Saúde mental Nutrição Novo Governo

Os medicamentos não curam Preços, planos e conselhos Exigimos o regresso à normalidade

tudo. Conheça a prescrição social em 37 consultas em Lisboa na vertente assistencial do SNS

www.deco.proteste.pt | 156 | abril/maio 2022 | bimestral | € 11,25

Diretora e editora Cláudia Maia

Vício da internet
“O tempo passado nas redes é menos importante do que o que lá se faz”,
defende a psicóloga Ivone Patrão

1800
CANCROS POR
DIAGNOSTICAR
Durante a pandemia,
150 mil mulheres não fizeram
os rastreios do cancro da mama.
As consequências só serão
conhecidas daqui a alguns anos,
mas teme-se o aumento
da mortalidade
 sumário
BREVES

04
CHECK UP Sal e açúcar
nos alimentos • Endemia não

08
reduz risco • Má qualidade
do ar • União por fármacos
disponíveis? • Teletrabalho •
Enxaqueca • Mente em forma
até aos 60

156 EM FOCO

08
Cancro da mama Falta de
abril/maio 2022
rastreios durante a pandemia
pode aumentar mortalidade.

13
Amêndoas Que exercício
compensa a ingestão
de calorias em excesso?

14
Zona O vírus da varicela
OS NOSSOS VALORES
fica adormecido e

14
INDEPENDÊNCIA pode ser reativado
A nossa missão exige independência total:
financeira, política e ideológica. com o envelhecimento.
Os conselhos e tomadas de posição

20
resultam dos nossos estudos e análises,

17
Dietas da moda Prometem
livres de qualquer tipo de pressão.
A totalidade das receitas da nossa atividade
resultados rápidos, mas
é reinvestida em prol dos consumidores. podem ser prejudiciais à saúde.
CREDIBILIDADE

20
A concretização da nossa missão assenta Suplementos A interação
na credibilidade e no reconhecimento da com medicamentos pode
qualidade do nosso trabalho. Esta resulta
do profissionalismo das nossas equipas causar problemas graves.
e de métodos comprovados, transparentes
e permanentemente reavaliados, baseados

24
Prescrição social Quando o
numa ética profissional exigente. convívio é o melhor remédio.
PROXIMIDADE
A nossa missão é permanentemente orientada

28
para a satisfação das necessidades Entrevista Ivone Patrão dá
dos consumidores. A sua concretização pistas para pais e filhos lidarem
passa por interagir com todos os com as redes sociais.
interlocutores – consumidores, comunicação
social, poderes políticos, etc. –, respondendo
às suas solicitações de forma direta, concreta

32
Nutrição Avaliámos
e adequada. 37 consultas de nutrição
em clínicas e farmácias.

28
36
Reivindicações O que vamos
CONTACTE-NOS exigir ao novo Governo
Telefone para melhorar o acesso
218 410 801
dos portugueses a mais e
Serviço de informações melhores cuidados de saúde.
218 410 858

Cidadãos Surdos PERTO DE SI

12472 ou Skype
Precisa de computador com câmara,

38
ou smartphone com Skype, LEITORES EM DIRETO
para contactar o Serviin Direito a médico de família •
Desinformação com gordura
Assinaturas e encomendas
pela internet • Sidra engorda? • Renovação
www.deco.proteste.pt/contactos de planos de saúde

2 testesaúde 156
 Prescrição social
13 Um projeto
para desatar
Fátima Ramos
nós e criar laços
Jornalista Entram na consulta a queixar-se de uma dor no pé, mas,
da TESTE SAÚDE
nos olhos, transparece a dor da alma. O médico percebe.
Sabe que o comprimido que vai prescrever não passa de um
paliativo, ou nem isso. Porque a dor é também isolamento,
desenraizamento, desamparo, desemprego... é tanta coisa
que nenhum medicamento do mundo consegue curar, e que
tem tantas implicações na saúde e no bem-estar do indivíduo.
Ensinam os compêndios que as pessoas socialmente
17 desfavorecidas e mais vulneráveis tendem a apresentar piores
resultados em saúde. E também ensinam que a melhoria das
A pres-
24
condições sociais se traduz em ganhos nesta esfera. Numa
crição interdependência de causas e consequências, diz-nos a lógica,
social vê seria de grande valor juntar cuidados de saúde e serviços
sociais numa resposta integrada às necessidades da pessoa,
o utente que também é doente-e-isolada-e-desenraizada. O projeto
nas suas de prescrição social, que funciona em duas unidades de
diversas saúde familiares, em Lisboa, não só articula os dois mundos,
como lhes junta uma rede de serviços da comunidade,
vertentes com diferentes valências (ver página 24). O utente, esse,
e procura fica no centro do sistema, com liberdade para escolher o
resposta “serviço-tratamento” que mais lhe convier. Modelo perfeito
não será, porque não os há, mas tem potencial para reduzir
para ne- as ilhas de isolamento que se multiplicam, tanto em zonas
cessida- urbanas como rurais, sem representar grande incremento de
des não- custos para o sistema. Em teoria, pode até reduzi-los, porque
os “comprimidos sociais” são promotores da saúde física e
-médicas mental.

32 Em Portugal, segundo o Eurostat, meio milhão de idosos

vivem sozinhos. E a tendência é de crescimento, com o
envelhecimento da população. A Base de Dados Portugal
Contemporâneo (Pordata) tem registo de mais de 67 mil
novos imigrantes a viver em Portugal, em 2020 (em 2008,
foram menos de 30 mil). E temos os refugiados - cada
vez mais refugiados. Com necessidades tão complexas
e variadas, as respostas precisam de ser articuladas
e humanizadas. Entre a pandemia, a crise energética
e económica e a ansiedade devido a guerras que não
escolhemos viver, o País precisa que o “comprimido social”
seja regra e não a exceção, nos cuidados de saúde.
Envie-nos os seus comentários editorial@deco.proteste.pt

156 testesaúde 3
Checkup
Sal e açúcar nos alimentos
Drogas
REDUÇÃO MEDE-SE BONS
EM TONELADAS VENTOS
Portugal está
Em três anos, houve uma redução global de quase
entre os países
26 toneladas de sal e de 6256 toneladas de açúcar
da União
nos alimentos abrangidos pelo acordo entre o Estado
Europeia com
e representantes do setor alimentar
menos mortes
provocadas
Os cereais de pequeno-almoço, os refrigerantes, os néctares,
pelo consumo
os iogurtes e o leite achocolatado e fermentado cortaram, em
de drogas, revela
média,11,1 gramas de açúcar por 100 gramas de alimento,
o relatório anual
entre 2018 e 2021. No mesmo período, as batatas fritas e
do Observatório
outros snacks salgados, as pizas e, mais uma vez, os cereais
Europeu da
de pequeno-almoço baixaram, no conjunto e em média,
Droga e Toxico-
11,5 gramas de sal por 100 gramas. Os resultados constam
dependência.
do Relatório do Progresso da Reformulação dos Alimentos
Estamos também
em Portugal 2018 e 2021, publicado pela Direção-Geral da
entre os que
Saúde. Segundo esta entidade, cerca de metade das categorias
mais seringas
de alimentos abrangidas pelo protocolo já atingiram as
distribuem e dos
metas de redução fixadas, na maioria dos casos, para o fim
que apresentam
de 2022. São boas notícias, porque o consumo excessivo de
menos infeções
açúcar e sal contribui, por exemplo, para o aumento de peso
por VIH
e para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares.
relacionadas com
Mas o trabalho não terminou: é altura de definir novas metas
com o consumo
para a redução de sal e açúcar nos produtos já contemplados
de substâncias
no acordo e de incluir outros, com prioridade para os
ilícitas.
alimentos destinados às crianças, que estão a formar o paladar.

4 testesaúde 000
 covid-19
e-Bug PT
ENDEMIA NÃO PELO
REDUZ RISCO SABER
Uma doença Lançado no fim

endémica pode de 2021, o e-bug

PT (www.e-bug.
ser tão ou mais eu/index.

perigosa do que html#Portugal )

pretende
outra pandémica aumentar a
literacia sobre
Associar a palavra endemia ao alívio das a prevenção
medidas de proteção contra a covid-19 das infeções
pode ser contraproducente, por induzir e das resistências
a ideia de que o perigo terminou e, microbianas. Má qualidade do ar

Rastos
como tal, podemos relaxar os cuidados. Através de jogos,
Mas não é assim. “Endemia” significa as crianças e
doença que ocorre numa determinada os jovens entre
população ou área geográfica, com

incidência constante. Não quer dizer que
o problema esteja a desaparecer, nem
que se tenha tornado menos perigoso ou
mortal. Há doenças endémicas, como a
malária e a tuberculose, bastante letais.
Num artigo publicado na revista Nature,
Aris Katzourakis, investigador da
Universidade de Oxford, defende que o
mais seguro é preparar a população para
a possibilidade de um novo descontrolo
da situação, de modo que não se baixe
a guarda, nem se desvalorize o perigo
de infeção. A única forma de manter
a estabilidade, segundo o autor, é
continuar a usar os meios de proteção
que estão ao nosso alcance.
do trânsito
os cinco e os 18
anos aprendem
o que são
micróbios,
porque é
importante lavar Portugal tem excesso
as mãos e
como usar os
de poluição atmosférica
antibióticos provocada pelo trânsito
corretamente.
A ferramenta Um relatório da Agência Europeia do Ambiente
visa dotar as recentemente divulgado põe Portugal na lista negra
escolas de dos países que têm excesso de poluição com origem
recursos para nos tubos de escape. Os níveis são particularmente
trabalhar estes preocupantes na grandes cidades, onde há maior
temas. concentração de veículos. Este tipo de poluição é
o que mais afeta a saúde das populações, podendo
contribuir para o desenvolvimento de cancros,
doenças cardíacas e pulmonares, entre outras.
Segundo o mesmo relatório, em 2019, 307 mil europeus
morreram prematuramente por ação das partículas
finas, e mais de 40 mil por dióxido de azoto.
Ao nível mundial, a poluição atmosférica (fora de
casa) é responsável por 4,2 milhões de mortes ao ano,
mais do que as mortes causadas por sida, tuberculose
e malária em conjunto.
A situação é preocupante, e os países europeus têm
um árduo trabalho pela frente, já que a Comissão
Europeia impôs a redução em 55% das mortes
prematuras causadas por partículas finas até 2031,
em comparação com os níveis de 2005.

156 testesaúde 5
 Teletrabalho
EM BUSCA
DO EQUILÍBRIO
O teletrabalho
exige planeamento
e disciplina. De
contrário, a saúde
e o bem-estar
ressentem-se

União pelos
Amado por uns e odiado por outros,
o teletrabalho, como quase tudo na
vida, tem muitas vantagens, mas
também impõe desafios. Permite um

fármacos
maior equilíbrio entre a vida pessoal
e profissional, horários mais ou menos
Saúde
flexíveis e mais tempo livre, por
PRÉMIO exemplo, para praticar exercício físico,
COM porque se poupa nas viagens. O trânsito
e a poluição diminuem, e pode haver
Criar e seguir uma definição harmonizada
de rutura de medicamentos na União Europeia,
VALOR aumento da produtividade e redução
dos custos operacionais das empresas.
exigir transparência à indústria e stocks de A Organização Mas, sem planeamento, organização,
segurança aos grossistas são algumas medidas Mundial da disciplina e equipamento adequado
de combate à escassez de fármacos, propostas Saúde Europa (cadeira, mesa, computador, etc.), a
num estudo publicado pela Comissão Europeia distinguiu saúde, física ou mental, fica a perder,
os profissionais o que pode contribuir para isolamento,
A indisponibilidade de medicamentos é um problema
de saúde e depressão e burnout. O segredo está
que vem de longe. O estudo recentemente publicado pela
os cuidadores no equilíbrio.
Comissão Europeia revela que, nos últimos cinco a dez anos,
pela dedicação
as falhas têm vindo a aumentar, em particular no caso de anti-
e pelo
-hipertensivos, anti-infecciosos e fármacos oncológicos e para
compromisso
o alívio da dor. A análise das notificações de indisponibilidade
em melhorarem
sugere que metade estão relacionadas com a produção e cerca
constantemente
de um quarto se devem a questões comerciais, incluindo
a saúde dos
retiradas do mercado e aumento inesperado da procura.
cidadãos.
É também clara a dificuldade de comunicação entre os
O prémio foi
Estados-membros, por falta de harmonização da linguagem e
confiado ao
das normas. Face aos resultados, os autores fizeram uma série
Ministério da
de recomendações, como adotar uma definição única para a
Saúde, como
rutura de medicamentos, criar um formulário normalizado
símbolo do
para a notificação e exigir transparência à indústria e aos
apreço e da
grossistas face ao “negócio” dos medicamentos e aos circuitos
gratidão da
paralelos. Sugeriram ainda, entre outras medidas, mais
Organização
informação sobre alternativas aos medicamentos em falta.
Mundial da
Que as recomendações se transformem em obrigações, já
Saúde.
que grande parte refletem exigências que fazemos há anos.

