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Sumário:

O Jejum ……………………..…………………………………………………………………………………………………..……3

Tipos de Jejum …………….…………………….……………………………………………………………………………….4

Jejum ou restrição calórica? …………………………………………………………………………………………… 5

Outras Comparações…………………………………………………………………………………………….………..…... 7

Crononutrição e Jejum …………………………………………………..………………………….……………………….. 8

O jejum vai catabolizar? …………………………………………………..…………………….….……….………….….. 10

Jejum Prolongado ................................................................................................................................11

Janela Alimentar do Jejum ………………………………………………………………………………….….…………..12

Jejum Metabólico ………………………………………………………………………………………………………….………..13

Jejum e Treinamento ………………………………………………………………………………………………………..…..15

Déficit Calórico e Treinamento …………………………………………………………………………….……..……..17

Distribuição Proteica no Jejum …………………………………………………………………………….…………..18

Observações Gerais ………………………………………………………………………………………….……….…………..19

Referências ………………………………………………………………………………………………………………….…………..18

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O Jejum
Bioquimicamente, o estado de jejum inicia a partir da degradação completa do glicogênio hepático,
estrutura responsável por armazenar a glicose que será importante para garantir a manutenção da
glicemia em períodos pós-prandiais. Essa degradação pode ocorrer a partir de intervalos de tempo que
variam de 12 a 16 horas, o que será definido a partir do conteúdo de glicose presente no fígado. A
degradação é possível em razão da queda dos níveis de insulina, e aumento do hormônio glucagon,
hormônio contra-regulatório responsável por degradar esse glicogênio.

Com este conceito bem definido, surgiram nos últimos anos diversas alegações sugerindo possíveis
benefícios à saúde relacionados à prática do jejum, como a da figura abaixo, proposta por Yoshinori
Ohsumi. Este pesquisador, ganhador do Nobel da Medicina por detalhar o processo de autofagia celular,
declarou haver relação entre a prática de jejum e a indução deste processo, que consiste na degradação
de componentes da célula por ela mesma, o que pode ser importante para a renovação celular. Porém,
não podemos extrapolar para jejum intermitente como sendo superior ou achar que quanto mais
autofagia, melhor.

É importante entender que as células não são iguais, havendo diferenças morfológicas e funcionais
bastante distintas entre elas, o que faz com que não seja adequado pensar em autofagia de forma
generalizada, como propõe o pesquisador. Além disso, apresentam diferentes tempos de vida, sendo
importante que esse intervalo seja garantido em muitos casos. Um exemplo prático envolve as hemácias,
células do sangue que transportam hemoglobina. Em pacientes diabéticos, o excesso de glicose no sangue
pode associar-se a esta célula, possibilitando a glicação da hemácia, o que é avaliado em exames como
o de hemoglobina glicada. Uma autofagia desordenada neste caso impediria esta glicação, já que
rapidamente a hemácia seria renovada, havendo comprometimento no diagnóstico da doença.

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Figura 1.1. Manchete com alegação do possível benefício do jejum para longevidade (VEJA, 2016)

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Tipos de Jejum
Não há um consenso quanto a uma maneira única de realizar jejum enquanto intervenção dietética,
podendo alguns modelos apresentar maiores restrições em dias específicos. O Jejum Completo
Alternado abrange um dia de jejum total, ou seja, com ausência de consumo calórico, sendo permitido
o consumo de líquidos sem calorias. Neste modelo, o dia seguinte é de consumo livre, o que pode ser um
ponto negativo, caso esse consumo não esteja associado a alimentos mais saudáveis. O Jejum Não-
Consecutivo também é uma opção, com a diferença de não haver restrição total em um dia, pois o dia
de jejum possibilita o consumo de até 20 a 25% das necessidades energéticas. Além disso, não há um
único dia, mas sim dois que devem ser voltados para essa restrição, sendo importante que não sejam dias
consecutivos. Nos outros cinco dias da semana, a ingestão é à vontade. Uma desvantagem deste modelo
envolve pacientes que apresentam pouca consciência alimentar, estando inclinados a escolhas
alimentares não tão vantajosas para a saúde. Pacientes com fome elevada também podem ter dificuldade
para aderir a esse modelo.

