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CUIDADO CLÍNICO DE

ENFERMAGEM À MULHER NA
CONTEMPORANEIDADE
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Profª. Drª. Ilka Kassandra Pereira Belfort-Faculdade Laboro

Profª. Dr. Renata Cristina Lopes Andrade-FURG

Prof. Dr. Elias Rocha Gonçalves-IFF

Prof. Dr. Clézio dos Santos-UFRRJ

Prof. Dr. Rodrigo Luiz Fabri-UFJF

Prof. Dr. Manoel dos Santos Costa-IEMA

Profª. Ma. Adriana Barni Truccolo-UERGS

Prof. Me. Pedro Augusto Paula do Carmo-UNIP

Prof.ª Drª. Isabella Macário Ferro Cavalcanti-UFPE

Prof. Me. Alisson Junior dos Santos-UEMG

Prof. Me. Raphael Almeida Silva Soares-UNIVERSO-SG

Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida-UFOPA

Prof. Me. Tiago Silvio Dedoné-Faccrei

Prof. Me. Fernando Francisco Pereira-UEM

Prof. Dr. Deivid Alex dos Santos-UEL

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Equipe RFB Editora


José Gerfeson Alves
Emanuelly Vieira Pereira
Ana Virgínia de Melo Fialho
Leilane Barbosa de Sousa
(Organizadores)

CUIDADO CLÍNICO DE
ENFERMAGEM À MULHER NA
CONTEMPORANEIDADE

Edição 1

Belém-PA
RFB Editora
2022
© 2022 Edição brasileira
by RFB Editora
© 2022 Texto
by Autor
Todos os direitos reservados

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CNPJ: 39.242.488/0001-07
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Editor-Chefe Bibliotecária
Prof. Dr. Ednilson Souza Janaina Karina Alves Trigo Ramos
Capa Produtor editorial
Thamires dos Santos Ferreira Nazareno Da Luz
Revisão de texto
Adriana Ábia da Costa Camacho

https://doi.org/10.46898/rfb.9786558894049

Catalogação na publicação
Elaborada por RFB Editora

C966
Cuidado clínico de enfermagem à mulher na contemporaneidade / José Gerfeson
Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de
Sousa (Organizadores). – Belém: RFB, 2022.

Livro em PDF

152 p.
150 p.

ISBN: 978-65-5889-404-9
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049

1. Enfermagem. I. Alves, José Gerfeson. II. Pereira, Emanuelly Vieira. III. Fialho,
Ana Virgínia de Melo. IV. Sousa, Leilane Barbosa de (Organizadores). V. Título.

CDD 610.7

Índice para catálogo sistemático

I. Enfermagem.


SUMÁRIO
PREFÁCIO...............................................................................................................................11
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................13
SOBRE OS ORGANIZADORES........................................................................................14
SOBRE OS AUTORES..........................................................................................................16
CAPÍTULO 1
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM ACERCA DA PROMOÇÃO
DA SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA.........................................................................25
Isadora Gomes Mendes
Ana Lourdes de Freitas Almeida
Vanessa Silva Gaspar
Morgânica da Silva
Valéria de Oliveira Lourenço
Jameson Moreira Belém
Emanuelly Vieira Pereira
Ana Virgínia de Melo Fialho
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.1
CAPÍTULO 2
O PAPEL DO ENFERMEIRO FRENTE À GESTAÇÃO DE ALTO RISCO NA AS-
SISTÊNCIA PRÉ-NATAL....................................................................................................39
Leticia Cristina Matos Costa
Maira Lima Paiva
Nayara Santana Brito
Luana Silva de Sousa
Christian Raphael Fernandes Almeida
Dafne Paiva Rodrigues
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.2
CAPÍTULO 3
COVID-19 E O ESTRESSE OCUPACIONAL VIVENCIADO PELOS PROFISSIO-
NAIS DE SAÚDE NO CONTEXTO DAS MATERNIDADES.....................................49
Luana Silva de Sousa
Nayara Santana Brito
Roberta Meneses Oliveira
Érika da Silva Bandeira
Jéssica Cunha Brandão
Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Germana Pinheiro Correia Lima Sousa
Dafne Paiva Rodrigues
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.3
CAPÍTULO 4
USO DA TERAPIA PELA ARTE NA GESTAÇÃO EM CONTEXTO HOSPITALAR:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.......................................................................................63
Daianny Cristina de Almeida Silva
Antonia Sheila da Silva Costa
Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.4
CAPÍTULO 5
EFEITOS DA AROMATERAPIA COM ÓLEO ESSENCIAL DE LAVANDA DU-
RANTE O TRABALHO DE PARTO..................................................................................73
Pedro Vitor Mendes Santos
Conceição de Maria Aguiar Barros Moura
Rafaela Ferreira Vilanova
Ana Carla Marques da Costa
Ravena de Sousa Alencar Ferreira
Laura Pinto Torres de Melo
Herla Maria Furtado Jorge
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.5
CAPÍTULO 6
CONTRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM PARA PROMOÇÃO DO
ALEITAMENTO MATERNO: REVISÃO INTEGRATIVA..........................................85
Maria Ivaneide Feitosa Rodrigues
Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Francisco Wellington Dourado Júnior
Vitória Lídia Pereira Sousa
Magda Fabiana de Amaral Pereira Lima
Daianny Cristina de Almeida Silva
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.6
CAPÍTULO 7
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA ASSISTÊNCIA EM MATERNIDADE PÚBLI-
CA.......................................................................................................................................99
José Gerfeson Alves
Midiã Souza Barbosa
Ana Beatriz Alves de Oliveira
Ana Karoline Alves da Silva
Herika Bruna Santos Bezerra
Gyllyandeson de Araújo Delmondes
Emanuelly Vieira Pereira
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.7
CAPÍTULO 8
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO PARTO CESÁREO..................................................111
José Gerfeson Alves
Midiã Souza Barbosa
Ana Beatriz Alves de Oliveira
Ana Karoline Alves da Silva
Herika Bruna Santos Bezerra
Gyllyandeson de Araújo Delmondes
Emanuelly Vieira Pereira
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.8
CAPÍTULO 9
VULNERABILIDADE EM SAÚDE DE MULHERES NEGRAS NO CONTEXTO DA
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA..............................................................................................125
Carolina Grigolato Viola
Emanuelly Vieira Pereira
Letícia Lopes Dorneles
Anicheriene Gomes de Oliveira
Ana Paula Caixe Soares de Oliveira
Maria José Clapis
Marislei Sanches Panobianco
Mônica Maria de Jesus Silva
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.9
CAPÍTULO 10
CARTILHA EDUCATIVA PARA ORIENTAÇÃO NO CICLO GRAVÍDICO-PUER-
PERAL EM TEMPOS DE COVID-19...............................................................................137
Germana Pinheiro Correia Lima
Luana Silva de Sousa
Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho
Bruna Karen Cavalcante Fernandes
Beatriz Viana da Silva
Nayara Santana Brito
Raphaele Maria Almeida Silva
Luana Sousa de Carvalho
DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.10
ÍNDICE REMISSIVO..........................................................................................................150
PREFÁCIO
O Cuidado Clínico à Mulher na Contemporaneidade envolve temáticas rela-
cionadas ao ciclo gravídico-puerperal, o papel do enfermeiro na gestação de alto risco
e na promoção ao aleitamento materno, o trabalho do enfermeiro e o estresse ocupa-
cional no contexto da pandemia de COVID-19, a violência obstétrica, as competências
em saúde sexual e reprodutiva na formação do enfermeiro e ainda práticas exitosas
com o uso da aromaterapia e da arte na gestação.
A iniciativa do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRU-
PESME/UECE) e do Grupo de Pesquisa Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva
(PROSSER/UNILAB) de construir este livro com registros de resultados de pesquisas,
relatos de experiências de ensino e de aprendizagem e da prática assistencial na área
de Saúde da Mulher surgiu como estratégia para o acesso aos leitores de temáticas
contemporâneas, algumas recentes como as relacionadas ao contexto da pandemia da
COVID-19 e outras mais antigas que merecem nosso olhar atento, tais como a violência
que ainda permeia as práticas da enfermagem obstétrica.
O leitor poderá ainda desfrutar da diversidade metodológica além da qualida-
de das análises e das construções teóricas. Possibilitando a aproximação de cada uma
das temáticas ofertadas pelos dez capítulos.
Para finalizar, neste livro, as temáticas selecionadas foram pensadas e discuti-
das com o intuito de instigar a reflexão sobre a prática e auxiliar o leitor na discussão
da atuação da enfermagem em Saúde da Mulher, desde a formação até a evolução das
ações do cuidado clínico do enfermeiro.
Espero que a leitura seja proveitosa e que favoreça a transformação da prática
assistencial.

Profª. Drª. Ana Virgínia de Melo Fialho


APRESENTAÇÃO

O cuidado de enfermagem à saúde da mulher vem se adequando, ao longo


dos anos, às diferentes demandas e contextos sócio-sanitários. Inicialmente restrito ao
conceito de reprodução e maternidade, foi abraçando perspectivas defendidas pelos
movimentos feministas, como a saúde para além do ciclo gravídico-puerperal, e incor-
pora hoje temáticas diversas que abordam, inclusive, a saúde de mulheres que não se
encontram neste ciclo ou que simplesmente não desejam a reprodução.
Durante muitos anos a função da mulher na sociedade foi relacionada à repro-
dução e aos cuidados domésticos. Na década de 50, a maternidade e criação dos filhos
era a principal função social e econômica da mulher. Nesse contexto, o cuidado de en-
fermagem limitava-se ao cuidado da mãe e do bebê, com impactos pouco expressivos
sobre outros indicadores de saúde da mulher.
Na década de 1970, eventos sobre saúde da mulher - como a Conferência do
Ano Internacional da Mulher (1975) - alertaram sobre a desigualdade entre homens e
mulheres, o que repercutiu também nos movimentos feministas da década de 1980,
que questionaram a assistência à mulher durante o período em que esta não se encon-
trava no ciclo gravídico-puerperal. Isso contribuiu para a ampliação do delineamento
do cuidado de enfermagem para questões como prevenção de infecções sexualmente
transmissíveis, do câncer de colo do útero e de mama.
Na contemporaneidade, a enfermagem se inclina para as diferentes necessida-
des em saúde da mulher e para o cuidado de diversas populações antes negligenciadas,
tais como mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres com deficiência, mulheres
rurais, presidiárias e lésbicas. Temas antes não abordados na prática dos enfermeiros,
como violência sexual, violência de gênero e saúde mental, representam a evolução do
cuidado para além da função reprodutiva.
Este livro apresenta, em 10 capítulos, resultados de pesquisas e experiências
que retratam o cuidado clínico de enfermagem no cenário atual, contemplando, além
de temáticas historicamente relevantes, como assistência à saúde no ciclo gravídico-
-puerperal, temáticas inovadoras em saúde da mulher que incluem violência obstétri-
ca, saúde da mulher em tempos de pandemia, uso de terapias integrativas e comple-
mentares em saúde, cuidado de populações vulneráveis e estresse ocupacional.

Profª. Drª. Leilane Barbosa de Sousa


José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

SOBRE OS ORGANIZADORES

José Gerfeson Alves


Enfermeiro graduado pela Universidade Regional do Cariri
(URCA). Mestrando em Enfermagem pela Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB). Pós-graduando em Enfermagem em Estratégia de
Saúde da Família (DNA PÓS). Membro do Grupo de Pesquisa
Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva (PROSSER/
UNILAB) e Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME/
UECE).
E-mail: gerfesondip@gmail.com

Emanuelly Vieira Pereira


Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade
Regional do Cariri (URCA). Doutoranda em Cuidados Clínicos
de Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará
(UECE). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Sexualidade,
Gênero, Diversidade Sexual e Inclusão (GPESGDI/CNPq/
URCA). Membro do Grupo de Pesquisa em Saúde da Mulher
e Enfermagem (GRUPESMCNPq/UECE). Docente do
Departamento de Enfermagem da Universidade Regional do
Cariri (URCA)-Campus Avançado de Iguatu.
E-mail: emanuelly.pereira@aluno.uece.br

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Ana Virgínia de Melo Fialho


Enfermeira. Doutora e Pós-doutora em Enfermagem pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora Associada
do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Estadual do Ceará (UECE). Professora permanente do
Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em
Enfermagem e Saúde (PPCCLIS) da Universidade Estadual
do Ceará (UECE). Vice-líder do Grupo de Pesquisa Saúde da
Mulher e Enfermagem (GRUPESME/UECE).
E-mail: virginia.fialho@uece.br

Leilane Barbosa de Sousa


Enfermeira. Doutora e Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora adjunta
do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB). Docente permanente do Mestrado Acadêmico em
Enfermagem (MAENF/UNILAB). Líder do grupo de pesquisa
Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva (PROSSER/
UNILAB).

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

SOBRE OS AUTORES
Ana Beatriz Alves de Oliveira

Enfermeira graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA).

Ana Carla Marques da Costa

Coordenadora da Residência de Enfermagem Obstétrica (CESC/UEMA). Docente do


curso de Enfermagem (CESC/UEMA). Doutora em Biologia Celular e Molecular Apli-
cada à Saúde (ULBRA).

Ana Karoline Alves da Silva

Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA).

Ana Lourdes de Freitas Almeida

Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Bolsista do


Programa de Iniciação Científica. Integrante do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e
Enfermagem (GRUPESME/UECE).

Ana Paula Caixe Soares de Oliveira

Odontóloga. Mestre em Saúde e Educação pela Universidade de Ribeirão Preto


(UNAERP/SP). Doutoranda pelo Programa de Enfermagem em Saúde Pública da Es-
cola de Enfermagem da Universidade de São Paulo campus Ribeirão Preto (EERP -
USP) Cirurgiã-dentista estatutária da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto atuando
na área de prótese dentária no centro de Especialidades Odontológicas Brasil Sorri-
dente e preceptora de residentes cirurgiões-dentistas da faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto (FORP - USP)

Antonio Rodrigues Ferreira Júnior

Enfermeiro. Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas


(UNICAMP). Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Docente
permanente do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva e Mestrado de Gestão
em Saúde (UECE) e Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (UNICAMP). Lí-
der do Grupo de Pesquisa Redes Integradas de Saúde (REDIS/UECE). Fortaleza, CE,
Brasil.

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Anicheriene Gomes de Oliveira

Enfermeira Obstetra. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação


da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL/MG). Mem-
bro do Programa Condições Crônicas e Cuidados Inovadores (UNIFAL/MG). Inte-
grante do projeto de Extensão Viva bem com uma estomia (UNIFAL/MG); Grupo de
Pesquisa Processo Saúde Doença na Perspectiva Sociocultural (UNIFAL/MG); Grupo
de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME - UECE/CE).

Antonia Sheila da Silva Costa

Enfermeira. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira


(UNILAB). Fortaleza, CE, Brasil.

Beatriz Viana da Silva

Enfermeira graduada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Residente em


Obstetrícia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Membro do Grupo de Pes-
quisa Segurança do Paciente, Tecnologia e Cuidados Clínicos (SETECC) e membro
colaborador na Liga Acadêmica de Segurança do Paciente (LASEP) da UECE. Foi bol-
sista do Programa de Educação Tutorial PET- Enfermagem da UECE, monitora da
disciplina de Semiologia e Semiotécnica na UECE, voluntária no Projeto de Extensão
HumanarteS da UECE e membro da gestão “Lutar sempre, Temer jamais” (2017-2018)
do Centro Acadêmico Ana Néri de Enfermagem da UECE.

Bruna Karen Cavalcante Fernandes

Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí


(UFPI). Doutora em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (UECE). Líder do
Grupo de Pesquisa Fundamentação do Processo de Cuidar em Saúde do Idoso da Uni-
versidade Federal do Piauí e coordenadora da Linha de Pesquisa Linguagem de En-
fermagem (LINDE). Pesquisas na área de Cuidados Clínicos de Enfermagem ao Idoso,
Idoso institucionalizado, Processo de Enfermagem, Teorias de Enfermagem, Diagnós-
ticos de Enfermagem, Linguagem Diagnóstica CIPE® e Subconjunto terminológico.

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Carolina Grigolato Viola

Enfermeira no Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto


- FAMERP (2021-atual). Doutoranda em Saúde Pública pelo Programa de Pós-Gradua-
ção Enfermagem em Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (EERP-USP) (2019-atual). É Mestra em Ciências - Área de
concentração: Enfermagem em Saúde Pública pelo Programa de Pós-Graduação En-
fermagem em Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universi-
dade de São Paulo, com bolsa da agência de fomento CNPq (2017-2019). Pesquisadora
junto ao Grupo de Altos Estudos de Avaliação de Processos e Práticas da Atenção
Primária à Saúde e Enfermagem - GAAPS (2016-atual), trabalhando com as temáticas
relacionadas às pesquisas de Avaliação da Atenção Primária à Saúde de abordagem
mista, com enfoque para Avaliação de Serviços de Saúde, Sistemas de Informação em
Saúde na Atenção Primária à Saúde e Redes de Atenção à Saúde. Bacharel em Enfer-
magem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(EERP-USP) (2013-2016). 

Christian Raphael Fernandes Almeida

Discente do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Ceará/UECE. Funda-


dor e ex Presidente da Liga Acadêmica de Enfermagem em Saúde da Mulher e Obste-
trícia (LAESMO) da UECE, monitor das disciplinas de Embriologia e Histologia, En-
fermagem em Saúde Mental e de Semiologia e Semiotécnica e o Processo de Cuidar.
Bolsista de iniciação científica FUNCAP. Fortaleza (CE), Brasil.

Conceição de Maria Aguiar Barros Moura

Professora assistente da UEMA-Universidade Estadual do Maranhão nos curso de en-


fermagem e medicina do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC), Mestre em
Enfermagem (UNISINOS-RS).

Dafne Paiva Rodrigues

Enfermeira. Professora Associada no Curso de Graduação em Enfermagem da UECE.


Docente Permanente do PPCCLIS da Universidade Estadual do Ceará/UECE. Forta-
leza (CE), Brasil.

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Daianny Cristina de Almeida Silva

Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfer-


magem e Saúde – PPCCLIS, pela Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Bra-
sil. 

Érika da Silva Bandeira

Enfermeira. Mestra em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade


Estadual do Ceará (UECE). Professora do Curso de Graduação em Enfermagem do
Centro Universitário Christus (Unichristus).

Francisco Wellington Dourado Júnior

Enfermeiro. Mestrando em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde – PPCCLIS,


pela Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. 

Germana Pinheiro Correia Lima Sousa

Enfermeira pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Fortaleza, CE, Brasil.

Gyllyandeson de Araújo Delmondes

Enfermeiro. Doutor em Química Biológica pela Universidade Regional do Cariri


(PPQB/URCA). Mestre em Bioprospecção Molecular (PPBM/URCA). Professor Ad-
junto do Colegiado de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF).

Herika Bruna Santos Bezerra

Enfermeira graduada pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Avan-


çado de Iguatu.

Herla Maria Furtado Jorge

Professora Efetiva do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do


Piauí (UFPI), do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (UFPI) e da Residência
em Enfermagem Obstétrica. Doutora em Tocoginecologia (Universidade Estadual de
Campinas) com vinculação acadêmica na área da saúde materna e perinatal. Mestre
em Saúde Coletiva (Universidade de Fortaleza). Especialista em Enfermagem Obsté-
trica (Universidade Estadual do Ceará).

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Isadora Gomes Mendes

Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Bolsista do


Programa de Iniciação Científica. Integrante do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher
e Enfermagem (GRUPESME/UECE) e integrante do Projeto de extensão HumanarteS.

Jameson Moreira Belém

Enfermeiro. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enferma-


gem da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutorando do Programa de Pós-
-Graduação em Saúde Coletiva (PPSAC) da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Sexualidade, Gênero, Diversidade Sexual e
Inclusão (GPESGDI/CNPq/URCA). Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Saúde
Coletiva (GRUPESC/CNPq/URCA). Membro do Grupo de Pesquisa Fluxos, Redes
e Cuidado (GPFRIDA/CNPq/UECE). Docente do Departamento de Enfermagem da
Universidade Regional do Cariri (URCA) - Campus Pimenta. 

Jéssica Cunha Brandão

Enfermeira graduada pela Universidade Estadual do Ceará. Residente em Obstetrícia


pela UECE. Integrante do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRU-
PESME/ UECE). Foi monitora voluntária das disciplinas Enfermagem em Saúde da
Mulher e de Saúde do Adulto. Foi bolsista de Iniciação Cientifica pela IC/UECE, ICT/
FUNCAP e PIBIC/CNPq em projetos de ênfase em Saúde da Mulher e Enfermagem,
além de Saúde do Adolescente, durante toda graduação. Técnica e Auxiliar de Enfer-
magem - Escola de Enfermagem São Camilo de Lellis.

Laura Pinto Torres de Melo

Enfermeira Obstétrica da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (UFC/MEAC/EB-


SERH). Docente do Centro Universitário UniFanor Wyden. Mestre e Doutora em Cui-
dados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Leticia Cristina Matos Costa

Graduanda de enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará. Bolsista de exten-


são. Integrante do Grupo de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME/
UECE). Fundadora da Liga Acadêmica de Neonatologia e Pediatria (LANEP) da UECE.

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Letícia Lopes Dorneles

Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Programa de Enfermagem em Saúde Pública da


Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto. Doutoranda do Programa de Pós-Gra-
duação de Enfermagem em Saúde Pública da Universidade de São Paulo de Ribeirão
Preto. Docente da Escola Superior de Saúde ESCS da Secretaria de Saúde do Distrito
Federal. 

Luana Silva de Sousa

Enfermeira. Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS/UECE).


Fortaleza (CE), Brasil.

Luana Sousa de Carvalho

Enfermeira pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Especialista em Enferma-


gem Obstétrica - Residência pela Universidade Estadual do Ceará. Mestranda no Pro-
grama de Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde - PPCLIS/UECE (Linha de Pes-
quisa: Segurança do Paciente). Pós-graduanda em Enfermagem Pediátrica e Neonatal
- UNIFAMETRO.

Magda Fabiana de Amaral Pereira Lima

Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interinstitucional de Cui-


dados Clínicos em Enfermagem e Saúde – PPCCLIS, pela Universidade Estadual do
Ceará. Mossoró, RN, Brasil. 

Maira Lima Paiva

Graduanda de enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará.

Maria Ivaneide Feitosa Rodrigues

Enfermeira. Pós-graduada em Obstetrícia pela Universidade Estadual do Ceará


(UECE). 

Maria José Clapis

Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Enfermagem em Saúde Públi-


ca da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

21
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Professora Associada (aposentada) Sênior da Escola de Enfermagem de Ribeirão Pre-


to, Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. 

Marislei Sanches Panobianco

Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Enfermagem em Saúde Públi-


ca da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de
São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. 

Midiã Souza Barbosa

Enfermeira Bacharel pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Campus Avan-


çado de Iguatu. Pós-graduanda em Pediatria e Neonatologia pela Faculdade Venda
Nova do Imigrante (FAVENI). Preceptora de estágio do Centro Universitário Planalto
do Distrito Federal (UNIPLAN).

Mônica Maria de Jesus Silva

Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Programa de Enfermagem em Saúde Públi-


ca da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
Professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo
(USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. 

Morgânica da Silva

Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA) - Campus


Avançado Iguatu. Bolsista do Programa de Iniciação Científica. Integrante do Grupo
de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME/UECE). Membro do proje-
to de extensão Sexualidade na Gestação. 

Nayara Santana Brito

Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfer-


magem da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutoranda do Programa de
Pós-graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCCLIS) da Uni-
versidade Estadual do Ceará/UECE. Fortaleza (CE), Brasil. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME/UECE). Pesquisadora do
Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva (GRUPESC/CNPq/URCA).

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Pedro Vitor Mendes Santos

Mestrando do programa de pós-graduação em Enfermagem da UFPI, especialista pelo


programa de residência em Enfermagem obstétrica da UEMA, graduado em Enferma-
gem pela UFPI.

Rafaela Ferreira Vilanova

Pós-graduada em Enfermagem Obstetrícia pela IESM, Enfermeira assistencial da FMS


de Teresina, PI e da MCC de Caxias, MA.

Raphaele Maria Almeida Silva

Graduação em Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (2020). Pós Gra-


duanda em Segurança do Paciente e Gestão de Riscos Assistenciais (Faculdade FA-
VENI). Residente em Enfermagem Obstétrica pela Universidade Estadual do Ceará
(UECE). Tem experiência na área de Enfermagem, atuando principalmente nos se-
guintes temas: Segurança do paciente, Paciente Crítico, Transplante Renal, Hemodiá-
lise, Obstetrícia e serviços de saúde materno-infantil.

Ravena de Sousa Alencar Ferreira

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem/UFPI. Especialista em


Enfermagem Obstétrica pelo Programa de Residência da UFPI. Graduada em Enfer-
magem pela UESPI.

Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho

Professora do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Cea-


rá. Atua como professora dos Programas de Pós Graduação em Cuidados Clínicos e
Saúde (PPCCLIS) e do Mestrado Profissional em Criança e Adolescente. Membro da
Rede Brasileira de Segurança do Paciente (Ceará) e da Sociedade Brasileira de Segu-
rança do Paciente (SOBRASP). Editora associada da Revista de Enfermagem da UFSM.
Revisora de revistas nacionais e internacionais. Líder do grupo de pesquisa Segurança,
tecnologia e cuidados clínicos. No momento, pesquisadora visitante (pós-doutorado/
CNPq) no Departamento de medicina interna e atenção primária do Brigham and Wo-
mens Hospital da Universidade de Harvard. Principais áreas de atuação: desenvolvi-
mento e validação de tecnologias e segurança do paciente.

23
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Roberta Meneses Oliveira

Enfermeira. Doutora em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde - PPCCLIS. Pro-


fessora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Líder do Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Gestão e Cuidado em Saúde
(NUGESC). Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (RE-
BRAENSP), Núcleo Fortaleza.. Fortaleza (CE), Brasil.

Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do curso de Pós-Graduação Cuidados


Clínicos em Enfermagem e Saúde – PPCCLIS. Professora Titular da Universidade Es-
tadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. 

Valéria de Oliveira Lourenço

Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Bolsista do


Programa de Iniciação Científica. Membro e fundadora da Liga Acadêmica de Enfer-
magem em Saúde da Mulher e Obstetrícia - LAESMO.

Vanessa Silva Gaspar

Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Regional do Cariri (URCA) - Campus


Avançado Iguatu. Bolsista do Programa de Iniciação Científica. Integrante do Grupo
de Pesquisa Saúde da Mulher e Enfermagem (GRUPESME/UECE). Membro do proje-
to de extensão Sexualidade na Gestação. 

Vitória Lídia Pereira Sousa

Enfermeira. Mestranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde – PPCCLIS,


pela Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. 

24
CAPÍTULO 1

PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE
ENFERMAGEM ACERCA DA PROMOÇÃO
DA SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA

Isadora Gomes Mendes


Ana Lourdes de Freitas Almeida
Vanessa Silva Gaspar
Morgânica da Silva
Valéria de Oliveira Lourenço
Jameson Moreira Belém
Emanuelly Vieira Pereira
Ana Virgínia de Melo Fialho

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.1
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A partir da década de 1980, com a intensificação das lutas realizadas pelo


movimento de mulheres, a Reforma Sanitária e a redemocratização do
país, as questões relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos passaram a integrar
a pauta das discussões nas conferências nacionais de saúde, assim, representam uma
conquista de luta à cidadania e aos direitos humanos (BRASIL, 2013).
Estes direitos, por sua vez, devem ser garantidos por meio da criação de estra-
tégias governamentais, adoção de políticas públicas eficazes e orientação dos sistemas
de saúde para a promoção de ações voltadas à Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) com
ênfase de atuação na Atenção Primária à Saúde (APS), pois esta se configura como a
porta de entrada para efetivação destas políticas no Sistema Único de Saúde (SUS)
(LEMOS, 2014).
Ademais, os serviços de APS são considerados essenciais na promoção da saú-
de sexual e reprodutiva da população por contribuir na capacidade de promoverem
integralidade, equidade e impacto positivo sobre a saúde (SOUSA; TYRRELL, 2016;
NASSER et al., 2017).
As ações que permeiam a SSR são desenvolvidas pelos profissionais de saúde
e devem envolver desde a assistência clínica até o fortalecimento de orientações res-
pectivas ao processo saúde-doença, ampliando-se na longitudinalidade da assistência
à saúde e englobando ações com vistas à melhoria da vida, das relações interpessoais,
do autocuidado, bem como, acesso a insumos de prevenção. Assim, torna-se impres-
cindível a relação entre atenção à saúde sexual e reprodutiva e promoção da saúde
(NASSER et al., 2017; TELÓ; WITT, 2018).
O enfermeiro, enquanto membro da equipe de APS possui papel fundamental
na promoção da saúde sexual e reprodutiva, à medida que integra ações de educação
em saúde, acolhimento e assistência nas práticas de saúde referentes à atenção à SSR
(GARCIA; LISBOA, 2012).
O ensino sobre SSR na enfermagem é focado em ações de atenção ao planeja-
mento reprodutivo e o que é vivenciado na maioria dos serviços de saúde, apontando
o despreparo atrelado à deficiência na abordagem da temática na graduação, que é
negligenciado na grade curricular (TELÓ; WITT, 2018).
Corroborando a isso, promover a SSR constitui desafio nas últimas décadas,
decorrente em parte da carência destas discussões no âmbito de formação acadêmi-
ca, principalmente quando se referem à sexualidade, onde se evidencia dificuldades
na abordagem e compreensão dessas temáticas pelos profissionais de saúde, entre os

26
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

quais se pode citar a enfermagem. Isso reflete em assistência fragmentada e permeada


por lacunas nesta, prevalecendo os cuidados com o corpo e as funções reprodutivas
em detrimento de aspectos relacionados à saúde sexual (PAIVA et al, 2020).
Desse modo, o estudo justifica-se pela verificação de lacunas de conhecimen-
tos e pautas discursivas encontradas na assistência por enfermeiros sobre a saúde se-
xual e reprodutiva, que podem ter sido afetadas por ausência de formações anteriores
(BRASIL, 2018).
Os resultados do estudo poderão contribuir e trazer relevância nas discus-
sões já existentes acerca da temática, por meio da disseminação de informações para
a população geral, e principalmente aos acadêmicos nos âmbitos do ensino, pesquisa
e extensão, como também aos profissionais ao proporcionar reflexões acerca da im-
portância da atenção sexual e reprodutiva e a necessidade de modificar e/ou adaptar
práticas assistenciais com intuito de garantir a integralidade e a qualidade.
Dessa forma, objetivou-se analisar a percepção de acadêmicos de enfermagem
sobre promoção da saúde sexual e reprodutiva.

MÉTODO

Trata-se de estudo exploratório com abordagem qualitativa.