6 testesaúde 156
 Enxaqueca
Quanto
pesa a dor
Em Portugal, as perdas de produtividade
global associadas à enxaqueca podem chegar
a 590 euros por pessoa ativa, por mês
A prevalência da enxaqueca no nosso país não está bem
estudada, mas as últimas estimativas indicam que pode
atingir 19% da população geral e cerca de 27% dos indivíduos
entre os 20 e os 54 anos. As mulheres são duas vezes mais
afetadas do que os homens. O principal sintoma da enxaqueca
é dor de cabeça, mas podem surgir outros, como náuseas e
sensibilidade à luz, som e cheiros. Alguns pacientes também
reportam depressão, ansiedade e dores incapacitantes. Outros
referem que acordam com dor de cabeça e são obrigados
a permanecer deitados até o medicamento fazer efeito.
Todos os anos, as pessoas que têm dificuldade em
controlar o problema perdem o equivalente a oito dias
de trabalho, revela o relatório The Socioeconomic Impact
of Migraine in Portugal (“o impacto socioeconómico da
enxaqueca em Portugal”), publicado pela organização britânica
The Work Foundation. A enxaqueca surge como a terceira causa
de anos vividos com incapacidade ao nível nacional.
A melhoria do tratamento e da gestão da doença reduz
os problemas de produtividade, defendem os autores.
Para isso, é necessário aumentar os conhecimentos sobre
a doença, porque ainda há quem confunda a enxaqueca
com uma simples dor de cabeça e aponte o dedo acusador
a quem o sofrimento impede de realizar certas tarefas.
É preciso desmistificar a ideia e dar condições às pessoas para
desenvolverem a sua atividade sem limitações. A flexibilidade
dos horários e a adaptação do ambiente de trabalho, eliminando
os fatores que desencadeiam a enxaqueca, como a luz
e o ruído, são algumas propostas da The Work Foundation.
Tomada de decisões
MENTE EM
FORMA ATÉ
AOS 60
A velocidade de processamento
da informação cognitiva
permanece estável entre
os 20 e os 60 anos, revela um
estudo realizado na Alemanha
A velocidade mental, ou seja, a rapidez
na tomada de decisões, não se altera
significativamente até aos 60 anos.
A conclusão resulta de um estudo com
mais de um milhão de participantes,
que foram convidados a carregar num
botão para classificar imagens de
pessoas, com preto e branco, e palavras,
em bom e mau. Os registos mostram
que os tempos de reação aumentam
com a idade. Mas os investigadores
demonstraram, através de um modelo
matemático, que tal não se deve a uma
menor velocidade mental, mas ao facto
de os mais velhos se concentrarem
e responderem com prudência,
para evitarem erros.
A velocidade motora, pelo contrário,
vai diminuindo ao longo da vida: os
mais velhos, depois de descobrirem a
resposta certa, demoravam mais tempo
a carregar no botão. É um dos casos
em que a mente supera o físico.
156 testesaúde 7
 rastreio
cancro da mama sob controlo?
Durante a pandemia, diminuíram os rastreios do cancro da mama. As reais consequências só serão
conhecidas a médio prazo, mas a Liga Portuguesa Contra o Cancro teme um aumento da mortalidade.
É preciso recuperar o tempo perdido, porque o rastreio por mamografia é a forma mais eficaz de detetar
os tumores precoces e mais fáceis de tratar
Fátima Ramos

S
andra Monteiro e Joana Cruz
venceram o cancro da mama
durante a pandemia. Apesar
das limitações dos serviços de saúde,
nenhuma revelou problemas no
acesso ao tratamento. Já os rastreios
não conseguiram escapar ao impacto
da covid-19. Os dados do portal
Transparência do SNS indicam
que, em 2020 e 2021, quase 150 mil
mulheres que deveriam ter sido sujeitas
a mamografia, o exame usado no
rastreio, não a fizeram. Estima-se, por
isso, que 1800 cancros tenham ficado
por identificar. No último biénio, a
incidência do cancro da mama diminuiu
2% face a 2019, sendo que, em 2020,
foram identificados menos 19% de
casos do que no ano anterior. A Liga
Portuguesa Contra o Cancro (LPCC)
indica que, além da redução dos
rastreios, “a diminuição da capacidade
assistencial dos cuidados de saúde
primários, face à necessidade de dar
resposta à pandemia”, terá contribuído
para a descida dos diagnósticos.
As consequências ainda vão demorar
a ser totalmente conhecidas, mas
Francisco Cavaleiro de Ferreira,
presidente da LPCC, teme um aumento

8 testesaúde 156

da mortalidade, porque os doentes
chegam mais tarde aos serviços, com a
doença num estado mais avançado.
O rastreio sistemático contribui para
que mais tumores sejam detetados
numa fase inicial, podendo reduzir a
necessidade de cirurgia e de tratamentos
mais agressivos, aumentando
a probabilidade de cura.
Rastreio em todo o País?
Nos últimos dois anos, os rastreios
estiveram suspensos durante três a seis
meses, segundo a LPCC. Esta entidade
afirma ter realizado, em 2021, mais
14 mil mamografias do que em 2019.
Mas o incremento não foi suficiente
para equiparar os resultados: ao nível
nacional, a execução de mamografias
baixou 18% no último ano face a 2019.
O caminho da recuperação parece estar
aberto, mas “o convite para participar no
rastreio está dependente da intervenção
dos cuidados de saúde primários,
pelo que é urgente dotá-los de recursos
que permitam recuperar os atrasos”,
alerta Francisco Cavaleiro de Ferreira.
Em Portugal Continental, a LPCC
é responsável pela realização dos
rastreios em todas as regiões de
saúde, com a exceção do Algarve,
onde foram entregues à Associação
Oncológica. Nas Ilhas, a incumbência
cabe aos governos regionais.
Em 2020, o programa de rastreio estava
implementado em 78% do território
continental. Para este ano, espera-se
que “a cobertura atinja os 100%, graças
ao alargamento à região de Lisboa
e Vale do Tejo, que teve início a 4 de
fevereiro de 2021”, explica o presidente
da liga. O alargamento está previsto há
mais de dez anos. Em fevereiro de 2011,
já escrevíamos que a Administração
Regional de Saúde de Lisboa e Vale
do Tejo o previa até final desse ano.
Não aconteceu. Esperamos que,
desta vez, se concretize.
Mamografia a cada dois anos
A mamografia é a forma mais eficaz
de detetar o tumor, mesmo nas fases
iniciais do seu desenvolvimento. > >
Testemunho
"Vista como
um protocolo"
Sandra Monteiro fez múltiplos tratamentos, retirou as duas mamas
e teve várias complicações, mas o que mais lhe custou durante
o processo foi a falta de sensibilidade de alguns profissionais
Em novembro de 2017, Sandra
Monteiro sentiu um nódulo na mama
esquerda. Fez uma ecografia mamária,
que apontou para fibroadenoma
benigno. A recomendação foi de
repetir o controlo dali a um ano. Mas,
passado um mês, palpou um gânglio
na axila esquerda. Consultou outra
médica, que sugeriu esperar um
mês, pois poderia ser manifestação
de uma inflamação. Aguardou e
o gânglio cresceu. Contactou o
Instituto Português de Oncologia
de Lisboa (IPO), fez uma biopsia e
uma ressonância magnética: tinha
um carcinoma invasivo, de grau 3,
hormonodependente e com metástase
axilar. “Vi todo um filme na minha
cabeça, porque tinha acompanhado
a doença [cancro da mama] e morte
da minha mãe”, recorda.
Teve medo, pelos cinco filhos.
E viu o medo nos olhos do marido
e do filho mais velho. Mas baixar
Sandra
Monteiro,
46 anos, agente
imobiliária,
descobriu
uma alteração
genética e
retirou a mama,
por prevenção
os braços não era opção. Fez
quimioterapia. Rapou o cabelo e
passou a usar peruca. Respondeu
bem ao tratamento. Porém, não
escapou à mastectomia radical.
Passado algum tempo, na consulta
de risco genético, ficou a saber
que tinha alteração no gene BRCA2.
Havia risco acrescido de cancro
na outra mama e nos ovários.
Recomeçaram os tratamentos
e, por prevenção, teve de remover
a outra mama. A cirurgia ocorreu
em plena pandemia. Teve
complicações e ficou nove dias
internada, sem visitas, mais três meses
em recuperação. Tudo isto enquanto
continuava a zelar pela família.
“Foi um período difícil e tive algum
apoio psicológico no IPO. Mas
o que mais me custou foi a falta
de sensibilidade de alguns médicos
para o lado humano. Sinto que somos
vistas como um protocolo”, desabafa.
156 testesaúde 9
 Rastreio
precoce

ANTES
DOS 50 ANOS
Exames em retoma
A mamografia Nos dois anos de pandemia, o rastreio do cancro da mama
é recomendada caiu 18%, estimando-se que tenham ficado quase dois mil
apenas a mulheres novos casos por diagnosticar
que apresentam
fatores de risco.
Mulheres com registo de mamografia
nos dois anos anteriores
900 000
800 000
700 000
600 000
500 000

menos 400 000

146 744
300 000
200 000
2019 2020 2021
ESTIMATIVA DE MULHERES, EM 2021, 100 000
SEM REGISTO DE MAMOGRAFIA
0
NOS DOIS ANOS ANTERIORES, janeiro dezembro
FACE A 2019

>
É um exame seguro e fácil de
executar, pelo que ganha primazia
no rastreio sistemático. A Iniciativa
da Comissão Europeia sobre o Grupo
de Desenvolvimento de Diretrizes
para o cancro da mama recomenda-o
fortemente a mulheres entre os
50 e os 69 anos, a cada dois anos.
Em Portugal, segue-se a recomendação.
As convocatórias são feitas por carta,
com indicação de data, hora e local.
Ficam de fora as mulheres com
diagnóstico de cancro da mama ou
que tenham feito uma mastectomia
(extração da mama por cirurgia),
as que tenham feito o exame nos dois
anos anteriores com resultado normal
e as que usem próteses mamárias.
Mas há quem defenda o início do
rastreio a partir dos 40 anos, sobretudo
no caso de quem apresente fatores de
risco, porque a incidência do cancro
aumenta significativamente a partir
desta idade. Entre os defensores da
As mulheres entre
os 50 e os 69 anos
são convocadas
para o rastreio
por carta
antecipação está a Choosing Wisely
Portugal – Escolhas Criteriosas
em Saúde, organização que promove
a utilização adequada, por exemplo,
de exames de diagnóstico e tratamentos,
com base na melhor evidência científica
disponível. “Mais vidas serão salvas
iniciando o rastreio aos 40 anos, com
periodicidade anual, decisão partilhada
com o médico assistente, ajustada
aos fatores de risco individuais e
familiares, e devidamente informada
quanto aos benefícios e inconvenientes
dos programas e métodos de rastreio”,
argumenta.
Mas a mamografia é segura? Sim.
Porque se trata de raio-X, durante
o processo, o organismo recebe
radiação, mas de baixa potência. Não
está afastada a possibilidade de falsos
negativos, que atrasam o tratamento,
ou falsos positivos, que causam
ansiedade desnecessária e obrigam a
outros exames. Estas questões devem
ser explicadas a todas as mulheres
que se submetem ao exame.
Mais cuidado quando há fatores
de risco
O cancro da mama nem sempre
apresenta sintomas, ou a mulher
pode não conseguir identificá-los,
pelo que é importante não descurar
o controlo regular.
Nas fases iniciais, o mais comum

