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Jornalismo 0

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CAPA

O limite da notícia
Cobertura da violência em São Paulo expõe a frágil fronteira entre jornalismo e sensacionalismo

DIEGO JUNQUEIRA

15 de maio, 12 de julho e 7 de agosto de 2006. Nestes três dias, a facção criminosa Primeiro
Comando da Capital (PCC) agiu de forma bem organizada para atear medo na população do
Estado de São Paulo. Ônibus queimados, delegacias atacadas, agências bancárias, postos de
gasolina, revendedoras de automóveis e prédios públicos atingidos por coquetéis molotov. Os
ataques provocaram reflexões em toda a sociedade. Na imprensa, alguns meios continuaram a
tratá-los da mesma forma que a cobertura de qualquer outro fato. Outros veículos, no entanto,
optaram por analisar a própria cobertura e concluíram que a imprensa acabou dando notoriedade às
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ações da facção criminosa.

Para o diretor-geral da Rádio Eldorado, Sérgio Santos, foi sur-preendente o que ocorreu no dia 15
de maio. "Chegavam informações de todos os tipos. Os ouvintes ligavam para a rádio e diziam: 'Eu
estou vendo um ônibus sendo queimado. Estou vendo'. O maior risco era veicular todas essas
histórias que chegavam na emissora." De acordo com Santos, a rádio se viu obrigada a criar uma
vinheta especial para divulgar as notícias dos ataques. Além de reforçar que não publicava boatos,
a mensagem dizia que todas as informações da Eldorado eram checadas antes de serem
veiculadas.

Sem citar nomes, o diretor-geral da Rádio Eldorado afirma que algumas empresas se aproveitaram
da situação para fazer sensacionalismo. "Houve emissoras que, para discutir a violência, passavam
imagens repetidas das cenas de violência, mas sem informar aos seus telespectadores que as
filmagens eram antigas. Isso apenas contribuiu para alarmar ainda mais a população", lembra
Santos. Embora nada tenha sido combinado, concorrentes diretos apresentaram a mesma postura:
as rádios CBN, Band News FM e Eldorado optaram por dar menos projeção à série de ações do
PCC. Passaram, a partir da segunda série de ataques, em julho, a omitir a sigla PCC e falar apenas
"uma organização criminosa".

Espaço para criminosos


Isso está certo? O que pensam os jornalistas, os controladores dos meios privados, os anunciantes,
as agências e o público pagante e consumidor? É só com relação aos criminosos que a mídia deve
repensar sua capacidade de criar mitos? Não seria o caso de atuar dessa maneira com todo tipo de
geração de mitos efêmeros, como, por exemplo, o noticiário sobre celebridades e os reality shows,
apesar da leitura e audiência que geram e da receita que proporcionam?

"Em razão do alcance do veículo rádio, se falarmos o nome da facção, nós estaremos reforçando a
identidade desse grupo. Nós evitamos fazer essa publicidade. Além disso, nem sempre as
autoridades informam com exatidão se a autoria dos ataques é mesmo do PCC", diz Sérgio Santos,
da Rádio Eldorado.

Para o diretor-geral da rede Band News FM, Marcello D'Angelo, o crime organizado tenta se firmar
utilizando a mídia, já que parte das ações visa buscar espaço na imprensa. Segundo D'Angelo, a
rádio não vai deixar de noticiar esses fatos, já que ela se guia pela necessidade de seus ouvintes,
que é a de estar bem informado. "Mas isso não implica fazer sensacionalismo. Jamais vamos abrir Encontre-nos no Facebook
espaço para criminosos", avisa.
Negócios da Comunicação
Na TV Band News, a postura é a mesma. "Não somos porta-voz nem reverberadores de facções ou Curtir
grupos criminosos. Cobrimos segurança pública. Queremos dar voz aos trabalhadores, aos
policiais, às autoridades", diz Humberto Candil, diretor-geral da emissora, que veicula notícias 24 3.701 pessoas curtiram Negócios da Comunicação.
horas por dia. Candil afirma que, no começo da série de ataques, alguns veículos trataram o caso
como um show.

