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Resumo Abstract
O artigo apresenta uma revisão teórica sobre a The paper presents a theoretical review of the
paisagem e o território com o fim de contribuir landscape and the territory in order to contribu-
para a gestão e o planejamento ambiental. Os te to the management and environmental plan-
problemas ambientais, neste início de terceiro mi- ning. Environmental problems at the beginning
lênio, felizmente, já são o tema central das discus- of the third millennium, fortunately, are already
sões em vários fóruns e debates. Como promover the focus of discussions in various forums and
o desenvolvimento sem destruir a natureza, ou debates. How to promote development whitout
o que dela resta? A ciência geográfica apresen- destroying nature, or what it left? The geographi-
ta conceitos fundamentais para diagnosticar o cal science presents fundamental concepts to
ambiente frente às intervenções humanas, pois diagnose the environment in the face of human
o espaço geográfico é o espaço produzido pelo intervention because the geographic space in the
homem.A metodologia constou basicamente de space produced by man. The methodology basi-
pesquisa bibliográfica em obras diversas sobre cally consisted of literature in several works on
os conceitos e temas apresentados e discutidos the concepts and topics presented and discussed
no texto. Concluiu-se que o território juntamen- in the text.I was concluded that the territory to-
te com a paisagem, são elementos fundamentais gether with the landscape, are key elements in
na percepção e compreensão das inter-relações the perception and understanding of the inter-
entre sociedade, espaço e meio ambiente. As- relationships between society, space and envi-
sim, estes conceitos podem auxiliar atividades de ronment. Thus, these concepts can help planning
planejamento e gestão ambiental em diferentes and environmental management’s activities in-
ambientes e auxiliar na obediência à legislação different environments and assist in compliance
ambiental. whith environmental legislation.
1Pesquisa de Mestrado em andamento do primeiro autor no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de
Mato Grosso/Campus de Rondonópolis.
1. Introdução
Nos últimos anos, a preocupação com a questão ambiental vem crescendo em escala mun-
dial, tanto na sociedade civil quanto por parte de governos, empresas, cidadãos e comunidade
científica. A conscientização necessária para tal preocupação fundamenta-se também na criação
de leis, normas e políticas públicas voltadas para a proteção e preservação e gestão do meio am-
biente. Contudo, a continuidade dos problemas ambientais exige constante aprimoramento dos
mecanismos e políticas públicas em prol do meio ambiente e de um conhecimento científico mais
amplo, integrado, holístico que pode ser encontrado na ciência geográfica.
O texto foi produzido a partir de uma pesquisa bibliográfica sobre alguns conceitos funda-
mentais da geografia (território e paisagem) e outras temáticas relacionadas ao foco do artigo
como assentamentos rurais, legislação e gestão ambiental. As leituras compreenderam obras di-
versas e autores já conhecidos nas áreas em questão.
O território juntamente com a paisagem, lugar e região são categorias básicas da Geografia. A
aplicação dos conceitos território e paisagem é bem diferenciada na atualidade, pois os contextos
históricos alteraram drasticamente e levaram a ciência buscar outros paradigmas e métodos. O
conjunto de transformações históricas e epistemológicas exige continua revisão e resignificação
dos conceitos.
No entanto, o conceito território evoluiu na historia do pensamento geográfico em suas
diversas abordagens. Assim, podemos observar que o conceito passou pela dimensão da área,
poder, controle, cultura e identidade. Contudo, o território não se restringe as fronteiras, sendo
caracterizado pela ideia de posse, domínio e poder, correspondendo o espaço geográfico sociali-
zado, apropriado para seus habitantes independente de extensão territorial.
O conceito da paisagem hoje é predominantemente visual e midiático, um objeto que se ana-
lisa e descreve, mas não se integra aos processos de planejamento e gestão ambiental. Temos a
intenção de defender a sua transformação em sujeito, em instrumento básico para o planejamen-
to ambiental. Vivemos um momento crucial, a fim de transformar a realidade, o meio ambiente,
através da revisão dos instrumentos de planejamento territorial e urbano e a integração da paisa-
gem nesses instrumentos.
No Brasil o processo de modernização agrícola iniciou a partir da década de 50 com a che-
gada de múltiplas tecnologias voltadas para o setor agropecuário no país, financiados pelo ca-
pital internacional, influenciando um grande processo de transformação da produção agrícola,
territórios e paisagens rurais (SILVA, 2011). Em meados dos anos 60 e início da Revolução Verde,
intensifica-se o desenvolvimento tecnológico chegando ao campo e gerando a territorialização
da agricultura capitalista que ainda tem repercussões atuais na forma do agronegócio e estrutura
fundiária.