10 testesaúde 156

é surgirem pequenos nódulos indolores
na mama, como aconteceu com Joana
Cruz, ou haver espessamento do tecido
mamário. Estes dois sinais podem
multiplicar-se ou podem surgir novos
nódulos ou inflamação nas axilas.
A alteração no tamanho e no aspeto da
pele, na cor ou no formato das mamas,
e um mamilo invertido ou com
corrimento, também são possíveis
indicadores.
As causas da doença são desconhecidas,
mas há fatores de risco, como a
idade, a história pessoal e familiar
de cancro da mama e anomalias
genéticas. Ter elevada estatura (mais
de 175 centímetros), uma elevada
mineralização óssea e tecido mamário
denso também parecem aumentar
as probabilidades de cancro da mama.
As mulheres que tiveram a primeira
menstruação antes dos 12 anos
e a menopausa após os 55 anos têm
um risco ligeiramente aumentado
de desenvolverem a doença.
Se, em relação a estes fatores,
nada se pode fazer, outros há que
dependem da vontade de cada um.
É o caso do consumo de álcool e tabaco,
do excesso de peso, em particular
após a menopausa, e do sedentarismo.
Não amamentar, não ter filhos, dar à luz
após os 30 anos e fazer terapia hormonal
de substituição (combate os sintomas
da menopausa) podem ou não depender
do querer, mas é certo que fazem parte
da lista dos fatores de risco.
Muitos exames de diagnóstico
Detetado o tumor, é preciso
caracterizá-lo, para definir o tratamento.
Por norma, a mamografia e a ecografia
mamária, incluindo à região dos
gânglios, permitem distinguir entre
um nódulo cancerígeno e outro sem
problemas, mas só a biopsia pode
confirmá-lo.
Outros exames, como a tomografia axial
computorizada (TAC), a tomografia
por emissão de positrões (PET) e a
ressonância magnética, são, muitas
vezes, usados sem necessidade, dado
não haver evidência de que
Testemunho
"Vamos lá
tratar disto!"
Joana Cruz, locutora de rádio, descobriu que tinha um cancro
na mama em plena pandemia, mas isso não lhe dificultou o
tratamento, nem diminuiu a convicção de que seria capaz de vencer
Fazia uma mamografia e uma
ecografia mamária anualmente,
para controlar os implantes.
Em dezembro de 2020, foi detetado
um “pequeno quisto”, que os
profissionais não valorizaram,
embora tivessem recomendado nova
vigilância após seis meses. Mas Joana
não ficou descansada. “Sentia uma
espécie de ervilha no decote da mama
direita” e, durante três semanas,
vinha-lhe constantemente à cabeça a
palavra “repete”. Resolveu dar ouvidos
ao cérebro e ao formigueiro que
sentia na mama, sobretudo à noite:
procurou uma segunda opinião e,
após uma biopsia, viu confirmado
o temido diagnóstico: tinha um
tumor maligno na mama. O choque
inicial é inevitável, mas a radialista
rapidamente passou de uma
ligeira falta de ar, efeito da notícia,
à determinação: “Vamos lá tratar
disto!” foi o pensamento imediato.
Joana Cruz,
locutora de rádio ,
venceu um cancro da
mama durante
a pandemia
>
E tratou. Menos de três semanas
depois, estava a iniciar o tratamento:
uma sessão de químio por semana,
ao longo de 12 semanas; quatro
sessões, uma a cada duas semanas;
uma cirurgia. Numa primeira fase,
fê-lo num hospital privado, porque
pensou que seria um ambiente mais
controlado em termos de covid-19.
Mas, ao perceber que o plafond do
seguro de saúde não seria suficiente,
passou para o Instituto Português de
Oncologia de Lisboa, “onde tudo foi
feito na maior segurança”, salienta.
Saber o que tinha e o que fazer
para o tratar deu-lhe grande alento
para o combate. Resolveu partilhar
todo o processo na sua página do
Facebook, porque sentiu necessidade
de explicar ao público a sua ausência
da rádio. Contudo, “a partir o
primeiro post, percebi que poderia
partilhar uma experiência e inspirar
quem me seguia”, recorda.
156 testesaúde 11
>
melhorem o diagnóstico em pacientes
assintomáticos. Além disso, sujeitam
o organismo a radiação adicional e
implicam mais custos e inquietações.
A PET e a TAC, bem como a cintigrafia
óssea, apenas são úteis em situações
específicas: por exemplo, quando os
sintomas, o tamanho do tumor ou dos
nódulos linfáticos sugerem um cancro
de grau 3 ou 4, isto é, que tem mais
de cinco centímetros e pode envolver
metástases na pele, nos músculos
e noutros órgãos.
Nos últimos anos, desenvolveram-se
os testes genéticos, para identificar
mutações características do cancro
hereditário. E há os testes de
biomarcadores, que permitem verificar
se as células cancerígenas têm recetores
de estrogénio e progesterona, hormonas
que contribuem para o crescimento
do cancro mamário.
O tratamento depende das
características do tumor e, em muitos
casos, inclui vários tipos de terapia.
A cirurgia, com remoção total ou
parcial da mama, é a mais comum.
Antes ou depois da operação, pode ser
necessário recorrer à quimioterapia,
para reduzir o tamanho do tumor ou
destruir as células cancerígenas que
restam. Dependendo do tipo de tumor,
o combate também pode ser entregue
à radioterapia, mas só após cirurgia.
Se o cancro for de cariz hormonal,
o uso de medicamentos que bloqueiam
a produção de estrogénio e progesterona
(terapia hormonal) ajuda a evitar
o reaparecimento da doença.
Mais recentemente, surgiram
tratamentos capazes de detetar,
bloquear e destruir apenas células
cancerígenas: as terapias de alvo
molecular e a imunoterapia. São mais
eficazes e menos agressivas do que a
químio e radioterapia e utilizam-se,
sobretudo, em fases avançadas do
cancro, quando já há metástases
em diferentes partes do corpo.
Como diminuir o risco
O cancro da mama tem um bom
prognóstico. Se descoberto a tempo,
12 testesaúde 156
As mutações nos
genes do cancro
da mama exigem
acompanhamento
médico
Cancro hereditário
menos frequente
A principal causa do cancro da mama
hereditário é uma mutação nos genes
BRCA1 e BRCA2. Em cerca de 5 a 10%
dos novos casos diagnosticados, os
pacientes apresentam esta anomalia.
As mulheres que a têm, além do cancro
da mama, são mais propensas a
desenvolver tumor maligno no ovário.
Um teste genético permite confirmar
a existência da mutação. É feito
no Serviço Nacional de Saúde, no
seguimento de uma consulta de risco
familiar de cancro hereditário. Se tem
vários casos de cancro da mama e do
ovário na família, fale com o médico
sobre a possibilidade e a utilidade
de recorrer a estes serviços.
Em caso de confirmação da mutação
genética, a pessoa terá uma vigilância
médica apertada, podendo optar-se
por uma cirurgia preventiva, retirando
as mamas e os ovários, para acautelar
o desenvolvimento do cancro.
Sandra Monteiro já fez a primeira parte.
na maioria dos casos, tem cura.
Não há forma de evitar que apareça,
mas é possível diminuir os riscos,
investindo em comportamentos
saudáveis. Não fumar nenhum tipo de
tabaco, evitar o consumo excessivo de
bebidas alcoólicas, praticar exercício
físico e manter um peso adequado à
estatura e idade ajudam a diminuir o
risco. E, porque somos o que comemos,
é importante seguir uma alimentação
com abundância de fruta, vegetais
e outros alimentos ricos em fibra,
como os cereais integrais. Na lista
a evitar ou limitar, inclua gorduras,
em particular saturadas, açúcar e, se
possível, carne vermelha e processada.
A prática regular de atividade física,
além de contribuir para prevenir o
desenvolvimento do cancro, reduz
a mortalidade e a probabilidade
de recidivas, mesmo em pacientes
de alto risco.
Importante é ainda manter uma boa
rede social. A evidência indica que
o apoio de amigos e familiares está
associado a uma vida mais longa e
com mais qualidade, após a deteção
da doença. Quem não tenha essa
rede pode valer-se das associações
de apoio a doentes. Algumas organizam
grupos de ajuda, onde se partilham
experiências e emoções. O convívio
com pessoas que têm a patologia,
por exemplo, através das redes sociais,
faz parte do percurso de Sandra
Monteiro, que também se socorre
da meditação e das caminhadas,
para conseguir algum equilíbrio.
O otimismo parece ter um papel na
recuperação da doença e no bem-estar
emocional dos pacientes. Joana Cruz
não poderia estar mais de acordo:
o espírito positivo, a convicção
de que iria vencer e o apoio dos amigos
e familiares, ainda que à distância,
foram fundamentais durante os
tratamentos. Porque, como diz Sandra
Monteiro, “o diagnóstico de cancro não
é o fim da linha”. Mas pode ser o início
de uma nova vida.
Dossiê técnico Susana Santos
 Valor
nutricional
FRUTO SECO
100 gramas de
miolo de amêndoa
fornecem cerca de

amêndoas aplacar as culpas da Páscoa

620 quilocalorias.

Páscoa só há uma por ano e, por isso, muitos de nós nem sequer tentam resistir à tentação do açúcar.
Depois de uma fatia de folar e de uma taça de arroz-doce, vão meia dúzia de amêndoas de chocolate.
Num ápice, o pacote desapareceu. Dizemos-lhe o que fazer para mitigar o peso na consciência e não só
Texto Filipa Rendo • Dossiê técnico Sofia Mendonça

AMÊNDOA DE CHOCOLATE DE LEITE

22 min 42 min 50 min 56 min
174 kcal a andar
de bicicleta
a caminhar a aspirar a passear
o cão
por seis
amêndoas
156 kcal
por seis
amêndoas

AMÊNDOA
AMÊNDOA LISA
FRANCESA
COLORIDA
6 min
a andar 20 min
de bicicleta a andar
de bicicleta
12 min
a caminhar 37 min
a caminhar

14 min
a aspirar 45 min
a aspirar

15 min
a passear 50 min
o cão a passear
o cão

(Info Dot)
48 kcal
IFDOT_Body
por seis
amêndoas

60 kcal
8 min 15 min 18 min 20 min
por seis
a andar a caminhar a aspirar a passear amêndoas
de bicicleta o cão

AMÊNDOA TORRADA

156 testesaúde 13
 o despertar do vírus adormecido
zona
Não é a história da Bela Adormecida, mas a de um agente infeccioso que não se quer acordado.
O vírus varicela-zóster fica latente em quem teve varicela e pode ser reativado mais tarde. Muitas vezes,
desperta com a diminuição das defesas imunitárias, por exemplo, decorrente do envelhecimento:
surge então o herpes-zóster ou zona. Conheça as vacinas e os tratamentos
Inês Lourinho

C
hama-se herpes-zóster, mas
todos o conhecem pelo termo
“zona”. Na sua origem está
o despertar do vírus varicela-zóster,
o agente infeccioso responsável
por uma das mais comuns doenças
associadas à infância: a varicela. Aliás,
a varicela é a primeira manifestação
do contacto do vírus com o organismo
humano. Quem passa pela doença
adquire imunidade e não volta a
contraí-la. Isso não significa que o vírus
desapareça: ao contrário, mantém-se
latente nas células nervosas. Se, anos
mais tarde, for reativado, surge então
a zona ou herpes-zóster. Esta segunda
doença afeta a pele e o sistema
nervoso, caracterizando-se por uma
erupção cutânea que adquire a forma
de vesículas (bolhas), concentradas
numa área restrita, correspondente
ao território de “atividade” de um
nervo sensorial, apenas num dos
lados do corpo. A erupção cutânea é
acompanhada de dor ligeira a intensa,
comichão e outras manifestações,
como pode verificar na caixa da página
ao lado.
Num em cada cinco casos, surgem
complicações, sendo a principal a

