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ESPORTE SUPLEMENTAÇÃO CLÍNICA PROFISSÃO

Ciclismo e o papel da Qual é o papel da coenzima Crononutrição na fadiga, O impacto da pandemia


nutrição. Uso do mentol no Q10 em pacientes estresse e metabolismo. para o profissional
esportes em altas hipertensos? Vitamina D e Psicobioticos no eixo nutricionista. Mecanismos
temperaturas. Cafeína hipertrofia muscular. Cafeína intestino-cérebro. Microbiota para controlar compulsão
para atletas de alto padrão para atletas de alto padrão. e cândida por repetição. alimentar.
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Rodolfo Peres João Pinheiro Larissa Túllio Isabela Bozza Gustavo Messora Gabriela Motta

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O impacto da pandemia para o profissional nutricionista. 04

Crononutrição: instauração da fadiga, estresse metabolismo. 08

Vitamina D e hipertrofia muscular. 13

Ciclismo e nutrição para melhora do desempenho. 19


Mentol e desempenho no esporte em altas temperaturas. 28
Influência da genética no desempenho esportivo. 34

Suplementação de cafeína no desempenho de atletas. 40


Os benefícios da suplementação com ômega 3. 47
Suplementação de coenzima Q10 em pacientes hipertensos. 52
Psicobioticos, uma nova classe de psicotrópicos? 56

Relação entre microbiota e cândida. 62

Mecanismos e estratégias para a compulsão alimentar. 68

Novas micro-tendências na nutrição 75


Artigo
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O SUMÁRIO

COLUNA RODOLFO PERES

O impacto da pandemia
para o profissional
nutricionista.

04
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A
como
pandemia de COVID-19 mudou a forma
nos alimentamos, positiva e
Essa normatização foi fundamental para a
validação do nosso trabalho, demonstrando a
negativamente. Se por um lado, algumas importância da nossa atuação no manejo
famílias passaram a preparar suas próprias nutricional do paciente com COVID-19, e do
refeições, fazendo melhores escolhas quanto ela pode somar para a equipe
alimentares, a grande maioria abandonou a multiprofissional.
dieta, aumentou o consumo de alimentos
Outra importante mudança ocorreu com a
ultraprocessados e usou com maior frequência
liberação das consultas on-line pelo Conselho
os aplicativos de delivery. Cabe a nós,
Federal de Nutrição (CFN), no início do ano
nutricionistas, entender o que está acontecendo,
passado. Essa flexibilização do contato por meio
acolher essas pessoas e acompanhá-las de
virtual permitiu que inúmeros nutricionistas
maneira individual, melhorando seus hábitos e,
continuassem seus atendimentos e acabou
consequentemente, sua qualidade de vida.
fortalecendo o contato dos profissionais com os

O estado nutricional sempre foi relacionado com pacientes, criando novas estratégias de

a intensificação ou prevenção de problemas de interação.

saúde, incluindo as infecções virais. Essa relação é


NOVOS DESAFIOS
estabelecida, principalmente, pela influência que
É verdade que as pessoas estão mais conscientes
os nutrientes exercem na função imunológica e
da importância de melhorar a alimentação, só
em como são capazes de moldá-la. Essa relação
que a maior parte das escolhas que fazemos não
entre nutrição e imunidade ficou muito mais
são racionais. Com a pandemia pudemos
evidente com a pandemia. O “ser saudável”
observar que os fatores determinantes das
ganhou mais importância do que o “ser fit”.
escolhas alimentares, principalmente durante o

No ambiente hospitalar, um avanço obtido em período de maior isolamento, estavam mais

2020 foi a definição das atribuições dos atrelados ao comer emocional. Em tempos de

nutricionistas no ambiente da Unidade de estresse prolongado, e a consequente elevação

Terapia Intensiva (UTI), através da Resolução do nos níveis de cortisol no corpo, é quase certo que

Conselho Federal da Nutricionistas nº 663/2020. ocorrerá um disparo da chamada fome


emocional, que supervaloriza alimentos
reconfortantes, de preferência com muito açúcar
ou gordura.

05
¹ https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_663_2020.html GO A HEAD NUTRITION | 21ªed.
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A imersão repentina e forçada no mundo digital No entanto, a epidemia de doenças crônicas


criou uma nova dinâmica na alimentação das (cardiovasculares, diabetes e obesidade) ligadas
famílias, seja pelo maior tempo conectado às ao comportamento e ao estilo de vida das
mídias digitais ou pelo uso de aplicativos para pessoas, vai continuar. O impacto dessas
pedir comida. No meio acadêmico, fala-se até doenças no desenvolvimento de comorbidades
em ambiente alimentar digital, buscando um e na expectativa de vida da população, é tão
conceito para dar conta desse novo fenômeno, devastador quanto uma pandemia infecciosa.
não só dos aplicativos de delivery, mas também Somos o que comemos, e essa frase nunca fez
das propagandas em redes sociais e do uso de tanto sentido como agora.
algoritmos para direcionar anúncios de
alimentos.

Nesse contexto, a disseminação de conteúdo


com pouco ou nenhum embasamento científico
aumentou muito durante a pandemia! O
momento atual nos fez refletir sobre o tamanho
da nossa responsabilidade na disseminação de
informações, e qual o impacto que elas poderão
causar em quem as recebe. Mais do que nunca,
devemos investir em capacitação profissional,
nos apoiar em publicações científicas sérias e
basear nossas condutas em práticas alimentares
saudáveis e sustentáveis, coibindo extremismos
e desmistificando o poder de alimentos
milagrosos.

2020 será lembrado como o ano da pandemia e


o seu impacto no mundo. Com vacinação,
tratamentos e medidas epidemiológicas, em
breve, teremos o controle da COVID 19.

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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Crononutrição e as implicações
das atividades noturnas sobre a
insaturação da fadiga, estresse e
metabolismo.

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O trabalho noturno tem influência negativa


nos processos cerebrais ligados à integração e
De fato, tanto a memória de trabalho quanto a
inibição e a flexibilidade cognitiva são
execução de tarefas rotineiras, como memória, aprimoradas em situações de estresse agudo
inibição e flexibilidade cognitiva. Segundo (Muller, J. 2016). No entanto, quando essas
Matthew & Yonelinas (2016), a memória é situações agudas acontecem repetidamente, e
definida como a habilidade de reter informações, os indivíduos são constantemente submetidos a
integrá-las e atualizá-las para seu emprego esses conflitos, o organismo passa a não
durante a realização das tarefas e solução de responder mais de maneira eficaz, criando
problemas. A inibição é a habilidade de controlar resistência a esses episódios. Acredita-se que um
e inibir pensamentos e respostas habituais dos mecanismos responsáveis por esse efeito é a
automatizadas, com o intuito de planejar, maciça e constante liberação desses hormônios
premeditar e escolher respostas mais no organismo, que passa a responder de modo
adequadas, frente às diversas situações. E a refratário. Essa fase de estresse é designada
flexibilidade cognitiva é a capacidade de como “fase de resistência”. A resistência pode
criatividade e de adaptação às demandas ainda evoluir para a fase de exaustão, gerando o
inconstantes nas atividades (Bicalho, S, 2020). esgotamento psicofisiológico do indivíduo, e
levando à condições patológicas, como a
Toda vez que temos privação do sono, são
síndrome do esgotamento (Burnout). Sabe-se
liberadas no corpo substâncias que medeiam as
que é a partir da fase de resistência que os
respostas de alarme. Os hormônios cortisol,
sujeitos submetidos ao estresse crônico
noradrenalina, adrenalina e glucagon são as
começam a apresentar problemas no
principais substâncias envolvidas, e elas são
organismo, e onde há o comprometimento de
responsáveis por reações como o aumento da
atividade laboral. Essa hipótese é embasada
capacidade de atenção e raciocínio do cérebro
pelos achados de aumento da concentração
(Battello, C 2016), e também da capacidade de
sanguínea do cortisol (Souza Neto, J & Castro, B
bombeamento de sangue para as áreas críticas,
2008), dos sintomas de ansiedade e depressão, e
por meio da elevação da frequência cardíaca e
redução da resposta imune.
da redistribuição do fluxo sanguíneo, e da
geração de energia em todo o organismo.

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Gabriel, C e Massaferri, R 2019, pesquisaram o No entanto, sabe-se que, de fato, o corpo é


impacto da atividade operacional sobre a afetado pelo estresse e pela privação de sono.
qualidade do sono nos Controladores de Tráfego Esses indivíduos apresentam alterações do
Aéreo (CTA), e observaram que os indivíduos metabolismo lipídico, com aumento nas
estudados apresentaram distúrbios no sono, respostas do lipidograma (LDH, triglicerídeos,
como redução da quantidade e na qualidade, VLDL), resistência à insulina, tendência a
sonolência excessiva e que frequentemente diabetes, problemas gástricos, maior perfil
faziam uso de fármacos sedativos. O principal inflamatório, desenvolvimento de estresse
hormônio envolvido nesse processo parece ser a oxidativo e aumento da pressão arterial. O
melatonina. As alterações constantes na escala aumento de peso e a obesidade parecem ser o
de trabalho alteram a liberação de melatonina e cerne dos problemas metabólicos, influenciados
provocam os problemas no sono de pela fadiga, estresse e falta de sono. O controle
trabalhadores de turno invertido. ponderal de um indivíduo é resultado do que ele
consome (ingestão alimentar) e do que ele gasta
Além dos problemas relacionados com as
diariamente
funções cognitivas supracitadas, existem ainda
os efeitos sobre as funções orgânicas Atenção especial deve ser dada às opções de
metabólicas dos indivíduos. Alterações alimentação ofertadas a esses indivíduos,
metabólicas podem gerar doenças crônicas, principalmente à noite, onde a variedade é bem
como a obesidade, diabetes, hipertensão arterial, mais restrita. Além disso, a redução considerável
que ao longo do tempo também do gasto calórico contribui para o aumento de
comprometem a saúde, além de contribuírem peso, e a inatividade física é o fator que mais
para o absenteísmo. Estudos demonstram que influência nesse quesito. Diversas categorias de
trabalhadores de turno invertido e turno trabalhadores, que operam em turno invertido
rotacional apresentam respostas diferentes, no ou rotacional, apresentam taxas expressivas de
que se refere ao seu metabolismo energético inatividade física, sendo problemas relacionados
(Sonati et al., 2015 e 2016), mas há de se ter à rotina de trabalho noturna e à falta de sono
cuidado ao avaliar esses achados, já que muitas fatores preponderantes para essa prevalência de
consequências do trabalho de turnos invertidos sobrepeso e obesidade (McEwen BS, 2006).
são induzidas por características
comportamentais desses indivíduos, como
hábitos alimentares ruins e inatividade física.

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Fato interessante é que a própria obesidade e Diversos órgãos de saúde apontam a inatividade
suas doenças correlatas podem contribuir para o física como preditor independente da
desenvolvimento da fadiga e do estresse, e para mortalidade, e indicam o exercício como saída
o estabelecimento da obesidade, criando um para reversão desse quadro. No que concerne
sistema que se retroalimenta progressivamente aos trabalhadores de turnos invertidos, os efeitos
de modo a gerar malefícios ao indivíduo (Figura do exercício sobre o sono não estão
1). Isso significa que caso não sejam tomadas completamente elucidados, mas os trabalhos de
medidas preventivas, o trabalhador noturno Harma et al. (1988 a, b) apontaram que exercícios
pode estar sujeito ao longo do tempo a diversos físicos moderados foram capazes de melhorar a
fatores que contribuem para mau amplitude do sono em cerca de 5%, reduzir a
funcionamento do seu organismo, levando-os a sensação de fadiga global e a performance
apresentar sintomas de esgotamento mental e cognitiva desses sujeitos. O exercício promove
físico. todos esses efeitos através do aumento do fluxo
sanguíneo cerebral, da reatividade dos
CONCLUSÃO
receptores do cortisol ao hormônio, da síntese de
Baseado no que foi discutido neste artigo, parece fatores de crescimento ligados à neurogênese e
razoável sugerir que a atividade noturna induz neuroplasticidade (BNDF- fator neurotrófico
alterações nas funções cognitivo-afetivas e no derivado do cérebro; IGF- fator de crescimento
metabolismo, podendo contribuir para redução semelhante à insulina) e da potenciação de
da sua capacidade funcional. Dessa forma, é longa duração dos neurônios (Horne et al., 1996).
notória a necessidade de se criar estratégias
profiláticas para o aparecimento dessas Além disso, reconhecidamente o exercício induz

condições, e de desenvolver medidas o aumento do gasto energético e ativação do

terapêuticas que permitam reverter os quadros metabolismo de repouso dos indivíduos. A

patológicos apresentados por essa atividade, utilização de carboidratos e lipídios, durante e

melhorando assim sua saúde física e mental. após o exercício, permite que as reservas lipídicas
presentes nos adipócitos sejam

Uma das principais estratégias terapêuticas, progressivamente utilizadas, reduzindo os

atualmente adotadas para o tratamento de depósitos de gordura do tecido subcutâneo. O

diversas doenças, é a prática regular de exercícios mesmo ocorre com a gordura depositada na

físicos. região intra-abdominal, nas artérias, no fígado e


em outros órgãos vitais.

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A depuração do LDL (colesterol) em HDL


aumenta, reduzindo as concentrações
sanguíneas do primeiro (Santos, C ET AL 2006). O
exercício atua ainda no sistema
cardiorrespiratório, de modo a bombear o
sangue com maior eficiência para a periferia, e os
músculos passam a ser capazes de aproveitar de
maneira mais significativa o oxigênio
transportado por ele. Com isso, geram mais
energia, o que se traduz em maior gasto
energético. A reposta pressórica do sistema
cardiovascular também fica reduzida pela
prática de atividade física (Lima Junior, 2020). Os
resultados globais dessas alterações são a
redução do peso corporal, do aparecimento de
doenças metabólicas como a diabetes, das
instalações de doenças cardiovasculares, como a
hipertensão arterial, a doença coronariana, o
infarto do miocárdio e a insuficiência cardíaca, e
ainda de doenças como câncer, o acidente
vascular cerebral e distúrbios gástricos.

