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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DENISE SILVA MAGALHÃES

FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NO PROCESSO DE


URBANIZAÇÃO DO LITORAL NORDESTE DA BAHIA: OS DOIS LADOS DA
RODOVIA BA-099 − “ESTRADA DO COCO”

Salvador-BA
2015
DENISE SILVA MAGALHÃES

FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NO PROCESSO DE


URBANIZAÇÃO DO LITORAL NORDESTE DA BAHIA: OS DOIS LADOS DA
RODOVIA BA-099 − “ESTRADA DO COCO”

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Geografia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal da Bahia, como requisito para
obtenção do grau de Doutora em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Cristóvão de Cássio da


Trindade de Brito

Salvador-BA
2015
M188 Magalhães, Denise Silva.
Fragmentação e segregação sócio-espacial no processo de urbanização
do litoral nordeste da Bahia : os dois lados da Rodovia BA-099 − “Estrada do
Coco” / Denise Silva Magalhães.- Salvador, 2015.
332 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Cristóvão de Cássio da Trindade de Brito.


Tese (Doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de
Geociências, 2016.

1. Geografia urbana - Bahia. 2. Solo urbano - Uso. 3. Segregação urbana.


I. Brito, Cristóvão de Cássio da Trindade de. II. Universidade Federal da
Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 911.375(813.8)
TERMO DE APROVAÇÃO

FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL NO PROCESSO DE


URBANIZAÇÃO DO LITORAL NORDESTE DA BAHIA: OS DOIS LADOS DA
RODOVIA BA-099 − “ESTRADA DO COCO”

DENISE SILVA MAGALHÃES

BANCA EXAMINADORA

Dr. Cristóvão de Cássio da Trindade de Brito (Orientador)


Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFBA), Brasil.

Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas


Doutor em Geografia e Planejamento pela Universidade de Paris-Sorbonne, França.
Universidade Federal do Ceará, Brasil.

Dra. Lirandina Gomes Sobrinho


Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe, Brasil.
Universidade do Estado da Bahia, Brasil.

Dra. Mariña Pose Garcia


Doutora em Geografia pela Universidade de Santiago de Compostela, Espanha.
Universidade de Santiago de Compostela, Espanha.

Dra. Regina Celeste da Almeida Souza


Doutora em Geografia pela Universidade de Rouen, França.
Universidade Salvador, Brasil.

Aprovada em Sessão Pública de 17/12/2015


A
João e Rosalva, meus pais (in memoriam) e Francisco (Chico), meu companheiro (in
memoriam), presenças sentidas, me estimulando sempre.
Regina Celeste, amiga/irmã, pelo constante incentivo em minha caminhada
acadêmica.
Magnólia, minha neta, que chegou quando eu mais precisava.
AGRADECIMENTOS

Na minha vida enfrentei desafios, alguns maiores que os outros. Desafios que se
destinaram a me fortalecer e me preparar para o caminho à frente. Deus e seus
Anjos, Mensageiros de Luz, jamais me abandonaram; me fortaleceram, me
apoiaram nessa caminhada, me deram a força, fé e coragem que precisava para
seguir adiante e procurar vencer.

Amigos importantes me ajudaram ao longo desse caminho e me fazem lembrar de


que desempenho um papel bem pequeno em meu próprio sucesso. Esses amigos
me deram os maiores presentes que existem: amizade, confiança, apoio e, o mais
importante, seu amor.

Rostos e nomes de alguma forma inevitavelmente surgem à minha mente:

Francisco (Chico), por tudo: pelo companheirismo de todas as horas, pelo grande
amor e carinho dedicado a família, sem palavras...

Dilson, Marcelo e Thaise, meus filhos, pela constante demonstração de amor.

Gilma, minha nora querida, pela dedicada amizade.

Magnólia, minha neta muito amada, pela alegria que me traz.

Todos os meus familiares, que souberam compreender a minha dedicação ao


estudo.

Cristóvão de Cássio da Trindade de Brito, orientador e amigo querido sempre tão


atencioso e receptivo e, acima de tudo, um mestre em me abrir caminhos.

Ricardo Kassius, aluno muito querido, companheiro constante desta jornada.


Eustógio Wanderley Correia Dantas, Lirandina Gomes Sobrinho, Mariña Pose
Garcia, Regina Celeste de Almeida Souza, professores da minha banca, pela
contribuição.

Angelo Szaniecki Perret Serpa, Antonio Angelo Martins da Fonseca, Antonio


Puentes Torres, Creuza Santos Lage, Cristóvão de Cássio da Trindade de Brito,
Neyde Maria Santos Gonçalves, Pedro de Almeida Vasconcelos, Rubens de Toledo
Junior e Wendel Henrique Baumgartner, professores que no decorrer do curso
contribuíram para o meu amadurecimento.

Antonio Angelo Martins da Fonseca, Antonio Puentes Torres, Alcides dos Santos
Caldas, Cristóvão de Cássio da Trindade de Brito, Dária Maria Cardoso Nascimento,
Emanuel Fernando Reis de Jesus, Guiomar Inez Germani, Maria Auxiliadora da
Silva, Maria Elvira Passos Costa, Noeli Pertile, colegas professores, pelo contínuo
incentivo.

Cláudia Cruz, Claudemiro da Cruz Neto, Clímaco Dias, Dante Severo, Diva Ferlin,
Eduardo Gabriel Palma, Evandro Santos, Itanajara Muniz, Joselito Britto, Geny
Guimarães, Maria Goreth Nery, Juliana Radek, Rita Luquini e William Antunes,
colegas e amigos especiais, pelo constante apoio.

Adriano Cassiano, Harlan Rodrigo, Flávia Damares, Marcel Batista, Marcelo Goulart,
Ney Lucas e Leonardo Almeida, meus alunos, pela amizade e incessante
contribuição.

Minhas fontes e referências, tantas e tão especiais.

A todos que entrevistei, pela confiança em prestarem seus depoimentos.

Sempre grata.
As grandes idéias não surgem nunca subitamente; as que têm
por base a verdade
têm sempre seus precursores que lhes preparam parcialmente
os caminhos [...].