14 testesaúde 156

evolução para a nevralgia pós-herpética.
Dor debilitante e difícil de controlar, que
persiste, pelo menos, durante 90 dias
após o desaparecimento da erupção
na pele, é a principal característica
desta nova fase. Estima-se que,
em doentes com mais de 50 anos,
o risco de nevralgia pós-herpética seja de
10 a 13%, mas a percentagem aumenta
em idades mais avançadas. Provocando
um desconforto doloroso, a nevralgia
pós-herpética reduz a qualidade
de vida e a capacidade funcional do
doente, ou seja, tem repercussões
no desempenho das atividades do
dia-a-dia. O impacto é comparável
ao de doenças como a insuficiência
cardíaca, o enfarte do miocárdio, a
diabetes de tipo 2 ou a depressão major,
isto é, com sintomas mais graves.
Outra complicação importante da zona
é o chamado herpes-zóster oftálmico,
que ocorre quando o ramo oftálmico
do nervo trigémeo é afetado pelo vírus
varicela-zóster. O trigémeo é um nervo
craniano que, como o nome sugere,
tem três ramos − oftálmico, maxilar e
mandibular − e controla, entre outros,
os músculos associados à sensibilidade
facial e ao funcionamento da pálpebra.
A incidência do herpes-zóster oftálmico
é de 10 a 20 por cento.
Quando o vírus acorda
O despertar do vírus varicela-zóster
ocorre, na maior parte dos casos,
devido a uma redução das defesas
do sistema imunológico, por exemplo,
em resultado do processo de
envelhecimento do organismo. Assim
sendo, a idade é o principal fator de
risco para o desenvolvimento de zona
e de nevralgia pós-herpética. Mas há
mais indivíduos com risco acrescido.
Doentes imunocomprometidos por
qualquer causa, incluindo os que
sofrem de leucemia ou de VIH, ou
ainda que tomam medicamentos
imunossupressores, têm um risco
aumentado em, pelo menos, dez vezes.
A etnia é outro fator de risco bem
descrito. Estudos norte-americanos
e britânicos relataram que indivíduos
3 a 5 casos
Taxa de incidência da
zona, ao nível mundial, por
ano e por mil habitantes
80 anos
Nesta idade, a incidência é
quase o triplo da registada
nas outras faixas etárias
Fique atento
aos sintomas
A erupção resultante da reativação do
vírus chama-se zona, por se manifestar
numa parte específica do corpo.
Tronco A região das costelas é a mais
afetada pela zona, mas a doença pode
surgir no pescoço, no braço ou num dos
lados da face, junto ao olho. Apenas um
dos lados do corpo é afetado.
Sensibilidade No geral, um pouco antes
da erupção, surge alguma sensibilidade
extra na área onde as manchas acabam
por assomar.
Bolhas e vermelhidão De início, a
erupção tem a forma de pequenas
manchas vermelhas, que entretanto se
transformam em bolhas com líquido.
Dias depois, as bolhas adquirem um tom
amarelado e criam crostas que podem
deixar cicatrizes. A erupção, em regra,
decorre ao longo de sete dias.
Dor Pode variar de ligeira a intensa,
e pode envolver uma sensação de
queimadura, dormência ou comichão.
Também pode ocorrer perda de
sensibilidade e fraqueza, se as raízes
dos nervos motores forem afetadas.
Nevralgia
pós-
-herpética
COMPLICAÇÃO
DA DOENÇA
Dores debilitantes
podem surgir
em 10 a 13% dos
indivíduos com
mais de 50 anos.
de ascendência africana e hispânica
são 25% menos suscetíveis do que
os caucasianos.
Entre os fatores de risco identificados
encontram-se ainda stresse, trauma
e diabetes, sendo que as mulheres
também são mais sensíveis à doença.
Um vírus muito disseminado
Mais de 90% dos adultos de todo o
mundo foram infetados pelo vírus
varicela-zóster na infância, o que os
põe em risco de desenvolverem zona,
sobretudo após os 50 anos. Estudos
que utilizaram várias metodologias de
investigação e incidiram sobre diferentes
populações dos Estados Unidos
da América, do Canadá, da Austrália
e de países da América do Sul, da Europa
e da Ásia, mostraram que a incidência
da zona varia entre três e cinco casos,
ao ano, por mil habitantes.
A incidência da infeção por faixa etária
é semelhante entre países, com um
aumento acentuado após os 50 anos.
Mais concretamente, aos 60 anos, a
incidência sobe para seis a oito casos
anuais por mil habitantes. Aos 80 anos,
é ainda mais expressiva, e situa-se
nos oito a 12 casos anuais pelos mesmos
mil habitantes.
Em Portugal, os dados sobre a
reativação do vírus são limitados,
provavelmente porque a varicela e a
zona não são doenças de declaração
obrigatória. Contudo, estima-se
que 10 a 30% da população seja afetada
pela reativação do vírus ou pela zona.
Quanto a internamentos hospitalares
que tiveram a zona como principal
diagnóstico, um estudo realizado
no nosso país identificou 1706 casos >
156 testesaúde 15
 Vacinas
reforçam
defesas
PREVENÇÃO
DA DOENÇA
As vacinas
reduzem o risco
de herpes-zóster
e de nevralgia
pós-herpética.
>
entre os anos 2000 e 2010. A duração
média destes internamentos foi de 9,3
dias, com uma letalidade associada
de 1 por cento.
Abordagens para prevenir
e tratar
O tratamento da zona assenta no
recurso a medicamentos antivirais ou
analgésicos, que visam aliviar a dor e
aumentar o ritmo de cicatrização das
bolhas na pele. Não existem, contudo,
medicamentos capazes de eliminar a
doença por completo. Da mesma forma,
também não há nenhuma solução
que alivie de forma significativa a dor
provocada pela nevralgia pós-herpética.
Assim, a vacinação pode ser relevante
no âmbito de uma estratégia preventiva,
na medida em que permite reforçar a
imunidade preexistente, que resulta da
infeção da varicela. A vacina acaba por
atuar na chamada memória imunitária
específica, prevenindo a reativação viral
e futuros surtos de zona.
A Agência Europeia de Medicamentos
aprovou duas vacinas para a prevenção
da zona e da nevralgia pós-herpética.
Por um lado, temos a Zostavax, que foi
autorizada em 2006 e está disponível
no mercado português, com indicação
para maiores de 50 anos. Consiste numa
preparação de uma estirpe do vírus vivo,
mas atenuada, que ativa a produção
de células específicas do sistema
imunitário, aumentando as defesas
existentes e evitando a reativação.
A Zostavax não está incluída no Plano
Nacional de Vacinação, sendo sujeita
a receita médica. A administração
é feita em dose única, por injeção
subcutânea, de preferência, na região
do músculo deltoide, que articula
o ombro. Por ser uma vacina viva
16 testesaúde 156
Não há como
eliminar o vírus
varicela-zóster,
mas é possível
controlar os seus
despertares
Duas opções
para prevenir
Em 2006, a Agência Europeia de
Medicamentos aprovou a Zostavax,
uma vacina viva, e, em 2018, a Shingrix,
que recorre a uma tecnologia dita
recombinante.
Vacina viva A Zostavax, administrada
em dose única, está recomendada para
indivíduos com mais de 50 anos que não
sejam imunocomprometidos. Não integra
o Plano Nacional de Vacinação e exige
receita médica.
Vacina recombinante A Shingrix é
administrada em duas doses, por via
intramuscular, com intervalo de dois
meses. Destina-se a maiores de 50 anos,
ou de 18, desde que tenham risco
acrescido de herpes-zóster. Embora
autorizada pela Agência Europeia
de Medicamentos, ainda não está
à venda em Portugal.
atenuada, não é recomendada no caso
de indivíduos imunocomprometidos,
em que a administração pode
conduzir à disseminação da doença.
As desvantagens de uma vacina viva − e
a Zostavax não é exceção − são a redução
da eficácia a partir dos 70 anos e a
queda da proteção ao longo do tempo,
qualquer que seja a idade.
As reações adversas mais frequentes
foram verificadas no local da injeção:
vermelhidão, dor, inchaço, calor ou
comichão. A maioria destes efeitos
tem impacto ligeiro a moderado e
manifesta-se durante um a três dias.
Reações adversas ditas sistémicas, por
serem mais abrangentes, como mialgia
(dores musculares), fadiga, dor de
cabeça, arrepios e febre, são raras.
Por outro lado, em 2018, a Agência
Europeia de Medicamentos aprovou
uma segunda vacina, a Shingrix, que,
contudo, ainda não está disponível no
mercado português. Neste caso, não
é inoculada uma estirpe atenuada do
vírus. Em vez disso, é utilizada uma
tecnologia recombinante, a qual permite
que os indivíduos inoculados sejam
capazes de produzir anticorpos mais
rapidamente, se o vírus for reativado.
A vacina é administrada em duas doses,
por via intramuscular, com intervalo de
dois meses. Está indicada para maiores
de 50 anos, ou de 18, se correrem risco
acrescido de herpes-zóster.
Mas, seja uma vacina viva, seja uma
recombinante, dados provenientes
de ensaios clínicos mostram que
ambas as versões são seguras e
eficazes a reduzir o risco de zona
e de nevralgia pós-herpética.
A exceção são, como vimos, os doentes
imunocomprometidos. A vacina viva
não é recomendada e a recombinante
ainda está em estudo quanto à eficácia
e à segurança neste grupo de pacientes.
Independentemente do seu caso,
discuta opções com o médico. Ainda não
é possível eliminar o persistente vírus
varicela-zóster. Mas há como controlar
os seus despertares.
Dossiê técnico Susana Santos
 dietas
não vá
em
modas
Prometem resultados rápidos,
mas são pouco equilibradas
e podem prejudicar a saúde.
Saiba o que propõem as dietas
da moda, que perigos escondem
e, ainda, como emagrecer de forma
saudável
Ana Rita Costa e Filipa Rendo
➜ emagrecimento, garanta que esta se
CALCULAR IMC
Calcule o índice de massa corporal
(IMC) e descubra se precisa de
perder peso no nosso simulador
em www.deco.proteste.pt/
simulador-calorias
H
á um sem-número de receitas
“milagrosas” para perder peso.
Algumas prometem a perda
dos quilos extra sem grande esforço
e de forma rápida. Outras pedem que
ponha de parte determinados grupos
alimentares, alegados “vilões” na luta
pelo emagrecimento. No entanto,
algumas das dietas mais populares, que
apresentamos nas próximas páginas,
podem tornar-se um problema a longo
prazo, pondo em risco a saúde de quem
as segue.
Perder peso de forma saudável
A variedade e a moderação são a
chave de uma alimentação saudável.
Antes de adotar qualquer dieta de
baseia numa alimentação equilibrada.
Mesmo que tenha um estilo de
vida relativamente sedentário, não
deve ingerir menos de 1200 ou 1500
quilocalorias por dia, conforme seja
mulher ou homem, respetivamente.
Além disso, antes de embarcar em
modas, verifique se precisa mesmo de
perder peso, calculando o seu índice
de massa corporal (IMC). Se tiver, de
facto, quilos a mais, poderá ter de mudar
alguns hábitos para eliminar as gorduras
em excesso e manter um peso saudável.
Uma boa dieta de emagrecimento não
deve visar apenas a perda de peso no
imediato, mas também a correção
gradual dos maus hábitos, de modo a
garantir resultados duradouros. Para
que consiga seguir o plano à risca,
e durante um longo período, este
deve adequar-se aos seus gostos e
preferências, sem restringir a energia
em demasia. Outro dos segredos para
a manutenção de um peso adequado
é a prática de exercício físico com
regularidade. Se não conseguir fazê-lo
todos os dias, tente, pelo menos,
três vezes por semana. Se não está
habituado, comece devagar e aumente
a intensidade e a duração dos treinos de
forma gradual.
Dossiê técnico Dulce Ricardo e Sofia Mendonça
156 testesaúde 17
 Dietas para
emagrecer
ERROS
Saltar refeições,
eliminar alimentos
ou tomar
medicamentos
para emagrecer
estraga a dieta.
1
Jejum intermitente:
longos períodos sem comer
O jejum intermitente propõe um intervalo de
tempo sem ingerir alimentos, alternado com
períodos em que se faz uma alimentação normal.
Em alguns casos é permitida a ingestão de líquidos
sem valor energético, como a água. No jejum de
dia completo alternado, fazem-se dias de jejum
alternados, por exemplo, com um jejum de 24
horas numa segunda-feira e numa quarta-feira.
Nos dias de jejum, não se consomem alimentos
nem bebidas com valor energético. O jejum de
regime modificado, por sua vez, envolve restrição
severa de energia em dois dias, não consecutivos,
por semana. Esta dieta permite o consumo de 20 a
25% da energia necessária nos dois dias de jejum e
um plano energético normal nos outros cinco dias.
Assim, consomem-se entre 300 e 375 kcal nos dias
de jejum e 1500 kcal diárias nos outros dias. Já o
mais conhecido de todos, o jejum de restrição de
tempo, permite um plano alimentar normal com
períodos de tempo de jejum de, por exemplo, oito
horas, 12 horas, 16 horas ou 20 horas. Os estudos
já realizados revelam, no entanto, que não há
diferença significativa na perda de peso entre quem
adote uma dieta com jejum intermitente e quem
siga uma dieta de restrição calórica dita normal.
Contudo, os jejuns prolongados (mais de três dias)
são muito perigosos e podem levar à redução da
massa muscular. Além disso, deixar de comer uma
refeição pode ter o efeito inverso: o aumento de
peso. A sensação de fome aumenta quando se salta
uma refeição e corre-se o risco de que a seguinte se
transforme numa verdadeira vingança. Porque há,
então, pessoas que afirmam ter perdido peso com
o jejum intermitente? Simples: a adesão ao plano
alimentar escolhido e a motivação decorrente de
uma nova abordagem podem fazer toda a diferença
para que este seja bem-sucedido.
18 testesaúde 156
Muitas
das
dietas
da
moda
podem
pôr a
2
Dieta cetogénica:
adeus, hidratos de carbono
saúde Com uma “fórmula” de 60% de
em risco gorduras, 35% de proteínas e 5% de
a longo hidratos de carbono, a dieta cetogénica
promete uma perda de peso rápida.
prazo Quem segue este regime alimentar
privilegia, sobretudo, o consumo de
alimentos com maior teor de gordura,
nomeadamente aqueles que fornecem
as gorduras boas, como o azeite virgem
extra, as oleaginosas (amêndoas, nozes,
cajus), os ovos, as sementes e os peixes
gordos, como o salmão. Já o consumo
de hidratos de carbono é reduzido a
GUIA apenas cerca de 5% do valor calórico
PRÁTICO total consumido num dia. Assim,
reduzem-se as reservas de glicogénio
(a forma como os hidratos de carbono
estão armazenados nos músculos e
no fígado) com o objetivo de levar o
nosso organismo a mobilizar os ácidos
gordos para o fígado e a produzir corpos
cetónicos, que serão depois utilizados
como fonte energética pelos diferentes
tecidos do organismo. Por ser obrigado
a procurar outras fontes energéticas, o
organismo recorre às gorduras, o que
EMAGRECER -
pode levar a emagrecer. No entanto,
DO MITO
é preciso estar alerta para os efeitos
À REALIDADE
secundários deste regime alimentar a
(G380)
longo prazo. A dieta cetogénica é muito
Neste guia
restritiva e pode ser difícil de seguir
grátis, revelamos
pela pouca diversidade de alimentos
como perder os
permitidos. Se for seguida além de
quilos a mais de
12 semanas, podem surgir efeitos
forma saudável.
secundários como carência de vitaminas
Encomende já
e minerais (por exemplo, vitamina C,
com o código
potássio e magnésio), maior sensação
do mês 22044 em:
de cansaço, redução da massa muscular,
deco.proteste.
alteração do metabolismo das gorduras
pt/guiaspraticos
e perturbações gastrointestinais.
 4
Dieta paleo:
comer como
os nossos
antepassados

3
Desenvolvido
pelo professor
de motricidade
norte-americano
Loren Cordain,
este regime Saiba que hábitos adotar para
Dieta intuitiva: fazer as pazes alimentar
emagrecerde forma saudável
com a comida baseia-se na

Eliminar os rótulos “bom” ou “mau”

alimentação
do homem Como comer?
associados a alguns alimentos e comer primitivo antes
intuitivamente, fazendo as pazes com da descoberta
PARA PERDER PESO de forma equilibrada, não
a comida, é a proposta desta dieta. da agricultura.
salte refeições. Cinco refeições por dia é o ideal:
Desenvolvida por duas nutricionistas, a Altamente
pequeno-almoço, almoço, jantar e lanche a meio
dieta intuitiva pretende promover uma proteica e baseada
da manhã e da tarde.
imagem corporal positiva, eliminando no consumo de
a ansiedade da escolha dos alimentos. alimentos como
EVITE DIETAS MUITO RESTRITIVAS em termos
Quem a segue deve respeitar a fome e a carne magra, o
calóricos e que eliminem por completo determinados
a sede, dando ao organismo aquilo de peixe e os frutos
alimentos. O organismo precisa de várias fontes de
que realmente necessita, olhando para secos e frescos,
nutrientes para o seu bom funcionamento.
a alimentação como algo prazeroso, esta dieta abole
flexível e harmonioso. As autoras desta os cereais e os
PLANOS ALIMENTARES que propõem a restrição no
dieta sugerem ainda a distinção entre seus derivados,
consumo de hidratos de carbono complexos – como pão,
fome fisiológica e fome emocional, os açúcares
arroz, massa ou leguminosas – são de evitar. Estes ajudam
aconselhando a parar de comer refinados, os
a controlar o apetite e não devem ser banidos da dieta.
quando estamos satisfeitos e a evitar legumes e os
usar os alimentos como conforto em laticínios, assim
PERMITA-SE COMER uma refeição normal por semana
momentos de tristeza, stresse ou alegria. como os alimentos
para quebrar a monotonia.
A ideia pode parecer atrativa, mas não associados a
existindo contagem de calorias, esta uma alimentação
EVITE TOMAR MEDICAMENTOS para emagrecer.
dieta pode não ser eficiente para quem moderna, como o
Estes só devem ser opção em casos extremos e sempre
pretende emagrecer. Como o foco não é café ou as bebidas
com acompanhamento médico.
o défice calórico, é pouco provável que alcoólicas. Seguir
consiga perder os quilos a mais. Mais: esta dieta a longo
DESCUBRA MAIS DICAS para emagrecer em www.
se tem indicação para seguir uma dieta prazo pode trazer
deco.proteste.pt/alimentacao/dietas-emagrecimento/
específica, por sofrer de doença celíaca riscos para a
dicas/ementas-perder-peso
ou diabetes, não embarque em modas saúde. Além disso,
sem falar com um médico. é dispendiosa.

156 testesaúde 19
 Risco
de
interação

suplementos e
UMA EM TRÊS
PESSOAS
É este o número
de pessoas que

medicamentos
podem sofrer do
problema, segundo
um estudo inglês.

O que é? A vitamina D é um O que é? Uma das bebidas mais populares no mundo,

micronutriente que influencia tem alto teor de catequina e de outros polifenóis.
a absorção de cálcio pelo Interações com medicamentos Sinvastatina (antidislipidémico,
organismo, essencial para tratamento do colesterol); tacrolímus (imunossupressor); sildenafil
a mineralização dos ossos. (tratamento da disfunção eréctil); digoxina (cardiotónico
Interações com os e antiarrítmico) e varfarina (anticoagulante).
medicamentos Magnésio;
cálcio; lercanidipina Vitamina
(anti-hipertensor); varfarina
(anticoagulante); insulina
Chá verde
e antidiabéticos orais e
digoxina (cardiotónico e
antiarrítmico), por exemplo.

Vitamina D

Vitamina K

O que é? Envolvida na
produção de fatores de
coagulação e proteínas. Toranja
Também participa no
metabolismo dos ossos e
das cartilagens. Os principais Ginkgo
alimentos com vitamina K são
vegetais verdes-escuros. O que é? Conhecida por interagir com mais
biloba
Interações com de 85 medicamentos, aumenta o risco
medicamentos Varfarina de efeitos adversos.
(anticoagulante). Interações com medicamentos Ciclosporina
(imunossupressor); felodipina (antianginoso);
lovastatina, atorvastatina e sinvastatina, por exemplo.

