1181 maio 2022 www.deco.proteste.

pt/investe

INVESTIDOR PROTEGIDO Diretora e editora Cláudia Maia

Se o banco ou a corretora se portar mal, não está sozinho. Conheça os seus aliados.
Há técnicas de defesa que permitem reclamar de uma instituição

INVESTIR TÍTULOS DO ESTADO DEPÓSITOS TIRE AS DÚVIDAS

Produtos para aplicar Os Certificados de O dólar americano SOBRE O RESGATE
o reembolso do IRS e Aforro podem render subiu 14%. Compensa D0 PPR. CONHEÇA
valorizar as poupanças mais de 2% se as fazer um depósito OS BENEFÍCIOS
a médio e longo prazo taxas de juro subirem nesta moeda? FISCAIS
P.8 P.14 P.20 P.28
Proprietária, editora e redação
DECO PROTESTE, Editores, Lda.,
Av. Eng.º Arantes e Oliveira, 13, Olaias,
1900-221 Lisboa.
Editora registada sob o número 215 705.
NIPC: 502 611 529.

Conselho de gerência Armand De Wasch,

Guido Adriaenssens, Daniel Stons, Ivo Mechels,
Luís Silveira Rodrigues e Vasco Colaço

Capital Social
DECO – Associação Portuguesa para a Defesa
do Consumidor (25%) | Presidente:
Luís Silveira Rodrigues
Euroconsumers (75%) | Presidente:Daniel Stons

Country manager e representante legal

António Balhanas

Diretora e editora de publicações

Editorial João Sousa

Cláudia Maia

Responsável de estudos jurídico-económicos

Joaquim Rodrigues da Silva
editorial@deco.proteste.pt
Colaboradores
Analistas financeiros do mercado nacional:

EXIGIMOS MAIS TRANSPARÊNCIA

André Gouveia (bens de consumo, construção,
papel, energia, serviços informáticos);
João Sousa (banca); Rui Ribeiro (distribuição,
media, telecomunicações, energia, serviços
postais).
Outros valores mobiliários e instrumentos
financeiros: André Gouveia, António Ribeiro,

A
João Sousa, Jorge Duarte.
Na análise do mercado internacional, a proteste nalisámos a remuneração dos CEO e de cada um dos restantes
investe cede e recebe alguns conteúdos
de organizações europeias de consumidores
dos presidentes das comissões administradores das empresas cotadas.
com as quais definiu metodologias idênticas: executivas das 17 empresas Na prática, são convocados para votarem
Euroconsumers S.A., Avenue Guillaume 13B, L-1651
Luxembourg; Altroconsumo Edizioni Finanziarie nacionais cotadas na bolsa de meros documentos sobre as políticas
S.R.L., Via Valassina, 22 – 20159 Milano; Test- Lisboa que acompanhamos, com base de remuneração, sendo-lhes pedido
-Achats S.C., Rue de Hollande 13, 1060 Bruxelles;
OCU Ediciones S.A., C/ Albarracín, 21-28037 nos relatórios e contas do ano 2021. para confiarem na validação a ser dada
Madrid. As análises publicadas na proteste investe
são independentes e elaboradas de acordo
Ao compararmos a remuneração destes ulteriormente pelas comissões de
com uma metodologia que pode consultar Chief Executive Officers (CEO) com o remuneração das empresas respetivas.
em deco.proteste.pt/investe/metodologia.
As análises nunca são enviadas à entidade
salário médio dos trabalhadores das Desta forma, não têm o poder de
emitente dos instrumentos financeiros objeto de empresas que dirigem, chegámos a um exercitar com plenitude o seu voto, dado
avaliação e, por isso, não estão sujeitas a alterações
a pedido destas. A deco proteste e os responsáveis valor médio de 32, que consideramos não disporem de toda a informação sobre
pela informação financeira não têm interesses demasiado elevado. A diferença é abismal a remuneração dos CEO que dirigem
suscetíveis de prejudicar a objetividade.
entre as várias empresas, com o rácio a as empresas de que são acionistas.
Estatuto editorial
deco.proteste.pt/investe/estatuto-editorial variar entre um máximo de 262,6 vezes, Defendemos que a remuneração variável
Políticas e procedimentos na Jerónimo Martins, e um mínimo de 2,9 deve ser baseada no desempenho
deco.proteste.pt/investe/politicas-procedimentos
na Cofina, como pode ver na página 23. sustentado da sociedade, com objetivos
Tiragem 20 000 exemplares. Registo na ERC
n.º 120 152. Depósito legal n.º 102931/96. Este fosso entre a remuneração dos claros de criação de valor a longo prazo
Assinaturas Tel: 218 410 801. líderes das empresas e o salário médio para os acionistas, sendo que uma parte
E-mail: assinaturas@deco.proteste.pt.
Assinatura anual da Proteste Investe dos colaboradores tem vindo a aumentar. significativa deve ter um diferimento do
257,40 € (21,45 € por mês) > 48 edições
semanais de 12 páginas + 11 edições mensais
Para o conjunto das 17 empresas, o valor pagamento por um período não inferior
de 32 páginas. médio do rácio passou de 29,6 para 32,2, a três anos. Somos também a favor
Assinatura anual da Proteste Poupança
177,84 € (14,82 € por mês) > 11 edições
entre 2020 e 2021. Ou seja, em apenas de as empresas cotadas definirem um
mensais de 32 páginas. um ano, a remuneração média dos CEO valor máximo do rácio a ser respeitado,
Impressão Sogapal, Comércio e Indústria
de Artes Gráficas, S.A., Estrada de São Marcos, aumentou 11,9%, impulsionada pela devendo esse valor ser divulgado.
n.º 27, 2735-521 Agualva-Cacém. progressão da remuneração variável (27,8 Uma boa prática que, infelizmente,
Capa IStock/Nuno Semedo
Fotografia e ilustração 4See/Fernando Piçarra, por cento). Contudo, o salário médio dos não é seguida nas empresas nacionais
iStock.
Todos os direitos de reprodução, adaptação
colaboradores das empresas que dirigem que analisámos.
e tradução são reservados, e a utilização subiu apenas 2,7 por cento. A bem de maior transparência no
para fins comerciais é proibida.
Gráficos ©Thomson Financial Datastream
Muitas das empresas nacionais cotadas já mercado e em defesa dos pequenos
e deco proteste. reuniram as suas Assembleias Gerais de investidores acionistas, iremos
Acionistas, convocadas quase todas para comunicar as nossas posições e
os meses de abril ou maio. Pena é que os exigências à Comissão do Mercado
Chamadas para a rede fixa nacional.
Consulte o seu tarifário. acionistas não sejam chamados a votar de Valores Mobiliários, ao Ministério
218 410 858
Serviço de informação propostas concretas, como os montantes das Finanças e às empresas nacionais
218 410 801
Assinaturas e encomendas previstos de remuneração individualizada analisadas.
Cidadãos Surdos
12472 ou Skype
Precisa de computador com câmara, ou
smartphone com Skype, para contactar o Serviin www.deco.proteste.pt/investe
CAPA
16
A arte de bem reclamar
Se se sente injustiçado ou
enganado por um banco, uma
seguradora ou outra entidade
financeira, reclame junto dos
reguladores, com o nosso apoio
RUBRICAS
04 Contas em dia
Obrigações do Tesouro podem
proporcionar retornos até 1,6
por cento. Seguros PPR dominam
o mercado. Nome da corretora
XTB usado abusivamente
POR 1,95 €
Uma vantagem exclusiva dos nossos subscritores
ARTIGOS
08 Reembolso do IRS
Saiba onde aplicar o montante
que a Autoridade Tributária
lhe devolveu este ano
11 Fundos e ETF
Há produtos que proporcionam
um rendimento regular e
periódico. Veja se vale a pena
14 Títulos do Estado
Com a subida das taxas de juro,
os Certificados de Aforro podem
render acima de 2 por cento
20 Depósitos em dólares
A moeda de refúgio por
excelência valorizou dois dígitos,
mas o futuro não é tão brilhante
06 Vantagens para si
Receba uma parte do que gasta
em compras em cerca de 55 lojas,
através do programa Cashback.
A percentagem máxima devolvida
é de 17,5 por cento
UM GUIA
ONLINE WWW.DECO.PROTESTE.PT/GUIASPRATICOS
23 Salários dos CEO
Quanto ganham a mais os
presidentes de 17 empresas
comparativamente à média
dos restantes trabalhadores?
26 Fundos PPR
Em abril, a queda das bolsas e
das obrigações afundou, sem dó
nem piedade, estes fundos
28 Como resgatar PPR
Conheça as respostas às
perguntas que suscitam mais
dúvidas entre os aforradores
30 Mundo
O crescimento do PIB está
comprometido por causa
do conflito entre a Ucrânia
e a Rússia. A subida da inflação
também não ajuda
ENCOMENDE
COM O CÓDIGO
DO MÊS
TELEFONE 211 215 652
contas em dia
atualidade • formação • recomendações
DÍVIDA PÚBLICA
OBRIGAÇÕES DE LONGO
PRAZO RENDEM ATÉ
1,6% LÍQUIDOS
T
al como os Certificados de Aforro
e do Tesouro (analisados nas
páginas 14 e 15), as Obrigações do
Tesouro (OT) são títulos da dívida
pública, que beneficiam da garantia do
Estado e podem ser uma oportunidade
de investimento. Contudo, são
um produto mais complexo e, por
regra, utilizado pelos investidores
institucionais (nacionais ou
estrangeiros), como bancos,
sociedades gestoras, organizações, etc.
O rendimento obtido depende do valor
de compra, dos juros recebidos, do valor
de venda (ou reembolso) e também dos
custos suportados. Nos últimos anos, a
yield (retorno) destes títulos foi negativa.
Atualmente, com um cenário de subida
das taxas de juro e o surgimento
REFORMA
PORTUGUESES PREFEREM SEGUROS PPR
Os planos de poupança-reforma são
um dos produtos de aforro preferidos
dos portugueses. Além dos benefícios
fiscais proporcionados, há uma enorme
variedade de PPR, uns sob a forma de
seguro de capitalização, outros sob
a forma de fundo mobiliário (veja a
análise nas páginas 26 e 27), e ainda
fundo de pensões. No ano passado, os
ativos sob gestão registaram um ligeiro
4  Proteste Investe maio 2022
de títulos com taxas mais interessantes,
a cotações das OT existentes desceu.
Ou seja, pode comprar esses títulos
a um preço mais barato e, assim,
conseguir um retorno superior.
Depois de um longo período de yields
negativas, uma boa parte dos títulos já
apresentam valores positivos. É o caso
aumento em relação a 2020 (23 217
milhões de euros), dos quais 77%
concentrados em seguros PPR. Apesar
de o conservadorismo dos portugueses
explicar a preferência por estes PPR,
sobretudo com capital garantido,
o panorama indica estar a mudar. O
montante aplicado em seguros PPR tem
vindo a descer nos últimos dois anos.
Em contrapartida, os PPR sob a forma
da OT Abril 2034 (maturidade de 12
anos) e da OT Fevereiro 2045 (25 anos),
que, à data de 9 de maio, apresentavam
uma yield de 1,6%, e a OT Abril 2037
(15 anos), 1,4 por cento. São rendimentos
líquidos, mas, para os conseguir, teria
de adquirir às cotações atuais e manter
os títulos até ao vencimento, ou seja,
por prazos muito longos. Acompanhe
as yields destes títulos em www.
deco.proteste.pt/investe/depositos-
certificados/obrigacoes-tesouro.
Apesar da subida das yields,
continuamos a não recomendar o
investimento direto nestes títulos.
É bem possível que as taxas de juro
continuem a subir e, consequentemente,
as cotações irão descer. Ainda
assim, as obrigações euro fazem
sentido numa carteira diversificada,
pelo que sugerimos os fundos que
replicam as nossas três carteiras:
Optimize Selecção Defensiva,
Equilibrada e Agressiva, consoante
a sua disposição para o risco. Saiba mais
sobre estes fundos, bem como sobre as
nossas parcerias, em www.deco.proteste.
pt/investe/vantagens-membros/
parcerias.
de fundo de investimento mobiliário
atraem cada vez mais aforradores,
dispostos a assumirem mais risco na
perspetiva de obterem rendimentos
mais atrativos, e representa já cerca
de 19% do mercado. O montante em
PPR sob a forma de fundos de pensões
também tem crescido, mas é o menos
expressivo, com apenas 4% do mercado
(933 milhões de euros).
www.deco.proteste.pt/investe
 Jorge Duarte
Analista financeiro
da DECO PROTESTE

PREÇOS EM ALTA
Depois de anos a passar despercebida,
FRAUDE a inflação voltou à atualidade. O ritmo
de subida dos preços acelerou no último

NOME DA CORRETORA XTB ano.