Allan Kardec (2006: 23)


RESUMO

A pesquisa buscou compreender como se desenvolve e o que motiva a reprodução


da fragmentação espacial e da segregação sócio-espacial no processo de
urbanização do Litoral Nordeste (LNE) da Bahia, ao longo da rodovia BA-099 –
“Estrada do Coco”. A parte costeira da região LNE baiano vem passando por
importantes e significativas transformações sócio-espaciais e econômicas ao longo
do último meio século, decorrente do processo de ocupação e uso do solo como
resultado de sua integração à economia e à urbanização organizada em torno dos
interesses dos agentes econômicos hegemônicos e do governo nas distintas escalas
desde o local ao federal. O principal tipo de exploração desta parte da região está
voltado para o turismo e o veraneio. Desde os anos 1970, apesar da dificuldade de
acesso por não haver estradas, o veraneio no LNE baiano já era praticado pelos
grupos sociais de alta renda provenientes principalmente da cidade do Salvador,
atraídos pela paisagem natural nas áreas adjacentes à praia; com isso, ao longo do
tempo, os proprietários de terras começaram a se interessar pela substituição do
uso da terra rural pelo uso urbano com a oferta de loteamentos residenciais. A
atividade turística foi sendo incorporada aos poucos. As transformações
fundamentais no LNE baiano passaram a ocorrer de maneira mais efetiva com a
construção do primeiro trecho da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, em 1975. A
partir deste evento foi aberta a possibilidade de incorporação sistemática da região
às demandas do Governo baiano, sobretudo com o planejamento do turismo como
alternativa para a diversificação econômica regional, por um lado, e por outro lado, a
própria ação do Governo em implantar infraestrutura turística implicou o atendimento
dos interesses dos proprietários de terras e dos agentes do mercado imobiliário com
a oferta de lotes urbanos e habitação para os grupos sociais de média e alta renda,
e investimentos em turismo. Isso implicou a valorização das terras, das benfeitorias
e das habitações, na parte voltada para o mar, e do lado oposto à rodovia as terras
obtiveram pouca valorização econômica em razão da urbanização precária e do
adensamento da população nos povoados, sendo ocupadas principalmente pelas
famílias com menor renda, e onde também se desenvolve um comércio varejista de
consumo imediato e de onde é arregimentada a força de trabalho barato. Esta
condição gerou áreas urbanas distintas social e espacialmente dos dois lados da
rodovia BA-099. Assim, a ação preponderante do Governo e dos proprietários
fundiários e do capital imobiliário voltados para o veraneio e para o chamado
“turismo residencial” faz reproduzir os fenômenos da fragmentação espacial e da
segregação sócio-espacial-residencial no processo de urbanização do LNE baiano.

Palavras-chave: Terra urbana. Infraestrutura. Veraneio. Fragmentação espacial.


Segregação sócio-espacial-residencial.
ABSTRACT

The research sought to understand how it develops and what motivates the
reproduction of spatial fragmentation and socio-spatial segregation in the
urbanization process in the Northeast Coast of Bahia (LNE), along the BA-099
highway  "Estrada do Coco". The coastal part of Bahia LNE region has undergone
important and significant socio-spatial and economic transformations over the last
half century, due to the process of occupation and land use, as a result of their
integration into the economy and urbanization, organized around the interests of the
hegemonic economic and government agents and in different scales, from local to
federal. The main type of exploitation of this part of the region is headed to the
tourism and summer vacation housing. Since the 1970s, despite the access
difficulties due to the lack of roads, the summer vacations in Bahia LNE was already
practiced by social groups of high income, mainly from the city of Salvador, attracted
by the natural landscape in the areas adjacent to the beach; thus, over time,
landowners began to take an interest in replacing the rural land use for urban use by
supplying residential subdivisions. The tourist activity was being gradually built.
Fundamental changes in Bahia LNE started to occur, more effectively, with the
construction, in 1975, of the first stretch of the BA-099 highway  "Estrada do Coco".
From this event on it was open to the possibility of systematic incorporation of the
region to the demands of Bahia government, especially, on one hand, with the
alternative as tourism planning for regional economic diversification, and on the other
hand, the action of the government in implementing tourism infrastructure itself
implied on the interest of landowners and operators of real estate market in supplying
urban land and housing for middle and upper income social groups, and tourism
investors. This led to the appreciation of land, to improvements and housing, in that
part facing the sea, while the lands located on the opposite side of the highway
obtained little economic value, because of the existing precarious urbanization and
population density in the villages, mainly occupied by families with lower income, and
which also develops retail commerce for immediate consumption and where the
cheap labor force is regimented. This condition generated social and spatially distinct
urban areas on each side of the highway BA-099. Thus, the predominant action of
the Government and of the land and real estate capital owners, the summer vacation
housing and the so-called "residential tourism", do reproduce the phenomena of
spatial fragmentation and socio-spatial-residential segregation in the Bahian LNE
urbanization process.

Keywords: Urban land. Infrastructure. Summer vacation housing. Spatial


fragmentation. Socio-spatial-residential segregation.
RÉSUMÉ

Cette recherche visait à comprendre comment il se développe et ce qui motive la


reproduction de la fragmentation spatiale et la ségrégation socio-spatiale dans le
processus d'urbanisation de la Côte Nord-Est (LNE) de Bahia, au long de la
autoroute BA-099  "Estrada do Coco". La partie côtière de la région du LNE Bahia
a subi des importants et significatifs transformations socio-spatiales et économiques
au cours du dernier demi-siècle, en raison du processus d'occupation et de
l'utilisation des terres en raison de son intégration dans l'économie et de
l'urbanisation organisée autour des intérêts des agents économiques hégémoniques
et du gouvernement dans différentes échelles depuis locale jusqu’à fédérale. Le
principal type de l'exploitation de cette partie de la région est confrontée au tourisme
et à l'été. Depuis les années 1970, malgré l'accès difficile, car il n'y avait de
autoroutes, l'été à LNE de Bahia a déjà été pratiqué par des groupes sociaux de
revenu élevé, surtout de la Ville de Salvador, attirés par le paysage naturel dans les
zones adjacentes à la plage. Donc, au fil du temps, les propriétaires fonciers ont
commencé à remplacer l'utilisation des terres rurales pour un usage urbain avec la
offert des lotissements résidentiels et l'activité touristique a été construit
progressivement. Des changements fondamentaux dans LNE de Bahia ont
commencé à se produire plus efficacement avec la construction de la première
section de l'autoroute BA-099  "Estrada do Coco" en 1975. A partir cet événement
a été ouverte la possibilité de l'incorporation systématique de la région aux
demandes du gouvernement de Bahia, avec la planification du tourisme et
diversification économique régionale d'une part, et d’outre part avec l'action à mettre
en œuvre des infrastructures touristiques selon les intérêts des propriétaires et des
opérateurs de marché de l'immobilier pour les groupes sociaux des revenus moyen
et supérieur. Cela a conduit à la valorisation des terres, des améliorations et des
logements, dans la partie devant la mer, tandi que les terrains devant la autoroute a
obtenu peu de valeur économique en raison de l'urbanisation précaire dans les
villages habités, principalement, par des familles à faible revenus auxquelles vivent
de la vente des merchandises au détail pour la consommation immédiate ou de
l’offert de main-d'œuvre pas cher. Cette condition a crée des zones urbaines et
sociales distinctes dans l'espace au long de deux côtés de l'autoroute BA-099. Ainsi
donc, l'action prédominante du gouvernement, des propriétaires fonciers et du capital
immobilier face à l'été et la soi-disant ‘tourisme résidentiel" reproduit les
phénomènes de fragmentation spatiale et la ségrégation socio-spatiale résidentiel
dans le processus d'urbanisation de la LNE de Bahia.

