CRÉDITO GINÁSIOS IMPOSTOS BUROCRACIA

COMPRAR CASA CLÁUSULAS ILEGAIS MATERIAL ESCOLAR MAIS FÁCIL ONLINE

Como escolher o banco certo Vale a pena ler bem o contrato Simule quanto pouparia no IRS Como renovar o cartão
e poupar 546 euros por ano antes de aderir ao serviço se deduzisse todas as despesas de cidadão à distância
Pág. 14 Pág. 32 Pág. 41 Pág. 42

Número 167 // setembro/outubro 2021 // Bimestral € 11

Diretora e editora Cláudia Maia

DECO PROTESTE
REVISTAS
Descarregue a app
www.deco.proteste.pt

Portagens virtuais
castigam condutores
Passar num pórtico sem Via Verde não só é mais caro, como pode transformar-se
num pesadelo de dívidas, coimas e penhoras. As queixas no portal Reclamar avolumam-se
DISCURSO DIRETO NESTA EDIÇÃO

CAPA

28
Portagens virtuais
Cada pórtico gera uma dívida. Se não tem
Via Verde, terá de pagar a portagem
nos CTT ou nas lojas payshop.
Mas os desencontros com as notificações
transformam-se em autênticos pesadelos
fiscais para muitos consumidores
Cláudia Maia
Diretora e Editora
de Publicações

A portagem
ou a dívida
As autoestradas com pórticos para pagamento em lugar das
portagens físicas tanto têm de prático como de problemático.
A começar no “contrato”. Como em qualquer prestação de
serviços, assume-se que o cliente das portagens virtuais aceita
as condições do serviço em troca de um pagamento, antes
mesmo de o serviço ser prestado. Ora, nas autoestradas com
portagens virtuais, os utentes desconhecem quanto vão pagar
até começarem a circular em plena via. O preço é-lhes indicado
quando já iniciaram o circuito, sem possibilidade de darem
meia volta para trás. E o valor indicado é apenas o cobrado
a quem dispõe de um dispositivo da Via Verde, que permite
às concessionárias descontarem a portagem diretamente
da conta do cliente. Para os que não dispõem de Via Verde,
O VALOR DA PORTAGEM
e a quem até é cobrado um valor superior ao anunciado nos
DEMORA 48 HORAS
painéis, sobra a ignorância... e a dívida. Isto porque também
A FICAR DISPONÍVEL
não são informados, em lado algum, sobre onde e como podem
PARA PAGAMENTO E TEM DE SER
saldar a sua despesa. O resultado é o que se imagina: milhares
LIQUIDADO EM 5 DIAS ÚTEIS
de condutores com portagens em falta, que nem sempre são
notificados pelas concessionárias para o pagamento voluntário
e que, por isso, acabam em dívida com a Autoridade Tributária,
a quem são remetidos estes processos para cobrança coerciva.
218 410 858
Uma dívida que, entretanto, engordou dezenas ou centenas de Serviço de informação
euros e corre o risco de ser cobrada com recurso à penhora de 218 410 801
rendimentos ou de bens. Matar moscas com canhões nunca foi Assinaturas e encomendas

uma prática razoável. Muito menos quando o problema se deve Cidadãos Surdos
12472 ou Skype
às ineficiências de quem presta o serviço e não de quem o usa. Precisa de computador com câmara ou smartphone
com Skype para contactar o Serviin
ENVIE-NOS OS SEUS COMENTÁRIOS editorial@deco.proteste.pt

2 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

 12 Os fundos PPR são, por
norma, mais rentáveis
do que os seguros PPR

32

38
ANÁLISES E ESTUDOS RUBRICAS

8 22 38 4
Burlas com MB Way Impacto da pandemia Poupar para a reforma Grande plano
Saiba como detetar esquemas Entrevistámos Edmundo Conheça o produto mais Estatuto do cuidador informal.
fraudulentos aos primeiros Martinho, provedor da Santa adequado para cada idade Pensão na hora. Seguro para
sinais Casa da Misericórdia de Lisboa e quanto pode ganhar animais. Contas à ordem.

12 26 41
Condomínio DECO + no Salão
Imobiliário de Portugal. Resgatar
IVAucher Satisfação com seguros Despesas de educação o PPR devido à pandemia.
A partir de 1 de outubro, As exclusões defraudam as Simule quanto pouparia se mais Provedor do animal

48
pode usar o IVA acumulado expectativas dos consumidores despesas fossem consideradas

42
em restauração, alojamento e provam que falta informação
Sem recurso
32
ou cultura
Cartão de cidadão
14
Veja como os tribunais decidiram
Ginásios Saiba quem pode renovar o num caso idêntico ao seu
Comprar casa
50
Muitos têm aceitado alterar cartão sem sair de casa e como

Da TAEG aos seguros,
explicamos o que deve avaliar
antes de pedir o empréstimo
Defendemos a simplificação
das comissões iniciais
do crédito à habitação
as condições contratuais
35
Redução de salários
Situações excecionais de crise
podem motivar a redução
45
Livro de reclamações
Pornografia de vingança Histórias, dúvidas e testemunhos
Há penas para quem divulga, dos nossos leitores
sem consentimento, imagens
íntimas na internet

OS NOSSOS VALORES

INDEPENDÊNCIA CREDIBILIDADE PROXIMIDADE

A nossa missão exige indepen­dência total:
financeira, política e ideológica. Os conselhos e
tomadas de posição resultam dos nossos estudos
e análises, livres de qualquer tipo de pressão.
A totalidade das receitas da nossa atividade é
reinvestida em prol dos consumidores.
A concretização da nossa missão assenta na
credibilidade e no reconhecimento da qual­idade
do nosso trabalho. Esta resulta do profissionalismo
das nossas equipas e de métodos comprovados,
transparentes e constantemente reavaliados,
baseados numa ética profissional exigente.
A nossa missão é permanent­emente orientada
para a satisfação das necessidades dos
consumidores. A concretização passa por interagir
com todos os interlocutores – consumidores,
comunicação social, poderes políticos, etc. – de
forma direta, concreta e adequada.

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 3

 GRANDE
PLANO
ESTATUTO DO CUIDADOR INFORMAL
Quase metade dos pedidos
de subsídio foram recusados
Apenas 383 pessoas
acederam ao subsídio
do cuidador informal.
O valor recebido foi
de 282 euros, em média
Num ano, dos 1635 requerimentos
do estatuto de cuidador informal
acompanhados do respetivo pedido
de subsídio, 700 foram recusados.
O principal motivo é não ter sido
reconhecido ao requerente o estatuto de
cuidador informal principal. Apenas 383
pessoas viram deferidos os seus pedidos.
Estes cuidadores receberam, em média,
281,96 euros por mês.
Os dados constam do relatório final
4 D&D//setembro/outubro 2021
TODA A ATUALIDADE E AS RECOMENDAÇÕES DOS NOSSOS ESPECIALISTAS
de avaliação e conclusões sobre a
implementação das medidas de apoio
ao cuidador informal, elaborado por
uma comissão presidida pelo Instituto
de Segurança Social. A análise incidiu
sobre os 30 concelhos que integraram
a chamada fase-piloto da execução das
medidas de apoio aos cuidadores.
Quanto aos pedidos de reconhecimento
do Estatuto de Cuidador Informal, foram
feitas 2198 solicitações – das quais
1724 para cuidador principal e 474
para cuidador informal não-principal –,
mas apenas 977 destes pedidos foram
aceites. Dos 475 requerimentos negados
(os restantes estão “em análise, a aguardar
documentos ou com propostas de
conclusão”, segundo o relatório), a maior
parte (52,8%) assentou no facto de
a pessoa cuidada não ser titular do
complemento por dependência de 1.º
grau ou, sendo titular, “não se encontrar
transitoriamente acamada ou a necessitar
de cuidados permanentes”, pode ler-se
ainda no relatório.
Em entrevista à TESTE SAÚDE de agosto,
Maria dos Anjos Catapirra, vice-presidente
da Associação Nacional de Cuidadores
Informais, afirmou que “a forma de
reconhecimento do cuidador tem de
ser mais ligeira”, criticando o trabalho
da comissão responsável por avaliar as
medidas, sobretudo na primeira fase
do acompanhamento: “Muito burocrático,
com pouco conhecimento de terreno,
pouca noção do que é ser cuidador
informal, do que as pessoas sofrem.”
Sobre o subsídio de apoio ao cuidador,
a dirigente não teve meias-palavras:
“Não tira ninguém do limiar da pobreza.”
www.deco.proteste.pt
 € 546
É quanto pode poupar, por ano, com o nosso protocolo
para crédito à habitação, com vendas cruzadas
Página 14

REFORMA

Pensão de velhice num clique Nuno Rico

Para tentar acelerar ESPECIALISTA RECOMENDA

a avaliação de pedidos
de reforma e respetiva
atribuição de pensões ESCOLHA
CONTAS € 73
de velhice e de invalidez, a ACERTADA
À ORDEM POUPANÇA
ANUAL
Segurança Social criou uma
ferramenta online, a “Pensão
na hora”, que permite
Activo Bank Banco CTT BNI Europa
fazer o pedido através da
Segurança Social Direta €0 €15,60 €23,92
(app.seg-social.pt/ptss), com comissões comissões comissões

imediata comunicação do Conta Simples Conta CTT Conta à

valor provisório bruto da
pensão. Após preencher
o requerimento online, “o
cidadão pode ter o pedido
aprovado automaticamente,
sendo-lhe atribuída uma
pensão provisória num
BANCA
Número de contas de serviços
prazo máximo de 24 horas”,
promete a Segurança Social
no seu site. O sistema
verifica se a pessoa já atingiu
a idade legal de reforma (66
anos e 6 meses, em 2021)
e se cumpre o prazo de
garantia (mínimo de 15 anos
de contribuições). O valor
de reforma apurado não
inclui descontos para outros
regimes, como a Caixa
Geral de Aposentações
ou regimes estrangeiros.
Ordem
remunerada
A última atualização do nosso
simulador de contas à ordem veio
confirmar que, após um ano de
pandemia, os bancos aumentaram,
e muito, as comissões, sobretudo
nos serviços mais usados, como o
cartão de débito e as transferências
por homebanking, por exemplo.
Procurar mais barato é preciso. Para

mínimos cresceu 9%
O número de contas de serviços mínimos
bancários subiu 9,1% no final do primeiro
semestre de 2021, em relação ao final do ano
passado. Nos primeiros seis meses deste ano,
foram abertas 14 249 contas destas, das quais
76,3% resultaram da conversão de uma conta
de depósito à ordem existente na instituição.
Aos detentores de uma conta de serviços
mínimos são cobrados até 4,38 euros anuais,
em 2021. A conta inclui o acesso a um cartão
de débito, a levantamentos ao balcão gratuitos
e à realização de transferências ilimitadas nas
caixas Multibanco. No pacote, estão ainda
incluídas 24 transferências interbancárias
anuais e 5 transferências mensais, até 30 euros
cada, em aplicações de pagamentos, como o
MB Way.
uma conta à ordem com um perfil
de utilização sem domiciliação de
vencimento, e que inclua um cartão
de débito, um cartão de crédito e
três transferências interbancárias
por mês via internet, as contas com
os encargos anuais mais baixos são
a Conta Simples, do Activo Bank,
a Conta CTT, do Banco CTT, e a
Conta à Ordem Remunerada, do
BNI Europa. Destaque óbvio para a
proposta do Activo Bank, que, para o
nosso perfil de utilização, não cobra
qualquer custo ao cliente. Daí o título
de Escolha Acertada. Optando por
esta conta, o consumidor poupa
72,73 euros, por ano, face à média
de mercado.
FAÇA UMA SIMULAÇÃO
em www.deco.proteste.pt/contas-ordem

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 5

 GRANDE
PLANO

EVENTO

Condomínio DECO + no Salão Imobiliário de Portugal

A presença já é habitual. A equipa do Condomínio DECO+
estará de prontidão na edição deste ano do Salão Imobiliário
de Portugal (SIL), que decorre de 7 a 10 de outubro, na FIL do
Parque das Nações, em Lisboa, para explicar o funcionamento
do serviço. A Rede Condomínio DECO+ integra um conjunto de
prestadores que consideramos fiáveis para gestão do condomínio,
limpezas, manutenção, mediação de seguros, entre outros.
O público pode também ficar a conhecer a ferramenta “Plataforma
de gestão”, um recurso online de gestão de condomínios.
A presença do Condomínio DECO+ no SIL servirá ainda, tal
como nos anos anteriores, para destacar a importância do site
www.condominiodeco.pt como fonte de informação sobre os mais
diversos assuntos ligados à vida em condomínio: administração,
questões legais e financeiras, quotas, problemas com vizinhos,
obras e tanto mais. Estreante nesta edição do SIL será a presença da
equipa do projeto DECO PROTESTE SELECT (www.deco.proteste.pt/
select), que permite encontrar e contratar profissionais e empresas
de construção, reparação de eletrodomésticos, caixilharia, entre
outros serviços para a casa. O SIL será também o ponto de encontro
para debater as tendências e o futuro do setor imobiliário, com o
foco virado para a sustentabilidade e para a eficiência energética.
Detalhes sobre horários, convidados e conferências em www.imobiliario.fil.pt

CENSOS 2021:
PORTUGAL PERDEU
POPULAÇÃO
Há menos 214 mil pessoas
a viver em Portugal do que
há 10 anos, revelam os
resultados dos Censos 2021.
Cenário semelhante só
aconteceu entre os Censos
de 1960 e 1970, período de
grande emigração. Cerca de
metade da população vive
em apenas 31 municípios,
localizados maioritariamente
nas áreas metropolitanas
de Lisboa e Porto.
APOIOS ALARGADOS
AO ENSINO INDIVIDUAL
E DOMÉSTICO
O novo regime jurídico
do ensino individual e do
ensino doméstico, em vigor
desde o início de agosto,
determina que os alunos
que estudem em casa, em
vez de irem à escola regular,
passem a ter direito à ação
social escolar, às atividades
de enriquecimento curricular
e à disponibilização gratuita
dos manuais escolares.
GOVERNO CRIA
“TURMAS DINÂMICAS”
As escolas vão poder alterar
a composição das turmas
a meio do ano letivo, se
houver benefícios para a
aprendizagem dos alunos.
As “turmas dinâmicas” têm
por objetivo a “promoção
da heterogeneidade
que leva todos mais
longe”. Não podem ser
“turmas segregadas”, nem
constituídas “em função de
resultados académicos”.

6 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

PANDEMIA
PROTEÇÃO ANIMAL

Resgate Já existe a figura

excecional do Provedor
de PPR até do Animal
30 de setembro Já se encontra em vigor o diploma
que cria o Provedor do Animal.
A missão é garantir a “defesa e a
promoção do bem-estar animal”.
Numa nota divulgada no site oficial da
Presidência da República, no dia da
sua promulgação, Marcelo Rebelo de
Quem tenha um plano de poupança-reforma (PPR), um plano de
Sousa avisou, contudo, que parece
poupança-educação (PPE) ou um plano de poupança-reforma/educação (PPR/E)
“particularmente difícil” assegurar a
pode, a título excecional, resgatar estes produtos sem penalizações até 30 de
função “cobrindo, por um lado, cerca
setembro, desde que o plano tenha sido subscrito até 31 de março de 2020,
2,5 milhões de animais de companhia
e o detentor ou algum membro do agregado familiar se enquadre nas exceções
e, por outro, mais de 60 milhões de
previstas na lei. Ou seja, estão abrangidos por esta possibilidade:
animais em exploração pecuária e
outras atividades”.
● quem está em isolamento profilático, doente ou a prestar assistência
São competências do Provedor
a filhos ou netos;
do Animal, entre outras, receber
queixas e sugestões sobre a atuação
● quem está em lay-off ou desempregado (registado no IEFP);
dos poderes públicos em matéria
de bem-estar animal, e enviar às
● quem for elegível para o apoio extraordinário ao rendimento
entidades competentes informação
dos trabalhadores;
que receba sobre situações que
coloquem em risco o bem-estar
● quem estiver em situação de desproteção económica e social ou redução
animal. O Provedor do Animal está sob
do período normal de trabalho;
tutela dos ministérios do Ambiente e
da Ação Climática e da Agricultura.
● quem tiver sofrido uma quebra relevante do rendimento médio mensal;

● quem for elegível para o apoio extraordinário à diminuição da atividade

do trabalhador independente, que não seja pensionista e tenha redução
da atividade económica;

● ou quem for beneficiário do regime de diferimento do pagamento de rendas,

enquanto detentor de um contrato de arrendamento de um prédio urbano para
habitação própria e permanente em vigor a 31 de março de 2020.

Os limites mensais de reembolso por beneficiário e entidade correspondem

a 438,81 euros, o valor do indexante dos apoios sociais (IAS) em 2020. Sendo
arrendatário, pode resgatar até 658,22 euros por mês. O resgate pode ser feito
pelo detentor do contrato ou por um membro do agregado familiar.
QUANTO POUPAR PARA A REFORMA E ONDE INVESTIR?
Faça os cálculos em www.deco.proteste.pt/investe/reforma

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 7

D&D//MB WAY

Reconhecer a burla
As burlas com o André publicou há pouco um anúncio num site de compra e venda online e já tem um interessado na sua
MB Way não atingem Este diz-lhe que quer comprá-la e que pode pagar-lhe de imediato por MB Way, aplicação que André não

só os utilizadores da
aplicação de pagamentos. Não tem Mb Way? Não há problema. Carrego em
ao Mb Way”?
Basta ir ao multibanco e eu faço
Saiba como detetar estes o pagamento através da minha não estou a
esquemas fraudulentos aplicação.
aos primeiros sinais
Texto Silvia Nogal Dias & Filipa Rendo
Ilustração Paulo Buchinho

F
altava menos de um mês para o 1
SEM
Natal, quando Fernando (nome
SABER,
fictício) publicou um anúncio no A VÍTIMA
site OLX. Poucas horas depois, ESTÁ A ADERIR
recebeu a chamada de uma potencial AO MB WAY
compradora. Tinha filhos pequenos,
NO MULTIBANCO...
disse-lhe, e gostava de lhes oferecer o
piano que Fernando tinha posto à venda
pelo Natal. O interesse era tanto que
lhe sugeriu que retirasse o anúncio do Outra venda online, outra burla. Neste caso, o burlão tenta perceber se a vítima tem MB Way.
site, pois pagaria os mil euros pedidos Luísa diz que sim e o esquema é posto em marcha.
pelo produto de imediato. Fernando
estranhou que a compradora não
Não sabia que o MB Way
quisesse sequer ver o artigo, mas esta É mesmo essa raquete
alegou estar fora do país. O pagamento, referências para pagam
que procuro! Posso fazer
esse, poderia ser feito por MB Way, Mas vamos a isso!
já o pagamento, só tem de
aplicação de pagamentos móveis que
Fernando até tinha, mas que havia
gerar uma referência
usado apenas uma vez. A compradora no MB Way.
tranquilizou-o: “É fácil, eu ajudo!”.
Daí até que o nosso leitor de Faro
percebesse que caíra num engodo foi um
passo. A chamada ainda decorria quando
Fernando começou a receber notificações
da aplicação no telemóvel. Em poucos
minutos, haviam sido feitas várias
transferências no valor de 2500 euros.
2
O BURLÃO
Situações como esta acontecem todos CONSEGUE
os dias no contexto de vendas em sites de LEVANTAR
artigos usados. A frequência é tal que, DINHEIRO DA
VÍTIMA USANDO
APENAS UM CÓDIGO
8 D&D//setembro/outubro 2021
 a léguas
bicicleta. Não! Carregue lá e Que é como SE NÃO USA, RECUSE O PAGAMENTO
quem diz... Um dos tipos de burlas mais comuns consiste
utiliza. depois preencha com em levar a vítima a aderir ao MB Way, no
o meu número de ficar com multibanco, de forma involuntária.
telefone e o código acesso à tua Como tal, se não é utilizador do serviço, rejeite
“adesão 123456. Assim, conta! receber qualquer quantia por esta via.
Mas assim Qualquer número de telefone que introduza
já posso fazer o na adesão ao MB Way ficará associado ao seu
aderir? pagamento! cartão, o que permitirá movimentar a sua
conta. Para proteção dos utilizadores, as
caixas automáticas apresentam alertas para
que não se adicionem números de telefone de
terceiros na adesão ao MB Way.

Mas os criminosos têm fintado os avisos: de

modo a não levantarem suspeitas, a vítima é
levada a aderir ao MB Way com o seu próprio
número de telefone. Mas é o burlão que lhe
dita o PIN. Para confirmar a ativação do
serviço, o MB Way envia à vítima um código
por SMS. O suspeito pede-lho, alegando que
servirá para ele lhe fazer o pagamento em
causa. Como já está na posse do número de
telefone da vítima e foi o próprio que criou o
PIN de acesso, basta-lhe esse código de
ativação para ficar com acesso à conta.