Levando em consideração o exposto pode-se


concluir que a prática regular de exercício parece
ser uma boa estratégia para mitigar os efeitos
negativos inerentes a atividade operacional do
trabalhador noturno, devendo ser estimulada e
orientada.

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Vitamina D e
Hipertrofia Muscular
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N os últimos anos vêm ocorrendo um grande


crescimento na procura pela prática de
Os micronutrientes, mais especificamente as
vitaminas, são substâncias orgânicas que não
atividades físicas regulares, e o quesito principal e podem ser sintetizadas pelo organismo humano,
motivador dessa busca, é a obtenção de um por esse motivo são conhecidos também como
corpo bonito e saudável (CORNELIAN; MOREIRA; nutrientes essenciais, com função celular
OLIVEIRA, 2014). específica, e podem ser classificados em dois
grupos: hidrossolúveis e lipossolúveis (CHAMPE;
A recomendação da prática de atividade física
FERRIER; HARVEY, 2006).
adotada pelo Brasil é regida pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), e afirma que a prática A vitamina D está classificada no grupo das
de atividade física satisfatória reduz vitaminas lipossolúveis, sendo considerada uma
consideravelmente o risco de mortes substância precursora de hormônios, de
prematuras, cardiopatias, acidente vascular fundamental importância para o organismo dos
cerebral, cânceres e diabetes tipo II, atuando seres humanos, podendo ser encontrada em
ainda na prevenção e diminuição da hipertensão dietas com alimentos ricos desse micronutriente,
arterial, prevenindo ganho de peso, dessa forma, ou através da exposição à luz do sol (OLIVEIRA et
reduzindo o risco de obesidade, além de auxiliar al., 2014)
na prevenção da osteoporose, promovendo
bem-estar, reduzindo o estresse, a ansiedade e a Essa vitamina vem sendo amplamente
depressão (ARTMANN, 2015). estudada, com a finalidade de verificar diversas
outras funções. Além do metabolismo de cálcio e
Dessa maneira, ao se tratar da prática de
formação óssea, pode-se citar, dentre outras
atividade física regular, deve-se lembrar que uma
funções, a interação da vitamina D com o
dieta adequada deve ser realizada de maneira a
sistema imunológico do organismo humano e o
suprir as necessidades de cada indivíduo, de
crescimento celular (MARQUES et al., 2010).
forma individual e personalizada. Assim ao aliar a
nutrição com prática de atividade física obter-se-
á um ajuste no estado nutricional, uma melhora
na aptidão física e na composição corporal do
indivíduo, além de promover bem-estar e
melhora na qualidade de vida do ser humano
(SCOPPEL; KUMPEL, 2014).

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De acordo com Lorenzeti et al., (2015), a vitamina Dessa forma, para que um músculo seja
D atua na regulação do metabolismo do cálcio, hipertrofiado, ele deve receber estímulos
agindo diretamente na saúde dos ossos. Ela adequados de treinamento, e o organismo
também participa de outros processos, como a humano deve estar em situação metabólica
síntese proteica, síntese de hormônios, resposta favorável (CORNELIAN; MOREIRA; OLIVEIRA,
imune, além de agir na renovação e regeneração 2014).
celular.
Para que ocorra a hipertrofia muscular, um
Existem receptores de vitamina D nos músculos, estresse mecânico deve ser gerado pelo
e esse micronutriente está relacionado à síntese mecanismo da contração muscular, dando sinal
protéica, melhorando a função muscular. Em para que as proteínas ativem sua síntese. Dessa
estudo, autores também relatam que a forma, um planejamento nutricional é de suma
deficiência de vitamina D reduz os níveis de importância para o processo de hipertrofia
paratormônio (PTH), o que induz o catabolismo muscular (MARQUES; LOSCHI, 2017).
muscular, podendo gerar lesões (LICHTENSTEIN
et al., 2013) Para que um corpo tenha uma melhor
capacidade de ganho de massa magra
HIPERTROFIA MUSCULAR muscular se faz necessário que, além de um
ótimo estímulo no treinamento, o indivíduo
Para tratar a respeito de hipertrofia muscular,
possua uma predisposição genética adequada,
inicialmente deve-se entender a estrutura
sendo assim para que ocorra uma melhora
esquelética do corpo humano, que é composta
significativa na aptidão física, uma alimentação
pelos ossos, músculos e tendões. As células
correta e balanceada deve ser realizada antes,
musculares são formadas por fibras que
durante e após o treinamento, pois uma
possuem um tamanho variável, podendo chegar
alimentação incoerente faz com que o
de centímetros a metros. Ao estimular uma
desempenho físico seja prejudicado, podendo
musculatura através de exercícios com cargas,
trazer malefícios à saúde (ADAM et al., 2013).
de modo a causar resistência nesse local, haverá
quadro tensional em toda a estrutura, que gerará
a hipertrofia muscular.

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De acordo com Lorenzeti et al., (2015), ao Dessa maneira, a suplementação da vitamina D


descobrir o receptor de vitamina D no interior é de suma importância para uma melhora
dos músculos, pesquisadores sugeriram que neuromuscular (LICHTENSTEIN, 2013).
esse micronutriente possa ter um papel
Em relação aos estudos realizados sobre a
importante na regulação de tecido muscular,
vitamina D e sua ação nos músculos
podendo ter impacto direto no desempenho
esqueléticos, Castro (2006), descreve que as
físico dos praticantes de atividades físicas. Os
primeiras pesquisas foram realizadas na década
autores ainda afirmam que existem estudos que
de 1970, sendo todos os testes realizados em
sugerem que a vitamina D pode desempenhar
animais. Hoje em dia, acredita-se que a vitamina
um efeito significativo na fraqueza muscular, nos
D age completamente no músculo e isso ocorre
quadros álgicos, no equilíbrio corporal, estando
pela ação do receptor VDR, que intervém na
também envolvida no processo de fraturas.
contração e relaxamento muscular.
Pedrosa e Castro (2005) afirmam que receptores
desse micronutriente podem ser encontrados De acordo com Pedrosa e Castro (2005), os

em muitos tecidos do organismo humano, efeitos musculares exercidos pela vitamina D

podendo agir sobre os músculos, no transporte podem ser intercedidos por duas vias: uma via

de cálcio e na síntese de proteínas, sendo genômica e outra via não genômica. A primeira

pertinente também relatar que a deficiência via incide na ligação da 1,25(OH)2D a um receptor

desse micronutriente pode estar relacionada nuclear específico (VDR), que resulta em

com a depleção de força e de massa muscular. transformações na transcrição genética do RNA


mensageiro e imediata síntese protéica.
Existem receptores de vitamina D nos músculos,
e esse micronutriente está diretamente A apresentação de VDR foi também evidenciada

associado à síntese de proteína muscular, em células musculares por Simpson e col. em

gerando uma melhora significativa na função 1980, levando ao interesse de se realizar várias

dos músculos. Quando essa vitamina se pesquisas para tentar explicar a importância

encontra deficiente no organismo ocorre uma desse micronutriente na função muscular

elevação do PTH (paratormônio), um hormônio (PEDROSA; CASTRO, 2005).

que induz ao catabolismo muscular,


prejudicando a hipertrofia dos músculos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Para finalizar, é pertinente lembrar que é o


nutricionista, o profissional responsável por um
É possível concluir neste artigo de revisão
bom planejamento alimentar, sempre
bibliográfica, que a vitamina D influencia na
respeitando a individualidade biológica de cada
melhora e promoção do ganho de massa magra
organismo, além de orientar de maneira
levando a hipertrofia muscular, auxiliando na
adequada os praticantes de atividade física em
proliferação e diferenciação celular. Porém, pode-
todas as etapas de treinamento, oferecendo
se afirmar que ainda não se encontram
aporte energético suficiente para promover a
estabelecidos consensos para os valores de
melhora de massa magra, além da manutenção
referência absolutos desta vitamina para que a
da saúde em geral do ser humano.
correlação seja efetiva, pois cada organismo
possui seus próprios valores ideais, diferindo uns
dos outros em relação à suficiência desse
micronutriente, que sofre interferência externa
em sua absorção e metabolização.

É de suma importância a divulgação desse tema


para a comunidade acadêmica em geral, para
que o assunto seja levado adiante e possam ser
realizadas novas pesquisas, auxiliando na
obtenção de resultados mais satisfatórios,
trazendo diversos benefícios à saúde humana.

Pode-se assegurar que, atualmente, existem


poucos estudos que abordam questionamentos
a respeito da vitamina D e sua relação com a
atividade física e o ganho de massa magra
corporal, sugerindo que novos estudos devem
ser realizados e divulgados, para estabelecer
quaiss os valores exatos dessa vitamina podem
realmente beneficiar o organismo humano.

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PRESENCIAL E ON-LINE

INÍCIO EM MARÇO 2022


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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Ciclismo e Nutrição
para melhora do
desempenho
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O ciclismo é uma modalidade que vem se


destacando mundialmente. O número de
As duas últimas formas de modalidades
supracitadas têm como característica principal
competições e o interesse das pessoas, tanto de os treinamentos de longa duração, superiores a
atletas como de amadores, cresceu muito. Com 60 minutos, podendo chegar a várias hora de
provas longas e desgastantes, os praticantes exercício. Um exemplo é o Tour de France, uma
necessitam de uma excelente condição física, das provas de maior exigência física do ciclismo,
técnica e concentração. competição que completou este ano a
nonagésima sétima edição, com um percurso
O ciclismo teve sua prática essencialmente
total de 3640 km realizado em 22 dias. Portanto,
esportiva, separada do uso da bicicleta como
a adequada nutrição tem papel crucial na
diversão ou transporte, em meados do século
capacidade de desempenho atlético do ciclista
XIX, na Inglaterra, quando surgiram
nessas condições extremas de esforço físico.
aperfeiçoamentos na fabricação de bicicletas,
(apud BURKE, 2000).
que possibilitaram o alcance de maiores
velocidades. Com a inclusão da modalidade nos A participação nesses tipos de provas exige uma
jogos olímpicos, em 1896, tornou-se uma febre excelente condição física, ou seja, muito tempo e
na Europa. No Brasil, teve início no fim do século dedicação aos treinos, que também são
XIX, em São Paulo, onde já era considerado o exercícios de longa duração e extremamente
esporte da moda. Os últimos resultados do desgastantes, pois afetam o músculo esquelético
ciclismo brasileiro em competições reduzindo os estoques de energia e
internacionais fizeram com que subisse a aumentando a degradação de proteínas
popularidade do esporte no país, sendo cada vez musculares (apud NOAKES, 2000).
mais praticado (apud RUFFO, 2004; MADEIRO,
O aumento do desempenho esportivo através
2010).
de modificações na dieta tem sido estudado,

O ciclismo é um dos esportes mais tradicionais principalmente a conversão de nutrientes em

no mundo, principalmente na Europa. Apresenta energia para utilização como substrato sintético

várias modalidades, como a BMX e o ciclismo de (apud WOLINSKY e HICKSON, 1996). Muitas

pista, de estrada e de mountain bike, variáveis contribuem para a performance do

normalmente disputadas de forma individual. atleta. A frequência, intensidade, duração e tipo


de exercício são fatores essenciais para um bom
condicionamento (apud PFITZINGER e LYTHE,
2003).

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Para os ciclistas, a redução drástica da caloria da O efeito ergogênico da ingestão de carboidratos


dieta pode não garantir a redução de gordura durante o exercício já foi demonstrado em vários
corporal, além de ocasionar perdas musculares experimentos, muitos deles efetuados durante
importantes por falta de nutrientes ativos na etapas de muitas horas de duração. Foi
recuperação após o exercício físico, como demonstrado que o exercício prolongado reduz
carboidratos, vitaminas lipossolúveis e proteínas. acentuadamente o nível de glicogênio muscular,
Portanto, sugere-se uma dieta que leve em exigindo constante preocupação com sua
consideração as influências da hereditariedade, reposição, porém, apesar dessa constatação, tem
sexo, idade, peso e composição corporal, sido observado um baixo consumo de
condicionamento físico e fase de treinamento, carboidratos pelos atletas. (SBME, 2003).
levando em consideração sua frequência,
A quantidade de carboidratos consumida parece
intensidade e duração e modalidade (apud
ser um fator relevante. Segundo as diretrizes
SBME, 2009).
propostas pela Sociedade Brasileira de Medicina

O tempo que um atleta suporta praticar do Esporte, estima-se que a ingestão

determinado exercício, está diretamente correspondente a 60% a 70% do aporte calórico

associado com a quantidade de glicogênio diário atende a demanda de um treinamento

muscular disponível em seus músculos e no esportivo, sendo que para otimizar a recuperação

fígado para ressíntese da molécula de adenosina muscular recomenda-se que o consumo de

trifosfato (ATP), responsável por gerar energia ao carboidratos esteja entre 5 e 8 g/kg de peso/dia, e

organismo. Logo, níveis aumentados de para as atividades de longa duração e/ou

glicogênio prolongam o tempo de esforço, intensos, aumentar para até 10g/kg de peso/dia,

enquanto que o jejum ou reposição inadequada promovendo assim adequada recuperação do

de carboidratos dietéticos leva a uma diminuição glicogênio muscular e/ou aumento da massa

no tempo de atividade. A partir dessa afirmativa, muscular (apud, SBME, 2009).

técnicos, treinadores e nutricionistas passaram a


Sugere-se escolher uma preparação com
utilizar estratégias dietéticas para aumentar as
consistência leve ou liquida, com adequação na
reservas desse substrato. (apud LIMA-SILVA et al.,
quantidade de carboidratos.
2007).