Mots-clés: terres urbaines. Infrastructure. été. fragmentation spatiale. Ségrégation


socio-spatiale résidentiel.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização da área de estudo – Litoral Nordeste da Bahia,


2014 ...................................................................................... 28

Figura 2 Vias de acesso às localidades do Litoral Nordeste da Bahia,


1953 ...................................................................................... 71

Figura 3 Pessoas admitidas e desligadas nos setores ligados ao


turismo – Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Mata de
São João – 2007 – 2015 ....................................................... 95

Figura 4 Salvador e seu entorno: expansão urbana e residências


secundárias .......................................................................... 111

Figura 5 Imagem aérea da área do loteamento Paradiso Laguna ...... 116

Figura 6 Paisagem do loteamento Paradiso Laguna .......................... 117

Figura 7 Restinga com vegetação arbustiva e herbácea às margens


da lagoa, com vegetação hidrófita – 2013 ............................ 118

Figura 8 O loteamento Paradiso Laguna no contexto ambiental –


2004 ...................................................................................... 125

Figura 9 Anúncio de terrenos em “condomínio fechado” de Praia do


Forte ..................................................................................... 138

Figura 10 Anúncio de villages em Itacimirim ........................................ 139

Figura 11 Percentual de ofertas de terrenos nas localidades


estudadas no LNE baiano – 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012 157

Figura 12 Preço médio de terrenos (em US$/m²) nas localidades


estudadas no LNE baiano– 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012 . 160

Figura 13 Área dos terrenos à venda nas localidades estudadas no


LNE baiano – 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012 ..................... 162

Figura 14 Localidades periféricas no LNE baiano: Areias, Açú da


Torre, Açuzinho e Malhadas ................................................. 175

Figura 15 Localidades periféricas no LNE baiano: Monte Gordo e


Barra do Pojuca .................................................................... 175

Figura 16 Localidades costeiras no LNE baiano: Abrantes e Jauá ....... 176

Figura 17 Localidades costeiras no LNE baiano: Arembepe e Barra do


Jacuípe ................................................................................. 177
Figura 18 Localidades costeiras no LNE baiano: Guarajuba e
Itacimirim .............................................................................. 177

Figura 19 Localidade costeira de Praia do Forte .................................. 178

Figura 20 População total residente por setores censitários urbanos –


Litoral Nordeste da Bahia, 2010 ........................................... 181

Figura 21 Motivo da escolha do local para estabelecimentos


comerciais – Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ...................... 185

Figura 22 Número de comerciários segundo o uso de transporte –


Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ........................................... 191

Figura 23 Fluxo de linhas de transportes rodoviários intermunicipais


de passageiros – Litoral Nordeste da Bahia, 2015 ............... 193

Figura 24 Aspecto da lavagem de Monte Gordo, 2014 ........................ 200

Figura 25 Aspecto da lavagem de Guarajuba, 2014 ............................. 200

Figura 26 Praia de Guarajuba: concentração dos “pobres” e dos


“ricos” .................................................................................... 201

Figura 27 Diferentes formas de habitação e espaços públicos em


Guarajuba e Areias ............................................................... 206

Figura 28 Praia de Guarajuba em 1974 e 2013 .................................... 217

Figura 29 Principais motivos de impedimentos e/ou restrição de


passar em áreas de praia – Litoral Nordeste da Bahia, 2014 219

Figura 30 Condomínio Paraíso dos Corais, em Guarajuba – 2015 ...... 221

Figura 31 Condomínio Bosque de Guarajuba: verticalização em Monte


Gordo .................................................................................... 224

Figura 32 Total de domicílios particulares permanentes por setores


censitários urbanos – Litoral Nordeste da Bahia, 2010 ........ 232

Figura 33 Localização das residências principais de proprietários de


residências secundárias no Litoral Nordeste da Bahia, com
base em pesquisa on line, 2014 ........................................... 233
Figura 34 Localização das residências principais de proprietários de
residências secundárias no Litoral Nordeste da Bahia, com
base em pesquisa de campo, 2014 ...................................... 233
Figura 35 Renda média mensal do responsável pelo domicílio, por
setores censitários urbanos – Litoral Nordeste da Bahia,
2010 ...................................................................................... 237
Figura 36 Renda domiciliar per capita por salário mínimo, por setores
censitários urbanos – Litoral Nordeste da Bahia, 2010 ........ 239

Figura 37 Total de proprietários de residência entrevistados segundo a


renda familiar – Litoral Nordeste da Bahia, 2014 .................. 240

Figura 38 Três ou mais banheiros por domicílio, por setores


censitários urbanos – Litoral Nordeste da Bahia, 2010 ........ 241

Figura 39 Percentual de proprietários entrevistados segundo a


contratação de empregados domésticos – Litoral Nordeste
da Bahia, 2014 ..................................................................... 244

Figura 40 Índice de Desenvolvimento Social (IDS), por setores


censitários urbanos – Litoral Nordeste da Bahia, 2010 ........ 245

Figura 41 Índice de Segregação Sócio-Espacial (ISSE), por localidade


– Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ........................................ 247

Figura 42 Praia do Forte: entrada do Tivoli Ecoresort .......................... 248

Figura 43 Praia do Forte: shopping ...................................................... 248

Figura 44 Praia do Forte: residências unifamiliares na Avenida do


Farol ..................................................................................... 248

