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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “Dr.

EDMUNDO ULSON”

UNAR

ADRIANA GIL RODRIGUÊS

MOTIVAÇÃO: REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO

ESCOLAR

ARARAS - SP

2009
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “Dr. EDMUNDO ULSON”

UNAR

ADRIANA GIL RODRIGUÊS

MOTIVAÇÃO: REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR

Trabalho Final de Pós Graduação


apresentado ao Centro Universitário de
Araras “Dr. Edmundo Ulson”, como
exigência parcial para obtenção do título
de especialista em Psicopedagogia
Institucional, sob orientação da Profª. MS.
Heloisa Lopes Queiroz Mengardo.

ARARAS - SP

2009
BANCA EXAMINADORA

________________________________

________________________________

________________________________

ARARAS – SP
2009
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e sobriedade, aos meus


familiares pelo apoio, carinho e compreensão e as
professoras que investiram na construção do
conhecimento.
DEDICATÓRIAS

A todos os educadores que buscam uma qualidade


melhor de ensino, visando o aprimoramento das
virtudes encontradas em cada ser humano, que é
dotado de revelações muitas vezes desconhecidas.
[...] ”O professor deve apostar na capacidade da
criança visando mais às suas qualidades do que
seus fracassos” (PORTO, 2007, p112).
SUMÁRIO

Agradecimentos iv
Dedicatória v
Resumo viii
1. Introdução 9
2. Objetivos e Questões de Pesquisa 10
3. Fundamentação Teórica 11
3.1 Motivação 11
3.1.1 Conceitos 11
3.1.2 Teorias 11
3.1.3 Intensidade de Motivação 12
3.1.4 Tipos de Motivação 13
3.1.5 Ensino e Aprendizagem 13
3.1.6 A motivação no processo de aprendizagem 14
3.1.7 O desenvolvimento da aprendizagem 15
3.2 O Meio 20
3.2.1 Assimilação x Acomodação 20
4. Metodologia 22
5. Análise dos Resultados nas Diferentes Áreas 29
5.1 Pedagógica 29
5.2 Cognitiva 29
5.3 Social 29
5.4 Afetiva 29
5.5 Psicomotora 30
5.6 Escolar 30
5.7 Familiar 30
6. Síntese dos Resultados – Hipótese Diagnóstico 31
7. Prognóstico 33
8. Resultados e Discussões 34
9. Considerações Finais 36
10. Referências Bibliográficas 39
11. Anexos 40
RESUMO

Para compreender as dificuldades no rendimento escolar do aluno, é necessário


considerar vários fatores relacionados com histórico do aluno bem como o meio em
que ele esta inserido. O processo de aprendizagem é mais significativo e vai além
de uma simples avaliação, requer envolvimento, prazer e estimulo.

Garantir o acesso e a permanência na escola não é suficiente faz-se necessário


uma relação de empatia que proporcione mutua troca de experiências, onde cada
um possa evoluir em seu desenvolvimento como ser humano.

A motivação encontrada no contexto do aluno infere de maneira significativa na


evolução do aprendizado, no qual proporciona a necessidade de crescimento e
evolução pessoal.
1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo informar e despertar o educador da


importância do contexto do aluno, do envolvimento como fator fundamental no
processo de ensino aprendizagem e da motivação que gera desejo para tal
transformação.
Para tanto, nesta pesquisa encontra-se suporte teórico e prático. Será
apresentado um estudo de caso realizado com um menino de nove anos que está
matriculado na 3ª. Série mas freqüenta a 2ª. Série como aluno ouvinte por ter
dificuldade de aprendizagem.
A relevância da investigação deve-se, principalmente, a questão das
dificuldades encontradas nos alunos, que são por muitas vezes conseqüências de
suas experiências, vínculos, estímulos e motivações.
Em segundo lugar, o trabalho aqui proposto é relevante porque revela a
importância de se atentar a fatos que estimulem os alunos e que despertem o
interesse pelo conhecimento como instrumento de cidadania
Finalmente, a relevância do projeto refere-se ao fato de que é possível
contribuir de maneira significativa para o crescimento intelectual de um individuo,
que inserido numa sociedade deve intervir para a melhoria de si mesmo e dos que o
cercam.
O trabalho aqui proposto tem como fundamentação teórica principal a
importância da motivação, conceitos, teorias, intensidade, tipos e relação com
Ensino e Aprendizagem, bem como o desenvolvimento escolar, assimilação e
acomodação.

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2. OBJETIVO E QUESTÕES DE PESQUISA

O objetivo desta pesquisa é conhecer, analisar e interferir de maneira positiva


na evolução da relação professor-aluno.
Dado este objetivo, as questões a serem investigadas nesta pesquisa são:

1- Conhecimento da motivação e suas influências no desenvolvimento escolar


do aluno.

2- Relações que se estabelecem entre as dificuldades de aprendizagem e as


possíveis transformações nas atitudes dos integrantes deste processo.

10
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 MOTIVAÇÃO

3.1.1 Conceitos
Motivação tem origem na palavra motivo, com o sentido de causa que está
psicologicamente ligada às ações do homem e dos animais em geral.
As ações humanas sempre estão relacionadas aos motivos e as forças que
levam a ação são denominadas impulso ou instinto.
Existem duas espécies básicas de forças responsáveis pelas ações: as
fisiológicas e as emotivas. A primeira está relacionada com sentimentos como a
fome, o sono, a doença, a fadiga, etc., enquanto que as emotivas estão ligadas ao
desejo de agradar e ser aceito pelas pessoas que convivemos.

