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REVISÃO SISTEMÁTICA
acometidos por condromalácia patelar e osteoartrite
do joelho – um estudo de revisão sistemática
Knee extensor muscle inhibition in subjects with chondromalacia
patellae and knee osteoarthritis – a systematic review
Klauber Dalcero Pompeo¹, Mônica de Oliveira Mello², Marco Aurélio Vaz¹
RESUMO | A inibição muscular (IM) tem sido reportada ABSTRACT | Muscle inhibition (MI) has been reported as
como um dos fatores associados à fraqueza muscular pre- one of the factors associated with muscle weakness pres-
sente na osteoartrite (OA) e condromalácia patelar (CP), ent in osteoarthritis (OA) and chondromalacia patellae
sendo inclusive associada com a etiologia e a progressão. (CP), including being associated with the etiology and pro-
Entretanto, parece existir uma lacuna na literatura em re- gression. However, there seems to be a gap in the litera-
lação a estudos de revisão que avaliaram o grau de IM de ture regarding the review studies that assessed the degree
sujeitos acometidos por CP e OA. O objetivo do estudo foi of IM subjects affected by CP and OA. The main objec-
reunir os resultados de estudos que investigaram o grau tive of study was bringing together the results of studies
de IM na OA e CP e identificar possíveis diferenças na IM that investigated the degree of OA in the MI and CP and
que estejam associadas aos estágios do processo degene- to identify possible differences in IM which are linked to
rativo. Foram incluídos nesta revisão sistemática estudos stages of the degenerative process. We included cross-
transversais e/ou experimentais publicados nas bases de sectional and/or experimental studies published in the da-
dados PubMed, Scopus, SciELO e Cochrane entre 1990 e tabases PubMed, Scopus, SciELO and Cochrane between
2010 que avaliaram a IM por meio da técnica de interpo- 1990 and 2010 that evaluated the MI through interpolation
lação de abalo publicados. Os dados referentes à popula- twitch techniques. Data on population characteristics, MI
ção, protocolo de IM, qualidade dos estudos e resultados protocol, quality of studies and MI results were summa-
de IM foram sumariados e apresentados em Tabelas. Para rized and presented in Tables. For quality analysis, it was
análise da qualidade, utilizou-se a escala de PEDro. Após used the scale PEDro. After applying the inclusion criteria,
a aplicação dos critérios de inclusão, 13 artigos foram in- 13 articles were included in the systematic review (OA=9
cluídos na revisão sistemática (OA=9 e CP=4). A partir da and CP=4). Based on the analysis of the data, there MI>CP
análise dos dados, observou-se uma IM maior na CP em compared to OA. However, the variability of protocols, as
comparação à OA. Contudo, a variabilidade metodológica well as the lack of information about the IM protocols, in-
e a falta de informações sobre os protocolos de IM indi- dicates the need for further experimental studies in order
cam a necessidade de novos estudos experimentais a fim that we can determine more precisely the relationship be-
de que se possa determinar com maior precisão a relação tween IM and degenerative joint diseases.
entre a IM e as doenças degenerativas articulares. Keywords | systematic review; muscle inhibition;
Descritores | revisão sistemática; inibição muscular; chondromalacia patellae; osteoarthritis.
condromalácia patelar; osteoartrite.
Estudo desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS), Brasil.
1
Especialista em Cinesiologia; Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS), Brasil.
2
Mestre; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da UFRGS; Curso de Educação Física da
Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul (RS), Brasil.
3
Doutor; Professor da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS), Brasil.
Endereço para correspondência: Klauber Dalcero Pompeo – Rua Dorvalina Rodrigues de Freitas, 27 – CEP: 91780-603 – Porto Alegre (RS), Brasil – E-mail: kdpompeo@yahoo.com.br
Apresentação: dez. 2011 – Aceito para publicação: maio 2012 – Fonte de financiamento: nenhuma – Conflito de interesse: nada a declarar
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Fisioter Pesq. 2012;19(2):185-90
INTRODUÇÃO METODOLOGIA
186
Pompeo et al. Inibição muscular dos extensores do joelho
187
Fisioter Pesq. 2012;19(2):185-90
Excluídos (n=56)
Incluídos (n=13)
Não redigido em língua inglesa: 1
Amostra incompatível: 2
Não avaliaram IM do quadríceps: 6
Outras técnicas: 25
Sujeitos com outras
lesões associadas: 4
Apenas os resumos disponíveis: 12
Estudos OA Estudos CP
(n=9) (n=4)
técnica de interpolação de abalo. Observou-se, nos es- Utilizando-se a escala de PEDro para avaliar a qua-
tudos de OA, uma conformidade referente ao ângulo lidade dos estudos, obteve-se um escore entre 5 e 8 para
articular, 90º. Apenas um estudo9 definiu precisamente os estudos OA e entre 3 e 8 para os CP (Tabela 3).