A população do estudo foi composta por acadêmicos matriculados no curso
de Graduação em Enfermagem na modalidade presencial e em grau de bacharelado
em instituições públicas cearenses.
A identificação das instituições ocorreu através da plataforma de Cadastro
Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior (IES) e-MEC, onde foi acessa-
da a opção consulta avançada e busca por curso de graduação, curso em enfermagem
(pesquisa exata); modalidade (presencial); grau (bacharelado e licenciatura); situação
(em atividade). Desse modo, foram incluídas IES públicas estaduais que possuem o
curso de graduação em Enfermagem, no Estado do Ceará, com grau de bacharelado
e/ou licenciatura, modalidade presencial e que estejam com situação em atividade.
Conforme pesquisa realizada na plataforma e-MEC em abril de 2021, no es-
tado do Ceará 54 instituições de ensino estavam cadastradas. Dessas, duas institui-
ções Federais (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
- UNILAB, Universidade Federal do Ceará-UFC) e três estaduais (Universidade Esta-
dual do Ceará -UECE, Universidade Regional do Cariri - URCA (composta por dois
campi: campus avançado de Iguatu e campus Pimenta), e a Universidade Estadual
Vale do Acaraú - UVA). Optou-se por analisar o panorama de ensino sobre a temática
nas três IES públicas estaduais.

27
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Após autorização das IES foi solicitada em cada coordenação de curso a lista
de discentes matriculados no último semestre da graduação. A URCA Campus Avan-
çado de Iguatu disponibilizou uma lista com 57 alunos, a UECE concedeu uma lista
com 6 discentes, URCA campus Pimenta e UVA cada uma com 35 alunos. Assim cons-
tituiu a população de 133 acadêmicos regularmente matriculados no curso de gradua-
ção em Enfermagem das IES no último semestre.
Na lista enviada pela coordenação da UECE constava o e-mail dos discentes.
Em relação a URCA - campus Iguatu, a lista fornecia além dos e-mails, os contatos dos
acadêmicos. Já a URCA - campus Pimenta não disponibilizou os e-mails, o contato
disponibilizado foi o do líder de turma, e por meio dele, foram solicitados os telefo-
nes dos acadêmicos citados na lista disponibilizada pela coordenação. Diante disso, o
contato com discentes dessas IES se deu através do aplicativo whatsapp®️. A UVA dis-
ponibilizou apenas o e-mail dos discentes, o contato ocorreu apenas através do e-mail
disponibilizado.
Quanto à abordagem dos discentes da URCA - campus Pimenta foi disponi-
bilizado pelo líder de turma 13 contatos, sendo todos abordados, um recusou após o
convite, um aceitou participar do estudo e os outros 11 discentes foram excluídos por
não confirmarem a data para a realização de entrevista no período de até sete dias após
o contato para agendamento.
Da URCA - campus Iguatu, 23 alunos foram abordados, cinco participaram do
pré-teste, sendo que 4 foram através de entrevista e uma foi por meio do google forms,
um recusou após o convite, um foi excluído por não confirmar a data para a realização
de entrevista no período de até sete dias após o contato para agendamento e, 16 entre-
vistas e transcrições foram realizadas.
Na abordagem da UECE, dos seis nomes disponibilizados, apenas uma en-
trevista foi realizada, os outros 05 foram excluídos pelo critério: discentes que não
confirmaram a data para a realização de entrevista no período de até sete dias após
o contato para agendamento. Por fim, dos 35 nomes e contatos disponibilizados pela
UVA, nenhum respondeu o e-mail com o convite, sendo os 35 excluídos pelo critério:
discentes que não confirmaram a data para a realização de entrevista no período de até
sete dias após o contato para agendamento.
Diante dos dados levantados, foi abordado o total de 77 alunos e 52 discentes
foram excluídos por não confirmarem a data para a realização da entrevista no período
de até sete dias após o contato para o agendamento. Nessas circunstâncias, a amostra
final do estudo foi os 18 discentes que participaram da entrevista.

28
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

A coleta de dados com os acadêmicos de Enfermagem teve início após autori-


zação por escrito da coordenação dos cursos de Enfermagem das referidas instituições,
bem como mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UECE e ocorreu
em março de 2022, sendo precedida por um pré-teste realizado em 14/03/2022 com
quatro discentes de Enfermagem das IES para avaliação do instrumento de coleta de
dados com vistas a, se necessário, adequar o roteiro de entrevista para alcance dos
objetivos propostos.
Realizou-se pré-teste com cinco discentes, sendo um realizado apenas por for-
mulário e os demais por entrevista. O pré-teste objetivava encontrar meios que faci-
litasse a adesão à pesquisa, e a partir da sua realização, observou-se a necessidade
de alterar a linguagem das perguntas realizadas nas entrevistas para um vocabulário
mais acessível ao discente de graduação.
Para alcançar os objetivos do estudo utilizou-se formulário contendo dados
de caracterização dos participantes (e-mail para identificação, idade, estado civil, cor/
etnia, sexo, orientação sexual, situação profissional (trabalha/não trabalha), ativida-
des acadêmicas desenvolvidas durante a graduação (ensino, pesquisa e extensão), se
é bolsista (monitoria, extensão, iniciação científica etc.), seguido por um roteiro de en-
trevista semiestruturada, previamente elaborada, sobre a temática de estudo do tipo
conte-me sobre. Utilizou-se para este estudo os dados resultantes da pergunta: “O que
você entende por promoção da saúde sexual e reprodutiva?”
Em decorrência da pandemia atual ocasionada pelo novo coronavírus a entre-
vista ocorreu através do Google Meet®️ vinculado ao e-mail institucional da UECE e a
gravação se deu por uso de capturas de tela e gravação via áudio, mediante assinatura
do termo de autorização de uso de voz e imagem, Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) e do Termo de Consentimento Pós-Esclarecido (TCPE).
A escolha dos turnos e horários ficou a critério dos discentes, sendo os horá-
rios da manhã 08h00 às 11h00, e da tarde 13h00 às 17h30, fato esse, que tornou a parti-
cipação desses acadêmicos mais aceitáveis para colaborar com a entrevista.
Posteriormente, as falas foram transcritas na íntegra e os participantes foram
identificados pela letra E seguido de um código numérico referente à IES e a ordem da
entrevista.
Utilizou-se o critério de saturação teórica para definir o encerramento da co-
leta de dados. Para a organização e análise dos resultados obtidos na coleta de dados
foi utilizada a metodologia descritiva-interpretativa. De acordo com Teodoro (2018),
a metodologia descritiva interpretativa corresponde a uma abordagem analítica indu-

29
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

tiva, que se destaca como um método de pesquisa qualitativa capaz de gerar conheci-
mento confiável e significativo no âmbito das pesquisas em enfermagem.
A pesquisa seguiu os preceitos éticos contidos na Resolução nº. 466 de dezem-
bro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que trata de pesquisa com seres
humanos (BRASIL, 2012). Os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos do
estudo e as implicações de sua participação, mediante assinatura do TCLE e TCPE em
duas vias de igual teor, recebendo garantia de anonimato e possibilidade de desistên-
cia a qualquer momento. Este estudo foi aprovado na Plataforma Brasil do CEP da
UECE com parecer número: 5.036.283 e CAAE: 46717321.60000.5534.

RESULTADOS

Participaram da pesquisa 18 acadêmicos de enfermagem das IES públicas


do Ceará. A idade dos participantes variou de 18 a 31 anos, predominaram discentes
do sexo feminino (n=13), heterossexuais (n=14) sendo a maioria de cor/etnia parda
(n=10) e com estado civil solteiro/a (n=14). Em relação à situação profissional, conclui-
-se que a maioria não trabalha (n=16). Em relação à situação acadêmica constatou que
17 participantes não eram bolsistas (n=94,4%). Quanto à participação em monitoria,
pesquisa e extensão constatou-se que a participação em projetos de extensão durante a
graduação foi a mais expressiva (n=17), em contrapartida apenas (n=07) participaram
de monitoria e de projetos de iniciação científica.
A análise dos discursos permitiu identificar a diversidade de concepções e
práticas de promoção da saúde no contexto da saúde sexual e reprodutiva presentes
na formação do enfermeiro. A promoção da saúde no contexto da saúde sexual e re-
produtiva é entendida como a abordagem de temas para públicos amplos na comu-
nidade, nos serviços de saúde e nas escolas. Entretanto, reforçam que a promoção da
saúde sexual e reprodutiva deve ser direcionada para o público adolescente, como
exemplificado nas falas a seguir:
“A saúde sexual e reprodutiva deve ser promovida em todos os âmbitos da saúde e princi-
palmente quando se trata de atenção primária à saúde, [...] abordagem geral [...] de todas
as pessoas da comunidade, a mulher [...] relacionada principalmente a questões emocionais,
psicológicas [...] qualidade de vida. [...] Essa questão reprodutiva que tem toda uma relação
com a vida da pessoa [...] está se planejando [...] estar prevenindo uma gestação [...]. Falar
sobre promoção da saúde sexual e reprodutiva é para que a gente possa planejar e dar mais
informações para as pessoas para que elas tomem atitudes de forma empoderada com conhe-
cimento científico” (EI08).
“[...] promover a saúde (sexual e reprodutiva) é você falar abertamente sobre um tema [...]
nos locais de interação social, onde encontra-se aglomeração de pessoas de diversas raças,
de diversas opiniões, de diversas estruturas sociais e econômicas como nas unidades básicas
de saúde, nas instituições educacionais. É importante também esclarecer dúvidas sobre esse
tema, procurar tirar tabus [...]”(EI10).

30
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

“Quanto a promoção da sexual e reprodutiva ela deve ser aplicada principalmente, tanto na
atenção primária quanto nas escolas o que também cabe a educação sexual dos jovens, por que
o jovem está inserido nessa questão de não ter vivência e nem experiência e às vezes eles não
têm acesso a informação correta desse assunto”(EI16).
‘’Eu entendo como ações que são desenvolvidas para tanto evitar gravidez na adolescência
ou gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e essas ações existem de várias
formas, né? Principalmente na atenção primária para eles podem ser desenvolvidas de muitas
formas e tem uma importância extrema [...] Isso acaba refletindo muito nas pessoas, na co-
munidade, que a gente vê muitos casos de gravidez na adolescência, muitos casos de gravidez
não planejada [...]. (EI03).

Nota-se um amplo foco da temática de promoção da saúde vista como um pro-


cesso comunicativo de educação em saúde do profissional com a comunidade relatada
principalmente no contexto da atenção primária à saúde. Promover saúde sexual e re-
produtiva é referido como o repasse de conhecimentos com vistas a esclarecer dúvidas
sobre temas relacionados à SRR:
“[...] na graduação quando a gente aprendeu sobre a promoção da saúde é mais ligado à edu-
cação, é você fornecer informações sobre determinado tema. Então se está relacionado a isso
acredito que seja fornecer conhecimentos sobre a saúde sexual e reprodutiva a população”.
(EI15).
“Eu entendo como o repasse do conhecimento acerca desse tema, que é um tema que querendo
ou não existe muito tabu na sociedade de hoje. Então eu entendo muito como o repasse do
conhecimento para o intuito de empoderamento daquela população que você está promovendo
essa ação”.(EI11).
“ [...] eu entendo que promoção da saúde é levar o conhecimento para as pessoas e a partir
disso elas se tornam sensibilizadas a praticar o seu autocuidado, e relacionado à parte de saú-
de sexual e reprodutiva é tipo assim, vou dizer como eu posso colocar a promoção da saúde”
(EI06).

Para os participantes a promoção da saúde no contexto da SRR acontece por


meio da garantia de informações à população sobre temáticas como o planejamento
reprodutivo, direitos sexuais e reprodutivos, métodos contraceptivos e infecções se-
xualmente transmissíveis (IST’s).
Fica evidente nas falas que os entrevistados reconhecem a saúde sexual e re-
produtiva como campos distintos e interligados cuja materialidade se dá por meio de
ações educativas:
“Saúde sexual e reprodutiva [...] são duas áreas, que de certa forma se relacionam entre si, já
que saúde sexual ela se refere mais às questões de sexualidade, ao comportamento sexual, e já
a reprodutiva se refere ao planejamento reprodutivo, muitas vezes aos direitos reprodutivos,
quando, a decisão de ter filhos ou não [...]. É você desenvolver ações educativas, assim, de
abordar assuntos relacionados a ambas as áreas, sexual e reprodutiva, no sentido de sexual,
relacionada ao exercício da sexualidade humana, já a reprodutiva em relacionada ao planeja-
mento reprodutivo, né, essas questões relacionadas aos direitos e quando ou não vou, se quer
ter filhos, é nesse sentido, são assuntos educativos em prova a discutir e abordar assuntos
acerca dessas temáticas” (EI07).

Quando relatam aspectos relacionados à saúde reprodutiva, embora sempre


destaquem como direito essencial evidencia-se a SRR como campo de atuação do en-

31
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

fermeiro/a e um direcionamento ao planejamento reprodutivo predominantemente


da mulher, (anticoncepção, gestação/reprodução):
“É você dar o que é necessário para a mulher, para que ela consiga escolher, quando ter filhos
e também dar a ela tudo que é necessário para que ela tenha uma vida sexual segura e saudá-
vel” (EI01).
“[...] é a questão do aconselhamento e do planejamento familiar quando a mulher busca o
atendimento para poder sanar todas as dúvidas delas, assim como também está dentro das
nossas competências para a enfermagem [...]” (EI04).
E na questão da saúde reprodutiva é promover saúde para que as pessoas não tenham proble-
mas na sua gestação e quanto a sua reprodução é promover naquele indivíduo a escolha de
quando ele quer ou não engravidar por meio dos métodos contraceptivos”. (EI17).
“[...] sobre a questão reprodutiva é outra lacuna [...] porque durante as consultas as mulheres
apresentavam muitas dúvidas, principalmente aos métodos contraceptivos aos direitos [...] E
são assuntos também que geralmente passam a vida inteira e a atenção primária não tem esse
tipo de informação”. (E112).

Nesse contexto as entrevistadas destacam como essas ações seriam operacio-


nalizadas por meio de ações fornecedoras de orientações que possam ser direcionadas
a escolha informada das mulheres sobre a decisão e uso de métodos contraceptivos:
“[...] a promoção da saúde sexual e reprodutiva “[...] se dá por meio de ações educativas por
parte do enfermeiro em atenção básica de saúde [...] sobre os seus direitos reprodutivos, seus
direitos sexuais e reprodutivos, né? É seu direito de escolha de engravidar ou não” (EI05).
“[...] Geralmente são ações de promoção de saúde que possam abranger os diversos valores
dessa mulher, por exemplo, sexual não é só a mulher, mas também envolvendo o homem,
como envolvendo equidade, autonomia, sobre os pensamentos, e atendendo em relação à indi-
vidualidade de cada paciente […] “.(EI09).
“O que eu entendo sobre a saúde e reprodutiva é que são direitos que qualquer usuário do
sistema de saúde deve ter acesso [...] a saúde sexual abrange o direito do prazer, o direito de
tirar dúvidas [...] que possam surgir, enquanto a saúde reprodutiva refere-se ao métodos
contraceptivos esse direito de se prevenir que todas as pessoas têm. Na questão da promoção
entendo como uma orientação que o profissional pode dar e também instruir sobre os méto-
dos contraceptivos no caso da reprodutiva e sexual alguma dúvida que a pessoa possa ter”.
(EC14).
“ [...] eu acredito que isso seja promover a saúde sexual e reprodutiva, reprodutiva: quanto
a questão de decisão de ter filhos e que momento da vida eles querem que ocorra. Então o
profissional deve respeitar, fornecer orientações e isso acaba sendo uma atitude promovedora
da saúde.” (EI02).
“[...] Uma menina de 18, 19 anos que já iniciou a vida sexual e compareceu a unidade para
fazer o exame de prevenção [...] então nesse momento eu exponho a ela todos os meus métodos
anticoncepcionais, tendo em vista se ela quer saber sobre eles, se ela disse que quer aí eu digo
a ela como usa, como é que toma, todos os seus eventos adversos, eu explico tudo, e assim, a
partir do conhecimento ela vai decidir se quer ou não, eu acredito que essa seja um exemplo
que eu poderia dizer na prática sobre o que é promoção da saúde sexual e reprodutiva”(EI06).

Quando descrevem aspectos relacionados à saúde sexual, embora incorpore a


abordagem com outros públicos-alvo, enfatiza-se a sexualidade predominante relacio-
nada ao diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis:
“É promover para a família, para mulher e para o homem, e para os casais gays e lésbicos e
promover para esses casais um ato sexual que não leve a doença, a prevenção da sífilis, do

32
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

HIV, das hepatites e também promover o diagnóstico precoce através dos testes rápidos, atra-
vés da busca ativa.” (EU13).
“[...] é promover a saúde das pessoas e no âmbito da sexualidade. É a forma de orientação
para evitar problemas de saúde como doenças sexualmente transmissíveis e outros problemas
nessa parte da sexualidade [...]” (EI17).
“Promover a saúde sexual e reprodutiva é onde devem ser feitas ações que possam assegurar
os direitos sexuais e reprodutivos dos indivíduos para que eles possam ter uma vida sexual
prazerosa e segura e para que possam ter informações sobre a sexualidade e também a preven-
ção de doenças sexualmente transmissíveis [...]”. (EI2).
“[...] tem a questão da pessoa que procura o serviço para entender sua sexualidade particular
e tem a questão da sexualidade como um todo social. As pessoas tem que procurar entender o
que é sexualidade e não ter vergonha de tirar suas dúvidas tanto na questão de gênero, como
também da sua intimidade”.(EI18).
“[...] a gente tentava implementar para essa mulher[...] a gente orientava e ela se conhecer e
conhecer seu corpo, pra ela se tocar e são coisas que não são ditas na consulta das mulheres
são mulheres que você vê que já estão na menopausa e nunca teve um profissional que con-
versasse com ela sobre ampliar o que seria a sexualidade.[...]” (E112).

Evidencia-se a importância de abordagem das temáticas durante a formação


do/a enfermeiro/a, bem como lacunas na formação e na assistência direcionada a
SRR, embora destaquem que seja de competência da equipe multiprofissional.
“[...] a promoção da sexualidade [...] é uma um tema assim muito importante para ser utili-
zado principalmente durante a graduação na preparação do aluno. [...] a gente vê bem pouco
durante a graduação e também na atenção primária. [...] a gente vê que na atenção primária
são poucas as atividades e ações informações que são passadas para o público. A gente vê que
não tem muitas atividades relacionadas ao tema [...] então quando a gente vai fazer as con-
sultas e as consultas são principalmente das mulheres, porque os homens participam pouco e
frequentam pouco a atenção primária, né? [...].“(E112).
“É um cuidado da equipe tanto de enfermagem como equipe multiprofissional à mulher desde
o período de primeira menstruação até a primeira vida sexual, até o processo de menarca/
menopausa. [...] Eu acho que envolve um conjunto de competências [...]”.(EI9).

DISCUSSÃO

Os serviços ofertados na APS são imprescindíveis para a promoção SRR da


população pela capacidade de promover a integralidade, a equidade e influenciar po-
sitivamente a saúde dos indivíduos. Contudo, faz-se necessário a ampliação dessas
ações para todos os serviços da rede de atenção à saúde, bem como diversos âmbitos
comunitários para além dos serviços de saúde (NASSER et al., 2017).
Nesse cenário de atenção à saúde, a atuação do enfermeiro é considerada pri-
mordial no SUS, sendo o principal educador e profissional a ter mais contato com a
população atendida, desenvolver ações de promoção da saúde e criar um vínculo en-
tre os usuários e a equipe de profissionais. Além disso, deve-se salientar que a atenção
à SSRR requer uma abordagem multiprofissional onde cada profissional irá colaborar
no repasse de informações e, assim, contribuir no cuidado integral (SILVA et al., 2019).

33
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

E durante esse compartilhamento de informações é necessário que o profis-


sional de enfermagem denote sobre os tipos de métodos contraceptivos, planejamento
reprodutivo e acerca das IST’s com o intuito de que os usuários ou ouvintes possam
adotar comportamentos de autocuidados (TEODORO et al., 2021). Dessa forma, en-
tende-se que através dessas e de outras abordagens como, por exemplo, a escuta ativa
pode-se promover educação em saúde e assim, isso irá colaborar na qualidade de vida
das pessoas (TEODORO et al., 2021).
A promoção da saúde SRR não deve seguir o método de educação bancária, a
qual se assemelha a um depósito ou transferência de conhecimento, visto que não deve
ser foco de ações promocionais, pois quando há participação ativa com estratégias
interativas, a população é capaz de pensar a partir do seu cotidiano de vida e saúde e
refletir sobre como esses aspectos se inserem na sua realidade (CATINI, 2021).
Ademais, por meio dos resultados foi destacado que as ações de saúde acerca
da SSRR encontram-se direcionadas às mulheres e isso pode estar relacionado ao fato
delas buscarem mais informações e atendimentos médicos do que os homens. Diante
disso, a APS torna-se um local propício para debates sobre a SRR e durante as con-
sultas de rotina, muitas mulheres vão acompanhadas de seus companheiros. Nesse
momento, o profissional de saúde pode aproximar-se deles, a fim de ouvir as queixas
como também planejar e implementar ações baseadas nas suas necessidades (COUTO
et al., 2010).
Diante do exposto, faz-se necessário realizar ações sobre SRR voltadas para
o público masculino nas instituições de ensino ou quando algum homem for reali-
zar consultas de rotina na Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS), pois é de
suma importância a participação desse público nesses debates na construção de valo-
res, ideias e práticas em saúde que possam colaborar no autocuidado e no cuidado ao
próximo (DIAZ-ROJAS et al., 2020).
Embora os resultados evidenciem centralidade na abordagem de IST´s res-
salta-se que a SSRR não se restringe a essa perspectiva. Além disso, a Política Nacio-
nal dos Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos apresenta outras temáticas, como:
ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS, elaboração e
distribuição de manuais técnicos e de cartilhas educativas, atenção à saúde sexual e à
saúde reprodutiva de adolescentes e jovens (BRASIL, 2005).
As temáticas relacionadas à sexualidade e a reprodução têm sido delegadas
aos profissionais de saúde, devido às unidades de saúde ser um ambiente de busca de
informações que competem ao cuidado (SILVA et al., 2021). No entanto, com a finali-
dade de transformar essa realidade, os acadêmicos de enfermagem estão realizando
ações acerca da SSRR no âmbito acadêmico com o intuito de expandir conhecimentos

34
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

a respeito de ações de autocuidado e prevenção de agravos. Assim, promovendo qua-


lidade de vida aos estudantes (SILVA et al., 2021).
Dessa forma, ao refletir sobre os conceitos referentes à promoção da saúde no
contexto da SSRR é possível reconhecer a importância desse tema na formação acadê-
mica do enfermeiro, pois contribui para a sensibilização e qualificação do profissional,
bem como na construção de conceitos e desconstrução de preconceitos (BRASIL, 2016).
Porém, evidenciam-se lacunas, que podem ser explicadas pela ineficiência da
formação acadêmica dos profissionais enfermeiros causado pela ausência de conteúdo
na grade curricular que aborde SSRR em específico, escassez de estratégias de ensino e
programas de treinamento voltados a essas temáticas e também a carência de capacita-
ções dos profissionais para trabalhar essa temática com os acadêmicos, o que ocasiona
em um ensino superficial sem que haja discussões para a formação de um profissional
crítico-reflexivo. (LIMA et al.,2021).
Diante disso, surge às dificuldades para construir vínculos e ausência de diá-
logo durante o atendimento, como também, a aplicação do modelo tecnicista sob uma
visão biológico/corporal sem considerar o contexto social em que o indivíduo habita
(BRASIL, 2017).
Nesse contexto, o papel do enfermeiro consiste em auxiliar e orientar o pacien-
te na tomada de decisões, baseadas em informações claras, levando em consideração
a situação que está vivenciando, seus sentimentos e necessidades, de modo que pos-
sa desfrutar com autonomia e segurança acerca da sua sexualidade (SEHNEM et al.,
2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os acadêmicos de enfermagem das IES estaduais reconhecem a promoção da


saúde como uma estratégia de educação em saúde que direciona a comunicação abran-
ge desde o profissional da atenção primária até a comunidade. Diante dessa perspecti-
va, os discentes acreditam que o processo da promoção da saúde sexual e reprodutiva
engloba a garantia de informação à população e também envolve questões relaciona-
das à prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis, o que constitui uma visão
limitada e biologicista acerca da SRR.
Sugere-se que estudos com essa proposta possam fomentar discussões sobre
a promoção da saúde sexual e reprodutiva durante a graduação, com vistas a formar
enfermeiros capacitados para a assistência integral e resolutiva.

35
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

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37
CAPÍTULO 2

O PAPEL DO ENFERMEIRO FRENTE


À GESTAÇÃO DE ALTO RISCO NA
ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL

Leticia Cristina Matos Costa


Maira Lima Paiva
Nayara Santana Brito
Luana Silva de Sousa
Christian Raphael Fernandes Almeida
Dafne Paiva Rodrigues

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.2
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A assistência pré-natal compreende-se ao conjunto de consultas nas quais


são desempenhadas ações voltadas para a prevenção, proteção e promo-
ção de saúde da gestante e do filho (binômio mãe-filho), sendo aconselhado o acompa-
nhamento desde a descoberta da gestação e aumentando a frequência junto ao avanço
da idade gestacional. Tais consultas pretendem prevenir e diagnosticar quadros pato-
lógicos, podendo assim, iniciar o tratamento de maneira precoce e evitando óbitos ma-
ternos, infantis, perinatais, proporcionando o melhor desfecho possível (TRIGUEIRO
et al., 2022).
A assistência à gestante de risco, atualmente, é orientada pelo Programa de
Humanização do Pré-natal e Nascimento (BRASIL, 2002) e pela Rede Cegonha (BRA-
SIL, 2011) que garantem classificação dos riscos desde a primeira consulta, acesso e
atendimento em todos os níveis de atenção à saúde, além do acompanhamento da
gestante em todas as etapas da gestação até o puerpério, seguindo posteriormente com
o cuidado infantil.
O pré-natal da gestação de alto risco é compartilhado entre a Atenção Primária
de Saúde (APS) e a Atenção Ambulatorial Especializada (AAE), tendo como o foco do
acompanhamento: a estabilização clínica, vigilância na identificação precoce de agra-
vos consequentes dos fatores de risco e morbidades maternas, suporte e apoio à ges-
tante e família, dando ênfase também ao apoio materno e ao familiar (BRASIL, 2012).
O período gestacional é um evento fisiológico não associado a doenças, con-
siderado um acontecimento de vida saudável para as mulheres, contudo, a gravidez
pode acarretar riscos para a saúde materno-fetal em alguns casos, cabendo aos pro-
fissionais de saúde o diagnóstico precoce de possíveis comorbidades. Ressaltando a
importância do enfermeiro enquanto papel de educador em saúde nesse papel de cui-
dados materno fetal (MEDEIROS et al., 2021).
Segundo Caldeyro-Barcia (1973) uma gestação é considerada de alto risco
quando a vida ou saúde da mãe ou feto encontram-se em risco elevado, considerando
como parâmetro as condições normais de uma gravidez.
Consoante a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1997) o óbito materno cor-
responde à morte da gestante durante ou após o período de 42 dias do término da
gestação, independente da forma como a gestação se encerrou, e, quando com causa
relacionada ou agravada pela gravidez, exceto em causas acidentais não evitáveis.
Quando se trata de óbito perinatal tem-se a correspondência aos óbitos que
compreendem desde a 22ª semana de gestação e o sexto dia de vida após o nascimento

40
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

do feto (OMS, 2009). Dentre os fatores que podem interferir na saúde gestacional estão
questões biológicas, sociais e econômicas — como a idade, anormalidades estruturais,
peso, presença de condições crônicas, condições ambientais desfavoráveis, conflitos
familiares, dentre outros. Salienta-se que é importante enfatizar a individualidade e as
características singulares de cada gestante durante todo o processo gravídico-puerpe-
ral (BRASIL, 2012).
Na Atenção Pré-Natal de Alto Risco (PNAR), o Ministério da Saúde (MS) pre-
coniza o atendimento da gestante pela equipe multidisciplinar, incluindo o profissio-
nal enfermeiro. Dentre as ações do enfermeiro em uma equipe multidisciplinar, desta-
ca-se a Consulta de Enfermagem (CE). Durante o pré-natal, a consulta de enfermagem
permite identificar os problemas reais e potenciais da gestante, e a partir disso elaborar
o planejamento das ações e cuidados necessários para favorecer uma gestação sem
intercorrências (BRASIL, 2012).
Deve-se enfatizar que a classificação da gravidez de risco pode ocorrer a qual-
quer momento ao longo do curso gestacional, ou, durante o trabalho de parto, e, para
isso, é essencial a vigilância em todas as consultas de enfermagem realizadas no perío-
do pré-natal e durante a etapa do trabalho de parto para reavaliar os potenciais riscos
e uma possível reclassificação do risco da gravidez, caso haja a necessidade (BRASIL,
2012).
Nessa consulta é importante que o profissional de enfermagem atue de modo
acolhedor, sendo sensível a compreender as reais necessidades e dúvidas da gestante,
e, dessa forma, promover a autonomia para a mulher exercer de forma ativa todo o
período da sua gestação. A gravidez pode ser uma experiência marcante na vida da
mulher, e, no caso da gravidez de alto risco, essa experiência pode ser acompanhada
de sentimentos negativos e incertezas, portanto a prestação do serviço desde o pré-na-
tal deve ser de qualidade e de forma humanizada visando o bem-estar físico e mental
da mulher (SOUZA et al., 2019).
Posto isso, um dos principais objetivos do acompanhamento é fortalecer esse
empoderamento das gestantes, e para isso, a equipe deve realizar ações educacionais
para apoiá-las na condução de sua própria condição, fornecendo orientações de forma
objetiva e clara para a paciente possuir autoconhecimento e tornar-se capaz de avaliar
sua respectiva situação de saúde, definir estratégias e metas para o cuidado, além de
estabelecer mudanças comportamentais em relação aos hábitos de vida e fortalecer a
rede de apoio no ambiente familiar (BRASIL, 2012).
A consulta de enfermagem durante o acompanhamento pré-natal é o momen-
to em que se reafirma a singularidade da mulher e inicia-se o processo de compartilha-
mento das responsabilidades com a pactuação das metas (BRASIL, 2012). Assim, este

41
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

estudo objetivou refletir acerca da atuação do enfermeiro frente à assistência pré-natal


de alto risco, como possibilidade de fundamentação do cuidado clínico de enferma-
gem a esse público-alvo.
Também é estabelecido que a consulta pré-natal e a identificação precoce e
adesão aos cuidados necessários em uma gravidez de risco podem ser fatores cruciais
para reduzir a natimortalidade, mortalidade neonatal e a mortalidade materna, todos
com metas de redução estabelecidas (NOBREGA et al., 2022).
A questão que norteou a elaboração desse estudo reflexivo consistiu em: Como
o enfermeiro pode atuar na consulta de enfermagem durante o pré-natal das gestantes
de alto risco?