Os assentamentos rurais vão gerar novos espaços, territórios e paisagens a partir da década
de 80, como novas formas de produção, organização e vida de pequenos agricultores familiares
(GAIOVICZ, 2011). A expansão destes novos ambientes tem gerado transtornos aos produtores
principalmente no tocante à legislação, planejamento e gestão ambiental nos lotes e proprieda-
des.
O artigo traz reflexões conceituais e temáticas a fim de contribuir para a gestão e planeja-
mento ambiental nas paisagens e territórios, que são bases socioespaciais de complexas relações
entre a natureza e a sociedade.
Na segunda metade do século XX, Gottmam (1973) afirma que a noção de organização é
central na definição do conceito território. Nesse caso, o território e sua dimensão geopolítica, tem
profunda afinidade com a soberania nacional e o Estado, sendo a questão territorial uma priori-
dade na gestão administrativa.
O território emerge nos avanços da proposta de Ratzel (1990), que além de trazer o debate
territorial para a geografia, coloca-o como necessário para a reprodução da sociedade e do Estado.
Ratzel fundamenta a análise geográfica nos pressupostos metodológicos, filosóficos e positivistas
de observação, descrição, classificação e comparação, compreendendo a geografia como uma
ciência comparada.Aqui se percebea importância do conceito na análise espacial e do ambiente.
Sack (1986), ao sinalizar para uma abordagem múltipla de território, tambémdestaca a di-
mensão políticae o simultâneopapel das fronteiras na influenciada territorialidade humana como
estratégia de domínio. A delimitação de uma área se torna território,quando uma autoridade usa
para influenciar , moldar e controlar atividade dos indivíduos.
O território é um espaço de experiências vividas entre atores e destes com a natureza, são
relações permeadas de sentimentos e simbolismo atribuídos dos lugares. São espaços
apropriados por meio de praticas que lhe garantem uma certa identidade cultural e so-
cial”. (BOLLIGIAM, 2003 apud SILVA 2009, p.109).
De acordo com Milton Santos (2000) o uso econômico é elemento definidor por excelência
do território. Dessa forma, o território usado constitui-se como um todo complexo, onde tece uma
trama de relações estabelecidas entre o lugar, formação socioespacial e o mundo.
Já para Haesbaert (2001), o território contempla uma dimensão simbólica e material. Segun-
do o autor, é preciso conceber as multiterritorialidades na constituição do território, já que ele é
alvo ao mesmo tempo de apropriação, vinculada ao simbólico e dominação, esta relacionada ao
campo material.
O território podetambém constituir-se num espaço descontínuo. A identidade territorialfaz
parte da população pertencente a um espaço, sendo elemento básico e estruturante do território.
A relação entre identidade e território é tão marcante que “toda identidade implica numa terri-
torialização, assim como a territorialização permite a permanência identitária” (COSTA & COSTA,
2008).
Geograficamente, paisagem é uma parte perceptível do espaço geográfico, sejam eles aspec-
tos naturais ou culturais. A paisagem consiste em tudo aquilo que é perceptível através de nossos
sentidos(tato, audição, olfato, visão).Por ser a paisagem tudo aquilo que está ao alcance da per-
cepção, ela sempre vai ser uma herança, ou seja, também faz parte de nossa memória, guardando
asdiversas dicotomias: física/humana, morfologia/cultura, trabalho/ideia, materialidade/imateria-
lidade, representações coletivas/valores individuais, paisagem-tipo/paisagem real (NAME, 2010).
No século XIX a análiseda paisagem era descritiva e morfológica e abordava a natureza do
ponto de vista fisionômico e funcional. Nesse período, destacam-se grandes trabalhos como os
de Alexander Von Humboldt e Richthofen, que tiveram um papel importante na orientação da
geografia alemã. Conforme Christofoletti (1999), essa abordagem está ligada a uma função esté-
tico-descritiva,quando a paisagem teve desenvolvimento inicial no paisagismo e arte dos jardins.
A partir de então, a mesma começa a ganhar várias conotações nos diversos países europeus e
abrange outros significados.
A partir da década de 1980 intensificaram-se os estudos relacionados à paisagem, numa
abordagem sistêmica e integrada dos componentes naturais. Foram vários os trabalhos relacio-
nados com as questões ambientais e de cunho aplicativo, utilizando-se de metodologias, como
por exemplo, as propostas de Bertrand (1972) e Tricart (1977). Nesse mesmo cenário, os conceitos
relativos às Teorias do Geossistema de Sotchava (1977) e Ecodinâmica de Tricart (1977), originam
o conceito de paisagem integrada, como sendo o resultado da interação do geossistema (elemen-
tos, estrutura e dinâmica) coma localização espacial e temporal.