USADO ABUSIVAMENTE
A saída da pandemia impulsionou a procura
num momento em que a oferta estava algo
“adormecida” pelo confinamento. Contudo,
quando se esperava

7,4%
A CMVM alertou os investidores para uma entidade que se faz um regresso à
passar pela corretora XTB, utilizando o site www.x-tradebrokers. normalidade, a guerra
com, numa tentativa clara de enganar investidores. A página, na Ucrânia deu mais
contudo, já não está online. um empurrão aos
Usurpar a identidade de uma instituições financeira legítima é preços, sobretudo É A TAXA ATUAL DA
uma estratégia antiga usada por burlões, designada por clonagem. da energia e da INFLAÇÃO EM PORTUGAL,
A verdadeira XTB (X-Trade Brokers Dom Maklerski S.A. – Sucursal, alimentação. No
O VALOR MAIS ALTO
em Portugal), que opera o site www.xtb.com/pt, é uma corretora Ocidente, a inflação
legítima, que foi, aliás, a nossa Escolha Acertada para a transação atingiu patamares DESDE 1996
de ações. Para saber quais as melhores corretoras para investir na que não eram
bolsa, vá a www.deco.proteste.pt/investe/investimentos/acoes/ imagináveis há alguns meses. Embora o
dossie/corretagem. governador do Banco de Portugal afirme
Infelizmente, no mundo dos investimentos, é necessário estar que é temporária, a tendência pode não se
sempre de sobreaviso contra possíveis armadilhas. As empresas esbater tão cedo como o desejado, devido às
autorizadas a operar em Portugal ou noutro país da União disrupções na oferta e ao contínuo aumento
Europeia (regime de Livre Prestação de Serviços) podem ser dos preços da energia. Na Turquia, contudo,
consultadas no site da CMVM. Ainda assim, é importante seguir os problemas são anteriores à pandemia
boas práticas de segurança. Por exemplo, não abra links recebidos e mais abrangentes, e a inflação está fora
por e-mail ou nas redes sociais. Digite sempre o endereço do site de controlo. No Oriente, a China e o Japão
do banco ou da corretora. Em caso de dúvida, contacte o nosso continuam relativamente imunes.
serviço de apoio aos investidores e leia o artigo da página 16.

Taxa de inflação
PRODUTOS Agora Há 1 ano
Turquia 70% 17,1%
COMO ESTÁ DIVIDIDO O MERCADO DOS PPR Brasil 11,7% 6,9%
Fundos PPR Reino Unido 9,1% 1,6%
19%
Estados Unidos 8,5% 2,6%
Fundos de Pensões Zona Euro 7,5% 1,6%
PPR
4% Seguros PPR Portugal 7,4% -0,1%
77%
China 1,5% 0,4%
Japão 0,8% -0,4%

Valores em percentagem (%). Variação homóloga dos preços.

www.deco.proteste.pt/investe
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ou superior a 5 euros. Caso seja
inferior, vai acumulando com o
que ganhar de outras compras.
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 ESTRATÉGIA

Dois títulos de dívida

pública, três PPR
e três fundos são
ONDE APLICAR O R
as sugestões para aplicar,
a médio e longo prazo, JÁ TEM UM FUNDO
a devolução do IRS. Se
quer contornar a inflação,
tem mesmo de arriscar Não

A
tentação de utilizar o reembolso
do IRS nas tão almejadas férias, na Aplique em DEPÓSITOS e
renovação da casa ou na mudança
de carro é grande. Mas, se não CERTIFICADOS DE AFORRO
tem despesas em atraso, nem dívidas
no cartão de crédito, resista ao ímpeto
consumista ou ao hábito de colocar o
dinheiro numa conta à ordem. Aplique
o reembolso do IRS num produto que
gere rendimento. Isto é, ponha o dinheiro Não
a trabalhar para si. Já dizia o adágio
popular, “dinheiro atrai dinheiro”.

Objetivos prioritários
Criar uma poupança de curto prazo,
para fazer face a imprevistos, e uma
poupança de longo prazo, que sirva
TEM MENOS
de complemento à pensão de reforma,
não é apenas retórica. É essencial nos
DE 57 ANOS?
dias que correm. Caso já tenha estes dois
planos encaminhados, pode canalizar
as restantes poupanças para produtos
de longo prazo sem capital garantido, Não Sim
como fundos de investimento,
de que falaremos adiante.
Vamos ao primeiro objetivo: criar um
fundo de emergência equivalente a
seis meses de ordenado. Para tal, pode
escolher um dos melhores depósitos a
prazo disponíveis. O nosso comparador,
acessível em www.deco.proteste.pt/
investe/depositos-a-prazo, facilita
a pesquisa. Aplique num Aplique num
Prefira um prazo curto (até um ano) SEGURO PPR FUNDO PPR
em vez de um longo, pois são esperadas
subidas nas taxas durante os próximos

8  Proteste Investe 1181 maio 2022

www.deco.proteste.pt/investe
REEMBOLSO DO IRS
anos. Assim, pode ir renovando de acordo
com a melhor oferta do mercado. Neste
momento, o Banco Best oferece a melhor
taxa a três meses (1,1% líquidos), mas
apenas para novos clientes e montantes
entre 2500 e 25 000 euros. Os juros são
pagos logo no início e não é permitida

DE EMERGÊNCIA? a mobilização antecipada do depósito.

Para um depósito de seis meses, encontra
a melhor proposta no Banco Invest:
0,7% líquidos. Os novos montantes
exigidos variam entre 2000 e 75 000
euros. Se prefere um prazo de 12 meses,
o Banco BAI Europa proporciona a taxa
Sim mais alta: 0,5% líquidos.
Outra opção são os Certificados de
Aforro, cujo rendimento depende da
Euribor a três meses. Se optar pelos
Certificados do Tesouro Poupança Valor,
o montante mínimo é mais elevado e

JÁ TEM UM COMPLEMENTO não pode mobilizar durante o primeiro

À PENSÃO DE REFORMA?
ano, pelo que não será tão adequado
para constituir o fundo de emergência.
Estratégia errada seria colocar todas
as poupanças em depósitos, já
que o rendimento é próximo de zero
(ou mesmo zero).

Sem pingo de risco

Sim Adequados a pequenos aforradores,
os títulos da dívida do Estado também
têm a vantagem de garantirem o capital.
No caso dos Certificados de Aforro,
exigem um mínimo de subscrição baixo
(100 euros) e permitem entregas a
ACEITA CORRER qualquer momento. Capitalizam juros
trimestralmente por um prazo máximo
RISCO? de dez anos, mas podem ser resgatados
em qualquer altura após os primeiros
três meses. A principal vantagem dos
Certificados de Aforro, face a outros
produtos de capital garantido, é um
Não Sim prémio de permanência de 0,5% brutos,
do segundo ao quinto ano, e de 1%
a partir do sexto ano.
Quanto aos Certificados do Tesouro
Poupança Valor, têm uma taxa de juro
crescente e bonificação a partir do
terceiro ano, em função do crescimento
do PIB. São a solução ideal para quem
pretende aplicar a médio e longo prazo,
Aplique em Aplique na CARTEIRA com a garantia do Estado e a certeza
CERTIFICADOS DE AFORRO de ter um rendimento superior ao dos
DE FUNDOS DA depósitos. O montante mínimo exigido
ou CERTIFICADOS DO PROTESTE INVESTE na subscrição, ou em cada reforço,
TESOURO POUPANÇA VALOR é de 1000 euros. Não podem ser

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  9

 mobilizados no primeiro ano. Ambos
os produtos são subscritos nos CTT. Leia
nas páginas 14 e 15 a nossa análise sobre o
rendimento e as perspetivas de evolução
das taxas destes títulos do Estado. E
pode simular em www.deco.proteste.pt/
investe/depositos-certificados.
Grão a grão se prepara a reforma
Para concretizar o segundo objetivo –
criação de um complemento a longo
prazo para a reforma –, há produtos
específicos, que até proporcionam
benefícios fiscais. É o caso dos
Certificados de Reforma, fundos de
pensões e planos de poupança-reforma.
Deste leque, preferimos os PPR,
pela variedade da oferta e flexibilidade
do produto.
De facto, os PPR têm a vantagem
de permitirem entregas regulares de
pequenos montantes, e podem ser
resgatados sem penalizações fiscais
em caso de doença grave, desemprego
prolongado, incapacidade para o trabalho
ou mesmo pagar a prestação mensal
da casa própria e permanente.
Existem sob a forma de seguro,
geralmente com capital garantido e
um rendimento mínimo, e sob a forma
de fundo de investimento. Salvo raras
exceções, estes não garantem o capital.
São adequados para quem está longe
da reforma e tem até 57 anos.
Contudo, se é conservador nos
investimentos, não gosta de correr
riscos, ou tem mais de 57 anos,
recomendamos um seguro PPR, mais
concretamente o Lusitania Poupança
Reforma PPR, que permite fazer
entregas únicas ou programadas, a partir
de 20 euros mensais. Além de garantir
o capital, tem um rendimento mínimo
definido anualmente: 1,5% para as
novas subscrições no primeiro semestre
deste ano. Os nossos subscritores
beneficiam de condições especiais
negociadas com a Lusitania Vida.
Saiba mais no nosso portal.
Sendo a subscrição de um plano de
poupança-reforma recomendada o
mais cedo possível, idealmente quando
se entra na vida profissional, um
fundo PPR é a solução mais vantajosa
para quem tem menos de 57 anos.
Apesar de não ter garantia de capital,
10  Proteste Investe 1181 maio 2022
10 €
é a quantia a partir da qual
pode subscrever um dos
três fundos que replicam as
carteiras da PROTESTE INVESTE
1,5%
é o rendimento mínimo
garantido pelo seguro Lusitania
Poupança Reforma PPR
às novas subscrições
o rendimento potencial é bastante
superior ao proporcionado pelos
seguros PPR, pois, sendo um fundo de
investimento, permite aplicar nas bolsas
de forma diversificada e com pequenos
montantes. Recomendamos dois fundos
PPR: o NB PPR/OICVM, do GNB Fundos
Mobiliários, e o Alves Ribeiro PPR,
do Banco Invest. O montante mínimo
para subscrever estes fundos é de 25
e 50 euros, respetivamente. Todavia,
para abrir conta no Banco Invest, é
exigido um montante de 5000 euros,
ou de 1000 euros, se for nosso subscritor
e associado. Ao subscrever o Alves
Ribeiro PPR através do nosso protocolo
com o Banco Invest, beneficia ainda
de outras vantagens, como isenção de
comissões e bonificação, e um prémio
anual de 0,2% sobre o montante
aplicado, que acresce ao rendimento
do fundo. Nas páginas 26 e 27, pode
ver o desempenho destes dois fundos
em termos de rentabilidade, a 12 meses
e cinco anos.
Ousar arriscar
Se já tem um fundo de emergência
e um PPR, canalize o reembolso do
IRS para fundos de investimento.
Além de tirar partido da valorização
das bolsas, consegue, a longo prazo,
obter um rendimento superior
e contornar a inflação.
Adequados para investir por prazos
superiores a cinco anos, sugerimos
a aplicação num dos três fundos que
replicam as três carteiras da PROTESTE
INVESTE (defensiva, equilibrada e
agressiva) e agregam as recomendações
de investimento de ações e obrigações.
Na prática, são três fundos de
investimento mistos, que replicam
automaticamente os conselhos da
nossa equipa de especialistas em três
fundos da Optimize: Selecção Defensiva,
Selecção Base e Selecção Agressiva.
O que os distingue, principalmente,
é a percentagem de ações que constitui a
carteira: a versão defensiva aplica 25%,
a base aplica 50% e a agressiva investe
70% no mercado acionista. Por norma,
quanto maior a percentagem de ações,
maior o risco, mas também o potencial
de rendimento. Consulte a rentabilidade
mais recente no portal financeiro,
em www.deco.proteste.pt/investe/
estrategias.
Qualquer que seja a versão, o montante
mínimo é de 10 euros. Pode subscrever
na sociedade gestora Optimize. O
site www.optimize.pt disponibiliza
todos os dados relativos a estes
fundos e permite abrir conta. Como
subscritor da PROTESTE INVESTE,
pode usufruir das condições vantajosas
do nosso protocolo com a Optimize,
nomeadamente um prémio de
fidelização anual de 0,4% sobre o
valor mantido no fundo. Para saber
mais, aceda às condições dos nossos
protocolos em www.deco.proteste.pt/
investe/vantagens-membros/parcerias.
Da leitura deste artigo, percebeu,
certamente, que não há uma solução
única para todas as pessoas. É necessário
ter em conta a idade e o estádio da vida
em que se encontra, e a disponibilidade
para aceitar o risco.
Uma regra essencial, muitas vezes
esquecida, é diversificar as poupanças
por vários produtos, para diminuir
o risco. Se lhe sugerirem produtos
“exóticos”, cujo funcionamento
desconhece, não invista. Podem
trazer-lhe dissabores. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro
www.deco.proteste.pt/investe
 INVESTIMENTO