Para o diretor de jornalismo da rede de televisão SBT, Luiz Gonzaga Mineiro, a culpa pelo alarme
causado na população divide-se meio a meio entre as ações do grupo criminoso e a ressonância da
mídia. "O PCC já conta com a 'colaboração' da imprensa antes de fazer seus ataques", afirma ele.
Segundo Mineiro, o SBT, no dia 15 de maio (data que concentrou os primeiros ataques da facção), Plug-in social do Facebook

evitou fazer boletins e divulgar imagens ao longo do dia, já que nem todas as informações estavam
confirmadas. A emissora optou por fazer um especial ao final do dia.

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"A mídia age corretamente ao omitir siglas e repercussões dos atos dos bandidos. As facções
criminosas querem publicidade e sabem que suas ações explosivas repercutem com estardalhaço
na mídia. Certa discrição não faz mal a nenhuma sociedade saudável. A mídia parou de relatar
suicídios e eles pararam de acontecer em série", opina Luiz Gonzaga Motta, professor da
Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB).

Pauta é pauta
Outra corrente pensa que, se tais ações não fossem divulgadas pela imprensa, grande parcela da
população nada saberia do que ocorreu. O jornal O Estado de S. Paulo decidiu não reduzir o
destaque dado à facção criminosa. "A orientação do jornal é a de manter a mesma seriedade de
qualquer outra cobertura. Não acho que omitir o nome da organização ou qualquer de suas ações
seja um caminho para a imprensa. Cabe a ela dar a dimensão jornalística a qualquer fato que tenha
essa dimensão", diz Sandro Vaia, diretor de redação do jornal O Estado.

Ele minimiza os efeitos provocados pelo noticiário. "A vida do paulistano, em 99% dos casos, não
sofreu modificações, a não ser quando houve a paralisação de uma parte dos transportes
coletivos", acrescenta Vaia. Em razão disso, diz ele, "a imprensa não pode ser considerada como
difusora de um pânico desproporcional na população".

"Noticiamos tudo o que é fato. E o que é noticiado é da realidade", diz José Emílio Ambrósio,
superintendente de jornalismo da Rede TV!. Assim ele explica o trabalho de sua equipe durante a
cobertura dos ataques da facção criminosa PCC. Para Ambrósio, ocorreu uma "avalanche de
violência" à qual o país não estava acostumado, o que provocou sensacionalismo por parte da
imprensa.

Ambrósio lembra que, com a tecnologia de que a televisão dispõe atualmente, trabalhando com o
imediatismo dos fatos e ao vivo, a população fica mais atenta a uma situação emergencial, como a
dos ataques. Essa característica do telejornalismo, ainda segundo ele, redobra a responsabilidade
do jornalista, que não pode pensar na banalização da violência como um fator de sucesso ou
audiência. "O fator audiência não influencia e não pode influenciar a produção jornalística, mas a
situação de risco para a população sim", completa Ambrósio.

Para o professor da UnB Luiz Gonzaga Motta, a mídia gosta, quer e responde à sociedade ao exibir
fatos sensacionais. "Se a mídia tirar um pouco o pé do acelerador e diminuir a divulgação da
brutalidade, a sociedade inteira ganha. Não concordo com a defesa intransigente da divulgação da
violência em nome de uma liberdade de imprensa que provém do departamento comercial da
indústria da comunicação", conclui.

A Rádio Cultura de São Paulo, por exemplo, sempre que cita o PCC, lembra que se trata de uma
facção criminosa. "Temos que ter o cuidado para não causar um pânico desnecessário na
população. Mas dizer que o cidadão toca a vida tranqüila, dizer que não existe o medo, isso não é
verdade", conta Marco Antônio Gomes, diretor de jornalismo da Rádio.

Ditadura da audiência
A primeira série de ataques do PCC começou às vésperas do Dia das Mães, culminando com uma
maior concentração de ações na segunda-feira seguinte, dia 15 de maio. De acordo com Luiz
Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo do SBT, ele sofreu uma pressão interna para exibir as
imagens dos ataques durante aquele final de semana. O objetivo era conseguir maior audiência.
"Havia um diretor, que nem trabalha mais aqui, que propôs darmos ampla repercussão. Eu recusei",
lembra Mineiro. "É claro que queremos audiência e anunciantes, mas, primeiro, temos que informar
com responsabilidade", diz.

