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Transparencia Fiscal
Transparencia Fiscal
INTRODUÇÃO
Neste artigo abordaremos os principais aspectos jurídicos e fiscais das STF, com
algumas referências à doutrina entretanto publicada até à data e cuja divulgação se
justifique.
Assim, o que releva para efeitos de tributação em sede de IRS ou IRC, conforme a
estrutura da sociedade e independentemente da sua forma jurídica (v.g. sociedades por
quotas, sociedades anónimas), é, por assim dizer, o “resultado fiscal” (lucro/prejuízo
fiscal ou matéria colectável) e não o resultado contabilístico.
1
No caso das pessoas singulares, representado, essencialmente, pelo Código do Imposto Profissional e
pelo Código do Imposto Complementar (Secção B) e, no caso das pessoas colectivas, representado
especialmente pelo Código da Contribuição Industrial e pelo Imposto Complementar (Secção A).
2
Recordamos que o Código do IVA foi o primeiro imposto acolhido no nosso sistema fiscal em resultado
da integração de Portugal na UE (ex-CEE), em 1 de Janeiro de 1986. Ou seja, em sede de impostos sobre
o rendimento a respectiva legislação fiscal apenas foi adaptada ao nosso sistema fiscal quatro anos mais
tarde.
3
A referência a “membros” visa o enquadramento nos ACE e AEIE.
4
BRÁS CARLOS: A.F., Sociedades de Profissionais: Nota sobre a Circular 8/90 da DGCI, Fisco n.º 19,
de Abril de 1990, p. 9.
1
“É da essência da transparência fiscal, que a sociedade funcione, no final
do exercício, como um mero ente imputador de resultados. Esta é a
verdadeira natureza das sociedades sujeitas ao regime de transparência.”.
Note-se, no entanto, que, como de seguida reforçaremos, face ao previsto no art.º 12.º
do CIRC, as STF apenas estão sujeitas às tributações autónomas de IRC (art.º 81.º) ou
de IRS (art.º 73.º)6.
5
SALDANHA SANCHES, J. L., Sociedades Transparentes: Alguns Problemas no seu Regime, Fisco n.º
17, de 15 de Fevereiro de 1990, pp. 35-6.
6
De notar que as tributações autónomas foram, primeiramente, instituídas sobre as despesas confidenciais
ou não documentadas (art.º 4.º do Decreto-Lei n.º 192/90, de 9 de Junho), tendo sido, posteriormente,
incluídas no próprio Código do IRC (actual art.º 81.º) e alargado o seu âmbito a outras despesas. Sobre
esta temática sugerimos a leitura dos nossos artigos: “A Tributação Autónoma das Despesas
Confidenciais ou não Documentadas”, Contabilidade, Fiscalidade, Auditoria: Breves Reflexões, Ed.
Autor, Março de 1997, pp. 243-8, Eurocontas n.º 16, de Abril de 1996, pp. 16-8 e Portal INFOCONTAB
menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/Artigo n.º 11” e “As Despesas Sujeitas a
Tributação Autónoma no CIRC e no CIRS”, Temas de Contabilidade, Fiscalidade, Auditoria, Vislis
Editores, Janeiro de 2001, pp. 295-314, TOC n.º 5, de Agosto de 2000, pp. 46-53 e Portal INFOCONTAB
menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/Artigo n.º 51”.
7
DGCI, Código do IRC Comentado e Anotado, 1990, p. 95-6.
2
Há casos, com efeito, em que a prossecução da mesma actividade
económica poderia ser feita directamente pelos respectivos sócios,
aparecendo a forma societária como um mero subterfúgio que se
interpõe entre eles o Fisco, para assim se alcançar uma diminuição
ou dilação da carga tributária.
Este último mecanismo actua por dedução à colecta e visa atenuar a dupla
tributação económica dos lucros que sejam distribuídos aos sócios.
8
Actual art.º 46.º do CIRC.
9
Actuais art.os 63.º a 65.º do CIRC.
10
Que passou a ser o art.º 72.º, entretanto revogado pela Lei n.º 109-B/2001, de 27 de Dezembro, que
aprovou o OE/2002.
11
Não aplicável actualmente pelo n.º 5 do art.º 83.º do CIRC.
