senão
A desvantagem dos multiativos
é que a alocação dos investimentos fica
apenas ao critério da sociedade gestora,
que, por norma, opta por aplicar
nos principais mercados de ações
e obrigações. Por exemplo, uma carteira
representativa das bolsas mundiais
tende a ser dominada pelo mercados
norte-americanos.
Se puder dedicar mais tempo
às poupanças, constituindo a sua
própria carteira de fundos, pode
procurar oportunidades e obter
um rendimento mais elevado. Outra
alternativa é seguir as estratégias
www.deco.proteste.pt/investe
delineadas pela PROTESTE INVESTE.
É também uma opção multiativos, mas
somos mais seletivos na escolha dos
mercados. Para tal, basta subscrever
um conjunto de fundos de ações
e obrigações ou, simplificadamente,
um dos fundos Optimize Selecção.
Multiativos flexíveis
Além das três categorias referidas,
há outro tipo, cada vez mais comum,
de fundos multiativos: os fundos
flexíveis. Como os restantes, a política
de investimento consiste em repartir
a carteira por vários tipos de ativos
(ações, obrigações, depósitos, etc.).
A diferença é que estes produtos
tendem a não estabelecer limites de
exposição para as várias componentes.
A maior liberdade dos flexíveis serve
para a gestora poder ajustar a carteira
consoante as perspetivas que tem sobre
a evolução dos mercados. Em dado
momento, pode, por exemplo, aplicar
tudo em ações e, noutra altura, não ter
qualquer exposição aos mercados.
É uma vantagem, mas também
há inconvenientes. O subscritor
de um fundo flexível sujeita-se
a um nível de risco que, provavelmente,
irá oscilar bastante ao longo do tempo.
Ou a grande liberdade da gestora
pode dar origem a mais erros
na alocação dos ativos, com prejuízo
para o rendimento do fundo.
Fundos Selecção
Os fundos Optimize Selecção Defensiva,
Base e Agressiva, que replicam as três
estratégias de fundos de referência
da PROTESTE INVESTE, foram
constituídos como flexíveis. Contudo,
as repartições das nossas carteiras são
elaboradas tendo em conta o nível
de risco, que se mantém relativamente
estável ao longo do tempo. Por outras
palavras, a “flexibilidade” dos Optimize
Selecção não é utilizada como na
maioria dos flexíveis. São os fundos
que aconselhamos se quer seguir mais
de perto os nossos critérios.
Ao contrário da maioria das estratégias
multiativos, as nossas carteiras não se
centram apenas nos grandes mercados
de referência. Tentamos procurar
outras oportunidades de investimento
www.deco.proteste.pt/investe
ESTRATÉGIA MULTIATIVOS DA PROTESTE INVESTE
CARTEIRA EQUILIBRADA
Com base nas nossas estimativas, elaborámos três carteiras multiativos (fundos de ações e
obrigações), que visam maximizar o potencial de rendimento tendo em conta três perfis de risco.
No portal financeiro, pode consultar também a composição atual da defensiva e agressiva.
Estados Unidos Euro
Fundos de ações 10% 10%
50% China
5%
Iene japonês
Fundos de obrigações México 10%
5%
50%
Japão Euro high yield
5% 5%
Canadá Coroa sueca
5%
5%
Coroa norueguesa
Coreia do Sul 5%
5%
Suécia Dólar norte-americano
5% 5%
R. Unido Dólar high yield
5%
Suíça 5%
5% Real brasileiro
5%
com potencial, mas menos “comuns” O fundo que apresentamos na ficha,
– atualmente, as obrigações em coroas Optimize Selecção Base B, replica