3.1.2 Teorias
São inúmeras as teorias que tentam explicar a motivação. Entre elas,
destacam-se:
 A teoria do Condicionamento que tenta explicar quaisquer motivos
destacando um reforço externo que vai satisfazer uma necessidade
fisiológica;
 A Teoria cognitiva que valoriza a motivação intrínseca incluindo fatores
como objetivos, intenções e expectativas;
 A Teoria Humanista que estabelece uma hierarquia de necessidades e
motivos, entre eles, motivos fisiológicos, de segurança, necessidade de
participação e conhecimento além de necessidades estéticas e, por
último, a...
 Teoria Psicanalista que responsabiliza as experiências infantis como
fonte principal dos comportamentos posteriores.
Na Teoria Humanista, também existe uma longa lista que enumera as causas
que levam a ação, todavia, para simplificação, pode-se considerar a pequena lista
apresentada pelo sociólogo William I. Thomas, pelo fato dela ser muito conhecida e
abrangente. Segundo ele, um adulto normal apresenta quatro desejos fundamentais:

11
desejo de segurança, de correspondência, de aprovação social e desejo de novas
experiências.
O desejo de segurança é o motivo que nos leva a atender nossas
necessidades físicas, cuidar da saúde, trabalhar e adquirir bens.
O desejo de correspondência leva o ser humano a busca de contatos sociais
e sexuais. Todo adulto considerado normal, necessita da cumplicidade e de
relacionamento com pessoas cujos comportamentos e sentimentos tenham
afinidade com os seus.
Há também, a necessidade de se praticar atos e atitudes que sejam
aprovados pelo grupo social de convivência, o que caracteriza o desejo de prestígio
ou aprovação social.
Quanto ao desejo de novas experiências, é ele que leva o ser humano a
procurar a quebra da rotina e o faz variar com novas experiências visando à fuga da
monotonia.
Deve-se considerar uma hierarquia que classifica os motivos como primários,
instintivos e que podem ser inferiores e superiores. Essa hierarquia refere-se a
ordem de aparecimento dos motivos no desenvolvimento do indivíduo. Os motivos
fisiológicos aparecem como prioridade obstruindo os outros desejos até que eles
sejam satisfeitos, isto é, os desejos superiores aparecem em primeiro lugar. Um
exemplo é a necessidade de estar descansado, sem sono e sem fome para depois
procurar um relacionamento social na busca de convívio em grupo.

3.1.3 Intensidade de motivação


Percebe-se que um dos maiores desafios da psicologia é o problema da
medida da intensidade da motivação humana. Essa questão tem desafiado os
psicólogos há muito tempo e, provavelmente, nenhum outro problema é mais
fascinante e está em maior carência de uma solução sábia. Tal solução traria
inúmeros recursos práticos nos mais variados campos da atividade humana e,
sobretudo na escola, pois é de suma importância e consideração e o aferimento
dessa medida.
Infelizmente, as ciências humanas não são numéricas como as ciências
exatas e, sabe-se que, quanto mais numérica é uma ciência, maior é a eficiência das
suas aplicações práticas na vida cotidiana.
12
3.1.4 Tipos de motivação
Segundo Novak, existem três tipos principais de motivação no processo de
aprendizagem e estes, não são mutuamente exclusivas. Um dos tipos é chamado
motivação por engrandecimento do ego. Ele acontece quando o estudante
reconhece que, de um jeito ou de outro, está se saindo bem, isto é, está tendo
progresso e demonstrando competência. Provavelmente esse tipo de motivação é o
mais eficiente para a aprendizagem, pois, é o modo através do qual o indivíduo
engrandece sua imagem.
Quando o aprendiz se mostra motivado apenas para evitar conseqüências
desagradáveis, seja por punição ou por experiências que, de algum modo,
desagradam o seu ego, diz-se que a motivação é chamada de aversiva, que é o
segundo tipo principal de motivação considerada por Novak. Experimentalmente,
verifica-se que esse tipo de motivação não é eficiente como a motivação por
engrandecimento do ego, que é uma motivação natural e espontânea enquanto que,
a motivação aversiva acontece sob algum tipo de pressão psicológica.
O terceiro tipo, citada por Novak é chamada de motivação por impulso
cognitivo. Ele é uma consequência da motivação por engrandecimento do ego. A
necessidade de passar de um ano a outro, se livrar da disciplina para se graduar ou,
de alguma forma, progredir ou evitar o fracasso, podem levar a aprendizagem
apoiada nesse tipo de motivação considerada como impulso cognitivo.
Para o ensino e a aprendizagem, recomenda-se a preferência pela motivação
por engrandecimento do ego, de modo que, as atividades propostas procurem
enfatizar a necessidade do crescimento pessoal do estudante como um dos
recursos prioritários para seu sucesso como cidadão crítico e integrado no meio em
que atua.

3.1.5 Ensino e Aprendizagem


Em relação ao ensino e a aprendizagem, pode-se dizer que a motivação é
fundamental. Sem motivação não existe aprendizagem.
Estar disposto para aprender não significa, necessariamente, que irá ocorrer a
aprendizagem significativa, e é fundamental para que isso ocorra, a presença da
motivação no aprendiz.
13
Uma vez motivado, um aprendiz pode aprender, mesmo que com pouca
eficiência, sem professor, sem livros, sem escola e sem quaisquer recursos que
promovam a aprendizagem, no entanto, mesmo estando cercado de recursos, se
não existir alguma motivação de quem aprende, a aprendizagem não acontece.
Motivar significa predispor-se com um comportamento desejado para
determinado fim. Os motivos ativam o organismo na tentativa de satisfazer suas
necessidades e dirigem o comportamento para um objetivo que suprirá uma ou mais
necessidades.

3.1.6 A motivação no processo de aprendizagem


O processo de aprendizagem é pessoal, sendo resultado de construção e
experiências passadas que influenciam as aprendizagens futuras. Dessa forma a
aprendizagem numa perspectiva cognitivo-construtivista é como uma construção
pessoal resultante de um processo experimental, interior à pessoa e que se
manifesta por uma modificação de comportamento.
Ao aprender o sujeito acrescenta aos conhecimentos que possui novos
conhecimentos, fazendo ligações àqueles já existentes. E durante o seu trajeto
educativo tem a possibilidade de adquirir uma estrutura cognitiva clara, estável e
organizada de forma adequada, tendo a vantagem de poder consolidar
conhecimentos novos, complementares e relacionados de alguma forma.
O principal objetivo da educação é o de levar o aluno com certo nível inicial a
atingir um determinado nível final. Se conseguir fazer com que o aluno passe de um
nível para outro, então terá registrado um processo de aprendizagem.
Cabe aos educadores proporcionar situações de interação tais, que despertem no
educando motivação para interação com o objeto do conhecimento, com seus
colegas e com os próprios professores. Porque, mesmo que a aprendizagem ocorra
na intimidade do sujeito, o processo de construção do conhecimento dá-se na
diversidade e na qualidade das suas interações.
Por isso a ação educativa da escola deve propiciar ao aluno oportunidades
para que esse seja induzido a um esforço intencional, visando resultados esperados
e compreendidos.

