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Sobre “O século dos cirurgiões”

Thorwald escreve um personagem ficcional de seu avô, que teria vivido durante esse
século de inúmeras façanhas cirúrgicas.

Ignaz Semmelweis
• 1818 – nasce na Hungria

• 1837 – Direito na Universidade de Viena (Áustria)

• 1838 – muda para Medicina

• 1844 – forma-se médico

• 1846 – assistente na Primeira Clínica Obstétrica de Viena


◦ Um dos maiores centros hospitalares da época, era dividido em duas frentes:
▪ A primeira: dos acadêmicos de medicina;
▪ e a segunda: das parteiras tradicionais em formação.
◦ Questiona-se acerca da motivação para a mortalidade acentuada nas puérperas sob
cuidados dos médicos e acadêmicos.

• 1847 – morte do colega Kolletchska após infecção causada por corte durante autópsia.
◦ Semmelweis tem epifania ao analisar achados do corpo de Kolletchska e perceber em
diversos órgãos os mesmos sinais encontrados nas vítimas de febre puerperal.
◦ Imagina que algum tipo de “partícula cadavérica” seria responsável pela contaminação
– o que explicaria a maior incidência de mortes na primeira seção, uma vez que havia
contato com cadáveres pelos médicos e pelos alunos em estudos anatômicos.
◦ A denominação genérica “partícula cadavérica” denota uma era anterior à dos
conhecimentos de Pasteur e Koch, cujas descobertas embasaram a atual teoria dos
germes.
◦ Instaura a assepsia das mãos de todos médicos e estudantes antes da entrada na ala
obstétrica
▪ Percebe diminuição da mortalidade, mas aquém da observada na seção das
parteiras.
• Ao observar surtos ocasionais nos quais parturientes examinadas pelos
mesmos médicos teriam a febre concomitantemente, tem nova epifania e
aumenta o asseio. Agora a higienização das mãos ocorreria entre cada
paciente examinada e não somente ao adentrar a ala obstétrica.
◦ Semmelweis tem resultados ainda melhores. Não era, contudo, o melhor
comunicador e divulgador científico.

• 1847 – 1848 – Assim, é Hebra quem publica artigos sobre as descobertas de Semmelweis
na revista da Associação dos Médicos de Viena. Uma dessas publicações chega às mãos
de Gustav Adolf Michaelis, obstetra que não conseguiu lidar com a ideia de ter sido o
responsável pela morte de várias de suas pacientes e suicidou-se.

• 1849 – Haller, da Associação dos Médicos de Viena, chama à atenção a necessidade de


se averiguar acerca das proposições de Semmelweis, contudo, com pouco sucesso. Os
cirurgiões mostraram-se apáticos, era pouco convidativo assumir a razão de tão jovem
médico e culpa por milhares de pacientes mortos.
Posteriormente, a Universidade de Viena nomeia uma comissão com o propósito de
testar a descoberta de Semmelweis. Seu chefe, Professor Klein, ao se inteirar disso,
denuncia-o politicamente como simpatizante dos revolucionários de 1948. Assim, a
Universidade suspende a realização do teste de suas teorias, não tem seu contrato na
clínica renovado e tem acesso a dados estatísticos negados por Klein.
Não contente, reivindicou perante a Associação o direito de promover um exame
imparcial do seu trabalho. Foi convincente e pela primeira vez tem uma decisão favorável a
si. Recusou-se, porém, a transcrever sua exposição verbal. Desse modo, só vieram a
público informações cheias de lacunas e redigidas por leigos. Ficou 8 meses parado até
conseguir uma posição como professor em Budapeste.

• 1851 – Encontra situação parecida no Hospital São Roque, tem sua chama reacesa. É
nomeado diretor honorário.

• 1855 – Nomeado professor de obstetrícia em uma universidade de pouco prestígio.

• 1857 – Quando a Universidade de Zurich, a única na Europa que experimentava em sua


clínica cirúrgica as teorias de Semmelweis, lhe oferece a cátedra de obstetrícia, ele declina
a oferta.

• 1860 – O intenso desejo de divulgar suas ideias faz com que escreva, pela primeira vez.
De tal ânimo surge “Etiologia, Conceito e Profilaxia da Febre Puerperal”. Não tem grande
alcance.

• 1861 – O muito respeitado à época, Virchow, fundador da patologia celular (que postula
que toda doença adviria de problemas das próprias células), discordava de sua teoria, pois
não eram compatíveis às suas. Durante congressos pouco era mencionado sobre suas
teorias, somente comentários esparsos no mar da ignorância.

• 186? – Mesmo sua ultrajante carta aberta para professores luminares da obstetrícia
europeia contemporânea chamando-os de assassinos foram pouco eficazes, senão para
consolidar sua postura de “juízo não de todo são”.

• 1865 – Foi internado em um sanatório. Em uma de suas últimas autópsias havia cortado o
dedo. Lesão que deu ao descobridor da assepsia uma morte por sepse.

Um pouco além
Semmelweis, assim, é vítima de uma ciência incipiente e imatura. Na qual, o
questionamento a hierarquias e conhecimentos não era bem-vindo.

Sherwin B. Nuland – foi professor de humanidades em Medicina da Universidade de Yale


–, em “The Doctor’s Plague: Germs, Childbed Fever, and the Strange Story of Ignác Semmelweis”,
especula acerca da decadência de Semmelweis se dar por demência causada por sífilis terciária
ou Alzheimer’s.

“A gota d’água acerca da sanidade de Semmelweis teria sido quando o esposo, antes de rígida
moral, começou a sair com prostitutas abertamente, como se fosse a coisa mais normal do
mundo.”

Para Nuland, diversos aspectos da vida do pioneiro da assepsia são nebulosos. Fato é que
descoberta da necessidade da assepsia por um indivíduo em contexto de estigmatização da falta
de saúde mental não contribuiu para a popularização de seus conhecimentos em fim de vida.
Diferente de Semmelweis, Lister usou da serenidade e dos conhecimentos de Pasteur para refutar
um a um os argumentos em contrário e contribuir em definitivo com a atual Teoria dos Germes.
Isto é, se Semmelweis salvou milhares de parturientes ao empregar seus métodos em hospitais,
também deixou de salvar outros milhares ao não conseguir expressar suas ideias de modo
insistente, mas sereno. Ao contrário, delegou sempre que pode a escrita, senão por cartas
grosseiras.

The Doctor’s Plague: Germs, Childbed Fever, and the Strange Story of Ignác Semmelweis” em
https://archive.org/details/doctorsplague00sher

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