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Alforrias, Rita Santana PDF
Alforrias, Rita Santana PDF
Alforrias
tempo e serenidade. Felizmente, nos tempos nada sere-
Ele vai e volta! nos de hoje, determinadas vozes vêm contrariar teorias
Rita Santana é atriz, escritora e professora gra- Cada vez mais perdulário dos meus perdões. e disposições, impondo-se afirmativas. ALFORRIAS,
duada em Letras pela FESPI/UESC, onde foi uma das mais recente livro de poemas da escritora e atriz Rita
organizadoras do projeto Universidade em Verso. É Cada vez mais disposto a cobrir de velários Santana, pertence a esta vertente, a conjugar contempo-
grapiúna nascida em Ilhéus em 22 de agosto de 1969. Meus velórios matutinos. raneidade e dramaticidade em estilo capaz de envolver
Viveu parte da adolescência em Itabuna - onde morou os leitores mais exigentes. O apolíneo e o dionisíaco
- e em Itapitanga - onde vivem os parentes maternos. Ele chega menino e se vai vilão, entrelaçam-se nos 28 poemas, que guardam relações in-
Sua atuação como atriz, iniciada em 1985, abran- Zorro assombrando minhas carnes. ternas dialógicas e estabelecem a circularidade de temas
ge trabalhos no cinema, no teatro e na televisão. Em e linguagem. Os poemas articulam-se uns aos outros,
1989 foi uma das fundadoras do grupo de teatro Caras esclarecendo-se progressiva e mutuamente. Parecem
e Máscaras. Iniciou sua carreira literária em 1993, pu- resultar de uma consciência existencial agônica atrela-
blicando textos no jornal Diário da Tarde, de Ilhéus. da a uma poética tensa e rigorosa, que busca a palavra
Em 1994 publica, através de Tica Simões, artigo sobre precisa, por vezes nova, ao mesmo tempo, plena e forte
a obra de Almeida Faria intitulado “A Beleza do Peso para traduzir as diversas libertações ou faces de uma li-
em Rumor Branco”, na Revista de Cultura e Litera- bertação amorosa, ansiada e dolorosa, expressa ao lon-
turas de Língua Portuguesa “Qvinto Império”. Neste go das páginas. Mais que tema, a sua matéria é o amor,
mesmo ano, publica seus primeiros contos no suple- apresentado como paixão, arrebatamento e êxtase, no
mento literário do jornal A Tarde, de Salvador. Publi- âmbito do universo feminino das relações de gênero e
cou o livro de contos “Tramela” através da Fundação de poder, uma vez perpassado por desejo, anseios e so-
Casa de Jorge Amado, pelo qual recebeu o Prêmio frimento. Essa “escriba crivada de falas” debate-se entre
Braskem de Cultura e Arte - Literatura – 2004, para “batalhas de tentares” e o “tear do tempo” a cumprir-se
autores inéditos. Em 2005 participa da antologia “Mão no universo, sob a forma de discurso. Discurso amoroso
Rita Santana
Cheia” e divulga o seu trabalho na Bienal do Livro da e discurso do desejo comungam desses textos pulsantes
Bahia e no Projeto Poesia na Boca da Noite. Em 2006 de vida, gozo, prazer e dores. O sujeito desejante e dese-
publica o livro de poesia “Tratado das Veias” pelo selo jado da voz poética femina, em riste, reveza papéis com
editorial As Letras da Bahia. Em 2009 – Participa da o objeto de um desejo que escorre por entre os versos de
agenda Brasil Retratos Poéticos 2010, Ed. Escrituras, extremas elegância e finuras, sempre a escapar à apre-
cuja seleção de textos é de José Inácio Vieira de Melo, ensão sensorial ou cognitiva plena, bem como à fruição
e da antologia poética Diálogos – Panorama da Nova esperada. Imagens, metáforas e pulsões trabalhadas em
Poesia Grapiúna, organizada por Gustavo Felicíssimo. linguagem contemporânea exacerbada, que trai a rela-
ção vital dessa poesia com o corpo e com instâncias que
Alforrias
o ultrapassam: “do anonimato dos dias/Tenho feito po-
esia secreta/E prosadura” – interfluências passíveis de
compreensão apenas no ato de leitura em si, tornando
qualquer tentativa de apresentação completamente des-
locada, imprecisa e precária, como toda leitura costuma
ser. Definitivamente, Alforrias descarta a necessidade
de espera de tempo e serenidade, em favor do encan-
tamento, da exacerbação e do reencontro com camadas
Rita Santana tantas vezes adormecidas. Magnífico livro de uma mu-
lher “dada a versos” contundentes e atuais, faz-se leitura
obrigatória hoje.