o estágio da OA. Outros8,24,28-31 apenas descreveram se
a OA era grau II ou superior, ou simplesmente se era Resultados de inibição muscular
diagnosticada7,31.
Verificou-se a ausência de cálculo amostral e dos va- Nos resultados da CP, observou-se a presença de IM
lores do poder observado em todos os estudos revisados, em todos os sujeitos avaliados, com valores entre 1822 e
demonstrando não haver critérios claros e estabelecidos 38%24. Os resultados foram semelhantes em três estu-
para essas variáveis. Com relação à exposição dos dados, dos14,26,27. A IM foi estatisticamente superior nos mem-
observou-se que quatro artigos14,26-28 apresentam os bros afetados pela CP em três artigos14,26,27. Somente
dados somente em gráficos, dificultando a identificação Drover et al.25 obtiveram dados similares nos membros
precisa dos resultados. contralateral (19%) e afetado (±18%).
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Pompeo et al. Inibição muscular dos extensores do joelho
Tabela 3. Resultados referentes à análise da qualidade dos estudos segundo a escala de qualidade de PEDro
Estudos OA Estudos CP
Critérios
Pap9 Hurley31 Hassan7 Kean24 O’Reilly8 Machner18 Gapeyeva28 Berth29 Berth30 Suter Suter Suter26 Drover25
Critérios de
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não Não Sim
eligibilidade
Distribuição
Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Sim Não Sim Não
aleatória
Distribuição
Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Não Não Sim Não
cega
Grupos
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
semelhantes
Sujeitos cegos Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Sim Não Sim Não
Terapeutas
Não Não Não Não Não Não Não Não Sim Sim Não Sim Não
cegos
Avaliadores
Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não Não
cegos
Resultados-
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Não Sim Sim
-chave
Intenção de
Não Sim Não Não Não Sim Sim Não Sim Não Não Não Sim
tratamento
Comparação
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
intergrupos
Dados de
Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
variabilidade
Pontuação
5 6 5 5 5 5 5 3 8 8 3 8 6
total
Dentre os estudos com OA, quatro8,7,14,24 apresen- Identificou-se nos artigos a falta de informações
taram uma IM estatisticamente superior para os indi- sobre os protocolos de avaliação da IM7,8,14. Ademais, a
víduos ou membros afetados. Assim como nos estudos ausência de critérios claros na definição da amostra e o
CP, foi unânime a presença de IM na OA, com valores baixo número de sujeitos utilizados nos estudos revisa-
entre 428 e 33,6%18 nos membros afetados. Em dois es- dos prejudicaram a interpretação dos resultados.
tudos28,29, não foram encontradas diferenças significati- Outro aspecto importante está relacionado aos ângu-
vas entre os grupos avaliados. los articulares nos estudos sobre CP. A maioria dos ar-
Comparando os grupos OA e CP qualitativamen- tigos14,26,27 valeu-se de 30º e 60º, enquanto um estudo25
te, observaram-se valores de IM superiores na CP. No optou por 90º de flexão do joelho. Tal alteração pode ex-
entanto, esses resultados precisam ser avaliados com plicar os valores inferiores de IM obtidos nesse estudo25.
cautela em razão da diversidade de protocolos utiliza- Como o grupo muscular avaliado se encontrava mais
dos e da ausência de melhor caracterização da OA nos alongado, de acordo com a relação força-comprimento,
estudos revisados e de análise estatística nesta revisão. nas posições mais alongadas do músculo quadríceps é que
(Tabelas 1 e 2) ele apresenta maior capacidade de produção de força32.
Portanto, o comprimento muscular deve ser contro-
lado na avaliação da IM. Sugere-se a utilização de um
ângulo de 60º a 70º de flexão do joelho por ser o compri-
DISCUSSÃO mento ótimo de produção de força.
