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“Homem de estado não fui; professor não fui; escritor não fui; sim, mas,
então, o que sou eu? Pois, não sou nem mesmo o último parasita que
cresce nas pregas da sociedade… Parece que sou alguém difícil de
fixar”, disse certa vez o filósofo – filósofo e “quase santo”, segundo Olavo
de Carvalho – romeno Petre Ţuţea (1902-1991) acerca de si mesmo. Tal
descrição, que poderia muito bem ser entendida como simples resultado
de profundas digressões filosóficas, também encontra amparo na mais
concreta existência histórica de seu pronunciante. De fato, Ţuţea
(pronuncia-se “Tsutsea”) graduou-se em direito pela Universidade de
Cluj e doutorou-se em direito administrativo, mas pensou e escreveu
sobre os mais variados temas, como economia, política, filosofia,
antropologia e religião.
Ţuţea, que já foi descrito como “uma mistura de Sócrates com Jó”,
publicou quase uma dezena de livros, todos póstumos (até o momento,
nenhum foi publicado no Brasil). Algumas de suas obras compõem-se
de entrevistas ou trechos de conversas. Os aforismos que você lerá a
seguir – traduzidos e publicados pela primeira vez no país – foram
pinçados de um trabalho desse tipo: 322 de vorbe memorabile ale lui
Petre Ţuţea (322 máximas memoráveis de Petre Ţuţea), coletânea de
falas colhidas de entrevistas publicada pela editora Humanitas, de
Bucareste, em 1993. Com tradução de Elpídio Mário Dantas Fonseca e
revisão de Cristina Nicoleta Mănesc, essas máximas analisam a
natureza totalitária do movimento comunista e a condição do homem
cristão.
*
“Tanto a extrema esquerda quanto a extrema direita são falimentares. O
comunismo, por exemplo: a sua premissa maior é a igualdade real,
absoluta, dos homens. Em nenhum dos reinos conhecidos existe
igualdade – nem no reino mineral, pois o ouro não é igual ao carbono;
nem no reino vegetal, pois as plantas não são iguais; nem no reino
animal, pois o gato não é igual ao leão, pelo menos em força. E muito
menos na espécie humana funciona o princípio da igualdade. O
comunismo está condenado essencialmente pela sua premissa maior: a
igualdade real dos homens, que é uma utopia. E ainda… Sim, como diz
Berdiaev, o vício das utopias não está na construção delas, mas no fato
de todas serem realizáveis. É um paradoxo, mas é verdade que o
paradoxo é o limite até onde pode ir a inteligência humana, depois do
qual aparece o nada.”
“Os sistemas sociais devem ser definidos pela finalidade, por aquilo a
que visam. Os comunistas visam à igualdade anárquica final. Isto são o
comunistas-anarquistas! Por sua finalidade, o marxismo não é hostil à
anarquia, porque não podes ser igualitário se não fores anarquista.”
*
“O comunista sabe que é animal, sabe que é racional e sabe que é
absolutamente mortal. Mas deste modo, com toda a sua racionalidade,
entre ele e um texugo não há nenhuma distinção.”
“Os comunistas são tão terrestres que eu não os deixaria sequer subir
num avião, e, entre Bucareste e Moscou, eu os faria ir a pé, enchendo
os alforjes com comida, de parada em parada…”
“Eu não sou um homem pitoresco, eu sou um homem grave. Creio que
estais de acordo que, no nível de minha mente, não sou pitoresco. Mas
na imprensa apareço pitoresco. E a mídia de massa morre de prazer
quando lê estas patranhas. Diz: „Ai, que gracinha que ele é!‟ Eu não sou
uma gracinha, eu sou um homem solene.”
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