Clica em “Levantar dinheiro”, escreve

200 e o MB Way gera uma referência
de 10 números. Com ela já posso fazer
gerava o pagamento. O MBWAY NÃO GERA REFERÊNCIAS
entos… PARA PAGAMENTOS
Se usar a funcionalidade “Levantar dinheiro”,
o código gerado pela aplicação permite
200 euros já cá cantam! levantar dinheiro no multibanco, sem
necessitar de um cartão bancário. Para tal,
basta inserir esses 10 dígitos na caixa
automática, no prazo máximo de 30 minutos.

Por muito que a imaginação de alguns consiga

convencer outros de que esta funcionalidade
tem outros propósitos, ela serve
exclusivamente para aquilo que designa:
levantar dinheiro. Ainda assim, esta é a forma
menos lesiva de burla, já que cada código
permite levantar, no máximo, 200 euros.
 A venda da máquina de lavar a roupa está prestes a sair cara a João. O anúncio acabou segundo o relatório do Observatório
de Cibersegurança, as burlas com o
de ser publicado e já tem um interessado a querer fechar negócio. MB Way já lideram as denúncias de
criminalidade informática feitas à

3
O BURLÃO VAI DIRETO
Para fazer o pagamento,
Procuradoria-Geral da República, à frente
de crimes como o phishing.
AO ASSUNTO E PEDE pode dar-me os 6 dígitos de Entre as vítimas estão utilizadores do
O CÓDIGO DE identificação do seu MB Way? MB Way, mas também pessoas que nunca
ACESSO DA usaram a aplicação. Em comum têm o
APLICAÇÃO facto de não estarem familiarizadas com
o seu modo de funcionamento.
Foi o caso de Fernando que, apesar de ter
instalado o serviço no smartphone havia
três anos, só o tinha usado numa ocasião,
Seis dígitos? para partilhar a conta de um restaurante
Mas isso não é o com um amigo. Não estranhou, por isso,
meu PIN? quando a burlona lhe pediu um código
que acabara de receber por SMS, com a
justificação de que era necessário para
efetuar o pagamento. Ao revelar-lho, deu-
-lhe total acesso ao seu dinheiro.

Ligue o detetor de burlas

Não! Ia agora pedir-lhe o seu PIN!
Esses dados são necessários para
eu introduzir no meu homebanking.
A seguir o meu banco envia-lhe uma SMS
a confirmar que transferi o dinheiro.
O CÓDIGO DE ACESSO É PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL
Ao dar o seu código de acesso a quem também tem o seu número de telefone,
está a escancarar a porta da sua conta bancária. É o mesmo que dar a alguém o
seu cartão multibanco e o respetivo PIN.
Usar o MB Way implica que esteja ciente
de que o seu número de telefone passa
a ser uma porta de entrada para a sua
conta bancária. Nesta lógica, a chave da
porta é o PIN que define quando adere ao
serviço. Se alguém ficar na posse desses
dois elementos, conseguirá ter acesso à
conta. Mas não é a única forma.
As burlas mais comuns acontecem
no contexto de vendas online de artigos
em segunda mão. Normalmente, nestes
casos, alguém põe um produto à venda
e o contacto de supostos interessados é
quase instantâneo. Do outro lado da linha
está alguém tão interessado em comprar
o produto, que se prontifica a pagar de
imediato, sem sequer fazer perguntas
sobre o seu estado. Sinais que devem
deixar qualquer um em alerta.
Os burlões vão variando as estratégias
e aprimorando o discurso. Têm até
diferentes abordagens para quem já é
utilizador do MB Way e para quem nunca
usou a aplicação. Normalmente, no
segundo caso, o esquema consiste em
fazer a vítima aderir ao serviço, sem que
esta se aperceba, ficando o burlão com
total acesso à sua conta bancária (veja o
primeiro exemplo da nossa ilustração).
Já quando a vítima tem MB Way, mas

10 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt


não está familiarizada com todas as
funcionalidades, a abordagem habitual
consiste em levá-la a revelar um código
gerado, no momento, pela aplicação,
convencendo-a de que se trata de uma
referência para que o suposto comprador
efetue um pagamento. Na verdade, esse
código permite-lhe levantar dinheiro
no multibanco sem cartão (segundo
exemplo da ilustração).
Conhecer para se proteger
À medida que o conhecimento sobre
alguns esquemas se vai disseminando,
fruto da divulgação de novos casos ou
de detenções de grupos criminosos,
as burlas com recurso ao MB Way vão
ganhando novas roupagens.
A melhor forma de estar um passo à
frente dos burlões é perceber ao certo
para que serve a aplicação (veja a caixa
abaixo) e que informação pode e não
pode partilhar. No caso das vendas
online, por exemplo, para que alguém lhe
faça chegar um pagamento por MB Way,
só precisa de um dado seu: o número
de telefone. Qualquer elemento que lhe
seja pedido para além deste deve levá-lo
a suspender o contacto. Se não tiver
MB Way, o melhor remédio é recusar
pagamentos por esta via, até porque,
mesmo que queiram convencê-lo do
contrário, a aplicação só permite fazer
MB WAY Para que te quero?
Enviar Dinheiro Transfere
dinheiro de forma imediata
para o contacto telefónico
que selecionar.
Pedir Dinheiro Envia uma
notificação a um contacto,
com o montante que quer
pedir. Se o destinatário
autorizar a operação,
recebe o dinheiro de
imediato na conta.
Utilizar Multibanco
Permite usar as caixas
automáticas sem inserir
o cartão, através da leitura
de um QR code pelo Ser solidário Faz donativos a instituições de
solidariedade.
smartphone.
www.deco.proteste.pt
transações entre utilizadores. Receber
o montante em causa presencialmente
ou por transferência bancária é a melhor
solução para quem não tem a aplicação.
Bancos não se responsabilizam
pelas perdas
Se, por azar do destino, se aperceber
demasiado tarde de que o entusiasmo
de um bom negócio o levou a enredar-se
num esquema fraudulento, a primeira
coisa a fazer é alterar o código de acesso
do MB Way numa caixa multibanco ou na
própria aplicação. Pode também telefonar
para o banco e cancelar o cartão.
Se forneceu o código para levantamento
de dinheiro, pode cancelá-lo na aplicação,
na secção “Atividade”. Neste caso,
antecipar-se aos burlões é missão quase
impossível. Normalmente, enquanto
decorre a conversa com a vítima, aqueles
já se encontram junto à caixa multibanco
e fazem o levantamento antes mesmo de
terminarem a chamada.
Depois de garantir que ninguém, além
de si, consegue ter acesso aos seus dados
bancários, deve apresentar queixa às
autoridades.
Reclamar junto do banco não dará
frutos. Uma vez que é o próprio cliente
a facultar os seus dados a terceiros,
ainda que involuntariamente, toda a
responsabilidade lhe é imputada.
Cartões MB NET Cria
cartões virtuais temporários
para pagar compras online.
Pagar com o MB Way Para
compras em lojas físicas ou
virtuais, através da leitura
de QR code ou do sistema
contactless.
Dividir Conta Envia uma
notificação aos contactos
selecionados com o valor a
pagar. À medida que
aceitam, recebe o dinheiro.
Levantar Dinheiro Um
código gerado na aplicação
permite levantar dinheiro no
multibanco, sem cartão.
D&D//MB WAY
Por outro lado, a SIBS, entidade gestora
do MB Way, também não responde
pelas perdas dos utilizadores já que,
ao aceitarem as condições gerais do
serviço, estão a declarar-se responsáveis
por manterem as informações pessoais
confidenciais.
Ainda assim, o nosso leitor lesado no
final do ano passado bateu a todas as
portas, na tentativa de reaver os valores
roubados, mas sem sucesso.
Já sem esperança de recuperar o dinheiro
perdido, espera, pelo menos, que os
burlões sejam apanhados.
DOSSIÊ TÉCNICO Margarida Zacarias
A OPINIÃO DA NOSSA
ESPECIALISTA
Margarida Zacarias
Apesar dos riscos inerentes
à utilização de qualquer meio
eletrónico de pagamento, usar
o MB Way é, na generalidade,
seguro. Ainda assim, há regras
fundamentais para evitar uma
má experiência com este ou
outros serviços de pagamentos
digitais. Tome nota: em situação
alguma associe ao MB Way, seja
no multibanco ou diretamente
na aplicação, um número de
telemóvel que não seja o seu;
não partilhe com terceiros o seu
código de acesso à aplicação ou
qualquer outro que o MB Way
lhe envie por SMS; não forneça
dados pessoais, como o número
do seu cartão bancário, a
estranhos; se desconhece o
modo de funcionamento do
MB Way, recuse pagamentos por
este meio; consulte o seu extrato
bancário com frequência.
setembro/outubro 2021//D&D 11
D&D//IVAUCHER
Já pode começar
a gastar o IVA
S
A partir de 1 de outubro, o IVA acumulado
em despesas de restauração, alojamento
ou cultura pode ser gasto em novas compras
nos mesmos setores. Mas tem de pagar
com cartão e usar uma app no telemóvel
Texto Ana Santos Gomes
12 D&D//setembro/outubro 2021
e, entre os meses de junho
e agosto, pediu faturas com
o número de contribuinte
face a despesas nas áreas
da restauração, do alojamento ou da
cultura, é hora de usar o IVA acumulado
para pagar novas compras. A medida é
válida apenas até ao final deste ano, e
foi criada para incentivar o consumo em
três setores especialmente prejudicados
pela pandemia. Os estabelecimentos
aderentes estão identificados com
um selo. Neles, pode comprar novos
produtos com o IVA acumulado durante
o verão. Antes disso, tem de associar
um (ou vários) cartões bancários ao seu
número de contribuinte. Só é possível
associar um cartão a um contribuinte,
embora este possa estar ligado a vários
cartões.
Não é permitido usar o IVA acumulado
para obter descontos em despesas
pagas com dinheiro. Também não pode
transferir o saldo para outra pessoa.
O valor acumulado pertence apenas ao
respetivo contribuinte. Pode cancelar a
adesão a qualquer momento, mas não lhe
é admitido voltar a aderir.
Pagar até metade das compras
Pode usar o saldo disponível para
pagar até 50% da despesa num
estabelecimento aderente ao programa
IVAucher. Ou seja, o montante
acumulado não lhe permite obter
produtos e serviços gratuitamente, mas,
sim, uma redução do preço. Por exemplo,
se vai pagar um almoço de 20 euros num
restaurante aderente, apenas pode usar
www.deco.proteste.pt
até 10 euros de créditos acumulados,
mesmo que disponha de um montante
superior na sua conta de IVAucher.
O saldo remanescente continua a
poder ser usado em próximas compras
nos setores da restauração, do alojamento
ou da cultura, até 31 de dezembro.
Pagamentos só com cartão
Já o dissemos. Para gastar o saldo
acumulado na conta de IVAucher,
tem de pagar as novas compras
com um cartão bancário associado
ao número de contribuinte (de débito
ou de crédito, é indiferente). A associação
de cartões ao número de identificação
fiscal está disponível desde 15 de junho
em www.ivaucher.pt e, claro, tem de ser
feita antes de começar a usar o saldo.
Apesar do registo do cartão no
site, a Autoridade Tributária não tem
acesso a dados bancários do utilizador.
Apenas reconhece que o cartão é de
determinado contribuinte e disponibiliza
o saldo acumulado. O mesmo acontece
com as compras feitas por meio
de cartões virtuais, como o MBnet,
desde que estes se encontrem conectados
a um cartão bancário registado
no programa.
Nem todas as lojas contam
Antes de efetuar uma compra em que
pense aplicar parte do saldo acumulado
no IVAucher para obter um desconto,
confirme se o estabelecimento aderiu
ao programa. Pode perguntar ao
vendedor. Mas, em princípio, a loja
exibirá à entrada o selo que comprova
a adesão e a possibilidade de descontar
em compras os montantes acumulados.
Muito importante: nada obriga a
rebater em compras de um setor o IVA
acumulado em despesas nessa mesma
www.deco.proteste.pt
CONSULTA
Saldo atualizado
Na plataforma e-Fatura (https://faturas.
portaldasfinanças.gov.pt), que este ano
passou também a estar disponível numa
app com o mesmo nome, o contribuinte
pode consultar, a todo o instante, o saldo
que acumulou nos meses de junho,
julho e agosto e que pode usar em
novas compras nos setores da cultura,
da restauração ou do alojamento.
Basta autenticar-se com as credenciais
de acesso (as mesmas do Portal
das Finanças) e abrir o menu IVAucher.
área. Ou seja, se acumulou na conta o
IVA suportado na compra de um bilhete
de teatro, pode usá-lo depois para
pagar parte da despesa de um jantar,
por exemplo. O saldo acumulado entre
junho e agosto pode usado em qualquer
estabelecimento aderente.
Todos os movimentos registados
O talão impresso no terminal de
pagamento automático discrimina
o montante pago com os créditos
acumulados e a parte suportada
pelo consumidor. Assim, pode ficar
com um registo de todos os movimentos
feitos com o saldo do IVAucher.
Que estão também disponíveis
para consulta na app do programa.
AS LOJAS ADERENTES DEVEM
EXIBIR À ENTRADA O SELO
QUE IDENTIFICA A ACEITAÇÃO
DE PAGAMENTOS COM O
SALDO DO IVAUCHER
De qualquer forma, na plataforma
e-Fatura, o saldo encontra-se sempre
visível (ver caixa).
Se, a 31 de dezembro, lhe sobrar
saldo na conta, o Fisco fará a dedução
automática do montante, enquanto
“benefício de IVA”, no IRS do ano
seguinte.
IVA gasto não é dedutível
Uma vez que o IVA acumulado é
integralmente devolvido ao contribuinte
para novas compras, já não pode ser
deduzido no IRS. Apenas é deduzido
o valor que, até 31 dezembro, não
tenha sido gasto em compras nos
setores da restauração, do alojamento
ou da cultura.
Ainda assim, as despesas
efetuadas entre outubro e dezembro
vão diretamente para o e-Fatura.
Aqui, como é habitual, 15% do IVA
relacionado com despesas de restauração
e alojamento são dedutíveis no IRS, até ao
limite de 250 euros por agregado. A partir
de 1 de janeiro de 2022, já não é possível
utilizar o saldo acumulado em 2021.
DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas
setembro/outubro 2021//D&D 13
DOSSIÊ//CRÉDITO À HABITAÇÃO
14 Crédito à habitação e seguro de vida

Vou c
20 Comissões iniciais

O crédito à habitação não

se mede apenas pelo
spread. Da TAEG aos
seguros, saiba tudo o que
deve avaliar antes de pedir
o empréstimo. Escolher
bem pode valer-lhe uma
generosa poupança de
546 euros por ano
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo

N
em a pandemia fez abrandar
a concessão de crédito à
habitação. Segundo dados do
Banco de Portugal, em 2020,
foram concedidos 11,4 mil milhões de
euros para compra de casa, um acréscimo
de 800 milhões em relação ao ano
anterior. Já em março deste ano, registou-
-se o valor mensal de crédito concedido
mais elevado desde janeiro de 2008.
Mantendo-se a tendência, 2021 arrisca-se
a bater o recorde dos últimos 13 anos.
Este dinamismo reflete-se nos magros
spreads oferecidos pela banca que, em
conjunto com as taxas de juro negativas,
criam o contexto ideal para quem quer

O CRÉDITO
PASSO
1 SIMULAÇÕES DE CRÉDITO
Através do preço do imóvel,
do prazo do empréstimo e da
A PASSO percentagem do financiamento,
consegue ter uma ideia da prestação a
pagar. Só numa fase posterior obterá
as condições concretas do crédito.
2 PRÉ-APROVAÇÃO
Para obter condições de
financiamento concretas, tem de
3 NEGOCIAÇÃO
É nesta altura que tem de fazer
todas as contas: não só à prestação,
fornecer ao banco comprovativos de
rendimentos e de despesas, como
mas a todos os custos associados,
como os seguros. Compare as várias
folhas de ordenado, extratos bancários propostas e negocie com os bancos
e a nota de liquidação do IRS. para obter a melhor solução possível.

14 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

comprar casa
avançar para a compra de casa. SEGUROS NO BANCO, SPREAD BONIFICADO. COMPENSA?
Mas neste que é possivelmente o Só fazendo contas. Para saber qual a solução mais vantajosa, some o total das
investimento mais importante na vida prestações (com spread bonificado) aos seguros propostos pelo banco. Compare à
da maioria das famílias portuguesas, soma das prestações sem bonificação com os prémios dos seguros contratados fora.
a diferença entre uma boa e uma má
escolha pode ser da ordem dos milhares
de euros. Procurar as melhores condições PRESTAÇÕES SEGUROS
de financiamento é, por isso, essencial. €120 000 €8000
Para ajudá-lo nesta tarefa, recolhemos PRESTAÇÕES SEGUROS
preços em 13 instituições de crédito para SPREAD
BONIFICADO
DO BANCO
€25 000
€ 128 mil
um financiamento de 200 mil euros, com
uma relação financiamento-garantia de €110 000

€ 135 mil
80%, a pagar em 30 anos. Cálculos feitos,
a nossa Escolha Acertada permite uma
poupança de 546 euros ao ano, o que,
no prazo considerado, terá um impacto
considerável.

Encontrei a casa de sonho.

E agora?
Há que começar por uma autoanálise à
sua situação financeira, no sentido de
assegurar que terá condições para cumprir
o contrato de crédito. Num período
temporal tão longo, eventuais subidas das
taxas de juro de 1% ou 2% são mais do que
expectáveis.
Se decidir avançar, comece por simular
o valor da prestação a pagar ao banco, o
que dependerá do montante solicitado,
do prazo de amortização e da taxa de
juro. Nesta fase, o nosso comparador,
disponível em www.deco.proteste.pt/
credito-habitacao, será uma preciosa
ajuda, pois dispensa-o de fazer simulações
banco a banco. Além disso, ordena as
opções de crédito com base na TAEG
(taxa anual de encargos efetiva global)
oferecida, sigla mestra na escolha do
crédito à habitação. Mas já lá vamos.
Depois desta prospeção de mercado, há
que contactar os bancos com as melhores
ofertas, que lhe apresentarão as condições
concretas do empréstimo, após uma
avaliação mais detalhada à sua capacidade
financeira. Nesta fase, é-lhe exigida a
apresentação de uma série de dados
pessoais, comprovativos de rendimento e
ainda o seu mapa de responsabilidades de
crédito, que pode descarregar no site do
Banco de Portugal.
Segue-se a avaliação do imóvel que vai
servir de garantia ao financiamento.
Esta é efetuada por um perito
independente, que atribui um valor
à casa considerando o seu estado de
conservação, equipamentos, localização
e áreas. É este o valor que vai servir de
referência para o montante máximo do
empréstimo. Atualmente, nenhuma
instituição de crédito financia valores

4 AVALIAÇÃO
O imóvel vai servir de garantia ao
empréstimo. Para tal, é avaliado e
é-lhe atribuído um valor. Este vai
servir de referência ao montante
máximo do crédito que, normalmente,
não ultrapassa os 90% do total.
5 FORMALIZAÇÃO DO CRÉDITO
Após a avaliação, o montante a
conceder é fechado e o crédito,
formalizado. Depois de apresentada
a proposta, o cliente tem sete dias
obrigatórios para reflexão, antes de
poder assinar o contrato.
6 IMPOSTOS
Há a pagar o IMT (para saber
o valor, use o no nosso
simulador), o imposto do selo de
0,8% sobre a aquisição e de
0,6% sobre o montante
financiado.
7 ESCRITURA
Só após a escritura passa a
ser o proprietário legal do imóvel.
É também a partir desse
momento que começa a pagar as
prestações do crédito e que os
seguros são acionados.

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 15

DOSSIÊ//CRÉDITO À HABITAÇÃO

que ultrapassem os 90 por cento.