PING, PING,
RENDIMENTO REGULAR
Há fundos de
investimento e ETF
que proporcionam
rendimentos regulares.
O objetivo principal
não é acumular capital,
mas colher os “frutos”
da poupança. Veja
como funcionam

I
magine que herdou uma quantia
considerável, ou está reformado e tem
poupanças, que gostaria de aplicar
de forma a receber um rendimento
periódico. Ou, ainda, que investe a longo
prazo e quer receber algum dinheiro
ao longo do tempo sem ter de vender
todos os ativos. É possível? Sim. Há
cada vez mais “classes” de fundos e ETF
que distribuem rendimentos mensal,
semestral ou anualmente. Também há
fundos de obrigações com as mesmas
características, mas, nesta edição,
iremos centrar-nos apenas nos fundos
de ações.
Antes de se aventurar nestes produtos,
que distribuem rendimentos em vez de
os capitalizarem, destacamos algumas
características. Ao contrário do que
acontece nas aplicações tradicionais,
como os depósitos a prazo, o fluxo
de rendimentos é menos constante.
Por exemplo, os fundos de ações
pressupõem que as empresas detidas
em carteira distribuem dividendos,
mas o valor do dinheiro distribuído
pelos acionistas não é certo. Em termos
percentuais, não espere tão-pouco
que estes fundos e ETF gerem
um elevado rendimento periódico.
Riscos à espreita
Mesmo que o objetivo seja obter
rendimentos periódicos, tenha sempre
em conta o nível de risco que vai
assumir. O capital não está garantido.
Ainda que um fundo de ações globais
tenha a vantagem de estar geográfica
e setorialmente diversificado, não
escapará à volatilidade geral das bolsas.
O valor do seu património oscilará
bastante, pelo que deve estar preparado
para manter o capital aplicado durante
vários anos (recomendamos um mínimo
de cinco).
Como em qualquer fundo, pode

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  11

 fazer resgates parciais ou desinvestir
todo o capital a qualquer momento.
Contudo, quanto mais curto for o prazo,
maiores serão as hipóteses de perdas,
mesmo considerando os rendimentos
que tenham sido distribuídos.
Escolher os melhores
É importante optar por fundos e ETF
dedicados a mercados com potencial,
e bem geridos. O indicador de avaliação
atribuído pela PROTESTE INVESTE
(0 a 100 pontos), baseado em
rentabilidade, consistência, risco e
custos, não é afetado pelo facto de o
fundo/ETF distribuir rendimentos.
Ou seja, se a diferença entre dois
fundos é apenas a distribuição ou
a capitalização, não há impacto na
qualidade, nem nos custos de gestão.
A rentabilidade também é idêntica,
porque se assume o reinvestimento dos
rendimentos. É o método usual para
comparar produtos, sendo aplicado
também a depósitos, obrigações e ações.
Em suma, a classe de distribuição e
PORTAL FINANCEIRO
COMPARADOR E ANÁLISE DE FUNDOS E ETF
12  Proteste Investe 1181 maio 2022
de acumulação de um fundo/ETF tem
exatamente a mesma classificação
à luz do indicador. Portanto, deverá
optar pelos mais bem avaliados, mas
que prevejam a distribuição regular
de rendimentos.
Na página seguinte, encontra uma
seleção dos fundos de distribuição
com melhor avaliação à luz do indicador
da PROTESTE INVESTE, e para duas das
principais categorias recomendadas:
ações globais e ações EUA. Na prática,
nos quadros encontrará apenas
ETF, porque têm, atualmente, a
melhor classificação. Pode, no
entanto, consultar todos os produtos
no comparador disponível em
www.deco.proteste.pt/investe.
Quanto irá receber
Na última coluna dos quadros, encontra
também uma estimativa do valor anual
que pode receber através da distribuição
de rendimentos, se aplicar dez mil
euros no respetivo ETF. Todavia, os
montantes não têm em conta os custos
e, sobretudo, os impostos, os quais
impactam bastante no valor recebido
periodicamente.
Para aumentar a periodicidade
dos rendimentos, pode combinar o
investimento em vários ETF, mas tenha
em atenção os custos de transação.
Optámos ainda por incluir apenas
aqueles que têm passaporte europeu
(diretiva UCITS). Os restantes ETF estão
disponíveis num número mais reduzido
de bancos e corretoras e, portanto,
podem ser mais difíceis de negociar.
Ainda assim, tem um vasto leque
de produtos à disposição.
Rendimento que não é “extra”
Ao subscrever um fundo ou
comprar um ETF de distribuição irá,
automaticamente, receber na conta os
rendimentos atribuídos pela respetiva
sociedade gestora. Não se esqueça,
porém, de que este “rendimento” é
retirado do património do fundo/ETF.
O cálculo do ganho (ou da perda) para
o investidor considera dois elementos:
Mais de 1500 fundos que
preveem a distribuição de
rendimentos estão disponíveis
no nosso portal. Destes,
há 122 na categoria de
ações globais. Na pesquisa,
selecione “Distribuição”
no filtro referente à “Política
de Rendimentos”
As fichas detalhadas de cada
fundo e ETF incluem a cotação,
a periodicidade da distribuição,
bem como o valor e a data da
última operação. Sem esquecer
a nossa avaliação de 0 a 100
e recomendação
www.deco.proteste.pt/investe
os rendimentos pagos e a valorização
FUNDOS DE DISTRIBUIÇÃO
(ou queda) do valor da unidade de
participação. No rendimento, está a
receber uma parte do “bolo”, a consumir AÇÕES GLOBAIS
uma parte da sua riqueza. “RENDIMENTO”
Um fundo de distribuição pode parecer AVALIAÇÃO
CÓDIGO VALOR MESES DE BRUTO
NOME DO ETF PROTESTE
mais rentável e oferecer um ganho fixo, ISIN DA UP PAGAMENTO DISTRIBUÍDO POR
INVESTE (1)
mas é ilusório. Portanto, um valor mais ANO EM EUROS (2)
elevado no quadro não significa que Lyxor DJ Global julho,
97 FR0007075494 58 EUR 72
o fundo seja melhor. Apenas significa Titans 50 UCITS ETF dezembro
que extrai uma maior percentagem iShares Dow Jones março, junho,
96 DE0006289382 60 EUR 24
Global Titans 50 dezembro
do seu património para entregar aos
HSBC MSCI World janeiro, abril,
participantes. Consulte as rentabilidades UCITS ETF
95 IE00B4X9L533 28 USD
julho, outubro
172
no portal financeiro ou na edição Lyxor MSCI World
mensal de fundos. 94 LU0392494562 80 USD julho 130
UCITS ETF
UBS LFS MSCI World
Impostos a doer fevereiro,
Socially Responsible 94 LU0629459743 128 USD 104
agosto
O rendimento dos fundos é tributado UCITS
à taxa de 28 por cento. Ou seja, por Vanguard FTSE
março, junho,
cada 100 euros, o Estado fica com 28, 94 IE00B3RBWM25 110 USD setembro, 122
All-World UCITS ETF
dezembro
recebendo o investidor 72 euros. Esta
Fidelity Global fevereiro,
retenção é realizada pelo banco nacional
Quality Income 93 IE00BYXVGZ48 7,6 USD maio, agosto, 200
onde subscreveu o fundo e, por isso, não UCITS ETF novembro
precisa de declarar o rendimento no IRS.
Nos ETF, é mais complexo. Como são
geridos por entidades estrangeiras FUNDOS DE DISTRIBUIÇÃO

AÇÕES NORTE-AMERICANAS
e negociados em bolsas também
estrangeiras, o investidor sofre uma
dupla tributação. Ou seja, à semelhança
“RENDIMENTO”
do que acontece com ações estrangeiras, AVALIAÇÃO
CÓDIGO VALOR DA MESES DE BRUTO
há retenção na fonte no país onde o NOME DO ETF PROTESTE
ISIN UP PAGAMENTO DISTRIBUÍDO POR
ETF é negociado e, simultaneamente, INVESTE (1)
ANO EM EUROS (2)
no país do intermediário nacional UBS Factor MSCI
fevereiro,
(banco ou corretora) onde é pago o USA Quality UCITS 94 IE00BX7RRJ27 36 USD
agosto
70
rendimento.Somando as duas retenções, ETF
o mais provável é que veja na sua Lyxor S&P 500
91 LU0496786574 40 EUR
julho,
110
conta apenas metade do rendimento UCITS ETF dezembro
efetivamente distribuído. março, junho,
Invesco S&P 500
O acréscimo provocado pela dupla 91 IE00BYML9W36 38 USD setembro, 154
UCITS ETF
dezembro
tributação pode, contudo, ser
recuperado quando entregar a BNP Paribas Easy
90 FR0011550680 15 USD maio 74
S&P 500 UCITS ETF
declaração de IRS (crédito de imposto),
mas será só posteriormente, pelo que março, junho,
iShares Core S&P
89 IE0031442068 42 USD setembro, 126
elimina muito do já reduzido potencial 500 UCITS ETF
dezembro
de rendimentos periódicos (veja a
edição de abril ou consulte o portal). (1) Entre 0 e 100. (2) A simulação pressupõe o investimento de 10 mil euros no ETF e o valor
Existem convenções para evitar a dupla das distribuições realizadas no último ano.
tributação, mas, por norma, são muito
onerosas e complexas para os pequenos
investidores. de imposto de cada vez que recebe suportar menos custos. Ao contrário,
rendimentos, o encontro de contas no caso dos rendimentos distribuídos,
Alternativa: capitalizar com o Fisco ocorre apenas no resgate o banco (ou a corretora) cobra
Se obter rendimentos regulares não é final. Como o valor é capitalizado, pode uma comissão pelos rendimentos
essencial para si, prefira os fundos ou ter um ganho maior. distribuídos. ¬
ETF de capitalização. Fiscalmente, são No caso dos ETF, optar pelas versões
mais eficientes. Em vez de pagar 28% de capitalização implica também DOSSIÊ TÉCNICO Jorge Duarte