3
Relativamente à caracterização de cada tipo de STF passamos a descrever
resumidamente:
A sua actividade não tem um escopo lucrativo (só a título meramente acessório e
quando autorizado expressamente pelo respectivo acto constitutivo o ACE pode
ter por fim a realização e partilha de lucros), pois o objectivo principal é o da
melhoria das condições de exercício ou de resultado das actividades das
empresas agrupadas, i.e., o de aproveitamento de sinergias entre as empresas.
4
− Agrupamentos Europeus de Interesse Económico (AEIE) – os AEIE são um
instrumento jurídico comunitário previsto no Regulamento (CEE) n.º 2137/85,
do Conselho, de 25 de Julho, aplicável a partir de 1 de Julho de 1989,
especialmente consagrado para o desenvolvimento das PME europeias.
Além disso, o regime jurídico dos ACE atrás referido, constituem regimes
supletivos dos AEIE.
Além disso, o regime jurídico dos ACE (Lei n.º 4/73, de 4 de Junho e Decreto-
Lei n.º 430/73, de 25 de Agosto), constitui regime supletivo dos AEIE.
5
agrupamentos europeus de interesse económico estão sujeitos a
transparência fiscal. Parece mais correcto afirmar que eles não têm
personalidade jurídica, pelo menos para efeitos de IRC.
b) Sociedades de profissionais;
13
A alínea c) do n.º 4 do art.º 6.º define grupo familiar:
“c) Grupo familiar — o grupo constituído por pessoas unidas por vínculo conjugal ou de adopção e bem
assim de parentesco ou afinidade na linha recta ou colateral até ao 4.º grau, inclusive.”.
6
No esquema seguinte resumimos os normativos supra:
STF
(art.º 6.º do CIRC)
IRS IRC
Sublinhe-se, no entanto, que para aquele efeito é necessário que a STF proceda ao
encerramento das contas do exercício antes dos seus sócios/membros, caso contrário tal
imputação não será possível14, nem poderá ser “transferida” para o exercício seguinte,
pois não se verifica nenhuma das duas condições preceituadas no art.º 18.º n.º 2 do
CIRC, i.e., “não eram imprevisíveis” ou “manifestamente desconhecidas”.
Acresce, ainda, que no caso da STF (sujeitos passivos de IRC) proceder, em assembleia
geral, à distribuição dos lucros, relevados na contabilidade dos membros (v.g. ACE,
AEIE) como proveitos (“conta 78”, em sub-conta a criar para o efeito) os mesmos terão
14
É óbvio que, para efeitos fiscais é sempre possível a apresentação da declaração de rendimentos de
substituição.
7
de ser expurgados (deduzidos) no campo em branco (campo 237) do Q07/DR22, a fim
de evitar a dupla tributação15.
O mesmo raciocínio deve ser aplicado na imputação dos prejuízos fiscais das STF (v.g.
ACE e AEIE), pelo que, quando estas procederem à cobertura de prejuízos
contabilísticos, afectando negativamente o “resultado líquido do exercício” (Campo 201
do Q07/DR22) dos sócios/membros, deverá efectuar-se o competente acréscimo
(Campo em branco - Campo 225 do Q07/DR22).
Enunciado
A Sociedade A & B, Lda. é constituída por dois TOC (A e B), com quotas de 70% e
30%, respectivamente. No exercício de 2006 obteve o lucro contabilístico de 1.000 u.m.
e a matéria colectável de 1.500 u.m..
Pedidos:
Resolução:
Assim, dado que o pacto social não estabelece regras de imputação, o valor a
imputar é independente da participação no capital (70% do TOC A e 30% do
TOC B), sendo efectuada em partes iguais de 750 u.m. (1500/2) para cada sócio
(TOC), conforme previsto no n.º 3 do mesmo art.º 6.º do CIRC.
15
Note-se que o proveito contabilístico aparece evidenciado no “Campo 201 – Resultado líquido do
exercício” do Q07/DR22 do sócio/membro da STF. Neste sentido, e porque a tributação nos membros
incide sobre a matéria colectável/lucro tributável da STF e não sobre os lucros por ela distribuídos, é
necessário expurgar esse efeito do resultado líquido.
16
O Anexo D da Declaração Mod. 3 do IRS serve também para declarar as heranças indivisas (art.os 19.º
e 20.º do CIRS).