O Jejum com Restrição de Tempo é um terceiro modelo que, por sua vez, não restringe calorias de
forma completa em nenhum dia, mas sim em intervalos do dia. Estes costumam ser longos, podendo
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totalizar até 18 horas sem ingestão de alimentos. Pode ser vantajoso para pacientes que consigam lidar
bem com períodos agudos de fome. Todos os modelos podem emagrecer o paciente em razão da restrição
calórica. Por fim, ainda há os jejuns religiosos, caracterizados pela restrição alimentar em detrimento
de razões de fé. O Ramadã é um bom exemplo, sendo um jejum que pode durar até 30 dias. Todavia, é de
fundamental importância que esta prática, realizada por povos muçulmanos, não seja vista como um
processo a ser feito com objetivo estético ou de saúde. As razões aqui são estritamente religiosas, não
havendo comprovação científica que justifique tal prática.

Tipo Descrição

Jejum Completo Alternado 1 dia de jejum total + Dia seguinte à vontade

Jejum Não-Consecutivo 2 dias não-consecutivas 20-25% necessidades, 5 dias à vontade

Jejum com Restrição de Tempo Jejum por Longos períodos do dia (14-18h)

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Jejum ou restrição calórica?
O déficit calórico contínuo costuma ser a primeira linha a ser ofertada para pacientes que buscam
emagrecimento, tanto para fins estéticos quanto para a saúde, neste último caso pensando-se em
indivíduos obesos ou com sobrepeso. A baixa adesão à dieta é um dos fatores que pode estar atrelado ao
insucesso de diversas intervenções para perda de peso, o que fez com que alternativas como o jejum
intermitente surgissem. Muitos estudos foram realizados com o objetivo de analisar possíveis vantagens
do jejum em detrimento da restrição calórica contínua. Um ensaio clínico randomizado, publicado no
JAMA, recrutou um total de 100 obesos metabolicamente saudáveis, dividindo-os aleatoriamente em dois

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grupos. O primeiro grupo realizou jejum de dia alternado, consumindo 25% das necessidades energéticas
em um dia e 125% no dia seguinte, sendo assim sucessivamente por um período de 6 meses. O segundo
grupo realizou restrição calórica contínua, consumindo diariamente 75% das necessidades, distribuídas
em 3 refeições ao longo do dia. Ambos os grupos tiveram um déficit diário de 25%. Os seis meses
seguintes visaram a manutenção do peso perdido.

De acordo com o gráfico abaixo, foi possível observar uma perda de peso bastante semelhante entre
os dois grupos. Além disso, não houve diferenças significativas com relação à perda de massa magra e
gordura visceral. A partir da perda de peso, observou-se redução da glicemia e pressão arterial,
parâmetros com melhorias esperadas. As diferenças observadas envolveram a redução no LDL,
favorecendo o grupo restrição contínua, enquanto o grupo jejum teve maior redução dos triglicerídeos.
Todavia, nem todos os estudos encontram esses resultados, o que impede que o martelo seja batido em
prol de uma das intervenções.

Figura 3.1. Perda de peso semelhante entre os dois grupos (Trepanowski et al, 2017).

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Outras Comparações
Uma revisão sistemática avaliou outros fatores importantes que podem impactar na escolha do jejum
intermitente enquanto estratégia dietética. Alguns dos estudos incluídos avaliaram a adesão à dieta
comparando o jejum com a restrição calórica contínua. Dos 10 estudos, 5 deles mostraram uma maior
desistência no grupo restrição calórica, 3 estudos com maior desistência no grupo jejum e os 2 restantes
com desistência igual entre os grupos. Com relação ao apetite, apenas 2 estudos compararam as duas
intervenções, com ambos mostrando desvantagem para o grupo jejum. Todavia, a proporção de indivíduos
que relataram uma fome muito mais significativa foi baixa (3 a 15% no grupo jejum e 0 a 7% no grupo
restrição calórica).

Figura 4.1. Revisão que avaliou dieta, fome, fadiga, entre outros (Seimon, V;)

Esta revisão também buscou avaliar diferenças na composição corporal, discutidas no estudo do tópico
anterior. A maior parte dos estudos mostrou o que já mostramos antes, uma perda de peso igual entre os
grupos Jejum e restrição calórica contínua, com redução do IMC e da circunferência do quadril (CQ). Além
disso, alguns estudos centraram-se na perda de gordura, com a maior parte destes não encontrando
diferença significativa nos dois grupos (apenas 1 apontou vantagem para o grupo jejum). A massa livre
de gordura (composta por músculos, água, e outros tecidos) também foi avaliada por 5 estudos. A maior
parte não encontrou diferenças significativas, o que será também abordado no próximo tópico. Além
disso, a sensação de fadiga também foi avaliada, o que pode ser determinante para que um paciente
tenha uma boa adesão ao jejum intermitente ou não. Nesta revisão, um total de 2 estudos avaliou essa
sensação a partir das duas intervenções. Apenas um estudo teve um percentual maior de indivíduos em
jejum relatando essa fraqueza e indisposição, o que não permite tirar muitas conclusões a respeito, sendo
importante dialogar com cada paciente e observar sua adaptação ao jejum.