norueguesas ou as ações mexicanas. a nossa estratégia equilibrada que,
Pode consultar a composição completa atualmente, é constituída por fundos
da carteira equilibrada na figura em de ações (50%) e obrigações (50%).
cima, e as restantes no portal financeiro. O Optimize Selecção Defensiva dedica
Todas as carteiras são ajustadas em uma menor percentagem aos mercados
permanência, consoante a evolução de ações (25%, atualmente), enquanto
dos mercados e os respetivos riscos e o Optimize Selecção Agressiva
oportunidades. tem uma exposição de 70 por cento.
Como subscritor da PROTESTE
INVESTE usufrui ainda de um prémio
de fidelização equivalente a 0,4%
(por ano) do valor detido nos fundos
FUNDOS SELECÇÃO Selecção. Para saber mais pode
contactar-nos através do número
218 418 789 ou diretamente a Optimize,
Optimize Selecção Base B pelo telefone: 213 136 230; e-mail:
Subscrição na Optimize protesteinveste@optimize.pt.
Montante mínimo: 10 euros Em resumo, os fundos multiativos
Código ISIN: PTOPZLHM0000 são uma forma de diversificar
TER: 1,78% os investimentos, com um grau
Variação média 5 anos: 1,9% de risco adequado ao seu perfil,
Variação 12 meses: 1,2% e a partir de quantias pequenas. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO Jorge Duarte
Proteste Investe 1180 abril 2022  25
 GARANTIDO
INFLAÇÃO ARRASA
RENDIMENTO
A inflação esperada para este ano é quase 70 vezes
superior à taxa média de um depósito a 12 meses.
Se apenas aplica em produtos de capital garantido,
as suas poupanças vão perder valor
A
guerra na Ucrânia, as sanções
à Rússia e a consequente subida
do preço dos bens de consumo,
matérias-primas e energia, fizeram
disparar a inflação para níveis que já
não se viam há décadas. A estimativa do
Banco de Portugal para este ano passou
de 1,8% para 4%, o que corresponde
a uma subida dos preços na economia
67 vezes superior ao rendimento médio
de um depósito standard a 12 meses
(0,06%). Na prática, significa que a
valorização da poupança ficará muito
aquém da subida dos preços, e o dinheiro
perderá valor em termos reais.
Depósitos, seguros e dívida
pública… nada escapa
Apesar do baixo rendimento, é
conveniente aplicar, a curto e médio
prazo, um montante em depósitos para
fazer face a despesas imprevistas, como
uma reparação de um carro ou uma
26  Proteste Investe 1180 abril 2022
situação de desemprego inesperadas, etc.
É o chamado “fundo de emergência”. Este
montante deve corresponder a seis vezes
os seus encargos mensais. As restantes
poupanças devem ser aplicadas numa
perspectiva de longo prazo em produtos
com algum potencial de valorização,
como fundos de investimento.
Quem não lida bem com o risco não
tem outra opção a não ser optar pelos
Certificados de Aforro ou do Tesouro
e alguns seguros de capitalização
de rendimento fixo. Mas todos estes
produtos de poupança, de capital
garantido, ficarão este ano abaixo da
taxa de inflação. Os depósitos são os que
rendem menos. Quanto aos Certificados
Consulte o nosso comparador de depósitos e contas poupança em
www.deco.proteste.pt/investe/depositos-a-prazo
de Aforro, a taxa base é apenas de 0,4%
líquida. Os Certificados do Tesouro
Poupança Valor não proporcionam mais
do que 0,5% líquidos no primeiro ano.
Mesmo os melhores seguros de
capitalização de taxa fixa que
encontramos no mercado (Lusitania