8
De notar que esta imputação é meramente de índole fiscal e extra-contabilística,
i.e., não dá lugar a qualquer assento contabilístico.
DÉBITO CRÉDITO
Conta Valor Conta Valor
59 Resultados transitados 1.000 571 Reserva legal 50
574 Reservas livres 450
25 Sócio A c) 350 a)
Sócio B 150 b)
a) 70% x 50% x 1.000
b) 30% x 50% x 1.000
c) Distribuição de lucros em função da participação social.
Refira-se que os lucros distribuídos e posteriormente pagos aos sócios não estão
sujeitos a retenção na fonte de IRS, pois esses lucros já foram incluídos na
imputação especial prevista no art.º 20.º do CIRS, não sendo, assim,
considerados rendimentos da categoria E nos termos da alínea h) do n.º 2 do art.º
5.º do CIRS (ver item 4.3 deste artigo).
Enunciado
Pedidos:
9
2. Efectuar os assentos contabilísticos correspondentes à distribuição dos
resultados.
Resolução:
Q07/DR22 (Campo) A B C
Campo 205 (A & C, ACE) 250 250
Campo 227 (A & B, ACE) (490) (210)
3. ANÁLISE CONTABILÍSTICA
3.1. POC
17
De notar que enquanto vigorar o ACE poderão existir tributações autónomas nos termos do art.º 81.º do
CIRC, por força do disposto no art.º 12.º do CIRC.
18
Ver comentários mais à frente no item 3.3 deste artigo.
10
agrupamentos europeus de interesse económico, consórcios e associações em
participação”, apresenta regras contabilísticas a aplicar a essas entidades jurídicas, nos
seguintes termos19:
“1. Objectivo
Assim, considerando esse objectivo e o seu conteúdo geral, não julgamos oportuno tecer
comentários adicionais, em virtude de não serem relevantes para o contexto deste artigo.
“i) Uma empresa possui uma participação de 100 000 €, sem influência
significativa num Agrupamento Complementar de Empresas (ACE). Por
força da aplicação do regime da transparência fiscal, foi imputado no
período um prejuízo fiscal à participação de 60 000 €.
19
Note-se que a Directriz Contabilística n.º 1 também se refere aos empreendimentos conjuntos no
âmbito de concentrações de actividades empresariais (v.g. fusões e aquisições).
11
corresponde ao passivo por imposto diferido que deveria ter sido
reconhecido no 1.º ano.”.
20
A referência ao art.º 5.º do CIRC corresponde, actualmente, ao art.º 6.º do CIRC, cuja redacção sofreu
ligeiras alterações.
21
Esta cláusula prevê:
“2 – Por portaria do Ministro das Finanças podem ser fixados para efeitos do disposto neste artigo o
número máximo de veículos e respectivo valor por sujeito passivo.”.
12
De notar que o art.º 33.º do CIRS “Encargos não dedutíveis para efeitos fiscais”
constitui um complemento às limitações previstas no CIRC e para os efeitos de
determinação do rendimento da categoria B.
13
b) O limite de 4.000.000$, previsto no n.º 1, para as duas situações das alíneas a) e
b), deverá ser actualizado para 29.927,87 euros (6.000.000$), por força da
alteração do art.º 33.º, n.º 1, al. e) do CIRC;
c) A limitação de uma unidade por titular de rendimentos prevista no n.º 3 deve ser
interpretada de forma cumulativa relativamente às duas situações previstas nas
alíneas a) e b) do n.º 1. Ou seja, cada sócio da sociedade profissional apenas
poderá afectar à sua actividade um veículo motorizado, excepto os de cilindrada
inferior a 125 cm3, independentemente da forma de financiamento em capitais
próprios ou capitais alheios (v.g., leasing, crédito bancário, ALD).
14
“A avença é de 5% dos juros, dividendos ou quaisquer outros rendimentos
atribuídos aos títulos e deverá ser descontada nesses rendimentos pelas
entidades que tiverem de fazer o respectivo pagamento.”.
“Os lucros das entidades sujeitas a IRC colocados à disposição dos respectivos
associados ou titulares, incluindo adiantamentos por conta de lucros, com
exclusão daqueles a que se refere o art.º 20.º”.