MÉTODO

Trata-se de um estudo reflexivo, elaborado por meio de levantamento biblio-


gráfico após a leitura de artigos científicos publicados entre 2016 e 2021, envolvendo
as temáticas: pré-natal, cuidado de enfermagem e gestação de alto risco. Foram utili-
zados, também, como fonte de informação documentos otexticiais do Ministério da
Saúde (MS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para o levantamento de artigos na literatura, realizou-se uma busca nas se-
guintes bases de dados e portais: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-
-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online
(SciELO) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF). Foram utilizados os descritores:
Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Gestantes; Cuidado Pré-Natal.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos
publicados em português; artigos na íntegra que retratassem a temática referente à re-
visão integrativa; artigos publicados nos referidos bancos de dados nos últimos 8 anos
e documentos oficiais do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde.
Como critérios de exclusão foram estabelecidos: textos não científicos e artigos cientí-
ficos sem disponibilidade do texto on-line na íntegra, relatos de casos informais, teses
e dissertações.
A amostra final desta revisão foi constituída por 14 artigos científicos, 5 docu-
mentos oficiais do Ministério da Saúde (MS), 2 documentos da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Selecionados pelos critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na assistência pré-natal de alto risco a consulta de enfermagem (CE) possibili-


ta a atenção integral à mulher gestante, considerando todos os seus aspectos socioeco-

42
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

nômicos, culturais, físicos, biológicos, psicossociais e outros. A troca de conhecimentos


e experiências entre enfermeiro, gestante e família visa minimizar anseios e medos,
além de contribuir para o empoderamento feminino frente ao autocuidado e à prepa-
ração para as transformações que ocorrem durante todo o período gravídico-puerpe-
ral (AMORIM et al., 2019).
É importante frisar que devemos considerar os aspectos socioculturais que
acompanham essas mulheres, os fatores como a desigualdade social e de gênero, po-
breza e baixo nível de escolaridade, podem influenciar na exposição aos fatores de
risco e aumentar a vulnerabilidade a doenças e agravos, assim, podendo dificultar o
acesso ao serviço de saúde obstétrica dessa população (BELEM et al., 2021).
Nesse ínterim, a CE, muitas vezes, pode ser a única oportunidade que as mu-
lheres possuem para verificar seu estado de saúde, sendo assim, uma chance para que
o sistema possa atuar integralmente na promoção, e, eventualmente, tratamento e re-
cuperação da saúde (BRASIL, 2012).
No momento da CE é importante discutir os efeitos de cada enfermidade sobre
o organismo materno, fetal e do recém-nascido, elucidando dúvidas, revendo concei-
tos e orientando sempre sobre comportamentos da gestante. Além disso, é fundamen-
tal interpretar e explicar resultados de exames físicos e laboratoriais, além de orientar
em relação ao prognóstico da gestação aos envolvidos. Neste momento, o profissional
de enfermagem pode auxiliar a despertar na gestante o senso crítico em relação à sua
saúde. Assim, o enfermeiro deve ser um dos responsáveis pelos aspectos preventivos
do cuidado, alertando a mulher e orientando sobre a importância da comunicação pre-
coce sempre que for notada alguma alteração (TRIGUEIRO et al., 2021).
Salienta-se que através da CE são identificados possíveis fatores de risco, ou a
presença de comorbidades já existentes, que possam conferir algum dano à evolução
saudável da gestação. Sendo assim, o acompanhamento pré-natal deve ser pautado no
atendimento das reais necessidades da gestante visando assegurar o desenvolvimento
sadio da gestação, parto e nascimento, impactando positivamente nos indicadores de
qualidade da assistência obstétrica e neonatal (AMORIM et al., 2019).
Portanto, o conhecimento sistematizado das necessidades das gestantes de
alto risco com a identificação dos problemas de enfermagem pode apontar para a am-
pliação das possibilidades de atuação do enfermeiro, bem como da natureza dessas
ações (ERRICO et al., 2018).
Segundo a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, Lei nº 7.498, de 25 de
junho de 1986, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87, o enfermeiro, como membro
da equipe de saúde, pode prestar assistência à gestante, à parturiente e à puérpera,

43
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

realizar consulta de enfermagem, bem como desenvolver atividades educativas perti-


nentes (BRASIL, 1986).
Assim, o enfermeiro tem papel fundamental na promoção da saúde da mulher
desde o início da gravidez, compondo com os familiares a rede de apoio, e no fortale-
cimento das capacidades da gestante para resgatar seu papel na condução da gravidez
e parto como protagonista no processo gestar e parir (AMORIM et al., 2022).
Dito isso, se houver a presença de um cônjuge na vida da mulher, a inclusão
do parceiro na CE é relevante para solidificar essa fonte de apoio e gerar uma maior
segurança e suporte emocional para a gestante, auxiliando na condução dessa constru-
ção de identidade da maternidade dessa mulher. (SOARES et al., 2021).
O enfermeiro deve apoderar-se da educação em saúde, durante o pré-natal,
como instrumento que viabiliza o processo de tomada de decisão e corresponsabiliza-
ção pelas ações de saúde envolvendo profissionais, gestantes e familiares, através de
processos que levem em direção à emancipação, visto que o conhecimento possibilita
à mulher conhecer-se e decidir-se (TRIGUEIRO et al., 2021).
Atualmente, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde é um fator contrá-
rio à qualidade da atenção obstétrica (AMORIM et al., 2019; GUIMARÃES et al., 2018).
Nessa direção, os enfermeiros representam uma peça-chave na proteção e na promo-
ção da saúde da mulher, do conceito, do recém-nascido (RN) e do acompanhante/
familiar (GUIMARÃES et al., 2018).
Os enfermeiros, por meio do gerenciamento do cuidado, podem estabelecer
uma assistência inovadora ao articularem a ciência para uma análise crítica da situa-
ção. Nesse contexto, a organização dos recursos disponíveis e a avaliação dos cuidados
garantem a qualidade dos serviços de saúde (GUIMARÃES et al., 2018).
A atenção prestada e a forma de relacionamento entre gestantes e enfermeiros
na atenção pré-natal são fundamentais frente à humanização do parto e nascimento.
O acompanhamento contínuo pelos profissionais, embasado nas políticas públicas de
saúde, fazendo uso das tecnologias apropriadas, necessárias e fundamentadas cienti-
ficamente, gerando nas mulheres satisfação e segurança com o cuidado ofertado, pos-
sibilitando a criação de um ambiente favorável e de um vínculo profissional que pode
favorecer para uma boa experiência de parturição (JACOB et al., 2021).
Tendo em vista que a gestação de alto risco demanda um cuidado especiali-
zado, integral e humanizado, percebe-se que a gestante necessita de apoio, atenção e
respeito às suas escolhas. A ação do enfermeiro é de suma importância para que ocorra
uma boa comunicação entre a equipe de saúde e a gestante, oferecendo informações
necessárias de forma clara e compreensível (FERREIRA; LEMOS; SANTOS, 2020).

44
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

O enfermeiro torna-se indispensável no acompanhamento da gestante, pois


a estimula a assumir seu papel de protagonista, sendo capaz de utilizar estratégias
transformadoras do ambiente em que atua, traduzindo a ciência que aprendeu em
moldes humanistas, considerando os direitos da mulher à maternidade segura e pra-
zerosa também no contexto do alto risco (AMORIM et al., 2022).
Assim, a atuação do enfermeiro é imprescindível e articulada de maneira es-
tratégica, tendo papel fundamental na qualidade e execução dos serviços de saúde e
na assistência à mulher durante todo o ciclo gravídico-puerperal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma conclui-se que para prestação de um serviço de qualidade para as


gestantes, é necessário que o enfermeiro atue na assistência pré-natal, por meio das
consultas de enfermagem, identificando as necessidades e particularidades de cada
mulher, e assim, promovendo um cuidado humanizado e integral.
Além disto, também é citada diversas vezes a significância do acesso aos servi-
ços de saúde de qualidade para todas as mulheres independente da classe social, visto
que o meio socioeconômico é pautado como um dos fatores determinantes para uma
gravidez saudável.
Ademais, faz-se necessário o trabalho ativo dos enfermeiros e demais profis-
sionais de saúde para buscar a ampla integralização e aderência das mulheres gestan-
tes aos serviços prestados durante o pré-natal, visando o maior alcance de identifica-
ção das gestações de alto risco possibilitando o melhor tratamento e a diminuição de
efeitos negativos e óbitos maternos, infantis e perinatais.

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Rev. bras. enferm., v. 72, pp. 204-211. 2019. DOI: 10.1590/0034-7167-2018-0425

46
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

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47
CAPÍTULO 3

COVID-19 E O ESTRESSE OCUPACIONAL


VIVENCIADO PELOS PROFISSIONAIS
DE SAÚDE NO CONTEXTO DAS
MATERNIDADES

Luana Silva de Sousa


Nayara Santana Brito
Roberta Meneses Oliveira
Érika da Silva Bandeira
Jéssica Cunha Brandão
Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Germana Pinheiro Correia Lima Sousa
Dafne Paiva Rodrigues

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.3
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

O mundo enfrenta o maior desafio sanitário do século XXI – a pandemia


da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), que gerou impactos em vá-
rios âmbitos, em especial, no setor de saúde. Os profissionais de saúde lidam a todo o
momento com a morte e com decisões difíceis que podem afetar seu bem-estar físico e
mental (HARZHEIM et al., 2020).
No cenário da assistência ao parto e nascimento, é necessário considerar que
a COVID-19 é uma infecção de aparecimento recente, o que dificulta a elaboração de
protocolos assistenciais, necessitando atualizações constantes e contínuas. Em decor-
rência disso, as evidências científicas estão sujeitas a modificações a partir da geração
de novos conhecimentos (MULLINS et al., 2020). Isto também constitui fator estressor
para todos os envolvidos nos cuidados durante o ciclo gravídico-puerperal.
O número de mortes decorrentes de complicações da gestação e do parto ain-
da é elevado, devido às altas taxas de morbimortalidade materna e pela maioria dos
desfechos perinatais desfavoráveis (TAKEMOTO et al., 2020). A COVID-19, devido
seu potencial de transmissão, também pode entrar no rol de agravos que podem levar
a sérias complicações na saúde materno-neonatal.
Diante do exposto, surgiu o interesse em investigar com base nas evidências
científicas, o fenômeno do estresse no trabalho no contexto da pandemia de COVID-19
em maternidades. Assim, questionou-se: qual a relação do trabalho dos profissionais
de saúde que atuaram em maternidade durante a pandemia de COVID-19 e o estresse
ocupacional?

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, desenvolvida seguindo as


seis etapas propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2019). A questão norteadora foi
formulada por meio da estratégia PICo, em que “P” de população denota os profis-
sionais da saúde que atuam em unidades de Obstetrícia; “I” de fenômeno de interes-
se, configura a pandemia da COVID-19; “Co” de contexto, em que foi considerado o
estresse no trabalho. Após isso, foi possível estruturar a seguinte questão norteadora:
quais as evidências científicas sobre a relação da pandemia da COVID-19 com o estres-
se ocupacional de profissionais de saúde que atuam em maternidades?
A coleta de dados foi realizada em maio de 2021, por meio do Portal de Pe-
riódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
nas bases de dados e bibliotecas: Medical Literature Analysis and Retrievel System Online
(MedLine), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),

50
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Excerpta Medica DataBASE (Embase), Science Citation Index Expanded (Web of Science)
e SciVerseScopus. A escolha das bases e bibliotecas deu-se em função da abrangência e
relevância científica.
Realizou-se uma busca inicial pelos descritores não controlados e os contro-
lados, que incluíram: Medical Subject Headings (MeSH), Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS) e o vocabulário controlado utilizado para indexar o conteúdo da Emba-
se (EMTREE), buscando os termos correspondentes aos conceitos implicados na pes-
quisa, a partir da estratégia PICo os descritores utilizados foram aqueles relacionados
à: profissionais de saúde que atuam em unidades de obstetrícia; COVID-19; e estresse
no trabalho. Assim, os termos foram intercruzados utilizando o operador booleano
“OR”, e inter-relacionados entre os quatro componentes da estratégia PICo, usando o
operador booleano “AND”.
A busca nas bases de dados considerou os campos título, resumo e assunto (all
fieds). A ferramenta “filtros” não foi utilizada. Foi realizado o uso do gerenciador de
referência EndNote Web®️.
Definiram-se como critérios de inclusão: artigos originais disponíveis na ínte-
gra; publicados em português, inglês, espanhol e que respondessem à questão nortea-
dora da pesquisa, sem delimitação do ano de publicação. Foram excluídos os artigos
duplicados e os que não contemplaram o objetivo do estudo.
Em seguida a identificação dos artigos, os estudos foram submetidos a um
processo de triagem, que incluiu a leitura dos títulos e resumos por dois revisores in-
dependentes, posteriormente a leitura do texto completo daqueles selecionados, e por
fim, os revisores se reuniram para analisar as possíveis divergências, e então chegaram
à amostra final dos estudos incluídos.
Após essa seleção, o texto completo dos estudos selecionados foi recuperado e
avaliado. Os dados dos manuscritos selecionados foram extraídos por meio do instru-
mento de coleta de dados organizado de acordo com: título, autores/ano, periódico,
desenho/amostra/país, objetivos e nível de evidência.
O processo de seleção dos artigos foi realizado e ilustrado de acordo com o
Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA), como mos-
tra a Figura 1.

51
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Figura 1 – Fluxograma PRISMA de seleção dos estudos.


Figura 1 – Fluxograma PRISMA de seleção dos estudos.

Por fim, a análise das publicações incluídas na revisão abarcou a síntese des-
critiva dos estudos e a distribuição dos mesmos em categorias, de acordo com as va-
riáveis de interesse da pesquisa.

RESULTADOS

Os artigos selecionados estão expostos no Quadro 2, que apresenta os dados


quanto ao título, periódico, ano de publicação, desenho, amostra, país e objetivos.
Os artigos foram publicados no total de dez em 2021 e nove em 2020, todos
publicados em língua inglesa, em periódicos que abrangiam diferentes áreas, desde
a enfermagem, educação e a prática clínica. Os artigos incluídos na amostra estavam
inseridos em três bases de dados: PUBMED, WEB OF SCIENCE e EMBASE; e todos
apresentavam nível de evidência VI.

52
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Quadro 2 - Distribuição dos artigos analisados segundo variáveis de interesse da pesquisa.


Quadro 2 - Distribuição dos artigos analisados segundo variáveis de interesse da pesquisa.
Nº TÍTULO AUTORES/ OBJETIVOS
ANO/PAÍS
Burnout and Associated Factors Benjamin et al. Examinar o esgotamento e os
Among Health Care Workers in 2020 fatores associados entre os
1 Singapore During the COVID- profissionais de saúde.
19 Pandemic Cingapura
Burnout and its influencing Hoseinabadi et Avaliar o nível de burnout
factors between frontline nurses al., 2020 durante um surto de COVID-19
and nurses from other wards e identificar fatores que
2 during the outbreak of Irã influenciam entre enfermeiros
Coronavirus Disease- COVID- da linha de frente e enfermeiros
19-in Iran de outras enfermarias.
Comparison of Psychological Mishra et al., 2021 Comparar a morbidade
Morbidity of Health Care psicológica dos profissionais de
3 Workers Posted in COVID and Índia saúde alocados na sala de parto
Non COVID Labour Rooms COVID e dos alocados em sala
de parto não-COVID.
Depression, Suicidal Thoughts, Al-Humadi et al., Investigar a incidência e os
and Burnout Among Physicians 2020 fatores associados a depressão,
4 During the COVID-19 pensamentos suicidas e burnout
Pandemic: a Survey-Based EUA entre médicos durante a
Cross-Sectional Study pandemia de COVID-19.
Determinants of burnout and Denning et al., Descrever a prevalência e os
other aspects of psychological 2021 preditores de burnout,
5 well-being in healthcare ansiedade e depressão em
workers during the Covid-19 Reino Unido, profissionais de saúde durante a
pandemic: A multinational Polônia, pandemia de Covid-19.
cross- sectional Study Cingapura
Emotional responses and Kebede et al., Avaliar o estado atual das
perceived stressors of frontline 2021 respostas emocionais e os
6 medical staffs in case of COVID- estressores percebidos das
19 treatment centers and Etiópia equipes médicas da linha de
obstetrics emergency in Ethiopia frente em no Centros de
Tratamento COVID-19 e
serviços de Obstetrícia.
Exposure to COVID-19 patients Kannampallil Investigar efeitos da exposição
7 increasesphysician trainee stress etal., 2020 de trainees a pacientes testados
and Burnout para COVID-19 em sua
EUA depressão, ansiedade, estresse,
esgotamento e realização
profissional.
Insomnia and stress of Abdulah, Medir a gravidade da
8 physicians during COVID-19 Musa,2020 dificuldade de dormir e sua
outbreak relação com o tempo de
Iraque tratamento dos casos
suspeitos/confirmados de
COVID-19 e o nível de estresse
de médicos.
Insomnia, Perceived Stress, and Tselebis et Investigar os níveis de estresse
9 Family Support among Nursing al.,2020 percebido, insônia e a sensação
Staff during the Pandemic Crisis de apoio familiar entre
Grécia enfermeiros em condições de
pandemia.

53
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Predictive factors affecting Hendy, A. et Examinar os fatores preditivos


10 stress among nurses providing al.,2021 que afetam o estresse entre os
care at COVID‐19 isolation enfermeiros que prestam
hospitals at Egypt Egito cuidados em hospitais isolados
COVID-19 no Egito.
Predictors of Burnout in Cotel et al., 2021 Identificar os preditores de
11 Healthcare Workers during the burnout em profissionais da
COVID-19 Pandemic Romênia saúde durante a pandemia de
COVID-19.
Prevalence of Stress in Delgado- Aplicar versão adaptada da
Healthcare Professionals during Gallegos et escala de tensões COVID-19
12 the COVID-19 Pandemic in al,2020 (CSS) para profissionais de
Northeast Mexico: A Remote, saúde no nordeste do México.
Fast Survey Evaluation, Using México
an Adapted COVID-19 Stress
Scales
Psychological distress Bizri et al., 2021 Compreender o impacto
13 experienced by physicians and psicológico da pandemia
nurses at a tertiary care center in Líbano COVID-19 sobre os profissionais
Lebanon during the COVID- 19 de saúde no Líbano.
outbreak
Psychological effects of nurses Aksoy et al., 2020 Determinar os níveis de impacto
14 and midwives due to COVID-19 psicológico de enfermeiras e
outbreak: The case of Turkey Turquia parteiras devido ao surto de
COVID-19.
Self-reported symptoms of Jemal, K. et Avaliar a prevalência de
depression, anxiety, and stress al.,2021 sintomas autorreferidos de
15 among healthcare workersin depressão, ansiedadee estresse
Ethiopia during the COVI- 19 Etiópia durante a pandemia de COVID-
pandemic: Across-sectional 19 entre profissionais de saúde
study no centro da
Etiópia.
Stress, Burnout, and Coping Zhang et al., 2020 Identificar estressores e burnout
Strategies ofFrontline Nurses entre enfermeiras da linha de
16 During the COVID-19 Epidemic China frente que cuidam de pacientes
in Wuhan and Shanghai, China COVID-19 em Wuhan e Xangai e
explorar estratégias de apoio
moral efetivas percebidas.
The prevalence and stressors of Guo; Hu; Liang Investigar a prevalência de
17 job burnout among medical staff 2021 esgotamento profissional entre
in Liaoning,China: a cross- equipes médicas na província de
section study China Liaoning.
The Psychological Impact of Piccolo et al., 2021 Avaliar o sofrimento psíquico
COVID- 19 on Healthcare dos profissionais de saúde que
Providers in Obstetrics: A Cross- Itália atuam na área de obstetrícia
18 Sectional Survey Study durante a pandemia da doença
coronavírus 2019 (COVID- 19) e
identificar os fatores associados
ao sofrimento psíquico a nível
individual, interpessoal e
organizacional.

54
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

The relationship between Yoruk et al., 2021 Determinar a relação entre


psychological resilience, resiliência psicológica, burnout,
19 burnout, stress, and Turquia estresse e fatores
sociodemographic factors with sociodemográficos com
depression in nurses and depressão em enfermeiras e
midwives duringthe COVID-19 parteiras durante a pandemia de
pandemic: A cross-sectional COVID-2019.
study in Turkey
Fonte: pesquisa direta.

A metodologia empregada nos artigos incluía estudos transversais envolven-


do profissionais da saúde em geral (9), médicos especialistas em ginecologia e obste-
trícia (1), médicos generalistas (2), enfermeiros generalistas (4), enfermeiros obstetras
e parteiras (2) e profissionais da saúde atuantes em serviços de Obstetrícia (1). Em
geral, os estudos enfatizaram a síndrome de Burnout (4), a morbidade psicológica (10),
além do estresse no trabalho e seus fatores intervenientes nos profissionais de saúde
em tempos de COVID-19 (5). Observa-se que os desenhos propostos e as técnicas de
coletas utilizadas atendem aos objetivos de cada estudo especificamente.

DISCUSSÃO

Ao discutir os artigos selecionados, a síntese do conhecimento organizou-se


em três categorias temáticas: estresse no trabalho dos profissionais de saúde durante
a COVID-19; fatores estressores no trabalho em obstetrícia conforme evidências cien-
tíficas analisadas; estratégias para o enfrentamento do estresse no trabalho durante a
COVID-19.

Estresse no trabalho dos profissionais de saúde durante a COVID-19

Os artigos abordaram o impacto do estresse no trabalho durante a COVID-19


na área da saúde, seus fatores relacionados e os profissionais envolvidos na assistência
à saúde.
Os profissionais de saúde da linha de frente foram um baluarte na luta con-
tra a COVID-19, ao mesmo tempo em que estiveram sujeitos a grandes estressores
inesperados. Isso inclui notícias conflitantes, diretrizes em evolução, equipamentos de
proteção individual (EPI) inadequado, excesso de pacientes com contagem crescente
de mortes, ausência de treinamento para desastres e limitações na implementação do
distanciamento social (AL- HUMADI et al., 2020; PICCOLO et al., 2021).
A equipe multiprofissional envolvida na assistência, especialmente os enfer-
meiros, estão expostos ao estresse diário o que leva à exaustão física e emocional, le-
vando ao esgotamento gradualmente. O esgotamento profissional ou Burnout é uma

55
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

síndrome resultante do estresse crônico relacionado ao trabalho, com sintomas carac-


terizados por exaustão emocional, incluindo autoconceito negativo e atitude inade-
quada no trabalho, que levam à menor produtividade, comprometimento da quali-
dade do trabalho e redução do interesse pelos pacientes (HOSEINABADI et al., 2020).
O Burnout é composto por dois elementos: “esgotamento”, atrelado à excessi-
va demanda de trabalho; e “desengajamento”, vinculado à insuficiência de recursos de
trabalho. Pesquisadores afirmam que o principal fator, dentre todos os critérios que in-
fluenciam o burnout, é o estresse no trabalho; em seguida, os recursos físicos, materiais,
humanos e organizacionais da instituição de saúde e o apoio da família e dos amigos,
respectivamente (HOSEINABADI et al., 2020). Durante a pandemia de COVID-19, os
sistemas de saúde enfrentaram demandas crescentes e recursos limitados, portanto é
fundamental compreender as taxas correspondentes de esgotamento profissional nas
organizações de saúde envolvidas (DENNING et al., 2021).
Outros indicadores associados ao esgotamento profissional foram: tensões no
relacionamento interpessoal com pacientes e nos processos de trabalho em saúde; in-
terações reduzidas com colegas. Além disso, os que apresentavam sofrimento psico-
lógico mostraram uma frequência maior de “culpa sobre minhas poucas chances de
colaboração” e menor “percepção de coesão do grupo” entre os colegas (GUO; HU;
LIANG, 2021; PICCOLO et al., 2021). Isto converge com os resultados de uma pesqui-
sa realizada na Turquia, com 758 enfermeiras e parteiras da linha de frente, em que
a maioria afirmou que às vezes sente remorso pela profissão e que a relação com os
colegas se tornou distante e egoísta. Ademais, evidenciou-se que, por medo da trans-
missão, a eficiência no trabalho diminuiu (AKSOY; KOÇAK, 2020).
Assim, o estresse no trabalho interfere negativamente não apenas nos que es-
tão em posição de profissionais da saúde, mas também em pacientes e seus familiares,
dependendo do grau de estresse a que essas pessoas estão submetidas.

Fatores estressores no trabalho em obstetrícia conforme evidências


científicas analisadas

Esta categoria aborda os fatores estressores mais recorrentes no trabalho em


obstetrícia, ocasionando repercussões negativas para os profissionais de saúde, pa-
cientes e organizações.
O processo de trabalho em obstetrícia é psicologicamente exigente devido à
necessidade de atenção imediata, decisões cruciais rápidas em relação ao bem-estar
materno e fetal e às situações emergenciais. No que diz respeito à COVID-19, a infec-
ção no ciclo gravídico-puerperal pode levar à evolução clínica e desfecho obstétrico

56
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

desfavoráveis, causando sofrimento fetal, aborto espontâneo, dificuldade respiratória,


prematuridade e maior necessidade de cirurgia cesariana (MISHRA et al., 2021).
Assim, os profissionais de saúde alocados em salas de parto em isolamento
para pacientes suspeitas e/ou confirmadas de COVID-19, enfrentam mais desafios de-
vido à exposição direta prolongada durante o monitoramento do trabalho de parto e
parto, exposição à contaminação potencialmente fatal, exaustão física por longas horas
de trabalho com EPI e trabalho em um ambiente não ajustado (MISHRA et al., 2021).
Pesquisadores revelaram que a maioria dos médicos em todas as especialida-
des (exceto para medicina comunitária e familiar) durante a pandemia, não dormia,
incluindo entre outros a obstetrícia e ginecologia (80,0%) (ABDULAH; MUSA, 2020).
Ademais, o estudo revelou morbidade psicológica, insônia, ansiedade e depressão sig-
nificativamente elevadas nesses profissionais (MISHRA et al., 2021).
Estudo que buscou medir a gravidade da dificuldade de dormir e sua relação
com o tempo de tratamento dos casos de COVID-19 e o nível de estresse de médicos
da linha de frente afirmou que mais de dois terços dos médicos ficaram sem dormir
durante o surto de COVID- 19 (68,3%) e a maioria teve estresse (93,7%). Além disso, o
sono dos médicos foi escalado com o aumento do estresse e o número de dias que eles
lidaram com casos suspeitos e/ou confirmados de COVID-19 (ABDULAH, MUSA,
2020).
Em relação à Enfermagem, altas taxas de distúrbios do sono também foram
observadas durante o período pandêmico, e correlacionam-se com níveis de estresse
(TSELEBIS et al., 2020). Outro estudo apontou que os profissionais de saúde da li-
nha de frente de serviços de obstetrícia estavam desmotivados e desanimados. Revela,
também, que enfermeiros do acolhimento com classificação de risco obstétrico tinham
baixo suporte social e obtiveram maior resposta emocional negativa (KEBEDE et al.,
2021).
Enfermeiras e parteiras que estão em contato direto com pacientes durante o
surto de COVID-19, experimentam desgaste profissional, e emoções intensas, como
ansiedade (36,3%), mal-estar (31,3%) e medo (19,4%) (AKSOY; KOÇAK, 2020). Pes-
quisa realizada na Índia com o objetivo de comparar a morbidade psicológica dos
profissionais de saúde alocados em sala de parto COVID e não-COVID apontou que
92% dos profissionais alocados em sala de parto COVID apresentaram depressão, con-
tra 12,5% do não-COVID; 90% de ansiedade em sala de parto COVID e 6% em sala de
parto não COVID; 57% de insônia em comparação com nenhuma na sala de parto não
COVID (MISHRA et al., 2021).

57
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Já um estudo feito com 377 parteiras e enfermeiras turcas, revelou que a pre-
valência de depressão foi de 31,8%, com risco significativamente maior em parteiras
com menos de 35 anos e que trabalhavam 49 horas ou mais por semana (YORUK;
GULER, 2021). Enfermeiros mais jovens e com maior jornada de trabalho tenderam a
apresentar níveis mais elevados de Burnout (ZHANG et al., 2020). A ideação suicida e
o esgotamento profissional também foram associados a idades mais jovens (AL-HU-
MADI et al., 2020).
Outro ponto que chama atenção é que profissionais da saúde do sexo femini-
no apresentam maior estresse agudo, sintomas de intrusão e evitação em comparação
com homens (BIZRI et al., 2021). Médicas relataram menos equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal e mais Burnout (AL-HUMADI et al., 2020). Além disso, as profissionais da
saúde mulheres que eram internas e/ou residentes eram mais propensas a ter maior
estresse e sofrer de depressão e ansiedade (KANNAMPALLIL et al., 2020).
Dentre os fatores preditores positivos para o estresse no trabalho, destacam-
-se: ter filhos, medo de infecção, do local de trabalho, da transmissão de infecção para
a família, dimensionamento de pessoal, conflitos interpessoais e falta de apoio da equi-
pe. Treinamento para COVID-19, disponibilidade de EPI, nível de escolaridade e aten-
ção da administração hospitalar foram fatores preditores negativos para o estresse dos
enfermeiros (HENDY et al., 2021).
Percebe-se, então, que a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia pode ter
mais distúrbios do sono, o que, por si só, já interfere negativamente para sintomas de
estresse no trabalho e esgotamento profissional.

Estratégias para o enfrentamento do estresse no trabalho durante a


COVID-19

Esta categoria aborda as estratégias mais utilizadas e/ou abordadas nos estu-
dos acerca do maior reconhecimento e do enfrentamento do estresse no trabalho.
As estratégias de mitigação devem ter como alvo todos os níveis da força de
trabalho da área de saúde, incluindo o pessoal da linha de frente e fora dela, e de-
veriam ser ensinadas durante e entre as pandemias para reduzir o início e os efeitos
do esgotamento como uma prioridade contínua em sustentar os esforços de cuidado
ao paciente (BENJAMIN et al, 2020). Ademais, os gerentes de enfermagem precisam
prestar muito mais atenção ao profissional de saúde e projetar o programa de enfrenta-
mento em longo prazo, com planos preventivos, redução do trabalho por turnos, bus-
ca das fontes de estresse e das estratégias de mitigação do esgotamento profissional
(HOSEINABADI et al., 2020).