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  13

 GARANTIDO
CERTIFICADOS
VOLTAM A REINAR
A expectativa é de subida das taxas durante
os próximos anos, o que poderá tornar os Certificados
de Aforro bastante mais interessantes,
com rendimento superior a 2 por cento
14  Proteste Investe 1181 maio 2022
A
subida das taxas de juro que se
avizinha, para controlar a inflação,
pode favorecer os Certificados de
Aforro. A par com os Certificados
do Tesouro Poupança Valor (CTPV),
este produto de dívida pública, que
recomendamos para o médio e o
longo prazo, é uma alternativa mais
interessante do que os depósitos a prazo,
se não quiser correr riscos. Ambos têm
a garantia do Estado.
O que distingue estas aplicações é
a forma de cálculo do rendimento:
na série E dos Certificados de Aforro,
neste momento em subscrição, a taxa
é calculada mensalmente com base
nos valores da Euribor a três meses,
segundo a fórmula E3+1%, em que E3
é a média dos valores da Euribor a três
meses nos dez dias úteis anteriores. Não
pode resultar uma taxa base superior a
3,5%, nem inferior a zero. Quanto aos
Certificados do Tesouro Poupança Valor,
a taxa é crescente e é definida na altura
da subscrição (entre 0,7 e 1,6% brutos).
Sentido ascendente
Durante mais de um ano, a taxa de
base dos Certificados de Aforro (série
E) manteve-se estagnada em 0,3%
líquida, devido ao baixo valor da Euribor.
Mas, no início do ano, o cenário começou
a mudar. Em maio, a taxa de juro bruta
para novas subscrições foi fixada em
0,555%, ou seja, 0,4% líquida. Não é
um rendimento surpreendente, mas
sempre é melhor do que o proporcionado
pela maioria dos depósitos a prazo.
A subida das taxas de juro por parte
do Banco Central Europeu terá
consequências imediatas para empresas,
famílias e Estado, e pode mesmo
acontecer já este ano. A incógnita é de
quanto será a subida e a que velocidade
ocorrerá. Não temos uma bola de cristal,
mas fizemos algumas simulações
que apontam o melhor caminho
para as suas poupanças.
Na página ao lado, encontra três cenários
de acordo com a evolução da Euribor
nos próximos anos, e o respetivo
rendimento dos Certificados de Aforro.
No primeiro, a taxa de base mantém-se
no valor atual. No segundo, supomos
que a Euribor sobe 0,6% a cada ano
(0,15% em cada trimestre) nos primeiros
www.deco.proteste.pt/investe
 quatro anos e depois estagna. Quanto
CERTIFICADOS DE AFORRO SÉRIE E
ao terceiro cenário, a subida mantém-se

TAXAS REANIMAM durante uma década. Assim, se aplicar

em Certificados de Aforro pelo prazo
Em janeiro, a taxa de base dos Certificados de Aforro inverteu o sentido descendente dos de dez anos e a taxa atual não se alterar,
últimos anos. A tendência agora é de subida, o que torna estes títulos mais apelativos. hipótese pouco provável, pode conseguir
um rendimento anual líquido de 0,9%,
0,41 % ou de 2,5%, se a taxa Euribor subir 0,15%
0,40 % a cada trimestre, o que também é uma
0,39 % hipótese demasiado otimista. No cenário
intermédio, de subida da taxa Euribor
0,37 %
0,37 %
nos primeiros quatro anos, obtém
0,36 %
0,35 % um rendimento anual líquido de 2,2%,
0,35 %
0,34 % o que é bastante interessante.
0,34 % Para os Certificados do Tesouro
0,33 % 0,33 %
Poupança Valor, criámos um cenário em
0,32 %
0,31 % 0,31 % que não existe prémio em função do PIB,
e outro com o PIB a evoluir de acordo
0,30 % com as previsões do Banco de Portugal
0,29 %
até 2024. Supusemos que a taxa de
0,2 7 % crescimento nesse ano (2%) se mantém
nos seguintes. São hipóteses meramente
0,2 5 % teóricas, dado não sabermos como
outubro 2020  janeiro 2021  maio 2021  outubro 2021  janeiro 2022  maio 2022 evoluirá o panorama macroeconómico
no futuro mais próximo. Assim, neste
quadro de hipóteses, pode ter um
rendimento de 0,9% ou 0,7% líquidos ao
CERTIFICADOS DE AFORRO VS. TESOURO ano, consoante haja ou não bonificação,
supondo que aplica por sete anos.
QUANTO PODEM RENDER No quadro, pode comparar o rendimento
com o dos Certificados de Aforro.
Simulámos vários cenários, na perspetiva da subida da taxa Euribor, que serve de base aos
Certificados de Aforro Série E, e do crescimento do PIB, no caso dos Certificados do Tesouro. A melhor opção
Quando vigora um período de baixas
CERTIFICADOS DE AFORRO SÉRIE E CERTIFICADOS DO TESOURO taxas de juro, sem qualquer vislumbre
(TAEL) POUPANÇA VALOR (TAEL) de subida, os Certificados do Tesouro
proporcionam melhores perspetivas de
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 1 CENÁRIO 2
RESGATE
TAXA DE MAIO EURIBOR SOBE EURIBOR SOBE SEM PRÉMIO PIB CRESCE
ganho. As taxas de juro crescentes e os
AO FIM DE… prémios gordos em função da taxa de
INALTERADA 0,15% A CADA 0,15% A CADA EM FUNÇÃO 2% AO ANO
DURANTE TRIMESTRE TRIMESTRE DO PIB DURANTE crescimento do PIB favorecem quem tem
10 ANOS NOS PRIMEIROS DURANTE OS 7 ANOS as séries mais antigas. Contudo, o cenário
4 ANOS 10 ANOS pode inverter-se, se as taxas continuarem
1 ano 0,4 0,6 0,6 0,5 0,5 a subir, como esperado.
Os Certificados de Aforro serão mais
2 anos 0,6 1 1 0,5 0,5
beneficiados, devido ao aumento da
3 anos 0,7 1,3 1,3 0,5 0,6 Euribor a três meses. Como referimos,
4 anos 0,7 1,5 1,5 0,6 0,7 podem garantir um rendimento líquido
anual igual ou superior a 2%, para
5 anos 0,7 1,7 1,7 0,6 0,8
prazos de investimento superiores a
6 anos 0,7 1,9 2 0,7 0,8 seis anos. Quanto aos Certificados do
7 anos 0,8 2 2,2 0,7 0,9 Tesouro Poupança Valor, não esperamos
um rendimento anual superior a 0,9%
8 anos 0,9 2,1 2,3 – –
líquidos. Como tal, os Certificados de
9 anos 0,9 2,2 2,4 – – Aforro deverão reinar. ¬
10 anos 0,9 2,2 2,5 – –
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  15

 CAPA

A ARTE DE (BEM) RECLAMAR

Protestar contra as grandes empresas pode parecer uma luta
de David contra Golias, e o setor financeiro não é exceção. Mas, se for
lesado, não está sozinho. Pode contar com o nosso apoio e recorrer
a vários aliados. A probabilidade de sucesso é elevada

334
291 reclamações de produtos
e serviços financeiros em 2021
reclamações sobre
seguros de investimento 84
processadas reclamações sobre
na ASF em 2021 depósitos a prazo recebidas
pelo Banco de Portugal

<10
Os bancos online
registaram poucas
55% reclamações
na CMVM
das queixas
não estavam
fundamentadas,
considerou a CMVM
V
asco Santos (nome fictício
RECLAMAÇÕES
para proteção de identidade)
solicitou, em setembro de 2021,
o reembolso do seu fundo PPR DE QUE SE QUEIXAM OS INVESTIDORES
ao Banco Invest, ao abrigo do regime As ações são o ativo que suscita mais reclamações, e a execução de ordens, ou seja,
excecional e temporário aprovado a forma como foram realizadas as compras e vendas ordenadas pelo cliente, é a temática
pelo Governo, em 2020, para suprir mais frequente. A volatilidade dos mercados em 2021, e ainda mais em 2020, contribuiu
dificuldades financeiras decorrentes da para as disputas neste âmbito. De referir também as reclamações quanto a obrigações,
pandemia. que em, muitos casos, estão relacionadas com custos que deixam os investidores
Com o argumento de que cessara, em com um rendimento negativo.
agosto, o apoio financeiro da Segurança
Social de que o cliente beneficiava,
condição essencial para usufruir do
resgate antecipado sem penalizações, Outros
entendia o banco, este recusou o 18%
resgate. Vasco solicitou então apoio ao Ações
nosso departamento jurídico. Obrigações 45%
Após contactarmos o Banco Invest, estruturadas
a situação ficou desbloqueada, 2%
e o nosso subscritor pôde resgatar Instrumentos
o seu PPR até ao limite mensal do derivados (CFD,
indexante dos apoios sociais (438,81 warrants, etc.)
5%
euros), como definia a lei. De facto,
Vasco reclamava com legitimidade Obrigações
o resgate do PPR, dado a lei não exigir 10%
cumulativamente, a atribuição do
apoio. RECLAMAÇÕES
Esta é apenas mais uma queixa
que se poderia somar às reclamações
Fundos de
investimento
POR INSTRUMENTO
dos investidores, que a CMVM divulgou 20%
recentemente sobre a sua atividade
de supervisão, em 2021. A partir
destes dados – alguns dos quais muito
interessantes –, traçámos um retrato
do mercado, para os investidores Outros
15%
saberem com o que contam e o que Execução
devem fazer em caso de diferendo Subscrição não de ordens
com uma instituição financeira. autorizada 31%
1%
Reclamações descem
Custódia e
com pandemia pagamentos
O ano passado, condicionado ainda de juros e
pela pandemia, foi relativamente dividendos
calmo para o regulador da bolsa, com 8%
“apenas” 334 reclamações recebidas
de consumidores de produtos e
serviços financeiros. Uma diminuição
de 21% face a 2020, ano em que Comissões
e cláusulas
RECLAMAÇÕES
ocorreram períodos de grande
volatilidade nos mercados acionistas.
contratuais POR ASSUNTO
23%
Não surpreende que as ações tenham Qualidade e adequação
da informação prestada
sido o instrumento financeiro 22%
que originou mais reclamações.
Por comparação, o Banco de Portugal
recebeu apenas 84 reclamações
sobre depósitos a prazo e

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  17

 contas-poupança. Este número
incluiu todos os problemas com as
contas de depósito à ordem, e não
investimentos propriamente ditos.
No ano passado, a ASF fechou 291
reclamações sobre PPR, seguros de
capitalização e seguros ligados a fundos
de investimento (respetivamente, 207,
70 e 14), que representam 4,2% do total
de reclamações concluídas por este
regulador.
Instituições financeiras menos
bem comportadas
Uma boa notícia para os investidores:
em 2021, todas as reclamações que a
CMVM considerou fundamentadas
foram atendidas pelas entidades
financeiras. A notícia menos boa:
a CMVM apenas considerou que o
reclamante tinha razão em um terço
dos casos. Segundo o supervisor,
em mais de metade das situações, a
reclamação não estava fundamentada
(55 por cento).
Como referimos, as ações são o
tópico mais frequente das queixas,
como se constata na página anterior.
Sem surpresa, os principais bancos
de retalho, que têm uma grande base
de clientes, foram as instituições
financeiras mais contestadas,
com o Santander e a Caixa Geral
A maior parte das instituições
financeiras, quando
confrontadas pela autoridade
supervisora, respondem
favoravelmente ao cliente
de Depósitos a liderarem o pódio.
Com a exceção do ActivoBank, os
bancos online, mais orientados para
o investimento, registaram números
residuais (menos de dez reclamações).
O que os reguladores não fazem
Pode ser uma surpresa para muitos
investidores, mas os reguladores do
setor financeiro não podem “obrigar”
uma entidade reclamada a atender
a queixa do investidor, nem determinar
o pagamento de uma indemnização
pelos danos sofridos, mesmo que
conclua que o consumidor tem a razão
do seu lado. Não significa que recorrer
ao regulador seja inútil. Pelo contrário.
A maior parte das instituições
financeiras, quando confrontadas
com um parecer fundamentado da
autoridade supervisora que dá razão
ao cliente, acabam por render-se às
evidências e responder favoravelmente

ALERTA

O CURIOSO CASO DE CHIPRE

Em setembro de 2021, a nossa associada F.M. foi aliciada
para investir com a empresa ROInvesting, nome comercial
usado pela Royal Forex. Para abrir conta, fez um depósito
de 250 euros. Contudo, as coisas correram logo mal.
Antes de começar sequer a investir, foi contactada de novo
para depositar mais dinheiro na conta, condição para operar
no mercado.
Perante a desconfiança da consumidora, descontente
com o atendimento, a ROInvesting respondeu que era
preferível fechar a conta, se não pretendia reforçá-la.
Assim fez F.M., exigindo a devolução do montante depositado.
Porque este reembolso tardava, contactou-nos para dar
conta da situação.
Felizmente, a nossa subscritora recusou-se a entregar valores
significativos e a empresa devolveu o montante em causa,
mas acreditamos ter sido uma exceção.
Esta situação não é uma surpresa para nós, pois desde 2020
que recebemos várias reclamações sobre marcas ligadas
à Royal Forex (e outras empresas semelhantes), com práticas
comerciais extremamente agressivas, em que o investidor
é levado a negociar e a assumir riscos em excesso,
com consequências dramáticas para o seu património.
Entre os alertas que a CMVM deixou aos investidores, estão
os diversos pedidos de informações e reclamações sobre
empresas sediadas no estrangeiro, mas autorizadas a operar
em Portugal, em particular instituições de Chipre. A Royal
Forex Limited é uma delas.
Tratando-se de uma empresa supervisionada por outro
regulador, a CMVM fez o que podia: levou a congénere
cipriota a dar um “puxão de orelhas” às suas supervisionadas,
emitindo uma circular com as regras que deviam ser
cumpridas para vender produtos complexos em Portugal.
Perante uma estratégia agressiva que dura há anos, temos,
no entanto, dúvidas de que tal seja suficiente para mudar
estes comportamentos. Deve ser o investidor a precaver-se,
evitando negociar com empresas sobre as quais dispõe
de pouca informação. Em caso de dúvida, pode sempre
pegar no telefone, ou ir ao nosso portal, e contactar-nos.