Figura 45 Praia do Forte: residência unifamiliar na Rua da Foca ......... 248

Figura 46 Praia do Forte: residências geminadas na Rua da Foca ...... 249

Figura 47 Praia do Forte: residência unifamiliar em condomínio


fechado na Avenida do Farol ................................................ 249

Figura 48 Banner exposto na Avenida do Farol, em Praia do Forte ..... 250

Figura 49 Praia do Forte: habitações em beco ou viela ........................ 250

Figura 50 Praia do Forte: habitações na Rua da Aurora ...................... 250

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Características da ocupação do solo nas localidades do


Litoral Nordeste da Bahia, 2015 ........................................... 168

Quadro 2 Empreendimentos hoteleiros, loteamentos e condomínios


nas localidades ao longo da BA-099 – “Estrada do Coco”,
2013 ...................................................................................... 222
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Tamanho da amostra dos domicílios, por localidade, 2014 .. 35

Tabela 2 Tamanho da amostra das unidades de comércio, por


localidade – 2014 ................................................................. 36

Tabela 3 Preço médio de terrenos urbanos em Salvador – 1970/2004 68

Tabela 4 Estrutura fundiária dos municípios do Litoral Nordeste da


Bahia, 2006 .......................................................................... 82

Tabela 5 Utilização das terras nos municípios do Litoral Nordeste da


Bahia, 2006 .......................................................................... 82

Tabela 6 Crescimento populacional dos municípios costeiros do


Litoral Nordeste da Bahia – 1970 a 2010 ............................. 84

Tabela 7 Entrada de turistas segundo o continente de residência


permanente – Bahia – 2010 a 2014 ..................................... 93

Tabela 8 Fluxo turístico na Bahia – 2008 a 2011 ................................ 94

Tabela 9 Saldo de empregos nos setores ligados ao turismo –


Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Mata de São João –
2007 a 2015 .......................................................................... 96

Tabela 10 Participação das zonas turísticas no fluxo receptor nacional


da Bahia – 2011, 2012 e 2013 .............................................. 98

Tabela 11 Municípios do Litoral Nordeste da Bahia: residências


secundárias recenseadas em áreas urbanas, 1980 – 2010 . 113

Tabela 12 Área média (m²) de terrenos à venda nas localidades


estudadas no LNE baiano – 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012 163

Tabela 13 População total residente por setores censitários – Litoral


Nordeste da Bahia, 2010 ...................................................... 180

Tabela 14 População total entrevistada, segundo faixa etária – Litoral


Nordeste da Bahia, 2014 ...................................................... 182

Tabela 15 Condição dos estabelecimentos comerciais – Litoral


Nordeste da Bahia, 2014 ...................................................... 186

Tabela 16 Percentual de comerciários segundo o vínculo empregatício


– Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ........................................ 187
Tabela 17 Local de residência dos empregados domésticos – Litoral
Nordeste da Bahia, 2014 ...................................................... 189
Tabela 18 Localidade de residência dos comerciários – Litoral
Nordeste da Bahia, 2014 ...................................................... 190

Tabela 19 Cidades da Região Metropolitana de Salvador mais


frequentadas pelos comerciários residentes em localidades
do Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ...................................... 196

Tabela 20 Percentual de frequências das viagens a Salvador pelos


comerciários residentes em localidades no Litoral Nordeste,
2014 ...................................................................................... 197

Tabela 21 Equipamentos urbanos e infraestrutura básica das


localidades ao longo da rodovia BA-099, 2013 .................... 209

Tabela 22 Número de residências secundárias por grandes regiões


brasileiras – 2000 e 2010 ..................................................... 226

Tabela 23 Total de residências secundárias pesquisadas nas


localidades – Litoral Nordeste da Bahia, 2014 ..................... 234

Tabela 24 Grau de instrução dos proprietários de residência


pesquisadas nas localidades – Litoral Nordeste da Bahia,
2014 ...................................................................................... 243
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAVS Associação das Artesãs de Vila Sauípe


AID Área de Influência Direta
APA Área de Proteção Ambiental
APP Área de Preservação Permanente
Ascon Associação dos Condôminos de Guarajuba
Bahiatursa Empresa de Turismo da Bahia S.A.
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNH Banco Nacional de Habitação
CAB Centro Administrativo da Bahia
Caged Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
Cepram Conselho Estadual de Meio Ambiente
CF Constituição Federal
CIA Centro Industrial de Aratu
CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
CLN Concessionária Litoral Norte S.A.
Coelba Companhia de Energia Elétrica do Estado da Bahia
Conama Conselho Nacional de Meio Ambiente
Conder Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
Cohab Companhia de Habitação Popular
Copec Complexo Petroquímico de Camaçari
CRA Centro de Recursos Ambientais
Derba Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia
Derba Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia
DFLN Distrito Florestal do Litoral Norte
ECO-92 Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
EIA Estudo de Impacto Ambiental
Embasa Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A.
Embratur Empresa Brasileira de Turismo
Emtur Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A.
Gerco Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro
Gial Gestão Integrada das Áreas Litorâneas
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto sobre Operações relativos à Circulação de Mercadorias
e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação
IDS Índice de Desenvolvimento Social
IED Investimento Externo Direto
Inema Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial Urbana
ISS Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza
ISSE Índice de Segregação Sócio-Espacial
LNE Litoral Nordeste
MMA Ministério do Meio Ambiente
MMA Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da
Amazônia Legal
Modesa Movimento Pró de Arembepe
MTE Ministério do Trabalho
MTUR Ministério do Turismo
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMT Organização Mundial do Turismo
ONG Organização Não Governamental
Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
Petrobras Petróleo Brasileiro S.A.
PGV Planta Genérica de Valores
PNGC Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
PNRM Política Nacional para os Recursos do Mar
Prodetur-BA Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia
Prodetur-NE Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
Projeto Orla Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima
RCI Resorts Condominiuns International
Rima Relatório de Impacto Ambiental
RMS Região Metropolitana de Salvador
SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
Semarh Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
Seplantec Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia
Setur Secretaria do Turismo do Estado da Bahia
SFC Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidades de
Conservação
SM Salário mínimo
SNPTUR Secretaria Nacional de Políticas de Turismo
Snuc Sistema Nacional de Unidade de Conservação
Suinvest Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos
STT Superintendência do Trânsito e Transportes
SUS Sistema Único de Saúde
Tamar Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas
Tiso Terminal de Integração Sede e Orla
Tibras Titânio do Brasil S.A.
UCA Universidade de Cádiz
Urbis Habitação e Urbanização da Bahia S.A.
VUPT Valor Unitário Padrão dos Terrenos
ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico
ZOR Zona de Ocupação Rarefeita
ZPV Zona de Proteção Visual
ZTR Zona Turística Residencial
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 23
1.1 RECORTE ESPACIAL E TEMPORAL DO ESTUDO .................... 26
1.2 AS QUESTÕES DE PESQUISA E OBJETIVOS ........................... 27
1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA ............ 29
1.3.1 Etapas de desenvolvimento da pesquisa ................................. 30
1.4 ORGANIZAÇÃO DA TESE ........................................................... 38