58
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Futuras investigações sobre os efeitos imediatos e de longo prazo da pande-


mia de COVID-19 na saúde mental são necessárias para preparar melhor a força de
trabalho da saúde (AL-HUMADI et al., 2020). Abordar e melhorar o burnout entre os
profissionais de saúde deve ser uma prioridade fundamental para a manutenção dos
esforços para cuidar de pacientes em face de uma pandemia prolongada (BENJAMIN
et al, 2020).
As intervenções psicológicas devem se concentrar, principalmente, em três
demandas de trabalho (conflito trabalho-família, falta de preparação/âmbito da prá-
tica, demandas emocionais), três recursos de trabalho (treinamento, desenvolvimento
profissional e educação continuada; supervisão, reconhecimento e feedback; autono-
mia e controle) e um recurso pessoal (autoeficácia). Nesse ínterim, o apoio psicológico
proativo para o pessoal da linha de frente torna-se essencial (AL-HUMADI et al., 2020).
Conforme destacado pela associação entre atitudes seguras e resultados psicológicos,
as instituições devem prestar atenção especial à cultura de segurança durante a pan-
demia de COVID-19 (DENNING et al., 2021).
Recomendam-se diretrizes para equilibrar as horas de trabalho e o fortaleci-
mento da infraestrutura (MISHRA et al., 2021). Outrossim, a inclusão do descanso, du-
rante ou entre os turnos de trabalho, alimentação suficiente e saudável, atividade física
e contato com a família e amigos garantem mais satisfação no trabalho e fortalece a
resiliência profissional (ABDULAH; MUSA, 2020). Ademais, serviços presenciais e de
teleconsulta para apoio psicológico são úteis para melhorar a resiliência psicológica,
que foi considerada um importante fator de proteção contra os sintomas de depressão
(YORUK; GULER, 2021); (MISHRA et al., 2021). As intervenções de apoio moral, in-
cluindo da gestão de pessoas e de materiais, devem ser consideradas frente às adver-
sidades enfrentadas pelos profissionais de saúde da linha de frente, considerando seu
bem-estar social e psicológico (ZHANG et al., 2020). Além dessas medidas práticas,
pode ser útil estabelecer um programa contínuo de monitoramento da saúde mental
para profissionais de saúde da linha de frente (AKSOY; KOÇAK, 2020).
Em relação à carga de trabalho, a redução da jornada de trabalho e da rotati-
vidade de profissionais, assim como treinamento adequado e oportuno promove um
ambiente de prática profissional mais seguro e qualificado (BENJAMIN et al, 2020;
GUO et al., 2021). No que diz respeito ao treinamento em serviço, os profissionais de
saúde que tiveram acesso apresentaram menores taxas de ansiedade e de esgotamento
profissional, além de desenvolverem mais resiliência (JEMAL et al., 2021).
Investigar estratégias de enfrentamento dentro do sistema de saúde brasileiro
multifacetado é um desafio. Porém, adotar medidas eficientes e eficazes, adequadas
para cada nível de atenção, aumenta a compreensão dos fatores relacionados ao estres-

59
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

se no trabalho e permite atingir e intervir nesse fenômeno, com o objetivo de reduzir a


ocorrência, além das consequências negativas associadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão integrativa possibilitou identificar os fatores intervenientes no


estresse no trabalho no contexto da pandemia de COVID-19, o que incluiu fatores
intrapessoais (ansiedade, depressão, insônia, exaustão, medo, carga de trabalho, so-
frimento), interpessoais (comunicação, envolvimento, motivação, relacionamento) e
organizacionais (escassez de recursos, Burnout, dimensionamento de pessoal inade-
quado) e as consequências para os envolvidos.
O estresse no trabalho gera impactos, como dificuldade de enfrentamento,
desmotivação, fadiga, insatisfação, sentimento de culpa, medo e angústia. Como for-
ma de intervir, algumas estratégias foram mencionadas: apoio social e psicológico;
protocolos institucionais de saúde e segurança ocupacional; revisão das responsabili-
dades das equipes dimensionamento de pessoal adequado; gerenciamento de confli-
tos; treinamento e conscientização dos trabalhadores de saúde.
O estudo mostra que existem evidências de estresse no trabalho em saúde e
em Obstetrícia hospitalar. Assim, ressalta-se a necessidade da continuação dos estudos
visando aprofundar a análise da temática. Sugerem-se estudos acerca desse fenômeno
no contexto brasileiro de atenção à saúde obstétrica, possibilitando aplicá-lo na prática
da gestão nessa área.

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62
CAPÍTULO 4

USO DA TERAPIA PELA ARTE


NA GESTAÇÃO EM CONTEXTO
HOSPITALAR: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA

Daianny Cristina de Almeida Silva


Antonia Sheila da Silva Costa
Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.4
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A gestação é um período marcado por constantes modificações físicas, psi-


cológicas e sociais na vida da mulher. É representada como um fenôme-
no complexo e singular, demonstrando que os cuidados à gestante devem ultrapassar
a dimensão biológica e compreender o contexto psicossocial que envolve o fenômeno
da gestação (LEITE et al., 2014). Não são recentes as diferentes recomendações no que
diz respeito a uma assistência integral e humanizada à mulher em todas as fases do
ciclo gravídico-puerperal.
Por aproximadamente 40 semanas, a mulher tem sua vivência marcada por
um personagem imaginário, criado pelas suas fantasias e projeções de como será o
bebê (RIBEIRO, 2019). Com o decorrer da gestação, a mãe faz a projeção do futuro filho
que está por vir e o bebê imaginário é a imagem mental do feto construída pela mãe
ou pelo casal durante a gravidez. Essa projeção pode relacionar-se em especial com as
características externas dos pais e a partir disso, forma-se o vínculo emocional (MATA;
SHIMO, 2018).
Nesse cenário, as práticas integrativas e complementares são definidas como
um meio não invasivos, tradicionais e terapêuticos podendo ser aplicados tanto nos
indivíduos sozinhos quanto em grupos de pessoas, para incentivar, fortalecer e/ou
restaurar a qualidade de vida, interferindo de forma positiva na vida dos indivíduos a
partir de uma visão que vai além do biológico (ALMEIDA JUNIOR, 2022).
A Organização Mundial da Saúde reconhece e incorpora as medicinas tra-
dicionais e complementares nos sistemas nacionais de saúde, que de acordo com as
nomenclaturas do Ministério da Saúde do Brasil, são práticas integrativas comple-
mentares do Sistema Único de Saúde (SUS) e incluem, por exemplo, a arte terapia,
musicoterapia, terapia comunitária integrativa e outros (BRASIL, 2017).
A técnica da pintura sobre o ventre materno compreende a gravidez como um
período que demanda convergência de esforços no sentido de atender integralmente
a mulher grávida, considerando, além dos aspectos biológicos, os aspectos emocionais
que confluem para a vinculação com o bebê que está para nascer (RIBEIRO et al., 2019).
A arte da pintura do ventre materno é conceituada como uma atividade artística e
terapêutica que envolve uma técnica de pintura aplicada no abdome da gestante, na
qual são representados, objetivamente, o bebê imaginário e outros elementos ligados
à gestação, como o cordão umbilical, a placenta, o útero e a bolsa das águas (MATA;
SHIMO, 2019).
A pintura do ventre materno proporciona conexão, aproximação e interação
entre mulher e feto. Ter visualizado o bebê através da arte, com as características ima-

64
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

ginadas e descritas pelas gestantes, na situação, posição e apresentação que se encon-


trava intraútero, parece ter proporcionado às participantes do estudo, comportamen-
tos e sentimentos similares à vivência do ultrassom obstétrico (FUJITA; SHIMO, 2016).
A pintura do bebê no abdome da mãe revela o que está no imaginário tanto da
mulher e seus familiares como do profissional que desenvolve, pois este, ao identificar
as posições fetais, fará o desenho e atribuirão cores e formatos diversos em acordo com
sua imaginação.
O presente estudo através do relato de experiência contribui para refletir no
contexto da mulher gestante a importância do uso das práticas integrativas para pro-
mover uma vivência humanizada durante o período de internação hospitalar, bem
como garantir a formação do vínculo com o bebê ainda em ambiente uterino e também
com a equipe envolvida no processo. Garante à mulher uma maior autonomia sobre o
seu processo de gestar e parir facilita a comunicação com a equipe em meio à realiza-
ção das atividades e ainda, garante um maior relaxamento, diminui a ansiedade e faci-
lita a formação de boas memórias acerca da fase latente do trabalho de parto e espera
pela chegada do bebê tão esperado.
A prática da arte gestacional aplicada pelo enfermeiro obstetra é mais uma
atividade dentre as tantas atribuições do profissional na assistência à mulher no ciclo
gravídico-puerperal que pode ser implementada ainda mais no desenvolvimento da
sua assistência como meio de garantir uma maior valorização e autonomia desse pro-
fissional que tem se tornado cada vez mais presente na assistência a gestante como
meio de garantir uma assistência humanizada.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência (COSTA, 2019)


vivenciado por residentes de enfermagem obstétrica da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), na assistência intra-hospitalar a mulheres admitidas precocemente
para assistência ao parto em hospitais e maternidades na cidade de Fortaleza e região
metropolitana e ainda com gestantes em unidades de internação de alto risco (MI-
NAYO, 2016).
O relato de experiência é uma modalidade de cultivo de conhecimento no ter-
ritório da pesquisa qualitativa, concebida na reinscrição e na elaboração ativada atra-
vés de trabalhos da memória, em que o sujeito cognoscente implicado foi afetado e
construiu seus direcionamentos de pesquisa ao longo de diferentes tempos (DALTRO;
FARIA, 2019).

65
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

As atividades inerentes ao estudo foram desenvolvidas entre os meses de abril


de 2019 a novembro de 2020 sendo a aplicação da pintura na barriga realizada em
mulheres admitidas na fase latente do trabalho de parto em centro de parto normal
intra-hospitalar e salas de parto e em mulheres internadas para acompanhamento e
tratamento de condições de risco da gestação.
Participaram deste trabalho 45 gestantes selecionadas conforme os seguintes
critérios de inclusão: manifestar interesse para receber a aplicação do desenho, idade
gestacional acima de 35 semanas, dilatação cervical de até 4 centímetros e estar em fase
latente do trabalho de parto quando em CPN e sala de parto, e não possuir sinais de
iminência de eclâmpsia em unidades de internação a fim de manter o repouso abso-
luto. Determinar a idade gestacional tornou-se importante para realização da mano-
bra de Leopold Zweifel para identificar a situação, posição e apresentação fetal, para
desenvolver a pintura gestacional, de maneira a possibilitar à mãe visualizar como o
bebê se encontra no ambiente uterino.
Para a produção dos dados, foram utilizadas as seguintes estratégias: aplica-
ção da pintura gestacional, fotografia e assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido para autorização de uso da imagem. Para a gestante menor de 18 anos, o
termo foi assinado por sua responsável legal. Na técnica, foram realizados os três pri-
meiros tempos da manobra de Leopold e auscultados os batimentos cardiofetais. Em
seguida, foram apresentados à gestante fotografias de pinturas prontas e questionou-
-se às mesmas sobre como estas visualizavam seus bebês. Elementos como o cordão
umbilical, a placenta, a bolsa amniótica e útero foram representados na pintura. Essa
etapa teve duração aproximada de 60 a 90 minutos e foi registrada por meio de foto-
grafias.
Foram utilizados os seguintes materiais: tinta para pintura artística, lápis de-
lineador para olhos, caneta delineadora, spray com água, lenço umedecido, discos de
algodão e papel A4 para realização dos desenhos de molde do bebê.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O excesso de intervenções no ambiente hospitalar deixou de considerar os as-


pectos emocionais, humanos e culturais envolvidos no processo, esquecendo que a
assistência ao nascimento se reveste de um caráter particular que vai além do processo
de adoecer e morrer (BRASIL, 2017). As pinturas gestacionais realizadas em mulheres
que se encontram na fase latente do trabalho de parto, bem como naquelas internadas
por alguma condição obstétrica de risco, favorecem a otimização do tempo de espera
em ambiente intra-hospitalar, acompanhar a progressão da mulher em seu processo

66
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

parturitivo além de ajudar a diminuir a ansiedade inerente aos diversos procedimen-


tos realizados.
A primeira pintura na barriga foi realizada por volta de 1996 por Naolí Vina-
ver, que denominou a técnica de ultrassom natural, em um momento histórico marca-
do pelo intervencionismo e pelo uso excessivo da tecnologia no ciclo gravídico (MATA;
SHIMO, 2019). A técnica trazida por Naolí surgiu como um meio de concorrência com
a aplicação indiscriminada do ultrassom obstétrico, questionando empiricamente os
riscos oferecidos ao binômio mãe-bebê.
Anteriormente à realização da pintura, quando em unidades de internação,
fomos até o leito de cada gestante para convidá-las a participarem da experiência de
pintura do ventre, onde foram utilizadas fotografias de outras gestantes para que as
mesmas pudessem entender o resultado final da aplicação da arte gestacional. Já nos
Centros de Parto Normal e em salas de parto, nos dirigimos até os quartos pré-parto,
parto e pós-parto (PPP) de cada mulher para o convite à participação. A arte gesta-
cional ou ainda, técnica da pintura do ventre materno, possui fins terapêuticos em
forma de arte, pois garante objetividade do conteúdo psíquico não somente da mãe e
seu acompanhante, mas também do profissional de enfermagem que aplica (MATA;
SHIMO, 2019).
Com o aceite a receberem a pintura sobre o ventre, o próximo passo caracteri-
zou-se pela realização de manobras de Leopold Zweifel, para verificar altura uterina e
o posicionamento fetal, bem como indagamos à mulher como a mesma imaginava seu
bebê e quais elementos deveriam conter a pintura sobre o ventre; com isso, possibili-
tou-se a visualização de como o bebê se apresentava no ambiente intra-utero. A arte
da pintura sobre o ventre materno oportuniza à gestante expressar sobre o seu bebê
imaginário, visualizá-lo e interagir com ele (MATA; SHIMO, 2018).
As gestantes participantes tiveram total liberdade de escolha de cores, formas,
frases, nomes e desenhos a serem acrescentados no momento da construção inicial do
desenho, bem como no decorrer da aplicação da arte, assim incluindo-as significativa-
mente em todos os momentos da pintura. Buscou-se, no entanto, garantir a permanên-
cia das características maternas como a cor do cabelo e a cor da pele, que não recebeu
pintura alguma, sendo a mesma a cor da pele da mãe. Com isso, foi realizado somente
um contorno dos traços do bebê com a utilização de caneta delineadora de cor preta
e esfumaço com tinta marrom também nos contornos, o que confere a ideia visual de
que o bebê também foi pintado.

67
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Fonte: Elaboradas pelo autor, 2021.

As cores predominantes no restante do desenho eram escolhidas pela própria


mãe, que se utilizaram de justificativas diversas como cor do quarto do bebê e cores
culturalmente relacionadas ao sexo do bebê, com a predominância de cores rosa e lilás
para bebês de sexo feminino e azul para bebês de sexo masculino.
Ressalta-se que a maioria das mulheres que receberam a pintura estavam vi-
venciando situações que as impossibilitam de estabelecer uma interação verdadeira-
mente prazerosa com seus bebês, afinal, uma internação hospitalar é capaz de mudar
drasticamente a rotina e expectativas da gestante, uma vez que, longe do conforto de
casa, da família e amigos, como receber um diagnóstico de gestação de alto risco pode
gerar sentimentos como medo, frustração, tristeza e ansiedade, sentimentos revelados
em diferentes falas das gestantes participantes. A arteterapia pode ajudar a tratar trau-
mas graves, reduzir a ansiedade, aumentar a autoestima e facilitar nas estratégias de
enfrentamento e comunicação (WAHLBECK et al., 2017).

Fonte: Elaboradas pelo autor, 2021.

68
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Em estudo exploratório realizado por Mata e Shimo (2018) com a aplicação da


pintura sobre o ventre materno durante o pré-natal, a arte foi capaz de promover nas
gestantes a vivência de quatro experiências do núcleo subjetivo da vinculação ou de
amor, a saber: disposição para conhecer sobre o bebê, para estar com é interagir com
ele, para evitar a separação ou perda e para proteger o bebê. A vivência da arte da pin-
tura do ventre materno provocou nas gestantes experiências subjetivas do núcleo sub-
jetivo de vinculação ou de amor verificado a partir dos comportamentos e sentimentos
manifestados e expressados por ele (FUJITA; SHIMO, 2016).
Em todos os momentos que envolveram a realização da pintura gestacional
buscou-se enfatizar a autonomia da mulher e garantir uma assistência humanizada,
não somente no atendimento ao pré-parto, mas em todos os diferentes níveis de assis-
tência obstétrica. Obedeceu-se desta maneira ao preconizado pelo Ministério da Saúde
no que diz respeito à humanização da assistência à mulher grávida (BRASIL, 2017).
Ressalta-se ainda a inclusão e participação dos vínculos familiares que envol-
veram as gestantes que receberam a pintura. Para tal inclusão, foram realizadas grava-
ções de diferentes momentos da pintura, fotos e chamadas de vídeo feitas na grande
maioria das vezes pelas próprias pacientes que iam revelando a família a construção
do desenho e o resultado final, sendo observadas diferentes emoções ligadas ao mo-
mento em questão. O apoio do companheiro e/ou da família a gestante influencia
favoravelmente a evolução da gravidez, diminui riscos e efeitos desfavoráveis à saúde
da criança e proporciona a vivência de sentimentos e emoções, pelo fato de ser essa
fase o início do desenvolvimento do vínculo afetivo com o novo ser (LEITE et al., 2014).
A técnica de pintura sobre o ventre materno caracterizou-se por uma interven-
ção de enfermagem capaz de promover o relaxamento de mulheres grávidas em dife-
rentes períodos da gestação. O relaxamento como uma intervenção de enfermagem é
capaz de diminuir significativamente os níveis de depressão de mulheres hospitaliza-
das com gravidez de alto risco (ARAÚJO et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas suas mais variadas formas de apresentação, a arte tem se mostrado como
um bem essencial na caracterização da qualidade de vida dos indivíduos, que desde o
primórdio dos tempos a utiliza como um elo com o universo à sua volta. Ela propor-
ciona impactos positivos na saúde dos indivíduos, podendo gerar benefícios físicos,
emocionais e mentais, além de aliviar a ansiedade e diminuir a percepção de dor.
A utilização de técnicas de pintura sobre o ventre materno foi capaz de propor-
cionar uma maior vinculação entre profissionais e gestantes, garantiu a visualização

69
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

das posições assumidas pelo bebê no ambiente intrautero além de promover o relaxa-
mento e diminuição da ansiedade gerada pela espera e pelo ambiente intra-hospitalar.
A arte gestacional entra como mais uma atuação do enfermeiro e da equipe de
enfermagem na promoção do bem-estar materno e humanização do cuidado durante
o ciclo gravídico puerperal, ressalta-se com a experiência vivenciada, a importância do
aprimoramento do uso da arte como ferramenta do cuidado, garantindo dessa manei-
ra, uma melhor vivência das internações precoces, bem como da internação hospitalar
durante a gestação.

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71
CAPÍTULO 5

EFEITOS DA AROMATERAPIA COM


ÓLEO ESSENCIAL DE LAVANDA
DURANTE O TRABALHO DE PARTO

Pedro Vitor Mendes Santos


Conceição de Maria Aguiar Barros Moura
Rafaela Ferreira Vilanova
Ana Carla Marques da Costa
Ravena de Sousa Alencar Ferreira
Laura Pinto Torres de Melo
Herla Maria Furtado Jorge

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.5
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

O saber tradicional e popular sempre foi usado como base nas práticas que
proporcionem bem-estar, cuidado e cura. Empiricamente, esses cuida-
dos passaram por longos períodos de tempo, em diversas culturas e civilizações, até
que pudessem servir como base para o desenvolvimento da chamada Medicina Alter-
nativa.
As primeiras recomendações pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
aconteceram em 1978 com a criação do Programa de Medicina Tradicional durante
a primeira Conferência Internacional de Assistência Primária em Saúde (Alma Ata)
realizada na Rússia (TELESI, 2016). Este programa tinha como escopo o incentivo para
a promoção de políticas públicas que estimulassem o uso destas práticas, bem como
o desenvolvimento de estudos que pudessem construir evidências científicas para a
base empírica já existente.
No Brasil, as primeiras discussões foram pautadas durante a oitava Confe-
rência Nacional de Saúde realizada em 1986, marcada pela forte presença popular e
caráter democrático, ganhando força após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),
através da Constituição Federal de 1988 (TESSER; SOUSA; NASCIMENTO, 2018).
A fim de organizar, uniformizar e ampliar o acesso, o Ministério da Saúde (MS)
lança em 2015 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)
no âmbito do SUS, que são técnicas que utilizam recursos terapêuticos baseados em
conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir, tratar ou amenizar diversas doen-
ças físicas e mentais. Os atendimentos iniciam na Atenção Básica (AB), principal porta
de entrada para o serviço público de saúde (BRASIL, 2006; BRASIL, 2018).
Estão disponíveis, de acordo com o Ministério da Saúde, 29 procedimentos de
PICS à população, atualmente presente em 4323 municípios brasileiros, distribuídos
pelos 27 estados e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras (CARVALHO; GUER-
RA, 2019).
Dentre as PICS, destaca-se a utilização dos óleos essenciais, que são métodos
amplamente utilizados e podem ser aplicados de diversas formas, desde massagens na
planta dos pés até inalações, como o uso da aromaterapia no cuidado às mulheres du-
rante o ciclo gravídico-puerperal, que são importantes exemplos de tecnologias leves
e leves-duras, na perspectiva da integralidade (SILVA, 2019).
Tendo como função não só a diminuição da percepção dolorosa, mas também
redução dos níveis de ansiedade e estresse torna-se uma ferramenta valiosa durante
o trabalho de parto (OSÓRIO; JÚNIOR; NICOLAU, 2014). A aromaterapia dispõe de

74
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

uma vasta opção de essências, extratos e substâncias que podem ser utilizadas. Um
estudo de revisão que avaliou o uso de óleos essenciais no trabalho de parto e parto
destacou a essência de lavanda (PAVIANI; TRIGUEIRO; GESSNER, 2019).
A relevância destas práticas consiste em uma valiosa ferramenta na assistên-
cia do enfermeiro obstetra e demais profissionais que prestam assistência ao parto,
atuando como um Método Não Farmacológico (MNF) para alívio da dor. Diante do
exposto, objetivou-se avaliar os efeitos do óleo essencial de lavanda durante o trabalho
de parto, buscando na literatura nacional e internacional evidências que endossem ou
concretizem essa hipótese.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão sistemática. Esta pes-


quisa foi realizada por possibilitar a resposta de um questionamento relevante para a
prática do ciclo gravídico, através da análise do conhecimento científico já publicado
sobre o tema “Efeitos da aromaterapia com óleo essencial de lavanda durante o traba-
lho de parto.”
De acordo com Sampaio e Mancini (2007), as revisões sistemáticas são dese-
nhadas para serem metódicas, explícitas e passíveis de reprodução. Esse tipo de es-
tudo serve para nortear o desenvolvimento de projetos, indicando novos rumos para
futuras investigações e identificando quais métodos de pesquisa foram utilizados em
uma área.
Para a construção da mesma, deve seguir as seguintes etapas: Formação de
uma pergunta clara, definição de uma estratégia de busca, o estabelecimento de cri-
térios de inclusão e exclusão dos artigos e, acima de tudo, uma análise criteriosa da
qualidade da literatura selecionada, para após a conclusão do estudo, poder auxiliar
profissionais clínicos e pesquisadores no seu cotidiano de trabalho (SAMPAIO; MAN-
CINI; 2007).
O tema “Efeitos da aromaterapia com óleo essencial de lavanda durante o
trabalho de parto.”, determinou a construção da estratégia PICO, que representa um
acrômio para Paciente/população (P): parturientes, Intervenção (I): uso do óleo essen-
cial de lavanda, Comparação/controle (C), Desfecho/resultados (O): diminuição da
dor/ansiedade, sendo esses quatro elementos essenciais para a construção da questão
norteadora desta revisão: Quais os efeitos do óleo essencial de lavanda durante o tra-
balho de parto?

75
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Para a localização dos estudos relevantes, utilizou-se os descritores indexados


nos idiomas português, inglês e espanhol. Os descritores foram obtidos a partir dos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e dos títulos Cinahl.
Foram analisadas as bases de dados PubMed da National Library of Medicine;
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), coordenada pela BIREME e composta de bases de
dados bibliográficas produzidas pela Rede BVS, como LILACS, além da base de dados
Medline e outros tipos de fontes de informação, Cumulative Index to Nursing and Allied
Health Literature (CINAHL), SCOPUS.
Foram utilizados como critérios de inclusão artigos científicos completos gra-
tuitos, sem delimitação de tempo, nos idiomas disponibilizados através dos resultados
das buscas, a saber: português, espanhol e inglês. Foram excluídos: artigos abordando
outros óleos essenciais que não o de lavanda, artigos duplicados, estudos de caso, re-
visão narrativa e estudos em laboratório.
A partir da busca geral na BVS encontrou-se 14 artigos, após utilização de
filtros como a delimitação do tipo de estudo, restaram apenas quatro estudos e, após
a leitura, somente dois. Também foi realizada uma busca na base de dados PUBMED,
utilizando as palavras chaves: (Oils, Volatile) AND (Labor, Obstetric), onde, após aná-
lise criteriosa apenas um artigo atendia ao escopo. Na base SCOPUS utilizou-se as pa-
lavras chaves: (Nursing Care) AND (delivery, obstetric), restando apenas um estudo.
Na base CINAHL foi selecionado um artigo para a condução da revisão após leitura
dos demais (Figura 01).
Após seleção dos artigos, realizada no período de dezembro de 2020 a janeiro
de 2021, procedeu-se a análise quanto ao potencial de participação no estudo, avalian-
do questões como, adaptação à questão de pesquisa, tipo de investigação, objetivos,
amostra, método, resultados e conclusão, resultando em seis artigos, sendo um dupli-
cado, restando assim cinco artigos para o presente estudo.

76
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos para a revisão sistemática - Caxias, MA,
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos para a revisão sistemática - Caxias, MA, Bra-
sil, 2022.
Brasil, 2022.

1ª fase: Questão norteadora


Quais os efeitos da aromaterapia com óleo essencial de lavanda durante o trabalho de
parto?”.

2ª fase: Coleta de s^ ^KWh^ /E,> WhD


dados

(Definição das bases de


dados e busca de ϭϭ ϮϮ
ϭϰ Ϭϴ
artigos)


 Aplicação dos filtros nas bases elencadas:
3ª fase: Avaliação dos
dados Sem delimitação de tempo
(Artigos selecionados Estudos advindo de pesquisas clínicas
após filtragem)

 ϳ ϰ ϳ ϯ

4ª e 5ª Fase: Análise Motivos de exclusão dos artigos para leitura na


dos dados e íntegra:
Elaboração do 
Duplicados (1); 
quadro sinóptico Não atenderam a questão norteadora (11)
(artigos selecionados Artigo de revisão (4)
após análise dos
títulos, resumos e
leitura na íntegra) Ϯ ϭ ϭ ϭ


Fonte: Autor.

A partir da análise das informações, foram separados os estudos e elencados


os resultados e os tipos de intervenções utilizadas com o óleo essencial. A pesquisa
obedeceu aos aspectos éticos, quanto à citação dos estudos, mantendo as citações devi-
das para cada autor. Os dados estão sintetizados através de textos, quadros e tabelas,
para facilitar a visualização e a compreensão das informações.

RESULTADOS

Os resultados foram interpretados, sintetizados e apresentados nos quadros a


seguir: caracterização, síntese e apresentação dos estudos incluídos na revisão, aten-
dendo aos objetivos da pesquisa.

77
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

No quadro 01 apresenta a caracterização dos artigos de acordo com a base de


dados, ano, periódicos, idioma, procedência, áreas de atuação dos autores, delinea-
mento da pesquisa, classificação da evidência e grau de recomendação.

Quadro 1 – Caracterização dos estudos. Caxias- MA, 2022.


Quadro 1 – Caracterização dos estudos. Caxias- MA, 2022.

VARIÁVEIS NÚMEROS PORCENTAGEM (%)


ABSOLUTOS
Base de dados
BVS 02 40
SCOPUS 01 20
CINAHL 01 20
PUBMED 01 20
Ano
2007 01 20
2014 01 20
2015 01 20
2016 01 20
2018 01 20
Periódico
Health Sci J 01 20
Br J. Midwifery 01 20
Complement Ther 01 20
Clin Pract
Arch Gynecol Obstet. 01 20
International Journal of Obstetrics and Gynaecology 01 20
Idioma da publicação
Inglês 05 100
Procedencia do artigo
Índia 01 20
Irã 02 40
Tailândia 01 20
Italia 01 20
Delineamento de pesquisa
Ensaios clínicos randomizados 05 100
Classificação da evidência
1B 05 100
Grau de recomendação
A 05 100
Fonte: Autor

As bases de dados com maior prevalência foi: BVS, com 40% dos estudos se-
lecionados, seguida por todas as demais citadas, uma vez que todas representam 20%
dos artigos. Em relação ao ano de publicação, houve uma variação de 2007, 2014, 2015,
2016, 2018, sem predomínio de um ano específico, já que todos apresentaram 20%. No
que se refere ao periódico de publicação, todos foram internacionais. O idioma das
publicações foi prevalentemente a língua inglesa com 100%. No que diz respeito à
procedência dos artigos, a maior parte 40 % é proveniente do Irã. Acerca do delinea-
mento das pesquisas, 100% são de estudos clínicos randomizados, com classificação
de evidências 1B: 100%; e grau de recomendação A: 100%. O quadro 2 apresenta os
títulos dos artigos, delineamento, grau de recomendação, nível de evidência, objetivo
principal e principais resultados.

78
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Quadro 2 - Síntese de estudos incluídos na revisão, publicados no período de 2007 a 2018, Caxias- MA,
Quadro 2 - Síntese de estudos incluídos na revisão, publicados no período de 2007 a 2018, Caxias- MA,
2022.
2022.

Nº DE AUTOR/ DELINEAMENT OBJETIVO PRINCIPAIS


ORDEM/ ANO/ O DO PRINCIPAL RESULTADOS
BASE TÍTULO DO ESTUDO /
ARTIGO GRAU DE
RECOMENDAÇ
ÃO/ NÍVEL DE
EVIDÊNCIA
Artigo 1/ Kaviani, M; Ensaio clínico Determinaram o A média da percepção da
SCOPUS Azima, S; randomizado, efeito da lavanda intensidade da dor no
realizado no Irã em grupo teste foi inferior ao
Alavi, N;
com 160 do grupo controle aos 30
aromaterapia na
Tabaei, M H primíparas. A, 1B e 60 minutos após a
percepção da
(2014) intervenção (p<0,001),
intensidade da
mas não afetou a duração
The effect of dor e resultado
das fases do trabalho de
lavender intraparto em
parto e índice de Apgar
aromatherap
mulheres
y on pain
primíparas
perception
and
intrapartum
outcome in
primiparous
women

Artigo 2/ Burns E, Et al Ensaio clínico O uso de A percepção da dor foi


CINAHL (2007) randomizado, aromaterapia reduzida na
realizado na Itália aromaterapia utilizada
Aromatherap durante o trabalho
com 513 com o grupo para
y in de parto como
parturientes. A, nulíparas.
childbirth: a uma opção de
1B
pilot cuidado que pode
randomised melhorar a saúde
controlled materna e
trial
resultados
neonatais

Artigo 3/ Janula, R; Ensaio clínico Avaliar o efeito da Aromaterapia e


MEDLINE Mahipal, S randomizado, aromaterapia e Biofeedback foram
(2015) realizado na Índia biofeedback na métodos eficazes para
com 600 promoção do reduzir a percepção da
Effectiveness
nulíparas. A, 1B trabalho de parto dor e
of
aromatherap desfecho durante duração do trabalho de
y and o parto entre parto entre as mulheres
biofeedback primigestas. durante o trabalho de
parto.
in promotion
of labour
outcome

79
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

during
childbirth

among
primigravida
s

Artigo 4/ BVS Yazdkhasti, Ensaio clínico Investigar o efeito A diferença na percepção


M; randomizado, da inalação de da dor do parto antes e
realizado no Irã essência de após a intervenção em
Pirak, A
com 120 lavanda na dois grupos foi
(2016)
primíparas. A, 1B gravidade da dor significativa. mas não
The effect of do parto e na houve diferença na
aromatherap duração do duração média da fase
y with trabalho de parto ativa e do segundo
lavender estágio do trabalho de
essence parto entre os dois
grupos
on severity of
labor pain
and duration
of labor in

primiparous
women

Artigo 5/ BVS Tanvisut, R; Ensaio clínico Determinar a Aromaterapia é útil na


Traisrisilp, K; randomizado, eficácia da redução da dor na fase
realizado na aromaterapia para ativa latente e precoce, e
Tongsong, T
Tailándia com 106 reduzir a dor provavelmente pode ser
(2018) parturientes. A, durante o trabalho usada como um método
1B de parto adjuvante para o
Efficacy of controle da dor do parto
aromatherap sem efeitos colaterais
y for graves.
reducing
pain during

labor: a
randomized
controlled
trial Arch
Gynecol

Fonte: autor.