18  Proteste Investe 1181 maio 2022 www.deco.proteste.pt/investe


às pretensões de uma forma ou de
outra. Se não o fizerem, o processo de
supervisão pode prosseguir e resultar,
com grande probabilidade, em coimas
aplicadas pelo regulador.
Os dados da CMVM sublinham dois
factos que os consumidores de serviços
financeiros devem ter bem presentes.
Em primeiro lugar, alguns problemas
devem ser prevenidos, sob pena de não
poderem ser remediados. Em segundo,
é importante fundamentar
adequadamente as reclamações.
Há três décadas a dar apoio
Quando se veem num confronto
com uma instituição financeira
e precisam de um aliado, os
consumidores podem recorrer à
DECO PROTESTE, como fazem há
mais de 30 anos. A nossa atuação é
complementar à do regulador, pois
oferecemos apoio que vai muito além
da competência da CMVM e do Banco
de Portugal: se surgir um diferendo,
rapidamente podemos esclarecer o
enquadramento legal e dizer se vale
a pena prosseguir com a reclamação.
Se for o caso, podemos tentar
mediar extrajudicialmente a situação
com a empresa visada. Na hipótese de
a empresa continuar a não atender a
reclamação e ser necessário recorrer
a vias de resolução de litígios, o caso
pode ser encaminhado para um centro
de arbitragem.
Para prevenir problemas que, numa
fase posterior, podem já não ter
solução, conte com a ajuda dos nossos
especialistas. Esclarecem dúvidas
sobre características e potenciais
riscos de aplicações e serviços
financeiros.
Ao contactar-nos, está a ajudar-nos
a ajudar outros consumidores.
Os alertas que recebemos são o ponto
de partida de muitas das nossas ações,
desde a simples escolha de temáticas
a abordar nas nossas páginas até às
campanhas públicas de reivindicação.
Conheça os seus direitos como
investidor, e não baixe os braços em
caso de diferendo com uma instituição
financeira. Terá o nosso apoio. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO André Gouveia
www.deco.proteste.pt/investe
5 DICAS PARA RECLAMAR COM ÊXITO
Para ser bem-sucedido, não basta ter a
razão do seu lado. Veja o que tem de fazer,
para levar a bom porto a sua reclamação.
Livro de reclamações eletrónico
A maioria das queixas recebidas pela CMVM (64%) teve origem no livro de
reclamações. A versão eletrónica deste livro, desde que a entidade a ele tenha aderido, tem
vantagens e é o meio que deve privilegiar. Para começar, pode aceder online, sem sair de casa.
Depois, pode redigir com calma e rever o que escreveu, anexando a documentação necessária.
Tanto a entidade reclamada, como a autoridade reguladora, recebem a queixa.
Livro de reclamações físico não é a solução ideal
Muitas queixas chegam aos reguladores através do livro de reclamações em papel.
O Banco de Portugal, por exemplo, recebeu 28,5% das reclamações por esta via, em 2020.
Com espaço limitado para escrever à mão, muitas vezes com alguma tensão entre clientes
e representantes da entidade financeira, não são propícios a uma boa reclamação. Se a versão
eletrónica não estiver disponível, o melhor é reclamar por escrito para a entidade visada.
Caso não obtenha resposta favorável, envie a queixa para o regulador adequado. Em regra,
os produtos de investimento são da alçada da CMVM, os seguros são supervisionados pela
Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, e os depósitos são com o Banco
de Portugal. Na dúvida, consulte o Documento de Informação Fundamental da aplicação
financeira, que identifica a autoridade de supervisão relevante.
Documentação
Algumas reclamações estão condenadas ao insucesso, porque não transmitem
adequadamente o sucedido, ou falta documentação essencial. Junte cartas, e-mails ou outra
informação pertinente trocada ou recebida da entidade com a qual tem o diferendo.
Direto, sucinto e objetivo
Dedique algum tempo para redigir com calma, utilizando linguagem simples e
objetiva. Foque-se nas questões essenciais, elencando os factos por ordem cronológica.
Evite ceder às emoções e criar “ruído”. Por exemplo, pode ser tentador aproveitar a ocasião
para denunciar eventuais comportamentos pouco corretos de funcionários da instituição
visada, mas isso pouco ou nada contribui para resolver as questões em disputa, e só complica
a exposição.
Contactos úteis
Pode contactar a CMVM através de e-mail (cmvm@cmvm.pt) e, após o envio da
queixa, consultar o processo mediante a introdução de um código pessoal que lhe é enviado
aquando da admissão da reclamação. Quanto ao Banco de Portugal, aceda ao site através
de https://clientebancario.bportugal.pt/formulario-nova-reclamacao. A ASF está disponível
em www.asf.com.pt/isp/PortalConsumidor/Reclamacoes.
Enquanto assinante da PROTESTE INVESTE dispõe de três linhas
telefónicas para as suas questões: aplicações financeiras e investimento
(21 841 87 89), Guia Fiscal (21 841 87 43) e crédito (21 841 87 90).
Não hesite em pedir ajuda!
Proteste Investe 1181 maio 2022  19
 DEPÓSITOS

VALE A PENA ARRISCAR NO DÓLAR?

Os depósitos em dólares oferecem taxas brutas até 2% e são uma alternativa
aos depósitos nacionais. Mas, se esta moeda desvalorizar face ao euro, corre o risco
de receber um montante mais baixo do que aplicou

C
omo o próprio nome indica, os
depósitos a prazo em moeda
estrangeira consistem em fazer a
aplicação não em euros, mas numa
outra divisa. Os investidores têm a
expectativa de obter mais rendimento,
quer pelas taxas de juro mais altas,
quer pela potencial valorização da
moeda escolhida para fazer o depósito.
É precisamente por causa deste último
aspeto, o chamado risco cambial, de
que falaremos adiante, que é preciso
muita atenção na hora de escolher
uma aplicação desta natureza.
Os depósitos de moeda estrangeira mais
comuns são em dólares americanos
(USD), devido a um leque de razões.
Por norma, o dólar é considerado
Consulte variações e previsões
para as várias moedas em
www.deco.proteste.pt/investe/
investimentos/mercados-
moedas
uma moeda-refúgio em momentos
de instabilidade e, neste momento,
está bastante valorizado face ao euro.
Os depósitos em dólares também
apresentam taxas de juro mais
sedutoras, um contraste com o cenário
das taxas zero (ou quase) dos depósitos
em euros. Por último, podem fazer
sentido para quem viaja regularmente
ou faz negócios no estrangeiro e
necessita de ter liquidez nessa moeda.
Mas será um bom investimento?
Atenção ao risco cambial
Nos depósitos a prazo tradicionais,
em euros, a principal preocupação de

20  Proteste Investe 1181 maio 2022 www.deco.proteste.pt/investe

quem investe é apenas a taxa de juro e o
seu modo de pagamento (capitalização
ou pagamento). Nos depósitos em
moeda estrangeira, há mais um fator
do qual depende o rendimento:
o mercado cambial. A cotação das
moedas tem alguma volatilidade e
imprevisibilidade, o que pode trazer
dissabores.
A evolução cambial é, por isso, um
elemento crucial ao qual deve ficar
atento, se optar por investir em moeda
estrangeira.
Boas perspetivas para o futuro são
sinónimo de maior rendimento no
final do prazo do depósito. Significa
que a moeda tem hipótese de se
valorizar face ao euro. Mas, como não
há ciências exatas, o inverso também
pode acontecer: a moeda escolhida
desvalorizar. Neste caso, perderá
dinheiro. É o chamado risco cambial.
Euro mais fraco
No mercado cambial, o euro está a ser
negociado a menos de 1,06 USD, o valor
mais baixo dos últimos cinco anos.
São duas as principais razões para esta
desvalorização da nossa moeda em
relação ao dólar. Em primeiro lugar, a
política monetária adotada por cada
um dos lados do Atlântico não podia ser
mais diferente. O diferencial das taxas
de juro que separa os Estados Unidos da

DEPÓSITOS EM DÓLARES AMERICANOS (USD)

A maioria da oferta dos bancos é para prazos curtos, até um ano.

TANL (%)
MONTANTE
BANCO NOME DA CONTA
MÍNIMO (€)
3 MESES 6 MESES 1 ANO 2 ANOS 3 ANOS

Banco BPI Depósito Especial 1 Ano, 2 e 3 Anos 250 - - 1,2 1,5 1,5

Montepio Poupança Especial Moeda Estrangeira 6500 0,4 0,6 1,1 - -

Finantia DP Finantia Dólares USD 50 000 - - 0,9 1 1,1

Banco BNI Depósito em USD – Não Mobilizável 5000 0,5 0,6 0,9 1 -

Montepio Prazo a Dias em Moeda Estrangeira 650 0,3 0,6 0,9 - -

Banco BPI DP BPI e BPI Private Banking 250 0,3 0,75 0,75 - -

Banco BNI Depósito em USD - Mobilizável 5000 0,4 0,6 0,7 0,8 -

Novo Banco DP Normal (moeda USD) n.d. 0,2 0,3 0,5 - -

Atlantico Europa DP Atlantico 500 0,2 0,3 0,3 0,4 -

Atlantico Europa DP Rendimento Mensal 10 000 - - 0,3 - -

Atlantico Europa DP Juro Sem. (720 dias) - Não Mobilizável 500 - - - 0,4 -

Banco Invest Invest Depósito USD 2000 0,2 0,2 0,2 - -

EuroBic DP Tradicional em USD 5000 0,072 0,072 0,13 negociada

Best Bank DP em Moeda Estrangeira 500 0,072 0,072 0,1 - -

Santander Depósito A Prazo Especial ME n.d. - - 0,072 - -

Bankinter Depósito Especial Moeda Estrangeira 10 000 0 0,036 0,036 - -

Santander Depósito a Prazo Tradicional ME n.d. 0,036 0,036 0,036 0,036 0,036

Abanca DP Multiprazo Moeda Estrangeira 5000 0,0072 0,0072 0,0072 0,0072 0,0072

Millennium bcp Depósito a Prazo Especial 5000 0 0 0 0 0

BBVA DP ME/DP Moeda Plus BBVA 10 000 0 0 0 0 0

Banco Carregosa DP Banco Carregosa USD 25 000 0 0 0 - -

TAEL: taxa anual nominal líquida; n.d.: informação não disponível. Informação recolhida nos preçários dos bancos a 29 de abril de 2022.