3.1.7 O desenvolvimento da aprendizagem


14
A aprendizagem está envolvida em múltiplos fatores, que se implicam
mutuamente e que embora possamos analisá-los separadamente, fazem parte de
um todo que depende, quer na sua natureza, quer na sua qualidade, de uma série
de condições internas e externas ao sujeito.
No entanto, para a Psicologia, o conceito de aprendizagem não é tão simples
assim. Há diversas possibilidades de aprendizagem, ou seja, há diversos fatores que
nos leva a aprender um comportamento que anteriormente não apresentávamos um
crescimento físico, descobertas, tentativas e erros, ensino, etc. (BOCK, 1999, p.
114).
A aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo
aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A
aprendizagem é resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos,
bem como da transferência destes para novas situações.
De acordo com Bock (1999, p. 117), o processo de organização das
informações e de integração do material à estrutura cognitiva é o que os
cognitivistas denominam aprendizagem.
A abordagem cognitivista diferencia a aprendizagem mecânica da
aprendizagem significativa.
Bock (1999, p. 117) destaca que a aprendizagem mecânica refere-se à
aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma associação com
conceitos já existentes na estrutura cognitiva.
Já a aprendizagem significativa, segundo a autora, processa-se quando um
novo conteúdo (idéias ou informações) relaciona-se com conceitos relevantes, claros
e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim assimilado.
É necessário refletir que cada indivíduo apresenta um conjunto de estratégias
cognitivas que mobilizam o processo de aprendizagem. Em outras palavras, cada
pessoa aprende a seu modo, estilo e ritmo. Embora haja discordâncias entre os
estudiosos, estes são quatro categorias representativas dos estilos de
aprendizagem.
O conhecimento pode ainda ser aprendido como um processo ou como um
produto. Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, idéias e conceitos o
conhecimento surge como um produto resultante dessas aprendizagens, mas como
todo produto é indissociável de um processo, podemos então olhar o conhecimento
15
como uma atividade intelectual através da qual é feita a apreensão de algo exterior à
pessoa.
No nível social podemos considerar a aprendizagem como um dos pólos do
par ensino-aprendizagem, cuja síntese constitui o processo educativo. Tal processo
compreende todos os comportamentos dedicados à transmissão da cultura, inclusive
os objetivados como instituições que, específica (escola) ou secundariamente
(família), promovem a educação. Através dela o sujeito histórico exercita, usa
utensílios, fabrica e reza segundo a modalidade própria de seu grupo de
pertencimento. (PAÍN, 1985, p. 16).
Assim, na concepção vygotskyana, o pensamento verbal não é uma forma de
comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-
cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas
formas naturais de pensamento e fala.
Segundo Vygotsky (1993 p.44), uma vez admitido o caráter histórico do
pensamento verbal, devemos considerá-lo sujeito a todas as premissas do
materialismo histórico, que são válidas para qualquer fenômeno histórico na
sociedade humana.
Vygotsky (1991 p. 101) diz ainda que o pensamento propriamente dito é
gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos
interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-
volitiva. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é
possível quando entendemos sua base afetiva volutiva.
Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A
relação do individuo com o mundo está sempre medida pelo outro. Não há como
aprender e apreender o mundo se não tivermos o ouro, aquele que nos fornece os
significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. Veja bem, Vygotsky
defende a idéia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de nós
que vai se atualizando conforme o tempo passa ou recebemos influência externa.
(BOCK, 1999, p. 124).
Com isso entende-se que o desenvolvimento do individuo é um processo que
se dá de fora para dentro, sendo que o meio influencia o processo de ensino-
aprendizagem.

16
Segundo a concepção de Vygoysky se a aprendizagem está em função não
só da comunicação, mas também do nível de desenvolvimento alcançado, adquire
então relevo especial – além da análise do processo de comunicação – análise do
modo como o sujeito constrói os conceitos comunicados e, portanto, a análise
qualitativa das “estratégias”, dos erros, do processo de generalização. Trata-se de
compreender como funcionam esses mecanismos mentais que permitem a
construção dos conceitos e que se modificam em função do desenvolvimento.
(VYGOSTSKY, 1991, p. 2).
Pode-se afirmar que a aprendizagem acontece por um processo cognitivo
imbuído de afetividade, relação e motivação. Assim, para aprender é imprescindível
“poder” fazê-lo, o que faz referência às capacidades, aos conhecimentos, às
estratégias e às destrezas necessárias, para isso é necessário “querer” fazê-lo, ter a
disposição, a intenção e a motivação suficientes.
Para ter bons resultados acadêmicos, os alunos necessitam de colocar tanta
voluntariedade como habilidade, o que conduz à necessidade de integrar tanto os
aspectos cognitivos como os motivacionais.
A motivação é um processo que se dá no interior do sujeito, estando,
entretanto, intimamente ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o
meio, principalmente, seus professores e colegas. Nas situações escolares, o
interesse é indispensável para que o aluno tenha motivos de ação no sentido de
apropriar-se do conhecimento.
A autora Bock (1999, p. 120) destaca que a motivação continua sendo um
complexo tema para a Psicologia e, particularmente, para as teorias de
aprendizagem e ensino.
A motivação é um fator que deve ser equacionado no contexto da educação,
ciência e tecnologia, tendo grande importância na análise do processo educativo.
A motivação apresenta-se como o aspecto dinâmico da ação: é o que leva o
sujeito a agir, ou seja, o que o leva a iniciar uma ação, a orientá-la em função de
certos objetivos.
A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a
partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de
satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um organismo que
apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade
17
ou uma predisposição para agir. A motivação está também incluída o ambiente que
estimula o organismo e que oferece o objeto de satisfação. E, por fim, na motivação
está incluído o objeto que aparece como a possibilidade de satisfação da
necessidade. (BOCK, 1999, p. 121).
Uma das grandes virtudes da motivação é melhorar a atenção e a
concentração, nessa perspectiva pode-se dizer que a motivação é a força que move
o sujeito a realizar atividades.
Ao sentir-se motivado o individuo tem vontade de fazer alguma coisa e se
torna capaz de manter o esforço necessário durante o tempo necessário para atingir
o objetivo proposto.
Bock (1999, p. 121) também afirma que a preocupação do ensino tem sido a
de criar condições tais, que o aluno “fique a fim” de aprender.
Diante desse contexto percebe-se que a motivação deve ser considerada
pelos professores de forma cuidadosa, procurando mobilizar as capacidades e
potencialidades dos alunos a este nível.
Torna-se tarefa primordial do professor identificar e aproveitar aquilo que atrai
a criança, aquilo do que ela gosta, como modo de privilegiar seus interesses.
Motivar passa a ser, também, um trabalho de atrair, encantar, prender a
atenção, seduzir o aluno, utilizando o que a criança gosta de fazer como forma de
engajá-la no ensino.
Bock cita algumas sugestões de como criar interesses:
1. Propiciando a descoberta. Bruner é defensor desta proposta. O aluno deve
ser desafiado, para que deseje saber, e uma forma de criar este interesse é dar a
ele a possibilidade de descobrir.
2. Desenvolver nos alunos uma atitude de investigação, uma atitude que
garanta o desejo mais duradouro de saber, de querer saber sempre. Desejar saber
deve passar a ser um estilo de vida. Essa atitude pode ser desenvolvida com
atividades muito simples, que começam pelo incentivo á observação da realidade
próxima ao aluno – sua vida cotidiana - os objetos que fazem parte de seu mundo
físico e social. Essas observações sistematizadas vão gerar dúvidas (por que as
coisas são como são?) e aí é preciso investigar, descobrir.
3. Falar ao sempre numa linguagem acessível, de fácil compreensão.

