Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
A insatisfação com o corpo em comparação ao padrão preconizado pela mídia, o culto ao corpo ideal e a busca por resultados imediatos
favorecem o uso de esteroides anabolizantes. O uso desses medicamentos por praticantes de atividades físicas com objetivo de reduzir
gordura corporal e aumentar massa muscular é realizado sem nenhum tipo de acompanhamento ou indicação médica. Alteração no
perfil lipídico, distúrbios do humor, insônia, acne, hipogonadismo, hirsutismo, ginecomastia, queda de cabelo e comprometimento da
função hepática são alguns de seus efeitos colaterais. A intervenção nutricional pode modular as alterações metabólicas, colaborando
com a melhora do quadro do paciente. As estratégias incluem alimentos, suplementos alimentares e fitoterápicos.
Abstract
The dissatisfaction with the body compared to the standard advocated by the media, the cult for an ideal body and the search for
immediate results favor the use anabolic steroids. The use of these medications by physical activity practitioners to reduce body fat
and increase muscle mass, the use of these is performed without any type of follow-up or medical indication. Changes in lipid profile,
mood disorders, insomnia, acne, hypogonadism, hirsutism, gynecomastia, hair loss and impaired hepatic function are some of its side
effects. The nutritional intervention can modulate the metabolic alterations collaborating with an improvement of the patient’s condition.
Strategies include food, dietary supplements and herbal medicines.
13
O impacto do uso de esteroides anabolizantes na prescrição dietética
H
hipogonadismo, hirsutismo, ginecomastia, queda
Hormônios são classificados quimicamente de cabelo e comprometimento da função hepática.
como: proteínas e peptídeos, esteroides e aminas1. Quase 100% dos usuários de EAA apresentam
Os hormônios esteroides incluem os hormônios algum efeito colateral4.
adrenocorticais (cortisol e aldosterona), Silva Junior5 avaliou morbidade hospitalar no
metabólitos da vitamina D e os hormônios Brasil pelo uso de EAA no período de 2000/2010,
gonadais (testosterona, estrogênio, progesterona)2. mostrando uma hospitalização por uso de 0,001%
O termo androgênico é de origem grega, onde do total de internações no país, sendo que as
andro significa homem, e gennan, produzir. Os mulheres e indivíduos de 15-29 anos possuíram
esteroides androgênicos referem-se aos hormônios as maiores taxas.
sexuais masculinos. Os quatro principais O uso clínico dos EAA é direcionado para
androgênicos circulantes são: testosterona, anemia, HIV, queimaduras, pós-operatório,
androstenediona, di-hidrotestosterona (DHT), osteoporose, deficiência de crescimento e
deidroepiandrosterona (DHEA) e seu derivado distúrbios hormonais como hipogonadismo em
sulfato (S-DHEA). homens e mulheres.
Os esteroides anabolizantes andrógenos (EAA) Com base nos dados citados, este estudo teve
são substâncias sintéticas que podem ser derivadas como objetivo verificar, na literatura científica
da testosterona (Figura 1), administradas na forma atual, os mecanismos moleculares que vêm sendo
oral ou injetável, utilizadas no tratamento de várias estudados para modular os efeitos colaterais pelo
doenças. Seu efeito anabólico, como aumento uso indiscriminado de esteroides anabolizantes.
da síntese proteica, aumento da concentração Para tanto, foi realizada uma revisão de artigos
de hemoglobina, aumento de massa muscular indexados na base de dados do PUBMED e Google
esquelética e aumento da força, levam ao abuso acadêmico, utilizando os descritores: esteroides
de altas doses de EAA por indivíduos que tentam anabolizantes, efeitos colaterais, nutrição e
melhorar a composição corporal. fitoterápicos. Como limite, foram selecionadas
publicações no período de 2007 a 2017.
Figura 1. Fórmula estrutural da molécula de
testosterona. EAA e Nutrição
14
Rodrigo Loschi
Abrahin et al.6-8 mostraram maior prevalência consumo via oral é mais comum, por sobreviver
do uso de EAA entre estudantes e professores ao metabolismo de primeira passagem no fígado.
de Educação física em comparação a outros São conhecidos por alterações negativas no perfil
profissionais da saúde, revelando pouco hepático, aumentando as enzimas aspartato ami-
conhecimento dos avaliados sobre alguns efeitos notransferase (AST) e alanina aminotransferase
colaterais. (ALT)12 e alterando o perfil lipídico pelo aumen-
Altas doses de testosterona de forma exógena to da atividade da lipase hepática, uma enzima
levam à inibição da testosterona endógena por responsável pelo catabolismo da lipoproteína de
mecanismo de feedback negativo, por meio alta densidade (HDL)13 e pela transformação da
da inibição do eixo hipófise-gonadal, onde lipoproteína de densidade de muito baixa (VLDL)
ocorre inibição do GnRH (hormônio liberador em lipoproteína de densidade baixa (LDL).