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Assim, a refeição que antecede os treinos deve Tem sido constatada uma maior necessidade de
ser suficiente na quantidade de líquidos, para ingestão para aqueles indivíduos praticantes de
manter hidratação, pobre em gorduras e fibras, exercícios físicos, pois as proteínas contribuem
para facilitar o esvaziamento gástrico, rica em para o fornecimento de energia em exercícios de
carboidratos, para manter a glicemia e endurance, sendo, ainda, necessárias na síntese
maximizar os estoques de glicogênio, moderada proteica muscular após o exercício. Para atletas
na quantidade de proteína, e deve fazer parte do de endurance, as proteínas tem um papel
hábito alimentar (SBME, 2003). auxiliar no fornecimento de energia para a
atividade, calculando-se ser de 1,2 a 1,6g/kg de
Outra estratégia é o acréscimo de carboidratos peso a necessidade diária. (SBME, 2003).
nas bebidas. No entanto, não há consenso dessa
necessidade em atividade com duração inferior a Em um estudo, utilizando um protocolo que
60 minutos, pois acredita-se que o estoque de consistia em dois testes de ciclismo até a
glicogênio muscular seja suficiente para fornecer exaustão, o primeiro a 75% do VO2máx e o
energia, e a utilização da glicose sanguínea é segundo a 85% do VO2máx 12-15 horas após, e
mínima (apud KERKSICL et al, 2008). comparando a ingestão de carboidrato apenas
com a ingestão de uma bebida contendo
As proteínas são essenciais para o reparo
carboidrato e proteína, durante e imediatamente
muscular, decorrentes da prática esportiva.
após o exercício, os autores encontraram uma
Dependendo do tipo, intensidade e duração do
significante redução das concentrações de CK e
exercício, e, possivelmente, do sexo, existe uma
uma significante melhora do desempenho.
necessidade de aumento da proteína para
Esses achados indicam que a ingestão conjunta
reparar micro lesões musculares, como substrato
de carboidrato e proteína aumenta o tempo até
energético e eventual hipertrofia muscular.
exaustão, e reduz as lesões musculares em
(apud, CAMPOS, 2008).
exercícios de endurance prolongados. (SILVA,
2009).
Para os indivíduos sedentários recomenda-se o
consumo diário de proteínas (RDA) entre 0,8 e 1,2
g/kg de peso/dia.

22
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O SUMÁRIO

Os lipídeos são moléculas altamente energéticas, Além disso, em longo prazo, o desequilíbrio entre
fornecendo 9 kcal por cada grama ingerida. São os antioxidantes ingeridos e os radicais livres
estocados em quantidades importantes nos produzidos pelo metabolismo, pode resultar em
adipócitos e músculos, fazendo com que sejam dano de membranas, lipídeos, proteínas e ácidos
mais eficientes como estoque energético do que nucléicos. Consequentemente, pode haver
o glicogênio. Também são capazes de fornecer aceleração do processo de envelhecimento,
alto número de ATP, cerca de 147 moléculas desgastes osteoarticulares, fadiga crônica,
(apud ANDRADE, RIBEIRO e CARMO, 2006). overtraining (excesso de treinamento) e lesões
de fibras musculares. Do ponto de vista esportivo,
Para os atletas, tem prevalecido a mesma
acarreta redução da função muscular com a
recomendação nutricional destinada à
liberação de enzimas musculares, alterações
população em geral, portanto, as mesmas
histológicas, dor muscular e perda de
proporções de ácidos graxos essenciais, que são:
rendimento atlético (GRANDO et al, 2021).
10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10%
de monoinsaturados. (SBME, 2003).
Os efeitos do estresse oxidativo variam de acordo
com a alimentação, o estado fisiológico, a
Visando a melhora do desempenho e êxito dos
ingestão ou não de bebidas alcoólicas, a idade, a
atletas, muitos profissionais recorrem ao uso de
exposição à radiação UV e a intensidade de
recursos ergogênicos como suplementos
atividades físicas, entre outros fatores. Sobre a
nutricionais para atingir as necessidades dos
produção de radicais livres associados às práticas
nutrientes, porém, é necessário que sua
exageradas de exercícios físicos, pode-se afirmar
utilização seja feita mediante uma avaliação
que a atividade física está relacionada ao
nutricional que demonstre a real necessidade de
crescimento de radicais livres, em função do
uso, uma vez que o uso desnecessário pode
aumento significativo do volume de oxigênio
acarretar prejuízos à saúde do usuário (apud
(O2) pelos tecidos ativos.
NASCIMENTO, 2016)

Esse mecanismo que culmina na formação dos


Durante o esforço físico de longa duração, é
radicais livres habitualmente ocorre no
possível que haja depleção de nutrientes e de
citoplasma, nas membranas celulares e,
antioxidantes necessários para o metabolismo o
sobretudo, nas mitocôndrias (apud VANCINI et
que, devido ao estresse oxidativo, pode predispor
al., 2005).
a lesões e comprometer o desempenho atlético

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O SUMÁRIO

A vitamina E, também conhecida como α- O zinco está envolvido no processo respiratório


tocoferol, apresenta um grande potencial celular e sua deficiência em atletas pode gerar
antioxidante, reduzindo os radicais livres a anorexia, perda de peso significativa, fadiga,
metabólitos não prejudiciais através da doação queda no rendimento em provas de endurance
de um hidrogênio; esse procedimento é e risco de osteoporose, razão pela qual tem sido
conhecido como “varredura de radicais livres”. sugerida a utilização em suplementação
Tem sido estudada ao longo de década, a alimentar (SBME, 2003).
associação do poder de oxidação do α-tocoferol à
O baixo nível de ferro, que ocorre em cerca de
prevenção do estresse oxidativo, do câncer e do
15% da população mundial, causa fadiga e
envelhecimento precoce. A vitamina E pode ser
anemia, afetando a performance e o sistema
encontrada em alimentos como os óleos de
imunológico. Recomenda-se atenção especial ao
girassol, e de canola e o azeite de oliva, bem
consumo de alimentos com ferro de eleva da
como em amêndoas, nozes e também na
biodisponibilidade. Recomenda-se que a dieta
margarina (KRAUSE, 2010).
contenha a quantidade mínima de 1.000mg/dia

O ácido ascórbico, comumente conhecido como de cálcio. Em relação ao ferro, recomenda-se

vitamina C, tem a propriedade de receber 15mg/dia para a população feminina e 10mg/dia

elétrons, o que configura uma função para a masculina. Para as gestantes, a

antioxidante, além de proporcionar a recomendação diária (RDI) é de 30mg. Tais

reestruturação da forma estável (reduzida) da necessidades são contempladas pela

vitamina E. A vitamina C, além da função manipulação dietética, não sendo necessária a

antioxidante, colabora com a redução de suplementação (SBME, 2003).

incidências de cataratas e patologias


A manutenção do equilíbrio entre a produção de
cardiovasculares. Pode ser encontrada em
radicais livres e as defesas antioxidantes é uma
acerolas, limão, morango e laranja, entre outros
condição essencial para o funcionamento
alimentos (apud TELESI; MACHADO, 2008).
normal do organismo. Os antioxidantes são

Para atletas em regime de treinamento intenso, compostos capazes de neutralizar os radicais

tem sido sugerido, o que tem gerado livres.

controvérsia, o consumo de vitamina C entre 500


e 1.500mg/dia (proporcionaria melhor resposta
imunológica e antioxidante) e de vitamina E
(aprimoraria a ação antioxidante) (SBME, 2003).

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O SUMÁRIO

Alguns deles são produzidos pelo próprio corpo A parestesia é o efeito colateral mais
humano, e outros podem ser ingeridos na comumente reportado, e a administração da
prevenção e modulação das consequências beta-alanina em doses fracionadas ao longo do
patológicas dos radicais livres, bem como: dia ou por meio de cápsulas de lenta absorção é
vitamina E e C, zinco, selênio e os carotenoides. capaz de minimizar este efeito. Com relação à
Essas substâncias apontadas como dosagem, estudos descrevem que 3 a 6g/dia
antioxidantes têm a função primordial de durante 4 a 10 semanas parecem ser o ideal para
preservar os níveis normais do processo de o efeito ergogênico desta substância. (LAGE E
oxidação no organismo humano, bloqueando o SOUZA, 2021)
desenvolvimento dos radicais livres e impedindo,
consequentemente, os danos aos sistemas Com o intuito de investigar o efeito da

biológicos que poderiam provocar uma série de suplementação da beta-alanina na prática

patologias. (REAS, 2017) desportiva, o ciclismo é atualmente a


modalidade com mais estudos realizados. Num
estudo liderado por Van Thienen et al, avaliaram
Vários estudos têm demonstrado que a
o efeito de 8 semanas de suplementação com
suplementação com Beta alanina tem sido
beta-alanina numa prova simulada de ciclismo,
consistente na elevação dos níveis de Carnonisa
com a duração de 110 minutos, e o desempenho
muscular, levando a melhorias na performance
num sprint de 30 segundos no final da prova.
em exercícios de alta intensidade e/ou na
Durante a prova de endurance o resultado foi
qualidade do treino em atletas de força e
similar entre o grupo que recebeu a
potência. A suplementação de 4 a 6 g/dia de
suplementação e o grupo placebo, no entanto, o
Beta alanina, durante 4 semanas, resultou num
grupo que suplementou melhorou
aumento da Carnosina intracelular em 64%,
significativamente o desempenho do sprint no
sendo que se esse protocolo for prolongado para
final da prova (+11,3%).
10 semanas o aumento pode ser superior a 80%.
(NEVES, 2020).
Provas de duração prolongada (1 hora) ou de
longa distância (10 km) parecem não beneficiar
A eficácia da beta-alanina é percebida em
do uso do suplemento, no entanto, os mesmos
exercícios físicos de alta intensidade, atuando no
autores verificaram melhorias na performance
tamponamento intramuscular de íons H+,
em provas mais curtas, nomeadamente num
postergando a fadiga.
teste contrarrelógio de 4 km. (NEVES, 2020)

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Como a beta-alanina e o bicabornato de sódio O grupo suplementado com o suco rico em


têm, respetivamente, uma capacidade tampão nitrato teve aumento no desempenho em
intracelular e extracelular, há motivos para crer provas de 4 a 16,1 km, devido a uma significativa
que a combinação dessas substâncias poderá ter melhora na potência para os mesmos valores de
um efeito aditivo ou mesmo sinérgico na VO², indicando que os efeitos fisiológicos do suco
capacidade de exercício e no desempenho. se devem à alta concentração de nitrato.
(NEVES, 2020). (PARIZOTTI, 2013).

O óxido nítrico (ON) é um composto relacionado O exercício de longa duração pode gerar um
com o aumento do fluxo sanguíneo, aumento quadro de desidratação que, assim como uma
das trocas gasosas, biogênese mitocondrial, elevada produção de suor de forma recorrente
eficiência, e fortalecimento da contração ou aguda, pode desencadear um desequilíbrio
muscular. Com objetivo de melhorar o nos eletrólitos, causando um prejuízo na
desempenho esportivo e alcançar mais qualidade do treinamento ou do rendimento em
resultados, muitos atletas fazem uso da competição. (GRANDO et al, 2021).
suplementação nutricional de suco de beterraba,
Com 1 a 2% de desidratação inicia-se o aumento
ou de outros alimentos com alta quantidade de
da temperatura corporal em até 0,4oC para cada
óxido nítrico (apud DOMINGUEZ, 2018).
percentual subsequente de desidratação. Em
torno de 3%, há uma redução importante do
Em ciclistas treinados, a suplementação com
desempenho; com 4 a 6% pode ocorrer fadiga
suco de beterraba por um período de 6 dias,
térmica; a partir de 6% existe risco de choque
diminuiu o volume de oxigênio VO²) durante o
térmico, coma e morte. (SBME, 2003)
exercício submáximo e aumentou o
desempenho em uma prova de 10km (apud
De acordo com a SBME, devemos ingerir
Cermak, Gibala, & Van Loon, 2012).
líquidos antes, durante e após o exercício. Para
garantir que o indivíduo inicie o exercício bem
Lansey et al, (2011) testaram a suplementação hidratado, recomenda-se que ele beba cerca de
aguda com suco de beterraba rica em nitrato 250 a 500ml de água duas horas antes do
comparada com o suco de beterraba com exercício. Durante o exercício recomenda-se
conteúdo depletado de nitrato em ciclistas iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e
treinados. continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos.

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O volume a ser ingerido varia conforme as taxas


de sudorese, na faixa de 500 a 2.000ml/hora. Se a
atividade durar mais de uma hora, ou se for
intensa do tipo intermitente mesmo com menos
de uma hora, devemos repor carboidrato na
quantidade de 30 a 60g·h-1 e Na+ na quantidade
de 0,5 a 0,7g·l-1. A bebida deve estar numa
temperatura em torno de 15 a 22 °C e apresentar
um sabor de acordo com a preferência do
indivíduo. Após o exercício, deve-se continuar
ingerindo líquidos para compensar as perdas
adicionais de água pela urina e sudorese. (SBME,
2003).

Os marcro e micro nutrientes desempenham


diversos papeis importantes no organismo. É
importante que, independente de sua
modalidade, busque estar com alimentação e
todos os nutrientes adequados para sua saúde e
melhora do desempenho esportivo.