Em dois estudos28,30, não foram encontradas dife-
A IM é reportada como um dos fatores que acompanham renças significativas entre os sujeitos com OA e sau-
as doenças degenerativas, como a OA e a CP. O conhe- dáveis. Na comparação qualitativa entre os resultados
cimento em âmbito clínico sobre o tema pode permitir de IM dos grupos CP e OA, foi possível observar que
uma melhor compreensão da patologia e subsidiar a ela- a IM é relativamente superior na CP. Esses resultados
boração de programas de reabilitação. O objetivo do pre- não confirmaram a hipótese inicial e levantam o ques-
sente estudo foi, a partir de uma revisão da literatura exis- tionamento de não existir uma relação direta entre o
tente, levantar resultados de estudos que avaliaram a IM grau de degeneração articular e a IM.
na OA e na CP, e identificar possíveis diferenças no grau Uma das possíveis explicações para esses acha-
de IM associadas aos estágios do processo degenerativo. dos pode estar associada aos ângulos articulares.
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Fisioter Pesq. 2012;19(2):185-90
dos sujeitos e o efeito da camada adiposa subcutânea 8. O’Reilly S, Jones A, Muir KR, Doherty M. Quadriceps weakness in
knee osteoarthritis: the effect on pain and disability. Ann Rheum Dis.
sobre a transmissão do impulso elétrico. A idade dos 1998;57(10):588-94.
indivíduos incidiria sobre os percentuais dos tipos de 9. Pap G, Machner A, Awiszus F. Strength and voluntary activation of
fibras musculares. Com o avançar da idade, as fibras do the quadriceps femoris muscle at different severities of osteoarthritic
tipo II sofrem redução quantitativa32,33, diminuindo a joint damage. J Orthop Res. 2004;22(1):96-103.
capacidade de produção de força34-36. 10. Lewek MD, Rudolph KS, Mackler LS. Quadriceps femoris muscle
weakness and activation failure in patients with symptomatic knee
Esta revisão traz como principal limitação a ausência
osteoarthritis. J Orthop Res. 2004;22(1):110-5.
de análise estatística dos dados. Como principais con-
11. Rice DA, McNair PJ. Quadriceps arthrogenic muscle inhibition: neural
tribuições, ilustra a magnitude da IM durante o proces- mechanisms and treatment perspectives. Semin Arthritis Rheum.
so degenerativo articular e apresenta uma análise quali- 2010;40(3):250-66.
tativa dos estudos desenvolvidos sobre o tema. 12. Segal NA, Glass NA, Torner J, Yang M, Felson DT, Sharma L, et al.
Quadriceps weakness predicts risk for knee joint space narrowing in
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CONCLUSÃO 14. Suter E, Herzog W, Bray R. Quadriceps inhibition following
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Com base nos estudos selecionados e seus resultados, Avon.). 1998;13(4-5):314-9.
chegou-se à seguinte conclusão: desde o surgimento 15. Thomas AC, Sowers MF, Karvonen-Gutierrez C, Palmieri-Smith
da CP até a OA, a IM se faz presente, sendo inferior RM. Lack of quadriceps dysfunction in women with early knee
osteoarthritis. J Orthop Res. 2010;28(5):595-9.
no grupo OA. A diversidade de metodologias utiliza-
16. Segal NA, Glass NA. Is quadriceps muscle weakness a risk factor
das prejudicou a comparação direta dos resultados entre for incident or progressive knee osteoarthritis? Phys Sportsmed.
os artigos. Sugere-se que mais estudos experimentais 2011;39(4):44-50.
sejam desenvolvidos, com maior casuística e utilizando 17. Pietrosimone BG, Hertel J, Ingersoll CD, Hart JM, Saliba SA.
critérios bem definidos na metodologia, a fim de que no Voluntary quadriceps activation deficits in patients with tibiofemoral
osteoarthritis: a meta-analysis. PMR. 2011;3(2):153-62.
futuro se possa determinar com mais precisão a relação
18. Machner A, Pap G, Awiszus F. Evaluation of quadriceps strength
entre a IM e as doenças degenerativas articulares.
and voluntary activation after unicompartmental arthrosplasty
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