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  21


FUNDO DE GARANTIA
PROTEÇÃO
DO INVESTIDOR
Os depósitos expressos em moeda
estrangeira estão abrangidos pelo
Fundo de Garantia de Depósitos,
mas, para efeitos de reembolso,
são convertidos em euros na
data em que ficam indisponíveis
devido a problemas com a
instituição financeira. Assim,
se a moeda tiver depreciado
face ao euro, irá resgatar menos
do que aplicou inicialmente.
Por isso, o capital, em euros,
não está garantido. Acrescem
comissões pela operação de
câmbio e, por regra, o banco
vende a moeda a um preço
mais elevado do que compra.
Ou seja, o cliente pode perder
essa diferença.
zona do euro continua a aumentar,
especialmente nos prazos mais curtos.
Isso torna os títulos norte-americanos
mais atraentes, quando comparados
com os da zona euro. Além disso, a
guerra na Ucrânia afeta, principalmente,
o Velho Continente e, como resultado, as
perspetivas económicas para 2022-2023
são muito mais favoráveis no país
liderado por Joe Biden.
A relativa fraqueza do euro está longe
de ser um caso isolado. Nas últimas
semanas, o iene japonês, o yuan chinês
ou mesmo a libra inglesa registaram os
níveis mais baixos em relação ao dólar
americano.
O Banco do Japão mantém a
promessa de uma política monetária
ultraexpansionista, e faz de tudo para
ter as suas taxas de juro próximas de
zero por cento. Em consequência, o iene
caiu para o valor mais baixo em quase
duas décadas. Na China, o yuan mais
fraco é justificado, principalmente, pela
ameaça que a pandemia representa para
a economia. Ao adotar uma política de
covid zero, as autoridades impuseram
um confinamento estrito na metrópole
de Xangai, e equacionam fazer o mesmo
22  Proteste Investe 1181 maio 2022
em Pequim, o que está a prejudicar
seriamente as cadeias produtivas, já de
si bastante enfraquecidas. Estas medidas
irão afetar, certamente, as exportações, e
terão impacto na economia, que enfrenta
uma forte desaceleração.
No Reino Unido, a libra está no seu nível
mais baixo desde há quase dois anos, e os
consumidores sofrem uma tripla ameaça
ao seu poder de compra. Para começar,
a inflação alta, associada ao aumento
generalizado dos preços, foi agravada
pela imposição de novas barreiras
ao comércio após o Brexit. Acresce o
aumento nas principais taxas de juros do
Banco de Inglaterra, que torna o crédito
mais caro e aumenta o peso da dívida das
famílias, já muito endividadas. Por fim,
a subida da carga tributária, para fazer
face aos gastos elevados originados pela
pandemia. Todos esses fatores apontam
para um ano difícil.
Em termos comparativos, esta onda
de preocupações de vários tipos, em
diferentes pontos do globo, torna a
situação nos Estados Unidos bastante
mais positiva. A inflação é alta, mas o
mercado de trabalho está em boa forma
e os salários estão subir a um bom ritmo.
O país está próximo da autossuficiência
energética, e é pouco impactado
pelo conflito na Ucrânia. Além disso, a
atividade económica após a pandemia
está a recuperar. O dólar americano é,
portanto, favorecido pelos investidores.
Neste momento, as perspetivas a curto
prazo são mais favoráveis para a moeda
norte-americana.
O que oferecem os bancos
Por regra, os depósitos em moeda
estrangeira têm prazos curtos. Como
existe uma vasta oferta em cada banco,
no quadro da página anterior, ordenámos
as taxas líquidas para depósitos em
dólares de forma decrescente, pelo prazo
de um ano. De facto, a maior parte dos
bancos disponibiliza estes depósitos até
12 meses, poucos até três anos.
É curioso que seja o Banco BPI a oferecer
as melhores taxas para depósitos em
dólar americano (1,2 a 1,5% líquidos, de
um a três anos), dado que, nos depósitos
em euros, oferece zero por cento.
Segue-se o Montepio, o Finantia e o
Banco BNI, com taxas até 1,1% líquidos.
1,06 dólares
é quanto vale um euro, o valor
mais baixo dos últimos cinco
anos
Será o momento ideal?
Perante as taxas muito baixas que se
praticam nos depósitos em euros e o
contexto de grande incerteza na Europa,
pode questionar se é o momento certo
para fazer um depósito em dólares, de
forma a aproveitar as taxas mais elevadas
e os melhores indicadores da economia
americana – sem esquecer de que é
uma moeda de refúgio, como referimos.
Atualmente, o dólar americano está
um pouco caro em relação ao euro,
e é provável que continue assim,
enquanto a atual situação económica se
mantiver. Razão pela qual continuamos
a recomendar o investimento nos
mercados de ações e nos títulos
obrigacionistas dos EUA, por exemplo,
através de fundos de investimento.
Mas, estando o dólar sobrevalorizado,
as expectativas são de descida a um ano,
e forte queda a longo prazo.
Apesar de o dólar ter apreciado, no
último ano, mais de 14% face ao euro,
e das taxas mais elevadas, é arriscado
apostar nestes depósitos a curto prazo
(até um ano): não há garantias de que
vá efetivamente ganhar. Assim, se o
seu objetivo é ter o capital garantido,
afaste-se dos depósitos em moeda
estrangeira. Como referimos, a previsão,
no prazo de um ano, para o dólar face ao
euro, é de depreciação. Assim, corre o
risco de perder parte do valor que aplicar
(em euros). A volatilidade é elevada,
ainda mais neste contexto de guerra
e de grande incerteza. Em suma, não
recomendamos depósitos em dólares.
Todavia, a longo prazo, pode investir
através dos fundos de investimento
em ações americanas e obrigações
em dólares, sempre numa perspetiva
de uma carteira diversificada. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro
www.deco.proteste.pt/investe
 SALÁRIOS

QUANTO GANHAM OS CEO

Em 2021, a remuneração média dos presidentes das principais empresas nacionais foi
32 vezes superior à dos restantes trabalhadores. A disparidade salarial tem aumentado.
É preciso reforçar a legislação e dar aos acionistas o efetivo poder de decisão

P
edro Soares dos Santos, presidente
da Comissão Executiva (CEO)
da Jerónimo Martins, foi o gestor
mais bem pago em Portugal,
no ano passado. Auferiu 3,075 milhões
de euros, um aumento de 19,3% face ao
ano precedente, e ainda mais substancial
em relação a 2019, data do nosso último
estudo, em que ganhou 1,903 milhões.
Além daquele valor, o CEO da
distribuidora que tem o Pingo Doce
recebeu 9,3 milhões a título de uma
contribuição extraordinária para o plano
de pensões, montante que não incluímos
nas contas deste estudo.
A Jerónimo Martins é a empresa nacional
com maior disparidade salarial entre o
seu presidente e a média dos restantes
trabalhadores (262,6 vezes) – uma
diferença abismal, justificada talvez
por operar num setor que não exige
elevadas qualificações à maioria dos seus
colaboradores, e por estar presente na
Polónia, responsável por mais de dois
terços das suas receitas, e na Colômbia,
país onde há salários mais baixos.
No ranking da disparidade, seguem-se,
ainda que a larga distância, a Sonae,
em que a CEO Cláudia Azevedo aufere
uma remuneração 77,4 vezes superior.
Na terceira posição, está a Mota-Engil,
dirigida por Gonçalo Moura Martins
(73,3 vezes).
Estas duas empresas operam

Desde 2016 que o fosso

entre os CEO e os restantes
trabalhadores se agravou
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ProtesteInveste
Investe1181
xxxxmaio
mês2022
2021  23
 17
EMPRESAS À LUPA
262,6
X
SALÁRO MÉDIO
77,4
X
SALÁRO MÉDIO

3 075 000 € 1 607 600 €

Analisámos a remuneração dos presidentes Pedro Soares dos Santos Cláudia Azevedo
da comissão executiva (CEO) de 14 das JERÓNIMO MARTINS SONAE
15 empresas do índice PSI (excluímos a
GreenVolt, por ser uma empresa muito
recente e não ter dados suficientemente
consistentes para o estudo) e outras três 73,3 60,2 46,4
empresas seguidas pela PROTESTE INVESTE – X X X

Cofina, Impresa e Novabase –, face à média SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO
dos restantes trabalhadores da empresa.
Para o efeito, utilizámos a informação
848 743 € 1 695 300 € 1 854 067 €
Gonçalo Moura Martins João Nuno de Castello Branco Miguel Stilwell
disponível nos relatórios e contas de 2021. MOTA-ENGIL SEMAPA EDP

RENDIMENTO

VALOR PARA 45,1

X
39,8
X
34,3
X

OS ACIONISTAS
SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO

1 508 316 € 972 113 € 743 147 €

Entre 2017 e 2021, o valor criado para os António Redondo Miguel Almeida João Bento
acionistas (em %), medido pelo rendimento NAVIGATOR NOS CTT
da ação (incluindo dividendos), nem sempre
foi positivo. Ainda assim, a remuneração
dos CEO de BCP, CTT, Galp, Mota-Engil e
NOS superou em mais de 20 vezes a média
32,5 27,1 20,2
dos restantes trabalhadores da empresa. X X X
SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO
EDP Renováveis 275,6
Novabase 234,5
1 236 420 € 735 195 € 800 000 €
Andy Brown Miguel Maya José Soares de Pina
EDP 122,4 GALP ENERGIA BCP ALTRI
Altri 104,8
Jerónimo Martins 58,3
Corticeira Amorim 49,6
Sonae 48,9
17,5 15,1 10,6
X X X

Navigator 47,9 SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO

REN 39,4 636 849 € 832 340 € 400 000 €

Impresa 28,5 Luís Salvado Rodrigo Costa Pedro Balsemão
NOVABASE REN IMPRESA
Semapa 0,5
CTT -7,1
Cofina -10
Mota-Engil -13,7 9,5 5,6 2,9
X X X
NOS -16,5 SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO SALÁRO MÉDIO
BCP -23
239 809 € 384 000 € 80 000 €
Galp Energia -25,2 António Rios de Amorim Miguel Stilwell Paulo Fernandes
CORTICEIRA AMORIM EDP RENOVÁVEIS COFINA