Vida) ficam também muito abaixo, com
um rendimento anual líquido de 0,5%
e 0,6%, mas deixaram de aceitar novas
subscrições este mês de abril.
Melhores taxas a médio e longo
prazo
Excluindo os depósitos promocionais
destinados a atrair novos clientes, cerca
de metade das instituições bancárias
remunera, atualmente, os depósitos
a prazo dos seus clientes a zero por cento.
São eles a Abanca, o BBVA,
o Banco BPI, Banco Carregosa, Best,
Bankinter, Caixa Geral de Depósitos,
Crédito Agrícola, Montepio, NovoBanco
e Millennium bcp. Se já espreitou os
preçários destes bancos, constatará que
a oferta de depósitos é, no entanto, vasta.
As restantes instituições oferecem taxas
muito próximas do zero. Por exemplo,
no Santander, a remuneração é sempre
0,01%, independentemente do prazo.
O BNI Europa é o banco que oferece
as melhores taxas para depósitos de
médio e longo prazo. A três anos, a taxa
bruta é de 0,9% (0,648% líquida), para
depósitos mobilizáveis. A quatro anos,
a taxa bruta é de 1% ao ano (0,72%
líquidos). Para o prazo de cinco anos,
propõe 1,1% brutos (0,79% líquidos).
São remunerações pouco interessantes,
até mesmo quando comparadas com
a dos produtos de dívida pública. Por
exemplo, se aplicar em Certificados de
Aforro, supondo que a taxa base atual
não se altera, obtém entre 0,6% e 0,7%
líquidos ao ano, para prazos dos três
aos cinco anos. Todavia, se a euribor
subir 0,05% a cada trimestre (0,2% ao
ano), pode contar com um rendimento
anual líquido entre 0,8% e 1 por cento.
Se preferir Certificados do Tesouro
www.deco.proteste.pt/investe
 DEPÓSITOS
Quanto pagam
OS MELHORES DEPÓSITOS ATÉ 2 ANOS os maiores bancos por
10 000 € a 1 ano?
MONTANTE TANB TANL
BANCO CONTA MÍNIMO (€) (%) (%)
3 meses
Best Bank Depósito Novos Clientes (1) 2500 1,5 1,1
Banco BAI Europa Depósito a Prazo Novos Clientes (1) 2500 1,1 0,8
NOVO BANCO 5,04 €
Banco Atlântico Europa DP Boas Vindas (1) 500 1 0,7
TANL:
Banco BiG Super Depósito 3 Meses (1) 500 1 0,7 DP NovoBanco Online 360 dias 0,050%
Banco Carregosa Depósito a Prazo Bem-vindo (1) 25 000 1 0,7
Banco Invest Invest Choice Novos Montantes (2) 2000 1 0,7 2,88 € BANCO MONTEPIO
6 meses TANL:
0,029% Poupança Activa
Banco Invest Invest Choice Novos Montantes (2) 2000 1 0,7
Banco BNI Europa Depósito a 183 dias 1000 0,4 0,3
Banco Invest Invest Mais 2000 0,3 0,2 MILLENNIUM BCP 1,08 €
12 meses TANL:
Net Millennium Flexível 0,011%
Banco BAI Europa Depósito a Prazo Premium 2500 0,7 0,5
Banco BNI Europa BNI Europa 366 dias – Renovável 1000 0,6 0,4
Banco Invest Invest Mais 2000 0,45 0,3 1,08 € CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS
Banco Finantia DP Finantia Rendimento 1 Ano 50 000 0,35 0,3 TANL:
0,011% Depósito Caixa 1A
2 anos
Banco BAI Europa Depósito a Prazo Premium (3) 2500 0,85 0,6
SANTANDER 0,72 €
Banco BNI Europa BNI Europa 24 meses - Renovável 1000 0,7 0,5
TANL:
Banco Finantia DP Finantia Rendimento 2 Anos 50 000 0,45 0,3 Depósito a Prazo Tradicional 0,007%
Banco Atlântico Europa DP Juro Semestral 500 0,4 0,3
Banco Invest Invest Depósito 2 Anos 2000 0,4 0,3
0€ BPI
(1) Exclusivo para novos clientes. (2) Exclusivo para novos montantes. (3) Exige a subscrição de vários
TANL:
produtos/serviços. Taxas que constam nos preçários à data de 1 de abril de 2022. 0% Depósito a Prazo BPI