20 testesaúde 156
 evite
casamentos
perigosos
O que é? Essencial na dieta humana, é O que é? Os suplementos
regularmente tomado como suplemento alimentares são utilizados
alimentar por muitas pessoas. com a intenção de prevenir
Interações com medicamentos Ciclosporina a osteoporose. Mas,
(imunossupressor); varfarina (anticoagulante); em excesso, podem ser
insulina; ibuprofeno; tipranavir (antirretroviral); tóxicos ou contribuir para o
ferro; digoxina (cardiotónico e antiarrítmico) surgimento de aterosclerose.
E e propranolol (anti-hipertensivo). Interações com
medicamentos Bifosfonatos
(osteoporose); penicilamina
(artrite reumatoide);
quinolonas e tetraciclinas
(antibióticos); digoxina.
Cálcio
Hipericão
O que é? Está disponível
em medicamentos à base
de plantas e suplementos
alimentares.
Interações com
medicamentos
O que é? Disponível em medicamentos e Ciclosporina e tacrolímus
suplementos alimentares com o intuito de tratar (imunossupressores);
várias doenças, incluindo problemas de memória contracetivos orais;
e concentração, confusão, depressão, ansiedade, varfarina (anticoagulante);
tonturas, acufenos (zumbidos) e dor de cabeça. docetaxel (tratamento
Interações com medicamentos Varfarina cancro) e indinavir (anti-
e outros anticoagulantes. VIH).
A toma em simultâneo de
suplementos alimentares e
medicamentos pode ter riscos.
Conheça as principais interações
e informe o médico de todos os
suplementos que ingere. Exigimos
rótulos mais informativos
Rita Santos Ferreira e Inês Lourinho
O
mercado dos suplementos
alimentares tem vindo a crescer
na Europa, principalmente
devido à pandemia da covid-19.
Estima-se que cerca de 20% dos
consumidores de vários países
europeus utilizem, pelo menos, um
suplemento alimentar. No entanto, o
consumo simultâneo de suplementos
e medicamentos pode trazer riscos
para a saúde.
Há interações perigosas, que devem ser
tidas em conta. Por exemplo, a interação
entre um suplemento alimentar à base
de plantas e um fármaco manifesta-se
tipicamente no plano farmacocinético,
ou seja, afeta a concentração do
medicamento no sangue e a sua ação.
Aumentar ou diminuir a eficácia do
medicamento, e potenciar o risco de
efeitos secundários, são consequências
possíveis da toma simultânea de
suplementos, ou de alguns alimentos,
e de fármacos. Por isso, esteja atento
aos riscos e informe o médico sobre
tudo o que está a tomar.
A outra face do suplemento
Tal como em todas as relações, antes
de “casar” suplementos alimentares
com qualquer medicamento, conheça
bem a personalidade de cada um.
As principais preocupações associadas
à utilização de suplementos alimentares
são a segurança e a qualidade.
Para garantir o cumprimento >
156 testesaúde 21
 Perceção
errada
“À BASE
DE PLANTAS”
“Natural” não
é inócuo. Estes
produtos podem
interagir com
medicamentos.
Informe
o médico
de todos os
suplementos
alimentares
que esteja
a tomar
> Este cenário pode ser enganador
destes dois eixos, a regulamentação
adequada é importante. Na União
Europeia, os suplementos são
legalmente considerados como
géneros alimentícios. Destinam-se a
complementar ou suplementar o regime
alimentar normal, e constituem fontes
concentradas de nutrientes ou de outras
substâncias.
O aumento da procura de suplementos
deve-se, em grande parte, à preocupação
dos consumidores com a saúde e o
bem-estar, à maior facilidade de acesso
a estes produtos em comparação com
os medicamentos e à perceção de
que podem ter o mesmo efeito, mas
com um risco muito menor de efeitos
secundários, por serem produzidos
à base de plantas. Mas, atenção, ser
aparentemente natural não é sinónimo
de seguro.
A perceção de menores efeitos
secundários é, de resto, reforçada
pelo facto de estes produtos estarem
22 testesaúde 156
CONSUMIDORES EXIGEM
Rótulos
mais
completos
Não existem requisitos legais
específicos para os suplementos, o
que alimenta a desinformação dos
consumidores. Atualmente, apenas
têm de indicar as substâncias que
os compõem, as quantidades e
a dose diária recomendada, se
disponível. Deveriam, contudo,
informar sobre possíveis
efeitos secundários quando em
combinação com medicamentos,
alimentos ou outros suplementos.
É, ainda, crucial haver limites claros
entre as diferentes classificações,
pois a mesma substância ativa pode
estar disponível em suplementos
alimentares ou medicamentos,
variando consoante os países.
para os consumidores e constituir
um risco para a saúde, já que
propicia o consumo errado
de produtos. Mais: a falta de
legislação sobre alegações de
saúde e nutrição nos suplementos
alimentares à base de plantas
também é prejudicial, e induz os
consumidores em erro. Deveria ser
criado um sistema de monitorização
e de comunicação dos efeitos
secundários dos suplementos
alimentares. Que não deveriam
ficar isentos de fornecerem
menos informação do que os
medicamentos apenas por serem
classificados como alimentos.
Impõe-se a necessidade de um
quadro regulamentar abrangente,
que garanta a mesma proteção
aos consumidores em toda a União
Europeia e forneça mais informação,
para que o uso dos suplementos
seja nada menos do que seguro.
facilmente acessíveis, por exemplo,
em supermercados. Por vezes,
apresentam até uma composição
supostamente “natural”, reforçada
por tons verdes e imagens de plantas
nos rótulos.
Porém, os ingredientes presentes nos
suplementos alimentares podem expor
os consumidores a riscos. Tal como pode
ver na ilustração das páginas anteriores,
selecionámos oito tipos de produtos
muito populares (vitaminas D, E e K, chá
verde, cálcio, sumo de toranja, hipericão
e ginkgo biloba), mas que podem ter
efeitos adversos quando consumidos
em simultâneo com determinados
medicamentos ou outros suplementos.
Prevenir e não remediar
Verificar a existência de interações entre
um fármaco e um suplemento alimentar,
antes de consumir os produtos em
causa, pode reduzir drasticamente um
possível efeito adverso. Assim, pergunte
ao médico ou ao farmacêutico se há
alimentos, bebidas ou suplementos
que deve evitar com os medicamentos
que toma habitualmente. Leia também
o folheto informativo do medicamento,
para identificar possíveis indicações
de toma ou interações. Se não entender
alguma passagem, ou considerar
que precisa de mais informações,
pergunte a um profissional de saúde.
Mais: tome o medicamento com um
copo de água, a menos que tenha
indicações do médico em contrário.
Não misture os medicamentos nos
alimentos e em bebidas quentes, nem
desfaça as cápsulas, pois pode mudar
a forma como o medicamento atua.
Tão-pouco deve tomar os fármacos
com bebidas alcoólicas, uma vez que
modifica a sua absorção e pode alterar
a sua eficácia. E não se esqueça de
guardar os medicamentos nas respetivas
embalagens originais, para que seja
mais fácil identificá-los. Evite casá-los
“à força” com suplementos alimentares,
pois os riscos existem. Acima de tudo,
informe-se.
Dossiê técnico Susana Santos
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DESCARREGUE JÁ
Edição digital para
smartphone e tablet
 Maria Pires e Augusta Luís,
de 75 e 76 anos, utentes da
Unidade de Saúde da Baixa,
e Amos Panesse, voluntário
do Pedalar Sem Idade.

prescrição social

pedalar contra
a solidão
Em Lisboa, as unidades de saúde familiar da Baixa e Almirante põem em prática a prescrição social,
projeto que visa devolver os utentes mais isolados ao contacto social, desde o exercício físico à
aprendizagem, numa abordagem múltipla para aliviar perturbações de saúde mental
Reportagem Deonilde Lourenço e Fátima Ramos • Fotografia Enric Vives-Rubio e José Fernandes/4See

24 testesaúde 156
 Prescrição
social
na capital
BENEFICIÁRIOS
O grupo inclui
quase 70% de
mulheres e 39%

य
दि तपाईलाई खोकी, ज्वरो, छोटो सास, स्वाद वा
गन्धमा परिवर्तन छ भने, कृपया घर फर्कनुहोस्
र कल गर्नहु ोस्। ... Indecifrável
para o comum português, mas uma
luz para a comunidade nepalesa, a
frase habita na entrada da Unidade
de Saúde Familiar (USF) da Baixa, em
Lisboa, por onde entram utentes de 95
nacionalidades, na maior concentração
de imigrantes da capital. Solicita a
mensagem, generalizada desde o início
da pandemia: “Se tem tosse, febre, falta
de ar, alterações no paladar e no cheiro,
por favor, volte para casa...” O mesmo
se lê em bengali, hindi, mandarim e
inglês. O multilinguismo enraíza numa
babel cultural concentrada num dos
espaços históricos mais emblemáticos
de Lisboa, espraiada desde o final da
Avenida Almirante Reis até ao Cais das
Colunas, à beira Tejo. Subindo algumas
centenas de metros, no mesmo passeio,
a paisagem humana muda, e os rostos,
predominantemente lusos, envelhecem.
Ao longo desta faixa citadina
heterogénea, a abordagem da prescrição
social, observando o indivíduo na
plenitude, extravasa a medicina, com
ganhos em saúde. Cingida ainda
a duas unidades, mas com várias
interessadas em mimetizar o projeto,
Mariana Oliveira, coordenadora da USF
Almirante, não hesita: “A prescrição
social justifica-se em todo o lado.”
Duas nepalesas em Lisboa
Rita Aryal e Gita Maharjan têm em
comum o Nepal como território de
origem, mas separa-as, tanto como
as une, a maternidade. A primeira
já foi mãe em terras portuguesas. A
segunda debate-se com as aflições da
primeira gravidez num país estranho.
No Clube da Gravidez, no Martim
Moniz, a poucos minutos a pé da
USF da Baixa, nos idiomas nativos,
trocam saberes e preenchem solidões
e desenraizamentos, num grupo
feminino oriundo de países como Índia,
Paquistão, Bangladesh ou Nepal. É o
conhecimento a desocupar dúvidas.
Os serviços são gratuitos. Só em 2021,
mais de 60 gestantes chegaram a este
de imigrantes,
de mais de 20
local referenciadas por profissionais nacionalidades.
daquela unidade de saúde, sob a
batuta da prescrição social, projeto
iniciado em 2018 e que propõe suprir
o isolamento, ditado, neste caso, pela
barreira linguística e pela desadaptação. Angústias, leva-as o vento
Sara Caldas, enfermeira na USF da Baixa Levadas pelo pedalar ágil e seguro de
e especialista em saúde materna, não Amos Panesse, voluntário indonésio
duvida: “A prescrição social facilitou a a residir em Portugal há cerca de um
integração das mulheres imigrantes. ano, Augusta Luís e Maria Pires, ambas
Vêm sem família, e, de certa forma, estão septuagenárias, quebram a rotina e
restritas ao marido. A rede de parcerias rendem-se ao trishaw e ao mote da
ajudou a que a população tivesse mais associação Pedalar Sem Idade: pelo
respostas em certas situações.” Kamal direito ao vento nos cabelos. Ambas
Bhattarai, nepalês, é o rosto do Clube da viúvas, uma há nove meses, outra desde
Gravidez, integrado na NIALP (Nepalese 2017, cultivam uma amizade antiga,
Intercultural Association Lisboa, desde os anos 70, quando Augusta Luís,
Portugal), um em dezenas de parceiros vinda de Timor, se mudou para
que disseminam a prescrição social. Lisboa. Em matizes diferentes, >
Cruzaram os seus
destinos no Clube
da Gravidez, no
Martim Moniz, em
Lisboa, criado por
Kamal Bhattarai,
um conterrâneo.
Rita Aryal, em
cima, partilha a
sua experiência
em Portugal com
grávidas a viver há
pouco tempo no
nosso país e que
não dominam o
português. Gita
Maharjan, em baixo,
grávida, encontra
a bússola num país
que ainda lhe é
estranho. A Unidade
de Saúde Familiar
da Baixa, no âmbito
da prescrição social,
encaminha utentes
deste género para
aquela estrutura.

156 testesaúde 25
>
a solidão acomete-as. Um sintoma
identificado na USF da Baixa, e perante
o qual o circuito da prescrição social
se põe em marcha. Na comunidade,
uma das respostas é a associação sem
fins lucrativos Pedalar Sem Idade,
que oferece passeios a idosos e com
mobilidade reduzida, alinhando-se
na filosofia do envelhecimento ativo.
A saúde ao encontro
da comunidade
Uma simples ferramenta informática
entrelaça os intervenientes no projeto
da prescrição social − médicos de
família, enfermeiros, assistentes sociais
e entidades que recebem utentes com
sinais de isolamento e perturbações
de saúde mental, como depressão.
De forma inédita, é a saúde que
“vai ao encontro da comunidade”,
salienta Andreia Coelho, assistente
social na USF da Baixa. “A prescrição
social tem mais-valias, para além da
nossa intervenção. É uma ação muito
concertada desde o momento em que
26 testesaúde 156
A prescrição social
é uma resposta
não médica, que
vê o utente na
plenitude. Há
ganhos em saúde,
para o utente
e para o SNS
o utente chega. Fazemos um plano de
intervenção, no qual há um alargamento
das respostas biopsicossociais. A ideia
não é uma intervenção biomédica.
É uma resposta não médica, que vê o
utente na sua plenitude. O médico até
pode receitar algum medicamento, mas
encaminharmos o utente para fazer
voluntariado, por exemplo, no Jardim
Botânico de Lisboa, ajudará a resolver
José Luís dos
Santos, de 75
anos, vive sozinho.
Depois de algumas
peripécias em casa,
como esquecer-se
da panela ao lume,
foi encaminhado
pelos profissionais
de saúde para
respostas
específicas
na comunidade.
Frequenta a
Universidade Sénior,
na Rua da Prata,
em Lisboa, e recebe
apoio alimentar de
um centro de dia.
a depressão. Pode reduzir a utilização
de medicação, a sobreutilização dos
serviços de saúde, das urgências,
etc. Temos ganhos em saúde, para o
utente e para o Sistema Nacional de
Saúde”, explica. O colega de profissão,
Diogo Silva, complementa: “Através
dos parceiros da comunidade e do
diagnóstico social, o objetivo é termos
um outcome em que consigamos
complementar os graus de satisfação do
utente, para haver melhorias no estado
social e clínico.”
Martino Gliozzi, coordenador da USF
da Baixa, não vacila quando calcula
que “em cerca de metade das consultas
não há uma solução médica. A solução
é social. A prescrição social diminuiu
a frustração da equipa que, às vezes,
tem à frente problemas sociais e não
pode resolvê-los com medicamentos.
E mudou a forma como as pessoas
olham para a saúde. Perceberam que
resolver a parte social tem impacto
na saúde mental e física. Foi um
empowerment”. Paula Massano,
assistente social na USF Almirante,
alinha: “Uma vantagem é o modelo e o
envolvimento dos profissionais de saúde
no serviço social. Sabemos que muitas
das situações que levam à consulta de
saúde são sociais.”
Desistir, não desistir
A prescrição social ativou as respostas
dos parceiros da comunidade e
estruturou-as. “Fazemos a diferença.
Enquanto médicos de família, sempre
tivemos uma visão holística da pessoa.
Mas, agora, perante um doente com
sinais de isolamento, conhecemos
efetivamente associações que
podem funcionar como uma espécie
de comprimido mágico, diferente
daquilo que tínhamos antes”, afirma
Mariana Oliveira, coordenadora da
USF Almirante. Embora, como reforça
Paula Massano, que referenciou já
cerca de 200 utentes desde o início
do projeto, em 2019: “É preciso que a
pessoa se identifique com o projeto e
perceba a mais-valia, senão desiste.”
Opinião partilhada por Andreia Coelho:
 1 2