Identificou-se que as totalidades dos estudos são de bases clínico-experimen-


tal e constituem uma forte fonte de evidência, quando comparados aos demais dese-
nhos metodológicos existentes. Apesar de existirem diferenças tanto de base cultural
quanto de amostra, todos apresentam uma forte tendência à efetividade do uso do
óleo essencial de lavanda no trabalho de parto.

80
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

DISCUSSÃO

Criado em 1984, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher


(PAISM) foi o marco inicial do cuidado a saúde, uma vez que até então essa população
era assistida apenas como parte da saúde materno-infantil. Com o passar dos anos
esse programa ganhou mais força e tornou-se pôr fim a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Mulher, lançada em 2004, no tocante aos direitos sexuais e repro-
dutivos dessas mulheres, apenas em 2005 foi implantada a Política Nacional de Direi-
tos Sexuais e Reprodutivos, seguida pela Política de Atenção Integral à Reprodução
Humana Assistida (2006) e pela Política Nacional de Planejamento em 2007 (COELHO
et al., 2009).
Se por um lado, o avanço da obstetrícia e das políticas contribuiu com a me-
lhoria dos indicadores de morbidade e mortalidade materna e perinatais, por outro
permitiu a concretização de um modelo que considera a gravidez, o parto e o nasci-
mento como doenças e não como expressões de saúde, frente a isso e a fim de reduzir
as intervenções e a “medicalização” do parto, o Ministério da Saúde lança a portaria
no 353 em 14 de fevereiro de 2017, que aprova as Diretrizes Nacionais de Assistência
ao Parto Normal (BRASIL, 2017).
A referida portaria traz os métodos não farmacológicos como a primeira esco-
lha, quando se trata de alívio da dor no trabalho de parto (TP), e as boas práticas para
atuação de profissionais durante o ciclo gravídico puerperal.
Dentre esses métodos não farmacológicos, uma revisão elencou a aromate-
rapia como uma das opções viáveis e efetivas quanto ao relaxamento e aos níveis de
tensão e ansiedade, além disso, uma boa prática a ser utilizada e estudada para melhor
aperfeiçoamento (MASCARENHAS et al., 2019).
Entende-se que a aromaterapia consiste na aplicação de Óleos Essenciais (OE),
por diversas vias do organismo com finalidade terapêutica, uma revisão publicada em
2019, destacou a utilização do óleo essencial de lavanda nos últimos anos por gestantes
por possuir propriedades calmantes, relaxante, antiestresse e estimulante (SILVA et
al., 2019).
Dentre os estudos que utilizam OE, foram elencados cinco ensaios clínicos,
obedecendo aos critérios estabelecidos dentro do desenho metodológico, todos tive-
ram origens internacionais.
O estudo de Kaviani et al. (2014), realizado no período de dezembro de 2008
a junho de 2009, no Irã com 160 primíparas, avaliou o uso da aromaterapia durante
o trabalho de parto em duas variáveis, uma delas a percepção dolorosa e a outra no

81
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

tempo de cada fase do trabalho de parto (TP). Foi utilizado um nível de confiança de
99%. Participaram do estudo apenas primíparas, após a 36ª semana com 3-4 cm de
dilatação. Foram excluídas as que tinham problemas respiratórios como asma, aler-
gias ou as que evoluíram para cesárea ou qualquer analgesia medicamentosa. Utilizou
como base a escala visual analógica (EVA), repetindo a avaliação nos primeiros 30 e 60
minutos após a intervenção. O estudo comprovou a efetividade da utilização do OE
na redução da percepção dolorosa no TP, mas não teve efeito na duração do TP e no
Apgar do recém-nascido.
A pesquisa realizada na Itália entre 01 de maio e 31 de dezembro de 2003 ava-
liou tanto nulíparas quando multíparas, sendo 513 participantes, com os critérios de
inclusão e exclusão semelhante ao estudo anterior. Nessa pesquisa foi utilizado mais
de um OE, os autores não fazem diferenciação dos OE quanto aos efeitos separada-
mente, entretanto listam a essência de lavanda como a mais utilizada, apresentando
efetividade apenas com as nulíparas, divergindo do estudo acima, e não com multípa-
ras (BURNS et al., 2007).
Outra pesquisa foi desenvolvida na índia, que avaliou apenas nulíparas, com
quatro ou mais centímetros de dilatação cervical e gestação maior que 36 semanas. As
mulheres foram divididas em dois grupos quanto à diminuição do limiar doloroso e
da duração do TP, no qual obteve êxito nos dois parâmetros, uma vez que diminuiu a
percepção dolorosa e a duração do trabalho de parto, divergindo do artigo 1, que não
mostrou efeito na duração do TP (JANULA; MAHIPAL, 2015).
Os mesmos autores avaliaram no período de setembro de 2011 a janeiro 2012,
em um hospital do Irã, a duração das fases do trabalho de parto com 120 primíparas.
Corroborando com os dados encontrados no estudo de Kaviani et al (2014), demons-
trou efeito na severidade da dor, porém não houve impacto significativo na duração
do TP (JANULA; MAHIPAL, 2015; 2016).
O último artigo analisou 104 primigestas, na Tailândia, entre 37 semanas e 41
semanas de gestação, com apresentação cefálica, foram excluídas as que apresentaram
restrição e complicações relacionadas à gestação. Também utilizou no estudo mais de
um OE, não fazendo detalhamento de cada efeito, porém publicou como resultado a
recomendação e a evidência da efetividade do uso de óleos associados ao TP, sem efei-
tos graves associados ao uso dos mesmos (TANVISUT; TRAISRISILP; TONGSONG,
2018).

82
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

CONCLUSÃO

Identificou-se a efetividade do uso do óleo essencial de lavanda durante o tra-


balho de parto, sobretudo para o controle da dor e diminuição da percepção dolorosa,
com destaque para as primíparas, uma vez que a maior parte dos estudos apresentou
tal escopo. A escassez de pesquisas publicadas sobre essa temática endossa a necessi-
dade de realização de novas pesquisas, principalmente a nível nacional. Observou-se
que os óleos essenciais constituem uma importante ferramenta para os profissionais
que atuam na assistência ao parto, e trata-se de um método não farmacológico, sem
grande intervenções e custo.

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84
CAPÍTULO 6

CONTRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE
ENFERMAGEM PARA PROMOÇÃO DO
ALEITAMENTO MATERNO: REVISÃO
INTEGRATIVA

Maria Ivaneide Feitosa Rodrigues


Saiwori de Jesus Silva Bezerra dos Anjos
Francisco Wellington Dourado Júnior
Vitória Lídia Pereira Sousa
Magda Fabiana de Amaral Pereira Lima
Daianny Cristina de Almeida Silva

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.6
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A amamentação confere vários benefícios para o binômio mãe-filho e con-


siste em uma intervenção efetiva para redução da mortalidade infantil e
para prevenção de doenças (BOCCOLONI et al., 2017). Segundo a Organização Mun-
dial da Saúde (OMS), a adoção dessa prática de forma exclusiva até os seis meses de
vida supre as necessidades nutricionais ideais para o bebê nesta fase da vida, além
de favorecer o crescimento e o desenvolvimento infantil (ALVES; OLIVEIRA; RITA,
2018).
Para a mãe, o aleitamento materno exclusivo (AME) promove a involução ge-
nital no pós-parto, reduz o risco de ocorrência de câncer de mama, ovário e útero,
diminui os gastos relativos à compra de alimentação industrializada e auxilia na cons-
trução do vínculo afetivo entre o binômio mãe-filho. No que concerne ao bebê, essa
prática influi na fonação, capacidade respiratória e deglutição, além de ser associada a
um maior desenvolvimento intelectual e cognitivo (ROCHA et al., 2018).
Entretanto, apesar de constituir em um processo natural fisiológico, o alei-
tamento sofre influência de fatores psicoemocionais, culturais, sociodemográficos e
econômicos, que podem dificultar/interromper o processo. Alguns autores verifica-
ram que a interrupção precoce do AME está comumente relacionada à escolaridade
materna, primiparidade, tipo de parto, baixo peso do bebê ao nascimento, utilização
de chupeta, auxílio do companheiro, orientação durante o pré-natal e rede de apoio
deficiente (SILVA et al., 2020; MENDES et al., 2019).
Desse modo, o AME pode ser considerado como um fenômeno complexo a ser
investigado no campo da Enfermagem, não apenas para descrever as experiências e
condições que envolvem essa prática, mas para compreender os fatores que explicam e
influenciam o seu início, manutenção e término. Assim, a partir da aproximação teóri-
ca desse fenômeno, é possível formular intervenções efetivas e eficazes que auxiliem o
binômio mãe-filho a aderirem a AME, por meio de estratégias educativas e de cuidado
que ofereçam os subsídios necessários para o empoderamento-superação-adaptação
materno frente aos desafios que envolvem a prática da amamentação (COCA et al.,
2018; MELO et al., 2017).
Frente a essas questões, foi definido o seguinte objetivo para esta pesquisa:
identificar as evidências científicas sobre as ações da equipe de Enfermagem que po-
dem contribuir para a promoção do aleitamento materno. Ademais, acredita-se que o
presente estudo fornece evidências para o fortalecimento do cuidado integral ao binô-
mio mãe-filho, com vistas a atender as necessidades singulares relativas ao fenômeno
da amamentação, bem como possibilita expor estratégias que permitem a construção

86
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

de um atendimento humanizado centrado nas subjetividades, no território e no con-


texto, contrapondo o modelo biomédico centrado apenas na doença.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura referente às estratégias uti-


lizadas pela equipe de Enfermagem para promoção do aleitamento materno (BOTE-
LHO; CUNHA; MACEDO, 2011). Para construção da questão norteadora foi utilizada
a estratégia PICo, elementos constituintes do problema de pesquisa: População (P):
gestante, parturiente e puérpera; Intervenção (I): ações/estratégias dos profissionais
de enfermagem; Contexto (Co): aleitamento materno. Desse modo, formulou-se o se-
guinte questionamento: “Quais estratégias da equipe de enfermagem são realizadas
para promover o aleitamento materno à mulher no ciclo gravídico-puerperal? ”.
A busca pelos artigos foi realizada nas seguintes bases: Scientific Electronic Li-
brary Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLI-
NE) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
Para formulação da estratégia de busca, utilizou-se os elementos chaves da
questão norteadora previamente definida, subsidiando assim a escolha pelos descri-
tores a seguir: “Enfermagem”, “Equipe de Enfermagem”, “Amamentação” e “Alei-
tamento Materno”, combinados pelos operadores booleanos AND e OR. A busca foi
realizada com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Bireme.
Foram incluídos estudos publicados em português, inglês e espanhol, disponí-
veis eletronicamente na íntegra e que atendessem à questão de pesquisa. Optou-se em
adotar um recorte temporal que corresponde ao período de 2015 a 2021, período este
escolhido devido o ano de 2015 ser considerado como um marco em defesa do aleita-
mento (BRASIL, 2015). Os critérios de exclusão foram: artigos incompletos, duplica-
dos, editoriais, sites e aqueles que não apresentavam todas as informações pertinentes
ao método.
Para fins analíticos, antepõe-se pelo método da análise de conteúdo de Bardin.
A análise de conteúdo é categorizada em três etapas: (1) pré-análise; (2) exploração do
material; (3) tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (NEVES et al.,
2017). Os resultados apresentados em forma de quadros e organizados em três etapas:
Descrição dos dados de identificação dos estudos, perfil metodológico e categorias
emergentes da análise dos desfechos.
Após a leitura dos estudos, foi identificado material que respaldou a criação
de categoria pertinente à pergunta norteadora, sendo esta: características da contribui-

87
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

ção da enfermagem para estimular o aleitamento materno e desafios da enfermagem


na estimulação do aleitamento materno.

RESULTADOS

Dos 3071 estudos encontrados, 94 foram eleitos para análise do resumo; des-
ses, apenas 22 atenderam a questão de pesquisa, sendo 01 em espanhol, 01 em inglês
e 20 em português.
No que concerne ao ano de publicação, prevaleceram pesquisas que datavam
do ano de 2018 (n=5) e 2019 (n=5) da amostra total, seguido do ano de 2017 (n=4). Os
anos de 2015 e 2016 foram encontrados a mesma quantidade de estudos (n=03). Por
fim, os dois estudos restantes foram publicados em 2020. A seleção dos artigos foi
realizada a partir da pergunta norteadora que possibilitou a organização dos estudos
de forma categórica e objetiva, logo, foram estruturados em um quadro explicativo
(Quadro1).
Quadro 1–1
Quadro Distribuição dos dos
– Distribuição estudos segundo
estudos título,
segundo autores
título, e país.
autores Fortaleza-CE,
e país. Brasil,
Fortaleza-CE, 2021. 2021.
Brasil,

ID TÍTULO AUTOR(ES) PAÍS/ANO


01 A amamentação na voz de Puérperas Primíparas Bortoli, Poplaski Brasil
& Balotin 2019
02 Aleitamento materno: estudo comparativo sobre o Vasquez, Brasil
conhecimento e o manejo dos profissionais da Estratégia Dumith & Susin 2015
Saúde da Família e do Modelo Tradicional
03 Apego de enfermería al curso avanzado de apoyo a la lactancia Pérez-Ramírez, México
maternal Romero- 2019
Quechol, &
Cruz-Ojeda
04 Assessment of maternal selfefficacy in breastfeeding in the Lopes, et al. Brasil
immediate puerperium 2017
05 Assistência puerperal e a construção de um fluxograma Silva, et al. Brasil
para consulta de enfermagem 2020
06 Associação entre a autoeficácia no ciclo gravídico Uchoa, et al. Brasil
puerperal e o tipo de aleitamento materno 2017
07 Avaliação do conhecimento de puérperas acerca da Visintin, et al. Brasil
amamentação 2015
08 Capacitação de profissionais de saúde em aleitamento Jesus, Oliveira & Brasil
materno e sua associação com conhecimentos, Moraes 2017
habilidades e práticas
09 Conhecimento de enfermeiras e estratégias de incentivo Dias, Boery & Brasil
da participação familiar na amamentação Vilela 2016
10 Consulta puerperal de enfermagem: prevenção de Skupien, Ravelli Brasil
complicações mamárias & Acauan 2016
11 Desvelando o significado da experiência vivida para o Lima, et al. Brasil
ser-mulher na amamentação com complicações 2018
puerperais
12 Diagnósticos de enfermagem relacionados à Rodrigues, et al. Brasil
amamentação em nutrizes acompanhadas na atenção 2019
primária à saúde
13 Dificuldades no estabelecimento da amamentação: visão Dominguez, et Brasil
das enfermeiras atuantes nas unidades básicas de saúde al. 2017
14 Fatores associados à adesão ao aleitamento materno Ferreira, et al. Brasil
exclusivo 2018
15 Manejo clínico da amamentação: atuação88 do enfermeiro De Souza Brasil
na unidade de terapia intensiva neonatal Baptista, et al. 2015
complicações mamárias & Acauan 2016
11 Desvelando o significado da experiência vivida para o Lima, et al. Brasil
ser-mulher na amamentação com complicações 2018
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE
puerperais
12 Diagnósticos de enfermagem relacionados à Rodrigues, et al. Brasil
amamentação em nutrizes acompanhadas na atenção 2019
primária à saúde
13 Dificuldades no estabelecimento da amamentação: visão Dominguez, et Brasil
das enfermeiras atuantes nas unidades básicas de saúde al. 2017
14 Fatores associados à adesão ao aleitamento materno Ferreira, et al. Brasil
exclusivo 2018
15 Manejo clínico da amamentação: atuação do enfermeiro De Souza Brasil
na unidade de terapia intensiva neonatal Baptista, et al. 2015
16 Percepção da equipe de enfermagem frente ao Fassarella, et al. Brasil
aleitamento materno: do conhecimento à 2018
implementação
17 Percepção das mulheres que receberam consultoria em Chaves, et al. Brasil
amamentação 2019
18 Prevalência e fatores associados à prescrição/solicitação Pinheiro, et al. Brasil
de suplementação alimentar em recém-nascidos 2016
19 Primeira semana saúde integral do recém-nascido: ações Lucena, et al. Brasil/
de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família 2018
20 Promoção do aleitamento materno no contexto da Dos Santos Brasil/
estratégia de saúde da família Costa, et al. 2019
21 Promoção do aleitamento materno no sistema prisional Guimarães, et al. Brasil
a partir da percepção de nutrizes encarceradas 2018
22 Silenciamento dos enfermeiros sobre os motivos da não Gomes, et al. Brasil
recomendação da amamentação cruzada 2020
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.
O quadro 2 traz em sua estrutura a síntese dos objetivos, método e conclusão
dos estudos selecionados. Identificou-se a prevalência de estudos transversais (n=7)
e exploratórios (n=7). A maioria dos estudos evidenciou a importância das ações da
equipe de Enfermagem para promoção do aleitamento materno e como subsídio rele-
vante para superar os desafios da amamentação.

89
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Quadro 2 – Distribuição dos estudos de acordo com o objetivo, método e conclusão. Fortaleza-CE, Brasil,
Quadro 2 – Distribuição dos estudos de acordo com o objetivo, método e conclusão. Fortaleza-CE, Bra-
2021. sil, 2021.
ID OBJETIVO MÉTODO CONCLUSÃO
01 Compreender o processo de Estudo de campo A orientação profissional
amamentação de mulheres descritivo e qualitativo, adequada apresentou efeito
primíparas após o parto. por meio de entrevistas positivo na prevenção de
semiestruturadas com traumas mamilares.
nove puérperas
primíparas de uma UBS.
02 Avaliar e comparar o Estudo transversal com O desempenho dos profissionais
conhecimento e a qualidade aplicação de questionário ficou abaixo do esperado,
do manejo da amamentação com 269 profissionais, comprovando a necessidade de
entre os profissionais que com avaliação por meio capacitação.
atuam nas ESF e nas UBS. de escores e comparação
de médias.
03 Determinar o nível de vínculo Estudo transversal O vínculo apresentou um nível
da equipe de enfermagem ao analítico com 62 regular. Concluiu-se que devem
curso de apoio a enfermeiros usando ser adotadas novas estratégias
amamentação. estatísticas descritivas e para aumento deste nível.
testes não paramétricos.
04 Avaliar a autoeficácia Estudo transversal com As mulheres tiveram elevada
materna em amamentar no 132 puérperas e aplicação autoeficácia em amamentar e foi
puerpério imediato. de um formulário com sugerido o acompanhamento por
dados sociodemográficos um enfermeiro para efetivo
e obstétricos. apoio na amamentação.
05 Identificar os principais Estudo descritivo, Observou-se que os problemas
problemas das mulheres no exploratório transversal mais comuns estão relacionados
puerpério encontrados nas com abordagem ao cuidado com o bebê,
consultas de enfermagem e qualitativa. Realizado em aleitamento, estado emocional e
gerar um fluxograma de um hospital privado com suporte familiar.
atendimento. 114 mulheres.
06 Analisar a associação das Estudo longitudinal e É evidente que altos escores de
médias dos escores da quantitativo. Foram autoeficácia estão diretamente
Breastfeeding Self-Efficacy-scale realizadas quatro coletas relacionados ao maior tempo de
(Short-form) de mulheres no de dados com 50 aleitamento materno.
pré-natal e no pós-parto com mulheres com mais de 30
o tipo de aleitamento semanas gestacionais.
materno.
07 Avaliar o conhecimento de Estudo descritivo, As puérperas apresentaram
puérperas acerca da realizado em uma baixo nível de conhecimento
amamentação. maternidade com 323 acerca da amamentação.
puérperas internadas.
08 Verificar a associação entre Estudo transversal em 15 Verificou-se que a capacitação
capacitação em aleitamento hospitais com mais de 100 contribui para o aprimoramento
materno e conhecimentos, partos/ano com 215 de conhecimentos, habilidades e
habilidades e práticas profissionais. práticas em AM, fundamentais à
profissionais. assistência materno-infantil.
09 Analisar o conhecimento de Estudo qualitativo, As enfermeiras utilizam como
enfermeiras sobre as exploratório, descritivo, estratégia as ações de educação
vantagens da amamentação desenvolvido com oito em saúde e a visita puerperal e
para a família e descrever a enfermeiras. domiciliar, ressaltando as
forma de inserção desta nas tentativas e dificuldades de
ações de saúde relacionadas à alcance familiar.
amamentação.
10 Identificar os problemas Estudo quantitativo, A educação em saúde no pré-
mamários de puérperas exploratório, com natal e pós-parto oportunizou a

90
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

atendidas em uma aplicação de questionário descoberta de problemas


maternidade escola no estruturado e coleta de mamários relevantes, podendo
Paraná. dados com amostra de 252 prevenir as complicações
puérperas. mamárias por meio da educação
em saúde pós-parto.
11 Compreender o significado Estudo fenomenológico A amamentação de mulheres
da experiência vivida para o baseado em percepção e com complicação puerperal é
ser-mulher na amamentação hermenêutica. composta por um conjunto de
com complicações Qualitativo, com coleta de significados, e o conhecimento
puerperais. dados por entrevistas em dos profissionais de saúde pode
profundidade com 28 contribuir para um cuidado mais
puérperas. integral.
12 Identificar os diagnósticos de Estudo descritivo e O diagnóstico de enfermagem
enfermagem da NANDA-I quantitativo, com relacionado à amamentação mais
relacionados à amamentação aplicação de um frequente foi Disposição para
em nutrizes acompanhadas formulário para 135 amamentação melhorada,
na atenção primária à saúde. nutrizes e seus filhos. demostrando a importância do
apoio à nutriz na prática do
aleitamento.
13 Conhecer, sob a ótica das Estudo qualitativo, As crenças da comunidade,
enfermeiras da Rede Básica realizado com 47 desatualização profissional e
de Atenção à Saúde, as enfermeiras por meio de técnicas inadequadas, exercem
dificuldades para o entrevistas. influência nas condutas
estabelecimento do relacionadas à amamentação.
Aleitamento Materno.
14 Verificar a associação entre Estudo correlacional, A maioria das mulheres que
variáveis maternas e transversal, quantitativo. amamentou exclusivamente
aleitamento materno A amostra final de estudo afirmou não ter recebido
exclusivo em um ambulatório foi de 363 puérperas. orientação sobre AM durante o
especializado. pré-natal, o que evidencia a
existência de outros fatores
externos que podem influenciar
no AM exclusivo.
15 Compreender o manejo Estudo descritivo, O enfermeiro capacitado e
clínico da amamentação exploratório, qualitativo, sensibilizado com a prática do
realizado pelos enfermeiros com entrevista manejo clínico da amamentação
na UTI de uma Neonatal. semiestruturada a 11 contribui para o apoio ao AM e o
enfermeiras atuantes. enfrentamento ao desmame
precoce.
16 Compreender e avaliar a Estudo qualitativo e Algumas barreiras são
percepção da equipe de descritivo. Os sujeitos da encontradas por profissionais
enfermagem acerca da pesquisa foram 28 quanto à aceitação das puérperas
amamentação na primeira profissionais de acerca do AM, sendo necessário
hora após o nascimento do enfermagem que atuam uma sistematização por parte da
bebê, além de identificar as diretamente no pós-parto. equipe com ações educativas
ações tomadas para garantir a sobre a temática.
amamentação precoce do
concepto.
17 Conhecer a percepção das Estudo exploratório e O atendimento das consultoras
mulheres que receberam qualitativo. Os sujeitos em amamentação influencia na
consultoria em foram 10 mães abordadas promoção da prática do AM,
amamentação. por ligação e receberam sendo importante a divulgação
consultoria em desses profissionais.
amamentação.
18 Identificar a prevalência da Estudo transversal e Foram identificadas várias
utilização de suplemento descritivo com indicações de suplemento
alimentar em recém-nascidos questionário estruturado alimentar desnecessárias e

91
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

e avaliar as características, os aplicado a 113 díades mãe precipitadas. Podem dificultar o


solicitantes e os motivos e filho de um hospital AM, sendo necessário avaliação
justificados para sua universitário. mais criteriosa na indicação pela
utilização. equipe assistencial.
19 Descrever as ações de Estudo exploratório, Viu-se que as fragilidades
enfermeiros da ESF acerca da descritivo e qualitativo comprometem a assistência ao
Primeira Semana Saúde por meio de análise neonato e à puérpera sendo
Integral no cuidado ao recém- temática com entrevista necessário sensibilizar esses
nascido. semiestruturada a nove profissionais acerca da
enfermeiros de uma ESF. importância e eficácia da
Primeira Semana Saúde Integral.
20 Descrever a promoção da Estudo exploratório e O enfermeiro pode estreitar
saúde para o aleitamento descritivo com revisão laços, educar e sensibilizar sobre
materno e refletir sobre a bibliográfica como base o AM no ambiente estudado,
importância no espaço da para discussão. acolhendo e formando vínculos
ESF, onde os contatos com a com suas clientes, diminuindo
gestante são oportunizados. segurança e fomentando saúde.
21 Fomentar a promoção do Estudo qualitativo por Viu-se que a promoção do AM
aleitamento materno no meio de entrevistas na prisão é impositiva, nega a
sistema prisional a partir da semiestruturadas com 14 autonomia da nutriz para a
percepção de nutrizes encarceradas. tomada de decisão consciente e
encarceradas. gera dificuldade de interação
com as profissionais de saúde.
22 Identificar qual a conduta Estudo qualitativo, Recomendam-se mudanças nos
assistencial de enfermeiro realizado com discursos dos enfermeiros a fim
frente à amamentação enfermeiras atuantes da de encontrar os motivos da
cruzada. ESF em um grupo focal. prática da amamentação cruzada
para que seja possível intervir
quando necessário.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.

DISCUSSÃO

O enfermeiro atua como um facilitador para que o paciente adquira autono-


mia para enfrentar períodos de vulnerabilidade, tal como o ciclo gravídico-puerperal.
A assistência oferecida à mulher durante o ciclo gravídico puerperal inicia-se nas con-
sultas de pré-natal e contempla o parto e o puerpério, com ações educativas correspon-
dentes a cada período do ciclo fornecendo segurança e saúde nessa fase (VASQUEZ;
DUMITH; SUSIN, 2015).
O manejo clínico adequado da amamentação por parte dos profissionais da
saúde é um fator importante e decisivo que aumenta a prevalência do AME. A Aten-
ção Primária à Saúde é a principal responsável pela assistência antes e depois do parto,
as informações e o apoio oferecidos às gestantes no decorrer do pré-natal, principal-
mente pelo enfermeiro, são indispensáveis para promoção, proteção e apoio ao AME
até os seis meses (BORTOLI; PAPLOSKI; BALETIN, 2019).
O trabalho das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) prioriza a as-
sistência a alguns grupos populacionais biologicamente mais vulneráveis a agravos

92
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

como, por exemplo, gestantes e crianças menores de dois anos; destacando-se entre as


ações desenvolvidas pelas equipes de saúde a assistência materno-infantil, que envol-
ve a promoção e o manejo do AME (BORTOLI; PALOSKI; BALETIN, 2019; DOMIN-
GUEZ et al., 2017).
É durante o pré-natal que se considera o momento ideal para orientar a mulher
sobre o AME, já que as ações específicas de apoio profissional e acesso à informação
adequada têm configurado taxas mais efetivas na prática de amamentação (UCHOA et
al., 2017). O enfermeiro deve considerar, desde o pré-natal, a mulher no seu processo
de empoderamento relacionado ao ato de amamentar, a partir de um diálogo sobre
todos os benefícios da amamentação (SILVA et al., 2020). 
É importante que diante de fatores que dificultam a amamentação, que o en-
fermeiro apoie e forneça informações pertinentes às puérperas, fortalecendo sua au-
toconfiança em relação ao aleitamento, beneficiando tanto ela como seus filhos. Além
disso, essas ações podem prevenir problemas decorrentes da lactação, evitando o des-
mame precoce, potencializando os fatores que facilitam o aleitamento e intervindo
naqueles que dificultam o ato de amamentar (DOMINGUEZ et al., 2017).
Para que se tenha sucesso na prática do AME, é necessário que os profissio-
nais da saúde envolvidos nessa assistência criem vínculo com a puérpera e valorizem
suas crenças e valores para estabelecer uma relação de confiança, compreensão de suas
experiências, e partilham das suas dificuldades, medos e angústias. Como resultado
dessas vivências e experiências ou da falta de informação adequada, podem ocorrer
complicações mamárias durante a lactação, como o ingurgitamento mamário e os trau-
mas mamilares que podem culminar no desmame precoce (FERREIRA et al., 2018;
LIMA et al., 2018).
Somam-se à complexidade da amamentação as questões específicas do puer-
pério, pois, nesse período, a mulher passa por modificações locais e sistêmicas que
visam retornar à fisiologia desta ao período pré-gravídico. Essas transformações en-
volvem aspectos hormonais, genitais e emocionais, tornando o puerpério um período
delicado, em que a mulher fica suscetível a determinados agravos, tanto de origens
endógenas quanto exógenas (VISITIN et al., 2015).
Quanto ao conhecimento sobre os problemas comuns decorrentes da ama-
mentação e o preparo das mamas, observa-se o desconhecimento pela maioria das
puérperas, esse achado é preocupante, pois é durante o pré-natal que a gestante, de
forma individual ou coletiva, deve ser orientada quanto à amamentação e aos cuida-
dos com as mamas (SILVA et al., 2019).