Poupança Valor, tem garantidos entre
0,5% e 0,6% líquidos ao ano para estes
mesmos prazos.
Para saber quanto pode ganhar com
os títulos do Estado, espreite as nossas
calculadoras de rendimento para
Certificados de Aforro e do Tesouro
em www.deco.proteste.pt/investe/
depositos-certificados.
Promocionais por escasso tempo
São os bancos de menor dimensão
e alguns online que apresentam as
melhores taxas do mercado. A maioria
tem depósitos promocionais, que
visam captar novos clientes ou novos
montantes. Contudo, têm a desvantagem
de serem por períodos pequenos, em
regra, de três meses, como pode ver no
quadro acima, e têm a particularidade de
admitirem montantes limitados.
Tratando-se de depósitos para
novos clientes, apenas podem ser
constituídos uma vez: findo o prazo do
“superdepósito”, já não pode renovar
à mesma taxa. Aliás, na renovação,
as taxas estão próximas de zero.
A três meses, o Banco Best posiciona-se
em primeiro lugar, com uma taxa
de 1,1% líquidos – apenas para novos
clientes e montantes entre 2500
e 25 000 euros. Os juros são pagos no
início e não é permitida a mobilização
antecipada do depósito. Segue-se
o Banco BAI Europa, com uma oferta
de 0,8% líquidos para os novos clientes
e montantes entre 2500 e 100 000 euros.
Os juros são pagos no vencimento,
mas também não pode movimentar o
depósito antes do fim do o prazo.
Ainda a três meses, o Banco BiG, o Banco
Atlântico Europa e o Banco Carregosa
proporcionam 0,7% aos novos clientes,
enquanto o Banco Invest propõe a mesma
taxa, mas para novos montantes.
É também nesta instituição que encontra
a melhor proposta para um depósito
de seis meses: 0,7% líquidos. Os novos
montantes exigidos variam entre 2000
e 75 000 euros.
Se prefere um prazo de 12 meses, o Banco
BAI Europa proporciona a taxa mais alta:
0,5% líquidos. O montante mínimo é de
2500 euros, mas este Depósito a Prazo
Premium exige algumas condições, entre
elas contrato de internet banking, cartão
de débito e, pelo menos, um débito direto
associado à conta à ordem. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  27