“O utente tem sempre de concordar e ser

um pouco agente do seu próprio plano.”
As desistências fazem parte da
hesitação de muitos utentes com
sintomas depressivos e com parcas
estratégias para descolar dos seus
labirintos. A arte está em aliciá-los e
retê-los. Teatros, museus, associações
de valências numerosas, juntas de
freguesia, centros de dia, IPSS (26,
no total) estendem a mão para apoio
logístico, aprendizagens, experiências e
voluntariado. A intervenção ultrapassa
a busca de equilíbrios na saúde mental 3 4
pelo cimentar dos laços sociais.
Materializam-se igualmente soluções
logísticas e económicas. Um leite
específico para um bebé fornecido
por várias associações ou o reforço
das competências linguísticas para
encontrar emprego, necessidades
assentes em casos de vulnerabilidade
financeira e social, mudam vidas.
Por afinar está a compreensão mais
cabal do sucesso ou insucesso da
experiência dos utentes na comunidade,
ao qual não é alheia a pandemia, que
impôs um compasso de espera.

Quase 500 utentes envolvidos

A Escola Nacional de Saúde Pública,
no âmbito do Grupo de Investigação
para a Implementação e Avaliação da 5 6
Prescrição Social, e sob a batuta de
Sónia Dias, Cristiano Figueiredo (mentor
do projeto e médico de família na USF
da Baixa) e Louíse Hoffmeister, estuda
e estrutura os números, validando um
corpo teórico sobre os benefícios da
prescrição social. Entre setembro de
2018 e fevereiro de 2021, realizaram-se
495 referenciações por profissionais de
saúde das USF da Baixa e USF Almirante.
Os utentes são maioritariamente do sexo
feminino (67,7%) e migrantes (39,2%),
de mais de 22 nacionalidades. Alargar
a prescrição social ao resto do País é a
pretensão. Algumas unidades estão a
caminho e o Health Parliament Portugal,
que reúne ideias para renovar o SNS, é Unidade de Saúde Familiar da Baixa. 1. Sara Caldas, enfermeira; 2 e 3. Andreia
um defensor deste modelo. Coelho e Diogo Silva, assistentes sociais; 4. Martino Gliozzi, médico de família e
Continuem-se, pois, a prescrever boas coordenador. Unidade de Saúde Familiar Almirante. 5. Paula Massano, assistente
doses de âncoras na comunidade. social; 6. Mariana Oliveira, médica de família e coordenadora.

156 testesaúde 27

Ivone Patrão
Psicóloga clínica,
docente, investigadora
e coordenadora
do projeto
#Geração Cordão −
comportamentos
e dependências,
no ISPA – Instituto
Universitário
redes sociaisensinar a usar pelo exemplo
O tempo que se passa nas redes
sociais tem pouca ou nenhuma
influência no bem-estar, segundo
a evidência científica. Mas pais e
educadores têm de acompanhar
crianças e jovens na descoberta do
mundo online e encaminhá-los
no sentido de adotarem
comportamentos seguros,
defende Ivone Patrão
Entrevista Fátima Ramos
Fotografia Raquel Wise/4See
28 testesaúde 156
F
acebook, Instagram, Snapchat,
WhatsApp, YouTube, Tik Tok...
As redes sociais fazem parte da vida
em sociedade. São usadas por gente de
todas as idades, mas sobretudo pelos
mais jovens. Dados de 2020 do Eurostat
indicam que 96% dos portugueses entre
os 16 e os 24 anos usam estas redes - na
União Europeia, são 87%, em média.
Outro estudo, publicado no Journal of
Adolescent Health, revela que 40% dos
adolescentes lusos de 11, 13 e 15 anos
fazem um uso intenso das mesmas, e 6%
revelam comportamentos problemáticos,
como negligenciar outras atividades por
"Saber manusear
o software e
o hardware é
apenas um dos
níveis da literacia
digital"
causa das redes, mentir relativamente
ao tempo que aí passam ou sentir-se
mal quando não conseguem ligar-se.
Contudo, a evidência mostra que, para
a generalidade da população, incluindo
jovens, o tempo passado nas redes
sociais não influencia, ou influencia
pouco, o bem-estar e a saúde mental.
Mais importante é o que por lá se faz.
“Imagine-se uma criança imigrante, que
veio só com os pais e irmãos. Se passar
horas nas redes a falar com os avós ou
os primos, não é problemático, pelo
contrário”, exemplifica Ivone Patrão,
coordenadora do projeto Geração

Cordão, com quem conversámos sobre a
relação dos jovens com a tecnologia.
O que é a Geração Cordão?
É um projeto que começou há 12 anos,
com a perceção clínica de que havia uma
“dependência” emocional dos ecrãs.
A partir daí, surgiu a necessidade de
fazermos investigação, para perceber o
fenómeno. Precisávamos de uma base
para desenvolver estratégias, não só para
a consulta, mas também para prevenção.
Temos diferentes projetos, incluindo
formação para pais, professores, jovens
e crianças, mas a base é a mesma:
promover o uso saudável da tecnologia.
Quais as consequências
de os contactos digitais se
sobreporem aos presenciais?
Hoje, as crianças e os jovens têm a
socialização dita mista − presencial e
online −, e nós, os mais velhos, temos de
nos adaptar. São [formas de socialização]
diferentes que se complementam.
O problema surge quando, por exemplo,
temos jovens com baixa autoestima,
mais introvertidos, com dificuldades
na comunicação... Para estes, em tese,
pode haver o risco de adotarem a
socialização online como a principal, e
de desenvolverem menos determinadas
competências. Na socialização
presencial, tenho contacto ocular. Se me
faz uma pergunta que me incomoda, vai
percebê-lo pela reação não-verbal. No
digital, o jovem não treina o contacto
visual, a proximidade, a afetividade, o
toque e o cheiro. Online, é mais difícil ter
uma leitura da linguagem não-verbal.
Mas as redes sociais também têm muitas
vantagens, sobretudo, pela acessibilidade
rápida e simples.
As redes, enquanto montras
de felicidade, podem
influenciar a perceção da
realidade e a personalidade?
Nas redes, posso apresentar-me como
sou ou, se não estou tão bem comigo,
posso manipular uma fotografia,
escrever que vivi coisas que não vivi…
Tendencialmente, há partilha de coisas
mais positivas e parece que a pessoa está
sempre feliz, que nunca convive com
emoções negativas. Nalguns casos, é só
uma seleção daquilo que acontece de
bom na vida, noutros, é mesmo ser outra
pessoa ali [online]. E isso é um risco. Pode
haver uma retirada da realidade.
Para aqueles que valorizam muito a
imagem e se centram na felicidade
online, pode haver impacto negativo,
porque não temos 100% de felicidade.
Aqueles que estão muito fidelizados ao
online têm mais dificuldade em gerir
o seu dia-a-dia. Se bem que os jovens
também conseguem partilhar as suas
emoções negativas em grupos mais
fechados. Se sentirem que estão num
grupo de pertença, que são queridos,
partilham as impressões negativas.
Que riscos corremos
nas redes sociais?
Tantos… A questão dos perfis falsos
as burlas, a partilha de imagens
e de vídeos sem autorização e
Redes
sociais
SAÚDE MENTAL
Os estudos
mostram fraca
correlação entre
o uso de redes
sociais e a saúde
mental.
Regras para uma
utilização segura
As novas tecnologias podem servir para
aumentar a proximidade, por exemplo,
por permitirem o contacto quando as
pessoas estão fisicamente distantes,
bem como a realização de atividades
em conjunto, como os videojogos.
Contudo, é fundamental definir regras
para o respetivo uso, o que deve ser feito
em conjunto pelos elementos da família.
Explicar aos adolescentes a necessidade
de implementá-las pode reduzir a
sensação de restrição da autonomia
e contribuir para que as cumpram.
É importante que os pais também se
comprometam com algumas regras,
para servirem de exemplo.
Os adultos devem acompanhar a criação
das contas dos filhos nas redes sociais,
monitorizar o respetivo uso e trocar
ideias com eles sobre o que é e não é
apropriado “postar”.
Muitas plataformas e aplicações, como
o Facebook, o Instagram e o Snapchat,
disponibilizam guias e ferramentas para
promover a utilização segura. Use estes
recursos e apresente-os aos mais novos.
Encontra também informação útil no site
www.internetsegura.pt.
Para controlar o tempo que passa
nas redes sociais, pode recorrer às
ferramentas  disponibilizadas pelos
dispositivos. No sistema Android, ative
“bem-estar digital”, nas definições e, no
iOS, “tempo de ecrã”.
>
156 testesaúde 29
 Adição
JOGO ONLINE
É a única atividade
online cuja
dependência está
classificada como
patologia pela
OMS.
> responsabilidades e confiança. Quando
o cyberbullying, que tem impacto
emocional e no desenvolvimento. Temos
ainda a partilha de imagens ligadas à
sexualidade, muitas vezes, de filmagens
sem autorização do próprio ou de todos
os envolvidos... E há um fenómeno novo:
o fim de namoros através de uma simples
mensagem. Online, é mais fácil ter
comportamentos que, presencialmente,
temos dificuldade em assumir. O EU
Kids Online − estudo europeu− abordou
outro risco, o chamado shareting, que é
a partilha exagerada de conteúdos dos
filhos pelos pais. No estudo, os miúdos
indicaram já ter sido alvo de gozo pelos
pares, devido a fotos e informações suas
partilhadas pelos pais.
Quais os sinais a que
devemos estar atentos?
Dormir mal, baixa de rendimento
escolar, desinteresse pelas atividades
offline de que gostava, refugiar-se no
quarto e maior tristeza e ansiedade sem
justificação podem ser sinais de que está
a acontecer algo online que o jovem não
tem ainda capacidade para gerir e sobre
o qual não consegue falar com ninguém,
por exemplo, por ter receio de lhe
tirarem o telemóvel ou o tablet. Por isso,
é importante que haja uma introdução
da tecnologia de acordo com o nível
de maturidade e de literacia digital dos
jovens e tendo em conta a supervisão que
os pais conseguem fazer.
E os pais têm essa literacia?
No nosso estudo, temos um dado
engraçado: em média, os jovens reportam
30 testesaúde 156
"O tempo passado
nas redes é menos
importante do que
o que lá se faz"
que começaram a usar a tecnologia e a
internet aos sete anos e meio. Quando
estudamos os pais, verificamos que,
em média, começaram aos 24 anos.
E os jovens estão mais à vontade com
a tecnologia do que os pais. Por isso,
oferecemos os dispositivos [aos mais
novos] e não juntamos uma conversa
e uma negociação. Só que manusear
a máquina é apenas um dos níveis
da literacia digital. Existem outras
dimensões, como saber distinguir o
público do privado, saber o que se pode
publicar, o que deve ser reservado e
como identificar os riscos – com quem
falo, links que abro... O pais não olham
para isto, porque a maioria não sabe.
Aconselhamos o trabalho em equipa
e a discussão dos temas.
Que negociação propor?
A Organização Mundial da Saúde tem
diretrizes muito claras: até aos dois anos,
zero horas diárias de ecrã; entre os dois
e os cinco anos, no máximo, uma hora de
ecrã por dia; e entre os cinco e os 10, até
três horas. Tendo em conta estas balizas
e sabendo que são difíceis de cumprir,
a negociação tem de ser adequada à
realidade de cada família. A negociação
deve ser feita com cada jovem, ficando
definidas as contrapartidas e as
consequências face ao não cumprimento.
Quando ensinamos como é que se
atravessa a estrada, acompanhamos
várias vezes. Com a tecnologia, é igual:
temos de ir laçando o cordão e atribuindo
começam a usar, devemos [os pais] ter
as passwords, tanto do e-mail como das
redes sociais e jogos.
Muitos jovens ficam
perturbados quando não têm
internet. Como reagir?
A reação deles é de muita frustração,
de zanga, às vezes, com sintomatologia
física. Os pais têm de resistir a essa
manipulação emocional. Previamente,
é importante que avisem que vão estar
numa zona sem rede, podendo também
ser negociada uma compensação.
Não haverá forma de
regulamentar os acessos?
Para os jogos, temos regulamentação.
As plataformas têm de ser legais, só se
pode jogar a partir de certa idade... No
caso dos conteúdos das redes sociais,
também poderia ser positivo haver uma
adequação à idade. Mas, no mundo da
tecnologia, há sempre forma de dar a
volta. O melhor é a autorregulação e a
aprendizagem em família. A tecnologia
veio para ficar e ainda bem, porque
é muito vantajosa. Gostava de ver as
famílias, a escola e a comunidade, no
geral, mais unidas na gestão saudável
do seu uso. E isso implica também olhar
o que se faz offline. É preciso encontrar
o equilíbrio entre os dois mundos.
Os jovens precisam de ser investidos
também no mundo offline, porque, se
aprenderem e tiverem relações offline,
vão estar melhor no online.
Dossiê técnico Teresa Rodrigues
 POUPE NO
SEGURO DE VIDA