Maria de Fátima Maia Ribeiro
ALFORRIAS
Universidade Estadual de Santa Cruz
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
O svaldo B arreto F ilho - S ecretário
diretora da editUs
Maria Luiza Nora
Conselho Editorial:
Maria Luiza Nora – Presidente
Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro
Antônio Roberto da Paixão Ribeiro
Dorival de Freitas
Fernando Rios do Nascimento
Jaênes Miranda Alves
Jorge Octavio Alves Moreno
Lino Arnulfo Vieira Cintra
Marcelo Schramn Mielke
Maria Laura Oliveira Gomes
Marileide Santos Oliveira
Lourival Pereira Júnior
Raimunda Alves Moreira de Assis
Ricardo Matos Santana
ALFORRIAS
Rita Santana
Ilhéus - Bahia
2012
©2012 by Rita Santana
Revisão
Maria Luiza Nora
ISBN: 978-85-7455-271-2
CDD – 869.93
Às tias Dadá (in memoriam), Edna,
Solange e Olívia.
A Beatriz, minha mãe.
A dona Dedé.
A
George e Baísa,
a minha gratidão por Alforrias
virar livro nesta Casa.
[...]
E de todos, Soturno, nenhum foi tão coalescente
Hilda Hilst
Sumário
PREFÁCIO
(13)
A Escriba
(21)
Abismação
(23)
Ácaros e Culpas
(25)
Acridez
(27)
Agrestidade
(29)
Andorinha
(31)
Castidade
(33)
Catedral de Marfim
(35)
Crepúsculo das Vertigens
(37)
Desejo Exu
(39)
Deserto
(41)
Diário da Separação
(43)
Eco e Narciso
(45)
Eládio
(47)
Embate de víboras
(49)
Esbeltez
(51)
Herdade
(53)
Ílio
(55)
Inclemências
(57)
Mortes Cotidianas
(59)
Muda Nudez
(61)
O palácio de cristal
(63)
Percepção de Quereres
(65)
Selva
(67)
Severidade das Horas
(69)
Solitude do Vento
(71)
À Sombra do Divino
(73)
Tardo Amor
(75)
PREFÁCIO
13
Rita Santana
14
Alforrias
15
Rita Santana
16
Alforrias
17
Rita Santana
Lígia Telles
18
ALFORRIAS
Alforrias
A Escriba
21
Alforrias
Abismação
Tear do tempo
A fiar o ócio dos meus ossos crus.
Alambique de saudades,
Pileque de tristezas.
Enquanto tu, moleque dos meus desmazelos,
Labutas na plantação de mandioca
E eu fio
A alforria dos meus cometimentos.
23
Alforrias
Ácaros e Culpas
25
Alforrias
Acridez
27
Alforrias
Agrestidade
Tornei-me bruta
Após travar batalhas de tentares.
O tear do tempo cumpriu-se dentro do universo
E eu apenas cedi ao fim.
Almocei nua no último banquete
E acendi velas à mesa.
Arrebatada de almas.
Pouco morta.
29
Alforrias
Andorinha
As andorinhas existem!
Saíram das páginas do livro
E resolveram viver
Nas alvenarias
Do invisível.
31
Alforrias
Castidade
33
Alforrias
Catedral de Marfim
35
Alforrias
37
Alforrias
Desejo Exu
Enquanto isso,
Outras piranhas fedras
Suavizam sua verve
Entre o mundo vagabundo do que passa
E a obscuridade tecelar de quem só serve
E da vida – nunca – nada sorve.
39
Alforrias
Deserto
41
Alforrias
Diário da Separação
43
Alforrias
Eco e Narciso
45
Alforrias
Eládio
Sem verve,
E tão já festiva
Em complacência fácil de ternura
Diante da impunidade
Dos delitos cometidos por ti: infame!
- Eládio! Eládio!
47
Alforrias
Embate de víboras
Eu e Tu:
Adultério, torpezas e vilanias.
49
Alforrias
Esbeltez
Equilíbrio algum
Invalida meus anseios.
51
Alforrias
Herdade
És em mim a Herdade.
O feudo imensurável dos meus quilombos.
O abandono mais desatinado de mim mesma
E dos projetos de Ser que armazenei nos ponteiros.
Adiava a Exaustão!
Afugentava abstinências!
53
Alforrias
Ílio
Osso meu,
Na ilicitude dos meus requintes.
Cravado em terreno fértil de flamas,
Abnegado esterco na orgia
Dos meus desacertos correntes,
Corpórea mácula na vértebra do meu querer.
Homem Ilíaco!
Indagam sobre minhas adegas
E meus repastos de fêmea acometida
Pelas danosidades da carne.
Indagam sobre minhas vestes e os meus vexames.
Apontam-me entre as professas
Enquanto devassam meus pergaminhos
De mulher conhecedora de homem.
55
Alforrias
Inclemências
57
Alforrias
Mortes Cotidianas
59
Alforrias
Muda Nudez
61
Alforrias
O palácio de cristal
Sendo o profanador
Das sacras carnes
Em que minto
O demasiado amor
Que tenho.
Sendo assim,
Mais avassalador
Que o próprio Eros,
63
Alforrias
Percepção de Quereres
65
Alforrias
Selva
67
Alforrias
69
Alforrias
Solitude do Vento
É relíquia de anjos,
Vício do Nada,
Arrelia das gentes,
Solilóquio
Do Pranto.