O ideal é ter uma boa entrada para a
Condições do empréstimo
compra da casa, de modo a pedir menos
dinheiro ao banco. Quanto menor for a
relação financiamento-garantia, melhores
serão as condições do crédito.
FINANCIAMENTO
Escolher o crédito 200 000€
Mantra para o crédito à habitação: tenha
em conta que, na hora de comparar RELAÇÃO FINANCIAMENTO-GARANTIA
propostas, o spread (margem de lucro 80%
do banco) é apenas uma das parcelas
PRAZO
a considerar. O crédito mais vantajoso 30 anos
não é necessariamente o que tem o
spread mais baixo. É no valor da TAEG PROPONENTES
que se deve fixar. Esta reflete o custo Casal de 35 anos
total do empréstimo, em que se inclui
não apenas a prestação mensal, mas COM VENDAS ASSOCIADAS
também os prémios dos seguros de Empréstimo com domiciliação de ordenado, cartão de débito e de crédito,
vida e multirriscos-habitação, os custos domiciliação de pagamentos, seguros de vida (IAD) e multirriscos.
dos produtos subscritos para bonificar Comissões Prestação Spread TAEG
Banco (€) (%) (%)
iniciais (€)
o spread, como os cartões de débito e
crédito, as comissões bancárias (iniciais Crédito
F 312 607,99 1,10 1,0
Agrícola/DECO
e de manutenção de conta, por exemplo)
e ainda o imposto de selo. A informação F Banco CTT 696,8 607,99 1,10 1,3
sobre todos estes encargos encontra-se
na FINE que é entregue pelo banco com Millennium
748,8 607,99 1,10 1,3
bcp
a proposta de crédito, ainda que nem
sempre seja fácil decifrá-los (leia o artigo Crédito 641,2 616,90 1,20 1,4
Agrícola
da página 20).
Além da TAEG, não deixe de olhar
Abanca 858,25 621,38 1,25 1,4
para o MTIC, outra sigla importante. O
montante total imputado ao consumidor
indica-lhe, ao cêntimo, o preço que vai
efetivamente pagar pela casa. SEM VENDAS ASSOCIADAS
Empréstimo sem contratação de outros produtos no banco. A TAEG reflete,
além do custo do crédito, o do seguro de vida (IAD) contratado fora do banco.
Vá ao banco, mas não só Na maior parte dos bancos, o cliente perde a bonificação do spread.
Com estes dados na mão, ficará com
Comissões Prestação Spread TAEG
uma ideia mais clara sobre qual a melhor Banco (€) (%) (%)
iniciais (€)
proposta em cima da mesa. Mas não fique
F Bankinter 1 033,40 639,52 1,45 1,6
por aqui. A solução mais adequada para
si pode estar ainda a alguns cálculos de Banco
707,20 644,11 1,50 1,6
distância e não passar exclusivamente Montepio
pelo banco. Isto porque, normalmente, União de
em troca de um spread mais baixo, Créditos 1 286,48 646,41 1,55 1,6
Imobiliários
os próprios bancos comercializam os
Crédito
seguros de vida e multirriscos-habitação. 312 648,71 1,55 1,6
Agrícola/DECO
Mas será que esta bonificação compensa?
Crédito
Ou será mais vantajoso fazer os seguros 702 657,99 1,65 1,8
Agrícola
fora do banco, mesmo que isso signifique
o agravamento do spread? Depende. Resultados completos em F Escolha Acertada
www.deco.proteste.pt/credito-habitacao
Das condições específicas do seu crédito,
de quanto é o agravamento do spread se

16 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

contratar os seguros fora, e do próprio permite uma poupança de 546 euros
custo desses seguros. por ano face à média do mercado. Para
No cenário que serviu de base ao não-subscritores, a solução passa pelo
nosso estudo (tabelas ao lado), optar
pelos seguros propostos pelo banco seria
Banco CTT, com uma poupança de 298
anuais. Note que a prestação é a mesma
a melhor decisão para um casal de 35 em ambas as instituições. É a diferença
anos. No nosso top 5, não se encontram na TAEG, que inclui o custo dos seguros
TAEG acima dos 1,4%, sendo que, para obrigatórios, que explica a disparidade na
os nossos subscritores, esta não vai poupança.
além de 1 por cento. O protocolo que Se este casal fictício optasse por
negociámos com o Crédito Agrícola contratar os seguros fora do banco,
acabaria por pagar mais pelo crédito.
Basta olhar para as TAEG, que começam
nos 1,6%, e já refletem o custo desses
produtos. Mas nem sempre é assim.
Em muitos casos, o que poupa com a
ESCOLHA
ACERTADA A nossa seleção bonificação do spread é inferior ao que
pode pagar a mais ao banco pelos seguros
Analisámos a oferta de 13 instituições de vida e multirriscos-habitação durante
de crédito. Calculámos a prestação e todo o empréstimo.
a TAEG para um empréstimo de 200 É por isso que não deve ficar apenas
mil euros, a 30 anos, com relação de pela proposta do banco. Faça simulações
financiamento-garantia de 80 por para o seguro de vida (em www.deco.
cento. As poupanças incluem o custo
proteste.pt/seguro-vida, por exemplo)
do seguro de vida e foram calculadas
e para o multirriscos-habitação (www.
em relação à média do mercado.
deco.proteste.pt/multirriscos-habitacao)
SUBSCRITORES e compare resultados. Atenção que, no
caso do primeiro, a sua decisão não deve
CRÉDITO AGRÍCOLA basear-se apenas numa tarifa apelativa
Protocolo DECO PROTESTE para o primeiro ano, pois o prémio
Com vendas associadas terá tendência a aumentar ao longo do
Spread 1,10% € 546 tempo (já o do seguro multirriscos pouco
TAEG 1,0% POUPANÇA
ANUAL muda ao longo do empréstimo). Peça
Prestação mensal € 607,99
à seguradora o custo total do seguro
BANKINTER de vida ao longo de todo o contrato de
Sem vendas associadas crédito. Paralelamente, solicite ao banco
Spread 1,45% € 374 uma projeção do crédito pelo mesmo
POUPANÇA
TAEG 1,6% ANUAL período, com e sem seguros. Num dos
Prestação mensal € 639,52 pratos da balança, terá o crédito com
seguros incluídos e spread bonificado;
no outro, as prestações bancárias, a
NÃO-SUBSCRITORES que terá de somar o custo dos seguros
BANCO CTT contratados fora do banco. Aí, sim, estará
Com vendas associadas na posse de todas as peças do puzzle para
€ 298 tomar uma decisão.
Spread 1,10% POUPANÇA
TAEG 1,3% ANUAL
Prestação mensal € 607,99 Escolher o seguro de vida
O capítulo do seguro de vida está longe
BANKINTER de ser marginal no processo do crédito
Sem vendas associadas
Spread 1,45%
€ 374 à habitação. Além de ser uma exigência
POUPANÇA
TAEG 1,6% ANUAL do banco para conceder o empréstimo,
Prestação mensal € 639,52 num cenário como o que usámos neste
estudo, o seu custo total pode ascender
www.deco.proteste.pt
EM MUITOS CASOS,
O QUE POUPA COM A
BONIFICAÇÃO DO SPREAD
É INFERIOR AO QUE PAGA
A MAIS AO BANCO PELOS
SEGUROS, ENQUANTO DURAR
O CONTRATO
às dezenas de milhares de euros, pelo
que uma escolha mal calculada pesará,
certamente, na carteira.
O estudo que fizemos (página seguinte)
mostra isso mesmo. Analisámos
preços de apólices que cobrem morte
e invalidez total e permanente (ITP) e
morte e invalidez absoluta e definitiva
(IAD) para um capital de 200 mil euros.
Com as Escolhas Acertadas, os nossos
subscritores poupam 1680 euros, ao fim
de 30 anos, na modalidade de ITP a 60%,
e 2190 euros, se optarem por uma apólice
de IAD. Os restantes consumidores
conseguem também uma poupança de
300 euros e de 1170, respetivamente.
Embora os bancos proponham,
normalmente, apólices com cobertura
de IAD (em alguns esta é mesmo a única
opção, daí que a tenhamos usado para o
cálculo das TAEG), não é a modalidade
que privilegiamos. São mais baratas, é
certo, mas, em situações de invalidez,
indemnizam apenas casos em que o
segurado fique totalmente dependente
de terceiros para executar quaisquer
tarefas diárias. Isso significa que, se
um acidente o deixar com um grau de
invalidez de 60% que o impeça de exercer
a sua atividade profissional, este tipo de
apólice vai deixá-lo desprotegido.
Por esse motivo, recomendamos a
cobertura de ITP (a que damos destaque
no estudo do seguro de vida), para
situações em que o segurado fique
impossibilitado de garantir o seu sustento
através de uma atividade profissional
compatível com as suas habilitações.
O grau de incapacidade que permite
setembro/outubro 2021//D&D 17
DOSSIÊ//CRÉDITO À HABITAÇÃO

acionar o seguro varia entre 60% e de aumentar, o que pode traduzir-se no

ESCOLHA
ACERTADA A nossa seleção
A melhor relação qualidade-preço
das apólices foi aferida com base
nos prémios pagos ao longo de todo
o contrato. Indicamos a poupança
anual face à média do mercado, nas
modalidades de ITP, cobertura que
recomendamos, e IAD.
MORTE OU INVALIDEZ TOTAL
E PERMANENTE (ITP) DE 60%
75%, dependendo da apólice. No nosso
estudo, valorizámos as que privilegiam
menores percentagens de invalidez.
Obviamente que a segurança tem um
preço. Para ter uma ideia, no cenário
que previmos para o seguro de vida,
optar pela apólice mais completa de ITP
(ou seja, com invalidez de 60%) pode
significar um aumento de quase 60% do
custo total do seguro, em comparação
com a modalidade de IAD.
Idade, a quanto obrigas?
Escolher o seguro mais vantajoso, já o
dissemos, passa pela análise do seu custo
total. O prémio a pagar anualmente não
vai manter-se constante e isso deve-se
à relação inversa entre duas variáveis: a
idade do segurado e o capital coberto.
Ou seja, se, por um lado, a amortização da
dívida vai fazendo diminuir o segundo, a
idade, essa, evidentemente, não vai parar
agravamento do prémio a pagar, caso a
seguradora lhe dê maior peso.
Se optar pela ITP, por volta dos 67 anos,
o valor dos prémios poderá sofrer um
decréscimo, pois, em princípio, deixará
de estar dependente da sua atividade
profissional para subsistir, pelo que
a cobertura cessa. A apólice da April
prolonga, no entanto, a validade da ITP
até aos 70 anos, critério que pesou na
atribuição do título de Melhor do Teste.
Já a cobertura de morte mantém-se
válida até idades compreendidas entre
75 anos e os 85 anos, dependendo da
seguradora.
Atenção também à idade-limite
para aderir ao seguro de vida, que
varia entre os 60 e 64 anos. A Metlife,
porém, estende-a até aos 75 anos, nas
coberturas de morte e IAD. Este fator
tem implicações no acesso das pessoas
mais velhas ao crédito à habitação:

SUBSCRITORES
METLIFE/DECO POUPE
€56
TOP SEGUROS DE VIDA COM COBERTURA DE ITP 60%
Vida Completa  80  ANO Prémio calculado para empréstimo de 200 mil euros a 30 anos para um casal de 35 anos
Prémio anual  € 383,80
Prémio total € 14 855,95 Seguradora e produto Coberturas Prémio (€)

QUALIDADE GLOBAL (%)

2 pessoas (1.º ano)
Prémio anual para

(ao fim de 30 anos)

NÃO-SUBSCRITORES
permanente (ITP)

para 2 pessoas
Invalidez total

ASISA POUPE Prémio total

Vida + Fácil 60%  83  €10
ANO
Morte

Prémio anual  € 311,82

Prémio total € 16 225,82
APRIL
F B B 415,70 17 137,75 84
Vida Crédito April
APRIL/DECO
F B B 346,42 17 068,47 84
Vida Crédito April
MORTE OU INVALIDEZ ABSOLUTA ASISA
F B B 311,82 16 288,82 83
E DEFINITIVA (IAD) ASISA Vida + Fácil
REAL VIDA B B 347,73 16 540,69 82
Real Seguro Vida Habitação
SUBSCRITORES REAL VIDA/DECO B B 330,34 15 713,65 82
Real Seguro Vida Habitação
METLIFE/DECO POUPE METLIFE
Vida Completa  80  B B 426,44 16 506,62 80
€73 Vida Completa Crédito Habitação
Prémio anual  € 213,53 ANO
METLIFE/DECO
Prémio total € 9 219,00 F B B 383,80 14 855,96 80
Crédito Seguro
Prévoir B B 340,96 17 808,02 80
NÃO-SUBSCRITORES Prévoir Vida Domus

METLIFE TRANQUILIDADE
POUPE B B 374,00 16 904,56 75
Crédito Casa 3.0
Vida Completa  80  €39
Prémio anual  € 237,26 ANO Resultados completos em
Prémio total € 10 243,34 www.deco.proteste.pt/seguro-vida F Escolha Acertada F Melhor do Teste Boa qualidade
A Muito Bom B Bom C Médio D Medíocre E Mau

18 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

como é de contratação obrigatória, sem
seguro, também não conseguem obter o
empréstimo.
Parceiros no seguro
Quando um empréstimo é contratado
por dois titulares, ambos têm de ficar
abrangidos pelo seguro de vida. A opção
mais comum (usada no nosso estudo) é a
chamada apólice a duas cabeças. Em caso
de morte ou invalidez de um dos membros
do casal, o banco é indemnizado pelo
valor da dívida. Em alternativa, é possível
contratar duas apólices, o que significa
que, em caso de morte simultânea dos
dois titulares, um capital serve para pagar
a dívida ao banco, e o outro é atribuído
aos herdeiros. Regra geral, fazer um único
seguro para duas pessoas é uma opção
mais barata, já que é aplicado um desconto
ao segundo titular. Verifique, no entanto,
se essa diferença compensa não contratar
duas apólices, o que, em caso de sinistro,
será mais vantajoso.
Destaque para a Asisa, neste ponto, que,
em caso de morte simultânea dos dois
titulares, paga dois capitais.
Existe ainda uma terceira opção, que
passa pela contratação de dois seguros
individuais por 50% da dívida. Se um
dos titulares morrer, metade da dívida
é liquidada e o outro segurado paga o
remanescente. Esta modalidade é mais
barata, mas só faz sentido se o nível de
rendimentos dos membros do casal for
semelhante, permitindo a uma das partes
continuar a pagar o empréstimo sem
dificuldades de maior.
Em negociar é que está o ganho
Milhares de euros e muitas contas depois,
não restam dúvidas de que, se recorrer a
um financiamento bancário para comprar
casa, o que terá a considerar vai muito
para além da área e da exposição solar do
imóvel. Pese todos os custos, avalie todas
as parcelas e não se coíba de usar o seu
poder negocial para conseguir a melhor
proposta possível. Já que está a iniciar uma
relação para a vida, não se contente com
menos do que o melhor partido.
DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Rico e Sandra Justino
www.deco.proteste.pt
GLOSSÁRIO
Seguro de vida descodificado
Para não se perder em siglas e termos técnicos, deciframos a linguagem
das apólices de seguros.
ITP OU IAD?
A cobertura de invalidez total e permanente (ITP) confere
maior proteção por prever situações em que o segurado
fique impedido de desempenhar a sua atividade
profissional. A modalidade de invalidez absoluta e
definitiva (IAD) só é acionável se o titular do seguro ficar
completamente incapacitado.
MODALIDADE A DUAS CABEÇAS
Uma mesma apólice para duas pessoas, pela totalidade
do capital em dívida. Em caso de morte ou invalidez
de um dos titulares, o empréstimo é pago ao banco.
CAPITAL COBERTO
É o montante referente à dívida bancária que reverterá a
favor do banco, em caso de morte ou invalidez de um dos
titulares. Pode corresponder a 100% do capital em dívida
ou apenas a 50 por cento.
GRAU DE INVALIDEZ
Nas apólices de ITP, varia entre 60% e 75 por cento.
Quanto menor o grau de invalidez coberto, maior será
a proteção conferida à pessoa segura.
ATIVIDADE COMPATÍVEL
A apólice de ITP é acionável se a pessoa segura ficar
impossibilitada de exercer a sua profissão ou outra
atividade compatível com as suas habilitações e
conhecimentos.
DOENTES ONCOLÓGICOS
Direito ao esquecimento
Os sobreviventes de doenças oncológicas continuam a encontrar
obstáculos quando pretendem obter um crédito à habitação, pois
é praticamente impossível conseguirem contratar um seguro de
vida. Para acabar com esta discriminação, defendemos o direito ao
esquecimento, uma realidade que pode estar próxima. Em meados
de maio, a Assembleia da República aprovou, na generalidade,
um projeto de lei do Partido Socialista que consagra o direito ao
esquecimento de pessoas que tenham superado doença grave,
como cancro, no acesso ao crédito ou seguros. O diploma seguiu
para discussão na especialidade.
setembro/outubro 2021//D&D 19
DOSSIÊ//CRÉDITO À HABITAÇÃO

Resmas de
comissões € 256
Preço médio
da comissão de
avaliação do
São muitas, caras custos por quatro ou cinco comissões
diferentes, com designações nem
imóvel
e com demasiadas sempre coincidentes de banco para

designações. Defendemos banco. Resultado: a tarefa de comparar

propostas de crédito torna-se muito mais
a simplificação das complicada para os consumidores.
Para tornar este processo mais
comissões iniciais do transparente, defendemos a
crédito à habitação uniformização e simplificação destas
comissões, em designação e em número.
Texto Sílvia Nogal Dias & Filipa Rendo
No caso da comissão de avaliação,
vamos mais longe. Continuamos a

Q
reivindicar a portabilidade da avaliação
do imóvel. Ou seja, a possibilidade de
uem já recorreu a um
empréstimo bancário para
uma mesma avaliação ser válida em
mais do que um processo de concessão COMISSÕES INIC
a compra de casa sabe bem de crédito, durante um determinado
que o preço do imóvel é período. Isto porque quem solicita a Banco
apenas uma parcela (a maior, é certo) viabilidade de um empréstimo em mais
de todos os custos a suportar. Há que do que um banco tem de suportar este Eurobic
contar com os juros, os impostos, os custo tantas vezes quantas as instituições Best Bank
seguros e eventuais encargos com outros que consulta. Sendo um processo levado Banco CTT
produtos contratados no banco, como a cabo por uma entidade independente, Crédito Agrícola
contas à ordem e cartões de débito e não se compreende por que motivo tem Banco Montepio
de crédito. Mas não é tudo. A somar de ser repetido.
BPI
algumas centenas (ou milhares) de euros Descomplicar é a palavra de ordem.
Millennium bcp
à fatura final está toda uma panóplia de Em nome da transparência e do bolso dos
comissões iniciais. consumidores. Santander
Em média, num processo de crédito à Novo Banco
habitação, são cobradas três: estudo ou DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Rico Abanca
abertura do crédito, avaliação do imóvel Caixa Geral de Depósitos
e formalização do contrato. Pormenor
Bankinter
importante: tirando a última, as restantes
UCI
têm de ser pagas independentemente de
o crédito ser ou não aprovado. REIVINDICAMOS A
Mas este número não é estanque: se a UNIFORMIZAÇÃO DAS
maioria dos bancos divide os encargos
COMISSÕES INICIAIS E A
em três, há os que se ficam pelas duas
comissões (estudo e avaliação) e os que, PORTABILIDADE DA
por outro lado, optam por distribuir os AVALIAÇÃO DO IMÓVEL

20 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

 € 819 A OPINIÃO DO
NOSSO ESPECIALISTA
Média do

5
custo total das
comissões iniciais

Comissões
cobradas pelo Nuno Rico

Bankinter, o Embora todos os custos

segundo banco associados à contratação de
mais caro um crédito à habitação tenham
obrigatoriamente de constar na
Ficha de Informação Normalizada
Europeia (FINE), a disparidade
das designações das comissões
iniciais, entre bancos, dificulta não
só a perceção sobre o montante
total a suportar pelo consumidor,
como também a comparação de
diferentes propostas de crédito.
Exigimos, por isso, a uniformização
e simplificação destas comissões.
Em número, bastariam duas: uma,
referente à avaliação do imóvel,
outra, aos restantes custos.
CIAIS CRÉDITO À HABITAÇÃO Defendemos ainda a portabilidade
das avaliações dos imóveis.
COMISSÕES Neste momento, se o consumidor
solicitar uma avaliação em mais do
Avaliação (€) Total (€) Número de comissões que um banco tem de pagar este
246,00 641,20 3 encargo repetidamente.
Ora, se este é um procedimento
322,40 681,20 3
levado a cabo por peritos
239,20 696,80 3 independentes, ainda que
239,20 702,00 3 contratados pelos bancos, o seu
218,40 707,20 3 resultado deveria ser válido,
durante um determinado período,
239,20 738,40 3
em qualquer instituição de crédito.
239,20 748,80 3 Isto faria com que o consumidor
239,20 763,36 3 suportasse este custo apenas uma
vez. Adicionalmente, promoveria
322,40 847,60 3
a concorrência no setor e
338,25 858,25 2 acrescentaria transparência
239,20 940,40 4 ao processo, já que não são
220,00 1 033,40 5 incomuns os casos em que um
mesmo imóvel tem avaliações
221,00 1 286,48 4
completamente divergentes,
dependendo do banco que a
solicita. Vamos enviar as nossas
reivindicações ao Banco de
Portugal e ao Ministério das
Finanças.