de gonadotrofinas) e inibição do hormônio Uma recente meta-análise14 mostrou que o
luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante consumo diário de 6,9 g de betaglucana por
(FSH). As consequências dessa inibição nos quatro semanas é capaz de reduzir o LDL-C. A
homens são diminuição na produção do esperma, inclusão de alimentos que contenham betaglucana
disfunção erétil, atrofia testicular e infertilidade9. pode ser um estratégia para redução de doenças
Nas mulheres, a inibição do LH e do FSH causa cardiovasculares. No Brasil, temos opções como
redução dos níveis circulantes dos estrogênios o farelo de aveia, que é rico em betaglucana.
e da progesterona, inibição da foliculogênese e Schwingel et al. 15 avaliaram marcadores
da ovulação, alterações no ciclo menstrual e, em bioquímicos (AST, ALT, CPK, insulina, glicose
algumas mulheres, amenorreia10. Alguns efeitos e perfil lipídico) e ultrassom abdominal de
colaterais nas mulheres são irreversíveis, como 180 participantes: 95 participantes (G1) com
mudança na voz, hipertrofia do clitóris e aumento histórico de mais de 2 anos com uso de EAA e 85
de pelos faciais e corporais. participantes sem uso (G2). Mostraram que 12,6%
Abrahin et al. 11 avaliaram o consumo de dos participantes do G1 apresentaram TAFLD
EAA em mulheres no Brasil, em um estudo no (toxicant-associated steatohepatitis).
qual foram selecionadas 361 participantes que A silimarina, tradicional ativo extraído do
praticavam musculação. Os resultados mostraram Silybum marianum com propriedades anti-infla-
Revista Brasileira de Nutrição Funcional
que 13,3% das entrevistadas já haviam usado matória, antioxidante e ação hepatoprotetora, pode
algum tipo de EAA em sua vida, sendo o Winstrol ser uma estratégia para prevenir lesões hepáticas
(estanozolol) e a oxandrolona os mais consumidos para indivíduos usando EAA. Luangchosiri et al.16
pelas participantes. mostraram que doses de 140 mg de silimarina
Estanozolol e oxandrolona pertencem à classe duas vezes ao dia, por 4 semanas, foram capazes
dos 17-alfa-alquilados, que podem ser adminis- de restaurar a superóxido dismutase (SOD) em
trados via oral ou intramuscular, sendo que o pacientes usando medicamentos antituberculose,
15
O impacto do uso de esteroides anabolizantes na prescrição dietética
16
Rodrigo Loschi
Referências
1. HALL, J.E.; GUYTON, A.C. Fundamentos de fisiologia. 12a ed. São Paulo: Elsevier, 2011.
2. KOEPPEN, B.M.; STANTON, B.A. Berne & Levy: Fisiologia. 6a ed. São Paulo: Elsevier, 2009.
3. HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7a ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
4. VENÂNCIO, D.P.; NÓBREGA, A.C.L.; TUFIK, S. et al. Avaliação descritiva sobre o uso de esteroides anabolizantes e seu efeito sobre as
variáveis bioquímicas e neuroendócrinas em indivíduos que praticam exercício resistido. Rev Bras Med Esporte; 16 (3): 2010.
5. SILVA JUNIOR, S.H.A. Morbidade hospitalar por ingestão de esteroides anabólico-androgênicos (EAA) no Brasil. Rev Bras Med Esporte;
17
O impacto do uso de esteroides anabolizantes na prescrição dietética
19 (2): 2013.
6. ABRAHIN, O.S.C; MOREIRA, J.K.R.; NASCIMENTO, V.C. et al. Análise sobre os estudos científicos do uso de esteroides anabolizantes
no Brasil: um estudo de revisão. FIEP Bulletin; 81 (2):. 331-335, 2011.
7. ABRAHIN, O.S.C; SOUZA, N.S.F.; SOUSA, E.C. et al. Prevalência do uso e conhecimento de esteroides anabolizantes androgênicos
por estudantes e professores de educação física que atuam em academias de ginástica. Rev Bras Med Esporte; 19 (1): 27-30, 2013.
8. ABRAHIN, O.S.C; SOUZA, E.C.; SANTOS, A.M. Prevalence of the use anabolic-androgenic steroids in Brazil: a systematic review. Subst
Use Misuse; 49 (9): 1156-62, 2014.
9. CROSNOE-SHIPLEY, L.E.; ELKELANY, O.O.; RAHNEMA, C.D. et al. Treatment of hypogonadotropic male hypogonadism: Case-based
scenarios. World J Nephrol; 4 (2): 245-253, 2015.
10. IP, E.J.; BARNETT, M.J. TENEROWICZ, M.J. et al. Women and anabolic steroids: an analysis of a dozen users. Clin J Sport Med;20
(6): 475-81, 2010.
11. ABRAHIN, O.S.C; SOUZA, N.S.F.; SOUSA, E.C. et al. Anabolic-androgenic steroid use among Brazilian women: an exploratory
investigation. Subst Use Misuse; 49 (9): 1-7, 2016.
