DOSSIÊ//COMPRAR CARRO

08 Financiamento

Faça as cont
12 Garantias
14 Seguro automóvel

Apetreche-se de todas as informações

relevantes antes de se render às campanhas
das marcas de automóveis. Ajudamo-lo a fazer
as contas, para que esteja bem preparado na
hora de assinar o contrato de financiamento
Texto Ana Santos Gomes
Ilustrações Hélder Oliveira

8 D&D//novembro/dezembro 2020 www.deco.proteste.pt

tas primeiro
L
ivranças, TAEG e impostos podem
até não ser as palavras que mais
está interessado em ouvir quando
só pensa na potência e no conforto
do veículo que pretende comprar, mas
também é para isso que cá estamos:
para lembrar que, antes de poder contar
quantos sacos de supermercado cabem
na nova bagageira, há que fazer outras
contas. Procurar a melhor proposta de
financiamento automóvel não é fácil.
Dá trabalho e exige alguma literacia
financeira, para perceber que todos
os números... lá está... contam.
Crédito é a solução tradicional,
mas há mais opções
Provavelmente, é o tipo de financiamento
que o potencial comprador compreende
de forma mais simples. Não tem dinheiro
suficiente para comprar o carro a pronto,
pede determinada quantia ao banco e
compromete-se a pagar as prestações
mensais durante um certo número de
anos. Funciona, de facto, assim, mas
não é, necessariamente, a solução mais
barata. Nem no imediato, nem a longo
prazo, no final do empréstimo, quando
fizer contas àquilo que verdadeiramente
pagou pelo carro.
E que outras opções tem? A alternativa
mais comum é o leasing, embora algumas
instituições de crédito disponibilizem
ainda a possibilidade de contratar um
ALGUNS BANCOS PERMITEM ESTENDER O FINANCIAMENTO
POR 120 MESES, QUE É O LIMITE LEGAL. O VALOR MÁXIMO
EMPRESTADO É DE 75 MIL EUROS
www.deco.proteste.pt
aluguer de longa duração (ALD), em
condições idênticas. Em ambos os
casos, o banco compra o carro e depois
aluga-o, em troca de rendas mensais,
cobradas durante um determinado
período. Findo esse tempo, a viatura terá
ainda um valor residual por liquidar,
que ficou previamente acordado. No
leasing, pode optar por pagá-lo e ficar
com carro finalmente registado em seu
nome. No ALD, é obrigado a fazê-lo.
Nessa altura, o banco transmite-lhe
a propriedade do carro.
Ter ou não ter já nem é questão
Se comprar o carro a crédito, é seu desde
o primeiro dia do contrato, embora
possa ficar registada, na conservatória,
uma reserva da propriedade da viatura
a favor do banco, que o cliente tem de
consentir. Tal significa que, enquanto
decorre o empréstimo, não pode vender
o veículo sem autorização da instituição
de crédito. No entanto, aceitar tal reserva
permite, em regra, aceder a taxas de
juro mais baixas. É uma boa opção para
quem procura reduzir ao máximo o
encargo mensal e não vê inconveniente
em manter as palavras “reserva de
propriedade” nos documentos da viatura.
Já nas soluções de leasing ou ALD, o
utilizador assume o papel de locatário e o
banco, que é quem detém a propriedade
do veículo, transforma-se no locador,
ou seja, naquele que lhe aluga a viatura.
Na prática, o consumidor escolhe o carro,
o banco paga-o e depois cobra-lhe uma
renda mensal para que o possa utilizar
sem restrições.
Uma entrada dá muito jeito
Mesmo tendo escolhido o carro que
quer comprar, o que vai pedir ao banco
é, afinal, o montante de que precisa para
fechar negócio com o vendedor. Logo,
os encargos serão tão mais reduzidos
quanto mais baixo for o valor que pede
emprestado. Reserve, pelo menos, 10%
do valor do carro para as despesas iniciais
do processo e para uma entrada, que
permita amortecer o peso das prestações
ou das rendas que se seguem. Se optar
pelo leasing, a entrada é convertida na
primeira renda, e só nos meses seguintes
passa a pagar o valor acordado.
Prepare-se para correr capelinhas
Recolher e comparar propostas de
financiamento é obrigatório, antes
de se atirar de cabeça para o negócio.
Mas avisamos desde já que não vai ser
fácil poupar nas deslocações.
Por mais absurdo que pareça,
o mercado do financiamento
automóvel permanece indiferente
aos desejos de confinamento que
a pandemia promoveu, e quase
todos os operadores privilegiam o
contacto presencial com o potencial
comprador, ao ponto de recusarem
fornecer propostas ou simulações por
e-mail. É incompreensível tamanha
resistência à comunicação à distância,
sobretudo na fase inicial do processo,
em que o potencial cliente está
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E SE FOSSE UM RENAULT CLIO?
É apenas um exemplo que testámos, para recolhermos propostas
de financiamento e avaliarmos o detalhe das informações
fornecidas. Selecionámos o modelo mais popular no ano
passado – o Renault Clio Zen SCe 75, que está à venda por 15 700
euros. Decidimos dar 1700 euros de entrada e, assim, pediríamos
financiamento para os restantes 14 mil euros, a pagar em 48
meses, ou seja, quatro anos. E começámos a recolher propostas...