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 21

 ENTREVISTA

EDMUNDO MARTINHO

“Temos de pre
A pandemia trouxe uma quebra
nas receitas dos jogos e um
aumento na assistência social
e médica complementar da
Santa Casa da Misericórdia de
Lisboa. O provedor da instituição
descreve esse impacto
Entrevista Ricardo Nabais e Deonilde Lourenço
Fotografia 4See/Enric Vives-Rubio

Negócios parados, moratórias,
desemprego: a pandemia trouxe
esta realidade. Qual tem sido
a resposta da Santa Casa?
As nossas respostas têm dimensões
distintas, consoante as diferentes áreas
da atividade. Começando pelo jogo e pela
nossa rede de mediadores: procurámos,
sobretudo em atividades afetadas com
encerramentos, redução significativa
dos horários ou redução generalizada
de clientes, instituir mecanismos de
apoio, de modo que estas circunstâncias
não determinassem, por si só, o seu
encerramento. Felizmente, tivemos
bons resultados. De uma forma geral, os
mediadores mantiveram-se a funcionar,
num funcionamento reduzido, que teve
que ver, sobretudo, com a redução muito
intensa do número de pessoas a circular,
nos cafés, nas papelarias... Foram poucos
os mediadores a recorrer a esses apoios.
Como foi esse mecanismo
de apoio? Aumentaram os prazos
de pagamento, por exemplo?
Exatamente, com moratórias
e com programas de pagamento
e de recuperação dos pagamentos
relativamente generosos em termos
de tempo. Isso contribuiu, cremos,
para o facto de terem sido poucos os
mediadores que interromperam de forma
total a sua atividade. É muito positivo
para nós, porque obviamente significa
que as atividades se mantiveram e que
as pessoas continuaram a disponibilizar
postos de trabalho e atividade económica
relevante. Do outro lado, temos os

22 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt


venir a falência dos negócios”
arrendamentos. A Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa (SCML) tem
um conjunto de propriedades imóveis
que estão no mercado de arrendamento,
de natureza comercial e de natureza
residencial. Em alguns casos, fomos um
pouco mais longe, dando a isenção do
valor da renda e, noutros, uma redução
ou um adiamento do pagamento. Os casos
de isenção foram aplicados sobretudo
às rendas não-habitacionais que tiveram
de encerrar por determinação legal.
Quanto às rendas habitacionais, a isenção
verificou-se quando, de alguma maneira,
a taxa de esforço para pagamento da
renda era superior a 50 ou 60% do
rendimento da família. Não têm uma
expressão muito grande, mas ainda têm.
Quantas pessoas estão
nessa situação?
Estaremos a falar de uns cem contratos
de arrendamento, no caso dos que
tiveram impacto. Temos outros, mas
que acabaram por não sofrer nenhuma
alteração, porque, felizmente para as
famílias, não houve necessidade disso.
A área que sofreu maior impacto do lado
da SCML, além do impacto da receita –
brutal ao nível dos jogos – é a que tem
que ver com as nossas missões na área da
ação social e da saúde. Nesta última, por
exemplo, tivemos duas ou três iniciativas,
em consonância com as autoridades de
saúde e da Segurança Social. Criámos
em Lisboa duas unidades de retaguarda
para doentes covid e não-covid,
de lares da cidade que não tinham
condições para manterem as pessoas
em isolamento. Hoje, felizmente, para
já, não são necessárias. E fizemos outra
coisa: encarregámo-nos da testagem
aos funcionários e utentes de todos os
lares de Lisboa, independentemente
www.deco.proteste.pt
da sua natureza, privados ou do setor
social. Correu muito bem. Recorremos
a equipas de intervenção preventiva:
faziam a testagem e ajudavam os
lares a reorganizar-se em função das
necessidades de isolamento ou, pelo
menos, de contenção de espaços, quando
havia alguém infetado ou com sintomas.
E na área da intervenção social?
Essa área manteve-se e até recrudesceu.
Tivemos um aumento muito substancial
de pedidos, quer apoios financeiros
diretos para fazer face a compromissos
das pessoas e famílias, quer em
serviços, como apoio domiciliário.
Com o encerramento dos centros de dia,
por exemplo, muitas pessoas que eram
acompanhadas no dia-a-dia deixaram
de ter espaços para usufruírem desse
acompanhamento. Tivemos de aumentar
muito a capacidade do apoio domiciliário,
ao nível alimentar, de higiene e dos
cuidados de que as pessoas precisam.
Há uma nova franja da população
em situação de pobreza? É algo
inédito para alguns setores
profissionais, por exemplo?
Essa não é a nossa experiência.
Temos um aumento muito significativo
de pedidos, mas, sobretudo, de pessoas
A GRANDE TÓNICA
É TRAZER AS PESSOAS
PARA O MERCADO FORMAL
DE TRABALHO, PORQUE É ISSO
QUE PROTEGE E PERMITE
O ACESSO A BENEFÍCIOS
D&D//IMPACTO DA PANDEMIA
O GRANDE PROBLEMA
REVELOU-SE NA FRANJA
DE TRABALHADORES SEM
VÍNCULO, SEM PROTEÇÃO
que tinham uma relação informal
com o mercado de trabalho. Não tanto
esses casos que refere, embora possam
existir. O grande problema revelou-se,
sobretudo, naquela franja de pessoas
com uma relação informal com o
mercado de trabalho, sem vínculo,
sem qualquer espécie de proteção
ou suporte, o que significou que, de
repente, deixaram de ter trabalho e
rendimentos e não tinham mecanismos
de proteção associados. A grande tónica
é trazer as pessoas para o mercado
formal de trabalho, porque é isso
que protege, que garante uma relação
estável com o sistema e que permite
o acesso a benefícios no tempo em que
ocorram eventualidades mais gravosas
para a vida das famílias.
Refere-se a trabalhadores sem
qualificações, que trabalham
sazonalmente, sem vínculo
às empresas às quais prestam
serviços?
Sim. São trabalhadores das plataformas,
de alguns setores do turismo, que
tinham o seu rendimento em função do
trabalho, sem um vínculo de estabilidade.
Isso acabou por ter um efeito muito
negativo na vida das pessoas, que,
de repente, ficaram sem rendimento.
Há também a questão das moratórias.
Quando chegarem ao fim, como
poderão ser pagas, se alguns negócios
setembro/outubro 2021//D&D 23
D&D//IMPACTO DA PANDEMIA
QUANDO AS
MORATÓRIAS
CHEGAREM AO FIM,
COMO PODERÃO SER
PAGAS, SE ALGUNS
NEGÓCIOS
DESAPARECEREM?
NÃO HÁ ALTERNATIVA
AOS MECANISMOS
DE RECUPERAÇÃO
DE CRÉDITO
efetivamente desaparecerem? Se os
negócios falirem, não há alternativa
à aplicação dos mecanismos de
recuperação de crédito que possam estar
disponíveis. O que temos de ir fazendo
é acompanhar de perto a situação e
prevenir que haja falências, pelo menos,
naquilo que possa depender da nossa
atividade. Refiro-me a apoios relativos
a prazos de pagamento, de apoios
mais concretos para a continuação
dos negócios. No caso da SCML,
estamos a falar de negócios de pequena
dimensão: cafés, pequenas papelarias...
São negócios mais frágeis, mas têm
no jogo um peso significativo para
o seu equilíbrio. Se conseguirmos manter
o jogo em atividade, em boas condições
para os nossos mediadores, isso pode
ser um contributo para que os negócios
persistam e se mantenham.
Há notícias que apontam
para um aumento de pessoas
que recorrem aos jogos
da Santa Casa.
Não, de todo. Houve uma redução muito
significativa. Onde houve aumento, de
facto, foi nas soluções online, porque o
próprio confinamento é favorável a uma
relação mais estreita com as soluções
digitais. No caso da nossa rede, que é de
espaços físicos, de lojas que têm outras
24 D&D//setembro/outubro 2021
atividades – o jogo é apenas uma das
suas componentes –, obviamente que o
que aconteceu foi ter havido, desde logo,
uma redução da circulação de pessoas e
uma consequente redução da frequência
deste tipo de estabelecimentos. Isso teve
um impacto muito grande nas receitas,
porque o tipo de jogos de que estamos a
falar, ao contrário do que muitas vezes se
diz, é um jogo de impulso. Ou seja, vamos
tomar um café e aproveitamos para jogar
no Euromilhões ou na lotaria... Não
estamos a falar de uma atividade com um
grande nível de programação individual.
Se as condições para que esse impulso
ocorra não estiverem reunidas, isto tem
um impacto muito grande. Tivemos,
e ainda hoje persiste, uma redução
significativa do número de apostadores
e do volume de apostas que as pessoas
fazem nos jogos sociais do Estado.
Referia-me também à
preocupação com o aumento
do jogo online. A facilidade de
jogar assim não contribuirá para
uma situação de dependência?
Diria que esse fenómeno tenderá a
normalizar. Houve um período de maior
intensidade, que é compreensível, tendo
em conta que as pessoas estão mais
tempo em casa, e essa é uma das vias
que encontram para ocuparem o tempo
e tentarem ganhar dinheiro. Mas penso
que, com as pessoas a pouco e pouco
a retomarem os seus ritmos diários de
vida, de trabalho e de lazer, o fenómeno
tenderá para alguma normalização.
Mas é verdade que a questão teve um
recrudescimento significativo nestes
tempos de confinamento, o que não
aconteceu nos jogos sociais do Estado,
que não têm soluções online, na maioria
dos casos.
Alguém pode recorrer à SCML
se estiver a jogar demasiado
e isso representar algum dano
económico para a família?
Pode. Disponibilizamos, a todos os
cidadãos que queiram, um serviço,
através de uma entidade que contratamos
externamente, que é o Instituto de Apoio
ao Jogador. As pessoas podem, de forma
anónima, fazer um contacto telefónico no
sentido de darem conta das preocupações
que têm com o seu comportamento, e
há, depois, todo um acompanhamento.
É um serviço totalmente gratuito. Mas,
além disso, fazemos muita formação
aos nossos mediadores, no sentido de os
manter alerta em relação às questões da
responsabilidade e do jogo responsável.
No fundo, para assegurar que o jogo
é uma atividade lúdica – que pode ser
benéfica do ponto de vista financeiro.
Mas é bom que estejamos atentos
e que contrariemos tudo o que ultrapasse
a dimensão lúdica.
Como vê o futuro, à medida que a
vacinação – e alguma esperança
de retoma – vai avançando?
Tenho uma visão relativamente otimista.
Alguns impactos vão persistir – e temos
de preparar-nos para os abordar e
resolver –, mas estou convencido de
que saímos deste processo, de uma
forma geral, fortalecidos. Esta situação
permitiu-nos identificar zonas de
fragilidade importantes no nosso
trabalho. Mas também nos fortaleceu,
porque fomos capazes de responder a
estas situações de grande dificuldade,
embora este não seja o melhor
mecanismo para ganhar forças [risos].
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 LEITURAS
COM DE SCONTO

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DESC O M PRA
NA C O
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Use o seu cartão DECO+ quando comprar na Wook. Obtém um desconto de 6%

sobre o valor da encomenda (portes excluídos). Basta introduzir o número de associado
no pagamento, e o montante ficará disponível no cartão-cliente WOOK+, para usar
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e não se aplica a livros e manuais escolares.

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TURISMO-E-LAZER/WOOK

PARCEIRO
INQUÉRITO//SATISFAÇÃO COM SEGUROS

MEDIS
MGEN
CA SEGUROS
Generali
AdvanceCare
Fidelidade
Tranquilidade
Multicare
Allianz
Zurich
GNB Seguros
Ocidental Seguros
Victoria Seguros

O meu seguro
Una Seguros
Lusitania Seguros
Ageas
Liberty

é bom… às vezes P
p
SATISFAÇÃO COM SEGUROS Ainda não é a ideal. As exclusões
defraudam as expectativas dos consumidores e provam que a 14
AO ATIVAR O SEGURO, F
contratação das apólices carece de mais clareza e informação DESPESAS NÃO COBERTAS

Texto Ana Santos Gomes

Infografia Alexandra Lemos
10
NÃO TIVE A

É
PARA FAZER UM T

na hora de acionar o seguro que muitos
consumidores percebem que, afinal, a
apólice contratada não cobre tudo aquilo
que pensavam. E essa é a pior altura para
a descoberta. Não só porque já estão perante um
sinistro que precisa de resolução, como se sentem
defraudados pela seguradora escolheram.
As 11 166 respostas que recolhemos, em janeiro,
junto dos nossos subscritores permitem-nos
8
caminho a percorrer na melhoria da relação entre
companhias e segurados.
As pontuações mais baixas são relatadas nos A SEGURADORA A
seguros automóvel e multirriscos-habitação, com O VALOR D
nove marcas abaixo dos 6 valores. Já o seguro de
saúde obtém um índice mais elevado de satisfação,
sempre com pontuações superiores a seis. 6
Em caso de conflito, apresente queixa na nossa A SEGURADORA A
A PRÉ-AU
plataforma www.deco.proteste.pt/reclamar.

5,
identificar as seguradoras com melhor índice de A reclamação será encaminhada para a seguradora
satisfação neste universo de clientes. Mas poucas com o nosso apoio.
marcas conseguem pontuação acima de 7, numa HOUVE ERRO
escala de 10 pontos, evidenciando um longo DOSSIÊ TÉCNICO Ana Almeida e Sandra Justino DA RESPONSABILID

26 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

 SEGURO
SEGURO SEGURO MULTIRRISCOS-
DE SAÚDE AUTOMÓVEL -HABITAÇÃO
7,4 OK! TELESEGUROS 7,1 CA SEGUROS 7,3
7,4 ZURICH 6,9 OK! TELESEGUROS 7,0
7,2 FIDELIDADE 6,8 GNB SEGUROS 6,6
6,9 GNB Seguros 6,7 Mapfre 6,4
6,9 CA Seguros 6,5 Tranquilidade 6,4
6,9 Seguros Continente 6,5 Zurich 6,3
6,9 Victoria Seguros 6,5 Fidelidade 6,2
6,8 Mapfre 6,3 Liberty 6,1
6,8 Liberty 6,3 Generali 6,0
6,6 Logo 6,3 Victoria Seguros 5,5
6,6 Lusitania Seguros 6,3 Ocidental Seguros 5,5
6,5 Allianz 6,2 Ageas 5,3
6,5 Direct 6,0 Lusitania Seguros 5,3
6,4 Ageas 5,9 Allianz 5,2
6,4 Tranquilidade 5,9 Aegon Santander 5,2
6,3 Ocidental Seguros 5,8
6,1 Generali 5,6
Caravela 5,5 1 Níveis de satisfação 10
Pouco Muito
N Seguros 5,4 satisfeito satisfeito

Principais Principais Principais

problemas problemas problemas
4,8% 6,1% 25,9%
FUI CONFRONTADO(A) COM AO ATIVAR O SEGURO, FUI CONFRONTADO(A) COM AO ATIVAR O SEGURO, FUI CONFRONTADO(A)
S PELA APÓLICE (EXCLUSÕES) DESPESAS NÃO COBERTAS PELA APÓLICE (EXCLUSÕES) COM DESPESAS NÃO COBERTAS PELA APÓLICE
(EXCLUSÕES)

0,1% 3,7% 24,7%

AUTORIZAÇÃO A MINHA APÓLICE NÃO FOI RENOVADA NÃO TIVE AUTORIZAÇÃO
TRATAMENTO/EXAME (DEVIDO A DEMASIADOS ACIDENTES) PARA SER REEMBOLSADO(A)
PELA REPARAÇÃO DE PARTE DOS DANOS

8,1% 1,9% 3%
ATRASOU-SE A PAGAR FUI A TRIBUNAL POR DESACORDO A MINHA APÓLICE NÃO FOI RENOVADA
DO REEMBOLSO RELATIVAMENTE AO MONTANTE DEVIDO AO ELEVADO RISCO QUE REPRESENTO
DA INDEMNIZAÇÃO

6% 2,5%
ATRASOU-SE A ENVIAR FUI A TRIBUNAL POR DESACORDO
UTORIZAÇÃO RELATIVAMENTE AO MONTANTE
DA INDEMNIZAÇÃO

,8%
OS NA FATURAÇÃO
DADE DA SEGURADORA

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 27

D&D//PORTAGENS VIRTUAIS
Eram só 30 cêntimos,
agora fico sem IRS
Se não tem Via Verde, cada pórtico de uma autoestrada gera uma dívida.
Mas os desencontros com as notificações transformam-se em pesadelos fiscais
C
lasse 1... 30 cêntimos... a
pagar... mas onde? O que diz
a placa? Na verdade, além de
lhe indicar em que estrada
está – para o caso de não saber – a placa
revela-lhe o preçário para cada uma
das classes de viaturas que podem
estar a passar naquele troço, apesar de
já não ser possível, por esta altura, dar
meia-volta na autoestrada e escolher
uma alternativa. Mas onde pagar os
30 cêntimos? Não há portageiro para
efetuar a cobrança, nem tão-pouco
máquinas para pagamento com cartão.
28 D&D//setembro/outubro 2021
Texto Ana Santos Gomes
Nada. Há um pórtico, que fotografa a
matrícula da viatura que ali passa por
baixo, mas presume-se que os condutores
adivinham onde é feito o pagamento
daquela verba e das seguintes, que,
nestas autoestradas, ao invés de se pagar
à saída, vai-se cobrando aos bocadinhos,
de cada vez que se passa um pórtico.
Então, mas paga-se onde? Ah, pois é, a
placa não diz.
Quem desenhou este modelo de
cobrança de autoestradas, quando
algumas delas chegaram a ser “sem
custos para o utilizador” (por isso é que se
chamavam SCUT), por certo terá pensado
que qualquer condutor que se preze tem
um Google sempre à mão para pesquisar
onde pagar as portagens. Talvez assim
descubra que pode pagar a dita nos
CTT – online ou presencialmente – ou
nas lojas payshop. Em alternativa, talvez
possa socorrer-se daquela versão anterior
dos motores de busca, que é o famoso
“pergunte a alguém que saiba”.
Só tem 5 dias úteis, mas não vá já
Pronto, já sabe que tem de pagar 30
cêntimos, já sabe onde pode fazê-lo, mas
www.deco.proteste.pt
até quando? Ora, o prazo é de apenas
cinco dias úteis, o que consideramos
lamentavelmente reduzido para quem
está em viagem e pode não estar de
regresso a casa nos próximos dias. Mas
pagar já, antes que se esqueça, também
é impossível. O sistema não é assim
tão rápido a transmitir aos correios
a informação da matrícula que foi
fotografada a transpor o pórtico. Logo,
se acabou de passar numa ex-SCUT, ou
noutra autoestrada com pórticos, e for
aos correios ainda hoje, ou até ao site dos
CTT, a sua portagem ainda não estará a
pagamento. Amanhã pode estar, mas em
regra demora 48 horas a ficar disponível.
E só então começa a contar o prazo de
cinco dias úteis para pagamento. Por via
das dúvidas, sempre pode ir passando
numa estação de correios todos os dias...
Ah, é verdade. Nessa altura, os 30
cêntimos também já não são 30 cêntimos.
Por estar a pagar a portagem em diferido,
são-lhe cobrados custos administrativos,
que fazem acrescentar mais alguns
cêntimos à despesa. Por cada passagem
num pórtico, paga, no mínimo, mais 32
cêntimos. E muitos trajetos implicam
passar em vários pórticos sucessivos.
No limite, podem cobrar-lhe 2,56 euros
por viagem só em custos administrativos.
Ainda se lembra da placa que dizia 30
cêntimos para a classe 1? Afinal aquele
preço só é válido para quem efetua
pagamentos na hora, ou seja, só para
quem tem um identificador da Via Verde
instalado na viatura. Para os restantes, é
esse valor e mais uns trocos.
10 dias para pagar 150 euros
Não efetuando o pagamento voluntário
das portagens, a conta acaba por
chegar a casa, através de carta registada
com aviso de receção, enviada pela
concessionária da autoestrada. Era assim
que Brian Stecco, de 31 anos, residente em
Almada, costumava pagar as passagens
na A33, sempre que efetuava o trajeto
Coina-Barreiro para ir trabalhar. “Sabia
que pagava as portagens e os custos
administrativos, mas a carta trazia
uma referência multibanco e eu pagava
logo”, conta o leitor. Mas há mais de um
www.deco.proteste.pt
ano que a profissão deixou de exigir o me cobraram na altura”, protesta. “Agora
cumprimento desse trajeto e Brian não dão-me 10 dias para pagar, quando
esperava ser surpreendido, este ano, com demoraram mais de um ano para me
duas dívidas fiscais: uma de 88 euros e contactarem”, lembrou Brian na queixa
outra superior a 60. “Não mudei a minha que registou no nosso portal Reclamar.
morada, não mudei de viatura, não recebi
qualquer notificação e tenho perto de 150 Nem com Via Verde evitou coima
euros para pagar, entre coimas e custas, Só no primeiro semestre deste ano,
por portagens de 30 cêntimos que não recebemos mais de 400 queixas de
utilizadores de portagens das ex-SCUT.
Alguns não reconhecem as viagens que
lhes são atribuídas, outros dizem já ter
pago tudo no passado, mas a maioria
O VALOR DA PORTAGEM queixa-se de nunca ter sido notificada
DEMORA 48 HORAS pela concessionária e de só estar a ser
A FICAR DISPONÍVEL confrontada com a dívida, anos depois,
PARA PAGAMENTO. numa cobrança coerciva da Autoridade
Tributária.
DEPOIS TEM 5 DIAS ÚTEIS De facto, quando as concessionárias
PARA O LIQUIDAR não conseguem, com sucesso, cobrar
EVITE CONTRAORDENAÇÕES
Como pagar a portagem virtual
Contratar os serviços da Via Verde para pagar portagens por débito
direto é uma das soluções para evitar dívidas, mas o pagamento
voluntário das portagens pode ser feito após a passagem da
autoestrada, via multibanco ou de forma presencial.
PAGAMENTO PRESENCIAL identificação fiscal. Em alternativa,
Pode ser feito em estações e envie uma SMS para 68881 com
pontos CTT e ainda em lojas da a mensagem CTTMB Matrícula
rede payshop, como papelarias ou NIF. Em ambos os casos,
tabacarias, que habitualmente já recebe no telemóvel os dados
recebam pagamentos de serviços necessários para o pagamento via
essenciais. Também aqui terá de multibanco, que tem de ser feito
identificar a matrícula da viatura em 48 horas. O valor inclui custos
para ficar a conhecer os valores administrativos.
em dívida, acrescidos de custos
administrativos. DÉBITO DIRETO
É preciso instalar previamente
GERAR REFERÊNCIA no veículo um identificador da
MULTIBANCO Via Verde e associá-lo a um
Em www.ctt.pt, selecione a opção cartão bancário. Apesar de
“Pagamentos” e clique em “Pagar alguns condutores ainda terem
serviços e portagens”. Entre em dispositivos antigos gratuitos,
“Consultar portagens em dívida” e as novas adesões à Via Verde
opte por “pague já com referência implicam o pagamento de
multibanco”. Digite a matrícula, o mensalidades, embora sem
contacto telefónico e o número de qualquer fidelização.
setembro/outubro 2021//D&D 29
D&D//PORTAGENS VIRTUAIS