2 SOBRE O ESPAÇO GEOGRÁFICO: ELEMENTOS PARA


ENTENDER A FRAGMENTAÇÃO ESPACIAL E A
SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-RESIDENCIAL NO
PROCESSO DE URBANIZAÇÃO LITORÂNEA .......................... 43

3 PERCURSOS HISTÓRICOS: A ESPACIALIDADE DA


FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-
RESIDENCIAL EM SALVADOR E NO LITORAL NORDESTE
DA BAHIA .................................................................................... 63
3.1 A CIDADE DO SALVADOR: UMA EXPANSÃO URBANA SÓCIO-
ESPACIAL-RESIDENCIAL DIFERENCIADA E CONTINUADA
EM SEU VETOR NORDESTE ...................................................... 63
3.2 NOVA DINÂMICA DA OCUPAÇÃO E USO DO SOLO NO
LITORAL NORDESTE BAIANO A PARTIR DA ABERTURA DA
RODOVIA BA-099 ......................................................................... 70

4 A “NOVA” ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO LITORAL


NORDESTE DA BAHIA E OS CONFLITOS COM
COMUNIDADES EMPOBRECIDAS ............................................. 76
4.1 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA
CAPITALISTA DA TERRA NO BRASIL E NO LITORAL
NORDESTE BAIANO .................................................................... 76
4.2 A RESISTÊNCIA DE COMUNIDADES LOCAIS
EMPOBRECIDAS E OS CONFLITOS GERADOS PELA POSSE
DA TERRA .................................................................................... 85

5 O PROCESSO CONTEMPORÂNEO DE INCORPORAÇÃO DO


LITORAL NORDESTE DA BAHIA AO TURISMO ....................... 89
5.1 ATIVIDADES DO TURISMO NO LITORAL NORDESTE BAIANO:
PRÁTICAS ESPACIAIS E RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS ......... 89
5.1.1 Práticas espaciais como resultado das atividades do turismo
na região ...................................................................................... 100
5.1.2 As residências secundárias no âmbito do turismo residencial 104
5.1.3 As residências secundárias e sua relação com a cidade do
Salvador e seu entorno imediato ............................................... 108
5.2 A EXPANSÃO DAS RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS NO
LITORAL DE CAMAÇARI: O EXEMPLO DO LOTEAMENTO
PARADISO LAGUNA .................................................................... 115
5.2.1 Contextualização geográfica da área ........................................ 115
5.2.2 O loteamento Paradiso Laguna no contexto ambiental .......... 120
5.3 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA NO LITORAL NORDESTE
BAIANO PELAS ESTRATÉGIAS DE MARKETING ...................... 132

6 O ESPAÇO LITORÂNEO: A GESTÃO INTEGRADA E AS


POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL CONVERGINDO PARA
PLANOS E PROGRAMAS COM BASE NO
“DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL” ................................... 144
6.1 ÁREAS LITORÂNEAS: NOVAS CONCEPÇÕES DE
PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DESTE ESPAÇO ................... 144
6.1.1 “Desenvolvimento sustentável” ou “sociedades
sustentáveis”? ............................................................................ 149
6.1.2 Uma sociedade cooprodutora, cogestora e codecisora de
políticas públicas ........................................................................ 150

7 O ESPAÇO LITORÂNEO: MERCADORIA “ENOBRECIDA” ....... 155


7.1 O INTERESSE PELO ESPAÇO LITORÂNEO E O
DESENVOLVIMENTO DO MERCADO IMOBILIÁRIO FORMAL
DE TERRAS NO LITORAL NORDESTE BAIANO ........................ 155

8 ELEMENTOS DA URBANIZAÇÃO EM LOCALIDADES DO


ENTORNO DA RODOVIA BA-099  “ESTRADA DO COCO” .. 166
8.1 CARACTERÍSTICAS DA OCUPAÇÃO DO SOLO NAS
LOCALIDADES DO ENTORNO DA RODOVIA ............................ 166
8.2 A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NAS DISTINTAS
LOCALIDADES ............................................................................. 179
8.3 O PAPEL DAS LOCALIDADES E SUA INTERAÇÃO ESPACIAL.
A POPULAÇÃO DE COMERCIANTES, COMERCIÁRIOS E
RESIDENTES ............................................................................... 183
8.4 A INDISSOCIABILIDADE DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL:
MORFOLOGIA, OCUPAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-
ESPACIAL .................................................................................... 195
8.5 OS EQUIPAMENTOS URBANOS E A INFRAESTRUTURA
BÁSICA COMO MATERIALIDADE DE UM ESPAÇO URBANO
DESIGUAL .................................................................................... 207
8.6 AS PRAIAS E OUTROS BENS PÚBLICOS DE ACESSO
RESTRITO NA REGIÃO ............................................................... 218
8.7 EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS, LOTEAMENTOS E
CONDOMÍNIOS: ELEMENTOS DE DISTINÇÃO SOCIAL ........... 221
8.8 A RESIDÊNCIA SECUNDÁRIA COMO INDUTORA DE
URBANIZAÇÃO NO LITORAL NORDESTE DA BAHIA ............... 225
8.9 RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS: ELEMENTOS
DETERMINANTES DA FRAGMENTAÇÃO E DA SEGREGAÇÃO
SÓCIO-ESPACIAL ........................................................................ 230

9 A REPRODUÇÃO DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-


RESIDENCIAL NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DO
LITORAL NORDESTE DA BAHIA ............................................... 236

9.1 A SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-RESIDENCIAL NO


LITORAL NORDESTE BAIANO: ÁREAS COSTEIRAS E ÁREAS
PERIFÉRICAS .............................................................................. 236
9.2 SÍNTESE GEOGRÁFICA: FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO
SÓCIO-ESPACIAL NO LITORAL NORDESTE BAIANO .............. 242