15
4.4. Retenções na fonte e pagamentos por conta de IRC
Os rendimentos das STF provenientes das situações enquadradas no actual art.º 88.º do
CIRC, designadamente os rendimentos de aplicação de capitais, os rendimentos de
propriedade intelectual ou industrial, os rendimentos prediais, etc. estão sujeitas a
retenção na fonte de IRC, às taxas liberatórias do art.º 71.º do CIRS, por força da
remissão do n.º 4 do art.º 88.º do CIRC22.
Assim, dado que o n.º 3 do art.º 88.º do CIRC estabelece que as retenções na fonte têm a
natureza de imposto por conta23, os valores retidos à STF deverão ser igualmente
imputados aos sócios/membros da STF, a fim de que os mesmos possam deduzi-los nas
respectivas declarações de rendimentos (Anexo D - Quadro 4 - da Declaração Mod. 3
do IRS, para pessoas singulares, quadro 10, campo 359 da DR22, para pessoas
colectivas), devendo efectuar-se o preenchimento do Anexo G da IES/DA (Quadro
034).
A Circular n.º 8/90, de 16 de Fevereiro, veio clarificar algumas dúvidas sobre o regime
de TF das sociedades de profissionais, nomeadamente no que respeita a retenções na
fonte relativas a rendimentos obtidos e aos pagamentos por conta, transmitindo os
despachos do SEAF de 89/08/09 e 90/02/02, que transcrevemos:
22
Prevê uma excepção relativamente aos rendimentos referidos na alínea d) do n.º 1 do art.º 88.º, relativa
às remunerações auferidas na qualidade de membro dos órgãos estatutários de pessoas colectivas e outras
entidades, em que a taxa é de 20%.
23
Porém o mesmo articulado determina nas alíneas a) e b) duas excepções que têm carácter definitivo.
16
efectivar-se no ano em que se inclua o fim do período de tributação da
sociedade de profissionais.
8. Devem ainda nos termos dos artigos 91.º e seguintes do CIRS as referidas
entidades proceder a retenção na fonte do IRS relativamente aos
rendimentos pagos ou postos à disposição dos seus sócios, com excepção
dos relativos a lucros ou adiantamentos por conta dos lucros efectuados nos
termos do Código das Sociedades Comerciais, visto não revestirem, de
acordo com o disposto na alínea h) do artigo 6.º daquele Código, a
natureza de rendimentos de capitais.”.
17
obrigadas à nomeação de ROC nos termos do n.º 2 do art.º 262.º do CSC, em
que a SROC ou ROC não é considerada um “órgão de fiscalização”, embora
exerça funções de fiscalização previstas nesse articulado e esteja sujeita ao
regime de incompatibilidades estatuído para os membros do Conselho Fiscal (n.º
5 do art.º 262.º do CSC);
− De acordo com o item 6 da Circular, não há lugar aos pagamentos por conta,
previstos nos actuais art.os 96.º e 97.º do CIRC, o que se compreende pelo facto
das sociedades de profissionais estarem isentas de IRC, nos termos do art.º 12.º
do CIRC. Assim, os pagamentos por conta são efectuados pelos titulares dos
rendimentos na sua esfera pessoal em sede de IRS (Categoria B), nos termos do
art.º 102.º do CIRS;
Embora a Circular não se pronuncie sobre o assunto, pois o PEC foi introduzido
apenas com a publicação Decreto-Lei n.º 44/98, de 3 de Março24, também não há
lugar ao pagamento especial por conta (PEC), preceituado no art.º 87.º do CIRC,
pelas mesmas razões atrás referidas relativamente aos pagamentos por conta e de
acordo com o entendimento expresso no Ofício-Circulado n.º 082-GDG, de 18
de Março de 1998, o qual refere, taxativamente, o seguinte:
24
Sobre o PEC elaborámos os seguintes artigos:
− DO “PEC” ao “REF”, Semanário Económico n.º 879, de Novembro de 2003, p. 19 e Portal
INFOCONTAB no menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Titulo/N.º 113”;
− O PeC do PEC, Semanário Económico n.º 843, de Março de 2003, p. 15 e Portal INFOCONTAB
no menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Titulo/N.º 101”.
18
“4. AS SOCIEDADES DE TRANSPARÊNCIA FISCAL, FICAM SUJEITAS A
PAGAMENTO ESPECIAL POR CONTA?