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PARCEIRO
 Profissional
identificado?
NEM POR ISSO
Cartão com nome,
número de cédula
profissional e título
profissional não
existe na maioria
dos casos.

nutrição
consultas em clínicas e farmácias
Uma paciente com obesidade, outra com peso aquém do desejável e uma terceira com os valores
recomendados procuraram anonimamente 14 estabelecimentos e ouviram os conselhos dos nutricionistas.
Os planos propostos até foram adequados, mas a gestão das expectativas nem sempre se mostrou a melhor
Inês Lourinho

A
lgures entre a reverência de
outrora a formas generosas
enquanto sinónimo de
beleza e a ditadura de hoje, que
policia sem misericórdia os quilos
supostamente excessivos, estará
o equilíbrio de um peso saudável.
Gordura ainda é formosura em
certas culturas, mas cada vez menos.
Até porque estas Vénus e estes Apolos
de farta silhueta pagam o estatuto
com o peso de diabetes, problemas
cardiovasculares, entre outras maleitas
que lhes podem abreviar a existência.
Mas quem cede aos cânones da beleza
demasiado esguia e filiforme, e procura
derreter quilos que nem sempre estarão
a mais, tão-pouco fica a salvo de riscos.
Magreza excessiva pode também
ter impacto na saúde.
Antes da pandemia, Portugal era já
um país com números preocupantes.
O Instituto Nacional de Estatística
mostra que, em 2019, mais de metade
da população a partir dos 18 anos tinha
excesso de peso ou mesmo obesidade.
Por outro lado, os números da
Direção-Geral da Saúde (DGS) revelam
um aumento das hospitalizações por
anorexia nervosa entre 2016 e 2019.
Acontece que a pandemia teve um efeito
disruptivo na dieta de muitos de nós.
Cerca de 42% dos inquiridos no âmbito
do REACT-COVID, estudo da DGS,
afirmaram ter piorado os hábitos
alimentares, e mais de 26% declararam
ter aumentado de peso.
Quisemos, assim, analisar a oferta de
consultas de nutrição proporcionadas
por clínicas e farmácias e, em regra,
ficámos satisfeitos com o que vimos.
A maioria dos nutricionistas visados
O nosso estudo
Avaliámos 37 consultas de nutrição
em 14 estabelecimentos de Lisboa.
Neste estudo por cenário, em que
participaram três colaboradoras de
forma anónima, considerámos os
indicadores das entidades reguladoras,
como a Ordem dos Nutricionistas,
quanto às boas práticas para a realização
de consultas de nutrição presenciais
e online. Entre outros, analisámos a
intervenção nutricional, investigámos
a venda de suplementos alimentares
e recolhemos os preços das consultas.
Após cada consulta, as colaboradoras
preencheram um inquérito. Os resultados
são uma fotografia do momento.

32 testesaúde 156
 RESULTADOS

APRECIAÇÃO GLOBAL
Clínicas

Intervenção nutricional
Preço da consulta (€)

Avaliação da história

Motivação e gestão
Hábitos alimentares
fizeram uma correta avaliação
e farmácias

clínica-nutricional
antropométrica

atividade física
das nossas três colaboradoras, que

dos objetivos

Indicação de
receberam uma intervenção nutricional, em Lisboa

as mais das vezes, adequada aos seus
perfis e às suas necessidades. Ainda
assim, frequentemente, esqueceram-se
de quantificar as porções a ingerir.
Avaliação
Índice de massa corporal superior a 30 kg/m2 (modo presencial)
Clínica de Nutrição de Lisboa 100* A A A C A AA

Três cenários em análise

Nutrialma 50 B AAC A AA

Com as boas práticas em mente quanto Thrust Clinic 35 B AAAAAA

à realização de consultas de nutrição, Caress Natura 30 B AAC AAB
concebemos um cenário para cada uma Clínica miMed (Alvalade) 45 B B AC AAB
das três colaboradoras. A primeira, Maria do Bairro 30 B B AC AAB
com índice de massa corporal superior Mariana Abecasis Nutricionista 60 B AAC B AB
a 30 kg/m2, ou seja, numa situação de
Mind Eat by Rita Andrade 95 B C B D B AB
obesidade, pretendia emagrecer, pelo
menos, 20 quilos... mas em dois ou três Nutricionista Ana Justino Jordão 85 B AAAB AB
meses. A perda de peso era altamente Clínica Michelle Bond 80 B B AC C AC
recomendada neste caso, mas não tantos Farmácia Cruzeiro 20 B AB C C AC
quilos em tão pouco tempo. Havia que Farmácia Holon (Campo Grande) 20 B D C D C AC
traçar objetivos realistas. Por exemplo, Clínica Persona 50 B AAC D E D
perder 500 gramas a um quilo por
Farmácia Algarve 9 B C C D D AD
semana é concretizável e traz benefícios
para a saúde. Por sua vez, a colaboradora Índice de massa corporal inferior a 18,5 kg/m2 (modo presencial)
com índice de massa corporal inferior Caress Natura 30 B A AB AAA
a 18,5 kg/m2, bastante magra, pretendia Farmácia Cruzeiro 20 B A AC AAA
ver-se livre de quatro quilos. A atitude Nutricionista Ana Justino Jordão 90 B B A A A A A
correta seria demovê-la de tal objetivo.
Thrust Clinic 35 B B A A A A A
O último cenário apontou a mira aos
Clínica Persona 25 B B A A B A B
efeitos da pandemia. Queixando-se de
ter aumentado três a quatro quilos num Mariana Abecasis Nutricionista 60 B B C D B AB
ano e meio de confinamentos, a terceira Very Clinic 50 B B C AAAB
paciente gostaria de regressar ao peso Clínica de Nutrição de Lisboa 100* A A B A C AC
inicial. Nos dois primeiros cenários, Clínica Michelle Bond 80 B B A C C AC
as consultas foram presenciais e,
Clínica miMed (Alvalade) 30 B B A C C AC
no terceiro, por videoconferência.
Farmácia Holon (Campo Grande) 20 B C C AC AC
Expectativas nem sempre Maria do Bairro 30 B A A C C AC
bem geridas Mind Eat by Rita Andrade 95 B A B A C AC
A relação entre peso e altura, para Nutrialma 50 B B C AE AE
determinada idade, é a trave-mestra
Índice de massa corporal entre 18,5 e 24,9 kg/m2 (consulta online)
de qualquer regime alimentar. Em todas
as consultas online, os nutricionistas Clínica Michelle Bond 80 A A A A A A A
tiveram a preocupação de questionar Clínica de Nutrição de Lisboa 60 B B B AC B A
ou dar indicações que lhes permitissem Farmácia Cruzeiro 20 AB AAB AB
fazer esta avaliação antropométrica. Maria do Bairro 25 AAB AAAB
Mas atribuímos nota máxima aos Nutrialma 50 B AAAAAB
que perguntaram ainda sobre valores
Clínica Persona 25 B B C C C AC
recentes e perímetro da cintura e
da anca. Nas versões presenciais, Farmácia Açoreana 40 B C C B B AC
deveriam ser os nutricionistas a Mind Eat by Rita Andrade 60 B AC D C AC
fazer as medições, o que aconteceu Farmácia Algarve 9 AB E E E AE
sempre. Mas, em relação à altura, a *Inclui avaliação do metabolismo, A Muito Bom B Bom C Médio D Medíocre E Mau
maioria limitou-se a perguntar. Ora, > no valor de 40 euros.

156 testesaúde 33
 Em forma
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os músculos.
>
no caso da colaboradora abaixo do
peso normal, deveriam ter sido feitas
medições, importantes para o cálculo do
índice de massa corporal. Sem valores
rigorosos, a intervenção nutricional
pode não ser adequada.
O historial clínico-nutricional
é outra vertente a considerar.
Doenças, antecedentes familiares,
problemas gastrointestinais, toma
de medicamentos, suplementos
alimentares ou produtos para emagrecer,
e tentativas ou perdas de peso devem ser
investigados, e foram-no de um modo
geral. Mas, na Farmácia Holon (Campo
Grande), avaliada negativamente,
as questões dirigidas à paciente mais
magra ficaram aquém do suficiente
para conhecer o seu estado de saúde.
Os hábitos alimentares (anamnese, em
termos técnicos), que incluem, entre
outros, o número de refeições diárias,
o tipo e a quantidade de alimentos
ingeridos e o consumo de água e
bebidas alcoólicas, também foram
averiguados de forma correta pela
maioria dos profissionais. Nota negativa,
no entanto, para a consulta online
da Farmácia Algarve: o nutricionista
questionou apenas sobre o consumo
de líquidos, prescrevendo de imediato
a dieta EasySlim, assente na toma
de suplementos alimentares.
Investigado o paciente e as suas
circunstâncias, o nutricionista deve
fazê-lo compreender que só o pode
guiar na conquista dos seus objetivos.
Para tal, tem de saber que objetivos são
esses, se são realistas e, se o não forem,
ser claro e orientar sobre a forma como
podem ser alcançados os resultados
34 testesaúde 156
Alguns locais
com consultas
mais baratas
tentam vender
suplementos
Consultas
não avaliadas.
As razões
Farmácia Açoreana A nutricionista
aconselhou a paciente magra a aumentar
de peso, mas referiu que apenas
ajudava pessoas a emagrecer, o que
não era o caso. Já perante a hesitação
da colaboradora com obesidade em
adquirir suplementos, recomendou que
procurasse ajuda noutro lugar, porque
só trabalhava com o método EasySlim.
Farmácia Algarve A paciente mais
magra saiu da consulta sem qualquer
recomendação, mas também não teve
de pagar. Foi-lhe dito que voltasse
na semana seguinte.
Very Clinic Também neste caso a
colaboradora com peso a mais recusou
os suplementos exigidos para levar a
cabo a Dieta dos 3 Passos. No caso
da paciente magra, a abordagem foi
completa e adequada, com foco no
aumento de peso − nem sequer falaram
em suplementos alimentares.
As consultas são da responsabilidade
de um nutricionista Segundo várias
normas de orientação profissional e guias
publicados pela Ordem dos Nutricionistas,
devem ser evitadas abordagens
padronizadas e embutidas em nomes
comerciais. Independentemente das
relações entre nutricionistas, farmácias
e empresas detentoras de planos de
emagrecimento, não é aceitável recusar
pacientes, por não se enquadrarem
em esquemas preconcebidos.
mais adequados. Deve ainda
perceber a relação do paciente com a
alimentação, o seu estado emocional
e a sua motivação.
Mais de metade dos nutricionistas
deram resposta equilibrada ao pedido
da nossa colaboradora com obesidade.
Alertaram para a necessidade de a perda
de peso ser lenta, de modo que os quilos
não fossem recuperados. A eliminação
de bolos ou refrigerantes, por exemplo,
traz já uma redução das calorias diárias
e promove a alteração dos hábitos, uma
estratégia menos drástica, que permite
a habituação a um novo estilo de vida.
Mas este processo leva mais tempo,
o que deve ser explicado.
No caso da colaboradora mais magra,
10 em 14 nutricionistas, além de
indagarem as motivações para a
perda de quilos, não aceitaram o
pedido. Pelo contrário, a paciente foi
aconselhada a aumentar o peso.
Quanto à colaboradora com índice de
massa corporal normal, em cinco das
nove consultas online, foi questionada
a motivação e a disponibilidade para a
perda de peso. Os objetivos foram, então,
ajustados às necessidades da paciente,
que pretendia perder só uns quilos e,
assim, não teria riscos para a saúde.
Com todas as informações afinadas,
são desenhados os planos nutricionais.
O recurso a suplementos de minerais
e vitaminas pode ser válido, já que, em
dietas com poucas calorias, por vezes,
é difícil assegurar as necessidades
nestes micronutrientes. Mas o processo
deve ser bem gerido, tanto na dosagem
como na duração da toma.
A nossa colaboradora com excesso de
peso obteve, no geral, boas propostas.
Mereceram apreciação negativa a
Clínica Persona e a Farmácia Algarve.
No primeiro caso, foi aconselhado
um plano alimentar restritivo
e desequilibrado, com menos de
1000 quilocalorias diárias e limitado
no consumo de hidratos de carbono.
No segundo, foi sugerida a perda de
um quilo e meio por semana, a tal dieta
EasySlim, que é muito restritiva e recorre
a suplementos dietéticos de certa marca.
Sendo a suplementação vitamínica
e mineral a única adequada, a restante
era dispensável... com custos financeiros
para a paciente.
Já a paciente demasiado magra ouviu
da maioria dos nutricionistas que
deveria ganhar peso. Mas, na Nutrialma,
não recebeu orientações para o fazer.
Por sua vez, a colaboradora que ganhou
quilos durante a pandemia recebeu
uma intervenção nutricional equilibrada
na Nutrialma. Já na Farmácia Algarve,
voltou a ser proposta a compra de
suplementação e a dieta EasySlim,
demasiado restritiva e muito além
dos seus objetivos e necessidades.
A recomendação de atividade física