93
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

No sentido de contribuir com a prática da amamentação, ações de educação


em saúde por meio do diálogo, entre os usuários e profissionais, com auxílio de tec-
nologias, podem possibilitar a construção do conhecimento coletivo, desde que os sa-
beres e a realidade desse público sejam respeitados, podendo dessa maneira, haver
mudança de atitude (RODRIGUES et al., 2019; DOMINGUEZ et al., 2017).
Os primeiros dias após o parto são elementares para o sucesso da amamen-
tação, pois são de intenso e constante aprendizado para o binômio. Muitas mulheres
idealizam esse momento e podem vir a se frustrar ao se confrontarem com uma rea-
lidade diferente da imaginada. Dessa forma a visita domiciliar no período puerpe-
ral é imprescindível, pois possibilita conhecer a organização da família com relação
às repercussões decorrentes da chegada do recém-nascido (RODRIGUES et al., 2019;
LUCENA et al., 2018; SKUPIN; RAVELLI; ACAUAN, 2016; DIAS; BOERY; VILELA,
2016). Configura-se como uma estratégia eficaz para apoio e incentivo ao aleitamen-
to materno diminuído o risco de desmame precoce (SKUPIN; RAVELLI; ACAUAN,
2016; DIAS; BOERY; VILELA, 2016; PINHEIRO et al., 2016).
A capacitação de profissionais de saúde tem sido um fator fundamental para a
melhoria dos conhecimentos, habilidades e práticas profissionais e hospitalares, corro-
borando com a capacitação de toda a equipe de cuidados de saúde para a implemen-
tação de normas e rotinas favoráveis à amamentação (JESUS; OLIVEIRA; MORAES,
2017). Na prática clínica dos serviços, ainda é visto um déficit na assistência ao AM,
mostrando a necessidade de capacitação de profissionais para que possam deixar as
nutrizes seguras e assistidas adequadamente quanto as suas dúvidas e dificuldades,
fazendo com que assumam com maior segurança, responsabilidade e prazer esse de-
safio (CHAVES et al., 2019).
Diante disso, para promoção do aleitamento materno, a equipe de Enferma-
gem é de suma importância, pois corrobora em um cuidado holístico à mulher, por
considerar que além do aspecto biológico, a amamentação também necessita de um
equilíbrio nas esferas emocionais e afetivas para que se obtenha uma prática eficaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta revisão, identificou-se que o pré-natal, apoio familiar, consulta puerpe-


ral, visita domiciliar, educação em saúde, educação permanente e tecnologias leves,
configuram-se como as principais ações de Enfermagem para promoção do aleitamen-
to materno. Além disso, observou-se que a Enfermagem exerce um papel transversal
concernente à temática e está presente em todas as etapas do período gravídico-puer-
peral, contribuindo para o êxito da amamentação.

94
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Apesar de reconhecer a relevância da Enfermagem no processo descrito, o pre-


sente estudo alerta para a constante necessidade do trabalho interprofissional e trans-
disciplinar em qualquer que seja a demanda de saúde da população/território, bem
como endossa a relevância da parceria dessa equipe com a rede de apoio ao binômio
mãe-bebê.
Por fim, os estudos elencados nesta pesquisa trouxeram evidências científicas
do papel da equipe de Enfermagem como agente partícipe relevante no aleitamento
materno. Mostraram tanto as vulnerabilidades como as potencialidades que existem
na relação do profissional com a mulher/família nas várias fases que envolvem o ato
de amamentar.

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96
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

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97
CAPÍTULO 7

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA
ASSISTÊNCIA EM MATERNIDADE
PÚBLICA

José Gerfeson Alves


Midiã Souza Barbosa
Ana Beatriz Alves de Oliveira
Ana Karoline Alves da Silva
Herika Bruna Santos Bezerra
Gyllyandeson de Araújo Delmondes
Emanuelly Vieira Pereira

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.7
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A o longo das décadas, a assistência ao parto e nascimento no Brasil foi


marcada por mudanças significativas proporcionadas pelo processo de
institucionalização (LEAL et al., 2019). Com a institucionalização o parto passou a ser
incorporado à prática médica. A transferência no cenário de parto e nascimento do
ambiente domiciliar para as instituições de saúde incluiu novos atores e técnicas na
assistência à parturição, o que reverberou em redução do protagonismo feminino na
vivência do parir, enquanto fenômeno fisiológico, pelo consequente aumento de inter-
venções assistenciais (GONÇALVES et al., 2011).
Este cenário da assistência é prevalentemente tecnológico, por diversas vezes
iatrogênico (VELHO et al., 2019), tornando a mulher parte secundária deste processo
ao vivenciar a parturição em ambiente controlado, envolto por normas e diretrizes
institucionais que a segregam e fazem-na desacreditar na sua capacidade fisiológica
de parir (SENA; TESSER, 2017).
As práticas assistenciais vêm arraigadas de valores culturais estereotipados de
desvalorização e submissão da mulher, crivadas pelas ideologias médica e de gênero
que, por sua vez, cooperam para a perpetuação da violência obstétrica (ZANARDO et
al., 2017). Essa se materializa como qualquer tipo de violência cometida pelo profissio-
nal de saúde sobre o corpo e os processos reprodutivos da mulher durante a assistên-
cia obstétrica ofertada (MENDIRI et al., 2017).
Os profissionais de saúde, legitimados pelo conhecimento técnico-científico
e respaldados nas relações de saber-poder, por vezes, corroboram com a perda da
autonomia da mulher e do livre direito de decidir sobre seu corpo (SENA; TESSER,
2017), contribuindo para a consolidação das diversas formas de violência perpetradas
na assistência ao trabalho de parto e parto (JARDIM; MODENA, 2018).
A violência obstétrica tem se tornado recorrente, porém, ainda se esconde no
interior das instituições públicas e privadas da saúde, como um ato “natural”, inevi-
tável no momento do parto na percepção de algumas mulheres (ESTUMANO et al.,
2017). Assim, as parturientes findam habituando-se ao meio no qual vão parir, acei-
tando intervenções desnecessárias que podem levar a danos ou serem prejudiciais à
saúde (ZANARDO et al., 2017).
Embora haja discussões acerca da humanização da assistência à mulher e ao
recém-nascido, percebe-se ainda prevalência da adesão e incorporação de práticas
obstétricas medicalizadas (VARGENS et al., 2017). As estratégias alternativas possíveis
ainda embatem no modelo de atenção biomédico e hegemônico que tem como foco o

100
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

médico, com o uso demasiado e rotineiro de intervenções e desvalorização dos aspec-


tos fisiológicos do parto e nascimento (ZANARDO et al., 2017).
Os achados dos estudos de Galvão et al. (2019) e Nery e Lucena (2019) aponta-
ram diversos tipos de violências praticadas com alta frequência nos serviços, como a
realização de enema, tricotomia, posição litotômica, impedimento a movimentação e
ausência de privacidade, episiotomia, uso indiscriminado de ocitocina, a manobra de
Kristeller, além de violência física, verbal e psicológica.
Logo, faz-se necessário que gestores institucionais e profissionais atuantes nas
equipes de saúde atuem com compromisso de implantar e implementar efetivamente
boas práticas na assistência obstétrica (ANDRADE; RODRIGUES; SILVA, 2017) que
assegurem a liberdade de escolha, autonomia e protagonismo da mulher (ESTUMA-
NO et al., 2017) integrem condutas multi e interprofissionais, que garantam os direi-
tos do trinômio mãe/pai/filho, efetivando a incorporação do modelo humanizado de
atenção ao parto e nascimento (PEREIRA et al., 2018).
Este estudo justifica-se dada a necessidade emergente de identificar ocorrên-
cias de violência obstétrica vivenciadas por mulheres durante as fases clínicas do par-
to, e desse modo, elencar discussões acerca da autonomia feminina na condução da
parturição, valorização do parir enquanto evento fisiológico, bem como disseminar
informações que permitam a mulher identificar práticas profissionais realizadas du-
rante esse processo que figuram violência e aos profissionais atuantes na assistência
obstétrica (re)pensarem seu fazer cotidiano de modo a subsidiar a elaboração de es-
tratégias de enfrentamento para transformações da assistência ofertada, com vistas à
prevenção e com o escopo de ressignificar a assistência obstétrica por suscitar reflexões
acerca da implementação efetiva da humanização da atenção à saúde materno-infantil
no cenário de assistência ao parto institucionalizado.
Logo, objetivou-se identificar condutas relacionadas à violência obstétrica rea-
lizada por profissionais de saúde em uma maternidade pública.

MÉTODO

Estudo transversal com abordagem quantitativa, realizado no centro de parto


normal e no alojamento conjunto de um Hospital Regional municipal da Região Cen-
tro-Sul Cearense.
A coleta de dados ocorreu de março a maio de 2019. Para determinação do
tamanho da amostra utilizou-se a fórmula para população finita. Considerou-se a pro-
porção dos resultados desfavoráveis na população (50%), o grau de confiança de 95%

101
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

e o erro padrão de 5%. A amostragem foi do tipo aleatório simples e a coleta foi reali-
zada em dias alternados por colaboradores previamente capacitados.
Foram abordadas 129 puérperas. A amostra foi composta por 58 puérperas
que pariram na referida instituição. Como critérios de exclusão utilizou-se: realizar
preenchimento incompleto dos instrumentos de coleta de dados (n=16), idade infe-
rior a 20 anos (n=16), puerpério imediato (n=15), condições de saúde apresentadas no
momento da coleta que impossibilitaram o preenchimento dos instrumentos (n=13) e
analfabetas (n=11), totalizando 71 puérperas excluídas.
Para coleta de dados utilizou-se um formulário de elaboração própria que
apresentava as variáveis: cidade e zona de residência, estado civil, religião, orientação
sexual, número de parceiro/a(s) sexual(is), idade da primeira relação sexual, número
de partos, tipo(s) de parto(s) anterior(es) e número de aborto(s) e um questionário de
avaliação de violência no parto, validado por Palma e Donelli (2017), o qual contin-
ha variáveis sociodemográficas (nível socioeconômico, escolaridade e renda familiar),
questões de caráter clínico (tipo de parto, idade gestacional do parto, local e data do
parto, número de gestações e abortos anteriores, complicações durante a gestação e/
ou parto, e profissional que assistiu o parto) (PALMA; DONELLI, 2017). Esse último
estudo fora desenvolvido para ser aplicado online, sendo a aplicação neste estudo rea-
lizada de forma direta.
As participantes foram esclarecidas sobre os objetivos do estudo, leram e as-
sinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e o Termo de Consentimento
Pós-esclarecido, participando voluntariamente da pesquisa.
Os dados foram tabulados utilizando o programa Microsoft® Office Excel ver-
são 2007 por dois pesquisadores de modo a permitir a dupla conferência. O agrupa-
mento, organização e processamento dos dados foram feitos utilizando-se o programa
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos),
versão 25.0. Utilizou-se a estatística descritiva de frequência (absoluta e relativa), me-
didas de tendência central (valores máximos e mínimos, média) e desvio padrão.
Os dados foram apresentados em tabelas elaboradas no Microsoft® Office Word
versão 2007, analisados de forma descritiva-interpretativa e discutidos conforme a li-
teratura pertinente.
Este estudo constitui recorte de dados obtidos pela realização do Projeto de
Iniciação Científica “Violência obstétrica no trabalho de parto e parto institucionalizado”. A
pesquisa foi aprovada com parecer n° 3.148.107/2019 emitido pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Regional do Cariri (URCA).

102
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

RESULTADOS

Participaram do estudo 58 puérperas. Os dados de caracterização sociodemo-


gráficas das participantes estão expostos na tabela 01.

TABELA 01 – Perfil sociodemográfico das puérperas. Iguatu- CE, 2019.


Tabela 01 – Perfil sociodemográfico das puérperas. Iguatu- CE, 2019.
VARIÁVEL N %
Idade
Não informou 02 3,4
20 anos 05 8,6
21-31 anos 30 51,7
31-40 anos 20 34,4
>40 anos 01 1,7
Residência
Urbana 38 65,5
Rural 20 34,5
Estado civil
Solteira 12 20,6
Casada/união estável 46 79,3
Renda familiar
≤1 SM 34 58,6
1-2 SM 07 12,06
2-3 SM 03 5,17
≥3 SM 01 1,70
Não possui renda 01 1,70
Não informou 12 20,6
Escolaridade
Fundamental incompleto 11 18,3
Fundamental completo 08 13,3
Ensino médio incompleto 03 5,0
Ensino médio completo 26 45
Superior incompleto 01 1,7
Superior completo 02 3,3
Não informou 07 13,3
Religião
Católica 43 74,1
Evangélica 13 22,4
Outras 02 3,4
Trimestre gestacional de ocorrência do parto
Primeiro 01 1,7
Segundo 01 1,7
Terceiro 56 96,5
n=58 participantes.
*Considerou-se o Salário Mínimo (SM) de R$ 980,00 reais, vigente no ano da coleta de dados.
Fonte: Pesquisa direta.

A faixa etária das participantes variou de 20 a 42 anos com predominância de


puérperas na faixa etária de 21 a 31 anos (n=30, 51,7%), residentes em zona urbana (n=
38, 65,5%), com companheiro fixo (n=46, 79,3%) seja por união formal ou não formal e
católicas (n=43, 74,1%). Verificou-se predomínio de condição econômica desfavorável
com renda mensal familiar predominantemente inferior a um salário mínimo (n=34,
56,8%), 1,7% (n=01) não possuíam renda e 20,6% (n=12) não informaram a renda. Com
relação à escolaridade, a maioria das mulheres havia concluído o ensino médio (n=26,
45%).

103
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Quanto à idade gestacional vigente na ocorrência do parto 96,5% das partici-


pantes (n=56) pariram a termo.
Quanto aos aspectos do comportamento sexual das participantes do estudo,
evidencia-se o relacionamento atual heterossexual (n=57, 98,3%) e homossexual (n=01,
1,7%), e a orientação sexual heterossexual (n= 54, 93,1%), homossexual (n=01, 1,7%) e
bissexual (n=03, 5,2%).
A multiplicidade de parceiros sexuais foi referida por 44,8% das participantes
(n= 26), variando de dois a seis parceiros (n=26, 44,8%), sendo a monogamia (n=16,
27,6) ou ausência de parceiro (n=16, 27,6) equiparada na amostra. A média de par-
ceiros se concentra em 1,74 e o desvio padrão em ±1,63 parceiros. Na tabela 02 veri-
ficam-se dados das participantes do estudo inerentes a aspectos clínico-obstétricos e
assistência obstétrica recebida.
TABELA
Tabela 02 – Dados 02 – Dados
clínicos clínicos das
das participantes doparticipantes do estudo.
estudo. Iguatu-CE, 2019.Iguatu-CE, 2019.
VARIÁVEL N %
Tipo de parto
Normal (sem indução) 20 34,5
Normal (com indução) 09 15,5
Cesárea (após entrar em trabalho de parto) 08 13,8
Cesárea agendada 06 10,3
Cesárea de emergência 10 17,2
Não informado 05 8,6
Preferência de parto no início da gestação
Normal 34 58,6
Cesárea 21 36,2
Não informado 03 5,20
Preferência de parto no final da gestação
Normal 36 62,1
Cesárea 22 37,9
Duração da gestação
200-230 dias 17 29,3
231-252 dias 39 67,2
Não informado 02 3,40
Complicações durante a gestação
Sim 20 34,5
Não 38 65,5
Complicações durante o parto/cesárea
Sim 04 6,90
Não 54 93,1
Categoria profissional que ofertou assistência durante o parto*
Médico(a) obstetra 20 34,5
Enfermeiro (a) obstetra 19 32,8
Não informou 11 19,0
Enfermeiro e medico 05 8,60
Parteira 01 1,70
Obstetriz 01 1,70
Não sabe 01 1,70
*Algumas participantes informaram mais de um profissional.
n=58 participantes.
Fonte: Pesquisa direta.

104
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Os partos ocorridos foram realizados com idades gestacionais entre 38 sema-


nas e 5 dias a 42 semanas gestacionais, sendo mais recorrentes os evidenciados entre
231 e 252 dias (n=39, 67,2%). Dentre as vias de parto, destaca-se a vaginal como mais
prevalente (n=29, 50%). Desses 34,5% (n=20) ocorreram espontaneamente. Já o nasci-
mento por via cirúrgica ocorreu predominantemente em casos de emergência (n=10,
17,2%), seguido por não progressão do trabalho de parto (n=08, 13,8%).
Embora não tenha se investigado a relação entre essas variáveis, o parto cesá-
reo de emergência pode estar atrelado à porcentagem de intercorrências na gestação
(n=20, 34,5%). As complicações durante o parto cesárea, embora não especificadas,
foram mencionadas por quatro participantes (6,9%).
Quanto à escolha da via de parto pela mulher predominou tanto no início
(n=34,58%) quanto no final da gestação (n=36, 62,1%) o parto vaginal, dos quais, con-
forme referido pelas participantes (n=20, 34,5%) foram assistidos pelo profissional
médico(a) obstetra (n=19, 32,8%) e pelo enfermeiro especialista em obstetrícia (n=19,
32,8%).
Na tabela 03 evidenciam-se as práticas e condutas abusivas sofridas pelas par-
ticipantes do estudo durante a assistência obstétrica recebida na maternidade.
Tabela 03 – Condutas realizadas pelos profissionais de saúde durante a assistência prestada. Iguatu-CE,
Tabela 03 – Condutas realizadas pelos profissionais de saúde durante a assistência prestada. Iguatu-
2019. -CE, 2019.

VARIÁVEL N %
Durante o trabalho de parto
Foi impossibilitada de caminhar 06 10,3
Foi impossibilitada de procurar posições mais confortáveis segundo as suas
06 10,3
necessidades
Não se aplica 46 79,4
Durante o trabalho e parto foram realizados os seguintes procedimentos
médicos sem consentimento*
Enema 01 1,7
Tricotomia 02 3,4
Uso de ocitocina 03 5,2
Toque vaginais repetitivos 05 8,6
Toques vaginais realizados por diferentes pessoas 01 1,7
Proibição para ingerir alimentos ou bebidas 04 6,9
Rompimento artificial da bolsa 06 10,3
Apertaram ou subiram na sua barriga para “ajudar” o bebê a nascer 03 5,2
Episiotomia 00 0,0
Cesárea 07 12,1
Corte imediato no cordão umbilical 07 12,1
Durante o PERÍODO “EXPULSIVO”, ou seja, no momento de fazer força
para o bebê nascer, você
Fui privada da possibilidade de adotar a postura mais confortável para você
03 5,2
realizar os puxos (fazer força)
Teve “puxos digeridos” pelo profissional de saúde, ou seja, ele dizia a
05 8,6
frequência e o modo como você devia fazer força, sem respeitar seu ritmo
Não se aplica 50 86,2
Relembrando sua CESÁREA*
Começaram a cortar o seu abdômen, sem esperar a anestesia “fazer efeito” 02 3,4
Apertaram ou subiram na sua barriga para “ajudar” o bebê a nascer 04 6,9
Presença de conversas paralelas entre os profissionais sobre outros assuntos 03 5,2
Manter suas mãos amarradas, impedindo que tocasse seu bebê 04 6,9
Realizaram procedimentos sem seu consentimento 105 ou sem explicar por que 02 3,4
eram necessários
Relembrando o MOMENTO LOGO APÓS O NASCIMENTO*
Corte imediato no cordão umbilical 07 12,1
Durante o PERÍODO “EXPULSIVO”, ou seja, no momento de fazer força
para o bebê nascer, você
Fui privada da possibilidade de adotar a postura mais confortável para você
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane
03 Barbosa5,2de Sousa
realizar os puxos (fazer força)
Teve “puxos digeridos” pelo profissional de saúde, ou seja, ele dizia a
05 8,6
frequência e o modo como você devia fazer força, sem respeitar seu ritmo
Não se aplica 50 86,2
Relembrando sua CESÁREA*
Começaram a cortar o seu abdômen, sem esperar a anestesia “fazer efeito” 02 3,4
Apertaram ou subiram na sua barriga para “ajudar” o bebê a nascer 04 6,9
Presença de conversas paralelas entre os profissionais sobre outros assuntos 03 5,2
Manter suas mãos amarradas, impedindo que tocasse seu bebê 04 6,9
Realizaram procedimentos sem seu consentimento ou sem explicar por que 02 3,4
eram necessários
Relembrando o MOMENTO LOGO APÓS O NASCIMENTO*
Teve o contato com seu bebê adiado, para que o profissional realizasse 08 13,8
procedimentos desnecessários ou que poderiam esperar
Teve o seu bebê levado imediatamente para a sala de procedimentos, sem 02 3,4
que nenhum profissional lhe explicasse o que estava acontecendo com ele
*Algumas participantes que não passaram pela situação ou informaram mais de uma resposta.
n=58 participantes.
Fonte: Pesquisa direta.
Com base na tabela 04, verificam-se os seguintes tipos de violência: violência
física (n=40, 68,9%), violência moral (n=34, 58,5%), violência sexual (n=07, 12%), vio-
lência psicológica e verbal (n=03, 5,8%).
Na amostra em estudo, sobressaem-se as seguintes práticas: 12,1% (n=07) re-
lataram parto cesárea e 12,1% (n=07) corte imediato do cordão umbilical sem consen-
timento, 10,3% (n=06) tiveram sua mobilidade e ou adoção de posições confortáveis
restritas.
Evidenciaram-se práticas que impossibilitaram o contato pele a pele precoce
recomendado na primeira hora de vida, visto que 13,8% (n=10) das mulheres tiveram
o contato com o bebê adiado para que o profissional realizasse procedimentos “desne-
cessários” ou que poderiam esperar para ser realizado posteriormente, e 6,9% (n=04)
mantinham as mãos amarradas sendo impedidas de tocar o bebê.
Dentre as intervenções direcionadas erroneamente a “acelerar” o trabalho de
parto verificou-se que 8,6% (n=05) referiram “puxos” dirigidos por profissionais de
saúde, sem respeitar o ritmo da mulher, 6,9% (n=04) relataram que os profissionais
realizaram manobra de Kristeller para “ajudar” o bebê a nascer.
A tabela 04 expõe dados referentes a sentimentos e situações vivenciadas pelas
participantes durante o trabalho de parto e parto.

106
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

TABELA 04 – Situações vivenciadas com alguns profissionais de saúde. Iguatu-CE, 2019.


Tabela 04– Situações vivenciadas com alguns profissionais de saúde. Iguatu-CE, 2019.
VARIÁVEL NÃO SIM NÃO
RESPONDEU
N % N % N %
Sentiu-se ameaçada 56 96,6 02 3,4 00 00
Gritaram com você 57 98,3 01 1,7 00 00
Mandaram você parar de gritar 53 91,4 03 5,2 02 3,4
Fizeram piada com o seu 01 1,6
54 93,1 03 5,2
comportamento
Criticaram você por seus lamentos ou 00 00
57 98,3 01 1,7
choros de dor
Fizeram comentários irônicos em tom de 00 00
56 96,6 02 3,4
deboche
Chamaram você por algum apelido 00 00
56 96,6 02 3,4
desagradável
Impediram a presença de acompanhante 55 94,8 03 5,2 00 00
n=58 participantes.
Fonte: Pesquisa direta.

Verifica-se na tabela 04 que as taxas de situações que caracterizariam vivência


de violência obstétrica são baixas. Observam-se os tipos de violência: violência psico-
lógica (n=2, 3,4%), violência psicológica e verbal (n=07, 12,1%), violência verbal (n=01,
1,7%), violência verbal e moral (n=02, 3,4%), violência moral (n=02, 3,4%) e violência
institucional (n=03, 5,2%). Assim, tem-se que a predominância maior para gritos repri-
midos pelos profissionais, piadas com seu comportamento e impedimento do acompa-
nhante, com 5,2% (n=03) de ocorrência.

DISCUSSÃO

Com relação à categorização da violência obstétrica, realizada por esse estu-


do, as práticas que prevaleceram foram aquelas realizadas sem o consentimento da
parturiente, com destaque a cesariana e corte imediato do cordão umbilical, dado esse
que corrobora com outro estudo onde essa categoria também foi a mais prevalente
(LANSKY et al., 2019).
Embora haja predominância de respostas negativas para ameaças, gritos, pia-
das, críticas, deboches, apelidos desagradáveis e impedimento da presença do acom-
panhante, deve-se considerar que a ocorrência dessas formas de violência, podem oca-
sionar transtornos irreparáveis para a mulher. Dessa forma a violação de seus direitos,
mediante violência obstétrica durante o cenário de parto, pode levar a mulher a de-
senvolver diversos quadros de sentimentos negativos, tais como se sentir humilhada,
impotente, desrespeitada, desorientada, receosa em relação a uma próxima gestação
(LEAL et al., 2018).
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014) gestantes de todo o mun-
do sofrem algum tipo de abuso, maus-tratos e negligência durante o processo de par-

107
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

to nas instituições, sejam públicas ou privadas. E essas práticas podem resultar em


adversas consequências para o binômio mãe-feto, por se tratar de um momento de
grande vulnerabilidade para a mulher. A morbimortalidade materna pode ser resulta-
do de violência obstétrica quando assume um risco adicional aos eventos adversos do
manejo agressivo no parto vaginal como a realização da manobra de Kristeller, fórceps
e episiotomia; parto manipulado de forma agressiva; negligência em atender mulheres
que pedem ajuda de forma insistente e no impedimento a presença de um acompa-
nhante (DINIZ et al., 2015); bem como na cesárea, quando os profissionais optam por
essa via de parto, a fim de otimizar o tempo da equipe, tendo em vista que o trabalho
de parto é um processo mais prolongado, e também com a realização da laqueadura
tubária executada de forma clandestina (ZANARDO et al., 2017).
Observa-se que as mulheres muitas vezes não conseguem reconhecer situa-
ções de violência, pois já culturalmente estão acostumadas a ter o seu corpo a favor
do outro. No entanto, só quando descobrem que o parto poderia ser de outra maneira,
é que as puérperas percebem a violação sofrida (ALVARENGA; KALLI, 2016). Para
algumas enfermeiras obstetras, as realizações dessas práticas ocorrem de forma corri-
queira, pois as mesmas não as reconhecem como uma violência e entendem estarem
prestando ajuda à mulher diante de possíveis complicações (LEAL et al., 2018).
Outras tentativas de justificar tais práticas, realizadas pelos profissionais de
saúde, são a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos humanos, esgotamento físico e
mental, infraestrutura inadequada das instituições e condições precárias para realizar
o atendimento à mulher (JARDIM; MODERNA, 2018).
É importante reforçar a necessidade da humanização na assistência ao parto
e nascimento, com vista a proporcionar o protagonismo e o empoderamento da mu-
lher em relação ao seu corpo, a gestação e o processo de nascimento. Sendo assim, se
sentirão mais apoiadas e seguras quanto a autonomia do seu corpo, seus desejos no
momento do parto da forma que planejou. Também ressalta a importância que as mu-
lheres possam conhecer seus direitos, desde o pré-natal até o pós-parto, que consigam
reconhecer situações de violência obstétrica e realize denúncia sem serem intimidadas
(ZANARDO et al., 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante os dados expostos, constata-se que embora reduzido o índice de vio-


lência obstétrica, ainda se nota sua prevalência nas condutas perpetradas por profis-
sionais de saúde na assistência obstétrica ofertada em maternidade pública. A análise
proposta permitiu compreender que mesmo com a não indicação da realização dessas
práticas, as mesmas ainda persistem nos dias atuais de forma corriqueira, por vezes

108
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

naturalizada e invisibilizada, o que pode comprometer a qualidade da assistência ofer-


tada.
Por esse motivo ressalta-se a importância da disseminação dessa problemáti-
ca, através da divulgação em mídias sociais, em consultas pré-natais como algo obri-
gatório a ser discutido, bem como em grupos de gestantes. Apoiar e incentivar as boas
práticas na assistência ao pré-parto, parto e pós-parto, a fim de reduzir intervenções
desnecessárias, a realização da cesariana sem indicação e morbimortalidade evitável,
tornando a experiência desse momento prazerosa para as mulheres.
Apontam-se como limitação o tamanho da amostra. Nesse sentido, ressalta-se
a importância da realização de pesquisas que envolvam essa temática, com um tama-
nho amostral maior, para estabelecer relações significativas ao estudo.

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110
CAPÍTULO 8

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO PARTO


CESÁREO

José Gerfeson Alves


Midiã Souza Barbosa
Ana Beatriz Alves de Oliveira
Ana Karoline Alves da Silva
Herika Bruna Santos Bezerra
Gyllyandeson de Araújo Delmondes
Emanuelly Vieira Pereira

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.8
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

D urante a gravidez, a mulher planeja como será sua nova rotina de vida
a partir do parto, visto que esse é considerado um evento do ciclo vital
feminino que reverbera em (re)adaptação tanto em aspectos da vida cotidiana como
nos aspectos psicossociais e funções fisiológicas (SOUZA et al., 2018).
O parto pode ser realizado de forma natural, no qual a mulher entra em tra-
balho de parto espontaneamente, ou por cesariana, que constitui em procedimento
cirúrgico, invasivo e intervencionista a ser realizado mediante indicações pautadas em
evidências científicas (VICENTE; LIMA; LIMA, 2017).
Até o final do século XIX o parto tratava-se de um evento familiar de âmbito
domiciliar realizado por parteiras em que a mulher era protagonista do processo. Com
a institucionalização do parto em ambiente hospitalar e a oferta de assistência por
profissionais da área da saúde, emergiram intervenções desnecessárias culminando na
medicalização do parto e nascimento (FILGUEIRAS; FARIA, 2019).
Salienta-se que a assistência obstétrica deve ser humanizada desde o pré-natal,
onde a mulher estabelece vínculo com os profissionais pré-natalistas, expressa senti-
mentos e anseios, e planejam juntos a escolha da via de parto. Apesar da realização de
cesáreas sem indicação de presença de riscos à saúde materna e fetal, faz-se necessário
orientar e respeitar a escolha da mulher em relação ao tipo de parto (SOUZA et al.,
2018).
A realidade do cuidado obstétrico no Brasil é marcada por uma assistência
com intervenções cirúrgicas exorbitantes, e que muitas vezes reverberam em humilha-
ção e desrespeito ao corpo feminino (ZANARDO et al., 2017), sendo a gestação vista
como um processo inseguro que necessita de intervenções médicas para o nascimento
e garantia da vida da mãe e do filho (BRANDT et al., 2018).
A cesariana constitui procedimento cirúrgico que na rotina dos serviços de
saúde ocorre predominantemente de forma eletiva. Essa realidade, que deveria ser
considerada somente quando necessária, em virtude de complicações na progressão
do trabalho de parto vaginal ou complicações para a mãe ou o bebê que o impossibi-
litem, repercute na epidemia dessa técnica no país, tendo em vista sua naturalização
e frequência de realização (GUEDES, 2018). O crescente número de cesáreas desne-
cessárias no país indica o aumento da violência obstétrica (ZANARDO et al., 2017),
pois na maioria das vezes a mulher não apresenta fatores de risco que justifiquem sua
realização (GUEDES, 2018).