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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Mentol e desempenho
no esporte em altas
temperaturas.
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O SUMÁRIO

Q uando buscamos recursos visando a melhora


do desempenho esportivo, as estratégias que
reduzem a fadiga são sempre um dos temas
O mentol é muito conhecido por causar uma
sensação resfriamento e frescor, principalmente
na boca e no nariz, sendo muito utilizado pela
que mais recebem atenção nas pesquisas. O medicina no tratamento e prevenção de
aumento da fadiga pode resultar em uma doenças, infecções e alergias respiratórias pelo
diminuição na capacidade e no desempenho de seu papel analgésico e anti-inflamatório. No
geração de força muscular, especialmente entanto, conseguimos encontrar inúmeros
durante exercícios de resistência realizados em estudos analisando o papel do mentol na
temperaturas mais elevadas. Embora a fadiga melhora do desempenho esportivo em
seja multifatorial, o papel do cérebro na sua condições de altas temperaturas, atenuando a
regulação ganhou muito interesse na literatura sensação de fadiga.
científica, que passou a discutir o seu papel no
retardo da fadiga pelo Sistema Nervoso Central O mentol é muito conhecido por causar uma
(SNC). sensação resfriamento e frescor, principalmente
na boca e no nariz, sendo muito utilizado pela
Uma estratégia que demonstrou atenuar a
medicina no tratamento e prevenção de
fadiga e melhorar o desempenho fisiológico,
doenças, infecções e alergias respiratórias pelo
foram as intervenções que atuam
seu papel analgésico e anti-inflamatório. No
exclusivamente no SNC, por meio de um
entanto, conseguimos encontrar inúmeros
aumento na atividade de quimiorreceptores e
estudos analisando o papel do mentol na
termorreceptores, mais especificamente
melhora do desempenho esportivo em
enxaguantes bucais com mentol.
condições de altas temperaturas, atenuando a
Mentol (2-isopropil-5-metilciclo-hexanol) é um sensação de fadiga.
lipofílico, um composto orgânico que pode ser
MECANISMO DE AÇÃO DO MENTOL NO SNC.
extraído a partir de óleos essenciais de plantas
aromáticas, como a menta e a hortelã, ou A sensação de frescor que experimentamos
produzido sinteticamente. A forma mais comum quando usamos produtos contendo mentol é,
de mentol, que ocorre naturalmente, é o isômero em parte, devido ao nervo trigêmeo no cérebro.
l, muito utilizado em vários produtos, como balas,
bebidas, cigarros e cremes dentais,
principalmente por causa de seu efeito
refrescante.

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Esse nervo está envolvido na detecção e percepção da temperatura, e ele também é responsável por
aquela sensação de que nosso cérebro está congelando quando comemos um sorvete rapidamente.
Aprofundando um pouco mais, o mentol estimula os receptores TRPM8, um achado relativamente
recente. Os receptores TRMP8 são estimulados por baixas temperaturas e também por alguns compostos
que imitam essa faixa de temperatura, como é o caso do mentol. Então, um potencial de ação é gerado e o
“sinal frio” é transmitido ao cérebro para ser interpretado. Por esse mecanismo, o mentol atua em nível
celular, imitando temperaturas mais frias e, portanto, produz uma sensação de resfriamento.

Figura 1. Mecanismo de ação do mentol na redução da percepção de calor e diminuição da fadiga via SNC. (Autoria original)

USO DO MENTOL NO ESPORTE De acordo com literaturas publicadas, o uso do


mentol demonstrou melhorias de desempenho,
Durante o exercício, foi sugerido que os
em diferentes temperaturas e frequências de
receptores orais dentro da boca estimulam
bebida, em provas de tempo e eventos de
diretamente os centros de recompensa no
resistência, em concentrações de 0,01% e 0,05%.
cérebro, que aumentam o "impulso central" e
Assim, quando aplicado internamente, como
melhoram a capacidade de trabalho. Isso foi
uma intervenção ergogênica, o mentol parece
observado com a utilização do mentol e
melhorar o desempenho geral do exercício no
carboidratos em forma de enxágue bucal.
calor, bem como reduzir efetivamente a
sensação térmica, por meio de sua capacidade
de melhorar os efeitos da ativação muscular que
foi prejudicada pela fadiga central.

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MODALIDADES ESPORTIVAS QUE PODEM SER QUAL É O MELHOR PROTOCOLO PARA


BENEFICIADAS COM O USO DO MENTOL. UTILIZAÇÃO DO MENTOL NO ESPORTE.

Investigando os artigos científicos encontramos Embora a frequência não tenha sido


a utilização do mentol no ciclismo, corrida, completamente explorada, o protocolo mais
contrações isométricas e saltos verticais. Não há comum inclui um enxague bucal por minuto,
estudos observando melhora no desempenho inteiramente durante a corrida, e uma vez a cada
esportivo com a utilização do mentol em 10 minutos de prova, em concentrações de 0,01%
esportes de curta duração, o que não é uma e 0,05%. Ultimamente, o uso mais comum é do
surpresa, pois a queda de desempenho esportivo mentol oral e a ingestão por meio de líquidos em
nessas modalidades específicas está forma de lavagem bucal. O tempo de duração
provavelmente mais ligada à fadiga periférica do da lavagem não se consolida entre os estudos,
que à fadiga central. no entanto, as durações populares incluem 10 e 5
segundos.
Além disso, a frequência em que o mentol é
CONCLUSÃO
utilizado se difere entre as modalidades. Por
exemplo, nos estudos baseados em corrida, de O mentol parece melhorar o desempenho em
Stevens et al., o mentol foi administrado uma vez exercícios de intensidade moderada e alta, de
a cada 200 m, enquanto estudos baseados em ~20 a > 60 minutos, observando-se que o
ciclismo, por Mundel, Flood et al. e Gibson et al., mecanismo associado à melhora do
administraram o mentol uma vez, a cada 10 desempenho esteja relacionado ao SNC, por
minutos. meio de receptores orais de frio, que ativam os
centros de recompensa do cérebro.

Fisiologicamente, o mentol pode aliviar o


desconforto associado à falta de ar ou respiração
difícil, pois ocorre um aumento compensatório
na ventilação, sem alteração no custo do
oxigênio do exercício relatado até o momento.
Os atletas também comumente relatam
sensações melhoradas de conforto térmico e/ ou
diminuição na sensação térmica e nas
classificações de esforço percebido, após
enxague bucal com mentol.

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De forma mais simples, os atletas sentem menos


calor ou podem tolerar melhor o calor, e isso
pode se refletir na dificuldade de sentirem o
exercício. Em conjunto, isso pode levar a um
melhor desempenho, visto que o desafio térmico
é percebido como uma ameaça menor à
manutenção da intensidade do exercício.

Embora os efeitos do mentol não tenham sido


testados em condições de temperaturas mais
moderadas, esses receptores de frio orais
parecem responder em condições de calor, em
altas temperaturas e durante exercícios de
ciclismo e corrida. Dado que mentol é de fácil
transporte, baixo custo e acessível na maioria dos
supermercados e lojas de conveniência, se torna
uma alternativa para a aplicação externa de
resfriamento, usada ​para melhorar o
desempenho durante exercícios realizados em
temperaturas mais elevadas.

32
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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Influência da genética
no desempenho
esportivo.
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O SUMÁRIO

O desempenho esportivo é um fenômeno


decorrente de um emaranhado de interações
Os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs)
podem, em parte, explicar o motivo das
que envolvem fatores extrínsecos (treinamento, diferenças interindividuais a certos estímulos,
nutrição, aspectos socioculturais e econômicos) e incluindo respostas ao treinamento esportivo (4).
intrínsecos (genética, idade, perfil fisiológico, Os SNPs são alterações na sequência de DNA,
bioquímicos e psicológicos) (1). caracterizados pela substituição de uma base de
nucleotídeo por outra (5).
A resposta coordenada do músculo esquelético
a cada sessão de exercício é iniciada por eventos
Vários polimorfismos podem predispor a
intracelulares, que impulsionam a expressão de
flexibilidade ou força muscular, suprimento de
genes envolvidos em inúmeras funções, como
energia, influenciar na atividade de resistência
metabolismo não oxidativo e oxidativo, função
cardiorrespiratória e também ao risco de lesão
mitocondrial, sinalização hormonal e defesa
(Tabela 1) (1,4,6–8).
contra estresse oxidativo (2).

Uma extensa varredura de ligação em todo o


genoma para o status atlético relatou uma
herdabilidade de aproximadamente 66% para
essa condição, em 700 pares de gêmeos
dizigóticos (3). No contexto molecular, as
variações genéticas podem influenciar diversas
respostas ao treinamento. Fato que pode ser
observado em diferentes níveis de desempenho A: adenina; ACTN3: gene da proteína alfa actinina-3; C: citosina; CK-MM:
gene da enzima creatina quinase muscular; COL1 alfa1: gene da
mediante o mesmo estímulo de treinamento.
proteína de colágeno tipo 1 subtipo alfa-1; COL5 alfa1: gene da proteína
Alguns indivíduos se adaptam bem ao estímulo de colágeno tipo 5, subtipo alfa-1; DIO1: gene da iodotironina
deiodinase tipo 1; G: guanina; HBB: gene da hemoglobina; MCT-1: gene
do exercício físico e ao treinamento (responsivos),
do transportador de monocarboxilato tipo 1; MMP3: gene da proteína
outros não se adaptam ao exercício ou a um tipo metalopeptidase da matriz 3; rs: número de referência do

específico de atividade (não responsivos), ou, polimorfismo; T: timina

ainda, há aqueles que, mesmo treinando,


melhoram pouco seu condicionamento físico
(indivíduos pouco responsivos) (1).

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O SUMÁRIO

O polimorfismo R577X no gene da alfa-actinina 3 Assim, o treinamento preventivo específico para


(ACTN3), conhecido como “gene para evitar as lesões, devido à predisposição genética
velocidade”, é amplamente estudado (6). O e à sobrecargas excessivas de treinamento, com
polimorfismo R577X é capaz de modificar a consequentes quadros de overtraining, pode ser
obtenção do status de velocidade-potência em eficaz para a saúde e desempenho esportivo (1,8).
atletas (9). Uma substituição de base Citosina (C)
Aliado a esses fatos, as adaptações fisiológicas
para Timina (T), resulta na conversão do
induzidas pelo treinamento também são
aminoácido arginina (R) em um códon
influenciadas pela alimentação (1). Porém,
prematuro de parada (X) no resíduo 577,
indivíduos também respondem de maneira
promovendo a tradução não funcional da
diferente ao consumo dos mesmos alimentos,
proteína alfa-actinina 3. Os homozigotos do alelo
nutrientes e/ou suplementos, podendo alterar as
X (XX) são deficientes nessa proteína, que se
respostas individuais relacionadas ao
expressa quase exclusivamente nas fibras
desempenho (16).
musculares de contração rápida (6). Foi
demonstrado que os genótipos 577RR ou 577RX, Atletas podem alcançar seu potencial genético
estão associados ao bom desempenho atlético através de implementações de estratégias
nas modalidades predominantes de força, ou dietéticas alinhadas à sua composição genética.
seja, dependentes das fibras musculares de (16). Um determinado SNP associado à exposição
contração rápida. Por outro lado, os indivíduos do indivíduo a um alimento, modifica a sua
que carregam o genótipo 577XX, por ter menor necessidade ou sua resposta a essa exposição
concentração nas fibras de contração rápida, (Figura 1) (16).
possuem melhor desempenho em modalidades
predominantemente de resistência
cardiorrespiratória, isto é, dependentes das fibras
musculares de contração lenta (6,10).

Os marcadores genéticos também


desempenham um papel no risco para lesões
musculoesqueléticas (11). Um risco aumentado
ou reduzido de lesão no esporte é demonstrado SNP: Polimorfismo de nucleotídeo único

em uma variedade de condições, incluindo Figura 1: Abordagem nutrigenômica na nutrição esportiva


(ADAPTADO GUEST et al, 2019)
muscular (12), de tendão (13), de ligamento (14) e
lesões ósseas (15).

36
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A cafeína é um composto metabolizado pela Fatores epigenéticos, ou seja, mecanismos que


enzima CYP1A2, codificada pelo gene CYP1A2, induzem mudanças nos padrões de expressão
que tem sido muito pesquisada. Polimorfismo de genes, sem, no entanto, alterar a sequência de
163A>C (rs762551) altera a atividade dessa enzima, bases do DNA, pode desempenhar um papel
identificando indivíduos como metabolizadores relevante no controle de transcrição do músculo
rápidos ou lentos, uma vez que também existe esquelético, (WIDMANN; NIESS; MUNZ, 2019).
uma variabilidade individual na magnitude do Esses mecanismos, modulados por fatores
efeito da cafeína. externos, eventualmente induzem mudanças na
resposta transcricional (5) e exercem um papel
Um estudo avaliou os efeitos da cafeína e do
nas intricadas adaptações ao treinamento (18).
genótipo CYP1A2, no desempenho de ciclismo
de 10 km em homens atletas, após a ingestão de Fatores epigenéticos têm constituindo um elo
cafeína a 0 mg, 2 mg (dose baixa) ou 4 mg (dose entre o genótipo e o meio ambiente, se tornando
moderada) por kg de massa corporal. Houve potenciais biomarcadores na predição da
uma melhora de 3% no tempo de ciclismo na resposta ao treinamento (18). Fato observado em
dose moderada em todos os indivíduos. No estudo com gêmeos monozigóticos
entanto, houve uma interação cafeína-gene demonstrou que, embora eles compartilhem de
significativa, onde melhorias no desempenho um genótipo comum, podem possuir fenótipos
foram observadas em ambas as doses de diferentes, a depender do treinamento e
cafeína, mas apenas naqueles com o genótipo alimentação a que são submetidos ao longo da
AA, que são “metabolizadores rápidos” da vida (20).
cafeína. Nesse grupo, uma melhoria de 6,8% no
Uma gama de marcas epigenéticas já foram
tempo de ciclismo foi observada com 4 mg/kg.
demonstradas como alteradas em decorrência
Entre aqueles com o genótipo CC, 4 mg/kg de
do treinamento, com potencial influência no
cafeína prejudicou o desempenho em 13,7%,, e
metabolismo muscular, como, por exemplo,
naqueles com o genótipo AC não houve efeito
redução na metilação de PGC-1α, seguida por
de nenhuma das doses de cafeína (17).
um aumento da sua expressão após exercício
No entanto, a genética e sua interação com o (18). Alterações na expressão de micro RNA
ambiente também tem importante impacto (miRNA) também podem ser observadas devido
sobre o desempenho físico. ao treinamento.