 FUNDOS PPR
APÓS A TEMPESTADE,
A BONANÇA
Os fundos PPR que mais investem em ações ganharam,
em março, 2% em média. Se está a mais de 10 anos da
reforma, não se assuste com a turbulência dos mercados
A
pós dois meses a cair, as bolsas
recuperam em março. A pressão
inflacionista tem gerado receios
sobre o crescimento económico, e
os mercados financeiros foram reagindo
ao sabor dos eventos, nomeadamente
ao aumento do preço da energia e
das matérias-primas. A volatilidade
continua elevada devido à invasão da
Ucrânia pela Rússia, pairando um clima
de incerteza quanto ao desfecho deste
conflito. O crescimento económico
pós-pandemia pode ficar comprometido
e a inflação perdurar por mais tempo do
que era esperado. Os investidores estão,
por isso, mais defensivos.
Fundos agressivos beneficiados
O comportamento dos 62 fundos PPR
analisados foi bastante heterogéneo,
consoante a política de investimento.
Ainda assim, no global, conseguiram
um ganho médio de 0,5%, no mês
passado. Como é habitual, apresentamos
os fundos PPR em três categorias,
28  Proteste Investe 1180 abril 2022
conforme a percentagem de investimento
em ações. Os mais defensivos, que
aplicam até 25% em ações e investem,
sobretudo em obrigações, penalizadas
devido à subida dos juros, perderam 0,3
por cento. No extremo oposto, estão os
agressivos, com mais de 50% em ações.
Conseguiram um ganho médio de 2 por
cento. Já a categoria intermédia (mais de
25% e até 50% de ações) teve, em média,
um rendimento nulo.
O fundo mais penalizado foi o PPR
Praemium V Ações, que perdeu 1,7%
em março. O que mais ganhou foi o M3
Investimento PPR (4,2%). Todavia, não
consta do quadro ao lado por não ter
ainda um histórico de cinco anos.
Fundos PPR em destaque
Neste momento, temos duas Escolhas
Acertadas sob a forma de fundo: o Alves
Ribeiro PPR, que aplica cerca de 33%
em ações, e valorizou 3,9% ao ano nos
últimos cinco anos, e o NB PPR/OICVM
(20% em ações), com uma rentabilidade
de 4,5% neste mesmo período. Em
março, valorizaram, respetivamente
0,9% e 1,9 por cento. No mês passado,
destacaram-se também o BBVA Estratégia
Investimento PPR, que conseguiu 4,4%
ao ano, nos últimos cinco anos, e o PPR
SGF Stoik (4,1%). Estão ambos ao nível
das nossas recomendações. Veremos
se este desempenho se mantém nos
próximos meses.
Numa altura em que as taxas de juro
rondam os zero por cento na maior
parte dos produtos de capital garantido,
os PPR sob a forma de fundo são uma
boa opção para multiplicar a poupança
a longo prazo, já que o seu potencial de
rendimento é mais elevado devido ao
investimento parcial em ações. Contudo,
ao optar por estes fundos, deve contar
com períodos de queda das bolsas, como
aconteceu em janeiro e fevereiro. Estes
períodos podem até ser mais longos,
mas, como se trata de um investimento
de muito longo prazo, geralmente de
décadas, os ganhos podem ser bastante
superiores às perdas.
Efetivamente, os fundos PPR têm algum
risco e, salvo exceções assinaladas na
tabela, não garantem o capital. Por essa
razão, são indicados apenas a quem
ainda está a mais de 10 anos da idade
em que tenciona reformar-se. Assim,
supondo que se reforma aos 67 anos,
recomendamos os fundos PPR apenas
a quem tem menos de 57 anos.
Se não lida bem com o risco e faz questão
de ter sempre o capital garantido, ou
se tem mais de 57 anos, opte por um
PPR sob a forma de seguro com capital
garantido e um rendimento mínimo.
São mais estáveis, mas o rendimento
é também mais modesto. A nossa
recomendação recai sobre o Lusitania
Poupança Reforma PPR. Todavia, no
mês de março, a Lusitania Vida deixou
de aceitar transferências para a nossa
Escolha Acertada. Este seguro continua,
no entanto, disponível para novas
subscrições, sendo a taxa mínima para os
contratos iniciados no primeiro semestre
de 1,5% (1,25% para os contratos já
existentes). No caso de subscrever ao
abrigo do protocolo, está isento das
comissões de subscrição e de resgate. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro
www.deco.proteste.pt/investe
 F Escolha Acertada