112
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

O parto cesáreo associa-se a eventos indesejáveis para a mãe e seu filho, como
complicações no sistema respiratório, nascimento de neonatos prematuros, com bai-
xo peso, além de elevada incidência de infecções maternas e perinatais. No entanto,
essa tem sido a via de parto de escolha predominante tanto pela gestante como pelos
profissionais da saúde, justificada por ser um procedimento que não demanda muito
tempo e associado pela mulher a redução do medo e dor quando comparado ao parto
normal (OLIVEIRA; PENNA, 2018). Além disso, a realização de parto cesárea anterior
e a presença de complicações maternas como hipertensão arterial, diabetes mellitus e
depressão durante a gestação aumentam a chance de realização de cesariana nos ser-
viços públicos de saúde (OLIVEIRA et al., 2016).
Considerando a necessidade de assistência humanizada à parturiente, com
vistas a garantir direitos assistenciais, sexuais e reprodutivos, e autonomia, de modo a
contribuir para que a mulher vivencie um parto seguro e prazeroso mesmo na iminên-
cia de parto cesárea, objetivou-se identificar condutas relacionadas à violência obsté-
trica realizadas por profissionais de saúde durante o parto cesáreo.

MÉTODO

Estudo transversal com abordagem quantitativa. A coleta de dados ocorreu


nos meses de março a maio de 2019 no centro de parto normal e no alojamento conjun-
to de um hospital regional municipal localizado na Região Centro-Sul Cearense.
Para determinação do tamanho da amostra utilizou-se a fórmula para popu-
lação finita. Considerou-se a proporção dos resultados desfavoráveis na população
(50%), o grau de confiança de 95% e o erro padrão de 5%. A amostragem foi do tipo
aleatória simples e a coleta foi realizada em dias alternados por colaboradores previa-
mente capacitados.
Foram abordadas 129 puérperas. Foram excluídos instrumentos com preenchi-
mento incompleto (n=16), mulheres com idade inferior a 20 anos (n=16) em puerpério
imediato (n=15) ou com condições de saúde apresentadas no momento da coleta que
impossibilitaram o preenchimento dos instrumentos (n=13) e analfabetas (n=11). Den-
tre as 58 elegíveis, excluíram-se ainda as que vivenciaram parto vaginal (n=30) com
vistas a responder o objetivo do estudo, totalizando 104 puérperas excluídas. Assim, a
amostra foi composta por 25 puérperas que pariram na referida instituição durante o
período de coleta de dados.
Para coleta de dados utilizou-se um formulário de elaboração própria que
apresentava as variáveis: cidade e zona de residência, estado civil, religião, orientação
sexual, número de parceiro/a(s) sexual(is), idade da primeira relação sexual, número

113
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

de partos, tipo(s) de parto(s) anterior(es) e número de aborto(s) e um questionário


de avaliação de violência no parto validado por Palma e Donelli (2017) que contin-
ha variáveis sociodemográficas (nível socioeconômico, escolaridade e renda familiar),
questões de caráter clínico (tipo de parto, idade gestacional do parto, local e data do
parto, número de gestações e abortos anteriores, complicações durante a gestação e/
ou parto, e profissional que assistiu o parto). Esse último fora desenvolvido para ser
aplicado online, sendo a aplicação neste estudo realizada de forma direta (PALMA;
DONELLI, 2017).
As participantes foram esclarecidas sobre os objetivos do estudo, leram e as-
sinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e o Termo de Consentimento
Pós-esclarecido participando voluntariamente da pesquisa.
Os dados foram tabulados utilizando o programa Microsoft® Office Excel ver-
são 2007 por dois pesquisadores de modo a permitir a dupla conferência conferindo
rigor metodológico a essa etapa do estudo. O agrupamento, organização e processa-
mento dos dados foram feitos utilizando-se o programa estatístico Statistical Package
for the Social Sciences (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos) versão 25.0. Utilizou-se a
estatística descritiva de frequência (absoluta e relativa), medidas de tendência central
(valores máximos e mínimos, média) e desvio padrão.
Os dados foram apresentados em tabelas elaboradas no Microsoft® Office Word
versão 2007, analisados de forma descritivo-interpretativa e discutidos conforme a li-
teratura pertinente.
Este estudo constitui recorte de dados obtidos pela realização do Projeto de
Iniciação Científica “Violência obstétrica no trabalho de parto e parto institucionalizado”. A
pesquisa foi aprovada com parecer n° 3.148.107/2019 emitido pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Regional do Cariri (URCA).

RESULTADOS

Participaram do estudo um total de 25 puérperas. O perfil do grupo em estudo


é predominantemente de mulheres com faixa etária entre 21 e 30 anos (52%), residen-
tes em zona urbana (76%), casadas ou em união estável (72%) e católicas (88%). 44%
das mulheres relataram apresentar renda inferior ou igual a um salário mínimo; 20%
entre um e dois salários mínimos e apenas 8% apresentavam renda entre dois e três
salários mínimos.
Com relação à escolaridade, 40% das entrevistadas não concluíram o ensino
médio e 16% delas não informaram o nível de escolaridade. Em relação ao comporta-
mento sexual, verificou-se predominância de relacionamento afetivo (96%) e sexual

114
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

(92%) do tipo heterossexual. Quanto à quantidade de parceiros sexuais, a maioria


apresentava de dois a seis parceiros (56%) e 32% nenhum parceiro.
Quanto aos dados relacionados à aspectos clínico-obstétricos e assistência obs-
tétrica recebida. Em relação ao tipo de parto realizado, verifica-se que 44% das entre-
vistadas realizaram uma cesárea de emergência; sendo que 92% pariram no segundo
trimestre de gestação.
Em relação a preferência de parto, no início da gestação, 60% das mulheres
referiam desejo pela realização do parto via vaginal, o que prevaleceu até o fim da
mesma. 10 participantes (40%) relataram a presença de complicações durante a gesta-
ção e apenas 12% apresentaram algum tipo de intercorrência durante o parto/cesárea,
embora não especificada.
A maioria das mulheres são multíparas, com duas ou mais gestações (56%);
com predominância de 48% terem realizado apenas um parto e 84% delas não sofre-
ram nenhum aborto. Os dados mostram que com referência a categoria profissional
que prestou assistência, as entrevistadas identificaram mais de um profissional, onde
em todos os partos havia a presença de um obstetriz e uma parteira; em 20% havia a
presença do profissional médico obstetra, o que se mostra contraditório, uma vez que
o mesmo é o responsável pela realização do procedimento da cesárea e uma mulher
(4%) citou a presença do(a) enfermeiro(a) obstetra.
Na tabela 01 evidencia-se as práticas e condutas abusivas sofridas pelas parti-
cipantes do estudo durante a assistência obstétrica recebida na maternidade.

115
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Tabela 01 – Condutas realizadas por profissionais de saúde durante a assistência obstetra. Iguatu-CE,
Tabela 01 – Condutas realizadas por profissionais de saúde durante a assistência obstetra. Iguatu-CE,
2019. 2019.
VARIÁVEL N %
Durante o trabalho de parto
Foi impossibilitada de caminhar 01 04
Foi impossibilitada de procurar posições mais confortáveis segundo as suas
01 04
necessidades
Não se aplica 23 92
Durante o trabalho e parto foram realizados os seguintes procedimentos
médicos sem consentimento*
Enema 01 04
Tricotomia 01 04
Uso de ocitocina 00 00
Toque vaginais repetitivos 02 08
Toques vaginais realizados por diferentes pessoas 01 04
Proibição para ingerir alimentos ou bebidas 02 08
Rompimento artificial da bolsa 01 04
Apertaram ou subiram na sua barriga para “ajudar” o bebê a nascer 01 04
Episiotomia 00 00
Cesárea 04 16
Corte imediato no cordão umbilical 01 04
Durante o PERÍODO “EXPULSIVO”, ou seja, no momento de fazer força
para o bebê nascer, você
Fui privada da possibilidade de adotar a postura mais confortável para
01 04
você realizar os puxos (fazer força)
Teve “puxos digeridos” pelo profissional de saúde, ou seja, ele dizia a
01 04
frequência e o modo como você devia fazer força, sem respeitar seu ritmo
Não se aplica 23 92
Relembrando sua CESÁREA*
Começaram a cortar o seu abdômen, sem esperar a anestesia “fazer efeito” 02 08
Apertaram ou subiram na sua barriga para “ajudar” o bebê a nascer 03 12
Presença de conversas paralelas entre os profissionais sobre outros 03 12
assuntos
Manter suas mãos amarradas, impedindo que tocasse seu bebê 02 08
Realizaram procedimentos sem seu consentimento ou sem explicar por que 01 04
eram necessários
Relembrando o MOMENTO LOGO APÓS O NASCIMENTO*
Teve o contato com seu bebê adiado, para que o profissional realizasse 04 16
procedimentos desnecessários ou que poderiam esperar
Teve o seu bebê levado imediatamente para a sala de procedimentos, sem 02 08
que nenhum profissional lhe explicasse o que estava acontecendo com ele
*Algumas participantes que não passaram pela situação ou informaram mais de uma resposta.
n=25 participantes.
Fonte: Pesquisa direta.

Com base na tabela 01, apresenta-se a prevalência das seguintes práticas: rea-
lização de cesárea sem o consentimento da parturiente (16%); teve o contato com seu
bebê adiado, para que o profissional realizasse procedimentos desnecessários ou que
poderiam esperar (16%); durante a cesárea, apertaram ou subiram na barriga para
ajudar o bebê a nascer, o que caracteriza a manobra de Kristeller (12%); presença de
conversas paralelas sobre outros assuntos (12%); toques vaginais repetitivos (8%);
proibição para ingerir alimentos ou bebidas (8%); começaram a cortar o abdômen sem
esperar a anestesia fazer efeito (8%); mantinham as mãos amarradas sendo impedidas
de tocar o bebê (8%); tiveram o seu bebê levado imediatamente para a sala de proce-

116
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

dimentos, sem que nenhum profissional lhe explicasse o que estava acontecendo com
ele (8%).
O quadro abaixo (QUADRO 01) contém as informações inerentes a sentimen-
tos e situações vivenciadas pelas participantes durante o trabalho de parto e parto.
Quadro 01– Situações vivenciadas por parturientes durante atendimentos ofertados por profissionais
QUADRO 01 – Situações vivenciadas por parturientes durante atendimentos ofertados por profissio-
de saúde. IGUATU, 2019. nais de saúde. IGUATU, 2019.
VARIÁVEL NÃO SIM NÃO
RESPONDEU
N % N % N %
Sentiu-se ameaçada 56 96,6 02 3,4 0 0
Gritaram com você 57 98,3 01 1,7 0 0
Mandaram você parar de gritar 53 91,4 03 5,2 02 3,4
Fizeram piada com o seu 01 1,6
54 93,1 03 5,2
comportamento
Criticaram você por seus lamentos ou 00 00
57 98,3 01 1,7
choros de dor
Fizeram comentários irônicos em tom 00 00
56 96,6 02 3,4
de deboche
Chamaram você por algum apelido 00 00
56 96,6 02 3,4
desagradável
Impediram a presença de 00 00
55 94,8 03 5,2
acompanhante
n=25 participantes.
Fonte: Pesquisa direta.
Verifica-se no quadro 01, a presença dos seguintes tipos de violência: violência
psicológica e verbal (68%), violência institucional (8%), violência moral (8%). Sendo as-
sim, têm-se prevalência maior para sentir-se inferior, vulnerável, insegura (24%); sen-
tir-se exposta e sem privacidade (16%) e não receber respostas ou recebê-las mal (12%).
Os dados expostos, apontaram baixos índices de violência obstétrica, porém
constata-se que essas práticas abusivas ainda são corriqueiras nas maternidades.

DISCUSSÃO

O Brasil passa por uma verdadeira “epidemia” de cesarianas por ser o se-
gundo país no mundo com maior taxa dessas operações. Essas representam uma taxa
atual de 55% do total de partos. Na década de 1970 essa taxa era de 4%, o que eviden-
cia aumento significativo em sua realização. Essas taxas são preocupantes quando se
considera que o preconizado pela comunidade médica internacional desde 1985 é a
ocorrência de cesáreas entre 10% e 15% (BRASIL, 2016; OMS, 2015; ANS, 2016).
A realização de cesáreas sem evidências científicas que a indiquem como a
melhor via de parto, constitui uma forma de violência obstétrica (ZANARDO et al.,
2017; JARDIM; MODENA, 2018; SENS; STAMM, 2019). Nesse sentido, para monito-
ramento e avaliação das taxas de cesáreas foi desenvolvida por Michael Robson, em

117
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

2001, uma escala denominada Classificação de Robson. Essa classifica as parturientes


em dez grupos de acordo com suas características obstétricas. Para que essas sejam
categorizadas em grupos são considerados os antecedentes obstétricos, números de
fetos, apresentação fetal, idade gestacional (IG) e início do trabalho de parto (PINTO
et al., 2020). O estudo de Algaves e Lima-Filho (2019) relata a facilidade de uso desta
classificação para a avaliação crítica da prática obstétrica, além de guiar a elaboração
de estratégias específicas para cada grupo, resultando assim na redução das taxas de
cesariana.
Segundo Brasil (2016) as indicações reais de cesariana são: prolapso de cor-
dão com dilatação não completa, descolamento da placenta fora do período expulsivo
(DPP), placenta prévia parcial ou total, ruptura de vasa prévia apresentação córmica
(situação transversa), herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o
trabalho de parto e as urgências e emergências obstétricas mediante avaliação criterio-
sa do profissional de saúde.
Contudo, a pesquisa Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nasci-
mento revela que apesar das altas taxa de cesariana predominarem de 34 a 36 semanas
gestacionais, apenas 27% das mulheres optaram pelo parto cirúrgico, destacando a
influência exercida pelos médicos (“detentor do conhecimento”) como fator relevante
para a desproporção entre a preferência inicial pelo parto normal e o resultado final de
prevalência das cesarianas (DOMINGUES et al., 2014).
Estudos apontaram que os motivos de preferência pela escolha da via de parto
cesárea são o medo do parto vaginal, na maioria das vezes relacionado a vivências
negativas anteriores próprias, de amigas ou familiares; o planejamento do parto com a
presença do médico que realizou o pré-natal; a intenção de realizar a laqueadura tubá-
ria; cesárea anterior; preferência do marido; problemas de saúde preexistentes (sem in-
dicação real a cesariana), bem como manter a integridade da função sexual (SCHUTZ;
PORCIUNCULA, 2020; JESUS SILVA; MELO, 2019).
Quando o parto cesáreo ocorre sem indicação, configura-se violência obstétri-
ca. Observa-se que, muitas vezes, a violência obstétrica está atrelada ao desconheci-
mento das parturientes sobre seus direitos e à falta de informação e orientações acerca
dos procedimentos realizados sem necessidade durante o trabalho de parto e o parto
pelos profissionais da saúde (JARDIM; MODENA, 2018; SENS; STAMM, 2019).
As cesáreas de fato quando realizadas com indicação clínica e pautadas em
evidências científicas reduzem a mortalidade materna. Contudo, quando o índice de
cesáreas se eleva devido à sua realização de forma indiscriminada, a tendência é o
crescimento, em até três vezes, da mortalidade materna (MASCARELLO; HORTA;
SILVEIRA, 2017). Salienta-se que a cesariana constitui um procedimento cirúrgico

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

complexo e, como tal, acarreta riscos imediatos e em longo prazo, podendo inclusive
não trazer qualquer benefício quando não indicada adequadamente (OMS, 2015).
Durante a realização do parto cesárea algumas complicações podem ocorrer
pela dificuldade da parturiente em manter o posicionamento corporal adequado, em
flexionar adequadamente a coluna devido ao volume abdominal aumentado, hipo-
tensão arterial, cefaleia pós-punção dural e lesões de nervos (OLIVEIRA; LOUZADA;
JORGE, 2015; BISINOTTO et al., 2017).
Quando realizada em situações de emergência, a cesariana está associada a
uma maior taxa de complicações maternas como hematomas, infecção, sangramen-
to, lesão de órgãos internos, perinatais como a prematuridade, e consequentemente
aumento da morbimortalidade materna e neonatal (QUINTANA, 2017). A prematuri-
dade é responsável por 75% da mortalidade neonatal e para aqueles que sobrevivem
constitui fator de risco para deficiência neurológica (BUGES, 2020).
Logo, o cuidado humanizado mostra-se essencial. Este se inicia quando a equi-
pe multiprofissional se prepara para a humanização do parto, é capaz de estabele-
cer uma relação de respeito ao ser humano e aos seus direitos essenciais e manter-se
vinculado com as pacientes e familiares (ANDRADE; RODRIGUES; SILVA, 2019). A
cesárea humanizada possui como foco de cuidado à mulher, respeitando seus direitos
humanos em todos os momentos (GARCIA; TALAVERA, 2020).
Os primeiros 60 minutos de vida do bebê após o nascimento, intitulado de
Golden hour ou Hora de ouro, refere-se ao período onde são executadas intervenções
para diminuir complicações neonatais e facilitar a adaptação à vida extrauterina. Nes-
se período, o contato pele a pele e a amamentação na primeira hora de vida são prá-
ticas imprescindíveis para o estabelecimento da vinculação e prolongar a duração do
aleitamento materno (ARRUDA et al., 2018). Salienta-se a importância de garantir es-
ses cuidados após o parto cesárea, com vistas à humanização na assistência ofertada.
O combate à violência obstétrica depende de uma mudança significativa no
modelo de assistência obstétrica vigente no Brasil, assegurando os direitos humanos e
a realização da prática baseada em evidências, por sua vez essas precisam ser fomen-
tadas no processo de formação dos profissionais de saúde (SADECK, 2020).
Os resultados de Nery e Lucena (2019) e Galvão et al. (2019) corroboram com
os achados deste estudo, nos quais se verificaram variados tipos de violências obstétri-
cas praticadas com alta frequência nos serviços obstétricos. Enema, tricotomia, posição
litotômica, impedimento da movimentação e ausência de privacidade, episiotomia, o
uso indiscriminado de ocitocina, a manobra de Kristeller, parto cesárea sem indicação
respaldada pela ciência e os tipos de violência física, verbal e psicológica.

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Durante a assistência à parturição diversos procedimentos inadequados são


realizados e muitas parturientes não sabem que podem considerá-los como violência
obstétrica. É necessário incentivar e permitir a autonomia da mulher no momento do
seu parto, garantindo-lhe a liberdade de escolha do método que seja mais adequado
a sua condição clínica, podendo o profissional interferir somente nas questões que fo-
rem realmente necessárias (ESTUMANO et al., 2017).
Gomes e Rached (2017) destacaram o papel da enfermagem enquanto membro
da equipe de saúde na atuação norteada por capacitação técnico-científica para assistir
à gestante, parturiente e puérpera de forma holística, fazendo do cuidar um processo
humanizado, com vista à promover transformação da realidade da assistência obsté-
trica no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar dos avanços em relação à humanização na assistência ao parto e nas-


cimento, em pleno século XXI ainda é possível observar a presença de práticas de
violência obstétrica na assistência ao parto cesáreo. Durante a realização do parto insti-
tucionalizado as puérperas ainda são vítimas de desrespeitos, humilhações e violência
psicológica, verbal, institucional e moral. Salienta-se que tais práticas não condizem
com os procedimentos preconizados pelas atuais políticas públicas de saúde, que ex-
plicitam por meios de leis e portaria a garantia de direitos à assistência humanizada
do trabalho de parto.
Apesar de o presente estudo evidenciar que puérperas ainda são vítimas de
violência obstétrica, apontam-se como limitações à utilização apenas de questionários,
o que restringe a identificação de aspectos subjetivos e o relato de experiência das
parturientes após os episódios de violência obstétrica. Acresce-se ainda a restrição da
coleta de dados a um único hospital do município, o que pode interferir na verificação
da estimativa e magnitude do número real de casos de violência obstétrica sofrida
pelas puérperas.
Dessa forma, novos estudos são necessários com vistas a analisar aspectos
subjetivos ou relato de experiência das puérperas vítimas de violência obstétrica, o
que pode ser obtido com estudos qualitativos ou com a utilização de métodos mistos.
Há necessidade de ampliar a investigação a outras instituições de saúde do município,
bem como avaliar concomitantemente a perspectiva da mulher e dos profissionais de
saúde quanto à assistência obstétrica ofertada.

120
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

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123
CAPÍTULO 9

VULNERABILIDADE EM SAÚDE DE
MULHERES NEGRAS NO CONTEXTO DA
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Carolina Grigolato Viola


Emanuelly Vieira Pereira
Letícia Lopes Dorneles
Anicheriene Gomes de Oliveira
Ana Paula Caixe Soares de Oliveira
Maria José Clapis
Marislei Sanches Panobianco
Mônica Maria de Jesus Silva

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.9
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A institucionalização do parto reverberou em um modelo de assistência


obstétrica, por vezes, alicerçado em práticas assistenciais medicalizantes,
patologizantes, que perpetuam o uso rotineiro e abusivo de intervenções tecnológicas
e práticas obstétricas proscritas que violam direitos e perpetuam violências e suas tipi-
ficações (SANTOS, 2021; TESSER et al., 2015).
Embora a violência constitua problema de saúde pública que permeia o coti-
diano da assistência obstétrica moderna ao violar a autonomia da mulher sobre o seu
corpo, romper princípios éticos e de consentimentos informados e aviltar a autonomia
feminina durante a parturição, evidencia-se que sua ocorrência associa-se à reprodu-
ção do racismo institucional, enquanto perpetuação de opressões, subordinações e
discriminações que cerceiam as relações raciais naturalizadas historicamente (CURI;
RIBEIRO; MARRA, 2020; ASSIS, 2018).
Considerando que produções científicas já evidenciaram a vulnerabilidade
de mulheres negras durante a gestação e parturição (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020;
LEAL et al., 2017), que as iniquidades raciais constituem desafios para as práticas as-
sistenciais e acesso aos serviços de saúde (FIORATI; ARCÊNCIO; SOUZA, 2016) e que
existem questionamentos políticos e epistemológicos acerca de reivindicações quanto
à efetivação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) na assistência
a mulheres negras (SANTOS, 2021), as reflexões teóricas que nortearam a construção
deste estudo foram pautadas no sentido de analisar a violência obstétrica vivenciada
por mulheres negras e sua interlocução com as dimensões da vulnerabilidade propos-
tas na Teoria de Ayres.
Nessa teoria, a vulnerabilidade (AYRES et al., 2003) relaciona-se à exposição
a situações com potencial para impactar na saúde dos indivíduos, decorrentes de di-
mensões individuais, sociais e programáticas e sua interlocução com a disponibilidade
de recursos protetivos.  Nesse sentido, objetivou-se refletir acerca das vulnerabilida-
des em saúde de mulheres negras no contexto da violência obstétrica.
A estratificação de risco social e necessidades de saúde, bem como a análise
de aspectos inerentes à violência enquanto fenômeno multifatorial e multifacetado em
face de interseccionalidade, relacionadas às questões de gênero e raça (FIORATI; AR-
CÊNCIO; SOUZA, 2016), contribuem para (re)pensar medidas de enfrentamento no
campo das iniquidades sociais que permitam romper barreiras de acesso ao cuidado
obstétrico de qualidade, fortalecer a implementação e efetivação de um modelo de
cuidado pautado em boas práticas durante a assistência ao parto e nascimento e rede
intersetorial e interdisciplinar direcionada ao enfrentamento da violência.

126
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

DESENVOLVIMENTO

Vulnerabilidade em saúde da população negra no Brasil

Vale ressaltar que, durante três séculos, a escravidão esteve eminente no nosso
país. A desvalorização do negro nesta época, devido as suas peculiaridades físicas e
culturais, eram a justificativa da soberania branca. A inferioridade do negro neste pe-
ríodo era algo irrefutável, e por isso, o racismo era gerado e propagado indiscrimina-
damente devido regimento social da época (BARBOSA et al., 2021; LIMA; VALA, 2004;
BATISTA; MONTEIRO; MEDEIROS, 2013).
Sendo assim, o cenário da desigualdade no Brasil entre negros e brancos
abrange distintos espaços sociais. Os indicadores sociais como nível de escolaridade,
renda, ingresso na saúde e serviços sociais são os piores entre a população negra, bem
como as condições contingentes de moradia, renda, além de ocuparem as posições de
trabalho mais insignificantes (LIMA; PIMENTEL; LYRA, 2021). Entretanto, apesar da
clara discrepância, o racismo ainda é oculto para a sociedade, e informações como esta,
são compreendidas como resultado da desigualdade econômica e não racial.
O racismo institucional pode ser presenciado dentro dos serviços de saúde,
como a limitação do acesso à saúde pela comunidade negra, dentre outras distinções
significativas no manejo às doenças mais prevalentes na população negra, quando
comparadas aos brancos, a saber, anemia falciforme, miomas uterinos, alto índice de
diabetes gestacional, maior predisposição à hipertensão arterial, além de um surgi-
mento mais precoce do câncer de mama (BATISTA, 2021). Destaca-se que, um dos
princípios básicos do SUS é a equidade, sendo assim, os serviços de saúde têm por
responsabilidade fornecer recursos terapêuticos pertinentes e singulares, com intuito
de diminuir as vulnerabilidades sociais, que, para a comunidade negra, a saber, são
provocadas pelo sistema histórico de exclusão social, política, econômica e cultural
que foi subjugada (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020).
Segundo o Ministério da Saúde, as vulnerabilidades que acometem a popu-
lação negra, bem como as desigualdades são as altas taxas de mortalidade materna e
infantil, os óbitos precoces, maior predomínio de doenças crônicas e infecciosas e altos
índices de violência; além disso, identifica que o racismo experienciado pela popula-
ção negra recai negativamente nos indicadores descritos acima, implicando no ingres-
so dessa comunidade aos serviços de saúde gratuitos (OLIVEIRA; KUBIAK, 2019).
Como exemplo de vulnerabilidade em saúde relacionada às mulheres, vale
ressaltar a violência obstétrica.

127
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Violência obstétrica contra a mulher negra

As discussões referentes ao termo violência obstétrica surgiram no Brasil du-


rante a década de 2000, decorrente das experiências influenciadas e vivenciadas nos
países Venezuela e Argentina. Uma das principais características está vinculada ao
uso contínuo da internet por grupos politicamente motivados, dirigido por mulheres
de classe média, brancas, onde estas narravam suas experiências durante o parto, de-
nunciando assim as atividades abusivas e desrespeitosas dentro dos serviços de saúde
(LEAL et al., 2017).
O termo violência obstétrica, originado do movimento de mulheres, é utiliza-
do para representar e reunir diferentes maneiras de violência, desrespeito e omissões
feitas ao longo da gestação, parto ou puerpério, e durante o atendimento de incidentes
com abortamento. Incluem também os maus tratos verbais, psicológicos e físicos, as
negligências, bem como mecanismos considerados na literatura como condutas ex-
cessivas, desnecessárias e perigosas, assim como a cesariana sem comprovação clínica
(ASSIS, 2018; WHO, 2018; DINIZ et al., 2015).
Violência no parto, na assistência obstétrica, institucional e de gênero, são de-
finições que permeiam o campo para demonstrar as ofensas e negligências que acon-
tecem durante o ciclo gravídico-puerperal. Sendo assim, é viável concluir que a vio-
lência obstétrica “representa a desumanização do cuidar e a perpetuação do ciclo de
opressão feminina pelo próprio sistema de saúde” (ASSIS, 2018).
Estudo realizado entre os anos 2011 e 2012, de dimensão nacional, demonstrou
que, pelo menos 52% dos partos acontecem por via cirúrgica, à medida que a Orga-
nização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que os índices não se sobreponham a
15%. Apenas 5,6% das parturientes que tiveram seus filhos por meio do parto vaginal
não vivenciaram alguma interposição (WHO, 2018). Ressalta-se que essa porcentagem
demonstra um cuidado interposto, em que o uso das manobras, técnicas e até mesmo
medicações, não sucedem da maneira correta. Visto que, quando os dados são exami-
nados com base no marcador raça, observa-se que as ameaças para mulheres negras
são consideravelmente superiores (DINIZ et al., 2016).
É por esse motivo que se faz importante analisar as rotinas do campo obsté-
trico, a fim de sinalizar a representação de hierarquias referentes à raça, etnia, classe
social, bem como à sexualidade dessas mulheres. Com a normatização e impunidade
à liberdade do corpo feminino, retratam-se as desigualdades estruturais mais abran-
gentes (DINIZ et al., 2016).
Prosseguindo na análise do estudo dito acima, constatam-se os menores índi-
ces no emprego das boas práticas durante o parto, como: flexibilidade no uso do par-

128
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

tograma, ingestão de líquidos ou alimentos durante o trabalho de parto e a utilização


de métodos não farmacológicos para redução da dor, a saber, nas regiões Nordeste e
Norte (DINIZ et al., 2016).
Contabiliza-se, no Brasil, que a porcentagem de mulheres negras em 2015 era
de 52,7%, e mulheres indígenas 0,4%. Então, quando analisamos os dados relativos à
saúde reprodutiva e obstétrica, há uma desproporção racial no que se refere à qualida-
de da atenção (IPEA, 2015).
As mortes de mulheres maternas negras no Brasil são cerca de duas vezes
maiores, em relação às brancas. As principais causas dessas mortes têm relação com
hipertensão arterial, em especial, a eclâmpsia (BRASIL, 2017a).
Conforme Crenshaw (2002) o conceito de interseccionalidade, apesar de não
ser a primeira a trabalhar sobre isso. O tema aborda como o sexismo, racismo e opres-
são de classe e outros sistemas se ajustam e sobrepõem, surgindo então as desigualda-
des que determinam o posicionamento das mulheres. A raça, classe e gênero conjunta-
mente ratificam as desigualdades sociais.