37
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O exercício tem a capacidade de regular de O SUMÁRIO

forma aguda várias espécies de miRNA no


músculo, envolvidas na regulação da
regeneração muscular, transcrição gênica e
biogênese mitocondrial (21).

Estímulos repetidos de exercícios são capazes de


gerar efeitos duradouros na transcrição de genes
e, consequentemente, na expressão e função
proteica do tecido muscular (22). O treinamento
de resistência de forma crônica, altera tanto no
músculo como no plasma, miRNA específicos do
tecido muscular, alterações essas responsáveis
pelo aumento da resposta de força extensora do
joelho (23).

Compreender a arquitetura das variações


genéticas, relacionadas ao desempenho e seus
modos de ação, fornece uma nova visão para a
otimização do conteúdo e estratégias do
treinamento, a fim de influenciar positivamente
o desempenho, bem como reduzir o risco de
lesões (8). Há uma crescente fonte de
conhecimentos genéticos relacionada ao
desempenho esportivo. No entanto, é
importante lembrar que os fenótipos
relacionados aos exercícios são poligênicos, e a
capacidade física e atlética é influenciada por
uma gama de fatores (24). O sucesso esportivo é
resultado de uma combinação multifatorial
bem-sucedida, com inúmeros estímulos
genéticos e ambientais aos quais os indivíduos
estão expostos, de modo que um indivíduo
altamente comprometido e dedicado ao
treinamento é capaz de melhorar o
desempenho esportivo (4).

38
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A análise genética esportiva avalia 61 variantes em
47 genes que estão relacionadas a aptidão física,
perfil esportivo, recuperação, lesão muscular e
aspectos comportamentais, que auxiliam a
elaboração de uma estratégia física e nutricional
personalizada para buscar melhores resultados no
menor espaço de tempo possível.

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O SUMÁRIO

COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Suplementação de
cafeína no desempenho
de atletas de alto padrão.
40
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O SUMÁRIO

E ste artigo aborda uma análise de estudos


mais recentes sobre o uso da cafeína no
No entanto, a natureza ubíqua dos receptores de
adenosina, juntamente com sua capacidade de
desempenho de atletas de alto padrão. produzir respostas diferenciadas, dependendo
do local de ação e do subtipo de receptor
A cafeína é a substância psicoativa mais
envolvido, tornou difícil identificar os
consumida no mundo, e é encontrada
mecanismos precisos pelos quais a cafeína
naturalmente em dezenas de espécies de
exerce seu efeito ergogênico.
plantas, incluindo café, chá e cacau. É ingerida
com mais frequência em bebidas, como café, Efeitos da cafeína sobre o comportamento
refrigerante, chá e energéticos. Podemos ainda humano têm sido objeto de estudos há algum
encontrar a cafeína em produtos alimentícios, tempo. Esses efeitos podem ser descritos como,
suplementos, diuréticos e outros destinados à aumento do estado de alerta e redução da
perda de peso e manutenção do estado de fadiga, com concomitante melhora no
alerta. Ela não apresenta qualquer valor desempenho de atividades que requeiram
nutricional, mas muitos estudos têm apontado a maior vigilância.
cafeína como substância ergogênica, capaz de
O combate à fadiga representa um dos
aprimorar o desempenho físico e protelar a
principais efeitos positivos da cafeína, seguido da
fadiga muscular.
resistência. O aumento da concentração é outro
ponto chave para o sucesso na realização das
Desse modo, a cafeína tem sido utilizada com
atividades que requerem uma atenção maior.
grande frequência, particularmente por atletas,
como substância ergogênica, antes da realização
Em contrapartida, o consumo de cafeína pode
de exercícios físicos, com o intuito de postergar a
afetar negativamente o controle motor e a
fadiga e conseqüentemente aprimorar o
qualidade do sono, bem como causar
desempenho atlético
irritabilidade em indivíduos com quadro de

O mecanismo pelo qual se acredita que a cafeína ansiedade. O efeito da ingestão de cafeína sobre

exerça seu efeito, é através do antagonismo dos o sistema cardiovascular ainda é motivo de

receptores de adenosina. grande controvérsia. Pessoas com hipertensão,


doença coronariana e arritmia cardíaca deveriam
ser encorajadas a reduzir seus níveis de ingestão
de cafeína.

41
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MECANISMOS E EFEITOS Os receptores de adenosina estão presentes


também nos músculos e no tecido adiposo, por
Acredita-se que a cafeína possua mecanismos
esse motivo a cafeína está diretamente ligada à
de ação central e periférica, que poderiam
alteração da percepção da dor e ao aumento na
desencadear importantes alterações
contração muscular (GODOY; GONÇALVES;
metabólicas e fisiológicas, resultando na
MORAES, 2012; CUNHA, 2013; RAUBER,2015;
melhoria do desempenho atlético. Todavia, o seu
SOUSA, 2017).
efeito ergogênico é ainda bastante controverso,
visto que, aparentemente, outros mecanismos EFEITOS COLATERAIS

podem estar associados à sua ação durante Doses maiores de cafeína (>9 mg/kg) não
diferentes tipos de exercício físico. parecem aumentar o benefício de desempenho
e são mais propensas a aumentar o risco de
A cafeína age como estimulante no sistema
efeitos colaterais negativos, incluindo náusea,
nervoso central, mais precisamente no sistema
ansiedade, insônia e inquietação. Dores de
nervoso autônomo simpático, agindo nos
cabeça, insônia, distúrbios sensoriais, problemas
receptores de adenosina, na enzima
cardiovasculares e problemas gastrointestinais,
fosfodiesterase, canais de cálcio, nos receptores
devido à cafeína ser ácida, gerando gastrites e
GABA e canais iônicos. A sua molécula tem
úlceras no estomago. A dose letal aguda em
grande semelhança a adenosina, inibindo os
humanos foi estimada de 5 a 10 g por pessoa,
receptores de adenosina. A cafeína tem efeito
sendo administradas por via oral (CUNHA, 2013;
direto no sistema nervoso, por competir com
OLIVEIRA et al, 2017).
outro neuromodulador químico. O efeito
RELAÇÃO ENTRE A CAFEÍNA E DESEMPENHO
conhecido da adenosina é a diminuição da
ESPORTIVO
concentração de alguns neurotransmissores
como serotonina, dopamina, acetilcolina, Os efeitos ergogênicos da cafeína começaram a
adrenalina e glutamato, causando fadiga, ser difundidos pela comunidade científica a
cansaço, falta de foco, vasodilatação, redução da partir da década de 1970. Estudos evidenciaram
pressão e temperatura corporal. uma melhoria no tempo de exercício e na
quantidade de trabalho realizado em atividades
de endurance.

42
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Os resultados desses estudos sugerem que a Estudos apontam um relativo aumento da força
ingestão de cafeína aumentou a disponibilidade muscular, acompanhado de uma maior
de AGL para o músculo, resultando em maior resistência à fadiga muscular, após o consumo
oxidação de lipídios. A quantidade média de de cafeína. Acredita-se que esse aumento ocorra
cafeína ingerida pelos voluntários dos estudos foi em maior intensidade em decorrência da ação
de aproximadamente 5 mg/Kg de peso corporal, direta da cafeína no SNC (KALMAR E CAFARELLI,
sendo suficiente para melhorar o desempenho 1999). Com relação aos exercícios máximos e
do grupo testado (Mendes e Brito, 2007). supramáximos de curta duração, a maioria dos
estudos vem demonstrando que a ingestão de
Braga e Alves (2000) citam em seu estudo que, cafeína pode gerar, sim, uma melhoraria
na década de 1990, vários estudos significativa no desempenho desportivo dos
demonstraram melhorias no desempenho de atletas que fazem uso da cafeína (SILVA, 2003;
atletas de endurance, devido à ingestão da ALTIMARI ET AL., 2008).
cafeína. Em seu estudo, Maria e Moreira (2007)
descreveram os efeitos da cafeína sobre o No estudo de Kalmar e Cafarelli (2004), observou-
comportamento humano. Os resultados se uma redução considerável na fadiga muscular
demonstraram um aumento na capacidade de e fadiga central após ingestão de cafeína (6
alerta e redução de fadiga nos indivíduos que mg/Kg). Diante dos resultados, os pesquisadores
consumiram cafeína, com isso houve melhora sugeriram que a fadiga central parece contribuir
no desempenho nos exercícios avaliados. diretamente para a fadiga neuromuscular. O
consumo de cafeína é seguro e não são
Em alguns artigos científicos o uso da cafeína em conhecidos efeitos negativos no desempenho
exercícios físicos, de média e longa duração, físico, como ocorrência de desidratação e/ou
promovem uma melhoria na eficiência algum desequilíbrio eletrolítico, durante a
metabólica dos sistemas energéticos durante a realização de exercício físico (SOARES E
realização do exercício, contribuindo para FONSECA, 2004/05).
melhoria do desempenho. Observou-se
também que a dosagem de cafeína é A cafeína demonstrou melhorar a resistência em

determinante para essa resposta positiva, pois o 2–4%, em dezenas de estudos usando doses de

desencadeamento das respostas fisiológicas e 3–6 mg / kg de massa corporal

metabólicas parece estar atrelado à quantidade


consumida.

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Consequentemente, a cafeína é uma das ajudas Dessa forma, seria recomendada a realização de
ergogênicas mais proeminentes, e é usada por um trabalho interdisciplinar entre nutricionista e
atletas e indivíduos ativos em uma ampla educador físico, visando à manutenção e
variedade de esportes e atividades que promoção do bem-estar físico e mental do
envolvem resistência aeróbia. Foi demonstrado paciente/aluno, assim como a melhoria do seu
que a cafeína beneficia vários esportes de desempenho na sua respectiva modalidade
resistência, incluindo ciclismo, corrida e natação. desportiva realizada. Desde que sejam
consumidas as doses certas, que tendem a ser
A cafeína tem se mostrado consistentemente de 3 a 6 mg / kg na maioria dos estudos.
eficaz como auxílio ergogênico quando tomada
em doses moderadas (3-6 mg / kg), durante No entanto, como existem pessoas mais
exercícios de resistência e esportes responsivas e menos responsivas, é importante
analisar a individualidade genética de cada um.
CONCLUSÃO

Hoje, temos a possibilidade de realizar testes


Em resumo, a cafeína pode melhorar
específicos para individualizar cada vez mais
substancialmente o desempenho da grande
essas predisposições genéticas. Porém, é
maioria da população, em diferentes esportes.
importante que o profissional nutricionista tenha
Entre esses efeitos, temos um aumento da
cautela e discernimento na solicitação desses
atenção e estado de alerta, retardo da fadiga,
tipos de exames, já que eles podem ser inviáveis
aumento da ação lipolítica e diminuição da
para o público alvo.
sensação de dor gerada pelo exercício físico. A
utilização da cafeína mostrou-se segura,
portanto, recomenda-se sua utilização em
praticantes de atividades físicas, cuja
necessidade de suplementação seja identificada
por um profissional capacitado a prescrever e
acompanhar sua utilização.

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COLUNA NUTRIÇÃO ESPORTIVA

Os benefícios da
suplementação com
ômega 3 no esporte.
47
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O
o
s ômegas 3 de maior importância clínica são
EPA (eicosapentaenoico) e o DHA
Doenças neurodegenerativas, como Parkinson e
Alzheimer, ainda são um problema laborioso na
(docosahexaenoico). Esses ácidos graxos estão medicina clínica, e os ácidos graxos ômega 3
presentes em óleos extraídos de peixes marinhos possuem um futuro promissor nesse sentido,
de águas frias e também nas algas. Eles vêm pelas suas propriedades anti-inflamatórias e
sendo estudados há bastante tempo e muitos metabólicas no controle dessas doenças (3). Eles
benefícios já foram observados. também regulam a pressão arterial e a
coagulação Hemática (4). O EPA e o DHA são
É importante ressaltar que o ômega 3 é um importantes também para o desenvolvimento
nutriente essencial, mas como nosso organismo fetal adequado, incluindo funções neuronais,
não é capaz de produzi-lo em quantidades retinais e imunológicas (5). Evidências atuais
adequadas, ele deve ser obtido por meio da apontam que o consumo de EPA e DHA em
dieta, com a ingestão de peixes de águas uma dosagem de ≤1 g / d teriam efeitos
profundas, ou através de suplementos. benéficos na depressão (6).
Estatísticas apontam que o consumo de ômega
3 no Brasil é extremamente baixo. Esse nutriente também tem se mostrado
promissor entre os atletas em diversos esportes.
Um dos benefícios do ômega 3 é proporcionar
Por exemplo, um review publicado
uma melhora da função cognitiva. Estudos
recentemente na base de dados do PubMed
demonstram uma associação benéfica entre os
aponta que foi feita a suplementação de 24
níveis sanguíneos de DHA e/ou EPA e diversos
jogadoras de futebol de elite, com 3,5 g por dia de
aspectos da função cognitiva em adultos mais
óleo de peixe rico em DHA, por quatro semanas,
velhos (1). Um outro ponto interessante é sobre
e foram observados benefícios perceptivo-
os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3
motores, ou seja, melhorias no tempo de reação
demonstrarem efeitos benéficos nas
complexa e eficiência. Isso revela que o DHA
concentrações de lipídios. Eles podem estar
pode melhorar o desempenho em esportes
associados a melhorias nos biomarcadores
onde a atividade perceptivo-motora e a tomada
inflamatórios e no perfil lipídico de pacientes
de decisão são fatores chave para o sucesso.
diabéticos, com problemas cardiovasculares,
Portanto, ele pode aprimorar a performance
portadores de câncer e artrite (2).
esportiva tendo baixo custo e pouco risco (7).