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Crononutrição e Jejum
O ciclo circadiano possui capacidade de regular funções vitais do organismo, como a atividade hormonal,
contração muscular, pressão arterial e temperatura corporal, havendo importantes variações metabólicas
ao longo das 24 horas do dia. Para exemplificar essas variações, podemos abordar os horários de pico de
secreção de alguns hormônios, como a testosterona e o cortisol (ambos com pico pela manhã) e o GH e
melatonina, que apresentam picos noturnos. Alguns estudos mostram o amplo papel da crononutrição,
capaz de também regular células do sistema imune e do sistema cardiovascular, o que torna plausível
pensar em estratégias dietéticas voltadas para momentos específicos do dia. Já foi observado uma melhor
sensibilidade à insulina no período da manhã, entre outras atividades específicas, como a produção de
colesterol pela HMG-Coa-redutase, enzima com atividade mais ativa durante a noite, que realiza a etapa
principal da formação de colesterol. Na tentativa de analisar benefícios que ultrapassem o
emagrecimento, alguns estudos buscaram associar a crononutrição com o jejum intermitente.

A revista científica Cell Metabolism publicou um estudo, cujo resumo gráfico encontra-se abaixo, que
mostrou melhora na sensibilidade à insulina, pressão arterial e estresse oxidativo, em homens com pré-
diabetes. A ênfase do estudo consistiu em ofertar uma alimentação precoce, com restrição de tempo,
dividindo-os em dois grupos; o primeiro deles fez ingestão no intervalo das 8h da manhã as 20h, enquanto
o segundo grupo teve maior restrição de tempo, com consumo no intervalo das 8h as 14h. Não houve
restrição calórica.

Figura 5.1. Alterações metabólicas favorecidas pela crononutrição (Trepanowski et al, 2017).

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O número de participantes do estudo foi reduzido em virtude da dificuldade em realizar todas as refeições
diárias sob supervisão. Como é possível observar abaixo, os três grupos realizaram um total de 3 refeições
diárias, com o grupo eTRF realizando todas elas no intervalo das 7h até próximo das 14h, com um total
de 18 horas em jejum. A intervenção durou 5 semanas.

Figura 5. 2. Intervalo de jejum dos dois grupos do estudo (Sutton, E,F; 2018)

Observou-se a melhora na sensibilidade à insulina no grupo eTRF, com redução significativa dos níveis de
insulina, ou seja, houve melhor resposta celular e boa captação da glicose plasmática. É possível observar
na figura abaixo a mudança no perfil de resistência a insulina do grupo jejum. Além da melhora na função
da célula beta-pancreática, também se observou redução da pressão arterial (sistólica e diastólica) e do
estresse oxidativo, com queda nos níveis de 8-isoprostano, um marcador de estresse oxidativo para
lipídeos. Não foram observadas alterações significativas em marcadores inflamatórios e perda de peso.
Um ponto bastante interessante deste estudo foi a queda do desejo por alimentos à noite, o que é bastante
relevante pensando em uma intervenção para pacientes que buscam a perda de peso. Todavia, ainda
assim não é possível afirmar se os benefícios acima listados são provenientes do jejum de 18 horas, da
crononutrição (todas refeições concentradas no período da manhã) ou da associação entre os dois fatores.
Para responder isso, seria interessante um grupo que concentrasse suas refeições no período da noite.

Figura 5.3. Sensibilidade à insulina e outras alterações (Sutton, E,F; 2018)