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4. Os exercícios e tarefas deverão ter um grau adequado de complexidade.
Tarefas muito difíceis, que geram fracasso, e tarefas fáceis, que não desafiam,
levam à perda do interesse. O aluno não “fica a fim”.
5. Compreender a utilidade do que se está aprendendo é também
fundamental. Não é difícil para o professor estar sempre retomando em suas aulas a
importância e utilidade que o conhecimento tem e poderá ter para o aluno. Somos
sempre “a fim” de aprender coisas que são úteis e têm sentido para nossa vida.
(BOCK, 1999, p. 122).
O professor deve descobrir estratégias, recursos para fazer com que o aluno
queira aprender, deve fornecer estímulos para que o aluno se sinta motivado a
aprender.
Ao estimular o aluno, o educador desafia-o sempre, para ele, aprendizagem é
também motivação, onde os motivos provocam o interesse para aquilo que vai ser
aprendido.
É fundamental que o aluno queira dominar alguma competência. O desejo de
realização é a própria motivação, assim o professor deve fornecer sempre ao aluno
o conhecimento de seus avanços, captando a atenção do aluno.

19
3.2. O MEIO
Como argumenta Dolle e Bellano (1989) o meio ou as condições iniciais são
desiguais logo os resultados são diferentes. Este período de estudo permitiu uma
reflexão sobre a importância do meio no processo ensino-aprendizagem.
Os mesmos autores ainda consideram que quando aproximamos o sujeito ao
seu meio percebemos duas situações que podem determinar o fracasso escolar, são
elas o abandono e a super proteção. Nas duas situações a criança é impedida de
atuar sobre o meio, pela negligência ou por excesso de zelo.
Além do meio, podemos resgatar a história da criança. Para compreender,
como argumenta Dolle e Bellano (1989), o momento que foi impedida de agir.
Para entender as escolhas de um sujeito é necessário perceber o que
compõem seu meio, isto é, os sujeitos, os objetos e as regras; como um conjunto
interligado. Havendo a necessidade de aprimorar os métodos de observação,
avaliação, educação e conhecimento da criança estudada. Os mesmos autores
argumentam que por meio de uma intervenção direta esta criança pode aprender
superando suas dificuldades de aprendizagem.
Para Dolle e Bellano (1989) as interações permanentes e ativas do sujeito em
seu meio promovem a adaptação. Estas ações transformam o meio e o sujeito. O
fato de não podermos escolher o meio não determina o sucesso ou fracasso; nossas
ações podem promover transformações no meio e no sujeito.

3.2.1 Assimilação x Acomodação


Piaget apud Dolle e Bellano (1989) cita duas invariantes funcionais, que ele
denomina assimilação e acomodação. A assimilação modifica o sujeito
estruturalmente e pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento. Pode ser
observada em gestos, esquemas mentais ou no raciocínio. Quando a assimilação
fracassa ou se torna impossível, produz a acomodação.
Os mesmos autores ainda consideram que assimilação e acomodação são
estados opostos de equilíbrio e desequilíbrio. O que contribui para o crescimento do
indivíduo e suas transformações constantes.
Segundo os autores o sujeito independente do nível de desenvolvimento
estrutura - funcional, é necessariamente um composto dos sistemas de tratamento,
de significação e de registros. No sistema de tratamento estão disponíveis as
20
atividades construídas no presente; no sistema de significação as memórias ou
lembranças do indivíduo são importantes para que haja a assimilação; e o sistema
de registros é constituído das percepções visual, olfativa, auditiva, tátil e gustativa.
Nas interações com o meio, esses sistemas promovem o crescimento do indivíduo
sua adaptação e intervenção.
Dolle e Bellano (1989) observam que as estruturas se manifestam no conjunto
do afetivo, cognitivo e social.

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4. METODOLOGIA

I – Identificação da criança
Nome: João (nome fictício) – 9 anos
Sexo: Masculino
Série: Matriculado 3ª série e freqüenta a 2ª série

II – Queixa
Dificuldades para se alfabetizar

III – Período de Avaliação


Foram realizadas 12 sessões – de junho a outubro/2009

IV – Instrumentos Utilizados

Perfil da Escola (Anexo 1)


Análise das informações
Todas as vezes que fomos há escola tivemos a sensação de incômodo por
parte dos envolvidos, como se estivéssemos querendo investigar os procedimentos
internos. Por esse motivo, tomamos o cuidado de deixar o pessoal da escola bem à
vontade e acatamos as condições que nos foram colocadas. Foi possível observar
um pouco de descaso por parte da administração.