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Em um outro estudo randomizado, duplo cego, QUAL É A DOSAGEM CORRETA PARA ATLETAS?
controlado por placebo, de grupo paralelo,
investigou o efeito do EPA e do DHA, por 4 De acordo com o Journal of Sport Nutrition and

semanas, no dano muscular por concentrações Exercise Metabolism a dose mais comumente

excêntricas (CEC) dos flexores do cotovelo. Foram estudada é de 2g/dia, para melhor

recrutados 22 homens não treinados, divididos processamento cognitivo, risco

aleatoriamente em dois grupos de 11. Um grupo reduzido/recuperação aprimorada de mTBI,

suplementou 600mg/dia de EPA e 260mg/dia redução dos sintomas ou melhora da

de DHA, antes do exercício, e o outro grupo recuperação de exercícios que causam danos

placebo. Os indivíduos realizaram 60 ECCs em aos músculos, porém não está claro se a

100% de contração voluntária máxima (MVC) suplementação deve ser buscada por atletas, em

usando um haltere. Mudanças no torque MVC, vez de incluir peixes gordurosos na dieta como

amplitude de movimento (ROM), circunferência fonte de ácidos graxos ômega-3 (9).

do braço, dor muscular, intensidade do eco,


espessura muscular, creatina quinase (CK) e COMO ESCOLHER UM BOM ÔMEGA 3?

interleucina-6 (IL-6). Eles foram avaliados antes


Para ter um bom aproveitamento desse
do exercício; imediatamente após o exercício; e 1,
nutriente algumas precauções devem ser
2, 3 e 5 dias após o exercício. O resultado mostrou
consideradas, como a escolha de produtos que
que a amplitude de movimento foi
tragam o óleo na forma de (TG) triglicerídeos, isto
significativamente maior no grupo EPA e DHA
é, como disponibilizado na natureza, para mais
do que no grupo placebo, imediatamente após a
fácil absorção (10). É importante que a
realização de ECCs. Uma diferença significativa
embalagem seja escura para preservar o óleo
foi observada na CK sérica, 3 dias após as CEC.
(evitar a sua oxidação). Certifique-se de que a
Com isso foi observado que a suplementação de
matéria-prima seja de boa qualidade. O ideal é
EPA e DHA de período mais curto beneficia a
que tenha um selo certificando o seu grau de
flexibilidade das articulações e a proteção da fibra
pureza, como o IFOS (International Fish Oil
muscular após as ECCs (8).
Standards).

49
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CONCLUSÃO

Por fim, observamos o quanto o ômega 3 é


essencial durante todas as fases da vida, na
prevenção de doenças e manutenção da saúde.
Esse nutriente também tem se mostrado
promissor para atletas de diversos esportes. São
necessários mais estudos para identificar todos
os seus benefícios, mas já se sabe que muitos
deles estão relacionados às funções cognitivas,
cardíacas, articulares e anti-inflamatórias. Com
relação às dosagens, é sempre importante
avaliar a individualidade de cada um, e, claro,
também é essencial escolher um ômega 3 com
qualidade comprovada, para que o corpo
absorva esse nutriente da melhor forma.

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PRESENCIAL E ON-LINE

INÍCIO EM MARÇO 2022


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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Os efeitos da suplementação
de coenzima Q10 em
pacientes hipertensos.

52
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A hipertensão
fundamenta-se
arterial
em
sistêmica
pressão
(HAS)
arterial
Estima-se que houve uma perda de U$$4,18
bilhões, entre 2006 e 2015 [3]
insistentemente aumentada, ou seja, no
A HAS é uma condição caracterizada por
aumento da força nas paredes das artérias [1].
disfunção endotelial, um fenômeno que, apesar
A HAS pode ser classificada em três estágios: pré- de discutido se primário ou secundário à HAS,
hipertensão, hipertensão arterial sistêmica (HAS) tem uma importância fundamental na sua
estágio 1 e HAS estágio 2. Na pré-hipertensão, a gênese e manutenção, e é acompanhada de
pressão arterial (PA) sistólica se encontra em 121- mudanças estruturais (hipertrofia da parede
139 mmHg e a PA diastólica em 81-89 mmHg. Na arterial e aumento da razão parede/lúmen) e
HAS estágio 1 a PA sistólica está em 140-159 funcionais (síntese e liberação de fatores
mmHg, e a diastólica em 90-99 mmHg, e na vasoativos) do sistema vascular em resposta a
HAS estágio 2 a PA sistólica é maior ou igual a 160 mudanças nas condições hemodinâmicas.
mmHg, e a diastólica maior ou igual a 100
mmHg [1]. Na disfunção endotelial da HAS, o papel central
reside no impedimento do vaso-relaxamento
O sintoma mais frequente e específico do causado pela menor bioatividade de óxido nítrico
indivíduo hipertenso é a cefaleia, sendo mais (NO) na parede vascular, devido, inclusive, ao
característica a que ocorre no início da manhã e estresse oxidativo, que, como citado, resulta do
vai desaparecendo ao longo do dia. Outros sinais desequilíbrio entre os sistemas antioxidante e
como sonolência, confusão mental, distúrbio pró-oxidante, prevalecendo a ação deletéria de
visual, náusea, vômito, epistaxe (sangramento espécies reativas de oxigênio (ERO) ou espécies
nasal), escotomas cintilantes, zumbidos e fadigas reativas de nitrogênio (ERN) sobre células,
também podem ser decorrentes da hipertensão tecidos e órgãos [4], [5].
arterial sistêmica [2].
“Estresse oxidativo” é definido pelo desequilíbrio
A HAS, atinge 36 milhões de indivíduos adultos, entre agentes oxidantes e antioxidantes, com
no Brasil, sendo mais de 60% de idosos, preponderância do primeiro, e consequente
contribuindo para cerca de 50% das mortes por acréscimo na formação de radicais livres e na
doença cardiovascular (DCV). Tem alto impacto capacidade de gerar danos ao DNA (ácido
na diminuição da produtividade do trabalho e desoxirribonucleico), às membranas lipídicas e às
renda familiar. proteínas [1].

53
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Contribui para diversas patologias e doenças, A CoQ10 se encontra reduzida em diversas


como câncer, distúrbios neurológicos, patologias, como no infarto agudo do miocárdio,
aterosclerose, hipertensão, isquemia, diabetes, nas miopatias induzidas pelas estatinas, na
fibrose pulmonar idiopática, doença pulmonar fadiga física peculiar ao exercício físico, na
obstrutiva crônica (DPOC) e asma [2], além de ser infertilidade masculina, na pré-eclâmpsia,
considerado como principal fator na disfunção doença de Parkinson, doenças periodontais,
endotelial e da ruptura de placa aterosclerótica enxaquecas e na hipertensão arterial sistêmica, e
[6]. estudos demonstram que a utilização de 30
mg/dia até 3000 mg/dia vem se mostrando

Os mecanismos antioxidantes podem ser benéfico para inibição da progressão dessas

enzimáticos ou não enzimáticos. O sistema doenças com poucos efeitos colaterais [9].

enzimático abrange as enzimas superóxido


Em um estudo, a suplementação realizada com
dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa
coenzima Q10 em pacientes hipertensos
redutase (GR) e glutationa peroxidade (GPX). Por
resultou significativamente numa redução
outro lado, o sistema não enzimático possui as
média de PAS/PAD em 10,72/6,64mmHg [10].
moléculas: glutationa reduzida (GSH), FRAP
(Ferric Reducing Antioxidant), ácido úrico,
Em outro estudo randomizado, duplo-cego e
vitamina C (ácido ascórbico), vitamina E (alfa
controlado por placebo, realizado durante um
tocoferol), vitamina A (retinol), carotenóides,
período de 12 semanas, a suplementação de
zinco, selênio e flavonóides [7].
coenzima Q 10 (100 mg duas vezes ao dia) ou
placebo foi administrado em 30 indivíduos com
A coenzima Q10 (CoQ10) é um poderoso
síndrome metabólica, e controle inadequado da
antioxidante intracelular, presente em todas as
pressão arterial (PA) (uma PA clínica média de
células. É sintetizada endogenamente e obtida
≥140 mm Hg sistólica ou ≥130 mm Hg para
através da alimentação. Atua como carregador
pacientes com diabetes tipo 2). A PA
de prótons na cadeia respiratória mitocondrial e
ambulatorial foi avaliada nas fases pré e pós-
é indispensável na produção de ATP. Age
tratamento. Os desfechos primários foram as
também como protetor de fosfolipídios e
mudanças na pressão sistólica e diastólica de 24
proteínas da membrana mitocondrial contra
horas, durante a terapia com coenzima Q10, em
peroxidação [8].
comparação com a suplementação realizada por
placebo.

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Porém, de acordo com esse estudo, a coenzima RESULTADOS


Q10 não é indicada como tratamento anti-
Os dados obtidos neste trabalho mostram que a
hipertensivo. [11].
suplementação de coenzima Q10 numa
quantidade de 30 mg/dia até 3000 mg/dia vem
Em uma meta-análise realizada com o objetivo
se mostrando benéfica para a diminuição da
de mensurar os efeitos da suplementação da
pressão arterial sistêmica em pacientes
coenzima Q10, no tratamento da hipertensão
hipertensos.
arterial em pacientes com diabetes e síndrome
metabólica, foram encontrados efeitos benéficos.
Alguns efeitos colaterais, embora sejam raros,
Uma das teorias para a explicação desses
podem existir, como dor abdominal, vômitos,
benefícios na diminuição da pressão arterial
náuseas, diarreia e anorexia, e este sintoma não
sistêmica, seria a redução da resistência vascular
está relacionado à dose.
periférica através da preservação do NO [12].

Em um estudo realizado com ratos


espontaneamente hipertensos, a
suplementação de CoQ10 modulou os níveis
pressóricos e oxidativos sem provocar reações
adversas, podendo ser usada como um agente
antioxidante e hipotensor concomitante à
terapia convencional [13].

Quanto aos efeitos colaterais, a suplementação


oral de coenzima Q10 geralmente é bem
tolerada, sem efeitos colaterais graves
detectados no uso de longo prazo. Em alguns
raros indivíduos que suplementaram foi relatado
efeitos gastrointestinais, como dor abdominal,
vômitos, náuseas, diarreia e anorexia, e este
sintoma não está relacionado à dose [14].

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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Psicobioticos, uma
nova classe de
psicotropicos?
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O termo intestino-cérebro, refere-se


comunicação bidirecional entre esses dois
à Tais discussões motivam a ampliação de
estudos, para elucidar a influência dos
órgãos, cuja interação envolve o sistema nervoso microorganismos presentes no intestino no
central; autônomo; entérico e gastrointestinal. prognóstico dessas desordens.
Embora os mecanismos de como isso acontece
ainda não estejam completamente elucidados, O termo probiótico vem do grego e significa

sabe-se do impacto sistêmico desse “para vida”. Sua primeira descrição foi feita em

alinhamento (12). 1908, pelo cientista Élie Metchnikoff. Ele observou


que moradores de uma determinada região da
A microbiota orquestra um papel sumariamente Bulgária viviam mais do que as pessoas de
importante nas demais funções fisiológicas, e outras partes do país, e essa maior longevidade
atualmente já se discute sua relevância em estaria relacionada ao consumo regular de um
desordens do sistema nervoso central (17). produto lácteo fermentado (13).
Alguns trabalhos com animais prenunciam o
potencial papel da microbiota nas desordens Tem-se por definição que probiótico é o

neurológicas (10). organismo vivo que, quando ingerido em


quantidade adequada, causa benefícios à saúde
Um estudo conduzido por Kang et al (2013) (6),
(5). Paralelo a isso, cunhou- se o termo
demonstrou que existe uma menor variabilidade
psicobióticos, definido como microrganismos
de microorganismos compondo a microbiota de
vivos que, assim como os probióticos, produzem
um modo geral, em diversas condições como
benefícios à saúde quando ingeridos em
neurodivergências e desordens psiquiátricas.
quantidades adequadas, mas com efeitos que
vão além do trato intestinal. Ao atingir o Sistema
Ainda no âmbito da discussão de desordens
Nervoso Central, os psicobióticos podem
neurológicas, em 2015, um grupo de
promover alívio a diversos sintomas de pacientes
pesquisadores (15) apontou a disbiose intestinal
com transtornos psiquiátricos (9). Ampliando sua
como fator predisponente para o
definição, Dinan (2013) (5) propôs que o termo se
desenvolvimento de transtorno do déficit de
referisse como uma nova classe de probióticos,
atenção e hiperatividade.
cujo potencial de aplicabilidade contribui no
manejo de doenças de ordem psiquiátrica.

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A partir daí lança-se luz a uma nova pauta na Uma parte do grupo foi alimentada com
ciência, a administração de probióticos no Lactobacillus rhamnosus JB-1, e quando
manejo clínico de desordens pisquiátricas, bem comparada com o grupo placebo demonstrou
como no manejo de condições menor tendência à depressão. O mesmo grupo
neurodivergentes. ainda apresentou respostas menos ansiosas
quando submetido a tarefas como labirinto em
Há modelos de pesquisa que descrevem a ação
cruz elevado e natação forçada. Comparado ao
psicotrópica dos probióticos, isto é, possuem
grupo controle, o grupo suplementado
função mecânica de entrega de neuroquímicos,
apresentou redução na atividade do eixo HPA,
além do potencial secretório de
além de apresentar reduzida a expressão de
neurotransmissores que algumas cepas
mRNA de GABAB1b no hipocampo e na
possuem, como, por exemplo, Lactobacillus e
amigdala, em contrapartida sua expressão
Bifidobacterium, que parecem modular o GABA,
pareceu aumentada no córtex cingulado.
(11), enquanto autores também apontam essa
mesma cepa como agente produtor de Desse modo, podemos considerar que a
acetilcolina (13) administração dessa cepa nos animais
apresentou modulação gabaergica e,
Um estudo feito em um modelo animal (4)
consequentemente, reduziu comportamentos
demonstrou que a administração oral de
ansiosos, depressivos e respostas sistêmicas
Bifidumbacterium infantis, aumentou a
associadas.
disponibilidade de triptofano no plasma,
sugerindo assim um potencial antidepressivo No caso de sintomas ansiosos, a cepa
dessa cepa. Bifidobacterium longum NCC3001, parece ser
eficiente no manejo da redução de sintomas, e
Distintos estudos com populações não clínicas
sua administração regula positivamente a
avançam na proposta de demonstrar os efeitos
expressão de BDNF no hipocampo (2).
fisiológicos da suplementação com psicobióticos.