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O jejum vai catabolizar?
Alguns estudos também buscaram avaliar a perda de massa muscular em indivíduos submetidos ao jejum
intermitente, tornando possível mensurar seu efeito para diferentes indivíduos. Um deles recrutou 16
homens saudáveis, com nível de atividade moderadamente ativo (na faixa de 1,6 a 1,99). Indivíduos com
agravos metabólicos e cardiovasculares foram excluídos do estudo. Os participantes foram divididos em
dois grupos, o primeiro (eTRF) foi submetido a um jejum noturno de 12 horas, realizando suas refeições
no período das 8h as 16h. O consumo calórico durante esse período foi à vontade. O grupo controle teve
uma restrição calórica mais contínua, com 5h a menos de jejum noturno. Este grupo consumiu um total
de calorias semelhante ao grupo jejum. A partir da tabela abaixo, é possível observar diferenças mais
significativas na massa gorda dos participantes, com variações pouco significativas na massa magra. A
partir dos gráficos abaixo, é possível observar o aumento na captação de BCAAs (aminoácidos de
cadeia ramificada, leucina, isoleucina e valina) e a maior captação de glicose a partir da melhora no índice
de sensibilidade à insulina de Matsuda, índice que avalia as sensibilidades hepática e periférica. É possível
inferir que houve uma adaptação do organismo, que recebeu um maior aporte calórico em um intervalo
de tempo específico, aumentando a captação desses aminoácidos e de glicose no músculo, em
comparação ao grupo em que não houve essa restrição de horário. Além disso, outros estudos reforçaram
não haver catabolismo muscular em condições de jejum, desde que sejam garantidas algumas condições,
sendo estas a ausência de déficit calórico, treinamento resistido e ingestão protéica adequada.

Figura 6.1 Captação de BCAAs e glicose nos dois grupos (Jones, R, et al ,2020

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Jejum Prolongado
Quando o assunto é jejum, muitos questionam acerca da redução do gasto energético em repouso (GER)
que poderia estar associada à prática. Todavia, isso não é observado com grande significância em muitos
estudos, não invalidando a prática para indivíduos que visam emagrecimento. Um jejum muito prolongado
pode afetar este GER, sobretudo a partir da sustentação de um grande déficit calórico, o que pode levar
o indivíduo a perder peso, e em razão da perda de massa corporal, haver queda no gasto energético. Isso
não deve ser generalizado para o jejum intermitente e as janelas de tempo que serão abordadas na
seguinte. Por outro lado, é importante entender mudanças proporcionadas pelo jejum sob a ótica de
outros fatores. Para entender isso, um recente estudo avaliou recrutou homens saudáveis e manteve-se
os em um jejum prolongado de dez dias (apenas água liberada), com um período posterior de recuperação
das calorias da dieta, havendo 4 dias de déficit calórico e mais cinco dias voltados para a recuperação
das calorias de consumo inicial. O interessante desse estudo envolveu a aplicação de questionários ao
decorrer dos dez dias de jejum, avaliando fatores cognitivos e psicológicos, estando incluídos nestes:
depressão, ansiedade, raiva, vigor, fadiga, fome, desejo de se alimentar, entre outros, conforme
a figura abaixo. .Foi observado um aumento da fadiga próximo ao sexto dia de jejum, com mostrou queda
em parâmetros bioquímicos esperados, como a glicose, hormônios tireoidianos (T3 pela diminuição da
atividade metabólica), havendo aumento de corpos cetônicos. O grande ponto aqui é que esses resultados
se dão pelo grande déficit calórico, e não pelo jejum em si, o que exige cuidado com alegações muito
favoráveis a essa prática. Um déficit grande, mesmo sem jejum, também diminui atividade tireoidiana
(importante mecanismo de sobrevivência).

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Figura 7.1 Avaliação de fatores cognitivos e psicológicos em jejum prolongado (Yang, C et al, 2021)

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Janela Alimentar do Jejum
Ainda, é interessante avaliar os efeitos metabólicos do jejum intermitente sob períodos de inanição
distintos, o que foi detalhado em outro estudo da revista científica Cell Metabolism. Os participantes
foram divididos em dois grupos, com um deles alimentando-se numa janela de 4 horas, enquanto o
outro realizou seu consumo alimentar em um período máximo de 6 horas. Ambos os grupos reduziram
seu consumo energético em 550 kcal. O grupo controle ingeriu as mesmas calorias. O estudo durou 8
semanas e, ao longo delas, observaram-se alguns episódios de constipação, diarreia, boca seca, entre
outras alterações fisiológicas mais sobressalentes em participantes do jejum, em comparação ao
controle.
Todavia, não é possível afirmar qualquer relação de causalidade entre o jejum e diarreia, por exemplo,
sendo possível que esses episódios sejam decorrentes do contexto alimentar de cada indivíduo. Um baixo

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consumo de carboidratos integrais e maior consumo de refinados pode estar atrelado a esses episódios.
Além disso, é importante entender como cada paciente lida frente ao jejum, avaliando os prós e contras
de cada um. Quanto à perda de peso, houve maior redução no grupo com janela alimentar menor, todavia
nada tão significativo assim para a prática.