Sob o ponto de vista do patrocínio, era compreensível a preocupação do ex-diretor do SBT que
exerceu pressão sobre Mineiro. Pedro Queirolo, diretor de planejamento da agência de publicidade
Multisolution (que cuida de marcas como Cerveja Crystal, Colchões Ortobom e Livraria Nobel), diz
que, se a circulação ou a audiência de um veículo se reduzir devido a posturas ou mudanças
editoriais, "serão necessários ajustes para baixo nos preços cobrados, de forma que o veículo não
se torne desinteressante para o anunciante e conseqüentemente não perca sua participação de
mercado".

No entanto, segundo o diretor de jornalismo do SBT, o que motivou sua decisão, em primeiro lugar,
foi que a cobertura dos ataques do PCC não foi feita de forma vertical, mas horizontalizada. "É uma
cobertura apenas visual, não de informações. Você nunca sabe quem foi mesmo que ateou fogo
nos ônibus, quem depredou os bancos. E a mídia acaba cumprindo o papel que o criminoso quer",
diz. "Entre a ditadura da audiência e a ditadura do jornalismo, eu fico com a segunda. Além do mais,
o público desses casos faz parte de uma audiên-cia podre", completa Mineiro.

Silvia Visani, gerente de mídia da agência Fallon (que trabalha com empresas como Citibank e
Davene), afirma que os dados técnicos de um veículo, como a audiência e o custo por mil (CPM),
medida que compara os custos de mídia em relação à -audiê-n--cia, são fatores mais importantes
para o anunciante do que a qualidade do veículo em questão, aí incluídos a parte editorial e a
credibilidade, entre outros pontos. Mas ela pondera: "A audiência bruta do veículo, sem olhar para
outros índices, como a afinidade ou o conteúdo editorial, pode gerar desperdício de investimento e
até agregar uma imagem errada ao produto anunciado."

Segundo a gerente de mídia da Fallon, os anunciantes se preocupam principalmente com o


público-alvo dos veículos, mas com um olhar crítico à postura editorial deles, já que determinados
posicionamentos dos veículos podem afetar a imagem do anunciante. "Assumir um lado,
independentemente do tema que se discuta, é sempre uma questão delicada para qualquer
anunciante. A população se divide em suas opiniões, mas a maioria dos anunciantes, nesses casos,
prefere se ausentar da mídia", finaliza Silvia Visani.

Para o diretor de mídia da TBWA, David Ralitera, as agências de publicidade - que cuidam do
relacionamento entre anunciantes e veículos - e os patrocinadores consideram que os aspectos

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quantitativos, como tiragem, circulação e penetração de público, são os fatores mais importantes
para a escolha de um meio ou veículo. Para o diretor de Mídia da TBWA, agência que tem como
clientes empresas como Adidas, Eurofarma, Bic, Nissan, Sabesp e Pedigree, entre outras, no caso
de um patrocínio, o anunciante se compromete por um período maior de tempo e por uma linha
editorial. "Dentro desse tempo podem ocorrer oscilações de tiragem e audiência para cima ou para
baixo. Essas variações fazem parte do jogo. Em geral, quando se fala de patrocínios, trata-se de
estratégias de médio e longo prazo", afirma Ralitera.

Segundo Homero Querido Filho, editor responsável do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, interior
do Estado de São Paulo, onde também ocorreram ataques, nos dias que seguiam os
acontecimentos era "perceptível um incremento nas vendas" do jornal. "Como a violência afetou o
transporte e outros serviços prestados à população, houve um maior interesse do público pelo
noticiário. Mas não apenas em jornais. O que houve foi uma corrida para as fontes de informação",
afirma Querido Filho.

De acordo com o editor-chefe do Jornal de Jundiaí, Nelson Manzatto, "é preciso mostrar o que
acontece. O fato é notícia. A população precisa saber se o ônibus está pegando fogo, se o terminal
de ônibus está fechado". Atitude semelhante de tratar esses acontecimentos como a cobertura de
qualquer outro fato foi adotada pelos quatro jornais da rede Bom Dia, que circulam nas cidades de
São José do Rio Preto, Sorocaba, Jundiaí e Bauru, e também pelo Jornal da Cidade, de Bauru, e
pelo Diário da Região, em São José do Rio Preto.