As Entrevistas com o Professor


Análise das informações – 1ª entrevista (Anexo 2)
Foi possível perceber nas palavras da professora Joana (nome fictício), que
ela tem autonomia, para trabalhar de forma diversificada ás atividades planejadas.
Não havendo uma metodologia ou prática específica.
Promove um ambiente agradável para que o convívio seja de respeito e com
o aprendizado significativo. Desenvolve um bom relacionamento afetivo com seus
alunos, mas deixa claro a usa condição de professora.
Utiliza-se de tarefas de casa como um reforço/auxílio na aprendizagem e tem
a avaliação como ferramenta para detectar as dificuldades de seus alunos.
22
Segundo a professora, ela gostaria que houvesse maior participação dos pais.
“Seria fundamental que os pais participassem mais da vida escolar de seus
filhos” (fala da professora).
Quanto aos colegas de trabalho, equipe de apoio e direção, mantém-se uma
relação tranqüila.
A professora se diz cansada e tem vontade de se aposentar logo, pois
considera que está cada dia mais difícil lecionar, seja por questões socioeconômicas
e culturais dos alunos, seja pelo sistema educacional que considera falho.

Análise das informações – 2ª entrevista (Anexo 3)


A entrevista inicialmente estava um pouco evasiva, a professora não estava
prontamente disponível. Não havia uma abordagem ou uma explicativa sobre a
questão escolhida. Não fazia nenhum comentário.
Tentamos então, sutilmente com que ela fizesse uma abordagem mesmo que
fosse bem simples e com o tempo ela foi ficando mais aberta às questões.
Referiu-se ao aluno como uma criança que parece ter uma inteligência
normal, não é repetente, mas que não tem muito interesse para realizar as
atividades propostas. Sempre o aluno dá início, mas não conclui as tarefas. Fica
irritadiço, risca a folha do seu caderno e não pergunta quando fica com dúvida.
Segundo a professora, a mãe deste aluno o trata com cuidados excessivos,
faz todas as vontades do menino. Talvez esse seja um dos motivos porque ele falta
tanto e também porque tem um vocabulário bem infantil para idade dele. A mãe não
é uma mãe presente na escola.
Em geral, o aluno tem um bom relacionamento com os colegas e com a
professora, a não ser quando é criticado, ignora a situação.
Em alguns momentos, segundo a professora, o aluno parece ter uma boa
memória, mas já em outros parece não fixar os conhecimentos, como por exemplo,
as letras, sílabas, palavras e também os números até 100. Possui uma letra legível.
Tem sua capacidade visual e auditiva normal.
Mostra dificuldades para resolver situações problemas, pois não consegue
fazer a leitura dos mesmos e também não tem muita noção das operações
matemáticas. Dá preferência para as atividades com desenho e pintura.

23
Em sala de aula, o aluno fala em demasia, está sempre inquieto e ansioso. A
professora precisa explicar muitas vezes o conteúdo e mesmo assim parece não
escutar, não presta atenção. E ao mesmo tempo em que é introvertido está se
envolvendo em brigas constantes.
No dia-a-dia, prefere correr a andar. Tem atitudes infantis para a idade e age
impensadamente quando é provocado.
Segundo a professora, o aluno tem muitas dificuldades para aprender e
especialmente para ler.

Anamnese (Anexo 4)
Análise das informações obtidas
Com base nas informações obtidas pode ser que o aluno tenha apresentado
dificuldades no processo de aprendizagem, isso foi agravado pelo fato de não haver
a participação dos pais na vida escolar do filho. Pode ser que esse conjunto de
fatores tenha gerado o problema.

Procedimento:
O primeiro contato foi marcado na escola, mas a mãe não compareceu,
alegou que esqueceu. Em outra data agendada o encontro foi realizado com
sucesso. A mãe respondeu a todas as perguntas com calma e simplicidade,
mostrando-se disposta a auxiliar sempre que preciso.

Hora Lúdica (Anexo 5)


Por a criança ser bem reservada, a atividade foi um pouco trabalhosa, mas
que deu muito certo.
Acreditamos que por ela não nos conhecer direito, um local que ela não usa
na escola e também sendo observado o tempo todo, fez com que a atividade fosse
mais demorada, com muita cautela para que não assustássemos a criança.
Em geral, a criança foi bem nas atividades, só o que nos preocupou mais foi
na atividade do dominó que ela não conseguiu realizar a leitura direito.
Concluímos que se estivéssemos no lugar dela, acharíamos a situação
incomum e desconfortante, pelo fato de ser expor, mostrar suas fragilidades,
intimidades etc.
24
Esperamos que este estudo de caso venha contribuir positivamente para esta
criança e também para nós como profissionais.

Avaliação do Conhecimento Operatório e/ou Formal (Anexo 6)


Analise das informações
O aluno concluiu satisfatoriamente todas as Provas referentes à sua idade.
Demonstrou capacidade em formular hipóteses e deduções; por exemplo, na
Prova de Conservação dos Volumes Espaciais, deduziu que se a “menina” que fez o
segundo modelo (2x3x4) na mesma altura do primeiro modelo (3x3x4) sobrariam
peças.
A criança apresenta pensamento formal. O diagnóstico está adequado a sua
faixa etária.
Parece-nos até o momento que a criança quando estimulada demonstra
capacidade de classificação multiplicativa relacionando linhas e colunas combinando
os elementos entre si. Quanto à Conservação de Peso demonstrou através de seus
argumentos a noção de que o peso pode ser mantido mesmo transformando sua
aparência.
Durante a Prova de Coordenadas Espaciais o aluno demonstrou facilidade e
quando questionado era categórico em dizer que o outro jovem estava errado.
Apenas na figura 4 ele admitiu que o outro jovem estivesse certo demonstrando
compreensão do sistema de referências espaciais.
Mesmo não sendo necessário realizar as Provas de Seriação no Nível das
Proposições e de Operações Proposicionais Combinatórias, as aplicamos, e o aluno
apresentou um desempenho satisfatório.

Avaliação Psicomotora (Anexo 7)


Análise das Informações
Parece-nos que a criança trabalha os músculos de forma independente,
mantém o equilíbrio com os olhos fechados, reconhece direito-esquerda e
demonstra noção do esquema corporal.

Avaliação da Linguagem (Anexo 8)


Analise das informações
25
A criança tem muita dificuldade para se expressar oralmente e através da
escrita. Ainda mais pela escrita. Não conhece todas as letras do alfabeto, sílaba,
palavra, frase e também não produz texto convencionalmente.
A criança chegou a ficar irritada, porque havia muitas coisas que não sabia
fazer de maneira autônoma e também com ajuda.
Segundo a sua professora, acredita que a criança tenha algum bloqueio
emocional que tem prejudicado a aprendizagem desta criança. E que tem que
intervir o tempo todo nas atividades diversificadas (1ª série), que lhe são dadas.
Além de faltar muito nas aulas.
Em outras atividades já percebemos que não consegue gravar por muito
tempo uma informação.