as passagens em portagens virtuais,

TRAJETO DA TAXA DE PORTAGEM cabe à Autoridade Tributária executar

Dívida sempre a crescer a dívida, podendo fazer uso de toda a

máquina fiscal para contactar, cobrar,
autuar e até penhorar, se for caso disso.
De cada vez que o consumidor falha o pagamento de uma taxa de portagem,
Porque à medida que o tempo passa e
a dívida vai sofrendo agravamentos. Custos administrativos, coimas e custas
processuais elevam os valores para bem longe do montante inicial. o processo vai andando (ver esquema
ao lado), aquilo que era uma conta de
1. Taxa de portagem cêntimos vai engordando, por vezes,
1 Corresponde ao custo de utilização da autoestrada. multiplicando-se sucessivamente, até
Se tiver acionado o pagamento por débito direto, se transformar numa dívida de centenas
através da Via Verde, este é o valor a pagar. de euros e numa ameaça de penhora
dos bens, do salário, ou de eventuais
Valor inicial
da portagem € 0,30 reembolsos do IRS.
Com receio de que tal lhe sucedesse,
2. Pagamento Cláudia Ceboleiro, 50 anos, preferiu
2 voluntário pagar a conta de 411,16 euros que a
Tem de ser feito Autoridade Tributária lhe cobrou,
no prazo de 5 dias referente a portagens que deveria ter
úteis após estar
pago em 2018 e 2019. Na época, Cláudia
disponível para
3. Aviso de pagamento da concessionária pagamento (que
até tinha um identificador de Via Verde,
Inclui custos administrativos por cada demora 48 horas). pelo que passava sem preocupações em
viagem cujo pagamento de portagem esteja 3 Acrescem 32 autoestradas com portagens virtuais.
em falta. Dispõe de 30 dias úteis para pagar. cêntimos por Mas a leitora desconhecia que a Via Verde
passagem. não está associada à conta bancária,
Proprietário
da viatura € 2,51 Portagem e custos mas a um cartão multibanco. E quando
Condutor com
outro endereço € 4,72 administrativos este expirou, Cláudia passou a usar o
€ 0,62 novo cartão que o banco lhe enviou,
4. 1.ª Notificação de contraordenação sem cuidar de que era preciso atualizar
É remetida pela Autoridade Tributária. o número do cartão multibanco nos
Coima equivale a 7,5 vezes a portagem em falta, serviços da Via Verde.
num mínimo de 25 euros e máximo de 100 euros. 4
Acrescem custas de processo. Se pagar Notificações em parte incerta
em 10 dias, reduz para metade. Mas Cláudia cometeu um segundo erro.
Quando mudou de casa, atualizou a sua
COIMA € 25 A € 100 morada fiscal, mas não se lembrou de
+ PORTAGEM + CUSTAS mudar de endereço constante no registo
do automóvel. Logo, qualquer notificação
5. 2.ª Notificação
de contra- 5 que a concessionária lhe possa ter
ordenação enviado para a morada associada à
Coima sem matrícula não foi recebida. E diz a lei que
redução. 6. Processo de execução após a devolução de uma notificação
Acrescem custas Cobrança coerciva da dívida. Pode culminar em carta registada não reclamada, a
do processo. Tem na penhora de rendimentos e bens. concessionária apenas tem de enviar
15 dias para pagar. uma notificação em carta simples, que
Execução fiscal PENHORA se considera entregue cinco dias após a
expedição. “Não recebi qualquer aviso
COIMA +
de pagamento anterior, mas agora as
PORTAGEM
+ CUSTAS Finanças encontraram-me facilmente,
6 pois a morada fiscal está atualizada.
Só que a conta a pagar é elevada e nem
consegui ter acesso a um plano de
pagamentos”, lamenta a leitora.

30 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

 De facto, cada dívida gera um processo
contraordenação e nem sempre os
valores avulsos atingem o mínimo para
negociar com o Fisco um pagamento a
prestações. “Explicaram-me que para
pedir o fracionamento, eu teria de
falhar este pagamento, para que a dívida
aumentasse. Mas prefiro fazer um esforço
e pagar 400 euros do que pagar um valor
mais elevado em prestações”, ressalva
Cláudia. “Conheço várias pessoas que
estão em situação semelhante e não
vão conseguir pagar. Arriscam-se a ser
penhoradas e têm a vida do avesso por
causa de umas portagens”, lamenta.
De olho na próxima dívida
A falta de pagamento de portagens
é punida com coima, cujo montante
mínimo é de 7,5 vezes o valor da
portagem em atraso. No entanto, este
valor nunca pode ser inferior a 25 euros,
nem superior a 100 euros. Para evitar que
se acumulassem dívidas individuais por
cada pórtico passado, como acontecia até
2015, agora são agregadas numa única
contraordenação todas as infrações
cometidas pela mesma pessoa, na mesma
estrada, no mesmo veículo, no mesmo
dia. É certo que esta alteração é menos
penalizadora para o consumidor, mas
deixa ainda margem para uma cobrança
claramente desproporcional de valores,
que rapidamente atingem as dezenas
ou até centenas de euros, por incluírem
coimas, juros e custos processuais.
Para quem circula regularmente em
autoestradas com portagens virtuais,
recomendamos a consulta frequente
do site dos CTT (www.ctt.pt), onde
A COIMA PELO ATRASO
NO PAGAMENTO
DE PORTAGENS EQUIVALE
A 7,5 VEZES
O VALOR DA TAXA INICIAL.
NO MÍNIMO, PAGA 25 EUROS
www.deco.proteste.pt
é possível inserir a matrícula da
viatura e apurar se há montantes em
dívida pela transposição de pórticos
em autoestradas. Ali também pode
acionar um sistema de alerta via e-mail.
Pode ainda consultar os sites das
concessionárias. No entanto, para quem
não tem acesso à internet, não há melhor
solução do que ir regularmente a uma
estação de correios ou loja payshop e
conferir se tem os pagamentos em dia.
Remendos não chegam
Por resolver está também o sucessivo
desencontro entre cidadãos e
notificações alegadamente enviadas
pelas concessionárias de autoestradas.
É preciso ter em conta que a lei não
permite a aplicação de sanções acessórias
sem estar previamente assegurada a
possibilidade de o cidadão se pronunciar
sobre a infração, num prazo razoável.
Não havendo notificação com êxito,
esse direito não está assegurado. E só
quando a cobrança passa para as mãos da
Autoridade Tributária é que o cidadão é
confrontado com pesadas dívidas.
Ter um identificador eletrónico de
Via Verde instalado em cada viatura,
autorizando o pagamento de portagens
por débito direto, é uma forma de evitar
o papel de devedor em cada viagem.
Mas é inaceitável que um modelo de
cobrança de portagens virtuais seja
tão complexo, a ponto para servir de
angariador de clientes para uma empresa
privada de soluções de mobilidade.
Os consumidores têm de dispor de
uma alternativa viável, acessível, e com
um custo razoável de pós-pagamento
de portagens. Não temos dúvidas de
que este modelo de cobrança tem
falhas graves, que precisam de revisão
urgente. E vamos exigi-la ao Governo
e grupos parlamentares. Mas até lá, as
concessionárias continuam a poupar
em salários de portageiros e o Estado
continua a arrecadar a maior fatia
das cobranças coercivas, enquanto os
cidadãos gastam mais em identificadores,
custos administrativos e coimas.
DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas
403
queixas recebidas
por telefone
e internet,
no primeiro
semestre de 2021
CONSUMIDORES EXIGEM
Cobrança reformulada
●  A informação disponibilizada
pelas concessionárias de
autoestradas junto às portagens
virtuais tem de fornecer os dados
mínimos para que o utilizador saiba
como e onde pagar a respetiva
taxa. Exibir apenas preços é muito
insuficiente, não só para quem
desconhece a cobrança via CTT,
como também para os condutores
estrangeiros, que provavelmente
nunca ouviram falar em tal coisa.
●  Como é que uma dívida
de cêntimos se transforma
rapidamente em dezenas de
euros? E para milhares de pessoas
ao mesmo tempo? É um sinal
evidente de que o princípio da
proporcionalidade está em causa
neste modelo de portagens virtuais
e que não é problema de um
pequeno grupo de cidadãos.
●  As concessionárias não podem
continuar a poupar em recursos
humanos à custa dos utilizadores
de autoestradas, que se veem a
braços com um complexo sistema
de pagamento diferido. Há que
simplificar o processo, alargar
prazos de pagamento voluntário
e melhorar o modelo de notificação
de devedores, antes de acionar a
máquina de cobranças coercivas
do Fisco.
setembro/outubro 2021//D&D 31
D&D//GINÁSIOS

Ginástica contratual
Perante a pandemia, os ginásios têm-se mostrado dispostos a alterar as condições
contratuais. Ainda assim, continuam a existir cláusulas abusivas. Ao longo
dos anos, temos vindo a denunciar as ilegalidades, e a situação melhorou
Texto Rita Santos Ferreira & Filipa Rendo

C
arina Rodrigues, engenheira
informática de 37 anos,
frequenta, desde 2008,
um ginásio do grupo Solinca.
Durante a pandemia, deram-lhe a
escolher um de dois cenários: congelar
a mensalidade e, como tal, não pagar,
ou continuar a fazê-lo e a usufruir
de aulas online.
No primeiro confinamento,
recebemos diversas questões relativas
a problemas relativos ao pagamento
das mensalidades. Carina decidiu
continuar a pagar os 36 euros e a ter
a hipótese de frequentar aulas online.
No entanto, o ginásio manteve, no valor
da mensalidade, a toalha e o acesso ao
banho turco e à sauna: três comodidades
EM 2021, CONTINUAMOS que deixaram de estar disponíveis. Após
A DETETAR CLÁUSULAS questionar o estabelecimento sobre esta
situação, a partir de abril de 2021, passou
ABUSIVAS NOS CONTRATOS a pagar metade da mensalidade inicial.
DE ADESÃO DOS GINÁSIOS. Os ginásios têm-se mostrado
PORÉM, ESTES TÊM-SE dispostos a colaborar e a fazer alguma
ginástica contratual, para facilitarem
MOSTRADO DISPONÍVEIS a situação dos consumidores. Grande
PARA NEGOCIAR parte deixou de cobrar as mensalidades
AS CONDIÇÕES após o encerramento dos espaços.
Mas, mesmo que um ginásio pedisse
esse valor, o utente não teria de o pagar.
Sem prestação de serviços, não pode
haver exigência de pagamento.

32 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

 2013
Exigimos junto
da Assembleia da
República que os
ginásios eliminassem
os contratos com
cláusulas ilegais
2018
Denunciámos a mesma
situação à Procuradoria
da Comarca de Lisboa
2021
Apesar de continuar
a haver cláusulas
ilegais, os ginásios
esforçam-se para
chegarem a acordo
com o cliente
Durante o confinamento, e perante
os tempos incertos, defendemos
que, caso fosse apresentada uma
proposta que oferecesse descontos
ao consumidor nos meses após o
desconfinamento, ou alternativas,
como aulas online, tal só poderia ocorrer
mediante o consentimento do cliente.
A fidelização deveria também ser
mantida, uma vez que a prestação dos
serviços tinha sido suspensa, não por
responsabilidade do ginásio, mas devido
a uma questão de saúde pública à qual
o estabelecimento era alheio.
Desde 1 de agosto de 2021, só é
possível participar em aulas de grupo
apresentando o Certificado Digital Covid,
ou um teste com resultado negativo.
O que é um contrato de adesão?
Por norma, os ginásios recorrem a
contratos de adesão, quando celebram
um vínculo com o consumidor. Assim,
existem “regras” que devem ser
cumpridas, nomeadamente, cláusulas
justas, exigindo-se um equilíbrio entre
os direitos e as obrigações de ambas as
partes. A linguagem clara e acessível é,
também, crucial em qualquer contrato.
Segundo a lei, as cláusulas têm de
www.deco.proteste.pt
ser comunicadas aos consumidores
de um modo adequado e com a
antecedência devida. Existe ainda o
dever de informação, de acordo com o
qual o ginásio tem de prestar todos os
esclarecimentos que sejam solicitados.
Um haltere pesado de abusos
Conforme resulta da lei, são
absolutamente proibidas as cláusulas
que limitem ou alterem as obrigações
assumidas na contratação. Por outro
lado, podem ser abusivas cláusulas
que prevejam prazos excessivos de
duração do contrato. Também são
consideradas nulas as que excluam ou
limitem a responsabilidade do ginásio
em caso de danos corporais ou morte.
O mesmo vale para as disposições
que imponham uma indemnização
excessiva face a incumprimento
das condições contratadas ou ainda
para as que permitam o aumento
do preço inicial, sem que o cliente
possa terminar o vínculo.
Em 2013 e 2018, fizemos dois estudos
sobre os contratos de adesão de diversos
ginásios. Detetámos várias ilegalidades,
tais como alterações das condições sem
que o utente pudesse optar pela rescisão,
ou aumento de preços sem aviso prévio.
Em 2021, constatámos que o cenário,
em certos aspetos, é o mesmo, apesar de
haver um esforço, por parte dos ginásios,
para reverem alguns pontos e facilitarem
outros tantos.
Avaliámos cinco estabelecimentos
populares (Go Fit, Fitness Hut, Holmes
Place, Solinca, Supera e Viva Fit) e, em
certos casos, deparámo-nos com alguma
resistência na entrega dos contratos, o
que choca com o princípio de boa-fé. Por
norma, os ginásios prestam informações
nos sites ou entregam um resumo das
condições gerais. Porém, as mesmas não
espelham com rigor toda a informação
necessária. Exigimos, assim, a
obrigatoriedade de os estabelecimentos
facultarem os contratos aos
consumidores, previamente e durante
o período necessário. Precisa-se de mais
transparência na divulgação de
informações e na comunicação entre
o ginásio e o consumidor, nomeadamente
no que se refere aos contratos.
Um mês de cada vez
Tal como vimos nos estudos anteriores,
os ginásios dão a opção de celebrar
contratos de curta duração, por norma
de 30 dias, renováveis por igual período.
O cliente, em princípio, não se deparará
com obstáculos intransponíveis,
se quiser terminar o vínculo.
Já nos contratos anuais, apesar
de serem oferecidas condições mais
vantajosas, a desvinculação poderá ser
mais difícil, pois o cliente tem de o fazer
num determinado período (geralmente,
30 dias antes da renovação). Se deixar
passar o prazo, o contrato é dado
como renovado. Atente no documento
que está a assinar e veja se a versão
D&D ACONSELHA
Antes de assinar...
●  Deve ter acesso ao contrato
de adesão e lê-lo com detalhe,
de preferência em casa, e com
tempo. Se tiver dúvidas, não hesite
em pedir todos os esclarecimentos
que considere relevantes.
●  Tenha atenção ao prazo do
contrato. É mais fácil terminar
um contrato mensal do que um
anual, visto que, neste último, o
consumidor está abrangido por
uma fidelização e, como tal, terá
de pagar todas as mensalidades
até ao fim do prazo.
●  Informe-se sobre as alterações
de preços e as circunstâncias em
que é possível terminar o contrato,
ou qual o prazo necessário
para evitar a renovação.
●  Verifique também se, em
caso de desemprego, doença
ou mudança de casa, é possível
pôr fim ao contrato, e quais os
procedimentos para o efeito.
setembro/outubro 2021//D&D 33
D&D//GINÁSIOS
5 CLÁUSULAS ABUSIVAS
DETETADAS NOS CONTRATOS
OU REGULAMENTOS
As cláusulas abusivas não vinculam o consumidor, visto não terem valor jurídico.
Porém, uma cláusula deste tipo não invalida o contrato no seu todo, a menos que seja
essencial para o vínculo. Não assine, se encontrar alguma das frases seguintes.
“A Direção de cada Clube poderá
unilateralmente alterar, prolongar ou
encurtar os horários das atividades do
Clube, sem que haja lugar a qualquer
indemnização ao Membro”
Holmes Place
“O Membro continuará a ser responsável
pelo pagamento das mensalidades, ainda
que, por motivos não imputáveis à Holmes
Place, a mesma não possa fornecer a
gama completa de serviços anunciados
e independentemente da utilização efetiva
do clube (s) a que se encontra adstrito”
Holmes Place
“A Fitness Hut reserva-se o direito
de alterar o mapa de aulas, em qualquer
altura sem aviso prévio. As alterações
incluem o número de aulas semanal, o
horário das aulas e a duração das aulas”
Fitness Hut
“A Go Fit reserva-se o direito de abrir
e limpar os cacifos de uso diário
que permaneçam fechados na hora
de encerramento das instalações /
/ A Go Fit não se responsabiliza pelas
perdas, danos ou furtos que ocorram no
interior dos cacifos ou qualquer outro local
das instalações”
Go Fit Olivais
“Não são admitidos pagamentos
em numerário, apenas estando disponível
o pagamento através de cartão de crédito,
mbway ou referência multibanco, e apenas
no que se refere à primeira quota devida”
Solinca
34 D&D//setembro/outubro 2021
As alterações devem ser
comunicadas com antecedência,
sob pena de causarem
transtornos aos utentes.
É ilegal uma cláusula que limite
o que foi contratado e impeça
o direito a uma indemnização.
Esta cláusula vai contra o
princípio da boa-fé contratual.
Tendo em conta o contexto
pandémico, quando não
há prestação de serviço,
não pode haver lugar
a pagamento.
As atualizações devem ser
atempadamente comunicadas
aos clientes. A alteração
unilateral imposta pelo ginásio
pode provocar transtornos a
quem o frequenta.
Se o ginásio se reserva o
direito de abrir o cacifo para
limpeza, tem de assumir
a responsabilidade pelos
bens que, eventualmente,
encontre no seu interior.
Não é aceitável que seja
impedido o pagamento em
numerário. Esta imposição só é
vantajosa para uma das partes,
cobrindo apenas a conveniência
dos serviços do próprio ginásio.
anual é mesmo mais vantajosa.
Em novembro de 2020, Carina aderiu
a outro ginásio do grupo Solinca. Porém,
deixou de frequentá-lo em maio de 2021,
cancelando a subscrição a 16 de junho.
Foi-lhe cobrada a primeira quinzena do
mês de junho, pois o cancelamento teria
de ser comunicado antes do débito do
valor relativo à quinzena seguinte. Mas a
situação chegou a bom porto. Depois de
a engenheira informática alegar que era
cliente de outro ginásio do grupo, foi-lhe
devolvido o montante cobrado. Apesar
de, neste caso, não haver abuso por
parte do ginásio, é de realçar o esforço
para chegar a acordo com a consumidora.
Mas atenção: há alterações contratuais
que continuam a ser ilegais...
Em caso de braço-de-ferro
Face a um conflito com o ginásio, recorra
a uma das seguintes soluções. Primeiro,
apresente queixa no livro de reclamações,
físico ou em formato eletrónico.
Se a queixa estiver relacionada com
as instalações e as condições técnicas
de segurança, nomeadamente com a
implementação e o cumprimento das
normas da Direção-Geral da Saúde
relativas à covid-19, apresente o caso
à Autoridade de Segurança Alimentar e
Económica (ASAE), entidade responsável
pela fiscalização destes estabelecimentos.
Pode também recorrer à nossa
plataforma Reclamar, em www.deco.
proteste.pt/reclamar. A queixa será,
depois, enviada à entidade visada.
Outra alternativa é remeter o caso a
um centro de arbitragem, sendo que, para
tal, não precisará de advogado. Também
pode optar por um Julgado de Paz, já
que oferece mais celeridade e envolve
menos custos do que os tribunais, ainda
que estes sejam igualmente opção.
Tendo por base o princípio constitucional
da proteção do consumidor, as cláusulas
contratuais nulas devem ser divulgadas
em www.dgsi.pt/jdgpj.nsf.
Assim, antes de assinar qualquer
contrato, lembre-se: não vale tudo
para ter os abdominais de um Ronaldo.
DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima
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A bolsa ou a vida
profissional
É possível reduzir salários? A lei diz que não, mas
situações excecionais de crise podem ter como
consequência a redução do rendimento de quem
trabalha. Seja como for, é necessário acordo
Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo
www.deco.proteste.pt
D&D//REDUÇÃO DE VENCIMENTO
O
mundo tem destas
reviravoltas. Quem
trabalhasse na aviação
comercial ou na hotelaria,
em janeiro de 2020, tinha um verdadeiro
arco-íris no horizonte: afinal, o setor
do turismo era o que mais crescia
e as viagens aéreas multiplicavam-se
ao ponto de a construção de um segundo
aeroporto internacional em Lisboa ser
motivo de inflamado debate nacional.
Bastou um imprevisto para que tudo
desabasse. A partir de março, meros dois
meses depois, o setor via cair os seus
lucros e entrava em prejuízos nunca
vistos. Quase de um dia para o outro, o
confinamento decretado para proteger
a saúde pública fazia o turismo passar,
num estalar de dedos, de bestial a besta.
A situação da TAP, a companhia aérea
nacional, destronou o aeroporto no
altar das grandes discussões do nosso
país. A uma fase de lay-off, seguiu-se
a reestruturação: dispensas em massa –
milhares de trabalhadores a termo sem
renovação do contrato, muitos outros
com rescisões por acordo – e reduções
de salário, com ou sem subtração de
horas de trabalho, montam um palco
complexo para salvar a transportadora.
Uma assistente de bordo, cujo
anonimato preservamos, aceitou,
tal como tantos outros profissionais
da empresa, uma redução de 25% do
salário e de 15% do tempo de trabalho.
A dieta salarial vai durar quatro anos,
sendo que no segundo ano, 2022,
a redução do vencimento será de
20%, mantendo-se a diminuição do
tempo de trabalho. A incerteza ainda
é muita, e os trabalhadores cujos
setembro/outubro 2021//D&D 35
D&D//REDUÇÃO DE VENCIMENTO