Muitos vendedores estabelecem parcerias com instituições

de crédito para financiamentos no âmbito de campanhas
relacionadas com determinadas marcas ou modelos. Não deixe
de contemplar estas hipóteses, mas também não se lhes restrinja.
Recolha todas as simulações possíveis junto do maior número
de entidades que conseguir contactar.
As propostas recebidas em agosto e setembro permitiram-nos
elaborar os quadros em baixo. Elencámos todos os custos
previsíveis de financiamento em crédito e em leasing.
Contabilizámos custos iniciais e comissões mensais de
processamento de prestações ou de rendas. No caso do leasing,
tivemos ainda em conta o valor residual da viatura, que quase
sempre se manteve em linha com as rendas propostas, em torno
dos 300 euros. Exceção: o Eurobic, que propôs suavizar as rendas
em troca de um valor residual acima dos 1500 euros.
O leasing revelou ser a solução mais em conta para este cenário,
com TAEG que variam entre 3,5 e 4,7 por cento. Para crédito,
a taxa mais baixa que encontrámos foi de 6,9%, e explica-se
pelo facto de o BPI ter exigido reserva de propriedade. A Escolha
Acertada recai, neste caso, na proposta de leasing da Caixa
Geral de Depósitos. Apesar de a renda mensal não ser a mais
baixa de entre as ofertas, a TAEG de 3,5% confirma que é a
proposta globalmente mais barata, pesando todos os custos.
No final dos quatro anos, este hipotético comprador teria poupado
853,76 euros face à média de ofertas recolhidas para o cenário.
Já o Millennium bcp recusou estender o contrato por 48 meses,
pois os seus tarifários iriam empurrar a TAEG para níveis proibidos
por lei. O banco contrapropôs um alargamento do prazo do
financiamento, o que permite oferecer uma renda tentadora,
mas longe de corresponder a uma solução mais em conta.
Se fizesse questão de contratar um crédito, a Escolha Acertada
para este comprador seria a proposta do BPI, com reserva de
propriedade. Quatro anos depois, teria poupado 636,89 euros
face à média de financiamentos praticada pelo mercado.

FINANCIAR O CARRO 14 MIL EUROS A PAGAR EM 48 MESES

Instituição de crédito Tipo de taxa Custos Comissão Renda (€) Valor TAN TAEG
iniciais (€) mensal (€) residual (€) (%) (%)
LEASING 14 mil euros em rendas e um valor residual
€ 854
F CGD Variável 184,50 6,77 308,55 317,68 1,72 3,5 POUPANÇA
Banco BPI Fixa 215,25 3,08 305,92 200 2,50 3,8
Millennium bcp Variável 172,20 3,38 251,69 314 2,64 3,9
Santander Fixa 205,41 7,30 305,88 314 1,30 4,0
Novo Banco Fixa 0 13,53 315,47 300 1,70 4,0
EuroBic Variável 246 3,08 286,36 1570 2,37 4,2
Crédito Agrícola Variável 184,50 3,38 320,22 1 2,85 4,7
CRÉDITO 14 mil euros pagos a prestações
F Banco BPI Fixa 182 2,60 322 200 4,00 6,9
€ 637
POUPANÇA
Crédito Agrícola Variável 145,60 2,86 329,11 0 5,22 8,1
Cetelem Fixa 0 1,50 332,86 0 6,15 8,3
Credibom Fixa 150 1 330,66 0 5,90 8,6
CGD Variável 204,96 2,96 345,70 0 5,22 8,6
Cofidis Fixa 0 0 338,77 0 7,25 9,3
Novo Banco Fixa 462,32 3,64 353,27 0 6,00 10,1
Resultados completos em www.deco.proteste.pt/financiamento-auto F Escolha Acertada