Avaliação do Raciocínio Aritmético (Anexo 9)


Análise das informações.
No item A (noção de ordem numérica) o aluno realizou o solicitado;
apresentou dificuldades em contar de trás para frente e de dois em dois.
Quanto ao cálculo mental o aluno demonstrou ansiedade ao responder. Pelos
resultados das operações, parece não compreender a idéia de multiplicação,
subtração e divisão.
No item C (compreensão de enunciados) o aluno demonstrou compreensão
apenas quando a situação – problema envolvia adição.
Quanto ao valor posicional o aluno realizou as solicitações com sucesso. Na
escrita aritmética não demonstrou compreensão, pois o resultado sugerido foi 715.
Quando questionado sobre o “todo” na primeira situação ele percebeu através da
contagem, no entanto na segunda situação (derrubar o conteúdo de um dos copos)
ele respondeu: 30, e quando questionado, disse: “Só tem três negocinho que conta”.
Já no pensamento multiplicativo em algumas situações mostra compreender e
outras não.
No item sobre autonomia de raciocínio aritmético, respondeu que o capitão
tem 20 anos (adicionou 10 carneiros e 10 bodes).
Quando interrogado sobre o capitão ele disse: Ele é novo, cabeludo, perna de
pau, ruim e se chamava Barba Ruiva.

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Jogos Dirigidos (Anexo 10)
O aluno demonstrou interesse em todas as atividades propostas. Durante a
aplicação dos testes percebemos que quando estimulado ele realiza as tarefas com
entusiasmo.
Durante a realização dos testes que não envolviam o domínio da leitura e
escrita o aluno parece mais disposto a participar, principalmente quando envolve
situações lúdicas.
O pouco estímulo dos pais e as muitas faltas agravam as dificuldades de
memorização das letras do alfabeto o domínio da leitura e escrita bem como a
resolução de situações que envolvam cálculo mental.
Pensamos que o maior envolvimento da família com a vida escolar e através
de jogos, brincadeiras, trabalhos em grupos e outras atividades que estimulem a
mobilização do aluno na escola ele conseguirá superar suas dificuldades.

Avaliação do Material Escolar (Anexo 11)


Análise das Informações

A) Observação do Espaço Gráfico


Organização e Cuidados, Desempenho Motor, Conteúdo.
Ficamos impressionadas ao ver o caderno da criança, pois imaginávamos um
caderno desmontado e cheio de “orelhas”, mas é bem organizado e limpo. Não tem
borrões de borracha. Quanto ao conteúdo está de acordo com o nível de
aprendizagem do aluno. Ainda achamos que poderia trabalhar com atividades que o
estimulassem a participar e criar situações motivadoras e criativas.

B) Avaliação da interação do professor com o material


Pensamos que as atividades poderiam ser mais atrativas. Menos tradicionais.

C) Avaliação do uso de livros


Talvez o uso de um livro pudesse favorecer a leitura de imagens, interação
com o conteúdo e acesso a vários gêneros textuais.

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D) Considerações
Esperava-se que se houvesse um pouco mais de envolvimento da escola, da
família e até mesmo da criança, inserido num processo diferenciado, com outras
estratégias, poderiam ajudar o aluno com defasagem escolar. Acreditamos apesar
do sistema adotado, que pode-se fazer algo mais pelas crianças, oferecendo um
ambiente propício e prazeroso, onde a aprendizagem possa acontecer.
Algumas atividades como cruzadinhas, caça palavras, alfabeto móvel,
material dourado, jogos, podem ajudar esta criança a se interessar mais e ter um
aprendizado prazeroso. É importante também que a professora esteja motivada a
participar do processo de aprendizagem desta criança, que está com uma
defasagem muito significante no seu aprendizado.
A mãe também deve ser estimulada pela escola em participar da vida escolar
da criança, através de atividades convidativas: palestras, elogios etc.

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5. ANÁLISE DOS RESULTADOS NAS DIFERENTES ÁREAS

5.1 Pedagógica
A criança tem o caderno de classe muito bem organizado, mas nem todas as
tarefas foram realizadas. A professora de queixou que a criança não realizava as
lições de casa, pois diz sempre que esquece. Pensamos que as atividades poderiam
ser melhores planejadas para atender as necessidades da criança. Havia algumas,
porém parecia não ter um direcionamento adequado, um trabalho individualizado. A
primeira professora com quem iniciamos as entrevistas, na sua fala parecia não
estar muito satisfeita com a Educação em Geral, falta pouco para se aposentar e
não fez elogios a criança em questão. Já a segunda professora, nos pareceu um
pouco mais interessada pela criança, mas isso só aconteceu no início do 2º
semestre.

5.2 Cognitiva
A criança parece ter em alguns momentos, vontade de aprender e participar.
Nas Provas Piagetianas, teve um bom desempenho, mas na escrita apresenta
muitas dificuldades, não reconhece letras, palavras, frases e não escreve textos
convencionalmente, acreditamos que a sua timidez, a sua auto-estima rebaixada,
falta de estímulos da família e da escola e a insegurança são fatores que contribuem
significativamente no desenvolvimento de suas habilidades e potenciais, que neste
momento não estão compatíveis com a série que se encontra.

5.3 Social
Tem amizades na escola, estuda junto com seu irmão. Nas atividades livres,
hora do recreio, Educação Física, parece ser uma criança alegre e participativa.
Parece ter um bom relacionamento com seu irmão e colegas de escola.

5.4 Afetiva
É uma criança introspectiva quando se trata de aprender algo novo. Fala
pouquíssimo, é insegura, cabisbaixa, não olha nos olhos. Tem muita vergonha de
errar e quando elogiada, fica sem jeito.
5.5 Psicomotora
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Parece-nos que a criança trabalha os músculos de forma independente,
mantém o equilíbrio com os olhos fechados, reconhece direito-esquerda e
demonstra noção do esquema corporal.

5.6 Escolar
Tem todo o material bem organizado, segundo a professora a criança não
costuma esquecer os materiais escolares. Parece ter um bom relacionamento com a
professora atual.