A hipótese de ir a tribunal resolver

CORTES AUTORIZADOS o assunto não foi ponderada, diz esta
profissional. A redução foi drástica e,
Há situações em que o salário pode ser reduzido apesar de a TAP ainda só efetuar 56%
● Antes de mais, ninguém recebe o salário por inteiro: todos os meses, dos voos por comparação aos que fazia
é retida uma parte destinada a compromissos fiscais, IRS e contribuições em 2019, já se começa a sentir “alguma
para a Segurança Social. falta de pessoal” nas viagens de médio
curso. O que resta a trabalhadores
● Penhoras de salário para pagamento de dívidas ao Fisco, à Segurança Social
nesta situação? Resistir com a solução
ou a outras entidades, desde que exigidas por lei ou por uma decisão judicial,
podem justificar uma diminuição do que se recebe ao fim do mês. Exemplo:
encontrada, e esperar por dias melhores.
pensões de alimentos a ex-cônjuges ou aos filhos. O empregador será
notificado para penhorar o salário. O corte pode ser de um terço da retribuição, Reduzir para sobreviver
mas o trabalhador não pode receber, por mês, menos do que o salário mínimo Ora, a lei diz que só pode haver
nacional (665 euros). A penhora pode ser maior, se ficar garantido que lhe é diminuição na retribuição-base e nas
entregue, pelo menos, o triplo do salário mínimo (1995 euros). demais componentes do salário dos
trabalhadores em situações excecionais
● As diminuições podem justificar-se ainda por indemnizações que o
de crise, que obriguem a empresa
trabalhador tenha de pagar à entidade patronal. Mas, também aqui, só é
a reduzir ou suspender a atividade.
possível se forem reconhecidas pelos tribunais.
Foi o que aconteceu, por exemplo,
● Sanções pecuniárias aplicadas pela prática de infrações disciplinares com as empresas que entraram
são outra razão para cortes. Uma das punições previstas na lei, juntamente em lay-off.
com repreensão, repreensão registada, perda de dias de férias, suspensão Mal refeitos da crise de 2008 e dos
com perda de retribuição e despedimento, é a aplicação de uma “multa”. anos seguintes, que levaram a cortes
abruptos de rendimentos, empresas
● Amortizações e juros de empréstimos concedidos pelo empregador, assim
e trabalhadores veem-se agora perante
como o pagamento antecipado de parte ou da totalidade do salário, também
a hecatombe económica da pandemia.
podem ser compensados por via do vencimento.
Mas, em tempos normais – ou quando
● Outra situação: valores relativos a refeições no local de trabalho, a uso
recuperarmos da crise sanitária –,
de telefones e a outras despesas, quando solicitadas pelo trabalhador o que é regra? Podem deixar de ser
e que o empregador tenha suportado com o consentimento daquele. atribuídos “extras” como cartão de
crédito ou viatura de serviço, pode haver
redução em despesas de representação
ou extinção de subsídios de refeição
contratos não cessaram aceitaram mas foi ainda maior para comandantes ou de transporte? Em regra, não.
esta situação, pela grave crise que a e copilotos: 50% de redução durante A redução pode basear-se numa
companhia atravessa. “Não sabemos quatro anos. “Sinto que a maioria está alteração do contrato. Por exemplo,
como ficará a massa salarial depois deste conformada e com muito medo de ser se alguém teve direito a um aumento
período, porque o sindicato e a empresa despedida, apesar de não encontrarmos salarial, por passar a ter isenção de
comprometeram-se a negociar o novo alternativa. Temos consciência de que horário de trabalho, esse acréscimo pode
acordo de empresa em dezembro, e as a situação da empresa foi muito afetada ser-lhe retirado assim que deixe de estar
tabelas salariais constam do mesmo”, pela pandemia”, adianta. no referido regime.
explica a assistente de bordo. Outro exemplo: redução do horário,
com acordo do trabalhador. Não pode
Presente incerto, ser imposta pelo empregador. A redução
futuro imprevisível A LEI DIZ QUE SÓ PODE salarial será proporcional à diminuição
O acordo conseguiu-se por manifesta da carga horária. Imaginemos que o
falta de alternativa, apesar de, por lei, HAVER DIMINUIÇÃO funcionário passa a trabalhar 30 horas
não ser permitido diminuir salários. SALARIAL EM SITUAÇÕES semanais, em vez de 40: um salário
Ou melhor: baixar os vencimentos EXCECIONAIS DE CRISE, de dois mil euros desce até 1500 euros.
sem uma redução correspondente no
tempo de trabalho. O corte salarial
QUE OBRIGUEM A Há ainda outro caso a ter em conta: o
trabalhador passar para uma categoria
atingiu todo o pessoal de cabine EMPRESA A REDUZIR OU inferior. Mas, mais uma vez, terá
(comissários e assistentes de bordo), SUSPENDER A ATIVIDADE de concordar com a despromoção.

36 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt


ABUSOS
Reaja, se houver
injustiça
O ideal será sempre não aceitar
as reduções, mas, como vimos,
num cenário de grande perda
económica, poderá ter de ceder.
No entanto, se o processo for injusto,
é possível reagir. Eis como.
QUEIXE-SE À ACT
O primeiro passo face a um abuso
da entidade patronal ou a uma
situação que deixe o trabalhador
na dúvida é apresentar o caso
à Autoridade para as Condições
do Trabalho (ACT). Esta pode
pronunciar-se a favor da ilegalidade
da medida tomada pela empresa,
solicitando que volte atrás e,
eventualmente, aplicando-lhe
uma coima, que pode ser pesada.
RECORRA À MEDIAÇÃO LABORAL
OU AOS TRIBUNAIS
Outras possibilidades são o
recurso à mediação laboral, caso
o trabalhador entenda que ainda é
possível um acordo, ou aos tribunais,
para que decidam se o corte
na retribuição é ou não ilegal.
RESCINDA O CONTRATO
COM JUSTA CAUSA
O trabalhador também
pode decidir-se pela resolução do
contrato com justa causa. Se lhe
for dada razão, terá direito a uma
indemnização entre 15 e 45 dias de
retribuição-base e diuturnidades por
cada ano completo de antiguidade
(proporcional para ano incompleto).
A indemnização nunca poderá ser
inferior a três meses de retribuição-
-base e diuturnidades. No entanto,
é preciso provar que a conduta do
empregador foi de tal forma grave
que impossibilitou a manutenção
do contrato. Ainda que considerem
ilegal a redução da retribuição, os
tribunais podem entender que isso
não inviabilizaria a manutenção
do contrato, havendo outras formas
de reação por parte do trabalhador.
www.deco.proteste.pt
E o fundamento tem de ser a necessidade
premente da empresa ou do trabalhador.
O empregador pode, por exemplo,
reduzir a retribuição-base, aumentando
os subsídios? Não, pois isso pode levar
a uma redução das contribuições
para a Segurança Social e a uma
consequente diminuição das prestações
sociais, como subsídios de desemprego
ou de doença, ou ainda ao cálculo da
reforma. Mas haveria ainda outra pedra
no sapato do trabalhador nesta situação:
as compensações e indemnizações por
cessação do contrato. Se, na empresa,
houver um despedimento coletivo ou
por extinção do posto de trabalho ou,
mesmo, se um eventual despedimento
for considerado ilícito pelos tribunais,
o montante a que tem direito é calculado
tendo como referência apenas a
retribuição-base e as diuturnidades.
Estas correspondem àquela parte da
retribuição correspondente à antiguidade
na empresa, e que hoje poucos recebem.
Ora, havendo redução da retribuição-
-base, o trabalhador seria prejudicado
no cálculo de uma indemnização
ou compensação.
Cabeça fria em situações quentes
O momento é difícil, e não se lhe pode
prever o fim. Mas é importante não
esquecer de que se mantêm os direitos
dos trabalhadores, em particular a
proibição de reduzir a retribuição.
Comece por recusar qualquer
proposta nesse sentido, embora não
seja impossível a retirada de alguma
regalia que não constasse do contrato,
não tivesse sido negociada, nem fosse
determinante na aceitação da oferta
de trabalho (por exemplo, lugar de
estacionamento disponibilizado pela
empresa). Mas o trabalhador pode
estar perante uma empresa “ligada à
máquina” e ser obrigado a optar entre
ceder no salário ou perder o emprego.
Ou, ainda, pôr em causa o emprego
dos colegas. Significa que não deve
ignorar a situação real da empresa, os
custos que os cortes salariais evitarão
e as previsíveis consequências se isso
não acontecer. Em certos momentos,
O TRABALHADOR NÃO DEVE
ACEITAR UMA REDUÇÃO
DO SALÁRIO-BASE E UM
AUMENTO DE SUBSÍDIOS,
POIS PODE PREJUDICÁ-LO
NAS PRESTAÇÕES SOCIAIS
E NUMA COMPENSAÇÃO
POR DESPEDIMENTO
mais vale um salário menor do que uma
empresa a fechar portas. Isto não quer
dizer que se baixe os braços e se deixe
que o processo siga o seu rumo, sem
justiça nem seriedade, nos ajustamentos
que estão na mesa das propostas.
Se a redução nas retribuições não for
inevitável e transversal, ou se poupar
quem tem os salários mais elevados,
deixando de parte, por exemplo, órgãos
de administração ou gerência ou os
mais altos cargos da organização, os
trabalhadores devem pôr-se em campo
(ver caixa ao lado).
Transparência e negociação
Por isso, é fundamental uma política
transparente por parte da empresa,
com a correta divulgação dos dados
que originem a necessidade de acertos
salariais. Devem ser chamados a
pronunciar-se os órgãos representativos
dos trabalhadores (sindicato ou comissão
de trabalhadores) ou, não existindo,
deve ser formada, especialmente
para o efeito, uma comissão que
represente os trabalhadores afetados.
O futuro da empresa, o seu e o dos
colegas pode exigir, portanto, aceitar uma
redução salarial. Deve fazê-lo por escrito,
indicando com exatidão os termos em
que a aceita. O ideal é que o ajustamento
salarial seja temporário, enquanto se
mantiver a situação de crise da empresa
ou do setor em que está inserida.
E esperar por tempos melhores.
DOSSIÊ TÉCNICO Nuno Carvalho
setembro/outubro 2021//D&D 37
 “P
recisa de mais alguma
coisa?”, perguntou, solícita,
a funcionária do banco.
“Gostava de fazer um PPR...”,
respondeu Pedro Dias. Tinha ido tratar
de outro assunto, mas, já que ali estava,
esta era uma boa oportunidade. De mais a
mais, sempre que via a mãe, o tema vinha à
baila: “Já subscreveste um PPR? Sabe-se lá
como vão ser as reformas quando chegar
a tua vez.” Pedro Dias tinha noção de que
um PPR dava algum conforto e até era
útil, mas não percebia nada de produtos
financeiros e, por isso, foi sucessivamente
adiando a subscrição de um plano
de reforma.
Ao sair do banco, ficou convencido
de que, finalmente, tinha subscrito um
PPR. Mas, na verdade, era um seguro de
vida. Só percebeu quando contactou o
banco, para questionar porque estava
a debitar cerca de 40 euros, em vez dos
25 que tinha acordado. “Explicaram-me
que 25 euros era o capital e o restante, o
prémio do seguro. A gestora tinha sido

Como
muito convincente, quando subscrevi o
produto.” Pedro Dias optou por resgatar.
“Não me aconselharam. Ia ser muito
penalizado”. Ainda assim, insistiu. No

escolher um
final, pagou meia-dúzia de euros. “Senti-
me enganado.” Apesar da má experiência,
não desistiu de subscrever um PPR. Tem
45 anos e reconhece a importância de

PPR rentável
Os fundos PPR são, por norma, mais rentáveis
do que os seguros PPR. Saiba qual o produto mais
prevenir o futuro.
Confundir produtos financeiros é
muito comum. No caso da reforma,
há fundos de pensões, Certificados de
Reforma e até planos mutualistas. Muitos
ignoram, por exemplo, que os planos de
poupança-reforma não são todos iguais.
Há fundos PPR e seguros PPR. É relevante
saber distingui-los? Se quer fazer crescer
as suas poupanças, sem dúvida.

adequado para cada idade e quanto pode ganhar
com as nossas Escolhas Acertadas
Texto Myriam Gaspar & Ana Santos Gomes
Fundos ou seguros PPR?
Comecemos pelos fundos PPR.
Estão a cargo de sociedades gestoras
de fundos de investimento, e não de
seguradoras, aplicam em ações e são
expressos em unidades de participação
(como um bolo dividido em fatias), cujo
valor vai mudando consoante a evolução
do preço (cotação), em bolsa, dos títulos

38 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt


que compõem a carteira. Desde 2018,
podem investir a totalidade da carteira
em ações. Mas nem todos o fazem.
Para simplificar, dividimos os fundos PPR
em três categorias: os que aplicam até
25% em ações, mais defensivos; os que
aplicam entre 25% e 50%, ou seja, mais
equilibrados entre ações e obrigações;
e, por último, os que investem mais de
metade da carteira no mercado acionista.
Apresentam, por isso, um risco mais
elevado, mas também a possibilidade
de valorizações mais elevadas. Ou seja,
quanto maior a componente em ações,
maior será o risco. Mas, lá diz o ditado,
quem não arrisca não petisca.
Em regra, os fundos PPR não garantem
o capital. Ao contrário, os seguros PPR
têm capital garantido e um rendimento
mínimo. Como não há regra sem exceção,
existem também seguros PPR sem
capital garantido ou rendimento mínimo,
e fundos PPR com o capital seguro.
Tenha, por isso, cuidado redobrado ao ler
as condições do produto que o seu banco
ou a sua seguradora lhe apresentar.
Porque é tão importante saber o peso
das ações num fundo PPR ou perscrutar
se um seguro PPR tem capital garantido?
Só assim consegue escolher o produto
mais adequado ao seu perfil de risco e à
sua idade. Se está na casa dos 30 anos,
pode optar por um fundo PPR com maior
risco (maior percentagem de ações), para
beneficiar de um rendimento potencial
mais elevado. Ainda que haja anos
menos bons nas bolsas, terá tempo de
recuperar as eventuais perdas que vierem
a ocorrer. Às vezes, nem é preciso esperar
anos. Vamos a um exemplo: em 2020,
por causa da pandemia, os mercados
financeiros sofreram fortes quedas nos
primeiros meses, mas as subidas de
novembro e dezembro permitiram que
os fundos PPR terminassem o ano com
um rendimento positivo na maioria dos
casos. Na verdade, as recuperações nas
bolsas têm beneficiado estes produtos,
especialmente os que mais investem em
ações. Nos últimos 12 meses, ganharam,
em média, 9,2%, mas alguns fundos mais
agressivos valorizaram quase 30 por cento.
A diferença entre subscrever um
www.deco.proteste.pt
D&D//PPR
fundo PPR ou seguro PPR, quando se 30% em ações), supondo que se mantém
tem, por exemplo, apenas 30 anos, é o o rendimento anual dos últimos cinco
montante possível de amealhar ao chegar anos (6,1%), chega à reforma com cerca
à reforma. Se iniciar uma poupança de 80 mil euros. Optando pelo seguro
mensal de 50 euros e subscrever a nossa PPR que recomendamos, o Lusitania
Escolha Acertada de PPR sob a forma de Poupança Reforma PPR, obterá cerca
fundo (o Alves Ribeiro PPR aplica cerca de de metade desse valor (41 213 euros)
Sem risco, por favor
O risco não é, contudo, algo com
que todos os aforradores lidam bem.
Os menos afoitos preferem jogar pelo
COMPARE O SEU PPR seguro. Ainda que os fundos sejam mais
COM AS NOSSAS ESCOLHAS rentáveis a longo prazo, há quem prefira
ACERTADAS, EM WWW. ter a segurança de produtos com capital
garantido. Se é o seu caso, os seguros
GANHEMAISNOPPR.PT, PPR são os mais adequados. São também
E BENEFICIE DE CONDIÇÕES indicados para quem já está próximo da
ESPECIAIS NA TRANSFERÊNCIA reforma, pois, nesta fase da vida, há
QUANTO GANHA SE POUPAR 50 EUROS POR MÊS
Esta simulação é baseada na rentabilidade passada das nossas Escolhas
Acertadas, o seguro Lusitania Poupança Reforma PPR (3,1% nos últimos três
anos) e o fundo Alves Ribeiro PPR (6,1% nos últimos cinco anos), partindo
do pressuposto de que se mantém até à idade da reforma (67 anos).
SEGURO PPR FUNDOS PPR
(3,1%) (6,1%)
ÁR
CEN IO 1
INÍCI O D
ANOS
30
PO
UPANÇA AOS € 41 213 € 80 683
A
ÁR
CEN IO 2
INÍCI O D
ANOS
€ 13 388 € 17 637
50
PO
UPANÇA AOS
A
setembro/outubro 2021//D&D 39
D&D//PPR

ESCOLHA
ACERTADA OS MAIS RENTÁVEIS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS A OPINIÃO DO
Sendo os planos de poupança-reforma produtos de longo prazo, há que analisar
NOSSO ESPECIALISTA
as rentabilidades num período de cinco anos, e não apenas no passado recente.
Embora não garantam igual desempenho no futuro, revelam eficiência na gestão.