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 252

REFERÊNCIAS ............................................................................ 260

APÊNDICE A  Empreendimentos turísticos privados


previstos e em implantação do LNE do estado da Bahia 
2013 .............................................................................................. 277

APÊNDICE B  Tabelas de vendas de terrenos em Abrantes . 279

APÊNDICE C  Tabelas de vendas de terrenos em Açú da


Torre ............................................................................................. 284

APÊNDICE D  Tabelas de vendas de terrenos em Areias ...... 286

APÊNDICE E  Tabelas de vendas de terrenos em Arembepe 287

APÊNDICE F  Tabelas de vendas de terrenos em Barra do


Pojuca .......................................................................................... 293

APÊNDICE G  Tabelas de vendas de terrenos em Barra do


Jacuípe ......................................................................................... 296

APÊNDICE H  Tabelas de vendas de terrenos em Guarajuba 300

APÊNDICE I  Tabelas de vendas de terrenos em Itacimirim . 304

APÊNDICE J  Tabelas de vendas de terrenos em Jauá ......... 310

APÊNDICE K  Tabelas de vendas de terrenos em Malhadas . 316


APÊNDICE L  Tabelas de vendas de terrenos em Monte
Gordo ........................................................................................... 317

APÊNDICE M  Tabelas de vendas de terrenos em Praia do


Forte ............................................................................................. 320

APÊNDICE N – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a proprietários de residências das localidades ....... 321

APÊNDICE O – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a comerciantes das localidades ................................ 322

APÊNDICE P – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a comerciários das localidades ................................. 323

APÊNDICE Q – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a gestor público municipal ........................................ 324

APÊNDICE R – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a intermedidores (corretores) de imobiliárias que
atuam no Litoral Nordeste baiano ............................................. 325

APÊNDICE S – Estrutura de questionário com entrevista


realizada a líderes e associações comunitárias do Litoral
Nordeste baiano .......................................................................... 327

APÊNDICE T – Estrutura de questionário com entrevista on


line realizada a proprietário de residência no Litoral Nordeste
baiano .......................................................................................... 328

APÊNDICE U – Processamento dos questionários .................. 329

ANEXO A – Planta baixa do loteamento Paradiso Laguna ...... 330


23

1 INTRODUÇÃO

Até a década de 1970 toda a área ao longo do Litoral Nordeste da Bahia


1
(LNE) permanecia quase isolada, formada por vilas e povoados articulados entre si
e com as cidades dos respectivos municípios por meio de caminhos por onde
passavam comerciantes e suas tropas de animais com mercadorias. Todavia, em
1975, por iniciativa do Governo do estado da Bahia, por meio do Departamento de
Estradas de Rodagem da Bahia (Derba), foi projetado e construído o primeiro trecho
da rodovia estadual BA-099, conhecida como “Estrada do Coco”2. A intenção
imediata era atender a demanda de acessibilidade da fábrica da empresa Titânio do
Brasil S.A. (Tibras)3, a qual começou as operações em 1971, localizada no km 20 da
rodovia, próximo à localidade de Arembepe, na parte litorânea do município de
Camaçari.
Esta rodovia constitui um forte fator potencializador de novas dinâmicas e
transformações das atividades econômicas ao longo do litoral, bem como para sua
ocupação com a finalidade predominantemente residencial, de veraneio e turística. A
nova ocupação do LNE possibilitada pela rodovia ocorreu combinada com a ação
direta e firme dos agentes privados do mercado fundiário e imobiliário, o que
implicou a valorização das terras e das benfeitorias urbanas e habitações.

1
Chama-se a atenção para o fato de que a região institucionalizada pela Secretaria de Planejamento,
Ciência e Tecnologia (Seplantec) como Litoral Norte  a partir do Plano Estratégico de Ação: 1988 -
1991, sendo definidas as Regiões de Planejamento (BAHIA, 1987) e pela Lei nº 6.349/1991 (BAHIA,
1987) que dispõe sobre o Plano Plurianual 1992 - 1995, que define as Regiões Econômicas 
geograficamente corresponde ao litoral nordeste da Bahia. Assim, neste trabalho, foi adotada a
denominação de Litoral Nordeste (LNE), sob a perspectiva eminentemente geográfica, o que a
diferencia de outras regionalizações anteriormente feitas para o estado da Bahia, que foram
baseadas em critérios políticos-administrativos, socioeconômicos e/ou turísticos.
2
A rodovia BA-099, trecho denominado “Estrada do Coco” que integra a área de estudo começa 
km 0  no limite do município de Salvador com Lauro de Freitas, nas proximidades do aeroporto de
Salvador, onde passa o Rio Ipitanga. Margeando o litoral de Lauro de Freitas e Camaçari, adentra o
município de Mata de São João, se estendendo até o entroncamento com a rodovia BA-874, que dá
acesso à Praia do Forte, marco zero da “Linha Verde”.
3
A Tibras (atual Cristal Pigmentos do Brasil S.A.) é uma companhia química produtora de dióxido de
titânio (TiO2), “[...] um pó branco, inorgânico e de uso seguro, utilizado para dar cor, brilho e
opacidade a uma enorme gama de produtos do nosso dia-a-dia, como tintas, plásticos, papel,
borracha, cerâmica, entre outros” (CRISTAL, 2015). As matérias primas utilizadas na fabricação do
TiO2 são: enxofre para produzir ácido sulfúrico, a ilmenita (mineral de titânio), o rutilo, a zirconita e
cianita. A fábrica foi instalada no litoral à época escassamente habitado, em razão de o Pólo
Petroquímico de Camaçari ainda não ter sido construído, o qual somente aconteceu em 1978.
24