Pautado em tais discussões, pode-se considerar


O modelo proposto por Bravo et al (3), utilizou 36
que a administração de probióticos apresenta
camundongos machos, saudáveis, com
efeito na redução da inflamação sistêmica, além
microbiota e processos psicofisiológicos intactos,
de respostas positivas, como aumento da
porém naturalmente sensíveis ao estresse.
memória e redução de déficits cognitivos (1).

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Na Doença de Parkinson (DP), um ensaio clínico A cepa Lactobacillus casei Shirota tem sido alvo
randomizado, duplo cego, controlado por de múltiplas investigações. Em um ensaio clínico
placebo, os indivíduos foram suplementados randomizado (Steenbergen) sua administração
com L. acidophilus, B. bifidum, Lactobacillus foi associada à redução da do perfil depressivo,
reuteri e L. fermentum, por 12 semanas. quando utilizada a autoavaliação dos
participantes: ruminação de ideias e
O grupo suplementado, quando comparado ao
comportamento agressivo reduzidos.
grupo placebo, apresentou uma redução de
pontuação na Escala Unificada de Avaliação da Essa mesma cepa, em um estudo realizado com
Doença de Parkinson (Unified Parkinson's acadêmicos de medicina em períodos de
Disease Rating Scale - UPDRS), utilizada para avaliação, demonstrou redução significativa dos
avaliar a progressão da doença. O grupo níveis de cortisol plasmático dos estudantes
apresentou também, como resposta, redução suplementados, em relação ao controle, e
significativa dos níveis de proteína- c reativa aumento da serotonina fecal (7). Isso sugere um
ultrassensível (hs-CRP), malondilaldeido (MDA), e potencial ativo no manejo do estresse e de
um aumento expressivo da glutationa (16) comportamentos depressivos.

O contraponto que paradoxalmente sustenta a Em ressonância magnética é possível avaliar a


discussão é que, em análise de composição de ativação de determinadas áreas cerebrais,
microbiota, pacientes com Doença de Alzheimer quando o participante é exposto, por exemplo, a
(DA) apresentaram um número reduzido de rostos que são capazes de gerar respostas
Bifidobacterium (17), e as cepas Blautia, emocionais, em particular, rostos com medo.
Roseburia e Coprococcus, foram
Schmidt e autores (2015) (14), demonstraram que
exponencialmente menores em pacientes com
grupos suplementados com probióticos, em
Doença de Parkinson (DP) (8)
teste de ressonância, na exposição de tais rostos,
Devido ao seu perfil de segurança (não indução demonstraram redução de atividade na rede
ao vício, ausência de efeitos colaterais), associado somatossensorial, córtex e ínsula, em relação ao
às respostas efetivas já robustas, obtidas a partir grupo controle. Isso pode ser interpretado como
de modelos animais, cresce o interesse dos uma redução da atividade de rede de reatividade
pesquisadores direcionados à realização de neural a informação emocional, ou seja, menor
ensaios clínicos, visando modelos de reatividade e maior capacidade de controle
suplementação cada vez mais específicos. emocional.

59
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O SUMÁRIO

Logo, se entende que a administração de Assim, ainda são necessários mais estudos para o
algumas cepas de probióticos é capaz de direcionamento da aplicabilidade clínica e sua
modular determinadas condições de humor, especificidade..
uma vez que são capazes de reduzir a
No entanto, a terapia com psicobioticos se
reatividade, as respostas ao estresse e respostas
mostra como uma alternativa promissora no
emotivas rápidas.
manejo da qualidade de vida de indivíduos
portadores de condições neurodegenerativas,
CONCLUSÃO
neurodivergentes e distúrbios relacionados ao
Os psicobioticos são considerados pela ciência
equilíbrio de neurotransmissores.
como uma possível nova classe de psicotrópicos
para o futuro. Uma vez que já se consegue fazer
associação de cepas distintas com respostas
positivas na modulação do humor, melhora da
capacidade cognitiva e redução de seu declínio
em condições clinicas associadas a tal (DA), além
de achados promissores também em pacientes
com Parkinson.

A associação da suplementação também tem


entregue respostas favoráveis na modulação de
sintomas ansiosos e reativos. Essas respostas se
devem tanto à modulação de
neurotransmissores como ao controle da
inflamação .

No entanto, é importante salientar que ainda não


há robustez teórica suficiente para se afirmar
quais cepas são mais eficientes em oposição a
outras. Ainda se busca saber também quais são
as informações neurais e de processamento,
induzidas por probióticos, que podem ser
sustentadas e por quanto tempo.

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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Relação entre
Microbiota e Cândida.
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A comunidade de microrganismos que vivem


no interior ou na superfície externa do corpo
Esses processos
metabólitos,
podem
modulados
dar
ou
origem
produzidos
a

humano forma a microbiota humana, e sua microbianamente, que funcionam como


constituição genômica é chamada de substratos metabólicos e moléculas de
microbioma humano. A microbiota humana, sinalização no hospedeiro, com importantes
geralmente, envolve simbiontes que se implicações para o metabolismo e a saúde do
beneficiam do hospedeiro (1) que desenvolve e hospedeiro (4).
mantém sua estabilidade e diversidade temporal
A microbiota intestinal desempenha papéis
durante a idade adulta até a morte (2). Assim, por
importantes na nutrição (degradando os
sua vez, essa relação pode não afetar
componentes da dieta que, de outra forma,
(comensalismo), pode afetar positivamente
passariam pelo trato gastrointestinal não
(mutualidade) e pode também afetar
digeridos), no desenvolvimento e manutenção
negativamente (patogênica) o funcionamento, a
imunológica do hospedeiro e na proteção do
imunidade e a nutrição do hospedeiro (1).
hospedeiro contra micróbios patogênicos,

A coleção de micróbios que colonizam o trato incluindo C. albicans (3). O equilíbrio entre

gastrointestinal é denominada microbiota microrganismos hospedeiros saudáveis ​deve ser

intestinal e é composta por bactérias, arqueias, respeitado para manter a barreira intestinal e as

micróbios eucarióticos e vírus (3). Embora a funções do sistema imunológico de forma ideal

microbiota intestinal seja dinâmica, ela e, consequentemente, prevenir o

desempenha algumas funções básicas no desenvolvimento de doenças (5).

sistema imunológico, metabólico, paisagens


estruturais e neurológicas do corpo humano, Para evitar o super crescimento microbiano nas
exercendo também uma influência significativa barreiras epiteliais e a invasão microbiana dos
na saúde física e mental de um indivíduo (2). tecidos, o hospedeiro examina ativamente e
protege suas superfícies de barreira por meio de
A microbiota intestinal possui a capacidade de dois ramos distintos, complementares e
realizar muitos processos que não podem ser cooperantes, do sistema imunológico:
realizados pelo hospedeiro. imunidade inata e adaptativa.

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Em que, além de se comportar como a primeira Os primeiros fungos detectados no intestino


linha de defesa do organismo, formando uma infantil foram as leveduras, especialmente
barreira física, as células epiteliais contribuem espécies de Candida, presume-se que sejam
também para a resposta do hospedeiro por transmitidos pela mãe, pois as espécies de
meio do reconhecimento ativo de micróbios e da Candida são habitantes comuns da pele e da
avaliação de seu potencial patogênico (3). mucosa vaginal, bem como do cólon (8). A
colonização fúngica no início da vida tem um
Os patógenos fúngicos possuem um grande
impacto nos resultados de saúde dos bebês ao
impacto global na saúde humana. As estimativas
treinar seu sistema imunológico (6), tal
sugerem que, a qualquer momento, mais de um
colonização inicial é amplamente dependente
quarto da população mundial terá uma infecção
do modo de parto: os bebês nascidos por via
fúngica de pele, que 75% das mulheres sofrerão
vaginal obtêm fungos que colonizam a vagina,
pelo menos um episódio de candidíase
enquanto os bebês nascidos por cesariana
vulvovaginal durante a vida e que mais de um
adquirem espécies de fungos que estão
milhão de pessoas morrerão a cada ano de uma
relacionadas à pele (6).
infecção fúngica invasiva (3).

O microbioma individual obtido durante o


Existem fungos no trato gastrointestinal de todas
nascimento muda ao longo da vida, indicando a
as pessoas saudáveis​​, onde eles podem afetar o
especificidade deste microbioma.
sistema imunológico e produzir metabólitos
Especificamente na vagina, a forte relação
secundários que influenciam a saúde. Os fungos
cooperativa dos micróbios com o hospedeiro
habitam a superfície da mucosa para manter a
fornece a primeira linha de defesa contra a
homeostase intestinal e a imunidade sistêmica
migração de patógenos oportunistas. Esse
(6). Há evidências que sugerem que esses fungos
equilíbrio saudável é conhecido como eubiose.
intestinais desempenham um papel importante
No entanto, a superação de patógenos
na imunidade e na inflamação do hospedeiro (6).
oportunistas, perturba esse equilíbrio simbiótico,
No entanto, fungos no trato gastrointestinal
conhecido como disbiose, que pode provocar
foram associados a inúmeras doenças e
uma inflamação (1).
também podem contribuir para milhões de
infecções fúngicas invasivas que ocorrem em
indivíduos imunocomprometidos (7).

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Candida é um fungo prevalente da microbiota A biologia, epidemiologia, patogenicidade e


humana (9), mais especificamente um tipo de imunologia de C. albicans foram estudadas em
levedura, que habita o intestino e coloniza a maior profundidade do que para qualquer outro
região perineal e pode ter repercussões locais patógeno fúngico. Essa ênfase proporcionou um
(como candidíase vaginal, resultado de um conhecimento basilar consistente e uma
desequilíbrio na microbiota vaginal que favorece plataforma forte para estudos das relações entre
a proliferação do fungo responsável pela o patógeno fúngico, a imunidade do hospedeiro
infecção) ou sistêmicas (10). Essa espécie coloniza e a microbiota local que estão no cerne da
de forma assintomática muitas áreas do corpo, infecção fúngica (3).
particularmente os tratos gastrointestinal e
Em indivíduos com sistema imunológico
geniturinário de indivíduos saudáveis (9). Essa
saudável, C. albicans é frequentemente
levedura possui importante função no equilíbrio
inofensiva, se mantida em equilíbrio com outros
da microbiota saudável, colonizando de forma
membros da microbiota local (9). No entanto, em
assintomática o trato gastrointestinal (GI), o trato
certas circunstâncias, C. albicans pode se tornar
reprodutivo, a cavidade oral e a pele da maioria
patogênica e causar doenças que variam de
dos humanos.
infecções superficiais comuns a infecções
sistêmicas graves, sendo que em um hospedeiro
As espécies de Candida estão entre os principais
saudável, o epitélio intestinal, juntamente com as
exterminadores de fungos (3). A maioria dos
células imunes da mucosa, constituem uma
indivíduos carrega espécies de Candida como
barreira estável que impede a translocação de C.
comensais em sua microbiota intestinal (10). Mais
albicans para a corrente sanguínea (12). Quando
de 15 espécies distintas de candida podem
há comprometimento do sistema imunológico
causar doenças, e os patógenos mais comuns
local ou sistêmico, pode ocorrer crescimento
são C. albicans, C. glabrata e C. tropicalis (11). A
excessivo de Candida, levando à infecção.
espécie Candida albicans é responsável pela
Alterações na imunidade do hospedeiro,
maioria dos episódios de candidíase e nos casos
estresse, microbiota residente e outros fatores
de reincidência é muito comum encontrarmos a
podem levar ao crescimento excessivo de C.
presença da Candida glabrata.
albicans, causando uma ampla gama de
infecções.

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A anormalidade está justamente na proliferação A alteração desse mecanismo em pessoas


desordenada que acarreta os sintomas da cronicamente estressadas prejudica a
candidíase. A microbiota equilibrada e diversa, a capacidade do organismo de montar uma forte
secreção de peptídeos antimicrobianos (AMPs) e resposta imunológica com um consequente
a atividade combinada dos sistemas, imune aumento da morbidade. A exposição ao estresse
inato e adaptativo, agem para reduzir a carga agudo aumenta a secreção de mucina nos tratos
durante os períodos de crescimento excessivo de digestivo e respiratório, o que deve aumentar a
fungos e restringem o fungo à morfologia função de barreira mucosa, aumentando da taxa
comensal (levedura) (12). No entanto, disfunções de infecção em indivíduos submetidos a estresse
nesses mecanismos de proteção podem agudo (14).
favorecer a translocação de C. albicans.
A capacidade de C. albicans de colonizar o
Estudos também relacionam o nível de estresse intestino humano como uma comensal
com a desestabilização da microbiota intestinal, inofensiva, também é um aspecto vital de seu
favorecendo o aparecimento de tais fungos. O papel como patógena oportunista. Além de
estresse pode afetar a microbiota intestinal, não outras espécies de Candida, poucos patógenos
apenas por meio do sistema imunológico, mas exibem estratégias semelhantes de causar
também leva a mudanças nos níveis de infecções em pacientes predispostos. A questão
catecolaminas, que possuem um impacto é que o C. albicans sempre tenta invadir o
significativo na microbiota intestinal. Além disso, organismo de um hospedeiro saudável, mas a
o estresse afeta a recuperação de infecções, ausência de condições predisponentes não
devido ao fato de que os microrganismos permite a invasão (10).
intestinais respondem a neurotransmissores e a
outros mediadores relacionados ao estresse. É A complexidade e o aspecto multifatorial das
possível que o estresse mude o ambiente interno interações entre o fungo, o hospedeiro e a
do trato gastrointestinal por meio de microbiota torna difícil compreender a mudança
mecanismos imunológicos, neuroquímicos e de comensal para patógeno.
físicos para torná-lo um espaço menos habitável
para certos microrganismos, ainda que leve ao
aumento de espécies mais patogênicas (13).