24  Proteste Investe 1181 maio 2022 www.deco.proteste.pt/investe


também em zonas geográficas pouco
desenvolvidas, como África e América
Latina (no caso da construtora), e
em setores com mão-de-obra pouco
qualificada, o que condiciona os cálculos.
Mas o que dizer de outros casos, em que
tais condições não se verificam, e exibem,
ainda assim, uma elevada disparidade?
São exemplo a Semapa, cujo CEO,
João Nuno de Castello Branco, aufere
60,2 vezes mais do que um trabalhador
médio da empresa, e da EDP, com Miguel
Stilwell a ganhar mais 46,4 vezes.
De facto, em 11 das 17 empresas
analisadas (página ao lado), este rácio
é superior a 20.
Na direção errada
A evolução dos salários, nos últimos
anos, revela que o fosso entre os CEO
e a média dos restantes trabalhadores
das empresa tem aumentado, em vez
de diminuir. Para o conjunto das 17
empresas, o rácio passou, entre 2020 e
2021, de 29,6 para 32,2. Na base desta
subida está, sobretudo, o aumento
da remuneração variável dos CEO
(+27,8%), nomeadamente na Mota-Engil,
Navigator, BCP, Impresa, EDP, Sonae
e Semapa, que pode ser parcialmente
explicado pela melhoria dos resultados
das empresas, mas não na sua totalidade.
Em comparação, o vencimento médio
dos restantes trabalhadores aumentou,
no mesmo período, apenas 2,7 por cento.
Esta tendência não é de agora.
Na verdade, o fosso salarial tem vindo
progressivamente a aumentar, nos
últimos cinco anos, com destaque para
Jerónimo Martins, Mota-Engil, BCP, Altri,
Sonae e Impresa. Em sentido contrário,
houve empresas, como a Galp Energia e
os CTT, que reduziram a diferença, graças
sobretudo à redução da componente
variável da remuneração do CEO.
Dar poder aos acionistas
Num mercado livre, como o nosso,
é aceitável e até desejável que
empregadores e empregados façam
acordos, e que os profissionais
mais qualificados e com maiores
responsabilidades sejam compensados.
Todavia, não é correto que as
remunerações, nas sociedades cotadas
e para os cargos em que não existem
www.deco.proteste.pt/investe
SALÁRIOS
acordos de trabalho, como é o caso dos dos membros do conselho de
administradores, sejam definidas sem administração, ao contrário do que
que haja um verdadeiro empregador, defende a PROTESTE INVESTE.
neste caso os acionistas, a definir valores, Se os salários dos administradores não
ou, em última análise, a estabelecer forem controlados e decididos pelos
limites para os vencimentos. acionistas, podem sentir-se tentados
Em teoria, a política de remunerações a serem menos rigorosos e a tomarem
necessita do voto vinculativo dos decisões menos consentâneas com os
acionistas. No entanto, a declaração interesses da empresa a longo prazo,
sobre a política de remunerações é, na prosseguindo objetivos de mais curto
prática e na maioria dos casos, muita prazo que maximizem os bónus. ¬
vaga. Não permite que seja votada, de
forma individualizada, a remuneração DOSSIÊ TÉCNICO Rui Ribeiro
PROTESTE INVESTE EXIGE
REFORÇO DA LEGISLAÇÃO
A disparidade salarial tem aumentado, o que reforça a necessidade de alterar a
legislação. A primeira mudança que se impõe, num âmbito mais global, é tornar
obrigatórias (pelo menos, parte delas) as recomendações do Código de Governo
das Sociedades, do Instituto Português de Corporate Governance. Citemos algumas:
. Existência de uma comissão de vencimentos, com total independência;
. Definição de limites máximos para a remuneração individual e agregada dos órgãos
sociais;
. Remuneração dos administradores parcialmente variável e baseada no
desempenho sustentado da sociedade, com objetivos claros de criação de valor
a longo prazo para os acionistas, e sem estimular a assunção de riscos excessivos;
. Diferimento, por um período não inferior a três anos, de uma parte significativa
da remuneração variável.
Estes são aspetos que deveriam ter força de lei, independentemente de alguns
já serem adotados por várias empresas. Não é aceitável, por exemplo, que se
mantenham os prémios, quando os resultados das empresas são negativos.
Como o próprio nome indica, deveriam premiar algo.
É também desejável que a remuneração de cada administrador seja objeto de
votação anual em assembleia geral de acionistas. Não basta submeter à aprovação
uma declaração sobre a política de remunerações dos membros dos órgãos sociais.
Muitas vezes, é demasiado vaga e até confusa, não permitindo que os acionistas,
que são os donos efetivos da empresa, votem de forma clara sobre quanto cada
administrador irá auferir. O que aconteceu na Stellantis (grupo que resultou da fusão
da Fiat Chrysler com a Peugeot Citroën) é, neste caso, um bom exemplo: os acionistas
reprovaram a proposta de remuneração do CEO, Carlos Tavares. Apesar da votação ter
caráter apenas consultivo, a rejeição deverá obrigar a uma reformulação da proposta.
Outro aspeto importante é fixar um máximo para o rácio entre a remuneração do
presidente da comissão executiva e a média dos restantes trabalhadores. Ainda que
possa variar em função do setor de atividade, é necessário haver limites, para evitar
abusos. É desejável que este rácio seja público, divulgado pelas empresas.
Proteste Investe 1181 maio 2022  25
 REFORMA
TURBULÊNCIA VARRE FUNDOS PPR
O ano não está a correr de feição para os fundos PPR.
Depois de um mês em que puderam respirar, voltaram
a afundar em abril. Em média, perderam 2 por cento
N
os primeiros dois meses do ano,
os fundos PPR mergulharam,
mas em março conseguiram
vir à tona da água e respirar.
Todavia, em abril, voltaram a imergir,
com o acentuar da guerra na Ucrânia.
A instabilidade dos mercados e a subida
dos preços têm contagiado diferentes
partes do globo, em particular a Europa.
Razões para uma pressão cada vez
maior sobre a subida das taxas de juro,
o principal instrumento para controlar
a inflação. As bolsas vão reagindo ao
sabor dos eventos. O aumento do preço
da energia e das matérias-primas,
assim como as sanções económicas
à Rússia, afetaram os mercados de
obrigações e de ações, que também
registaram quedas. No caso das bolsas,
foram significativas. Em consequência,
o comportamento dos 62 fundos
PPR analisados foi idêntico: em abril,
todos perderam, dos mais defensivos
aos mais agressivos.
Como vem sendo hábito, apresentamos
os fundos PPR em três categorias,
consoante a percentagem de
investimento em ações. Os fundos PPR
mais defensivos, que aplicam até 25%
em ações, perderam 1,6%, em média,
no último mês. Investem sobretudo
em obrigações, que foram penalizada,
devido à subida das taxas de juro.
No extremo oposto, estão os mais
agressivos, que investem mais de 50%
em ações, mas também perderam (2,7%,
em média). A categoria intermédia, que
aplica entre 25% e 50% em ações, caiu
2 por cento. O Optimize Capital Reforma
PPR/OICVM Agressivo, que tem menos
26  Proteste Investe 1181 maio 2022
de cinco anos, foi o mais penalizado
(-5,5 por cento). Do quadro ao lado,
constam só 38 fundos: os que têm um
histórico de, pelo menos, cinco anos.
Esqueça o pânico e aproveite
os “saldos”
Recomendados para quem está a mais de
dez anos da idade de reforma, os fundos
PPR são uma boa opção para multiplicar
a poupança a longo prazo, dado que o seu
potencial de rendimento é mais elevado
do que o dos seguros PPR, devido ao
investimento parcial em ações. Períodos
de turbulência podem acontecer, mas não
se assuste com o desempenho negativo
da generalidade dos fundos PPR. Como se
trata de um investimento de muito longo
prazo, geralmente de décadas, os ganhos
podem ser bastante superiores às perdas.
Estes momentos de queda podem, aliás,
ser aproveitados para subscrever ou
reforçar o fundo PPR que já tem, pois
permite adquirir mais unidades de
participação com um grande “desconto”.
Numa analogia: é como ir aos saldos.
No longo prazo, multiplicará as suas
poupanças.
Atualmente, temos duas Escolhas
Acertadas sob a forma de fundo: o
Alves Ribeiro PPR, que aplica cerca de
29% em ações e 53% em obrigações, e
rendeu 3,1% ao ano, nos últimos cinco
anos; e o NB PPR/OICVM, que valorizou
3,5%, no mesmo período. Apesar deste
produto ser um pouco menos agressivo,
por investir 20% em ações, teve um pior
desempenho em abril. Perdeu 4% devido
à queda do valor das obrigações.
No mês passado, destacaram-se, ainda
assim, três fundos PPR: BBVA Estratégia
Investimento PPR (4% ao ano, nos
últimos cinco anos), PPR SGF Poupança
Dinâmica (3,6%) e o PPR SGF Stoik
(3,3%), ficando os dois primeiros acima
das nossas recomendações. Veremos
se este desempenho se mantém nos
próximos meses. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro
www.deco.proteste.pt/investe
 F Escolha Acertada
COMISSÕES MÁXIMAS RENTABILIDADE
(%) ANUAL (%)
FUNDOS PPR LOCAL DE SUBSCRIÇÃO ABRIL
SUBSCRIÇÃO GES + DEP RESGATE 1 ANO 5 ANOS

ATÉ 25% EM AÇÕES

F NB PPR/OICVM Novo Banco, Best, ActivoBank, Invest 0 1,175 0 -4 -3,7 3,5
PPR Vintage (2) GNB, Best Bank 3,5 1,1 1,5 -1,3 -2,3 1,3
PPR 5 Estrelas Montepio, Futuro 0 1,85 2 -2,1 -5,2 0,7
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Moderado (3) Optimize, Best 0 1,35 0 -2 -4,6 0,5
PPR SGF Poupança Conservadora SGF 3 1,6 2 -0,5 1,1 0,3
PPR BiG Taxa Plus Banco BiG 0 1, 2 -3,3 -6,5 0,2
Bankinter 25 PPR/OICVM Bankinter 0 1,5 0 -3 -6,8 -0,2
BPI Reforma Investimento PPR/OICVM Banco BPI 0 1,5 0 -2,5 -5,8 -0,5
PPR Garantia de Futuro (2) Montepio, Futuro 0 1,4 2 -1,1 -3,8 -0,5
PPR SGF Poupança Garantida (2) SGF 1 1,6 3 -0,6 -0,3 -0,7
BPI Vida PPR Banco BPI 2 1,5 0 -1,5 -4,5 -0,9
PPR Praemium S Millennium bcp, CTT, Ageas Pensões 2 1,8 1 -0,7 -2,7 -0,9
BBVA Estratégia Capital PPR BBVA 5 4 5 -0,5 -3 -1,1
Santander Poupança Prudente FPR Santander 0 1,3 0 -2,7 -8,6 -1,1
Bankinter Obrigações PPR/OICVM Bankinter 0 1,4 0 -2,1 -6,8 -1,3
BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM Banco BPI 0 1 0 -2,4 -8,6 -1,9
Médias da categoria -1,6 -4,2 -0,2
ENTRE 25% E 50% EM AÇÕES
F Alves Ribeiro PPR (3) Banco Invest 0 1,5 1 -2,6 -3,2 3,1
CVI PPR BBVA 0 4 0 -1,4 -1,5 0,9
Bankinter 50 PPR/OICVM Bankinter 0 1,75 0 -3,7 -6,3 0,8
PPR SGF Poupança Equilibrada SGF 3 1,9 2 -0,6 1,4 0,7
Santander Poupança Valorização FPR Santander 0 1,63 0 -1,3 -3 0,5
PPR Geração Activa Montepio, Futuro 0 1,85 2 -2,4 -5,1 0,4
PPR BiG Acções Alpha Banco BiG 0 1 2 -2,8 -6,1 0,3
IMGA Poupança PPR/OICVM Millennium, ActivoBank, BIC, Credito Agrícola 0 1,1 0 -3 -5,9 0,1
PPR Praemium V Ações Ocidental, Millennium bcp, CTT 2 2,04 1 -2,2 -6,6 0,1
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Equilibrado (3) Optimize, Best 0 1,925 0 -2,5 -5,5 -0,1
PPR Europa Millennium bcp, Ocidental 3 1,9 2 -1,9 -5,9 -0,1
Vanguarda PPR Millennium bcp, Ageas 3 1,9 2 -1,8 -5,7 -0,6
PPR BNU Vanguarda CDG 2 1,8 0,7 -2 -7,5 -0,6
BBVA Estratégia Acumulação PPR BBVA 5 4 5 -1,4 -2,5 -1
Médias da categoria -2 -4,1 0,3
MAIS DE 50% EM AÇÕES
BBVA Estratégia Investimento PPR BBVA 5 4 5 -1,2 3,7 4
PPR SGF Poupança Dinâmica SGF 2 2,2 1 -0,7 3,5 3,6
PPR SGF Stoik SGF 2 1,1 1 -3,7 -2,6 3,3
PPR SGF Poupança Ativa SGF 3 2,2 2 -0,5 3 2
Bankinter 75 PPR/OICVM Bankinter 0 2 0 -4,5 -6,7 2
Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Ativo (3) Optimize, Best 0 1,925 0 -3,4 -4,9 1,3
IMGA Investimento PPR/OICVM Millennium, ActivoBank, BIC 0 1,5 0 -2,6 -2,9 1,2
BPI Reforma Valorização PPR/OICVM Banco BPI 0 2 0 -2,9 -3,7 0,7
Médias da categoria -2,7 -2 -2,3
Médias de todos os fundos PPR -2 -3,6 0,5%
(1) Até 29 de abril de 2022. (2) Fundo com capital garantido. (3) Pode subscrever este produto com condições especiais. Consulte as nossas parcerias
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 PLANOS
POUPANÇA

COMO RESGATAR UM PPR

Há várias formas de resgate e taxas de imposto diferentes,

consoante o prazo do plano de poupança. Em caso
de levantamento antecipado e fora das condições da lei,
pode sofrer penalizações. Esclareça as dúvidas

É
frequente surgirem dúvidas
sobre como resgatar planos
de poupança-reforma, um
dos produtos mais populares
em Portugal, por constituírem um
complemento à pensão de reforma
e proporcionarem benefícios fiscais.
Contudo, os PPR são produtos com
pouca liquidez, pois o resgate está
condicionado a algumas regras inerentes
à legislação destes produtos. Se não as
acatar, pode sofrer fortes penalizações.
A única forma de escapar é não incluir as
deduções das entregas na sua declaração
de IRS (terá mesmo de as retirar no
caso do preenchimento automático).
Ou seja, não será penalizado por resgate
antecipado, podendo pedir o reembolso
do seu PPR quando entender. Todavia,
não beneficiará das deduções no IRS. Na
essência, os PPR são produtos destinados
a uma poupança de longo prazo, e não
para fazer face a emergências.
Em que situações posso resgatar
o meu PPR?
Se tem mais de 60 anos e um PPR
há mais de cinco, pode resgatar sem
penalizações. A lei prevê ainda um
conjunto de situações de resgate:
em caso de reforma por velhice ou,
independentemente da idade, se
o dinheiro for usado para pagar as
prestações do crédito à habitação sobre
um imóvel destinado a habitação própria
e permanente. Mas não para amortizá-lo
antecipadamente.
Há também algumas situações
extraordinárias em que pode resgatar o
PPR sem penalizações: desemprego de
longa duração, incapacidade permanente
para o trabalho e doença grave. Todas