José Pedro Tomaz

completou a intervenção nutricional
em todos os cenários, ainda que,
para a colaboradora abaixo do peso
normal, não fosse prioritária. A maioria
recomendou caminhadas diárias de,
pelo menos, 30 minutos. Para encontrar
os melhores locais de treino, visite
a nossa plataforma FitMap.
Planos de emagrecimento
escondidos atrás de consultas
Uma consulta custa, em média, 50
euros, embora o preço mais frequente
seja de 30 euros. Na maioria dos casos,
não existe diferença entre a versão
presencial e online. Ainda assim, as
farmácias tendem a cobrar menos
do que as clínicas. Entre 9 e 20 euros
foi quanto as nossas colaboradoras
pagaram. Em compensação, quase todos
estes estabelecimentos propuseram
suplementos como parte do plano,
o que encarece os preços. Entre os
produtos sugeridos, estão comprimidos,
infusões, pão, bolachas e snacks.
Verificámos ainda que alguns
nutricionistas recomendam alimentos
específicos, como iogurte magro 0%
da marca X ou queijo da marca Y.
É certo que estas indicações podem
ajudar o paciente a escolher as
opções mais acertadas. Mas há outros
profissionais que aconselham um
leque de escolhas mais abrangente,
com marcas de produtos equivalentes
ou o nome genérico do tipo de
Alexandra Bento
Bastonária da Ordem dos Nutricionistas
"Sempre que um nutricionista, alegadamente,
não atuar com a devida sustentação científica,
não respeitando os melhores interesses dos
seus clientes, poderá estar a atuar em violação
com o preceituado no código deontológico"
alimentos. Portanto, desde que a lista “As consultas de nutrição devem
de recomendações ofereça uma gama refletir uma atuação baseada na
variada de produtos, não se focando evidência científica e nos princípios
tanto em marcas, as indicações podem deontológicos que regulam a profissão
ser bastante úteis na ida às compras. de nutricionista, independentemente
O que já não é aceitável é a recusa de do local onde são realizadas e dos
pacientes por não se enquadrarem motivos.” E acrescentou que, se assim
em esquemas de emagrecimento não for, “tais situações deverão ser
preconcebidos. Por exemplo, na reportadas ao Conselho Jurisdicional
Farmácia Açoreana, ao recusar os da Ordem dos Nutricionistas, para
suplementos, a paciente com obesidade a devida análise e averiguação dos
recebeu da nutricionista o conselho factos, sob pena de incorrerem
de procurar outro especialista, pois a em responsabilidade disciplinar.”
sua empresa só trabalhava com aquele Portanto, já sabe: ao pegar no telefone,
método. Resposta idêntica obteve questione se se trata de uma consulta ou
na Very Clinic, que só trabalhava de um plano de emagrecimento. Não se
com a Dieta dos 3 Passos. esqueça de perguntar se estará obrigado
Partilhámos estes cenários com à compra de suplementos ou se terá uma
Alexandra Bento, bastonária da intervenção talhada à sua medida.
Ordem dos Nutricionistas, que nos
lembrou as normas da sua instituição: Dossiê técnico Teresa Rodrigues

156 testesaúde 35
 Novo
Governo
O QUE
EXIGIMOS
EM MATÉRIA
DE SAÚDE
Recuperação
dos cuidados

N
assistenciais. úmeros divulgados num
estudo promovido pelo
Movimento Saúde em Dia, que
integra médicos e administradores
hospitalares, indicam que, comparando
março de 2020 e fevereiro de 2021 com
março de 2019 e fevereiro de 2020,
ficaram por realizar, em Portugal,
14 milhões de consultas nos cuidados
de saúde primários, 4,5 milhões
de contactos nos hospitais (o que
inclui consultas, cirurgias, urgências
e internamentos) e 30 milhões
de exames. É crucial acelerar a
recuperação plena do acesso aos
cuidados de saúde, bem como dos
cuidados que ficaram adiados durante
a pandemia. O alargamento a 2022
do regime excecional de incentivos
pagos aos profissionais de saúde, pela
recuperação de consultas e cirurgias
que ficaram por fazer, é uma medida
a saudar, mas é preciso mais para
devolver a normalidade à atividade
assistencial do Serviço Nacional de
Saúde (SNS), resolver problemas
crónicos que se agudizaram durante
a pandemia e projetar um sistema de

saúde
saúde mais resiliente. Veja as nossas
exigências ponto por ponto na página
ao lado.

Gestão da pandemia:
hoje e amanhã
É necessário o reforço da estrutura
do serviço público de saúde na luta
contra a covid-19, a manutenção de
algumas medidas implementadas e

queremos a preparação de outras, com vista ao

combate a futuras pandemias. A nível
nacional, é essencial a manutenção

mais e melhor da taxa reduzida do IVA (6% em vez

A partir de agora, é crucial acelerar a recuperação plena do
acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem como dos
cuidados que ficaram adiados durante a pandemia
Maria João Amorim
de 23%) nas máscaras de proteção
respiratória e no gel desinfetante de
base alcoólica, enquanto estes produtos
se mostrarem essenciais na redução
do risco de infeção. Para evitar a
especulação dos preços, há que manter
os 15% como margem de lucro máxima
destes artigos. Enquanto estas medidas
estiverem em vigor (para já, até ao final
de 2022), os gastos efetuados pelas
famílias com este tipo de produtos

36 testesaúde 156
de proteção contra a covid-19 devem
continuar a ser dedutíveis no IRS, como
despesas de saúde.
Há que continuar também a isentar
de IVA os dispositivos médicos para
diagnóstico in vitro da covid-19, ou
seja, os testes, bem como a prestação
de serviços relacionados com esses O que exigimos
produtos. Esta isenção mantém-se em
2022, mas é preciso adequar a estratégia ao novo Governo
de testes para diagnóstico e rastreio A RECUPERAÇÃO DO CUMPRIMENTO dos tempos máximos
da infeção por SARS-CoV-2 à evolução de resposta garantidos, contratualizando cuidados com o setor
epidemiológica e à melhor evidência privado e setor social, com total transparência, sempre que se
científica disponível. revelar necessário.
A linha SNS 24 deve ser o ponto de
contacto primordial em caso de infeção. REFORÇAR A INTEGRAÇÃO entre os diferentes níveis de cuidados
Deve ter capacidade de esclarecer todas do SNS, pondo as necessidades dos utentes no centro do sistema,
as dúvidas dos utentes, evitando idas com maior aposta nos cuidados domiciliários.
desnecessárias aos cuidados de saúde
primários ou às urgências. É preciso O REFORÇO DO PAPEL DA LINHA SNS 24 para aumentar a
também melhorar a comunicação acessibilidade e aliviar a pressão sobre as urgências hospitalares.
de saúde, centrando-a no utente e
AUMENTAR A AUTONOMIA das estruturas de saúde,
respeitando-o como um elemento ativo
nomeadamente, para a contratação de profissionais.
no seu processo de saúde, doença e
tratamento. REFORÇAR A CONTRATAÇÃO de profissionais de saúde e
Deve ainda ser criada uma consulta melhorar as condições para a sua fixação no SNS.
multidisciplinar dirigida aos muitos
utentes que padecem de sequelas CONTINUAR A APOSTA NA DIGITALIZAÇÃO da saúde, que
em consequência da infeção pelo permite ganhos no acesso e na desburocratização de processos,
SARS-CoV-2. Cerca de metade dos e traz maior conveniência aos utentes. Essa aposta deveria, porém,
doentes recuperados sofrem de evoluir para um maior envolvimento dos utentes e a monitorização
sintomas a longo prazo relacionados dos níveis de satisfação, sempre com garantia de equidade.
com a doença por seis meses ou até mais
É também fulcral usar os fundos previstos no Plano de Recuperação
tempo. Esta pesada herança, chamada
e Resiliência, que prevê um investimento de 1383 milhões de
de “covid longa” tem grande impacto
euros para reforçar o SNS, dos quais 463 milhões de euros
na qualidade de vida. Os sintomas
serão aplicados na reforma dos cuidados de saúde primários.
manifestados são variados, pelo que
Objetivo: resolver ou mitigar os problemas de acesso a áreas de
é urgente que o SNS esteja preparado
cuidados em que o SNS é historicamente deficitário, e que têm
para responder às necessidades destes
especial relevância para melhorar a porta de entrada do sistema,
doentes, nomeadamente, ao nível dos
promovendo cuidados mais próximos do cidadão.
cuidados de saúde primários.
Há aspetos a melhorar também na RECUPERAÇÃO DAS CONSULTAS presenciais nos cuidados de
gestão da pandemia a nível europeu saúde primários, pelo menos, para os níveis pré-pandemia.
e mundial. Veja a lista completa das
nossas reivindicações em www.deco. REFORÇO DOS CUIDADOS de saúde primários para permitir que
proteste.pt/orcamento-familiar. todos os utentes possam ter um médico e um enfermeiro de família.

Dossiê técnico Susana Santos

INTEGRAÇÃO DA SAÚDE ORAL, da saúde mental e dos cuidados
nutricionais nos cuidados de saúde primários.
DECO.PROTESTE.PT/PODCAST
Ouça o debate sobre o que
DOTAR OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS de exames de
esperar da evolução da diagnóstico básicos.
pandemia de covid-19.

156 testesaúde 37
em direto
leitores
Utentes
podem ficar
Textos sem médico
Ricardo Nabais e Filipa Rendo de família?
Excluídos por faltas Desinformação
com gordura
O que acontece se passarem mais de três anos
sem que um utente se desloque ao seu centro de
saúde para uma consulta? Fica sem médico de
família? Perde mesmo a inscrição naquele centro?
E o que pode fazer para regressar?
Maria R., Lisboa
COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA
Susana Santos
A leitora não terá motivos para se preocupar - o prazo a
partir do qual é possível ficar sem médico de família, se
não houver recurso ao centro de saúde, é de cinco anos. E é
necessário receber uma notificação. Depois disso, tem 90 dias
para comunicar que deseja permanecer inscrita. Só então, se
não o fizer, é que fica sem médico de família atribuído.
A notificação é feita através da Área do Cidadão do portal
SNS 24, e-mail ou SMS (se tiver indicado um número de
telemóvel), ou através de carta com um código de ativação.
E como pode resolver a situação? Para manter o médico de
família, o utente tem de contactar a sua unidade de saúde
presencialmente, por telefone, e-mail ou correio, e indicar o
código de ativação e, se necessário, atualizar os seus dados e
os do agregado familiar.
O contacto atualiza de imediato a sua inscrição. Caso não
o faça, é integrado na lista de “utentes inscritos no ACES
[Agrupamento de Centros de Saúde] sem contacto nos últimos
cinco anos” e é aberta uma vaga na lista do médico de família.
A inclusão do utente nessa lista não prejudica o seu direito
a, em qualquer momento, requerer a atribuição de médico
de família e a ter acesso as todos os cuidados disponibilizados
no centro de saúde.
38 testesaúde 156
Um site apresenta um “método revolucionário
melhor do que a lipoaspiração” e que promete
reduzir “o excesso de gordura” em apenas quatro
semanas, denuncia uma leitora. Como podemos
confirmar se notícias destas são verdadeiras?
COMENTÁRIO DA NOSSA ESPECIALISTA
Susana Santos
Vivemos numa era em que a informação online está
concebida, muitas vezes, para atrair cliques dos leitores,
gerando tráfego (audiências) como forma de obter lucro
ou vender produtos. Por isso, é frequente cruzarmo-nos
com notícias ou sites falsos. Mas é possível tomar
precauções. Pesquise sobre a origem da notícia e verifique
se há mais informação sobre o site. Veja quem é o autor e
que outro trabalhos tem na área. Sinais para desconfiar: o
português deficiente e a apresentação de um “especialista”
que não existe. Atente na data, pois é frequente haver
notícias “náufragas” na net, ainda acessíveis, apesar
de antigas e ultrapassadas por nova informação.
E, sobretudo, investigue se há outras fontes: por exemplo,
se são disponibilizados os links para o estudo em
questão ou para outros sites, e se são credíveis. Por outro
lado, deve ler o artigo na íntegra. Se o título procura o
tal “isco” para “pescar” leitores, pode ser exagerado.
Ou, se o assunto parece demasiado extravagante, pode,
simplesmente, tratar-se de uma piada. Depois de toda
esta filtragem, as dúvidas mantêm-se? Fale com um
especialista, como um médico.

A sidra engorda?
Comunique
Um leitor afirma ter começado a beber sidra por a cessação
ter lido que teria menos calorias do que a cerveja. do contrato
É verdade? Será mais saudável? 30 dias
antes
COMENTÁRIO DO NOSSO ESPECIALISTA
Inseguro
Nuno Dias
de saúde
A sidra tem conquistado terreno nos hábitos de consumo
nacionais, sobretudo entre os mais jovens. Mas, atenção,
em geral, é mais calórica do que uma cerveja. As calorias Uma leitora fez um plano de
são garantidas por dois ingredientes inevitáveis: o álcool saúde a 12 meses e, passado um
e o açúcar. Mas nada como fazer as contas para confirmar. ano, sem chegar a usá-lo alguma
Considerando o teor alcoólico usual de 4,5% (4,5 mililitros vez, quis encerrá-lo. Mas, alega
de álcool etílico puro por 100 mililitros de bebida), como a queixosa, a empresa tem-se
um mililitro de álcool pesa 0,8 gramas, e cada grama de furtado a cancelar este contrato,
álcool fornece sete quilocalorias, isso traduz-se em 3,6 defendendo que se renovou
gramas de álcool por cada 100 mililitros. Ou seja, resulta automaticamente. O que pode
em 25 quilocalorias por 100 mililitros de sidra. Somemos as fazer?
quantidades de açúcar - existe uma razão média de 7,5% de
açúcar numa sidra. Cada grama de açúcar tem um potencial
COMENTÁRIO DA NOSSA
energético de quatro quilocalorias. Portanto, em 100 mililitros
ESPECIALISTA
de bebida, está a ingerir mais 30 quilocalorias. A soma dá Sandra Justino
55 quilocalorias por 100 mililitros. Tendo em conta que a
maioria das garrafas comercializadas em Portugal contêm
33 centilitros de sidra, são cerca de 180 quilocalorias por Seria preciso conhecer os termos
garrafa. A mesma quantidade de cerveja (5,1%) fornece do contrato mais em pormenor, mas
à volta de 105 quilocalorias... sugerimos que consulte as condições
contratuais do plano de saúde a que
aderiu. Regra geral, estes planos têm,
de facto, uma duração anual, renovável
por iguais períodos.
Se o custo do plano de saúde não
for pago até à data da renovação, o
consumidor fica em dívida, que vai
acumulando juros. Para rejeitar a
renovação de um plano de saúde, é
necessário comunicar essa intenção
por escrito com a antecedência
mínima de 30 dias. Caso contrário,
o plano é renovado na data prevista,
e o consumidor fica vinculado
àquela entidade por mais um ano,
sendo obrigado ao pagamento
das mensalidades contratadas.
TESTE SAÚDE
DECO PROTESTE,
Editores, Lda.
Proprietária, Editora
e Redação
Av. Eng.º Arantes
e Oliveira, n.º 13, Olaias,
1900-221 Lisboa
Conselho de Gerência
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Luís Silveira Rodrigues,
Vasco Colaço
Capital Social
. DECO - Associação
Portuguesa para a Defesa
do Consumidor (25%)
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Rodrigues
. Euroconsumers (75%)
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Country Manager
e Representante Legal
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