António Ribeiro

Apesar de os fundos PPR e

seguros PPR permitirem poupar
para a reforma e proporcionarem
iguais benefícios fiscais no

2.º 1.º 3.º

resgate, não se regem pela
mesma transparência no que diz
respeito à informação prestada
ao consumidor, dificultando
NB PPR/OICVM Alves Ribeiro PPR PPR Vintage
a escolha do produto mais
 5,3%  6,1%   2,7% 
adequado a cada perfil. Durante
Não tem comissão de A Escolha Acertada é o Este fundo PPR é dos
anos, exigimos à Autoridade de
subscrição nem de resgate, fundo PPR mais rentável poucos que têm capital
Supervisão de Seguros e Fundos
e aplica cerca de 10% há já cinco anos. Aplica garantido, envolvendo,
de Pensões (ASF) que divulgasse
da carteira em ações. cerca de 30% em ações. por isso, um risco menor.
a rentabilidade e as comissões
É comercializado pelo Novo Os subscritores da DECO Investe cerca de 11% em
de todos os produtos no seu site.
Banco, pelo Best, pelo PROTESTE têm condições ações. É comercializado
Foi com agrado que vimos esta
ActivoBank e pelo Invest. especiais na adesão. pelo Best Bank e pelo GNB.
entidade supervisora acolher as
nossas reivindicações, dado que
não é fácil obter os dados dos
seguros PPR, para que possam
ser comparados. Constatámos,
contudo, que a atualização da
que salvaguardar o capital acumulado Transfira para as melhores soluções informação deixa muito a desejar.
ao longo dos anos. do mercado. Mas, antes, esteja ciente Não só alguns seguros apresentam
Em resumo, aconselhamos um PPR de que os fundos têm regras bem mais rentabilidades de anos anteriores
sob a forma de fundo (sem garantia de transparentes do que as dos seguros. Para a 2020, como detetámos vários
erros inadmissíveis, o que
capital) até aos 56 anos e, a partir dessa os fundos, facilmente encontra o histórico
significa que o site da ASF não
idade, a transferência para um seguro PPR do rendimento, as comissões ou mesmo permite comparações fiáveis,
que garanta o dinheiro investido. a política de investimentos. No caso dos apresentando quase metade
seguros, alguma dessa informação é dos produtos em subscrição com
Não está satisfeito? Transfira quase inexistente nas páginas online das os valores errados. Ao contrário
Se tem um PPR, compare-o seguradoras, outra é confusa ou ambígua. dos PPR sob a forma de fundo ou
com as nossas recomendações, Pode ainda acompanhar a evolução do de outros produtos financeiros,
em www.ganhemaisnoppr.pt, e fique rendimento dos fundos, já que estão como depósitos, a informação
a saber se está ou não a perder dinheiro. divididos em unidades de participação relativa ao rendimento passado,
às comissões cobradas e à
Se for subscritor da DECO PROTESTE, com cotação diária. O mesmo não
carteira de investimentos não
usufrui de condições especiais na adesão acontece nos seguros, cujo rendimento é consta de forma clara dos
às Escolhas Acertadas. Os subscritores divulgado anualmente. folhetos pré-contratuais dos
da revista PROTESTE INVESTE têm Para garantir um futuro tranquilo, seguros PPR nem das páginas
vantagens adicionais. analise bem as condições do produto online das seguradas. Afinal,
Não deixe a sua poupança de longo que o banco ou a seguradora lhe que tem feito a entidade
prazo adormecida em aplicações que apresentarem. supervisora dos seguros para
pouco rendem, sob pena de perder promover a transparência?
milhares de euros até à reforma. DOSSIÊ TÉCNICO António Ribeiro

40 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

D&D//DESPESAS DE EDUCAÇÃO
Até poderia pagar
menos IRS...
... se todas as despesas de educação fossem dedutíveis. Mas o Fisco apenas conta
mensalidades, manuais e pouco mais. Use o nosso novo simulador para saber
quanto poderia poupar e ajude-nos a exigir mudanças
C
anetas e lápis de todas as
cores – porque azul-claro e
azul-escuro não chegavam e
alguém inventou variantes
de azul que nem nome devem ter –;
pincéis finos, grossos e assim-assim;
compasso e máquina de calcular
científica com fórmulas ao quadrado
e ao cubo; régua pequena, régua
grande e esquadro; mochila resistente,
impermeável e com bonecos; e ainda... o
computador com acesso à internet para
entrar na plataforma onde o professor
disponibilizou os textos de apoio, para
pesquisar na Wikipédia e preparar
relatórios e, se a pandemia não der
tréguas, ainda assistir a aulas à distância
em caso de quarentena. Quem disse que
as despesas de educação se resumiam
a propinas, explicações, comida da
cantina e manuais escolares? As famílias
sabem que não é verdade, mas o Fisco
www.deco.proteste.pt
Texto Ana Santos Gomes
ainda acredita que sim, pois tudo o resto
não pode ser deduzido no IRS. Só que
a criança tem falta de material se não o
levar para a escola...
Descubra quanto poderia poupar
Em teoria, 30% dos gastos com educação
e formação de qualquer elemento do
agregado familiar podem ser deduzidos
no IRS. Mas, na prática, as famílias
perdem muito dinheiro por não
poderem deduzir TODAS as despesas
com material escolar. Para que tenha
uma ideia de quanto poderia poupar,
criámos um novo simulador online:
permite apurar a dedução que faria no
seu IRS se ali pudesse declarar todos os
gastos com educação. Basta digitar, em
www.despesaseducacaoirs.pt, o valor
que, todos os anos, costuma gastar com
a escola dos seus filhos (ou com a sua
própria formação) e calcula, de imediato,
o valor que está a perder no IRS. Afinal,
poderia estar a pagar menos imposto
ou a receber um reembolso mais robusto.
É possível deduzir mais em 2022?
Sim, é possível, desde que o Orçamento
do Estado do próximo ano contemple
essa alteração, que há muito
reivindicamos. Por isso, mais uma vez,
vamos pressionar os partidos para terem
em conta a necessidade de alargar as
deduções de IRS a todas as reais despesas
com educação e formação. Junte-se a
nós nesta causa e ajude-nos a conseguir
deduções mais justas para todas as
famílias com estudantes.
DOSSIÊ TÉCNICO Sónia Covita
JUNTE-SE A ESTA CAUSA
Ajude-nos a conseguir o alargamento das deduções
no IRS em www.despesaseducacaoirs.pt
setembro/outubro 2021//D&D 41
D&D//CARTÃO DE CIDADÃO
Se o seu cartão de
cidadão caducou ou
está prestes a caducar,
pode renová-lo sem sair
de casa. Explicamos quem
o pode fazer e como
Texto Isabel Vasconcelos
Tratar de tudo
sem sair de casa
A
pandemia e os confinamentos
têm originado alguns
constrangimentos a quem
precisa de emitir ou renovar
o cartão de cidadão. Para os resolver,
além de um prolongamento da validade
do documento, surgiu a possibilidade
da renovação automática para os
maiores de 25 anos. Mas têm-nos
chegado muitas dúvidas. Neste artigo,
explicamos tudo o que precisa de
saber sobre os procedimentos, prazos
e custos associados ao cartão de
cidadão. Falámos ainda com Anabela
Pedroso, secretária de Estado da Justiça,
para esclarecer várias questões.
Renovação automática
para maiores de 25 anos
Tem nacionalidade portuguesa, reside
em Portugal e o seu cartão de cidadão
está quase a caducar ou já caducou?
Não se aflija, pois, devido à pandemia,
42 D&D//setembro/outubro 2021
foi prolongada a validade de todos os
cartões, até 31 de dezembro de 2021. Se
tem 25 anos ou mais e não precisa de
alterar qualquer dado biométrico, como
a fotografia ou as impressões digitais,
pode beneficiar da renovação automática.
Para tal, 60 dias antes do fim da data
de validade do documento, é enviada
uma carta PIN com os códigos do cartão
e uma referência multibanco. Só tem
de se dirigir a um caixa automático,
ou usar o homebanking, para fazer o
pagamento: a renovação custa 16,20
euros. Se não pagar no prazo de 60 dias,
a renovação terá de ser feita online
ou presencialmente.
O cartão é então enviado para casa, por
correio registado. Contudo, só é entregue
ao titular, que terá de apresentar a carta
PIN ao funcionário dos CTT, para que
este leia o código QR, bem como um
documento oficial com fotografia, como
o cartão de cidadão caducado ou a carta
de condução. Irá receber uma SMS dos
CTT, na véspera da entrega. Se, no dia,
não estiver em casa, o carteiro deixará
o aviso para proceder ao levantamento
numa loja CTT. Pode ainda reagendar
nova entrega ou alterar a morada, mas tal
implica custos, que, consoante a opção,
oscilam entre 0,91 e 17,04 euros.
Se já tiver feito a renovação por via
eletrónica ou presencial e reunir as
condições para a renovação automática,
pode vir a receber duas cartas PIN. Neste
caso, segundo o Ministério da Justiça,
deve considerar apenas a carta que não
inclui a referência multibanco, porque
o documento já estará pago e emitido.
Caso tenha passado a data em que
deveria ter recebido a carta, e o fim
da validade esteja próximo e ainda não
tenha recebido a carta PIN, o melhor
é pedir uma segunda via, é gratuita.
Faça-o através do 210 990 111.
Quanto ao prazo de validade
www.deco.proteste.pt
D&D ENTREVISTA
“A pandemia acelerou a
renovação online do cartão”
A pandemia forçou a renovação
automática do cartão de cidadão
para maiores de 25 anos ou já estava
prevista?
À semelhança do que se passou com
outros serviços públicos na área da
Justiça, podemos dizer que a pandemia
acelerou a disponibilização deste e de
outros novos canais de atendimento
dos pedidos de emissão e de entrega
do cartão de cidadão. Todos os novos
serviços ou canais de atendimento
recentemente disponibilizados
nesta matéria espelham a filosofia
e a capacidade da área governativa
da Justiça para, mesmo em tempos
de pandemia, responder às necessidades
mais prementes dos cidadãos. A Justiça
reinventou o modo de prestação,
simplificando, ainda mais, os serviços
e os canais alternativos de atendimento.
Se a lei prevê que o cartão de cidadão
possa ser entregue a um terceiro,
porque não se admite também essa
possibilidade para os documentos
remetidos pelos CTT?
A lei prevê a obrigação de existir um
contacto presencial com os serviços
durante o processo de renovação do
cartão de cidadão. Por esta razão, quando
o pedido é feito sem a presença física
do titular, como é o caso dos pedidos de
renovação automática e de renovação
online, tem, a posteriori e no momento
da entrega do novo cartão, de existir esse
contacto presencial, seja com os serviços,
seja com o colaborador dos CTT, enquanto
entidade credenciada para o efeito.
Por que razão a ativação dos
certificados digitais ainda deve ser
feita presencialmente, se o cartão
já é entregue em casa?
A necessidade de os cartões serem
enviados pelos CTT com os certificados
digitais (de autenticação e de assinatura
eletrónica) suspensos constitui uma
exigência do Gabinete Nacional de
Segurança: a autoridade que regula a
emissão, manutenção e validade destes
certificados. Tal é compreensível, na
medida em que um possível extravio
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Anabela Pedroso
SECRETÁRIA DE ESTADO DA JUSTIÇA
“O contacto presencial é obrigatório, logo, a renovação automática
impõe o levantamento do cartão pelo próprio cidadão”,
explica a governante
de um cartão de cidadão com os
certificados inativos tem, necessariamente,
consequências muito diferentes do
extravio de um cartão de cidadão com
os certificados ativos. E, apesar de pouco
provável, todas as hipóteses devem ser
acauteladas na defesa do cidadão.
Os cartões caducados após fevereiro de
2020 são válidos até ao final deste ano.
A respetiva chave móvel digital
acompanha essa validade?
A chave móvel digital acompanha a
validade do cartão de cidadão. Quando
o cartão for renovado, o cidadão terá
de ativar a nova chave móvel digital.
Antevê-se a possibilidade de alargar
as renovações automáticas e online
a outros grupos de cidadãos?
Estes novos canais de atendimento
estão em melhoria contínua e beneficiam
a grande maioria dos cidadãos. Apenas
se encontram sem acesso à medida: os
menores (devido a situações de regulação
de poder paternal e de evolução dos
dados biométricos), os cidadãos com
residência no estrangeiro (uma vez que os
CTT não entregam, em presença, correio
no estrangeiro), os cidadãos que não são
nacionais (como brasileiros com estatuto
de igualdade de direitos) e os cidadãos
em relação aos quais não existe uma
recolha válida de dados biométricos.
De que modo as pessoas com menor
literacia digital ou sem acesso a
tecnologia podem renovar os cartões
mais rapidamente?
As pessoas de menor literacia digital e
sem acesso a tecnologia podem, através
do canal de renovação automática,
desencadear todo o processo e receber
os respetivos cartões nas suas moradas.
Em alternativa, podem agendar num
dos serviços da administração pública
competentes para o atendimento
presencial dos pedidos de emissão
e de entrega do cartão de cidadão,
sejam eles conservatórias, lojas de
cidadão, espaços do serviço de registo,
Espaços Cidadão ou consulados.
Graças a esta medida, os espaços que
prestam serviço presencial vão sofrer
um elevado descongestionamento, o
que, indiretamente, irá beneficiar todos
os cidadãos que, por agora e por diversos
motivos, não têm outra forma de renovar
os seus cartões de cidadão sem ser
nos espaços designados.
setembro/outubro 2021//D&D 43
D&D//CARTÃO DE CIDADÃO
PASSO A PASSO
Renovar o cartão online
Só o pode fazer se tiver 25 anos ou mais e o cartão tiver sido pedido antes de
1 de outubro de 2017. Este terá ainda de ter alguma validade ou, encontrando-se
caducado, não o pode estar há mais de 30 dias. Se a renovação online se dever
a perda, destruição, furto ou roubo, terá de o ter cancelado através da internet.
Na renovação online, tem um desconto de 10% face aos preços habituais.
1EPORTUGAL.GOV.PT
Aceda ao portal do cidadão
e clique em “Renovar online”
2AUTENTICAÇÃO
Identifique-se com a chave
móvel digital ou com o cartão
de cidadão inserido num leitor.
Neste caso, terá de marcar
o respetivo PIN.
3MOTIVO
Confirme os dados do titular
e selecione a opção referente
à situação atual do cartão
de cidadão.
4LEVANTAMENTO
Selecione a forma de
levantamento: através dos
CTT ou presencialmente.
Neste caso, tem de agendar a
entrega. Após submeter, recebe
a referência para pagamento.
Aguarde pela carta PIN e, mais
tarde, pelo cartão.
44 D&D//setembro/outubro 2021
do cartão de cidadão, foi alargado
para dez anos, tratando-se de maiores
de 25 anos. Até esta idade, a validade é
de cinco anos.
Menores de 25, só ao balcão
Se tiver menos de 25 anos ou for a
primeira vez que pede o cartão, tem
mesmo de tratar de tudo num balcão
do Instituto dos Registos e do Notariado
(IRN). O mesmo acontece se precisar de
atualizar algum dado, como a fotografia
ou a morada. Antes de se dirigir ao
serviço, verifique se tem de agendar o
atendimento. Se for o caso, pode tratar
do processo pela net (agendamento.
irn.mj.pt) ou por telefone (210 990 111).
Após preencher a informação, recebe
uma SMS ou um e-mail, com data, hora,
local e entidade onde deverá dirigir-se.
Conserve essa informação, de preferência
impressa.
No dia, compareça no local apenas
cinco minutos antes e, se possível, sem
acompanhantes, exceto no caso dos
menores ou de quem tiver manifesta
dificuldade de locomoção, por exemplo.
Aguarde pela sua vez no exterior,
mantenha a necessária distância física
e use máscara ou viseira dentro das
instalações. Na altura de pagar, prefira
o cartão bancário.
Perdeu os códigos?
Desbloqueio custa cinco euros
Anteriormente, perder a carta sem
guardar os códigos resultava numa
enorme dor de cabeça. Agora, quem
perder os códigos da carta PIN pode
solicitar a sua recuperação num balcão
de atendimento do cartão de cidadão
(consulte as moradas no site do IRN), se
tiver pedido ou renovado o documento
após 16 de abril de 2018. Já se o cartão for
anterior a essa data, tem de o renovar.
O desbloqueio tem um custo de cinco
euros. O valor é inferior ao de um
documento novo, que, dependendo da
idade do titular e da urgência, varia entre
7,50 (recém-nascidos) e 70 euros (cartão
provisório entregue no dia).
DOSSIÊ TÉCNICO Magda Canas
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 D&D//PORNOGRAFIA DE VINGANÇA

Minutos de
eterna má fama
O
que seria? Uma brincadeira?
Um desafio à autoridade e
ao pudor? Uma afirmação de
personalidade? De qualquer
modo, uns segundos de um vídeo
que exibia jovens em pleno ato sexual
num comboio da CP disseminou-se em
pouquíssimo tempo pela net. Tornou-se,
como se diz, apesar da infelicidade
do termo nos tempos que correm, viral.
O que aconteceu depois foi o que se
previa. As caixas de comentários de todas
as redes sociais onde o vídeo circulava
encheram-se de frases irreproduzíveis
nestas páginas, pois tinham uma
delicadeza equivalente à entrada de uma
manada de elefantes numa pequena
loja de delicadas porcelanas. E, claro,
a mais visada pelos comentários era a
rapariga. Os rapazes passaram ilesos
ou por heroicos atletas da libido.
Nos anos de 1960, em plena
revolução de costumes, o artista pop
norte-americano Andy Warhol já
previra este fenómeno das “celebridades
instantâneas”, em que qualquer um
poderia ser famoso. Ou seja, teria 15
minutos de fama, e a atenção do público
depressa se voltaria para outra pessoa
ou acontecimento. Com o que Warhol
não contava era com o tipo de conteúdo
da fama e de que modo poderia marcar Cinco a 15 minutos de vídeo com imagens
os intervenientes para a vida.
A tentação, hoje, de partilhar esses
íntimas podem ir parar à internet. As vítimas
instantes, sejam eles quais forem, num da “pornografia de vingança”, normalmente
qualquer Tik Tok ou Snapchat é quase
irresistível. O que “cai” na internet
as mulheres, aumentaram com o confinamento.
e é partilhado fica lá para a vida inteira. E ficam marcadas para sempre. O que diz a lei?
Com o confinamento, a partilha de
vídeos que exibem relações sexuais Texto Ricardo Nabais & Filipa Rendo

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 45

D&D//PORNOGRAFIA DE VINGANÇA

com parceiros, ou ex-parceiros,
aumentou. As vítimas dessa exposição
veem-se, por uns meros segundos
em que concordaram ser filmadas
em atos sexuais, com as relações sociais
e profissionais totalmente postas
em causa.
Foi o caso de outro exemplo recente
de um vídeo viral: uma jovem estudante
de direito, cujo caso foi recentemente
citado nos média. Finda a relação com
o namorado, foi surpreendida com
imagens íntimas dos dois, em que
aparecia, identificável. Abandonou
o emprego que tinha, em part-time,
com receio de ser reconhecida, e acabou
por se fechar em casa.
Se, no caso do comboio, a intenção de
quem divulgou o vídeo é uma nebulosa,
nesta história, estamos perante um ato
de vingança: o parceiro da estudante,
despeitado pelo fim da relação, decidiu
expô-la ao mundo. O que deveria
ter permanecido na intimidade do
casal acabou por ser uma espécie de
entretenimento sórdido para multidões.
pessoalmente... Outra variante a esta
prática: é possível que os chantagistas
sejam agressores sexuais. Conhecendo
ou não a vítima, podem exigir favores
de natureza sexual para que a divulgação
das imagens não ocorra.
O primeiro caso parece ser mais
frequente ou, pelo menos, mais
noticiado. Foi o que se passou na Coreia
do Sul, onde Cho Ju-bin, um homem
de 25 anos, foi condenado a quatro
décadas de prisão por gerir uma rede
de pornografia de vingança no seu país.
O jovem conseguiu, através de uma
rede de mais de 100 suspeitos (muitos
também condenados), entrar nos
dispositivos online de centenas de
mulheres e chantageá-las em troca
de dinheiro. Se não pagassem, os seus
vídeos íntimos iriam parar a um grupo
fechado de mais de 10 mil membros,
na rede de troca de mensagens Telegram.
E podiam ser vistos por pouco mais de
um dólar cada. Cho Ju-bin terá feito esta
chantagem a, pelo menos, 74 mulheres,
16 das quais menores de idade, entre
2018 e 2020. Nos EUA, condenações
semelhantes são também recentes.
Penas diversas
A nossa lei não prevê expressamente um
tipo de crime para quem pratica este ato,
embora seja possivel enquadrá-lo em
diversos crimes, como referimos. E são
várias as penas aplicáveis. No contexto de
violência doméstica, por exemplo, a lei
passou a prever que quem difundir dados
pessoais através da internet ou de outros
meios de difusão pública generalizada,
em particular imagem ou som relativos
à intimidade da vida privada de uma
vítima, sem o seu consentimento, é
punido com prisão de dois a cinco anos.
Já se o caso for enquadrado no
âmbito dos crimes contra a reserva
da vida privada, as penas são agravadas
em um terço nos seus limites mínimo
e máximo. Isto se o agressor o praticar

Sem sentimento
nem consentimento PREVENÇÃO
Em matérias deste género, o espaço
do consentimento é fundamental. Não tente isto em casa
A vítima pode ter autorizado a filmagem, As mulheres são as principais vítimas da exposição pública da
mas, por certo, não consentiu a vida íntima nas redes sociais. Para evitar os efeitos devastadores
divulgação daquelas imagens. deste tipo de exposição, o melhor é prevenir.
E é neste conceito fundamental
que entra a lei. Não interessa que o registo EVITE ENVIAR FOTOS serviço do Centro Internet
de um ato sexual tenha sido consentido. íntimas pela internet ou por Segura, destinado a esclarecer
Se a exposição pública desse material telemóvel, para que não possam e apoiar os utilizadores da rede.
ser usadas por terceiros. Tem contacto telefónico gratuito
não tiver sido autorizada, a divulgação
(800 219 090, dias úteis das
poderá ser enquadrável, entre outros,
O MESMO SE APLICA 9h às 21h) e correio eletrónico
no crime de gravações e fotografias A VÍDEOS, ainda que tenham (linhainternetsegura@apav.
ilícitas. O Código Penal também prevê sido feitos durante uma relação pt). Pode também, através
a pornografia de vingança no âmbito estável. Convém eliminá-los desta linha, denunciar
da violência doméstica. do computador ou do conteúdos ilegais online.
Note que falámos de um caso smartphone, para evitar Para o efeito, recorra ao
consumado, com a vítima a ter de que caiam em mãos erradas. formulário Denunciar Conteúdo
esconder-se, aparentemente sem que a Proceda de igual forma, se Ilegal, em www.internetsegura.pt/
vender ou mandar reparar lis/denunciar-conteudo-ilegal.
reclusão tenha fim à vista. Há variantes:
os aparelhos.
muitas vezes, também pode ocorrer fora APERFEIÇOE A LITERACIA
de um relacionamento amoroso, quando CONTACTE A APAV online. Quanto mais souber
hackers obtenham o acesso às imagens A Associação Portuguesa de sobre a internet e a sua dinâmica,
para chantagearem a vítima em troca Apoio à Vítima (APAV) coordena menor será a probabilidade de
de dinheiro. E podem nem a conhecer a Linha Internet Segura, um se expor perigosamente.