Figura 8.1 Diferença na janela alimentar entre os dois grupos (Cienfuegos, S; 2020)

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Jejum Metabólico
Diferentemente da definição do jejum de calorias, o jejum metabólico é definido erroneamente como o
estado bioquímico atingido pelo organismo a partir da ausência da estimulação de insulina. Esse erro não
é incomum, sendo bastante citado por alguns profissionais a partir da premissa que apenas carboidratos,
e em segundo plano, proteínas estimulariam a insulina. O ponto é que todos os macronutrientes estimulam
este hormônio, incluindo as gorduras, estando a diferença centrada apenas na intensidade do estímulo. A
figura abaixo mostra as diferentes moléculas envolvidas nessa regulação, não sendo apenas uma
regulação exclusiva aos carboidratos.

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Figura 9.1 Regulação da insulina na célula beta-pancreática (Molina, P, 2021)

Um ensaio clínico randomizado recrutou pacientes obesos e dividiu-os em dois grupos, um deles 14/10 e
outro 12/12, sendo 10 e 12 os intervalos de tempo do jejum, em horas. Visando manter um jejum
metabólico, o primeiro grupo realizou nas últimas duas horas finais de jejum, o consumo de castanhas,
em razão do maior conteúdo de gorduras neste alimento. Foi possível observar uma perda de peso
estatisticamente similar entre os dois grupos. Também houve redução significativa na glicemia, em
decorrência da perda de peso de peso observada e não do jejum, não sendo possível atribuir este resultado
ao jejum em razão de não haver um grupo controle. Além disso, essa redução é esperada pois os pacientes
já apresentavam elevados níveis glicêmicos. Resumidamente, não houve vantagem no ‘jejum metabólico’
que erra até mesmo na definição de ‘jejum que não estimula insulina’.

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Jejum e Treinamento
Para avaliar o jejum associado ao treinamento, um outro ensaio clínico recrutou mulheres fisicamente
ativas e eutróficas, dividindo-as em três grupos. O primeiro grupo correspondeu ao grupo de jejum (TRF),
um grupo controle, e por fim o grupo TRF + HMB (sendo este um suplemento derivado da leucina, vendido
para aumento de massa muscular). Os participantes desse grupo receberam 3 gramas de suplemento
diariamente. O estudo durou 8 semanas, havendo supervisão das rotinas de treinamento. Além disso,
houve um aumento no consumo energético em comparação ao consumo usual, em razão do maior aporte
de proteínas. Todavia, precisamos atentar para um equívoco presente no resumo do estudo, que aponta
uma maior redução de massa gorda para os grupos de jejum intermitente, visto que esse resultado se dá
a partir apenas dos participantes que concluíram o estudo, o que impacta na randomização inicial do
estudo e confiabilidade dos achados. Avaliando todos os participantes, sem excluir os desistentes, é
possível observar, consequentemente, bastante similaridade na perda de massa livre de gordura, sem
distinções entre os grupos na perda de gordura.

Figura 10.1 Similaridade na perda de massa livre de gordura entre os grupos (Tinsley, G,M et al, 2019)

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Outro estudo, com duração de 8 semanas, avaliou indivíduos eutróficos homens. Um dos grupos do ensaio
clínico fez dieta isocalórica dividida em três refeições e o outro grupo realizou 16 horas de jejum.
Ambos os grupos incluíram treinamento. Por serem homens, foi esperado observar um maior consumo
energético pela dieta. Para avaliar a composição corporal, foram submetidos ao DEXA, um exame
interessante para avaliar gordura e massa livre de gordura. Ambos os grupos apresentaram pouca perda
de gordura, com variações entre ambos nada significativas. Observou-se uma redução nos níveis de
testosterona no grupo jejum, o que para fins práticos não é relevante (ao contrário do que um dos autores
do estudo divulgou anteriormente), visto que este exame não apresenta uma grande sensibilidade, além
de também ser esperada uma leve redução na testosterona em homens eutróficos após perda de peso.

Além disso, essa redução não impactou em fatores como a libido, densidade óssea, risco cardiovascular,
composição corporal, entre outros. Portanto, pode-se afirmar que, para fins práticos, não houve diferença.