Nos termos do art.º 94.º do Estatuto da Ordem dos ROC (EOROC), aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de Novembro, as sociedades de ROC revestem a natureza
de sociedades civis, embora possam adoptar os tipos jurídicos previstos no Código das
Sociedades Comerciais (v.g. sociedades por quotas, sociedades anónimas).
O n.º 1 do art.º 96.º do EOROC prevê a existência de sociedades de ROC (SROC), não
constituídas totalmente por ROC, determinando:
Assim, nesse caso concreto, a SROC não deve ser considerada STF por não cumprir o
quesito de todos os sócios serem ROC, conforme dispõe a alínea a), do n.º 4 do art.º 6.º
do CIRC, atrás transcrita.
A Câmara dos TOC é uma associação pública, como determina o art.º 1.º do Estatuto da
Câmara dos TOC (ECTOC).
25
O texto integral do Parecer consta da revista Fisco n.º 17, de 15 de Fevereiro de 1990, pp. 39-43.
26
O regime fiscal das SGPS foi estatuído pelo Decreto-Lei n.º 495/88, de 30 de Dezembro, que ainda se
mantém apesar de ter sido objecto de ligeiras alterações.
27
Esta mesma informação consta do Código do IRC Comentado e Anotado, ob. cit., pp. 101-2.
19
As sociedades de TOC (STOC), ao contrário das SROC, não estão previstas no
ECTOC, o que será uma matéria a regulamentar no próximo ECTOC28.
Refira-se, ainda, que a última versão conhecida do projecto do novo ECTOC prevê que
essas empresas passem a ser constituídas maioritariamente por TOC.
Ainda sobre a caracterização jurídica das STF de TOC, Albano Santos29 refere:
Deste modo, no caso do sócio da SUQ exercer alguma das actividades elencandas na
lista do art.º 151.º do CIRS, é considerada STF, ficando isenta da tributação, nos termos
do art.º 12.º do CIRC, sendo o sócio tributado na esfera pessoal em IRS (Categoria B).
7. ORGANIZAÇÃO CONTABILÍSTICA
28
A Proposta de Lei do OE/2008 contemplava no seu art.º 89.º a autorização legislativa para a alteração
do estatuto da CTOC, prevendo, nomeadamente, a “transformação” da Câmara em Ordem (Ordem dos
Técnicos Oficiais de Contas). No entanto, por acordo entre o Governo e o Grupo Parlamentar do Partido
Socialista esse artigo foi eliminado, pois perspectiva-se outro formato legislativo (v.g. Lei do Governo)
para a concretização desse objectivo.
29
ALBANO SANTOS, Sociedades de Profissionais, TOC n.º 16, de Julho de 2001, p. 46.
20
7.1. Contabilidade organizada
21
7.2. Regime simplificado de escrituração
O art.º 53.º do CIRC estabelece as condições de aplicação desse regime, cujo n.º 1
prevê:
32
O art.º 53.º contempla quinze números reguladores e específicos da aplicação do regime simplificado
que, obviamente, pelos objectivos deste artigo, nos abstemos de comentar.
22
As STF são também abrangidas pelo disposto no art.º 53.º do CIRC, conforme o
disposto no seu n.º 13.
A regra geral de aplicação do regime simplificado está consagrada no n.º 3 do art.º 53.º
do CIRC e no n.º 1 do art.º 31.º do CIRS, segundo o qual o rendimento tributável resulta
da aplicação de indicadores de base técnico-científico definidos para os diferentes
sectores de actividade económica, os quais devem ser utilizados à medida que forem
sendo aprovados.
Dado que os referidos coeficientes ainda não foram publicados, aquela regra geral de
determinação do lucro tributável em IRC e IRS ainda não pode ser aplicada, pelo que os
n.os 4 e 6 do art.º 53.º do CIRC e os n.os 2 e 5 do art.º 31.º do CIRS prevêem as
respectivas regras provisórias.
Com efeito, o n.º 2 do art.º 31.º do CIRS estabelece as regras gerais para o apuramento
do lucro tributável até que esses indicadores sejam publicados, nos seguintes termos:
Por outro lado, a Lei Geral Tributária no seu artigo n.º 89.º “Indicadores de actividade
inferiores aos normais” prevê:
33
Com a redacção da Lei n.º 53-A/2006, de 29 de Dezembro, que aprovou o OE/2007.