Sensacionalismo
Para o sociólogo Michel Misse, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista
em violência urbana carioca, com diversos livros publicados sobre o assunto, "o sensacionalismo da
imprensa foi o responsável pela dimensão que as ações das organizações criminosas alcançou no
Rio de Janeiro. Nesse mesmo contexto, os acontecimentos de São Paulo são uma repetição do que
já acontece há mais tempo no Rio".

"A Falange Vermelha, depois conhecida como Comando Vermelho, nada mais era, em sua origem,
do que uma espécie de sindicato para defender direitos de presos contra o descaso da sociedade
quanto às condições deles nas prisões e contra agentes do Estado corruptos que praticam a
extorsão e cobram proteção", afirma o professor.

"É falsa a idéia de que o crime organizado tenha se originado do contato de criminosos comuns
com presos políticos no período da ditadura", diz o sociólogo. Segundo ele, quando criminosos
comuns que roubavam bancos foram equivocadamente colocados nas celas de presos políticos,
eles apenas aprenderam como conduzir suas próprias reivindicações.

A própria imprensa agora discute sua parcela de culpa. Para Marcello D'Angelo, diretor-geral da
rádio Band News FM, ela pode ser considerada uma parte do problema. "Alguns jornais traçaram
perfis dos criminosos, glamourizando essas pessoas. O resultado foi a produção de uma leitura
farta e desnecessária."

Com o mesmo argumento, Marco Antônio Gomes, da Rádio Cultura de São Paulo, justifica a
nocividade da imprensa. "Se a imprensa continuar se excedendo, não vai levar tranqüilidade à
população. Não podemos ignorar o que está acontecendo, só não temos que causar pânico nem
divulgar o PCC", diz Gomes. Segundo ele, há sempre veículos que se aproveitam da situação para
explodir com manchetes. "É preciso tomar cuidado para que um jovem desafortunado não se
espelhe nas ações da facção e, assim, pense que somente dessa maneira é que vai crescer na
vida", completa ele.

Já o diretor-geral da Rádio Eldorado, Sérgio Santos, acredita que a imprensa não pode ser
considerada como parte do problema. Para ele, tudo que aconteceu era fato, passível de ser
noticiado. Mas pondera dizendo que existem diversas maneiras de se publicar um fato. Para Marco
Nascimento, da TV Gazeta, deixar de noticiar não impediria novos ataques de acontecerem. O
importante nesse caso, diz, seria lembrar-se do papel da imprensa, que é o de noticiar e mostrar a
gravidade dos fatos. "A imprensa não pode deixar de cumprir a sua função", avisa.

Após a primeira série de atos violentos, o que se viu por parte da polícia foi "uma reação irracional,
brutal e desnecessária", lembra Mineiro, do SBT. Segundo ele, as constantes cenas repetidas que
causaram pânico na população foram como uma procuração que a imprensa emitiu para a reação
da polícia.

Mineiro ressalta, no entanto, a dificuldade vivida pela imprensa para executar uma boa cobertura
num caso como esse. Segundo ele, a imprensa precisa olhar por todos os ângulos. "Não pode
deixar de noticiar, mas tem que fazer com responsabilidade, sem exageros; precisa também
considerar que existem outros bandidos, que não pertencem a nenhuma facção, mas que se
aproveitam da situação; e que existem policiais que também se aproveitam; é preciso também
considerar a situação nos presídios, onde os detentos são tratados de forma desumana - os direitos
são iguais", exclama. Além disso, lembra ele, há a pressão pela audiência. "É um conflito, uma linha
fina, tênue, para os diretores de jornalismo."

BOX 1
Os limites da imprensa
Dois funcionários da TV Globo, um repórter e um técnico, foram seqüestrados na manhã do dia 12
de agosto deste ano, sábado, próximo da sede da empresa na capital paulista. O caso teve
repercussão nacional e internacional. Primeiro porque representou um atentado contra a imprensa
brasileira. Segundo porque a maior rede de televisão do país foi obrigada a ceder às exigências dos
criminosos para salvar a vida de seu repórter. Na madrugada de domingo, a TV Globo transmitiu
para todo o Estado de São Paulo um vídeo que supostamente era de autoria do PCC, no qual um
"apresentador" encapuzado reclamava contra o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e as más
condições dos presídios. O repórter foi libertado cerca de 24 horas depois.