28  Proteste Investe 1181 maio 2022 www.deco.proteste.pt/investe

estas situações se referem ao titular ou
qualquer membro do agregado familiar.
De que forma posso resgatar?
Pode recuperar o seu investimento de
três formas: um pouco todos os meses
até ao fim da vida (renda vitalícia);
de uma só vez (reembolso total) ou
uma combinação destas duas opções.
Caso opte pelo reembolso através
de renda vitalícia, paga imposto como
uma pensão normal (rendimentos da
categoria H). Se preferir o reembolso
total ou parcial, paga 20% sobre
40% do rendimento obtido, o que, na
prática, resulta numa taxa de retenção
de 8 por cento. Esta é, por norma,
a solução mais vantajosa.
Se o resgate ocorrer dentro das condições
previstas no contrato (reembolso
total ou parcial), o seu valor não tem
de ser declarado no IRS, e a retenção
de imposto torna-se definitiva.
Tenho de pagar comissões?
Os PPR podem ter comissão de resgate.
Por regra, é aplicada quando o resgate
é feito fora das condições normais.
Os encargos, sejam de subscrição, gestão,
depósito ou resgate, variam de produto
para produto e em função dos anos pelos
quais detém o PPR. Podem penalizar a
rentabilidade, razão pela qual é preciso
estar atento no momento de escolher
o plano de poupança.
Como funcionam os benefícios
fiscais?
Os PPR têm benefícios fiscais à entrada,
quando subscreve o produto, que
permitem deduzir à coleta de IRS 20%
sem teto para quem tem um rendimento
anual até 7112 euros, variam em função
do rendimento coletável: 1000 a 2500
euros para quem tem um rendimento
anual entre 7112 e 80 882 euros;
e 1000 euros acima deste valor.
O outro benefício fiscal é à saída, quando
ocorre o resgate: o imposto é retido a
uma taxa reduzida de 8%, se forem
respeitadas as condições previstas na lei,
já mencionadas. O facto de a tributação
ocorrer apenas quando são levantados os
valores aplicados permite a capitalização
dos juros e ganhos, o que é uma grande
vantagem.
Se resgatar fora das condições
da lei, qual é a taxa de imposto?
A taxa varia entre 8% e 21,5%, de
acordo com o prazo da aplicação.
Se o resgate ocorrer antes de o PPR
BENEFÍCIO FISCAL
NA ENTRADA
É possível deduzir à coleta 20%
do montante aplicado anualmente
no PPR, com determinado limites.
IDADE DO INVESTIMENTO
DEDUÇÃO
MÁXIMA
SUBSCRITOR MÍNIMO (€)
ANUAL (€)
Até 35 anos 2000 400
Entre 35
1750 350
e 50 anos
Mais
1500 300
de 50 anos
perfazer cinco anos, incidirá uma taxa
de 21,5% sobre o rendimento obtido.
Entre cinco e oito anos, a taxa baixa
para 17,2 por cento. Acima desse prazo,
reduz para 8,6 por cento. Este é um
regime fiscal bem mais favorável do que
o aplicado à generalidade dos produtos
de poupança, cuja taxa de retenção
é de 28 por cento.
Se resgatar antes da reforma,
sofro alguma penalização?
O resgate fora das condições
citadas obriga à devolução dos
benefícios fiscais, acrescidos de 10%
por cada ano decorrido. Se souber
de antemão que vai resgatar fora das
condições (antes da idade de reforma,
por exemplo), recomendamos que
não faça as deduções fiscais a que tem
direito todos os anos, para que não seja
penalizado.
Depois da reforma, há vantagem
em manter o PPR?
Após atingir a idade da reforma, não
pode, em conformidade com o Estatuto
dos Benefícios Fiscais, fazer deduções
no IRS, mas isso não o impede de
continuar a fazer aplicações no PPR.
Chegado o momento de resgatar,
a taxa de imposto será de 8 por cento.
Ou seja, se não tem urgência no dinheiro,
pode manter o PPR, e até fazer reforços.
Nesta idade, é, no entanto, aconselhável
ter um PPR com garantia de capital,
de modo a não pôr em risco o montante
que acumulou nos anos anteriores.
Se já detém um fundo PPR, pode
transferi-lo para um seguro PPR.
O rendimento, contudo, é mais baixo.

NA SAÍDA
do valor aplicado anualmente, com
um limite que varia entre 300 e 400 O que acontece em caso
euros, consoante a idade. No resgate, o imposto que incide sobre de morte do titular?
Contudo, a soma das deduções à o rendimento varia entre 8% e 21,5%, O valor do PPR é entregue aos
coleta, incluindo o benefício fiscal, não consoante o prazo do PPR. Quanto mais herdeiros ou, se tiver sido designado,
pode exceder determinados valores tempo mantiver o produto, menor a taxa. ao beneficiário (PPR sob a forma
estabelecidos em função do escalão de de seguro ou fundo de pensões).
rendimento coletável. Esse limite inclui Em caso de morte do cônjuge do
CONDIÇÕES MENOS ENTRE MAIS
a soma das deduções à coleta relativa titular, depende do regime de bens
DEFINIDAS DE 5 5E8 DE 8
a despesas de saúde e com seguros de POR LEI ANOS ANOS ANOS do casal. Se for um bem comum, a
saúde, despesas de educação e formação, Fora das parte do valor do plano respeitante
encargos com imóveis ou lares, 21,5% 17,2% 8,6% ao falecido é entregue ao participante
condições
importâncias respeitantes a pensões de Respeitando ou aos restantes herdeiros. ¬
8%
alimentos ou exigência de fatura, bem as condições
como aos benefícios fiscais. Embora DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro

www.deco.proteste.pt/investe Proteste Investe 1181 maio 2022  29


PIB EM GUERRA
Com a economia global ainda a recuperar da ressaca provocada pela pandemia, a guerra
na Ucrânia veio baralhar mais as contas. Em 2022 e 2023, o crescimento será mais reduzido
Q
uando deflagrou o conflito
no Leste da Europa, a inflação
já estava em alta. A razão?
As cadeias de produção global,
incluindo a oferta de inúmeras
matérias-primas, não conseguiram
acompanhar a forte recuperação
da procura, que disparou após
o desconfinamento no Ocidente.
Para conter os preços, muitos
bancos centrais começaram a subir
as taxas de juro, o que abrandou
o ritmo de crescimento. Contudo,
com as sanções do Ocidente à
Rússia, os problemas agravaram-se.
Há maior disrupção nos mercados
de matérias-primas, sobretudo
da energia, elevando a inflação para
novos patamares. A pesada fatura
energética reduzirá a capacidade
de consumo das famílias, bem
como as margens das empresas.
Uma subida mais agressiva das
taxas de juro, para controlar a
inflação, implicará maiores encargos
financeiros para todos os agentes
económicos.
Travão na recuperação
A conjugação destes fatores – menos
consumo e investimento – originará,
necessariamente, um abrandamento
da atividade económica. Com o
surgimento inesperado do conflito,
as previsões do início de 2022
ficaram, repentinamente, obsoletas.
Em abril, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) avançou com
novas estimativas. Sem surpresa,
o crescimento será inferior ao
esperado. Ainda assim, o FMI
espera que o PIB mundial cresça
este ano 3,6 por cento. A previsão
anterior apontava para 4,4 por
EVOLUÇÃO
cento. Mas, se tivermos em conta que a
queda em 2020 foi de 3,1%, a crise não
parece ser tão grave como a provocada
pela pandemia.
Devido à maior dependência da energia
russa, a zona euro deverá crescer apenas
2,8%, menos do que os Estados Unidos
(3,7 por cento). Há dois anos, ambos
registaram recessões. Num pior cenário,
se a guerra continuar a arrastar-se e as
vagas de sanções à Rússia se sucederem,
é possível que ocorram trimestres com
contrações do PIB, sobretudo na Europa.
O FMI espera um aumento de 4% do
PIB português, ou seja, acima da média
da zona euro. Todavia, o cenário pode
inverter-se em 2023.
Na esfera emergente, a Índia deve
liderar o crescimento (8,2%), seguida
da Indonésia (5,4 por cento). Quanto
ao PIB chinês, progredirá “somente”
4,4 por cento. A segunda maior
economia mundial tem enfrentado
outros problemas: a estratégia de covid
zero paralisou partes consideráveis do
país, incluindo as metrópoles de Xangai
e Shenzhen. O “ataque” regulatório
de Pequim aos setores tecnológico
e da educação, e os problemas de
solvabilidade dos gigantes imobiliários
também abalaram a confiança.
Em ano eleitoral, o Brasil deve avançar
uns míseros 0,8 por cento. Apesar de
O FMI estima que, em 2023,
a inflação já tenha recuado dos
valores máximos, continuando,
no entanto, acima da média
dos últimos anos
beneficiarem do maná das commodities,
México e África do Sul também não
terão um ano brilhante. São economias
emergentes com maiores problemas
estruturais, e não conseguem aproveitar
todo o seu potencial. Por fim, sem
surpresa, espera-se que a economia
da Rússia afunde mais de 8 por cento.
Fim de história?
A par de um menor crescimento, como
referimos, o FMI prevê taxas de inflação
mais elevadas. A energia é a principal
culpada, mas a subida de preços,
nomeadamente de bens alimentares,
é mais generalizada. Após um longo
período de inflação quase impercetível,
famílias, empresas e investidores terão
de se adaptar a uma realidade diferente.
O FMI estima que, em 2023, a inflação
já tenha recuado dos valores máximos,
continuando, no entanto, acima da
média dos últimos anos. Por exemplo,
Portugal registou uma taxa de 0,9%
em 2021 e, segundo este organismo,
deverá atingir 4% em 2022, recuando
para 1,5% em 2023. Em comparação
com outros países, o FMI está otimista
para o nosso país.
Acima de tudo, as previsões atuais
são incertas. Mesmo que o conflito
militar termine, as sanções à Rússia
irão prosseguir. Subsistem, por isso,
algumas questões. Por exemplo,
haverá boicote total da Europa às
importações de energia? Até onde irá
a Reserva Federal dos Estados Unidos
no combate à inflação? Por outras
palavras, o cenário macroeconómico
pode agravar-se nos próximos meses,
com menor crescimento ou recessões,
e mais inflação e juros elevados. ¬
DOSSIÊ TÉCNICO Jorge Duarte
 Entre as economias
emergentes, a Índia lidera
o crescimento, embora possa
abrandar em 2023

6,9

2 02 3
8,2

2 022
5,4
6 2 02 3
2 022

ÍNDIA
INDONÉSIA
5,1

2 02 3
4,4 2 022
Prevê-se um
CHINA
3,6
crescimento

2 02 3
bastante menos

3,6

2 022
acentuado neste
e no próximo
ano, quando
MUNDO comparado com
2021 (6,1%)

2,9
2 02 3

2,5
2 022

2,7
2 02 3
UL 2,9
2 022

COREIA DO S
2,5

2 02 3
2

2 022
SUÉCIA
MÉXICO

2,3 2,3 2,3

2 02 3

2 02 3

2 02 3

3,7 2,8 2,4

2 022

2 022

2 022

EUA ZONA EURO JAPÃO

2,1
2 02 3

4
Se o conflito na Ucrânia se
2 022

prolongar e as sanções à Rússia

se perpetuarem, pode haver

PORTUGAL
contrações do PIB

1,4
2 02 3

0,8
2 022

As projeções do FMI para

Portugal são otimistas.
A recuperação do turismo e

BRASIL
do consumo pode contribuir

1,2
2 02 3

3,7
2 022

O
REINO UNID

-2,3
2 02 3

- 8, 5
2 022

Por causa do conflito com a

Ucrânia, a economia russa
deverá contrair fortemente este
ano. Apesar das sanções, não
cairá tanto no próximo ano RÚSSIA
Crescimento do PIB em percentagem (%); Fonte: FMI
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