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Esqueumorfos: eles também estão na indústria de fundos

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No último Dia das Crianças, um banco digital que tem o valuation bem esticado na Bolsa
divulgou uma campanha publicitária com crianças que tentavam adivinhar o que seriam
alguns objetos dos anos 1990 e do início dos anos 2000 – lembrando muito os quadros
do apresentador americano Jimmy Kimmel em seu talk show.

“Trambolho, né? É a palavra certa, trambolho”, diz um garoto ao conhecer pela primeira
vez um Super Nintendo, desejo de muitas crianças nascidas nos anos 1980. “Eu acho que
era um projetor isso”, arrisca outra criança, também sobre o clássico videogame.

E depois de muitos olhares de espanto com o telefone de disco, disquete, Discman e


câmera fotográfica, o último objeto é um smartphone com o aplicativo do banco
instalado. É nesse momento que elas revelam já terem uma conta digital e afirmam ser
muito mais fácil de mexer do que os outros trambolhos que acabaram de conhecer.

Simples e efetivo. Os leitores mais atentos perceberam que, nas entrelinhas, os objetos
apresentados são representações diretas de atividades hoje encapsuladas no
smartphone: jogar, telefonar, armazenar informações, ouvir música e tirar fotos.

Algumas semanas antes, a BBC publicou um artigo explicando o termo


“esqueumorfismo”. Confesso que eu nunca tinha ouvido falar dessa expressão. É um
conceito de design em que um novo produto ou experiência é construído de forma que
pareça o mais familiar possível para o usuário final, por mais que sua representação
evoque um conceito antigo, fora de uso pelas novas gerações.

Isso explica, por exemplo, que o botão Salvar nos programas do Microsoft Office é
representado pelo ícone de um disquete, o avô do pen drive . O fato é que ninguém
mais usa disquete, mas seu ícone continua sendo utilizado como símbolo digital de
armazenamento.

Os esqueumorfos estão por toda a parte e cada nova geração sempre terá dificuldade de
reconhecer a origem e o significado desses itens. Assim como as crianças do vídeo não
relacionam um disquete com coisa alguma do cotidiano, é plausível que, no futuro, meu
filho me pergunte por que algo totalmente online — sem rodas — chama-se “carrinho de
compras”. Talvez ele nem chegue a frequentar supermercados como eles são hoje para
entender a referência histórica.

Seguindo essa linha, será que as perspectivas estruturais de juros globais negativos,
juros reais próximos de zero no Brasil e prêmios de risco mais consistentes serão uma
estranheza apenas da nossa geração? E se tornarão completamente natural na seguinte,
como algo que sempre existiu?

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Talvez o esqueumorfismo explique por que gostamos tanto das metáforas simples em
investimentos. Precisamos nos segurar a algo que evoque o histórico vencedor da renda
fixa, que encontremos familiaridade nas novas condições para que a transição seja a
mais suave possível.

É aquele negócio: já que éramos acostumados com renda fixa pagando CDI alto, por que
não aquele crédito privado pagando um prêmio sobre o novo CDI baixo com um mínimo
de volatilidade? No jargão de mercado, é o “cash enhanced”. Seu cérebro entende como
uma renda fixa turbinada e fica tranquilo com o termo renda fixa.

Tem também a expansão das “ações renda fixa”, empresas boas pagadoras de
dividendos, com perfil de receita razoavelmente estável por vários anos. Utilities e
saneamento são setores sempre no radar, sendo personagens dessa outra metáfora
igualmente tranquilizadora. Afinal, se te perguntarem se você passou a apostar em
ações, poderá responder sem culpa que “Bolsa é muito risco pra mim, isso aqui é tipo
renda fixa, mas melhor”.

Nos fundos de investimento, nós carregamos todos os dias a bandeira a favor do


investidor pessoa física e contra as armadilhas existentes em bancos e corretoras. Sem
qualquer ideologia, mas essa bandeira, infelizmente, ainda é vermelha.

Vermelha de alerta, atenção ou perigo, você escolhe. Pode ser também a cor do extrato
negativo, retirando uma rentabilidade que deveria estar no seu bolso e que vai virar um
número no balanço trimestral dos bancos através de fundos passivos que cobram taxas
abusivas.

Mas isso você já está careca de saber. Talvez você já esteja entre os brasileiros que
retiraram mais de R$ 6 bilhões da poupança neste ano e tenha dado o primeiro passo,
aprendendo sobre outros fundos de renda fixa, multimercados, de ações, imobiliários e
até tenha despertado a curiosidade por investimento no exterior, ouro ou
criptomoedas.

Se colocou mais um pé na água para sentir a temperatura antes de mergulhar de cabeça,


pode ter começado a se dar conta dos riscos ocultos nos fundos de crédito privado com
aquele perfil “cash enhanced”: retornos levemente acima do CDI com percepção de baixo
risco, captação acelerada e prazos curtíssimos de resgate.

