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BOQUEADORES NEUROMUSCULARES
Maurício Petroli, M5
Do ponto de vista farmacológico, esta aula é muito interessante. São substâcias de difícil uso
clínico. Profissionais que os aplicam precisam estar altamente treinados para ressuscitar o invidívuo,
porque são substâncias que podem levar a paralisia respiratória e morte, se não for dado suporte
ventilatório adequado.
A classe de fármacos que corresponde a esta aula foi muito estudada para fins científicos, e
muito menos para fins econômicos. A planta que dá origem a essas substâncias é muito comum na
Bacia Amazônica. Dessa planta, os nativos extraíam veneno, colocado na ponta de flechas. Injetados
via intramuscular, os animais tinham parada respiratória e morriam. Mas, quem comia esses animais
não ficava envenenado. Logo veremos o porquê disso.
O bloqueador neuromuscular é diferente do autonômico. Aqui, veremos a transmissão
neuromuscular da área motora. A área motora voluntária tem sua fibra com origem no córtex. Ela
desce, muda de lado e vai fazer sinapse no corno anterior da medula. Dali, nasce a fibra motora
que vai em direção ao músculo esquelético. Esta região de transmissão do neurônio primário para o
secundário é onde ocorre a ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica, doença neurodegenerativa que
compromete essa ligação. A pessoa tem paralisia progressiva e morre.
Essa fibra, no músculo esquelético, vai inervar diversas fibras musculares. O conjunto de uma
fibra nervosa, suas ramificações e as fibras musculares que elas inervam formam uma unidade
motora. A força de um músculo, portanto, depende de quantas unidades motoras eu conseguir
recrutar para realizar a contração. No cérebro, há o comando de quantas unidades motoras preciso
recrutar – e isso tem a ver com a memória, a experiência prévia.
Quando a fibra nervosa se aproxima da área muscular, a membrana desta fibra muscular
cria um formato de vilosidades, no sentido de receber um grande contato com a região nervosa. A
terminação nervosa não se encosta na membrana muscular; o contato ocorre via Ach. Mas essa
membrana adquiriu um aspecto morfológico diferente do resto da fibra muscular. Somente esta
área invaginada é chamada de placa motora. A parte ao lado, da mesma fibra, mas sem
invaginações, não é mais chamada de placa motora.
O que existe nessa região? Já vimos essa imagem na transmissão colinérgica. Temos as
vesículas de acetilcolina. No momento de entrada de cálcio, as vesículas se encaminham em direção
ao terminal. Essas vesículas ficam presas à actina, e o cálcio faz com que elas se desliguem e se
mobilizem em direção ao terminal de forma orientada. Isso porque, na membrana da vesícula,
existem algumas proteínas. Uma delas tem um grande tropismo pelo cálcio, que está entrando, e
outras proteínas têm uma grande afinidade pelas proteínas da membrana sináptica. Essa ligação
de proteínas vai formar o complexo SNARE, que já vimos na aula de colinérgicos. A toxina botulínica
age impedindo a formação desse complexo.
- succinilcolina: liga-se ao receptor nicotínico da Ach. Vai fazer a mesma coisa que a Ach, ou seja,
despolarizar a placa. Só que a succinilcolina não é metabolizada pela colinesterase. Então, essa
placa ficou despolarizada. Assim, inativam-se os canais de sódio. Esse é o chamado bloqueio fase I
– ou bloqueio por despolarização mantida da placa. Agora, a succinilcolina foi embora – a
circulação sanguínea a levou, e ela foi metabolizada lá no plasma. No entando, permanece o
bloqueio. Se a substância foi embora, esses canais não podem mais estar abertos, a placa
repolarizou. Mas, o fato de a succinilcolina ter se combinado com o receptor não levou à inativação,
e sim à dessensibilização do receptor. A dessensibilização não é causada por voltagem (como a
inativação do canal de Na+), não tem um curso tão rápido como a inativação (leva minutos para
isso). A arquitetura do canal muda: há mais dificuldade de ligar com a Ach, e quando liga a Ach
não consegue abrir o canal. Então, você mantém a inativação, mas a placa não está mais
despolarizada. Este é o bloqueio fase II – dessensibilização. Então, a succinilcolina tem duas
maneiras de atuar. Quando cai na corrente sanguínea, a succinilcolina é metabolizada pela
pseudocolinesterase. Para tornar sensível novamente? É questão de tempo. 5min depois estes
receptores adquirem novamente sua sensibilidade normal à Ach. Se eu aplicar um anticolinesterásico
durante a fase I? Agrava o bloqueio. E durante a fase II? Reverte o bloqueio. E no bloqueio
competitivo? Reverte o bloqueio.
APLICAÇÕES CLÍNICAS
- Entubação traqueal. Para entubar o paciente, por exemplo, é bastante útil. O masseter é muito
potente, de modo que se não curarizar o paciente, fica muito difícil.
- Cirurgias. Cirurgias abdominais, por exemplo, necessitam que a musculatura abdominal esteja
flácida. Por isso os bloqueadores neuromusculares são importante. Neurocirurgia, a mesma coisa. É
preciso relaxar a musculatura para que o paciente não se mexa, uma vez que qualquer movimento
para causar alguma complicação.
- Tétano. Vai envergando o paciente e quebra a coluna. Precisa relaxar. Mas, não pode fazer
succinilcolina (porque ela é precedida por contração muscular). Se fizer, acaba quebrando mais
rápido a coluna.
REAÇÕES ADVERSAS