12. CARSON, P.; HONG, C.J.; OTERO-VINAS, M. et al. Live enzymes and lipid levels in patients with lipodermatosclerosis and venous
ulcers treated with a prototypic anabolic steroid (stanozolol): a prospective, randomized, double-blinded, placebo-controlled trial. Int
J Low Extrem Wounds; 14 (1): 11-9, 2015.
13. ABRAHIN, O.S.C; SOUZA, E.C. Esteroides anabolizantes androgênicos e seus efeitos colaterais: Uma revisão crítico-científica. Rev
Educ Fis UEM; 24 (4): 669-679, 2013.
14. HO, H.V.; SIVENPIPER, J.L.; ZURBAU, A. et al. A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials of the effect of
barley β-glucan on LDL-C, non-HDL-C and apoB for cardiovascular disease risk reductioni-iv. Eur J Clin Nutr; 70 (11): 1239-1245, 2016.
15. SCHWINGEL, P.A.; COTRIM, H.P.; SALLES, B.R. et al. Anabolic-androgenic steroids: a possible new risk factor of toxicant-associated
fatty liver disease. Liver Int; 31 (3): 348-53, 2011.
16. LUANGCHOSIRI, C.; THAKKINSTIAN, A.; CHITPHUK, S. et al. A double-blinded randomized controlled trial of silymarin for the
prevention of antituberculosis drug-induced liver injury. BMC Complement Altern Med; 15: 334, 2015.
17. BANIASADI, S.; EFTEKHARI, P.; TABARSI, P. et al. Protective effect of N-acetylcysteine on antituberculosis drug-induced hepatotoxicity.
Eur J Gastroenterol Hepatol; 22 (10): 1235-8, 2010.
18. HOOPER, D.R.; KRAEMER, W.J.; FOCTH, B.C. et al. Endocrinological Roles for Testosterone in Resistance Exercise Responses and
Adaptations. Sports Med; [Epub ahead of print], 2017.
19. FORTUNATO, R.S.; ROSENTHAL, D.; DE CARVALHO, D.P. Abuso de esteroides anabolizantes e seu impacto sobre a função tireóidea.
Arq Bras Endocrinol Metab; 51 (9): 1417-1424, 2007.
20. GRANT, P. Spearmint herbal tea has significant anti-androgen effects in polycystic ovarian syndrome. A randomized controlled trial.
Phytother Res; 24 (2): 186-8, 2010.
21. KATHRINS, M.; NIEDERBERGER, C. Diagnosis and treatment of infertility-related male hormonal dysfunction. Nat Rev Urol;13 (6):
309-23, 2016.
22. O’REILL, M.W; HOUSE, P.J.; TOMLINSON, J.W. Understanding androgen action in adipose tissue. J Steroid Biochem Mol Biol; 143:
277-84, 2014.
23. HUI, C.; QI, X.; QIANYOUNG, Z. et al. Flavonoids, Flavonoid Subclasses and Breast Cancer Risk: A Meta-Analysis of Epidemiologic
Studies. PLoS One; 8 (1): 2013.
24. FEITELSON, M.A.; ARZUMANYAN, A.; KULATHINAL, R.J. et al. Sustained proliferation in cancer: Mechanisms and novel therapeutic
targets. Semin Cancer Biol; 35: 25-54, 2015.
25. GLEZER, A.; BRONSTEIN, M. Prolactinoma. Arq Bras Endocrinol Metab; 58(2), 2014.
26. ARNAL, P.J; DROGOU, C.; SAUVET, F. et al. Effect of Sleep Extension on the Subsequent Testosterone, Cortisol and Prolactin Responses
to Total Sleep Deprivation and Recovery. J Neuroendocrinol; 28 (2): 12346, 2016.
27. GEORGE, A.; HENKEL, R. Phytoandrogenic properties of Eurycoma longifolia as natural alternative to testosterone replacement
therapy. Andrologia; 46 (7): 708-21, 2014.
28. TALBOTT, S.M; TALBOTT, J.A.; GEORGE, A. et al. Effect of Tongkat Ali on stress hormones and psychological mood state in moderately
stressed subjects. J Int Soc Sports Nutr; 10 (1): 28, 2013.
29. HENKEL, R.R.; WANG, R.; BASSETT, S.H. et al. Tongkat Ali as a potential herbal supplement for physically active male and female
seniors--a pilot study. Phytother Res; 28 (4): 544-50, 2014.
30. REHMAN, S.U.; CHOE, K.; YOO, H.H. Review on a Traditional Herbal Medicine, Eurycoma longifolia Jack (Tongkat Ali): Its Traditional
Uses, Chemistry, Evidence-Based Pharmacology and Toxicology. Molecules; 21 (3): 331, 2016.
31. AHMAD, M.K.; MAHDI, A.A.; SHUKLA, K.K. et al. Effect of Mucuna pruriens on semen profile and biochemical parameters in seminal
www.vponline.com.br
18