A abordagem geossistêmica procura entender as variações paisagísticas como produto his-
tórico dos fluxos de matéria e energia, abrangendo a ação do homem. Embora o geossistema seja
um fenômeno natural, todos os fatores econômicos e sociais influenciam na estrutura, consistindo
assim, além dos fatores naturais, os fatores ligados a ação antrópica.
Dessa forma, Bertrand (1972 apud OLIVEIRA, 1998, p. 63), entende que a paisagem é resultado
da combinação dinâmica, instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagem dia-
leticamente entre si, atribuindo à paisagem uma unidade indissociável, em constante evolução,
numa porção do espaço. O complexo de elementos naturais e elementos construídos, ou o con-
junto de ambos, são considerados um patrimônio paisagístico da coletividade.
A paisagem é um resultado de forças naturais e humanas que constitui um fato físico e cul-
tural, os quais estão interligados no espaço em um determinado período de tempo, entendendo
esse resultado como o produto e não como uma imagem. Ela possui estrutura morfológica deter-
minada, que pode ser mensurada, quantificada e qualificada, e em constantes mudanças.
A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um proces-
so de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e
intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que
se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade. (SANTOS, 1997, p. 37).
A paisagem ao longo dos tempos foi objeto de interesse para toda a pesquisa geográfica. A
paisagem é o guia é o termômetro da Geografia, ela compõe e arranja todo o horizonte geográ-
fico, constituindo-se como um tema clássico, um conceito permanente dentro da Geografia e um
ponto de partida das observações espaciais e ambientais.
pitalistas de produção por não ter condições econômicas de acompanharem os processos de mo-
dernização e expansão agrícola capitalista.
Assim os assentamentos não são simples concessões de terra a camponeses com pouca ou
sem terra, mas sim como um território que permite o desenvolvimento de relações de vida, pro-
dução e organização social diferentes das impostas pelo modo agrícola capitalista (COCA, 2013).
Este modelo de organização do espaço desempenha um importante papel no meio rural bra-
sileiro, frente ao modo dominante dos latifúndios que desfavorece a justiça e o desenvolvimento
social. Os assentamentos apresentam uma gestão inovadora dos territórios rurais, a partir de suas
organizações sociais, mobilizações e participação econômica, podendo levar ainda as famílias as-
sentadas, maior autonomia e liberdade na busca de melhores condições de vida e desenvolvi-
mento rural (BARONE e FERRANTE, 2012).Os assentamentos tem grande contribuição social e eco-
nômica, podendo gerar emprego, a diminuição do êxodo rural, o aumento na oferta de alimentos,
abastecimento do mercado interno, garantia de moradia e a elevação dos níveis de renda familiar
(BARONE e FERRANTE, 2012).
As atividades agropecuárias são responsáveis por importantes modificações causadas no
meio ambiente, que, quando realizadas de forma inadequada, causam impactos ambientais qua-
se irreversíveis. De acordo com Almeida; Guerras (2005), por volta de 1990, práticas agrícolas ina-
dequadas contribuíam para a degradação de 562 milhões de hectares, aproximadamente 36%
dos 1,5 bilhão de hectares agricultáveis do mundo. Sabe-se a degradação ambiental está presente
tanto nas grandes propriedades como em lotes de assentamentos. A todos ainda demanda co-
nhecimento e tecnologia para melhor planejamento no uso e gestão de solo, água, fauna e flora.
As questões acima requerem uma relação mais harmônicaentre os elementos naturais e a
exploração humana, conduzidas por uma gestão ambientalmais adequada, a partir de legislação
específica.
tal brasileira que visam conter as atividades econômicas que ameaçam um sistema ambiental, a
partir de medidas preventivas e coibitivas. Traduzem-se em restrições de atividades, controle do
uso de recursos naturais e especificação de tecnologias.
A legislação brasileira é clara em seus princípios e objetivos, porém, quando se trata das atri-
buições para execução da política ambiental, não se mostra específica o suficiente. Mesmo fa-
zendo menção ao Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA - (artigo 8º, PNMA), observa-se
certa restrição para apreciação de estudos de impactos ambientais e respectivos relatórios como
sendo competência do CONAMA (ROSSI, 2009).
5. Considerações finais
Referências
ARAUJO, G. H. S.; ALMEIDA, J. R.; GUERRA, A. J. T. Gestão ambiental de áreas degradadas. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil. 2005
BARONE, L. A.; FERRANTE, V. L. S. B. Assentamentos rurais em São Paulo: estratégias e mediações
para o desenvolvimento. Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 55, n. 3, p. 755 a 785,
2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S001152582012000300006&script=s
ci_arttext. Acesso em 15 Jan. 2016.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física e Global. São Paulo Instituto de Geografia USP.
1972. (Cadernos de Ciência da Terra, 13).
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SOTCHAVA, V. B. O Estudo de Geossistemas. Métodos em Questão. São Paulo. n. 16, p. 1-52,
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