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O caso provocou imediata reação da imprensa. Quase todos os jornais e emissoras de TV


publicaram editoriais. Um manifesto assinado pelas principais entidades que reúnem as empresas
jornalísticas - Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Nacional de Editores de Revistas
(Aner) e Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) - intitulado "Basta à
violência", foi amplamente divulgado. Em todos os casos, o tom dominante foi o de cobrar medidas
das autoridades.

Em artigo publicado no site do Observatório da Imprensa, o jornalista Alberto Dines diz que "os
meios de comunicação, o conjunto de vozes que fazem a mediação com a sociedade,
desperdiçaram uma rara oportunidade para impor uma agenda nacional aos ineptos governantes e
políticos. O seqüestro do jornalista e do técnico que o acompanhava, ao invés de revelar a
vulnerabilidade da imprensa, poderia servir para mostrar a sua força moral".

Para Marcello D'Angelo, da Band News FM, a imprensa não pode fazer mais do que cobrar as
autoridades. "É preciso protestar, mas apenas como uma forma de marcar posição. A imprensa não
é polícia nem governo. Não podemos extrapolar o nosso papel, que é o de investigar para bem
informar", afirma D'Angelo. Essa é a mesma posição de Sérgio Santos, da rádio Eldorado, para
quem a imprensa tem que cumprir seu papel de porta-voz e denunciar os abusos e mostrar as
providências que serão tomadas. "Não podemos assumir o papel de estado. Temos apenas de
cobrar as autoridades e noticiar os fatos com uma postura ética", conta ele.

Já Marco Nascimento, da TV Gazeta, diz que a imprensa, além de cobrar ações das autoridades,
pode colocar o assunto em questão de forma a envolver a sociedade. Assim, as pessoas e
autoridades interessadas no assunto podem discutir o problema e suas soluções. Ele lembra de um
fórum realizado no ano 2000, chamado "São Paulo sem medo", que teve iniciativa da Rede Globo,
em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade
de São Paulo (NEV/USP) e o Instituto São Paulo Contra a Violência. "Foi deste fórum que nasceu o
disque-denúncia, um instrumento da sociedade que está divulgado por toda a cidade e que ajuda a
resolver diversos casos de violência", sentencia Nascimento.

BOX 2
Jornalistas - Profissão de risco
Os ataques em São Paulo, além de mexerem com os caminhos da imprensa, também atingiram a
classe de jornalistas. O seqüestro de uma equipe da Rede Globo criou uma comparação com os
repórteres que trabalham em situações de risco, como a cobertura de guerras. Segundo a ONG
Repórteres Sem Fronteiras, 48 jornalistas foram mortos este ano em todo o mundo, metade no
Oriente Médio.

No Brasil, o caso mais grave se deu há quatro anos, com o jornalista Tim Lopes, da Globo, que
fazia uma reportagem sobre festas numa favela do Rio de Janeiro. Este ano, a jornalista Maria
Mazzei, do jornal O Dia, também do Rio, recebeu ameaças de morte por causa de sua série de
reportagens intitulada "A Máfia dos Corpos", sobre grupos que aplicavam golpes contra empresas
de seguros de vida.

De acordo com o diretor para a América Latina do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), Carlos
Lauría, as autoridades brasileiras têm o dever de garantir condições seguras para o exercício da
profissão. Lauría conta, no entanto, que os jornalistas que trabalham nos grandes centros urbanos
brasileiros estão menos expostos à violência do que jornalistas do interior do país. "Radialistas do
interior de Estados como Ceará e Pernambuco, vinculados à política local, sofrem diversos casos
de violência", revela.

Curso para jornalistas


Com um cenário que se agrava cada vez mais, foi programado para o final deste ano um curso de
preparação para jornalistas que cobrem a violência, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Município do Rio de Janeiro, que contratou o International News Safety Institute
(Insi) para ministrar o programa.

É o mesmo curso já realizado em 12 países, como Colômbia e Venezuela, na América Latina. O


presidente do sindicato, Aziz Filho, diz que as aulas provavelmente começarão em novembro, para
veículos ou sucursais sediados no Rio. As empresas de comunicação é que vão custear o curso e
indicar os jornalistas participantes. O custo total vai ultrapassar a marca de R$ 40 mil. "O objetivo é
dotar os jornalistas de instrumentos para saberem como agir em alguns casos", afirma Aziz Filho.

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