FUNDOS PPR
COMISSÕES (MÁXIMAS) RENTABILIDADE
NOME DO FUNDO LOCAL DE SUBSCRIÇÃO MARÇO ANUALIZADA (%)(1)
SUBSCRIÇÃO GES + DEP RESGATE 1 ANO 5 ANOS
PODEM APLICAR ATÉ 25% EM AÇÕES
F NB PPR/OICVM Novo Banco, Best, ActivoBank, Invest 0 1,175 0 1,9 -0,3 4,5
PPR Vintage (2) GNB, Best Bank 3,5 1,1 1,5 0,3 -0,9 1,8
PPR 5 Estrelas Montepio, Futuro 0 1,85 2 -0,1 -2,8 1,2
PPR BIG Taxa Plus Banco BiG 0 1 2 -0,5 -4,4 1,1
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM
Optimize, Best 0 1,35 0 0 -3 1
Moderado (3)
PPR SGF Poupança Conservadora SGF 3 1,6 2 0,8 2,4 0,5
Bankinter 25 PPR/OICVM Bankinter 0 1,5 0 -0,4 -3,2 0,5
BPI Reforma Investimento PPR/OICVM Banco BPI 0 1,5 0 -0,4 -3 0,1
PPR Garantia de Futuro (2) Montepio, Futuro 0 1,4 2 -0,4 -2,8 -0,2
PPR SGF Poupança Garantida (2) SGF 1 1,6 3 0,5 0,6 -0,5
BPI Vida PPR Banco BPI 2 1,5 0 -0,9 -3,2 -0,5
Santander Poupança Prudente FPR Santander Totta 0 1,3 0 -1,1 -6,1 -0,5
PPR Praemium S Millennium bcp, CTT, Ageas Pensões 2 1,8 1 -0,5 -2,3 -0,8
Bankinter Obrigações PPR/OICVM Bankinter 0 1,4 0 -0,7 -4,7 -0,8
BBVA Estratégia Capital PPR BBVA 5 4 5 -0,4 -2,6 -0,9
BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM Banco BPI 0 1 0 -1,2 -6,5 -1,4
PODEM APLICAR MAIS DE 25% E ATÉ 50% EM AÇÕES
F Alves Ribeiro PPR (3) Banco Invest 0 1,5 1 0,9 -0,2 3,9
Bankinter 50 PPR/OICVM Bankinter 0 1,75 0 0,5 -1,3 1,7
CVI PPR BBVA 0 4 0 0 0,3 1,3
PPR Geração Activa Montepio, Futuro 0 1,85 2 0,4 -1,8 1,1
PPR BIG Acções Alpha Banco BiG 0 1 2 0 -2,6 1
PPR SGF Poupança Equilibrada SGF 3 1,9 2 0,9 2,8 0,9
Santander Poupança Valorização FPR Santander 0 1,63 0 0,1 -1 0,8
IMGA Poupança PPR/OICVM Millennium, ActivoBank, BIC, Credito Agrícola 0 1,1 0 0,6 -2,2 0,8
PPR Praemium V Ações Ocidental, Millennium bcp, CTT 2 2,04 1 -1,7 -4 0,8
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM
Optimize, Best 0 1,925 0 0,3 -3 0,5
Equilibrado (3)
PPR Europa Millennium bcp, Ocidental 3 1,9 2 -1,5 -3,8 0,5
PPR BNU Vanguarda CDG 2 1,8 0,7 -1,5 -4,5 0
Vanguarda PPR Millennium bcp, Ageas 3 1,9 2 -1,4 -3,9 -0,1
BBVA Estratégia Acumulação PPR BBVA 5 4 5 0,4 -0,5 -0,7
PODEM APLICAR MAIS DE 50% EM AÇÕES
BBVA Estratégia Investimento PPR BBVA 5 4 5 3,9 7,5 4,4
PPR SGF Stoik SGF 2 1,1 1 1,5 3 4,1
PPR SGF Poupança Dinâmica SGF 2 2,2 1 3 5,7 3,8
Bankinter 75 PPR/OICVM Bankinter 0 2 0 1,3 -0,1 3
PPR SGF Poupança Ativa SGF 3 2,2 2 1,9 4,8 2,2
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Ativo (3) Optimize, Best 0 1,925 0 1,9 -0,8 2,1
IMGA Investimento PPR/OICVM Millennium, ActivoBank, BIC 0 1,5 0 1,4 1,1 1,9
BPI Reforma Valorização PPR/OICVM Banco BPI 0 2 0 0,8 0,2 1,6
(1) Até 31 de março de 2022. (2) Fundo com capital garantido. (3) Pode subscrever este produto com condições especiais. Consulte as nossas parcerias em
www.deco.proteste.pt/investe/vantagens-membros/parcerias.