23
normais do exercício da actividade e possam, por isso, constituir factores
distorcivos da concorrência.”.
Em intervenções públicas costumamos invocar como justificação para tal situação, que
tudo o que é “científico” é moroso, pois são exigidas investigações profundas.
No caso do pacto social da STF prever que os resultados são imputados de acordo com
a participação social (v.g. quotas, acções), tal procedimento de afectação do resultado
fiscal é matematicamente muito simples e não exigirá grandes preocupações de
organização de contabilidade analítica.
Estamos a lembrar-nos do caso vulgar de uma SROC, constituída por três ROC, com
escritórios independentes e em localidades diferentes, a qual prevê no pacto social que
os resultados imputados, para efeitos de aplicação do regime de TF são apurados
individualmente de acordo com as respectivas estruturas de custos e proveitos. Neste
caso, a contabilidade centralizada da SROC poderá ser efectuada com recurso à
contabilidade analítica e ou por integração das contabilidades individuais de cada ROC.
Note-se, ainda, que a SROC suporta custos comuns e obtém rendimentos comuns (v.g.
trabalho executado em conjunto por mais que um sócio), o que constitui mais um factor
de reforço da necessidade dessa organização contabilística complementar.
Outro caso vulgar, é o do ACE cujos membros acordam que a contabilidade do ACE
centralize os custos suportados, sendo estes, posteriormente, imputados aos membros
através de facturas emitidas pelo ACE. Ou seja, o ACE além dos seus próprios custos
(v.g. pessoal, FSE, impostos), i.e., os “custos comuns”, acolhe os custos dos seus
membros pelos custos, na medida em que os suporta, havendo, desta forma, necessidade
de criar “centros de custos” e, por conseguinte, uma contabilidade analítica.
Ou seja, as STF deverão organizar a sua contabilidade dentro dos dois regimes (geral e
simplificado) e, de acordo com as respectivas necessidades de relato financeiro, devem,
complementarmente, organizar sub-sistemas de contabilidade (v.g., mapas extra-
contabilísticos em folhas de cálculo, contabilidade analítica/contabilidade de custos), de
modo a servirem de base de imputação dos resultados (proveitos e custos) aos
respectivos sócios/membros.
Assim, no que concerne à organização contabilística das STF, de acordo com o regime
simplificado de escrituração ou contabilidade organizada, a mesma deve ser analisada
caso a caso de acordo com as regras estabelecidas nos articulados do CIRC, conforme já
desenvolvemos nos itens 7.1 e 7.2 anteriores.
24
8. DECLARAÇÕES FISCAIS
8.1. A IES
A IES/DA deve ser apresentada pelos sujeitos passivos de IRC e IRS, pelo que as STF
também estão sujeitas ao cumprimento dessa obrigação.
34
Excepcionalmente, em 2007, foi prorrogado o prazo para 16 de Setembro por Despacho do Secretário
de Estado dos Assuntos Fiscais n.º 669/2007-XVII, de 20 de Junho de 2007.
35
Inclui a Declaração Anual de Informação Contabilística e Fiscal prevista na alínea c) do n.º 1 do art.º
109.º do CIRC e no n.º 1 do art.º 113.º do CIRS.
25
Declaração Descrição
DR22 Campo 7 “Transparência Fiscal” do Quadro 4 “Regimes de Tributação
dos Rendimentos” a)
IES/DA – Anexo G Sociedades e outras entidades sujeitas ao regime de transparência fiscal.
“Regimes Especiais”
DR22 – Anexo B Campo 13 do Quadro 03 “Prestações de serviços (sociedades de
“Regime Simplificado” profissionais)” b)
a) De notar que o item 7 das instruções da DR22 prevê:
“7 – A não tributação em IRC das entidades abrangidas pelo regime de transparência fiscal,
nos termos do artigo 6.º do CIRC, não as desobriga da apresentação da declaração periódica
de rendimentos. Existindo despesas e encargos sujeitos à tributação autónoma nos termos do
art.º 81.º, deve a mesma ser qualificada no campo 365 do Quadro 10 da declaração modelo
22, competindo o corresponde pagamento à entidade sujeita ao regime de transferência
fiscal.”
b) As instruções esclarecem:
Desses anexos assume particular importância, por ser específico das STF, o Anexo G da
IES/DA, cujo Quadro 031 “Tipo de sujeito passivo” elenca:
No quadro 032 deve indicar-se a colecta apurada na DR22 e no quadro 033 as deduções
à colecta (dupla tributação económica, dupla tributação internacional, contribuição
autárquica/IMI, benefícios fiscais e retenções na fonte).