71
Alforrias
À Sombra do Divino
73
Alforrias
Tardo Amor
Tardo amor
A me conceder óbolos
Sem que eu os queira.
Eu, linfa, em tuas veias
A multiplicar meu desencanto
Em cada canto cauto
Do teu medo.
Herdeira de Heredera
Amante das fortunas vastas,
Dos horizontes, das eras vácuas
E distantes.
75
Rita Santana
Nota:
76
Há quem acredite que, para ler poesia, precisa de
Alforrias
tempo e serenidade. Felizmente, nos tempos nada sere-
Ele vai e volta! nos de hoje, determinadas vozes vêm contrariar teorias
Rita Santana é atriz, escritora e professora gra- Cada vez mais perdulário dos meus perdões. e disposições, impondo-se afirmativas. ALFORRIAS,
duada em Letras pela FESPI/UESC, onde foi uma das mais recente livro de poemas da escritora e atriz Rita
organizadoras do projeto Universidade em Verso. É Cada vez mais disposto a cobrir de velários Santana, pertence a esta vertente, a conjugar contempo-
grapiúna nascida em Ilhéus em 22 de agosto de 1969. Meus velórios matutinos. raneidade e dramaticidade em estilo capaz de envolver
Viveu parte da adolescência em Itabuna - onde morou os leitores mais exigentes. O apolíneo e o dionisíaco
- e em Itapitanga - onde vivem os parentes maternos. Ele chega menino e se vai vilão, entrelaçam-se nos 28 poemas, que guardam relações in-
Sua atuação como atriz, iniciada em 1985, abran- Zorro assombrando minhas carnes. ternas dialógicas e estabelecem a circularidade de temas
ge trabalhos no cinema, no teatro e na televisão. Em e linguagem. Os poemas articulam-se uns aos outros,
1989 foi uma das fundadoras do grupo de teatro Caras esclarecendo-se progressiva e mutuamente. Parecem
e Máscaras. Iniciou sua carreira literária em 1993, pu- resultar de uma consciência existencial agônica atrela-
blicando textos no jornal Diário da Tarde, de Ilhéus. da a uma poética tensa e rigorosa, que busca a palavra
Em 1994 publica, através de Tica Simões, artigo sobre precisa, por vezes nova, ao mesmo tempo, plena e forte
a obra de Almeida Faria intitulado “A Beleza do Peso para traduzir as diversas libertações ou faces de uma li-
em Rumor Branco”, na Revista de Cultura e Litera- bertação amorosa, ansiada e dolorosa, expressa ao lon-
turas de Língua Portuguesa “Qvinto Império”. Neste go das páginas. Mais que tema, a sua matéria é o amor,
mesmo ano, publica seus primeiros contos no suple- apresentado como paixão, arrebatamento e êxtase, no
mento literário do jornal A Tarde, de Salvador. Publi- âmbito do universo feminino das relações de gênero e
cou o livro de contos “Tramela” através da Fundação de poder, uma vez perpassado por desejo, anseios e so-
Casa de Jorge Amado, pelo qual recebeu o Prêmio frimento. Essa “escriba crivada de falas” debate-se entre
Braskem de Cultura e Arte - Literatura – 2004, para “batalhas de tentares” e o “tear do tempo” a cumprir-se
autores inéditos. Em 2005 participa da antologia “Mão no universo, sob a forma de discurso. Discurso amoroso
Rita Santana
Cheia” e divulga o seu trabalho na Bienal do Livro da e discurso do desejo comungam desses textos pulsantes
Bahia e no Projeto Poesia na Boca da Noite. Em 2006 de vida, gozo, prazer e dores. O sujeito desejante e dese-
publica o livro de poesia “Tratado das Veias” pelo selo jado da voz poética femina, em riste, reveza papéis com
editorial As Letras da Bahia. Em 2009 – Participa da o objeto de um desejo que escorre por entre os versos de
agenda Brasil Retratos Poéticos 2010, Ed. Escrituras, extremas elegância e finuras, sempre a escapar à apre-
cuja seleção de textos é de José Inácio Vieira de Melo, ensão sensorial ou cognitiva plena, bem como à fruição
e da antologia poética Diálogos – Panorama da Nova esperada. Imagens, metáforas e pulsões trabalhadas em
Poesia Grapiúna, organizada por Gustavo Felicíssimo. linguagem contemporânea exacerbada, que trai a rela-
ção vital dessa poesia com o corpo e com instâncias que
Alforrias
o ultrapassam: “do anonimato dos dias/Tenho feito po-
esia secreta/E prosadura” – interfluências passíveis de
compreensão apenas no ato de leitura em si, tornando
qualquer tentativa de apresentação completamente des-
locada, imprecisa e precária, como toda leitura costuma
ser. Definitivamente, Alforrias descarta a necessidade
de espera de tempo e serenidade, em favor do encan-
tamento, da exacerbação e do reencontro com camadas
Rita Santana tantas vezes adormecidas. Magnífico livro de uma mu-
lher “dada a versos” contundentes e atuais, faz-se leitura
obrigatória hoje.
Maria de Fátima Maia Ribeiro