Figura 10.2 Perda de peso semelhante entre os dois grupos (Trepanowski et al, 2017)

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Déficit Calórico e Treinamento
Outros estudos também avaliaram possíveis benefícios do jejum para mudança de composição corporal
submetendo os participantes a intervenções por menos semanas. O estudo abaixo, com duração de 4
semanas, submeteu 26 participantes do sexo masculino a diferentes grupos. O grupo jejum teve um
período de 8h diárias de janela alimentar, totalizando 16 horas em jejum. Neste estudo, a rotina de treino
foi um pouco menos frequente, totalizando 3 dias de treino por semana. Houve um déficit calórico de
25% e um maior aporte proteico (1,8g/kg de peso). Para avaliar a força, foram realizados diferentes
testes, que permitiram observar um leve aumento nos dois grupos. Houve queda no gasto energético em
repouso nos dois grupos, sendo originada pelo emagrecimento, o que impede qualquer relação causal
entre este e o jejum em si. Outras alterações esperadas com o emagrecimento também foram observadas,
como a queda na leptina, grelina, também não havendo mudanças significativas na composição corporal
dos indivíduos avaliados.

Figura 11.1 Alterações nos níveis de leptina e grelina e outros marcadores (Tatiana, M et al, 2016)

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Distribuição proteica no Jejum
Para entender possíveis benefícios na distribuição proteica em diferentes refeições do dia, um ensaio
clínico randomizado recrutou 26 homens, randomizando-os em dois grupos. O primeiro grupo (HBR)
realizou três refeições equalizadas em proteínas, concentrando um pouco mais no café da manhã. O
segundo grupo (LBR) realizava o mesmo número de refeições, concentrando suas proteínas no período da
noite. Ambos os grupos realizavam treinamento 3x por semana. A ingestão energética dos participantes
totalizou cerca de 2500 kcal. É possível observar as distribuições proteicas por refeição, em maiores
detalhes, na figura abaixo.

Figura 11.1 Perda de peso semelhante entre os dois grupos (Trepanowski et al, 2017)

Foi observada maior mudança na massa livre de gordura, favorecendo o grupo HBR. Apesar de ser um
estudo pequeno, ainda assim é interessante distribuir as proteínas nas refeições, quando há jejum com
esse curto intervalo de tempo voltado para ingestão alimentar (apenas 8h), de modo a evitar que apenas
uma única refeição concentre a maior parte das proteínas da dieta. Esta distribuição é mais importante
quando se visa hipertrofia em indivíduos realizando treinamento com pesos.
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Observações gerais
Por fim, há uma grande produção de pesquisa básica, que consiste na realização de estudos com animais.
Alguns destes detalham a redução no risco de obesidade e doenças relacionadas (ex: cardiovasculares)
quando estes são submetidos a uma rotina alimentar por tempo restrito (sob condições de jejum). Todavia,
não é possível extrapolar essa redução de forma tão direta para humanos, considerando que animais de
experimentação apresentam um tempo de vida muito mais reduzido em comparação a seres humanos.
Dessa forma, um dia para humanos não equivale ao mesmo tempo para estes animais. O estudo abaixo
também concluiu que o jejum pode ser utilizado sem efeitos colaterais em boa parte dos casos, sendo
importantes alguns cuidados especiais que devem ser voltados para pacientes com transtornos
alimentares, gestantes, entre outros públicos. No geral, não é indicado esse tipo de estratégia para esses
públicos. Ademais, é importante lembrar que tanto em jejuns de dias alternados quanto em jejum de
restrição de tempo, a perda de peso não será superior, não podendo ser atribuída a prática de jejum
especificamente. O jejum pode ser aplicável, mas não devemos cair em extremismos tanto que o
favoreçam quanto que o rejeitem totalmente. Antes de avaliarmos evidências boas o suficiente para
guiarem-nos em nossas práticas, é fundamental que percebamos as individualidades de cada paciente,
sua rotina e preferências. Este é um pilar também de extrema importância para uma prática baseada em
evidências.

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Referências Bibliográficas:

Sutton, F et al. Early Time-Restricted Feeding Improves Insulin Sensitivity, Blood Pressure, and Oxidative Stress
Even without Weight Loss in Men with Prediabetes. Cell Metabolism, 2018.

Trepanowski, J et al. Effect of Alternate-Day Fasting on Weight Loss, Weight Maintenance, and Cardioprotection
Among Metabolically Healthy Obese Adults. A Randomized Clinical Trial. Jama Internal Medicine, 2017.

Tinsley, G.M et al. Time-restricted feeding plus resistance training in active females: a randomized trial. An J Clinical
Nutrition, 2019.

Seimon, R.V et al. Do intermittent diets provide physiological benefits over continuous diets for weight
loss? A systematic review of clinical trials. Molecular and Cellular Endocrinology, 2015.

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