26
participações, o valor a eles imputado, o rendimento ilíquido sujeito a retenção e a
retenção na fonte por cada sócio/membro.
8.2. IVA
Dado que as STF são sujeitos passivos de IVA nos termos do art.º 2.º “Incidência
subjectiva” (ou “pessoal”) do CIVA, terão de apresentar as respectivas declarações
fiscais (periódica, alterações, cessação anexo L da IES/DA).
De notar que, no caso específico dos ACE, acontece que, por vezes, a sua actividade se
prolonga para além da data de conclusão da obra, pois é vulgar, especialmente no sector
da construção civil, a existência de factos e responsabilidades pendentes de resolução,
como será o caso de o ACE ter de suportar custos inerentes ao período de garantia da
obra.
Ou seja, nesse período é provável que o ACE não origine proveitos mas incorra em
custos de garantia a imputar aos seus sócios/membros.
Neste contexto, esta situação origina a apresentação das declarações fiscais não só em
sede de IVA como em sede de IRC, até ao momento da efectiva extinção do ACE.
27
Almeida & de 2006 Complementar de Empresas
Associados - Regime de transparência
fiscal - Mais-valia
Fisco 17 J.L. Saldanha Fevereiro/1990 Sociedades transparentes: 35 36 2
Sanches alguns problemas no seu
regime
Fisco 19 Abril de 1990 Transparência fiscal - 11 11 1
Circular 8/90
Fisco 7 Jorge Abril de 1989 Transparência fiscal das 3 8 6
Magalhães sociedades de profissionais
Correia
Fisco 16 José Carlos G. Janeiro de A tributação dos 20 23 4
Santos 1990 Profissionais Liberais –
Uma Proposta de Mudança
Fisco 19 A. F. Brás Abril de 1990 Sociedade de Profissionais: 8 10 3
Carlos Notas sobre a Circular 8/90
da DGCI
Fisco 17 Fevereiro de Regime de Transparência 44 49 6
1990 Fiscal: Viacentro –
Administração de Centros
Comerciais, SA
Fisco 17 Fevereiro de Não Aplicação do Regime 39 43 5
1990 de Transparência Fiscal às
Sociedades Gestoras de
Participações Sociais
(SGPS)
Fisco 19 José Manuel Abril de 1990 O Agrupamento Europeu de 20 26 7
Martins Interesses Económicos
Fisco 15 Manuel Dezembro de O Agrupamento Europeu de
António Pita 1989 Interesse Económico (um
meio de integração das
empresas portuguesas na
CEE)
Fisco 17 Manuel Fevereiro de As Sociedades Profissionais 37 38 2
António Pita 1990
JTCE 340 Bruno Lagos Janeiro de Transparência fiscal 13 13 1
1994 sociedades de profissionais
Dec. Lei n.º 67/93 de 10/3
JTCE 357 A. M. Cardoso Junho de 1995 Um caso de intransparência 153 154 2
Mota na transparência fiscal
JTCE 302 Dr. Correia Novembro de Agrupamentos Europeus de 264 266 3
dos Santos 1990 Interesse Económicos
(AEIE)
Revisores & 13 Manuel Abril/Junho de As Sociedades de 33 41 9
Empresas Valente 2001 Profissionais Face à
Reforma da Tributação do
Rendimento
TOC 22 Rogério Janeiro de Sistema Fiscal mais simples 6 11 6
Fernandes 2002 e transparente
Ferreira
TOC 16 Pedro Julho de 2001 Transparência Fiscal vs 21 21 1
Barreiros Tributação Autónoma
TOC 37 Tânia de Abril de 2003 O regime de transparência 38 458
Menezes fiscal
Montenegro
TOC 4 Julho de 2000 Transparência Fiscal 64 65 2
Fonte: Elaboração própria
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10. CONCLUSÕES
Parâmetro Descrição
Aplicação dos resultados e Independentemente da forma jurídica da STF (v.g. soc. quotas, soc.
distribuição de lucros/dividendos anónimas) a aplicação dos resultados segue as mesmas regras das
aos sócios/accionistas e sociedades não transparentes, normalmente no que tange à
adiantamentos por conta de lucros distribuição de lucros/dividendos e constituição de reservas (v.g.
reserva legal).