Para refletir: o que aconteceria se uma grande empresa decidisse não pagar uma
debênture investida por vários desses fundos de crédito? E se, assustados, os
investidores resolvessem sacar rapidamente seus recursos no momento que
perceberem os 105% do CDI se tornarem 95%?

Vou fazer um reforço para que não me entenda mal: você deve subir a escada da
diversificação, pois é isso que vai te levar à independência financeira no longo prazo.
Mas é igualmente importante entender bem onde pisar em cada degrau.

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E um desses degraus que vem tendo menor visibilidade são os fundos multimercados de
baixo risco. Pragmaticamente, o discurso comercial é o mesmo que nos fundos de
crédito privado : o gerente ou assessor te recomenda um fundo multimercado “feijão
com arroz” para você ir se acostumando com a volatilidade. “É muito risco de uma só vez,
vai nesse aqui que é menos arriscado”, ele afirma.

É aí que mora o perigo. O banco ou a corretora não ganhava nada com seu dinheiro na
poupança ou em um fundo DI com taxa zero. De repente, você transfere parte do
dinheiro para um fundo multimercado com baixa volatilidade e alto custo (2% de taxa de
administração e 20% de performance sobre o CDI, por exemplo). O distribuidor e a
gestora passam a ganhar uma parte dessas duas taxas e você fica com o que sobrar.

Nos últimos três anos, os juros despencaram de 14,25% para 5,5%, caminhando para os
4,5%. Só que isso não impactou em nada a precificação dos fundos multimercados
brasileiros. É verdade que surgiram fundos passivos bem baratos, ETFs que negociam
em Bolsa e novos fundos com estilos de gestão mais arrojados. Mas os fundos mais
antigos, com baixa volatilidade, altas taxas e, consequentemente, menores retornos,
continuam abertos, sendo ofertados ativamente e captando dinheiro de investidores
desavisados.

Para ilustrar, a figura abaixo calcula o percentual do excesso de retorno (alfa) que fica
com o cliente e o percentual que fica com a gestora para diferentes cenários de retorno,
assumindo 2% de taxa de administração e 20% de taxa de performance sobre o CDI. Por
exemplo, para um fundo que rende CDI + 4% (antes de taxas), a gestora ficará com 60%
desse retorno adicional.

Fonte: JP Morgan e Empiricus

Como parte relevante do custo é fixo com a taxa de administração, quanto mais alfa o
gestor gerar, maior é a parcela que fica com o cliente. Porém, o conceito de retorno
ainda é, pelo menos nos multimercados, proporcional ao risco incorrido. É por isso que
fundos com menor volatilidade acabam sendo piores para os investidores.

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Em resumo, um fundo que cobra o padrão 2% de administração com 20% de
performance hoje deveria render pelo menos 5% acima do CDI para que esse retorno a
mais gerado pelo gestor seja dividido igualmente entre gestor e investidor — 50% para
cada.

Do modelo para a prática, é possível chegar a conclusões parecidas selecionando alguns


fundos importantes do mercado. Em nossos estudos para a série Os Melhores Fundos
de Investimento, encontramos fundos com R$ 700 milhões, R$ 4 bilhões, até R$ 10
bilhões de patrimônio líquido que ficam com 70% do excesso de retorno obtido nos
últimos 12 meses, enquanto o investidor leva apenas os outros 30%.

Passamos longe desses fundos. Como todo esqueumorfo que tem o propósito de fazer
uma transição estrutural e temporária parecer suave, as altas taxas cobradas em fundos
multimercados precisam ter prazo de validade.

Voltando à campanha do Dia das Crianças, assim que a nova geração de investidores
perceber que ainda paga 70% de custo sobre todo o retorno adicional gerado, a palavra
certa será, mais uma vez, “trambolho”.

Um abraço,
Bruno Mérola

PRINCIPAIS INDICADORES

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Petrobras: em linha com a estratégia
A Petrobras (PETR4) divulgou ótimos números em seu relatório de produção do 3T19. Na
comparação com o 3T18, houve aumento de 15 por cento nos volumes produzidos,
impulsionados, principalmente, pelo aumento de 40 por cento na extração na região do
pré-sal, reflexo do ramp-up das novas plataformas nos campos de Búzios, Lula e
Tartaruga Verde. De quebra, a companhia ainda atingiu o recorde de produção diária e
mensal nos meses de agosto.
Em linha com a estratégia de aumentar a participação do pré-sal no portfólio, a produção
nessa região subiu de 39 por cento para 47 por cento do total, e deve continuar
crescendo nos próximos anos, o que contribuirá para aumentar a produtividade e
reduzir o custo de extração.
No segmento de refino, a companhia apresentou aumento tímido na produção total,
com destaque positivo para a elevação no fator de utilização das plantas. A competição
culminou em menores vendas de derivados no mercado interno, mas isso acabou sendo
compensado por maiores exportações.
Se no 2T19 a produção deixou a desejar por causa de dificuldades operacionais, no 3T19
os números foram bem mais animadores e trazem boas perspectivas para os resultados
que serão divulgados na semana que vem (24 de outubro). A Carteira Empiricus e o PRP
seguem comprados em PETR4.