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No entanto, um progresso significativo na


compreensão dos dois estilos de vida diferentes
de C. albicans, comensalismo e patogenicidade,
foi feito por uma combinação de pesquisa
experimental e clínica e observações, e
metodologia aprimorada para estudar
interações microbianas, metabólicas e
imunológicas. Esperançosamente, esse maior
conhecimento pode promover o
desenvolvimento de estratégias destinadas a
prevenir a candidíase de origem intestinal (15).

Em suma, as interações entre C. albicans, o


hospedeiro humano e a microbiota local
exercem um grande impacto sobre a
probabilidade de infecções mucosas e sistêmicas
e a gravidade dessas infecções. Também é
aparente que essas interações fungo-
hospedeiro-microbiota são dinâmicas, iterativas
e enormemente complexas. Essa imensa
complexidade é aumentada ainda mais pela
variação genética e fenotípica dentro das
espécies de C. albicans, e por numerosos fatores
que contribuem para a variabilidade dos
indivíduos e de suas microbiotas (16).

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COLUNA NUTRIÇÃO CLÍNICA

Mecanismos e estratégias
para contornar a compulsão
alimentar.
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U ma das principais características do Transtorno


de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é
Poucos dias atrás, tive uma experiência no
consultório que, infelizmente, é bastante comum
comer grandes quantidades de comida em um hoje dia, e revela como a influência das redes
período curto de tempo, mesmo sem forme, sociais pode ser negativa para algumas pessoas.
com perda de controle sobre o quê e o quanto se Atendi uma paciente que queria perder gordura.
come. Esses episódios são geralmente seguidos Ela me disse que, no passado, já tinha alcançado
de uma sensação de vergonha, tristeza e culpa esse objetivo seguindo um programa de
(4) emagrecimento de uma blogueira famosa. O
problema é que no fim do tal “programa”, ela
Dificilmente você verá um episódio de começou a ter repetidos episódios compulsivos,
compulsão alimentar ao vivo, porque a pessoa principalmente envolvendo alimentos que
sente tanta vergonha que prefere fazer as foram proibidos durante o processo.
refeições sozinha. Comer escondido é um hábito
típico de quem tem compulsão alimentar. Então, é importante ter em mente que o difícil
não é emagrecer; difícil mesmo é conseguir
Para ser considerado TCAP, devem ocorrer pelo
manter o emagrecimento. Tenho certeza que de
menos dois episódios de descontrole por
10 pessoas que leram este parágrafo, pelo menos
semana, durante seis meses. Então pode ser que
a metade vai se identificar com isso. Fato é que a
você não tenha TCAP, mas um episódio pontual
nutrição tem ferramentas poderosas que
de comer compulsivamente, por exemplo, por
podem impactar positivamente na vida das
ter ficado um longo período de jejum. Às vezes,
pessoas, mas, se usadas da maneira errada, o
as pessoas também confundem bulimia nervosa
efeito pode ser bem negativo.
(BN) com TCAP, mas existe diferença entre essas
duas condições. A BN é acompanhada de Décadas atrás, foi sugerido que o TCAP estaria
comportamentos compensatórios (vômitos, ligado a fatores emocionais. O que não seria uma
exercícios em excesso, etc), enquanto que no afirmação absurda, se pensarmos que é comum
TCAP não. usarmos a comida como forma de
comemoração (por exemplo, quando
recebemos uma promoção no trabalho) ou
como escape de situações difíceis (o término
daquele namoro de muitos anos).

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Entre as alterações de humor que parecem estar Transtorno de ansiedade generalizada:


mais relacionadas ao TCAP, estão a ansiedade, medo excessivo e perturbador ou
tristeza, depressão e, principalmente, raiva e preocupação com uma ampla gama de
frustração. Um trabalho mostrou que esses assuntos.
sintomas aconteceram pouco antes de um Substância, medicação, doença: ansiedade
episódio compulsivo em 95% dos casos (4). que pode ser atribuída especificamente a
outra doença, medicamento ou retirada de
Sêneca (4 a.C. a 65 d.C.), um importante filósofo
substância.
do Império Romano, recomenda que a melhor
Outros distúrbios não especificados:
forma de fugir das garras da ansiedade é juntar
ansiedade perturbadora que não se
os três tempos (passado, futuro e presente) em
enquadra em nenhuma outra categoria.
um só, através da meditação (3).

A ansiedade, assim como qualquer outro tipo de


A 5º Edição do Diagnóstico e Estático de
transtorno mental, é algo extremamente
Transtornos Mentais (DSM-5) divide a ansiedade
complexo e difícil de ser diagnosticado, por isso é
em várias subcategorias, sendo elas:
fortemente desaconselhável que alguém
Ansiedade da separação: altos níveis de
pratique o autodiagnóstico. Se você desconfia
medo e ansiedade causados ​pela separação
que tem algum transtorno psicológico, procure o
de casa ou uma pessoa específica.
quanto antes um profissional especializado.
Geralmente se desenvolve na infância.
Transtorno de ansiedade social: medo, É importante falar que a atividade física atua de
ansiedade ou comportamento de evitação forma eficiente no tratamento do humor das
que perturbam a vida, causados ​por pessoas. Inclusive, no período em que as
questões sociais situações. academias ficaram fechadas, por conta da
Síndrome do pânico: ataques de pânico pandemia de Covid-19, aumentaram muito os
frequentes e regulares, e medo de ataques relatos de alimentação compulsiva meus
futuros ao lado comportamento de evitação. pacientes, algo que foi atenuado com o retorno
Agorafobia: medo forte em situações em da prática de exercícios físicos.
que a fuga parece difícil, como lotação locais
fechados ou amplos espaços abertos.
Frequentemente é acompanhada por
evitação disfuncional dessas situações.

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Se formos mais a fundo no assunto, vamos Com essa pequena estratégia, acabamos
descobrir que a contração muscular estimula a reduzindo o número de distrações e reduzimos o
produção de PGC-1A1, que tem uma atividade número de erros. Não que errar seja um
antidepressiva, através da ação de algumas problema, afinal, errar faz parte do processo!
enzimas que vão garantir a adequada conversão Agora, se você ainda não aprendeu a lidar com o
de triptofano em serotonina, também chamado impulso de comer em excesso, o melhor é
hormônio do humor. (2;5) reconhecer e evitar gatilhos emocionais.

Um ponto interessante é que as pessoas com Fatores genéticos também podem ter uma
TCAP parecem responder de forma diferente a influência importante no TCAP. Por exemplo,
eventos estressantes, com uma tolerância bem polimorfismos no alelo Taq1A estão ligados a
menor, quando comparadas com quem não menor ligação de dopamina nos seus receptores.
tem compulsão alimentar (4). Dopamina é um neurotransmissor ligado ao
sistema de recompensa da alimentação, ou seja,
Pode ser que o TCAP não esteja
aquela sensação de prazer ao comer. Pessoas
necessariamente ligado à experiencias negativas,
com alteração nos receptores de dopamina
mas pela falta de estratégias para contorna-las,
demoram mais para sentir prazer com a
sobrando somente o episódio compulsivo para
alimentação, e precisam de mais comida do que
melhorar temporariamente aquela sensação
uma pessoa normal (1).
ruim (4). Justamente por esse motivo que eu
oriento os meus clientes, que dizem não ter Além de outras alterações genéticas que
controle sobre determinados alimentos, a não ter também estão relacionadas com um prejuízo na
esses produtos estocados em casa. capacidade de sinalização da saciedade, como,
polimorfismos no gene FTO, MC4R e genes do
Por exemplo, se diante de uma decepção você é
BDNF (7).
a pessoa que come duas barras de chocolate
inteiras, em 5 minutos, então evite ter esse Agora, olhando mais para o lado hormonal do
alimento estocado no armário. A chance de você problema, existem dois hormônios ligados à
levantar do sofá, se trocar e ir até o mercado sensação de saciedade: leptina e insulina. Ambos
comprar uma barra de chocolate é infinitamente são reduzidos em estados de restrição muito
menor do que se ela já estiver no armário da sua agressiva de calorias, e isso é independente da
cozinha. perda de gordura (o que explica os episódios de
compulsão com dietas da moda) (6).

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Em contrapartida, teremos a grelina, que é o Justamente por isso é extremamente


hormônio ligado ao aumento da fome e que complicado tentar reverter um quadro de
será muito estimulado durante a restrição obesidade sem o apoio de um médico
alimentar (6). competente para entrar com medicações
inibidoras de apetite. No início, a pessoa até se dá
bem só com a dieta e os exercícios físicos, mas o
impulso alimentar vai se tornando cada vez mais
forte, que chega a um ponto que fica impossível
se controlar.

Então, se você é resistente ao trabalho em


equipe, sugiro que comece a rever isso. Porque o
manejo da obesidade é um trabalho em equipe
(nutricionista, educador físico, psicólogo e
médico).

Uma coisa muito triste é ver certos tipos de


Outra questão que é debatida hoje em dia é a de
críticas contra uma pessoa em estado de
trocar caloria por caloria, sem olhar o contexto do
obesidade, com frases que põem em dúvida a
alimento. Esse é, disparado, um dos erros com
sua própria força de vontade em conseguir
maior capacidade de causar prejuízos a um
emagrecer. Essas pessoas possuem um baixo
indivíduo.
conhecimento sobre como funciona a fisiologia
de uma pessoa obesa e, por isso, agem dessa O prazer imediato gerado por alimentos
forma. Mas vamos entender esse mecanismo altamente processados foi positivamente
agora. correlacionado com uma quantidade menor de
dopamina liberada no corpo. Foi visto que a
Vamos entender que a obesidade é considerada alimentação constante desse tipo de alimento
uma doença, por se tratar de uma inflamação gera uma redução na ação dos receptores de
crônica de baixo grau e está registrada na dopamina, alterando a sua sensação de prazer
classificação internacional de doenças (CID). Essa com aqueles alimentos, sendo necessário uma
inflamação constante que a obesidade gera, quantidade cada vez maior para se satisfazer (7).
acaba causando uma alteração hormonal e uma
alteração dos canais de recompensa no cérebro.

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Uma estratégia para contornar episódios de


compulsão é treinar a alimentação consciente,
também chamada de Mindfull Eating, que nada
mais é do que estar 100% presente no momento
de se alimentar, isso inclui comer longe de
smartphone e televisão, por exemplo.

O ato de se alimentar conscientemente foi


negativamente relacionado com o TCAP, ou seja,
quanto mais concentrado você fica no alimento
que está sendo consumido, menores são as
chances de ter um episódio compulsivo (8).

Como conclusão de todo o material exposto


neste artigo, podemos ter uma noção de que a
compulsão alimentar não é só perder a luta
contra um bombom que estava na sua frente.
Essa condição clínica é multifatorial, podendo ter
diversos fatores como causa, portanto, o manejo
do tratamento deve ser multiprofissional.

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INÍCIO EM MAIO 2022
Empreendedorismo

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Novas micro-tendências na nutrição


Fim de ano chegando, e 2022 com várias tendências .

Já comentei por aqui nos artigos da revista sobre uma tendência a nichos e
nichos dos nichos. Acredito que isso vai acontecer cada vez mais, com o
crescimento da nutrição e com a necessidade desse tipo de
posicionamento no marketing digital.

Tendemos a pensar que atender todo mundo facilitará nossa carreira, mas
o atendimento posicionado no nicho , o transforma em referência e
autoridade com mais facilidade.

Então vamos lá para algumas das minhas apostas.

1 - Crononutrição e Nutrição e Sono.

2 - Nutrição e Terapias integrativas, como aromaterapia , florais ,


homeopatia, apiterapia , medicina tradicional chinesa , medicina
Ayurvédica.

3 - Terapias a base de chás

4 - Nutrição esportiva vegetariana

5 - Nutrição Materno infantil vegetariana

6 - Nutrição esportiva no endurance

7 - Nutrição na saúde de um modo geral

8 - Nutrição , gastroenterologia e pediatria.

9 - Psiquiatria Nutricional

Renato Augusto
@renato.plenitude

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Empreendedorismo

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O SUMÁRIO

10 - Nutrição em autismo, Síndrome de Down, TDAH

11 - Nutrição e alergia, Nutrição e doenças autoimunes.

12 - Nutrição Magistral

13 - Nutrição e longevidade

14 - Nutrição e endocrinologia

15 - Empreendedorismo em nutrição , marketing digital na nutrição .

16 - outros aspectos isolados da nutrição clínica , como obesidade ,


diabetes e outros .

E isso sem contar em tendências recentes que já são realidades, como:

* Nutrição de precisão - genômica nutricional


* Nutrição e gastroenterologia
* Nutrição materno infantil
* Nutrição pediátrica
* Nutrição vegetariana
* Comportamento alimentar e Coaching Nutricional
* Fitoterapia
* Nutrição estética
* Nutrição e saúde da mulher
* Nutrição oncológica

Além das clássicas:

* Nutrição esportiva
* Nutrição clínica
* Uan

Você já tem um posicionamento definido ou atende de tudo? Em qual área


vai se dedicar em 2022?

Bons estudos.

Renato Augusto
@renato.plenitude

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Você não tem que ser grande para começar,
mas você tem que começar para ser grande.
Apenas comece!
Zig Ziglar - Escritor

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