Dado que para efeitos de tributação o que releva é o lucro/prejuízo
ou a matéria colectável da STF, a distribuição de lucros e
adiantamentos por contas de lucros está excluída da tributação nos
termos da alínea h) do n.º 2 do art.º 5.º do CIRS.
Imputação do lucro/prejuízo ou da É efectuada de acordo com as regras estabelecidas no estatuto da
matéria colectável sociedade e, no caso do seu “silêncio”, é proporcional às
participações sociais (v.g. quotas, acções), conforme dispõe o n.º 3
do art.º 6.º do CIRC.
O lucro/prejuízo (ACE, AEIE) e a matéria colectável (soc.
profisionais, soc. administração de bens e soc. civis sob forma
comercial) são calculados nos mesmos moldes das restantes
empresas através da DR22, sendo os valores imputados inscritos no
Campo 205 (se positivo) ou no Campo 227 (se negativo) do Q07 da
DR22, no caso de sócios/membros pessoas colectivas, ou no quadro
4 do Anexo D da Mod. 3 do IRS, no caso de sócio/membros
pessoas singulares.
Impostos diferidos Se aplicável a Directriz Contabilística n.º 28, a STF terá de
evidenciar os activos por impostos diferidos (2761 a 862), sendo
deduzidos no Campo 273 do Q07/DR22 e ou os passivos por
impostos diferidos (862 a 2762), sendo acrescidos no Campo 271
do Q07/DR22). Caso a STF aplique o “método do imposto a
pagar”, previsto nas notas explicativas das contas 86 e 241 do POC,
a “estimativa do IRC” abrange apenas as tributações autónomas
previstas no art.º 81.º do CIRC, cujo valor contabilizado (86 a 241)
é acrescido no campo 211 do Q07 da DR22.
Retenções na fonte de IRC Caso a STF obtenha rendimentos, nos termos do art.º 88.º do CIRC,
os mesmos estão sujeitos a retenção na fonte, excepto, no caso das
STF constituídas por ROC (SROC) que estão dispensadas nos
termos do art.º 90.º, n.º 1, al. f), mas apenas quanto a remunerações
auferidas na qualidade de membro de órgãos estatutários de pessoas
colectivas e outras entidades.
Pagamentos por Conta e Considerando que as STF estão isentas de IRC nos temos do art.º
Pagamentos Especiais por Conta 12.º do CIRC, excepto quanto às tributações autónomas no âmbito
(PEC) em IRC do art.º 81.º do CIRC, não há lugar aos pagamentos por conta (art.os
96.º e 97.º do CIRC) nem ao PEC (art.os 87.º e 98.º do CIRC).
Organização contabilística O lucro tributável das STF obedece à regra geral prevista no art.º
17.º n.º 3 do CIRC que apela à organização da contabilidade de
acordo com a normalização contabilística (POC, Directrizes
Contabilísticas, Interpretações Técnicas e NIC).
Se a STF estiver nas condições de aplicação do regime simplificado
de determinação do lucro tributável (art.º 53.º do CIRC) pode optar
(é facultativo) pela sua aplicação, devendo cumprir as regras de
organização contabilística do art.º 116.º do CIRC.
Caso a STF fique abrangida pelo regime geral de tributação do
lucro tributável, deve organizar a contabilidade nos termos do art.º
115.º do CIRC.
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Complementarmente, poderá haver a necessidade de
implementação de contabilidade analítica e respectiva criação de
centros de custos para controlo da imputação dos lucros/prejuízos e
da matéria colectável aos sócios/membros da STF.
Obrigações declarativas As STF têm as obrigações declarativas iguais às restantes
empresas, nomeadamente em sede de IRC (DR22 e IES/DA) e IVA
(declarações periódicas, declarações de alterações, declaração de
cessação, IES/DA).
Fonte: Elaboração própria
MARÇO/2008
BIBLIOGRAFIA
ALBANO SANTOS, Sociedades de Profissionais, TOC n.º 16, de Julho de 2001, p. 46.
NOTAS:- O Autor:
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