5.7 Familiar
A família é composta por 7 pessoas, a mãe e seis filhos. As crianças ficam
muito na rua. A mãe parece não ter interesse pela vida escolar da criança, que
parece utilizar a escola como um meio para brincar, se divertir e se alimentar.
Não tem um comprometimento, responsabilidade, a criança é quem decide o
que ela vai fazer.

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6. SÍNTESE DOS RESULTADOS – HIPÓTESE DIAGNÓSTICA

A criança em questão apresenta muitas dificuldades na escrita e leitura, na


matemática com operações de adição e subtração simples (só com unidades), se sai
bem. Gosta de atividades livres e fica bem à vontade.
Percebemos que não há muitos estímulos na escola e na família.
A criança inicialmente freqüentava a 3ª série, depois a removeram para a 2ª
série e não nos avisaram e nem explicaram o por que. Somente depois, em
conversa com a atual professora, é que ficamos sabendo que seria mais
interessante que ele freqüentasse as aulas no período da manhã, porque a tarde
poderia participar do reforço e também ficaria na sala do seu irmão (2ª série).
Observando esta rotina, percebemos que não está dando resultado, pois não
havia um direcionamento para as reais necessidades da criança. O reforço é mais
um momento de lazer.
Notamos que a criança precisa de estímulos que a ajudem a melhorar o seu
desempenho. Neste momento não sabe ler, escrever e não produz nenhum tipo de
texto e falta muito ás aulas. Tem a fala infantil e não consegue cumprir
compromissos. Faltou em vários encontros e não avisou. Segundo a criança falta,
porque a mãe pediu para ficar com a irmã.
Desta forma percebemos que a mãe também não demonstra interesse em
participar da vida escolar da sua criança. Conforme colocado inicialmente nos
primeiros relatórios, parecia haver por parte da mãe uma super proteção, mas isso
não é o que ocorre. A criança simplesmente decide o que ela quer fazer.
Conversamos com a mãe sobre a importância de participar do processo de
aprendizagem da sua criança e que ela precisa de estímulos, como palavras de
incentivo, regras, disciplina, cumprir com os deveres de casa e da escola, sem
deixar de vivenciar a sua fase de criança.
A criança se mostra desinteressada em muitas situações, como se a
atividade, a escola não lhe chamasse atenção no que diz respeito a aquisição de
conhecimento.
Não observamos sinais claros de distúrbios, há sim muitas dificuldades para
conversar, expor seus conhecimentos prévios, ler, escrever, reconhecer letras do
alfabeto e participar de atividades que propõe algum desafio.
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Nas atividades realizadas, percebemos que a criança até fazia algumas
tentativas, mas com medo de errar se recusava a continuar.
Pensamos então que, a falta de estímulos da família e da escola, são fatores
que vêm influenciando significativamente na vida escolar desta criança. Por não ser
uma criança peralta, acaba sendo esquecida na sala de aula, até porque não
consegue acompanhar o restante dos alunos.

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7. PROGNÓSTICO

Seria interessante que a professora fizesse mensalmente sondagens para


verificar o quanto a criança avançou, realizar avaliações para saber o que ainda não
aprendeu. Para começar, pode solicitar que a criança reconte um conto, faça uma
lista de palavras que já conhece ou mesmo para analisar a escrita desta criança.
Oferecer jogos de desafios. Propor atividades de cruzadinha, alfabeto móvel,
material dourado etc.
Quanto a mãe, mostrar através de reuniões, ou se for o caso até por
convocação, o quanto a escola é importante na vida da sua criança e o quanto o
papel da mãe incentivadora é essencial para aumentar a auto-estima desta criança.
Fazer um trabalho bem planejado, direcionado e individualizado quando
necessário, fará toda a diferença para desenvolver habilidades e conhecer o
potencial da criança.

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8. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificamos através deste estudo a importância de levarmos em consideração


o meio e a “história” de uma criança que apresenta dificuldades na aprendizagem.
A experiência dos autores estudados revela que para entendermos melhor a
rendimento escolar não podemos apenas considerar a atividade cognitiva é
necessário entender o conjunto de condutas.
O sentimento de fracasso é muitas vezes percebido por reações de rejeição,
desgosto, cólera e agressividade.
Existe uma ligação muito forte entre o campo cognitivo e afetivo. A afetividade
acompanha todas as atividades.
Cada aluno necessita ser encarado como indivíduo, único. É importante um
tratamento personalizado sem comparações.
Essas considerações nos ajudaram a refletir sobre a hipótese diagnóstica
para o estudo de caso.
Desde a primeira vez que fomos à escola solicitar o encaminhamento de um
aluno que apresentasse dificuldades de aprendizagem a diretora comparou o
desempenho do aluno aos de suas irmãs e primas.
As queixas relatadas pela professora demonstravam o pouco interesse em
aplicar atividades diferenciadas a fim de minimizar as dificuldades detectadas.
Quando entrevistada a mãe do aluno parecia não ter certeza de quem era o
pai ou até mesmo onde este trabalhava. O aluno faltava muito e pouco falava.
O encontro com o menino foi muito interessante esperávamos um menino
desinteressado para nossa surpresa ele não se negou a realizar as provas, e seu
desempenho foi muito bom, principalmente nas provas que envolviam: pensamento
lógico, noção de conservação e seriação operatória. O mesmo desempenho não foi
observado quando as provas exigiam a escrita e a leitura.
Com base nas aulas e leituras começamos a estabelecer alguns fatores que
podem influir no desempenho do aluno.
No ambiente familiar: pais que não participam da vida escolar, fatores
socioeconômicos desfavoráveis, falta de diálogo, alimentação insuficiente e déficit
de hábitos de higiene.