Quando concluida, a rodovia viabilizou o acesso às localidades4 costeiras,


constituindo-se num vetor de desenvolvimento da urbanização do LNE, atraindo
para as suas margens atividades industriais, comerciais e serviços, bem como
propiciou a ação do processo de parcelamento da terra com loteamentos de uso
residencial. Esses loteamentos são utilizados tanto para habitação permanente
quanto para residência secundária, esta em maior escala. A ocupação dessas terras
está voltada para o lazer, propiciado pelos recursos naturais existentes, onde uma
grande parcela de famílias de grupos de renda média e alta, sobretudo da cidade do
Salvador, escolheu para residir/veranear.
Com o acesso rodoviário e intensificação da função de veraneio e turismo, a
estrutura fundiária do LNE foi sendo modificada a partir da ocupação e uso,
configurando-se o processo de transformação das terras de uso rural para urbano.
Grandes fazendas passaram a ser desmembradas e suas glebas parceladas em
loteamentos residenciais.
Muitas famílias que viviam há gerações nestas terras, principalmente
cultivando o coco-da-baía no litoral, frutas e produtos da agricultura familiar e
pequena criação de animais nos terrenos de tabuleiros, foram expulsas pelos novos
proprietários ou transferidas mediante idenizações irrisórias. Grande parte da
população excluída foi obrigada a migrar para as áreas de terras menos valorizadas
pelo capital, enquanto outra parte da população ainda consegue resistir e se manter
nas terras ocupadas, mas de pequena extensão.
Grande parte das pessoas que vivia nessas terras foi desviada de suas
antigas relações de trabalho familiar/artesanal e, em função de outras modalidades
de ocupação e uso do espaço litorâneo advindas, sobretudo do veraneio e do
turismo, procura se adaptar às novas relações sociais e de trabalho eminentemente
capitalista onde predomina o assalariamento. Esses moradores pobres são
“atraídos” pelo processo de valorização capitalista do espaço e pelas
transformações socioeconômicas que o atinge.
Na faixa costeira próxima ao Oceano Atlântico predominam as localidades
onde estão situados os condomínios residenciais de médio e alto padrão,

4
A terminologia localidade é utilizada de acordo com o IBGE que a define como sendo todo lugar do
território nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes. Nestes são realizadas
atividades econômicas quer primárias, secundárias ou terciárias no próprio aglomerado ou fora dele
(IBGE, 2011).
25

viabilizados pelo mercado imobiliário, onde habita moradores pertencentes aos


grupos sociais de renda mais elevada. Acrescenta-se o fato de que nessa faixa
litorânea, além das residências unifamiliares, estão instalados também
megaempreendimentos hoteleiros: resorts e hotéis. As localidades onde reside a
população de renda mais baixa localizam-se, predominantemente, afastada da
costa, no lado oposto e separado pela rodovia para onde a população é
involuntariamente “empurrada” para morar.
Esta situação é claramente verificada nesta porção do espaço, alimentada por
um lucrativo mercado de terras urbanas que, junto à promoção imobiliária privada
produzem uma urbanização fragmentada e com áreas residenciais fortemente
segregadas, ocupadas pelos distintos grupos sociais. Cada vez mais, novas áreas
são incorporadas ao processo de urbanização no LNE reproduzindo, em escala
ampliada, o processo de fragmentação espacial, ao tempo em que aprofunda o
processo simultâneo de segregação sócio-espacial baseado na capacidade de
consumo proporcionado pela estratificação da renda das respectivas famílias.
A região do LNE baiano tornou-se uma das mais importantes do estado da
Bahia e do Brasil, em razão de que a partir da década de 1990 passou a atrair
importantes investimentos públicos e privados voltados para o setor turístico, a
exemplo do empreendimento Costa do Sauípe, construído em 2000. Subjacente a
isso tem sua proximidade em relação ao aeroporto de porte internacional e à cidade
do Salvador, e a acessibilidade é feita por uma rodovia — BA-099. Neste âmbito,
vários empreendimentos de apoio turístico foram instalados ao longo da rodovia BA-
099, promovendo significativas alterações econômica, social e ambiental,
influenciadas por demandas e interesses, do mercado regional, nacional e
internacional. Esse fato gerou um espaço complexo, em que a segregação sócio-
espacial e a fragmentação aparecem de maneira destacada.
Nas últimas décadas as iniciativas de abertura de loteamentos residenciais no
LNE são multiplicadas principalmente por projetos de empresas imobiliárias
sediadas na capital. Os loteamentos são instalados principalmente em localidades
litorâneas da região, áreas de ecossistemas frágeis, sobre as quais incide a
legislação de proteção ambiental que, via de regra, não é respeitada.
Observa-se que todo o litoral baiano está envolvido nesse processo de
incorporação ao turismo desde 1990, quando o Governo do estado definiu as zonas
turísticas, nas quais focou suas ações para alavancar o crescimento do setor
26

turístico por meio de recursos próprios e do Programa de Desenvolvimento do


Turismo no Nordeste (Prodetur-NE). Dessas zonas turísticas, se destaca a Costa
dos Coqueiros, no LNE baiano, em razão da proximidade da capital do estado e da
infraestrutura disponível que fornece a crescente expansão imobiliária — construção
de residências secundárias, empreendimentos hoteleiros — como fator de
crescimento urbano. Para o sul da Bahia, foram criadas as zonas turísticas Costa do
Descobrimento, Costa das Baleias, Costa do Dendê e Costa do Cacau. Nestas
zonas turísticas a densidade de ocupação ainda não é tão densa como no LNE,
permanecem como “paraíso tropical”, com suas vilas de pescadores e vilarejos de
praia como, Morro de São Paulo, Arraial da Ajuda, Caraíva, Trancoso, Barra Grande,
Cumuruxatiba, dentre outros.
Sem desprezar a relevância da lógica de ocupação no litoral nordestino
brasileiro, com foco na maritimidade, aventa-se a tese de que no processo de
urbanização no LNE baiano no qual são potentes a fragmentação espacial e a
segregação sócio-espacial é a ação preponderante dos proprietários fundiários e do
capital imobiliário — voltados para o veraneio e para o chamado “turismo
residencial” ou “turismo imobiliário”, por vias políticas, econômicas e outras (com
ênfase no marketing) — que tem reproduzido este fenômeno na região.
É neste contexto que se buscou analisar e compreender as principais
implicações sócio-espaciais e suas respectivas materializações e funções no
processo de urbanização das localidades ao longo das margens da rodovia BA-099,
trecho “Estrada do Coco”, no LNE do estado da Bahia.

1.1 RECORTE ESPACIAL E TEMPORAL DO ESTUDO

A área considerada no estudo está situada no setor litorâneo nordeste,


constituindo em um setor de expansão urbana da cidade do Salvador e de sua
região metropolitana. Mais precisamente, a extensão compreende uma parte do LNE
abrangendo as faixas costeiras dos municípios de Camaçari e pequena área do de
Mata de São João, ao longo da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”. Do município
de Camaçari compreende: do distrito de Abrantes, as localidades de Abrantes
(sede), Jauá, Areias e Arembepe e do distrito de Monte Gordo, as localidades de
27

Monte Gordo (sede), Barra do Jacuípe, Guarajuba, Barra do Pojuca e Itacimirim.