Violência obstétrica e vulnerabilidade em saúde de mulheres negras 

A violência obstétrica é marcada por situações de negligência, violência ver-


bal, violência física, procedimentos desnecessários, indesejados ou mesmo negados
pela mulher, que são provocados por profissionais de saúde. Ela se expressa por meio
de relações desumanizadoras, abuso de medicalização e de patologização dos proces-
sos naturais, desrespeito e maus-tratos às mulheres durante a assistência ao parto, que
levam à perda da autonomia das mulheres e às violações de direitos humanos, sexuais
e reprodutivos (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020).
Ela ocorre em um dos momentos da vida das mulheres em que elas estão mais
vulneráveis, onde as violências institucionais e violações de direitos são inúmeras. É
observado que a assistência em saúde ao período gravídico-puerperal é estaticamen-
te discrepante entre as mulheres negras e brancas. Diversos estudos apontam que as
mulheres negras são as que mais sofrem violência obstétrica no país (CURI; RIBEIRO;
MARRA, 2020; BATISTA, 2021).
Sob o ponto de vista reprodutivo, as mulheres negras apresentam os piores
índices de cuidados relacionados à gravidez, ao parto, puerpério e a assistência a abor-
tos clandestinos quando comparado a mulheres brancas. As desigualdades raciais e a
maior vulnerabilidade dessas mulheres podem ser observados por exemplo, nos ín-
dices de mortalidade materna (mortes relacionadas à gestação, parto ou puerpério),
relacionada à predisposição biológica para doenças crônicas, maior dificuldade no

129
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

acesso, baixa qualidade do atendimento recebido e à escassez de ações e capacitação


dos trabalhadores de saúde voltada para os riscos específicos aos quais as mulheres
negras estão expostas (BATISTA, 2021).
Quando falamos de maternidade e de mulheres negras no SUS, estas foram
as maiores vítimas das desigualdades raciais e de injustiças no acesso e na qualidade
da assistência ofertada na gravidez, parto e puerpério (BATISTA, 2021). Percebendo
assim, que o racismo institucional afeta sobremaneira as mulheres negras no período
gravídico-puerperal, causando triplo sofrimento discriminatório: de classe, gênero e
raça (SILVA; LIMA, 2021).
Observar as desigualdades étnico-raciais e a distinção no cuidado prestado às
gestantes negras, permite-nos compreender que o racismo pode ser pensado como um
determinante social e que reflete nos serviços de saúde e na assistência do processo
saúde-doença. As formas como as relações raciais estão conformadas no Brasil tor-
nam a população negra mais vulnerável e tendem a dificultar seu acesso aos serviços
de saúde e causar iniquidades na utilização desse serviço (THEOPHILO; RATTNER;
PEREIRA, 2018).
Essas gestantes deveriam usufruir dos serviços de saúde de forma integral,
oportuna, adequada e qualificada, porém as mulheres negras são rotineiramente víti-
mas do racismo. Quando avaliam o atendimento que recebem durante o pré-natal, no
parto e ao recém-nascido, é visto que quanto menor o nível de escolaridade da mulher,
piores os atendimentos são realizados (BATISTA, 2021). Diversos são os fatores que
são violados nessas mulheres, as estatísticas e diferentes exemplos racistas mostram
um quadro desfavorável às pretas e pardas, cheios de violências e violações (SILVA;
LIMA, 2021).
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a população ne-
gra ainda tem menor acesso à saúde se comparada à população branca. Nas gestantes
foi observado grandes diferenças com relação ao número de consultas pré-natal. A
proporção de mães negras com no mínimo seis consultas, conforme preconizado pelo
Ministério da Saúde, foi de 69,8% ao passo que, entre as brancas, essa proporção foi de
84,9%. Em relação à primeira consulta pré-natal nos três primeiros meses de gestação,
elas iniciam o pré-natal mais tardiamente, sendo que 85% das gestantes brancas e 73%
das negras realizaram essa consulta no tempo ideal. As maiores taxas de detecção de
sífilis em gestantes foram observadas na raça/cor preta (17/100 mil nascidos vivos) e
na parda (6,6/100 mil nascidos vivos) (BRASIL, 2017b).
Foi observado que as mães pardas e pretas têm filhos em idade mais precoce.
A faixa etária de 20 a 24 anos concentra o maior percentual de mães nas populações
de raça/cor preta (26,0%) e parda (27,5%). De acordo com dados notificados no Sis-

130
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

tema de Informações sobre Mortalidade, do total de 1.583 mortes maternas em 2012,


60% eram de mulheres negras e 34% de brancas. Elas também são as mais vulneráveis
ao abortamento de risco, quando comparadas às mulheres de cor branca. Em relação
às taxas de Human Immunodeficiency Virus (HIV)/Acquired immunodeficiency syndrome
(Aids) e hepatites virais entre as mulheres, a maior taxa de detecção foi registrada na
raça/cor preta (12,3/100 mil habitantes), seguida da parda (8/100 mil habitantes) e da
branca (7,1/100 mil habitantes), a maior taxa de mortalidade também foi observada na
raça/cor preta (BRASIL, 2017a).
Em estudo realizado pela Ouvidoria do SUS observou-se que as gestantes pre-
tas/pardas tiveram um número maior de gravidez não planejada e utilização da rede
pública, menor número de consultas de pré-natal, receberam menos orientação sobre o
parto normal e informações sobre o local do parto. Foram elas que tiveram maior difi-
culdade em encontrar atendimento, as que mais peregrinaram entre as maternidades,
esperaram por mais tempo para serem atendidas, tiveram menos acesso a permanecer
com acompanhante durante todo o trabalho de parto, foram as que mais tiveram par-
tos normais (o que em si não indica uma pior assistência) e que mais sofreram violên-
cia obstétrica (THEOPHILO, RATTNER, PEREIRA, 2018).
Diversos estudos exemplificam algumas expressões discriminatórias, violen-
tas e racistas pronunciadas durante a assistência oferecida, tais como “mulheres pretas
são parideiras por excelência”, “negras são fortes, mais resistentes à dor”, “negras têm
mais leite”, “negras são mais resistentes à anestesia”, “elas não fazem o pré-natal direi-
to”, (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020). Em vários momentos é possível observar falas
em que está implícito que as mulheres negras são mais resistentes à dor, o que dispen-
saria maiores cuidados, “[...]. Muitos falam [profissionais de saúde]: Ah... ela é negra,
ela tem resistência! Ela aguenta! [enfático] [...] O negro não tem dor, que se vire que ele
dê um jeito. Ele aguenta! [...]” (SILVA; LIMA, 2021). Fazendo com que essas mulheres
sejam mais excluídas, as mais violentadas, negligenciadas e as que mais morrem no
nosso país (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020).
Diante disto, é evidente que por razões sociais ou de discriminação, as ges-
tantes negras são as que mais tem dificuldade de conseguir uma atenção ginecológi-
ca e obstétrica de qualidade. Elas são as mais afetadas com experiências de violência
verbal, física ou psicológica, o que têm implicações sobre a saúde física e mental das
mulheres, tornando-as mais vulneráveis a desfechos desfavoráveis e ao risco de óbito
materno (BATISTA, 2021).
As mulheres negras apresentam os piores indicadores sociais, são vítimas, ro-
tineiramente, do racismo e do sexismo na sociedade, que repercutem diretamente em
seu atendimento na saúde. Foram exemplificadas situações que são cotidianamente

131
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

vividas pelas mulheres negras no âmbito do SUS e que potencializam reflexões que
se fazem necessárias em um país que ainda perduram desigualdades raciais no acesso
aos serviços de saúde que deveriam ser de forma integral e qualificada, considerando
as diferentes necessidades de saúde da população (BATISTA, 2021; CURI; RIBEIRO;
MARRA, 2020).
Os direitos à vida, à liberdade e segurança pessoal, a níveis adequados de saú-
de, à proteção a sua maternidade e a sua não discriminação, deveriam ser assegurados
a todas as mulheres, sem distinção. Elas deveriam ter acesso fácil a uma assistência hu-
manizada e qualificada, sem qualquer tipo de distinção ou preconceito por profissio-
nais de saúde. Contudo, é evidente que esta não é a realidade das gestantes negras do
Brasil, fazendo-se necessário expor as desigualdades e os processos de violência e vio-
lação de direitos nos quais as mulheres negras são submetidas, a fim de que medidas
sejam tomadas para que se tenha mudanças culturais nos modelos de atenção e gestão
da saúde que permeiam as situações apresentadas (CURI; RIBEIRO; MARRA, 2020).
Discutir a violência obstétrica também como violência de raça e gênero a luz
dos princípios universais dos direitos humanos, sexuais e reprodutivos, nos permite
conhecer os determinantes da vulnerabilidade de saúde da mulher negra, bem como a
necessidade de qualificação da assistência, acesso e equidade prestada à essas mulhe-
res no período gravídico-puerperal (BATISTA, 2021).
Espera-se que este estudo fomente discussões sobre a necessidade de cons-
cientizar os profissionais de saúde sob o enfoque étnico-racial, com vistas a mitigar/
eliminar disparidades durante o cuidado obstétrico, reduzir formas discriminatórias
e violentas de assistir e intervir, e melhorar o acesso e a equidade na atenção, a fim de
minimizar as desigualdades raciais e o racismo institucional existentes nos serviços de
saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que com a institucionalização do parto houve inserção de


intervenções desnecessárias modificando o processo de parturição e, ainda, práticas
que violam os direitos da mulher no cenário parturitivo, foi possível observar que na
identificação da violência obstétrica é relevante atentar, sobretudo para as mulheres
negras, às vulnerabilidades individual, social e programática vivenciadas no contexto
de assistência obstétrica.
Nesse sentido, tratar a violência obstétrica como violência de raça e gênero,
torna-se relevante e urgente por trazer à luz a história do processo de violação de di-
reitos no qual as mulheres negras são submetidas, inclusive, no atual sistema de saúde

132
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

brasileiro. Afinal, desigualdade, especificamente de raça, nos impõem a considerar as


diferentes mulheres e as suas diferentes formas de acesso às políticas e aos sistemas de
garantias de direitos.
Contudo é imprescindível atentar às medidas de enfrentamento existentes que
corroboram a ruptura de barreiras no acesso ao cuidado obstétrico, para que esse se dê
de forma integral e qualificada, sem distinção de cor e gênero.
Espera-se que este presente estudo fomente outras discussões sobre a necessi-
dade de conscientizar os profissionais de saúde sob o enfoque étnico-racial, com vistas
a reduzir disparidades durante o pré-natal, parto, abortamento e puerpério, reduzir as
formas discriminatórias e violentas de assistir e intervir e, contribuir para melhoria ao
acesso e equidade nos diversos níveis de atenção, a fim de minimizar as desigualdades
raciais e o racismo institucional.
Para tal, faz-se necessário fortalecer a implementação e efetivação de um mo-
delo de cuidado pautado em boas práticas durante a assistência ao pré-parto, parto e
nascimento. Destarte, é relevante não negligenciar o papel das políticas públicas e da
responsabilidade institucional no cumprimento dos direitos sexuais, reprodutivos e
humanos durante a oferta de cuidados obstétricos.

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

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135
CAPÍTULO 10

CARTILHA EDUCATIVA PARA


ORIENTAÇÃO NO CICLO GRAVÍDICO-
PUERPERAL EM TEMPOS DE COVID-19

Germana Pinheiro Correia Lima


Luana Silva de Sousa
Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho
Bruna Karen Cavalcante Fernandes
Beatriz Viana da Silva
Nayara Santana Brito
Raphaele Maria Almeida Silva
Luana Sousa de Carvalho

DOI: 10.46898/rfb.9786558894049.10
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

INTRODUÇÃO

A doença COVID-19 é causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), per-


tencente à família Coronaviridae, que acarreta complicações no sistema
respiratório. Além da esfera sanitária, a doença vem ocasionando impacto em vários
âmbitos: econômico, social, político e cultural da população mundial (SARTI et al.,
2020; ROTHAN; BYRAREDDY, 2020).
A partir da rápida propagação do novo coronavírus, houve a vulnerabiliza-
ção de vários grupos sociais, destacando-se as gestantes. Dessa forma, salienta-se a
relevância de um cuidado direcionado por parte dos profissionais de saúde, tendo
em vista os desafios que transpassam o cenário em que essas mulheres estão inseridas
(ESTRELA et al., 2020).
No contexto da prática de enfermagem, é vital que o enfermeiro desempenhe
o cuidado clínico direcionado a esse grupo, acompanhado do processo de educação
em saúde como estratégia singular na atenção, tendo em vista que se trata de um pú-
blico com copiosas demandas.
Os estudos ainda são inconclusivos com relação à transmissão vertical ma-
terno-infantil. Contudo, o alto risco de morbimortalidade fez com que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) incluísse gestantes e puérperas como grupo de risco para
COVID-19. Frequentemente, as mulheres no período gravídico apresentam sintomas
leves, como febre; sintomas respiratórios, como tosse ou dispneia e sintomas gastroin-
testinais. Fadiga e dispneia tornam-se mais frequentes na segunda metade da gestação
(LIU et al., 2020). Tudo isso desperta os profissionais para uma atenção inclinada ao
cuidado específico para esse público.
É nesse contexto que os profissionais de enfermagem priorizam uma adapta-
ção em sua assistência com o objetivo de minimizar os impactos físicos e psicológicos
da doença para o binômio mãe-filho. Juntamente com a adequação da assistência, exis-
tem ferramentas de cuidado que podem ser utilizadas para promover acolhimento e
satisfação a essas mulheres durante todo o período gravídico-puerperal (ESTRELA et
al., 2020).
Destaca-se a Atenção Primária à Saúde (APS) como o principal campo de atua-
ção do enfermeiro voltado para a assistência de promoção e proteção da saúde, pre-
venção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde. Na
APS, realizam-se atividades educativas em saúde com um alcance mais adjacente à
população. Ademais, a assistência direcionada às gestantes é o cuidado pré-natal, em-
basado pelo Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento e consolidado pela
Rede Cegonha (DOMINGUES et al., 2015).

138
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Ainda nesse cenário, o enfermeiro executa ações de cunho educativo na Estra-


tégia
Saúde da Família (ESF) - quando direcionadas para a assistência de mulhe-
res e suas famílias - efetuando consultas de pré-natal em gestantes de risco habitual,
realizando a solicitação dos exames de rotina, bem como intervenções com grupos de
gestantes, grupos de sala de espera, visita domiciliar, dispondo o cartão da gestante,
dentre outras atividades adequadas para uma assistência completa desse público-alvo
(SOUZA et al., 2013).
Ressalta-se que as orientações realizadas pelos profissionais nas unidades ob-
jetivam a promoção da segurança do paciente que, por sua vez, não somente é o alvo
da assistência, mas é desafiado a ser protagonista desse cuidado.
O Ministério da Saúde, em 2013, instituiu o Programa Nacional de Segurança
do
Paciente (PNSP), o qual leva em consideração que a cultura de segurança se
move por alguns fundamentos, dentre eles: o estímulo a uma prática assistencial se-
gura e o envolvimento do paciente no próprio cuidado, visando contribuir em sua
segurança (BRASIL, 2013).
Levando em consideração a pandemia de COVID-19, os riscos à segurança da
mulher no ciclo gravídico-puerperal tendem a aumentar. Despertando a necessidade
de uma ativa participação do profissional de saúde quanto à busca de métodos que, de
maneira preventiva, forneçam orientações objetivas e continuadas, isto é, que auxiliam
o cuidado desempenhado na unidade, atingindo os lares de cada mulher e a comuni-
dade.
Dessa forma, com a justificativa de complementar esse cuidado, comumente
vê-se nos serviços de saúde de atenção primária a utilização de impressos educativos.
Dentre eles, estão as cartilhas, tecnologia criada para a educação em saúde que articula
o direcionamento de informações, para a obtenção de repercussões positivas no apren-
dizado de quem as recebe (REBERTE; HOGA; GOMES, 2012).
Merhy (1997) classifica três tipos de tecnologias que permeiam o ofício da edu-
cação em saúde: tecnologias leves, leve-duras e duras. A tecnologia leve diz respeito
às tecnologias que concedam produção de vínculo, acolhimento, envolvendo a gestão
em processos de trabalho. A leve-dura aponta para os saberes estruturados, operando
nas etapas de trabalho em saúde. E, por fim, a tecnologia dura que está relacionada a
utilização de ferramentas tecnológicas, como máquinas, normas e estruturas organi-
zacionais.

139
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

Dentre essas tecnologias, as cartilhas educativas são classificadas como le-


ve-duras, como composição de ciência alinhada às ações em saúde, utilizadas como
ferramentas para direcionar essas atividades com o auxílio da fixação de conteúdos
(MERHY, 2002). Assim, como proposta de enfrentamento às questões que transpas-
sam a saúde brasileira na atualidade, o presente estudo utiliza a tecnologia leve-dura
na construção de uma cartilha educativa para mulheres no ciclo gravídico-puerperal
em meio à pandemia de COVID-19.
Faz-se indispensável a estruturação da tecnologia com respaldo metodológico.
Quando aplicadas para a complementação da assistência em enfermagem, as tecnolo-
gias educativas devem ser sistematicamente organizadas, com linguagem acessível
tendo auxílio de ilustrações que as complemente, contendo informações relevantes,
de modo a ser convidativa e que, de maneira pontual, atenda às principais carências
em saúde expressas pelo público alvo para obtenção de repercussões significativas, e
amparo pela comunidade científica (ECHER, 2005).
Diante do contexto, é imprescindível a atuação do enfermeiro na Atenção Pri-
mária à Saúde, em consultas de pré-natal e puerperal, para além do que se é preco-
nizado para o atendimento, incluindo orientações diante do contexto de COVID-19,
salientando a importância da higienização das mãos, distanciamento social e uso de
máscaras, assim como sanar dúvidas que são esboçadas. Essa atenção pode ocorrer em
diversos espaços, como salas de espera (ESTRELA et al., 2020). Do mesmo modo pode
ocorrer com variadas metodologias, com o uso da tecnologia educativa em forma de
cartilha.
A partir dessa constatação, demanda-se o seguinte questionamento: quais
orientações de cuidados devem estar presentes em uma cartilha educativa que visa
promoção de segurança em saúde no ciclo gravídico-puerperal em tempos de CO-
VID-19?
Espera-se que a resposta possa favorecer a visualização das ações que pro-
movam a segurança da mulher, orientadas pelo profissional de enfermagem em sua
atuação nas Unidade Básica de Saúde (UBS). Ademais, almeja-se que a tecnologia con-
tenha orientações que contribuam para o autocuidado da gestante e puérpera em seu
domicílio, para que a educação proposta na unidade se faça contínua em sua rotina,
propondo novas formas de aprendizado dessas mulheres em busca da promoção em
saúde.
Diante do exposto, reforça-se que o presente estudo visa construir uma tec-
nologia, no formato cartilha educativa para a segurança por meio de orientação aos
pacientes.

140
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Nessa perspectiva, objetivou-se construir uma cartilha educativa para orienta-


ção no ciclo gravídico-puerperal em tempos de COVID-19.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa metodológica do tipo desenvolvimento. O estudo


visa o desenvolvimento de uma cartilha educativa a ser utilizada como estratégia edu-
cativa durante as consultas de pré-natal e puerpério, que tem como meta a instrução
delas quanto ao ciclo gravídico-puerperal em tempos de COVID-19, a fim de prevenir
complicações.
Tendo conhecimento de que a metodologia científica é imprescindível para
garantir a qualidade das cartilhas educativas, o processo de construção dessa cartilha
será adaptado às premissas de Echer (2005) sobre a elaboração de cartilhas educativas
para o cuidado em saúde.
A ideia de construir a cartilha educativa corresponde com a popularização da
ciência, uma estratégia utilizada em dias atuais para transpor o conhecimento acadê-
mico-científico de pesquisadores e cientistas a ponto de permitir sua fácil compreen-
são para os diversos públicos (BUENO, 2010).
Para tal, a cartilha contém orientações a respeito da vivência da mulher no ciclo
gravídico-puerperal e seu contexto em tempos de COVID-19, assim como ilustrações
que a torna mais atrativa, com o objetivo de facilitar a compreensão e o aprendizado.
A linguagem foi adaptada para garantir fácil interpretação, fortalecendo a orientação
aos pacientes e familiares, tornando a linguagem um meio de disseminação de infor-
mações, não uma barreira (ECHER, 2005).
Assim sendo, a produção das cartilhas pretende tornar a temática empolgante
para o público-alvo, corroborando para o crescimento social e científico (RABELO;
GUTJAHR; HARADA, 2015). A elaboração do conteúdo necessita conversar com a
realidade em que as mulheres estão inseridas, utilizando elementos verbais e não ver-
bais, permitindo a socialização e compreensão das informações para a sua dissemina-
ção na comunidade (ALVES; GUTJARHR; PONTES, 2019).
As ilustrações contidas na cartilha foram selecionadas pela autora no disposi-
tivo de busca Google utilizando palavras associadas ao conteúdo da sessão. O foco dos
desenhos foi tornar o conteúdo mais divertido e de fácil compreensão. Com as ima-
gens em mãos, as etapas procederam com a formatação, configuração e diagramação
das páginas.
Para medir o Índice de Legibilidade será utilizado o programa Revisor Gra-
matical Automático para o Português (ReGra) no Microsoft Word® 2016 da Microsoft®,

141
José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

que identifica a estrutura sintática da sentença e oferece opções gramaticais corretas de


construção (NUNES; OLIVEIRA JÚNIOR, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O material educativo impresso tem sido utilizado para melhorar o conheci-


mento, a satisfação, a aderência ao tratamento e o autocuidado de pacientes. Recomen-
da-se o uso do material educativo escrito por profissionais de saúde como ferramenta
de reforço das orientações verbalizadas.
Por isso, se faz necessário elencar as informações mais relevantes para compor
o material, tendo em vista que ele precisa ser atrativo, objetivo, sintetizado, com orien-
tações significativas sobre o tema, de fácil compreensão, atendendo as necessidades
específicas da situação de saúde a uma dada população para que haja estímulo à leitu-
ra. E, para embasar o conteúdo científico, é importante inserir ilustrações no decorrer
do conteúdo para descontrair, animar e facilitar o entendimento, tendo em vista que
figuras podem explicar mais que muitas palavras (ECHER, 2005).
Abaixo seguem os passos da construção da Cartilha Educativa:
Figura 1 – Etapas para a construção da Cartilha Educativa, Fortaleza-CE, 2021.

Figura 1 – Etapas para a construção da Cartilha Educativa, Fortaleza-CE, 2021.

Fonte: Autoras.

Levantamento do conteúdo

Segundo Echer (2005), o levantamento do conteúdo de um tópico é essencial


para a definição de conceitos, descrevendo claramente o conteúdo e a base teórica e
está relacionado à reflexão sobre temas e ações afins que contribuem para o desempe-
nho do autocuidado.
Durante a investigação foi possível observar outras cartilhas educativas com a
mesma temática e finalidade, o que contribuiu para tornar o estudo atual e necessário
frente às demandas que a população gestante, parturiente e puérpera enfrentam por
serem do grupo de risco durante a pandemia de COVID-19.

142
CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

Seleção do conteúdo

Após o levantamento do conteúdo, houve a seleção dos principais assuntos a


serem abordados na cartilha; posteriormente, elaborou-se um check-list organizado
em uma sequência lógica de raciocínio para retratar sucintamente os principais assun-
tos relacionados às orientações às mulheres no ciclo gravídico-puerperal em tempos
de COVID-19 que foram apresentadas nos textos e os tipos de ilustrações mais adequa-
das para estampar o material.
Algumas características precisam ser avaliadas para estimular o interesse
do leitor, como linguagem, organização do material, layout e tipografia, ilustrações,
aprendizado e motivação. A forma como o texto aparece no material pode interferir na
capacidade de leitura, portanto selecionou-se estilo de fontes de fácil leitura (DOAK;
DOAK; ROOT, 1996), escritos da seguinte forma:
Capa - título: fonte Unlucky Handwriting, tamanho 54.
Capítulos - textos: fonte Unlucky Handwriting, tamanho 18 e subtítulo: Hug
Me Tight, tamanho 36. As palavras em destaque foram grifadas com a cor referente à
padronizada ao capítulo.
As informações contidas na cartilha educativa foram as mais relevantes e ne-
cessárias para o conhecimento das gestantes e puérperas, pois retratam assuntos que
fazem parte da curiosidade dessas mulheres, como ter um bebê em tempos de CO-
VID-19, amamentação, os primeiros sinais do trabalho de parto, a hora certa para pro-
curar a maternidade, as precauções, sinais de alerta, os cuidados com o bebê e a mãe
após o nascimento, dentre outros.

Figura 2 - Cartilha educativa para orientação no ciclo gravídico-puerperal em tempos de COVID-19,


Fortaleza-CE, 2021.

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

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Fonte: Autoras.

Dessa forma, a primeira versão da Cartilha Educativa foi organizada da se-


guinte forma:
- COVID-19: Informa ao público sobre a doença, seus sinais e sintomas, for-
mas de contaminação e a importância da informatização da mulher pertencente ao
ciclo gravídico-puerperal.
- ORIENTAÇÕES PARA GESTANTES E PUÉRPERAS: Guia a mulher sobre
a necessidade de distanciamento social, lavagem correta das mãos, uso de máscara,
orienta sobre evitar tocar as mucosas e a procurar informações pelas plataformas se-
guras do governo do estado, ministério da saúde e afins.
- COMO LAVAR AS MÃOS: Além de orientar a lavagem correta, esta etapa
da cartilha expõe o passo a passo da higienização antisséptica das mãos conforme a
recomendação da ANVISA.

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CUIDADO CLÍNICO DE ENFERMAGEM À MULHER NA CONTEMPORANEIDADE

- VOU TER UM BEBÊ, E AGORA?: Este capítulo dá seguimento aos subtítulos


‘’o que é gravidez?’’, ‘’quais os sintomas da gravidez?’’, ‘’faça o teste para confirmar’’,
‘’quando fazer o teste?’’, ‘’parabéns, mamãe, agora você deve iniciar o pré-natal!’’.
- PRÉ-NATAL: Contempla o conceito de pré-natal e sua relevância, os trimes-
tres, meses, semanas e as orientações que as correspondem, pré-natal e a COVID-19,
orientações sobre o TELESUS publicado pelo Ministério da Saúde, sinais de alerta, en-
caminhamento para a atenção primária, pré-natal do parceiro, os exames do pré-natal,
vacinação da gestante e prevenção da COVID-19 na amamentação.
- ORIENTAÇÕES PARA O PARTO: Este capítulo traz orientações sobre
quando buscar a maternidade e quais os sinais de alerta que devem ser sinalizados
quando observados; condutas para gestantes com sintomas gripais, vias de parto e
precauções a respeito da pandemia.
- PUERPÉRIO: Nesta fase a mulher conhece um pouco mais sobre o alojamen-
to conjunto e sua nova perspectiva em período pandemia, a amamentação estando
com a COVID-19, as interações com os familiares neste período, a relevância do plane-
jamento familiar e a gama de opções que são ofertadas as puérpera.
- DICAS EXTRAS: Para encerrar, a autora traz indicações pessoais sobre do-
cumentários, filmes e leituras que irão complementar a ideia da gestante sobre esta
etapa tão relevante na vida da mulher.

Elaboração das imagens

A pesquisadora escreveu um roteiro sobre o esboço das ilustrações para re-


tratar, de forma simples e compreensível, as informações contidas em cada página.
Para exemplificar as orientações contidas neste roteiro, foram extraídas imagens da
internet, do banco de imagens do site Google e inseridos no Power Point, onde consta
a cartilha. Algumas das ilustrações foram adaptadas conforme predileção da autora. O
programa utilizado para essa adaptação foi o Corel Draw.
Destaca-se a importância de ilustrações para legibilidade e melhor entendi-
mento do texto. A função da ilustração é atrair o leitor e despertar seu interesse pela
leitura, complementando e reforçando a informação. Além disso, o desenho deve per-
mitir que as pessoas se identifiquem com a mesma (MOREIRA; NÓBREGA; SILVA,
2003).

Diagramação e composição do layout

A diagramação é a etapa que corresponde a organização e formatação do ma-


terial. Neste caso, foi feita no programa Power Point. Buscou-se sinalizar adequada-

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

mente os domínios da cartilha usando recursos como negritos e mudança da cor da le-
tra para facilitar a ação desejada e estimular a lembrança do leitor quanto ao conteúdo.
As ideias foram organizadas no texto, na mesma sequência em que o públi-
co-alvo irá vivenciá-la, além disso, atentou-se para as cores, utilizando-as com cautela
para não deixar a cartilha visualmente poluída. A mensagem principal e o público-al-
vo foram mostrados na capa, a fim de que a gestante pudesse perceber a mensagem
principal a partir de sua visualização (MOREIRA; NÓBREGA; SILVA, 2003).
A Cartilha Educativa foi composta por 60 páginas na primeira versão. Todas
as páginas foram organizadas sequencialmente, a numeração passou a ser registrada a
partir da sessão de apresentação da cartilha.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que a Cartilha Educativa “Meu bebê e eu em tempo de COVID-19!


O que fazer para se proteger?” irá auxiliar a prática dos profissionais de saúde no pro-
cesso de educação em saúde, pois é um material ilustrado com texto e imagens para
promover o aprendizado e o diálogo entre enfermeiras e gestantes, bem como o empo-
deramento e autonomia da mulher na fase materna. Vislumbra-se submeter a cartilha
ao processo de validação de conteúdo e aparência por juízes.

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José Gerfeson Alves, Emanuelly Vieira Pereira, Ana Virgínia de Melo Fialho, Leilane Barbosa de Sousa

ÍNDICE REMISSIVO
A Pré-Natal 28, 29, 30, 31, 32, 33, 57, 59, 74, 79, 80, 81,
94, 98, 104, 116, 117, 119, 120, 121, 124, 125,
Aleitamento 74, 75, 76, 77, 80, 81, 82, 83, 84, 105 126, 127, 133, 134
Amamentação 74, 77, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 105, 106,
129, 133 S
Saúde 14, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29,
B 31, 32, 33, 35, 38, 39, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48,
52, 57, 62, 69, 72, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 86, 87,
Brasil 14, 15, 18, 22, 23, 24, 28, 29, 31, 32, 34, 52, 54, 88, 91, 92, 94, 96, 98, 99, 101, 102, 103, 104, 105,
57, 59, 62, 69, 71, 75, 82, 103, 107, 115, 116, 117, 106, 107, 108, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118,
120, 125, 134 119, 120, 121, 124, 125, 126, 127, 128, 132, 134,
Burnout 43, 46, 49, 50 135

C V
Cesárea 70, 91, 92, 93, 99, 101, 102, 104, 105, 107, 108 Violência 86, 87, 88, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100, 103,
104, 105, 106, 107, 108, 112, 113, 114, 115, 117,
Covid-19 37, 38, 39, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 123, 118, 119, 120, 121
124, 125, 126, 127, 128, 129, 132, 133, 134, 135

E
Enfermagem 14, 15, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 29, 30,
31, 32, 33, 34, 40, 46, 53, 55, 57, 58, 59, 75, 76,
83, 84, 96, 105, 107, 124, 126
Estudos 23, 39, 40, 42, 43, 46, 48, 62, 64, 65, 66, 67, 68,
69, 71, 75, 76, 77, 82, 87, 95, 106, 115, 117, 124

G
Gravidez 19, 28, 29, 30, 32, 33, 52, 57, 69, 98, 115, 116,
117, 133

M
Mulher 18, 20, 21, 24, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 52, 53, 54,
55, 57, 75, 79, 80, 81, 82, 83, 86, 87, 91, 92, 93,
94, 95, 98, 99, 101, 105, 106, 112, 114, 115, 116,
118, 119, 120, 125, 126, 127, 132, 133, 134

O
Obstétrica 31, 32, 33, 48, 53, 54, 57, 86, 87, 88, 90, 91,
93, 94, 95, 96, 98, 99, 100, 101, 103, 104, 105,
106, 107, 108, 109, 112, 113, 114, 115, 117, 118,
119, 120, 121

P
Parto 29, 31, 32, 34, 35, 38, 44, 45, 53, 54, 55, 57, 62,
63, 69, 70, 71, 72, 74, 79, 81, 86, 87, 88, 90, 91,
92, 93, 94, 95, 96, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104,
105, 106, 107, 108, 109, 112, 114, 115, 116, 117,
118, 119, 120, 121, 129, 133
Pesquisa 15, 17, 18, 24, 39, 40, 41, 44, 53, 63, 64, 65, 66,
70, 74, 75, 76, 82, 88, 100, 103, 121, 127

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