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1180 abril 2022  29


A ASCENSÃO DA CHINA
Desde o início do século XXI, o rendimento por pessoa quintuplicou na China, mas ainda está longe
dos níveis europeus. Os suíços continuam a ser dos mais ricos do mundo
O
produto interno bruto per
capita (rendimento por pessoa)
visa medir o nível médio de vida
dos habitantes de um país. É
diferente do PIB porque considera o
número de residentes e não apenas
a soma de todos os bens e serviços
produzidos por uma nação. Por
exemplo, os países com maior PIB são
Estados Unidos, China e Japão, mas,
como são muito populosos, toda essa
riqueza não torna, automaticamente,
os seus cidadãos os “mais ricos” do
mundo.
A China progrediu muito desde
o início do século XXI. O seu PIB
per capita quase quintuplicou. Um
feito notável, mas que deve ser
relativizado, dado que, em termos
absolutos, ainda está muito atrás
dos níveis do Ocidente.
A zona euro registou, neste período,
um crescimento de 86 por cento. O
rendimento médio dos portugueses,
por sua vez, evoluiu, nesses vinte
anos, 81%, o que significa que
divergimos dos nossos parceiros.
Dado que a pandemia atingiu,
sobretudo, o PIB de 2020, e a
recuperação europeia tem sido algo
assimétrica, sendo agora afetada
pelo conflito na Ucrânia, a conclusão
pode, contudo, ser diferente daqui a
alguns anos.
Emergentes no encalço
Também seria de esperar que
os países em desenvolvimento
encurtassem a distância, mas não é
uma regra. Desde o virar do século,
a progressão média da OCDE foi
de 83%, mas houve países, como o
México, o Brasil e a África do Sul,
que ficaram aquém desse valor.
Em contrapartida, Indonésia e Índia
PIB PER CAPITA
bateram a média, embora de forma
menos impressionante do que a China.
Outro país em grande destaque na
última vintena de anos é a Rússia, cujo
PIB per capita quadruplicou, apesar das
sanções ocidentais impostas em 2014.
Uma conquista que será posta à prova
com a nova vaga de sanções por causa da
guerra na Ucrânia.
O maior potencial dos emergentes,
que partem de trás, justifica o interesse
despertado junto dos investidores.
Contudo, este potencial nem sempre
se concretiza ou não se reflete
adequadamente na valorização das
respetivas bolsas, pelo que há um
risco elevado para os investimentos.
Assim, embora consideremos que há
emergentes atrativos, como China,
México e Indonésia, o seu peso é
limitado nas nossas carteiras.
Mais rendimentos, mais custos?
Os valores apresentados na página
ao lado estão adaptados ao poder de
compra. Quem está habituado a viajar já
constatou que os preços variam de país
para país. É sabido que os suíços têm
elevados salários, mas pagam bastante
mais pelo arrendamento de uma casa
ou pelas compras de supermercado.
Será que os salários compensam? Essa
é a razão pela qual o PIB por pessoa é,
por regra, ajustado para compensar
o efeito, por exemplo, de um país com
salários muito elevados ser também
caracterizado por bens e serviços mais
caros. Uma correção que não retira a
Suíça do topo dos países ilustrados. Os
helvéticos pagam mais, mas são mais
ricos do que os norte-americanos e o
resto dos europeus.
O PIB per capita não capta outra
vertente importante do rendimento.
Não reflete as desigualdades. Em média,
O potencial dos países
emergentes nem sempre
se reflete na valorização
das respetivas bolsas, pelo
que há um risco elevado
para os investimentos
um país pode ser muito rico mas, se a
distribuição da riqueza for desigual, terá
pessoas extremamente ricas e muita
população a viver na pobreza. Esse efeito
terá de ser captado por outro indicador.
Impulsionar o PIB
O PIB de um país pode crescer de
duas formas: aumentando os meios
de produção (mais trabalhadores e
mais equipamento), sendo necessário
crescimento demográfico (incluindo
imigração) e investimento em novas
“máquinas”, e a produtividade, o que
implica que a mesma quantidade de
mão-de-obra e de equipamento produza
mais riqueza. Essa progressão
é possível graças a melhorias na gestão
da organização e na formação
da mão-de-obra, bem como na aposta
em atividades com maior valor
acrescentado. Mas o envelhecimento
da população e a queda da taxa
de natalidade traduzem-se em meios
mão-de-obra, penalizando
o crescimento do PIB. É o caso da
Europa, do Japão e até da China.
A imigração permitiria contornar este
problema, mas é uma solução que tende
a ser polémica, pelo que os países se
centram mais na produtividade. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO Jorge Duarte
 55 686 2020 62 650 2020 63 285 2020 71 732 2020
29 376 2000 36 936 2000 36 300 2000 36 426 2000
AUSTRÁLIA NORUEGA EUA SUÍÇA

Com uma população de quase nove milhões de habitantes,

a Suíça, que tem uma das economias mais prósperas e
competitivas do mundo, tem o PIB per capita mais elevado

Desde o virar do século, o PIB per capita médio

cresceu 86%, mas a recuperação económica
pós pandemia tem sido assimétrica

47 133 2020 46 576 2020 45 274 2020 42 285 2020

25 385 2000 26 475 2000 18 539 2000 27 290 2000
ZONA EURO REINO UNIDO COREIA DO SUL JAPÃO

O crescimento do PIB per capita, medido em poder de compra, ficou

aquém da média registada pela zona euro entre 2000 e 2020

Apesar de registar um crescimento assinável

desde o virar do século, o PIB per capita da
China está, em termos absolutos, muito atrás
dos níveis do Ocidente

14 306 2020 15 417 2020 34 177 2020

12 290 2020
7785 2020 2910 2000 9114 2000 18 877 2000
ÁFRICA DO SUL CHINA BRASIL PORTUGAL

Fonte: OCDE; Dados de 2000 e de 2020 ou o ano mais recente disponível. Em dólares ajustados pela paridade do poder de compra
APPANHA-ME JÁ
DESCARREGUE A APLICAÇÃO E CONSULTE
AS NOSSAS REVISTAS MAIS CEDO

Leia as nossas revistas quando e onde quiser. Pesquise

Deco Proteste revistas, no tablet ou no smartphone,
e descarregue a aplicação gratuitamente. Certifique-se
de que tem a app atualizada, para um melhor desempenho,
e receba a informação mais cedo e em primeira mão.

DESCARREGUE JÁ
Edição digital para
smartphone e tablet