46 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt

através de um meio de comunicação
social, da internet ou de outros meios
de difusão pública generalizada.
Por sua vez, o crime de gravações
de fotografias ilícitas prevê a pena de
prisão até um ano ou multa até 240 dias,
para quem utilize imagens de vídeo
ou fotos, ou permita que os conteúdos
sejam utilizados, mesmo que tenham
sido obtidos licitamente.
E ainda não falámos da chantagem
por dinheiro. Nesse caso, a situação pode
enquadrar-se no crime de extorsão, e
o prevaricador sujeita-se a uma pena
de prisão até cinco anos. A extorsão
consiste em conseguir, para si ou para
terceiro, um enriquecimento ilegítimo,
constrangendo outra pessoa através
de violência ou de ameaça.
Mas há mais, como o crime de
ameaça. Quem ameaçar alguém com
a prática de crime contra a liberdade
e autodeterminação sexual, de forma
a provocar-lhe medo ou inquietação
ou a prejudicar a sua liberdade de
determinação, é punido com prisão até
um ano ou multa até 120 dias. Contudo,
neste caso, o procedimento criminal
depende de queixa. A Lei do Cibercrime
também pode ser invocada em situações
idênticas, na figura do acesso ilegítimo.
Quem, sem autorização do proprietário,
aceder a um sistema informático, pode
ser punido com prisão até um ano
ou multa até 120 dias.
Iniciativas para alterar a lei
O Código Penal sofreu alterações em
2018, no âmbito da violência doméstica,
já com alguma atenção adicional do
Governo ao tema. Ainda assim, há
quem considere que as mudanças são
insuficientes. A deputada não-inscrita
Cristina Rodrigues apresentou um
projeto de lei tendo em vista reforçar
a liberdade e a autodeterminação sexual,
criminalizando a divulgação não
consentida de fotografias ou vídeos
que contenham nudez ou ato sexual.
Ou seja, criando “um novo tipo penal
incriminador, que visa punir com uma
pena de prisão de dois a cinco anos quem,
com intenção de prejudicar ou humilhar,
www.deco.proteste.pt
fotografar, gravar, vender ou divulgar,
ou ameaçar divulgar, por qualquer
meio, fotografia ou vídeo de outrem CRIADA EM 2020 NO
que contenha nudez ou acto sexual, INSTAGRAM, A ASSOCIAÇÃO
sem o seu consentimento”, pode ler-se
na proposta.
#NAOPARTILHES PRETENDE
Também já foram apresentadas duas AJUDAR AS VÍTIMAS E
petições à Assembleia da República, SENSIBILIZAR O PÚBLICO
uma em fevereiro deste ano, através da
qual se pretende a atribuição da natureza
de crime público (ou seja, qualquer
pessoa pode denunciar) à partilha
não consentida de conteúdos sexuais.
A segunda exige a responsabilidade
de monitorização às próprias empresas
que gerem as redes sociais, no âmbito
da pornografia partilhada de forma
não consentida.
Redes sociais reagem A ESPECIALISTA
A sociedade também não ficou parada, ACONSELHA
e usa, justamente, as “armas” do inimigo:
as próprias redes sociais. Em outubro
de 2020, surgiu o movimento
#NãoPartilhes no Instagram, que
entretanto se tornou uma associação,
para apoiar vítimas da divulgação
não autorizada de conteúdos e para Sofia Lima
sensibilizar o público. A página tinha,
à hora do fecho desta edição, mais Nunca se esqueça da máxima:
de 36 mil seguidores. E é só um exemplo... uma vez na internet, para sempre
As vítimas agradecem, mas remediar na internet. Evite filmar atos
íntimos. Se o fizer, tente não revelar
a situação é difícil. A divulgação desses
elementos identificativos, como o
conteúdos afeta irremediavelmente
rosto dos intervenientes. A vítima
o quotidiano de qualquer pessoa. deve guardar as provas da prática
Têm sido relatados transtornos como do crime: a forma mais eficaz de o
depressão ou ansiedade, que, no limite, fazer é através da captura de ecrã
podem levar ao suicídio. É importante do conteúdo ― no fundo “tirar uma
recordar que estes atos também podem fotografia” à imagem que surge
ter impacto ao nível laboral: há o risco no telemóvel. Convém que o URL
de as imagens serem vistas por colegas (endereço que aparece no topo da
imagem) esteja visível: através dele,
ou mesmo por chefias. E, se a vítima
as autoridades podem descobrir
estiver à procura de emprego, sabe, com quem publicou o conteúdo.
certeza, que, cada vez mais, as entidades A vítima deve apresentar queixa
patronais consultam os perfis das redes às autoridades policiais ou ao
sociais dos candidatos. Recordemos a Ministério Público. A Unidade
máxima que já enunciámos: o que cai na Nacional de Combate ao Cibercrime
internet fica por lá para sempre. Uma vez e à Criminalidade Tecnológica,
que é muito difícil remover as imagens da Polícia Judiciária, pode auxiliar,
removendo os conteúdos. Mas nem
de todos os sites e redes sociais, mais
sempre é fácil. Mesmo retirados,
vale prevenir.
podem, mais tarde, ser partilhados
noutras redes...
DOSSIÊ TÉCNICO Sofia Lima
setembro/outubro 2021//D&D 47
 SEM
RECURSO veja como os tribunais decidiram num caso como o seu

NUA PROPRIEDADE

Quem usufrui é quem paga as despesas

Sílvia, casada com Manuel, faleceu
em junho de 2006, e os seus bens
foram partilhados. A propriedade
(“nua propriedade”, em linguagem
técnica) de uma casa foi atribuída
a Carlos, filho do casal, e o usufruto
do imóvel coube a Manuel.
À data da partilha, a casa encontrava-se
em ruínas e, como Manuel mostrava
interesse em ir à sua terra, António,
o neto, com o conhecimento do
pai e mediante a autorização do
avô, realizou obras no valor de
4147,60 euros. As obras tiveram início
em abril de 2009 e terminaram em
dezembro desse ano. Até março de 2020,
data em que faleceu Manuel, António
assegurou a manutenção e limpeza
do imóvel, gastando 4800 euros,
mais 1392 euros de deslocações.
Após a morte do avô, António pediu
que o seu pai fosse condenado a
pagar-lhe a quantia de 40 339,60
euros, uma vez que as obras tinham
aumentado o valor patrimonial do imóvel.
Para tanto, baseou-se no conceito
de “enriquecimento sem causa”,
ou seja, quando alguém enriquece à
custa de outra pessoa. Carlos contestou,
alegando que a restituição por
enriquecimento sem causa tinha prescrito,
pois já tinham passado três anos.
E, efetivamente, foi proferida uma sentença
que absolveu Carlos.
Inconformado com a decisão,
António interpôs recurso para o Tribunal
da Relação de Coimbra. Este considerou
que a prescrição tinha ocorrido, pelo
menos, no dia 1 de janeiro de 2013.
Ou seja, quando a ação deu entrada
no tribunal, em junho de 2020, o prazo
de três anos já tinha sido ultrapassado.
Assim, aquele direito tinha mesmo
prescrito. Já quanto aos atos de A NOSSA ESPECIALISTA
manutenção e limpeza, e respetivas COMENTA
despesas, a Relação considerou, tal Sofia Lima
como aliás resulta da lei, que não eram
da responsabilidade de Carlos, visto A nua propriedade significa que o
que cabem ao usufrutuário. usufruto de um bem pertence a uma
Assim, o Tribunal da Relação pessoa (usufrutuário) e a propriedade
de Coimbra não deu razão ao recurso a outra. Ao usufrutuário, cabem algumas
de António, e manteve a decisão. obrigações. Por exemplo, segundo o
● Tribunal da Relação de Coimbra, Código Civil, estão a cargo do usufrutuário
25/05/2021. as reparações ordinárias e indispensáveis

VENDA DE PRODUTOS EM SEGUNDA MÃO Entre 2014 e 2016, Joel publicitou a
venda de vários bens, sobretudo iPhones,
Nas compras online, em plataformas digitais, como a OLX,
cuidado com as burlas e em redes sociais. Levava os interessados
a pagar, mas nunca lhes enviava o produto
comprado, visto que este nem sequer
existia. O esquema rendeu-lhe cerca de
12 200 euros. Para evitar ser identificado
pelas autoridades policiais, Joel pedia
que o pagamento fosse feito para várias
contas de jogos online, das quais era
titular. Os montantes depositados eram
depois utilizados para pagar apostas
desportivas e suportar outras despesas
pessoais. Mais: em quase todas as vendas,
Joel enviava aos interessados a cópia
de uma fatura emitida em nome de outra
pessoa, por quem se fazia passar.
Apanhado pelas autoridades policiais
e julgado, Joel foi condenado pelo
crime de burla qualificada, na pena
de quatro anos de prisão, suspensa
pelo mesmo período. Porém, foi absolvido
do crime de branqueamento.
As plataformas digitais são cada vez
mais utilizadas para a venda de bens
em segunda mão. Porém, a mera
apresentação da cópia de uma fatura

48 D&D//setembro/outubro 2021 www.deco.proteste.pt


DÍVIDAS AO CONDOMÍNIO
O USUFRUTUÁRIO
TEM O DEVER
DE SUPORTAR
AS DESPESAS
DE MANUTENÇÃO
DO IMÓVEL
para a conservação do imóvel,
em que se incluem, por exemplo,
a limpeza e a manutenção.
No que se refere às reparações
extraordinárias, o usufrutuário pode
exigir ao proprietário os montantes
pagos. Quem quiser invocar o direito
de enriquecimento sem causa
(quando alguém enriquece à custa
de outrem) tem de o fazer no prazo
de três anos.
não significa que o vendedor é credível.
● Tribunal da Relação do Porto,
28/04/2021.
A NOSSA ESPECIALISTA COMENTA
Sofia Lima
Se comprar online, certifique-se de que o
bem existe mesmo, pedindo informações
detalhadas (fotos em determinados
ângulos, por exemplo). Se o produto
não for entregue, apresente queixa
no prazo de seis meses, a contar da data
em que descobriu que foi vítima de burla.
www.deco.proteste.pt
Não são pagas sem assembleia
O condomínio de Ana e Mário
instaurou-lhes um processo
com vista ao pagamento de valores
em dívida. Para tal, apresentou atas
relativas a diversas assembleias,
de onde constavam os valores a
pagar, entre as quais uma em que
tinha sido aprovado um contrato
de empreitada.
A administração queria receber
45 121,35 euros, acrescidos de
juros de mora. Porém, Ana e Mário
alegaram que as atas tinham sido
impugnadas, através de carta
registada com aviso de receção,
em que exigiam a convocação
de uma assembleia extraordinária,
no prazo de 20 dias, para a
revogação das deliberações.
No entanto, segundo o casal,
a assembleia não foi realizada.
O tribunal de primeira instância
entendeu que as atas em causa não
podiam vincular Ana e Mário antes
de serem discutidas e confirmadas
na assembleia extraordinária
e, como tal, absolveu o casal.
O condomínio interpôs recurso
para o Tribunal da Relação de Lisboa,
que discordou da decisão. Na sua
opinião, se um condómino, presente
ou ausente, requerer a realização
de uma assembleia extraordinária
para revogar as deliberações
votadas, e o administrador do
condomínio não a convocar em
20 dias (ao contrário do que está
obrigado), deve interpor recurso
para a assembleia, optar pela
arbitragem ou propor uma ação
anulatória no prazo de 60 dias,
contados da data da deliberação.
Como o casal não reagiu, a não
ser através de cartas, a Relação
Textos Rita Santos Ferreira & Filipa Rendo
considerou válidas as deliberações
tomadas nas assembleias, pelo
que a decisão anterior foi revogada.
● Tribunal da Relação de Lisboa,
22/04/2021.
A NOSSA ESPECIALISTA
COMENTA
Sofia Lima
Segundo o Código Civil, as
deliberações contrárias à lei
ou a regulamentos são anuláveis
a pedido de qualquer condómino
que não as tenha aprovado.
Assim, os condóminos podem
exigir, no prazo de dez dias, a
convocação de uma assembleia
extraordinária, que deve decorrer
em 20 dias.
SE NÃO FOR CONVOCADA
A ASSEMBLEIA
EXTRAORDINÁRIA,
PODE RECORRER A UM
CENTRO DE ARBITRAGEM
Resulta da lei ainda que, no prazo
de 30 dias, os condóminos possam
sujeitar a deliberação a um centro
de arbitragem ou propor uma ação
de anulação nos 60 dias após
a deliberação.
Assim, o facto de o administrador
não convocar a assembleia não
impede, segundo a sentença
do Tribunal da Relação de Lisboa,
que o condómino recorra para
a assembleia ou a uma ação de
anulação, ou submeta a deliberação
a um centro de arbitragem.
setembro/outubro 2021//D&D 49
 LIVRO DE
RECLAMAÇÕES
MAILBOX
Ao abrigo do prazo de
garantia, o vendedor
fica obrigado a reparar,
substituir, reduzir o
preço ou reembolsar
o valor do produto
avariado
MAIS INFORMAÇÕES sobre
eletrodomésticos, em www.deco.
proteste.pt/equipamentos-cozinha
50 D&D//setembro/outubro 2021
PAGO A CRÉDITO,
MAS COM GARANTIA
Comprei um frigorífico na
Mediamarkt no dia 19 de abril
de 2019, no valor de 329
euros. Entretanto, avariou e
acionei a garantia no dia 8 de
fevereiro de 2021. Um técnico
foi a minha casa e confirmou
essa avaria. Dias depois, fui
contactado por um funcionário
da loja. Alegou que o aparelho
histórias, dúvidas e testemunhos dos nossos
CONDOMÍNIO
O elevador
é dos outros
Uma leitora residente no rés-do-chão
de um condomínio foi confrontada com
uma despesa com que não contava: o
pagamento da manutenção de um dos
dois elevadores que servem o edifício.
Ora, como reside no rés-do-chão, tem
dúvidas sobre se a casa das máquinas
dos elevadores, situada nos pisos
superiores – e à qual os técnicos têm de
aceder para fazerem a manutenção –
MORADORES DO RÉS-DO-
-CHÃO ESTÃO DISPENSADOS
DE PAGAR A MANUTENÇÃO
DOS ELEVADORES APENAS
SE NÃO OS USAREM
não tinha reparação, pelo que
iriam proceder à devolução
do valor pago. Desloquei-me
à loja para receber o dinheiro,
mas lá informaram-me de que,
por ter efetuado o pagamento
através de um crédito, que DICAS
já se encontra liquidado, não Deve
poderiam restituir-me o valor reclamar
pago, apenas mo dariam em reembolso
crédito para gastar na loja. junto do
Por a avaria ter ocorrido vendedor
www.deco.proteste.pt
 Envie-nos os seus comentários para
s leitores correioleitores@deco.proteste.pt

Texto Ricardo Nabais & Ana Santos Gomes

DINHEIRO & DIREITOS

DECO PROTESTE, Editores, Lda.
poderá ser considerada uma das partes SEGURANÇA SOCIAL Proprietária, Editora e Redação
comuns do condomínio. Chega mesmo a Av. Eng.º Arantes e Oliveira, n.º 13, Olaias,
invocar a lei que refere que as despesas E se não pagarem 1900-221 Lisboa
com os ascensores estão limitadas aos as contribuições? Conselho de Gerência
Armand De Wasch, Guido Adriaenssens,
condóminos que deles façam uso. Como Daniel Stons, Ivo Mechels,
só um dos elevadores tem acesso à Uma leitora contactou-nos, via Facebook, Luís Silveira Rodrigues, Vasco Colaço
garagem, a leitora – que não especifica queixando-se de que a sua entidade Capital Social
se faz uso dele para esta parte comum do empregadora não pagava as contribuições da DECO — Associação Portuguesa
para a Defesa do Consumidor (25%)
prédio – tem sérias dúvidas sobre se lhe Segurança Social. O que pode fazer? Presidente Vasco Colaço
podem cobrar esta despesa. Euroconsumers (75%)
O NOSSO ESPECIALISTA COMENTA Presidente Daniel Stons
Country Manager
Nuno Carvalho
A NOSSA ESPECIALISTA e Representante Legal
António Balhanas
COMENTA A situação pode retirar à leitora o acesso a Diretora e Editora de Publicações
Sofia Lima prestações sociais, como subsídio de doença, Cláudia Maia
de desemprego e pensão de reforma. Para Registo de pessoa coletiva 502 611 529
A leitora, em princípio, terá razão. verificar a situação contributiva, deve contactar Registo da Editora 215 705
Tal como resulta do Código Civil, a Segurança Social ou consultar o site da Registo na ERC 116 476
ISSN 0873-8793
os condóminos ficam dispensados Segurança Social Direta em https://app.seg-
Depósito legal 63477/93
do pagamento das despesas relativas social.pt/sso. Se detetar a falta de pagamento
Tiragem 295 000 exemplares
à manutenção dos elevadores desde que das contribuições, pode questionar o
Execução gráfica
não exista qualquer possibilidade de uso empregador. Perante a ausência de descontos, Capa: Nuno Semedo/João Ribeiro
(como é o caso do morador de um apresente o caso à Segurança Social: Fotografia sem crédito atribuído em página:
rés-do-chão). comprove o período em que esteve a trabalhar 4See/Fernando Piçarra; iStock
Contudo, a situação será diferente caso por conta de outrem, as retribuições que Impressão: Sogapal, Comércio e Indústria
de Artes Gráficas, S.A.
utilize o elevador para se deslocar à recebeu e os montantes que se destinariam a Estrada de São Marcos, n.º 27,
garagem. Se assim for, terá mesmo de pagar as contribuições devidas. Se a entidade 2735-521 Agualva-Cacém
participar nas despesas de manutenção empregadora não as tiver mesmo pago, fica Estatuto editorial
www.deco.proteste.pt/estatuto-editorial
dos elevadores. sujeita ao pagamento de juros e de coimas.
UTILIZAÇÃO PARA FINS COMERCIAIS
A deco proteste proíbe a reprodução
e a citação dos seus artigos, bem como a
referência ao nome da editora e às publicações
(proteste, dinheiro&direitos, teste saúde,
proteste investe e guias práticos) com fins
comerciais. A utilização, com o mesmo fim,
das designações “Escolha Acertada”, “Melhor
dentro do prazo legal dos dois acionada, o comprador do Teste”, “Escolha Verde” e “Marca Mais Fiável”
anos de garantia, exijo que a pode pedir a reparação, apenas é autorizada nas condições previstas
substituição, redução do preço em www.deco.proteste.pt/selos.
devolução seja efetuada em
ou reembolso, sem encargos. COTIZAÇÃO DE ACORDO Trimestral (2)
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Sofia Lima o consumidor optou pelo TESTE SAÚDE
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reembolso. Por isso, 6 edições anuais
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Ao abrigo da garantia, o vendedor fica obrigado 11 edições anuais € 44,46 € 177,84

cujo prazo ainda não tinha a entregar-lhe o valor pago PROTESTE INVESTE + SUPLEMENTO
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terminado quando foi pelo frigorífico. (1) As revistas avulsas são vendidas ao preço de capa.
(2) Só por transferência bancária.

www.deco.proteste.pt setembro/outubro 2021//D&D 51

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