Lopes Brasil confirma follow-on


Após anunciar ao mercado que estava em conversas avançadas com alguns bancos de
investimento, Lopes Brasil – maior intermediadora de negócios imobiliários do país –
divulgou um fato relevante confirmando a operação de follow-on.

Segundo a companhia, a oferta será integralmente primária e contará com a emissão de


21 milhões de novas ações. Esse número pode ser acrescido com um lote adicional de
7,35 milhões de ações a depender do apetite do mercado.

Com base no preço de fechamento de ontem, a operação pode colocar no caixa de


LPSB3 um pouco mais de R$ 150 milhões - R$ 208 milhões considerando o lote adicional.

Os recursos captados nessa operação devem ser utilizados para acelerar os


investimentos na plataforma digital da companhia. Do nosso ponto de vista, este é um
projeto com bastante potencial de trazer eficiência e assertividade nos negócios da
empresa. São mais de 80 anos de know-how e dados acumulados que podem, com a
ajuda da tecnologia, serem convertidos em negócios.

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Essa será uma oferta restrita. Isto é, somente investidores qualificados podem participar
da operação.

Entrando, quem tinha posição em LPSB3 no fechamento de ontem (17/10, primeira data
de corte) tem direito a participar da oferta prioritária na quantidade de 0,165936 novas
ações para cada uma que tiver em carteira no fechamento de 24/10 (segunda data de
corte).

Segundo o cronograma da operação, aqueles investidores que atenderem às exigências


acima e tiverem interesse em participar da oferta prioritária, devem informar a corretora
até o dia 25/10. Caso esse seja o seu caso, nós sugerimos que você participe da oferta
prioritária e estipule o “preço de mercado” como limite.

Vale informar que a precificação ocorrerá no dia 29/10 e as novas ações começarão a ser
negociadas em 31/10.

Além de ser líder em seu mercado, Lopes Brasil decidiu colocar em prática um projeto de
digitalização da função de venda de imóveis. Em paralelo, o setor imobiliário continua
mostrando sinais claros de recuperação com a expansão do volume de lançamentos e
construtoras divulgando ótimos números em suas prévias operacionais. Por isso, LPSB3
segue presente na carteira Microcap Alert.

Synchrony Financial: nem sentiu falta do Walmart


A Synchrony Financial (NYSE: SYF) divulgou agora pela manhã seus resultados do 3T19 e
os números vieram melhores do que o esperado pelos analistas.
No trimestre a companhia apresentou receita líquida de juros de 4,4 bilhões de dólares,
valor 4,4% maior quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Esse crescimento foi obtido com o aumento de 5,4 por cento no volume de compras, que
totalizou 38,4 bilhões no trimestre.
Por outro lado, a companhia reportou queda de 4,9 por cento nos seus recebíveis,
devido a venda do portfólio de clientes do Walmart. Excluindo esses valores, os
recebíveis apresentaram aumento de 6 por cento na comparação anual.
A margem financeira líquida mantida em níveis elevados (16,3 por cento) aliada ao bom
controle de custos, medido pelo índice de eficiência (30,8 por cento) fez com que a
Synchrony reportasse um lucro de 1,60 dólar por ação, aumento de 75,8 por cento em
relação ao 3T18.
Esses números permitiram a empresa reportar melhores níveis de rentabilidade: o
retorno sobre ativos totalizou 3,9 por cento, enquanto o retorno sobre patrimônio
líquido foi de 28,3 por cento (+1,2 e +9,8 pontos percentuais comparado com o mesmo
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trimestre de 2018, respectivamente).
Surfando a onda do bom momento do consumo nos Estados Unidos, continuamos
confiantes na empresa, ainda mais aos preços atuais — negociando por menos de 8
vezes seus lucros projetados para o ano. Uma das boas barganhas do MoneyRider
Hedge Fund.

ANÁLISE GRÁFICA DO IBOVESPA


O Ibovespa encerrou a quinta-feira (17) em queda de 0,39%, cotado a 105.015 pontos.

O candle formado ontem sugere algum tipo de cansaço dos compradores, pois deixou
uma longa sombra superior e fechou próximo à pontuação mínima.

Ainda há esperanças de que o índice possa atingir o topo histórico em 106.650 pontos no
pregão de hoje, mas as chances são bem baixas, dado o comportamento de recuo no
pregão de ontem.

Um eventual recuo nos próximos dias, seguido de um rompimento do topo histórico,


seria benéfico para a formação de uma tendência, pois assim teríamos um zigue-zague
ascendente estabelecido.

O suporte mais próximo fica em 103.500 pontos, patamar que precisa ser respeitado
para a manutenção do viés de alta de curto prazo do nosso mercado.

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Bruno Mérola Autor

Rafael Brandimarti Editor

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