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No ambiente escolar: metodologia imprópria, falta de equipamentos e
materiais, corpo docente e administrativo desmotivado.
O ambiente escolar parece ter ficado um pouco mais atraente quando o aluno
foi remanejado para o período matutino, a professora demonstrava mais interesse
em aplicar atividades diferenciadas e a escola passou a oferecer aulas de reforço.
Mesmo assim o aluno ainda apresenta problema de assiduidade.
Sugerimos a mãe que acompanhasse mais a vida escolar do filho,
freqüentado à escola sempre que solicitado e promovendo um ambiente favorável
ao aprendizado contando histórias da família e recortado rótulos de embalagens
usadas no dia-a-dia estimulando seu filho na leitura e escrita.
À professora sugerimos atividades com livros da biblioteca, e atividades
lúdicas principalmente nas aulas de reforço que estimulem a leitura e escrita.
Esta experiência foi significativa, pois me fez refletir sobre a importância de
conhecermos melhor o “mundo” de nossos alunos, promovendo ações de
construção do conhecimento tendo como ponto de partida sua realidade e suas
habilidades.
No caso estudado o menino tem habilidade com desenho e pintura que não
são exploradas no processo ensino-aprendizagem. Estas ações promoveriam sua
auto estima o que poderia ser um caminho para superação de suas dificuldades na
leitura, escrita, cálculo mental e resolução de problemas.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo


aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. A
aprendizagem é resultante do desenvolvimento de aptidões e de conhecimentos,
bem como da transferência destes para novas situações.
A estrutura cognitiva do aluno tem que ser levada em conta no processo de
aprendizagem. Os conhecimentos que o aluno apresenta e que correspondem a um
percurso de aprendizagem contínuo são fundamentais na aprendizagem de novos
conhecimentos.
São os conhecimentos que o aluno já possui que influenciam o
comportamento do aluno em cada momento, uma vez que disponibiliza os recursos
para a aptidão.
É necessário refletir sobre o que é o conhecimento e perceber que é algo de
complexo que deve ser entendido como um processo de construção e não como um
espelho que reflete a realidade exterior.
O professor deve utilizar as estratégias que permitam ao aluno integrar
conhecimentos novos, utilizando para tais métodos adequados e um currículo bem
estruturado, não se esquecendo do papel fundamental que a motivação apresenta
neste processo.
As técnicas de incentivo que buscam os motivos para o aluno se tornar
motivado, proporcionam uma aula mais efetiva por parte do docente, pois ensinar
está relacionado à comunicação.
O ensino só tem sentido quando implica na aprendizagem, por isso é
necessário conhecer como o professor ensina e entender como o aluno aprende, só
assim o processo educativo poderá acontecer e o aluno conseguirá aprender a
pensar, a sentir e a agir.
Não há aprendizagem sem motivação, assim um aluno está motivado quando
sente necessidade de aprender o que está sendo tratado. Por meio dessa
necessidade, o aluno se dedica às tarefas inerentes até se sentir satisfeito.
Considerando os argumentos de Dolle e Belano o abandono pode determinar
o fracasso de uma criança, pois ela é impedida de atuar sobre o meio por
negligência.
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O histórico ajuda a compreender em que momento o processo ensino-
aprendizagem parou ou foi bloqueado. No estudo de caso percebemos a negligencia
da família, pois a mãe não comparece na escola quando solicitada e não incentiva a
freqüência nas aulas. Durante a anamnese a mãe relatou que a professora
encaminhou seu filho a psicóloga, mas que ela não o levou.
A professora Joana realizou uma pesquisa com alunos que apresentavam
dificuldades de aprendizagem, os alunos foram divididos em três grupos. O aluno do
estudo de caso apresentou características semelhantes às do primeiro e terceiro
grupo, são elas: atraso na linguagem, pouca comunicação com a mãe, capacidade
de representação. A professora sugere atividades que estimulem a construções de
esquemas de ações, e a solicitação de comunicação é fundamental para que a
criança compreenda o mundo, dizendo o que pensa e como pensa.
Dolle e Belano realizaram a aplicação das Provas Piagetianas para
estabelecer o diagnostico, bem como apontar a terapia indicada. No caso do João
as provas que não envolviam leitura e escrita, foram realizadas com facilidade e
entusiasmo, parece que ele não via o tempo passar; no entanto quando as provas
envolviam escrita, leitura e cálculo, o menino terminava a atividade e queria sair
imediatamente da sala, sabia que não tinha alcançado o objetivo e queria livrar-se
daquela situação. Nesses momentos lembrávamos-nos do que tínhamos lido sobre
a assimilação e acomodação; quando a assimilação fracassa produz a acomodação.
As experiências mostram que nestes casos é preciso o envolvimento das
pessoas que convivem com essas crianças que não aprendem, planejando
atividades que mesclem prazer e saber. Descobrimos a habilidade de desenho e de
pintura, sugerimos a professora que planejasse atividades estimulantes e
desafiadoras, que envolvessem essas habilidades.
Para que possamos ter um diagnóstico mais exato é necessário o
acompanhamento profissional, tanto de um médico com de um psicólogo para que
se realize exame clínico e uma terapia familiar.
Durante os encontros com o menino percebemos que quando estimulado
apresenta capacidade de classificação e seriação. No entanto, a avaliação da
linguagem foi decisiva para detectarmos as dificuldades de leitura e escrita. O
menino não conhece as letras do alfabeto e quando solicitado fica irritado. O pouco

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estímulo dos pais e as faltas agravam o problema de memorização e domínio da
leitura e escrita.
Se houvesse envolvimento da escola, da família e até do menino essas
dificuldades poderiam ser superadas.
A mãe também deve estabelecer limites para o menino e participar nas
atividades promovidas pela escola.
Não foram observamos sinais de distúrbios, há sim muitas dificuldades para
conversar, expor seus conhecimentos prévios, ler, escrever, reconhecer as letras e
participar de atividades que propõe algum desafio. Um trabalho bem planejado,
direcionado e individualizado quando necessário, fará diferença para desenvolver
habilidades e conhecer o potencial do menino.
Esta experiência nos ajuda a refletir na importância de conhecermos melhor
nossos alunos seus potenciais e suas habilidades. Bem como descobrir interesses
que geram motivação que como conseqüência resulta em transformação.
Mais que ensinar é preciso se envolver.

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOCK, Ana M. Bahia (org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia.


13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

CARVALHO, M. P. O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero


e cor/raça.
Caderno pag. (22), 2004.

DOLLE, J. M. e BELLANO, D. Essas crianças que não aprendem.


Petrópolis: Vozes, 1989.

LURIA; LEONTIEV; VYGOTSKY e outros. Psicologia e Pedagogia: Bases


Psicológicas da Aprendizagem e do Desenvolvimento. São Paulo: Moraes, 1991.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 3ª edição.


Porto Alegre, Artes Médicas, 1989

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1991.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

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