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apenas a reunir propostas. Não
há como não questionar que tipo de
informações quererão os operadores
recolher presencialmente e que possam
influenciar a proposta a apresentar...
Conformando-se com este cenário,
não deixe de recolher o maior número
possível de propostas e de as comparar
com olhos de lince.
Na TAEG está a diferença
Tem uma proposta de financiamento
à sua frente e a tentação de se deter no
valor do encargo mensal é muito grande.
Faça-o, obviamente, mas não fique por aí.
Procure informação sobre a taxa anual de
encargos efetiva global (TAEG) praticada
pela instituição. É este indicador que vai
refletir todos os custos do financiamento,
incluindo juros, impostos e eventuais
comissões. O valor é expresso em
percentagem e, quanto mais alto for,
mais caro será o empréstimo.
A TAEG está sujeita a um regime de
taxas máximas, revisto trimestralmente
pelo Banco de Portugal, e consultável
no respetivo portal. Não aceite uma taxa
que ultrapasse a tabela em vigor. Dentro
dos limites legais, a instituição a quem vai
pedir crédito tem liberdade para propor
diferentes taxas, consoante a modalidade
de financiamento praticada, e variando
até entre carros novos e usados.
Sim, aqui também há comissões
Comissões de análise, comissões
de formalização, comissões de
processamento da prestação... são
apenas alguns exemplos de custos que
o banco lhe pode imputar durante o
processo de financiamento. O limite está
apenas na criatividade da instituição.
Certifique-se, então, de que todos estes
encargos constam da proposta fornecida
e inclua-os nas contas a fazer antes
da tomada de decisão.
Às comissões junte ainda o imposto
de selo sobre a utilização do crédito,
que é transversal a todas as instituições.
Corresponde a uma percentagem do
valor do financiamento a crédito e varia
de acordo com a duração do contrato.
Para prazos superiores a um ano, é
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COMPRAR CARRO//FINANCIAMENTO
€ 2,6 milhões
emprestados a crédito
entre janeiro e julho
para compra de carro
€ 428 mil
em leasing automóvel
contratado
entre janeiro e julho
20 078
carros comprados
em 2019 com recurso
a financiamento
de 2,64% do montante financiado.
Por exemplo, para um financiamento de
15 mil euros, o imposto a pagar é de 396
euros (15 000 X 2,64%). Já para prazos
inferiores a 12 meses, são cobrados
0,2115% por cada mês contratado.
A maioria das instituições permite
incluir o valor das despesas iniciais e do
imposto do selo (ISUC) no financiamento.
Significa que, se não tiver capital para
suportar tais encargos, pode pedir
um empréstimo que abarque todas as
despesas com o carro e com a burocracia.
Mas, naturalmente, as mensalidades
que se seguem serão mais pesadas, pois
acabará por pagar juros sobre tudo.
Livrança, a quanto obrigas
Não constitui propriamente um encargo,
mas é uma garantia pessoal que muitas
instituições de crédito lhe poderão exigir.
A livrança em branco tem de ser assinada
por quem pede o financiamento e pode
ser acionada pela instituição de crédito
em caso de incumprimento. Na prática,
o documento formaliza o reforço da
obrigação assumida pelo comprador.
E, se este compromisso não for honrado,
o banco tem legitimidade para executar
a dívida, requerendo, por exemplo, a
penhora de saldos bancários ou dos bens
do incumpridor.
Até dez anos para pagar o carro
Sim, leu bem. Alguns bancos permitem
que o financiamento se prolongue até
120 meses, que é o limite legal, outros
não deixam que o contrato dure mais de
sete ou oito anos. Há também durações
mínimas. A mais baixa, de seis meses,
só é possível no Novo Banco. Em regra,
os financiamentos têm de estender-se,
pelo menos, por um ano ou dois anos.
A conclusão não é difícil de retirar: um
financiamento de curta duração obriga a
pagar mensalidades elevadas, mas acaba
por estar menos exposto ao pagamento
de juros e termina antes de o carro
precisar de ir à primeira inspeção, se for
novo. Não podendo suportar tamanho
encargo mensal, procure um banco que
permita estender o financiamento por
mais anos. As mensalidades serão mais
suaves, mas o carro acabará por sair mais
caro, pois estará mais tempo a pagar juros
e, até estar pago, já terá passado tempo
suficiente para acumular essa despesa
com uma ou outra fatura da oficina.
Por imposição legal, o valor financiado
não pode ultrapassar os 75 mil euros,
e quase todos as entidades bancárias
aceitam o financiamento máximo,
à exceção do Santander, do Cetelem
e da Cofidis, que não disponibilizam
mais do que 50 mil euros.
Finalmente, o carro é seu
Se optou pelo crédito e acabou de pagar
todas as prestações, desapareceram
as reservas de propriedade, e o carro
é exclusivamente seu. Em leasing,
é chamado agora a pagar o “valor
residual” do carro, se quiser ficar com
ele. No máximo, pode deixar 30% do
valor para liquidar nesta fase. A partir
deste momento, o carro também passa
a ser, oficialmente, propriedade sua e
acabaram -se as mensalidades. A não ser
que já esteja de olho noutro bólide...
DOSSIÊ TÉCNICO Margarida Zacarias
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