Abrange do distrito de Açú da Torre, em Mata de São João, as localidades de Açú
da Torre (sede), Praia do Forte e Malhadas (Figura 1).
Como recorte temporal estabeleceu-se a década de 1970, que envolve os
anos imediatamente antes da construção da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”,
até os dias atuais. Pois entende-se que com a construção desta estrada foi permitida
a acessibilidade às terras do LNE e, com isso, os agentes do desenvolvimento
urbano puderam realizar seus investimentos.

1.2 AS QUESTÕES DE PESQUISA E OBJETIVOS

A partir do exposto são apontados os questionamentos para investigação, que


foram fundamentais no desenvolvimento do presente estudo. A principal indagação
é: em termos de ocupação e uso do solo urbano pelos distintos grupos sociais, quais
as principais funções/interações das localidades ao longo das margens da rodovia
BA-099  “Estrada do Coco”, no contexto do processo de urbanização recente neste
espaço litorâneo? A esta se seguem outras consideradas complementares: Em que
condições está sendo reproduzida a segregação sócio-espacial neste espaço?
Quais os principais elementos definidores da articulação espacial entre as distintas
localidades? Quais as principais demandas da população local? Como as ações e
as estratégias de marketing dos agentes imobiliários influem e/ou contribuem direta
e indiretamente para a valorização dos terrenos?
Para a compreensão dessas indagações, estabeleceu-se como objetivo geral
analisar as principais implicações sócio-espaciais atuais do processo de urbanização
nos povoados e vilas distribuídas ao longo das margens da rodovia BA-099 
“Estrada do Coco”. Como objetivos específicos buscou-se: compreender que
condições tornaram possível o estabelecimento do atual setor de expansão urbana
no LNE baiano e sua respectiva configuração sócio-espacial; identificar e analisar as
ações e estratégias dos agentes do desenvolvimento urbano que influem e/ou
contribuem direta e indiretamente para a valorização dos terrenos em áreas
adjacentes à rodovia BA-099  “Estrada do Coco”; e entender o papel de cada
vila/povoado na reprodução do espaço urbano no LNE baiano e de que maneira
ocorre a interação espacial entre as distintas localidades.
Figura 1  Localização da área de estudo  Litoral Nordeste da Bahia, 2014

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigues, 2014.

28
29

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

A verificação é conseguida através da prática, o que significa que a teoria é


prática em um sentido decisivo. Quando a teoria se torna prática através do
uso, então, e só então, ela é realmente verificada (HARVEY, 1980 [1973]:
4).

As principais implicações sócio-espaciais resultantes do processo de


urbanização das localidades litorâneas ao longo das margens da rodovia estadual
BA - 099, trecho “Estrada do Coco”, é o que a presente pesquisa buscou analisar.
Para atender ao objetivo, a escolha do método foi fundamental. Assim, a análise
tentou se aproximar do método dialético, recorrendo também ao método
fenomenológico para entender os elementos da subjetividade dos sujeitos
pesquisados.
A pesquisa contou com uma etapa de fundamentação teórica e conceitual e
levantamento de informações empíricas através do estudo de campo, com
entrevistas semi-estruturadas, aplicação de questionários e levantamento de
informações indiretas — documentais e cartográficas.
A escolha das localidades do município de Camaçari — Jauá, Areias,
Arembepe, Barra do Jacuípe, Monte Gordo, Guarajuba, Barra do Pojuca e Itacimirim
— e do município de Mata de São João — Açú da Torre, Malhada e Praia do Forte
— se deu em função de: a) corresponderem à maioria das localidades (vilas e
povoados) situadas no recorte espacial da pesquisa; b) atender ao propósito de
compreender as formas diversificadas de ocupação e uso do solo urbano pelos
distintos grupos sociais: habitantes com baixa, média e alta renda, proprietários de
residências secundárias, pequenos comerciantes, proprietários de imóveis
comerciais, trabalhadores empregados no comércio e serviços locais; c)
compreender a importância dos demais agentes, tais como líderes de associações
comunitárias, corretores, loteadores, que produzem o espaço, e as interrelações
entre si e com o meio ambiente; d) verificar e entender as manifestações dos
fenômenos de fragmentação e de segregação sócio-espacial dessa parte do espaço
geográfico.
30

1.3.1 Etapas de desenvolvimento da pesquisa

Para o desenvolvimento do estudo foi elaborado um roteiro metodológico de


pesquisa que sintetizou os procedimentos, visando atender aos objetivos propostos e
responder às questões da pesquisa. O roteiro metodológico compreendeu cinco etapas:
1ª) ETAPA: COLETA DE INFORMAÇÕES: levantamento
bibliográfico/documental: livros, documentos oficiais e jornais, teses, dissertações,
artigos em periódicos, com temática pertinentes; levantamento cartográfico; e estudo
de campo.
Inicialmente efetuou-se a pesquisa bibliográfica e documental buscando-se
entender o processo de expansão física da cidade do Salvador em direção ao Litoral
Nordeste (LNE) incluindo, no trajeto, os povoamentos dos municípios litorâneos de
Camaçari e Mata de São João (parte). Nesta mesma etapa procurou-se, também: a)
analisar a realidade atual dessa área, tendo como foco, o processo que levou à atual
condição de fragmentação e segregação sócio-espacial-residencial; b) compreender
as transformações sócio-espaciais decorrentes da ocupação e uso do solo ao longo
das margens da rodovia, no que tange à estrutura fundiária e estratégias dos
agentes produtores do espaço, organizado preponderantemente pelas atividades de
turismo e por empreendimentos residenciais, no contexto do crescimento urbano e,
adicionalmente; c) avaliar as principais implicações socioambientais decorrentes do
processo de ocupação desta área.
A metodologia utilizada no levantamento de informações foi baseada na
combinação dos métodos qualitativos e quantitativos por meio de coleta de dados
secundários obtidos através de pesquisas em arquivos de jornal (Biblioteca Pública
do Estado da Bahia), no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia (Derba), na
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), na Companhia
de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), no Instituto de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), na Companhia de Eletricidade do Estado da
Bahia (Coelba) e na Agência de Regulação da Bahia (Agerba).
A pesquisa nos classificados do mercado imobiliário de venda de terrenos nas
localidades escolhidas para o estudo foi realizada abrangendo os anos de 1970,
1980, 1990, 2000, 2010 e 2012, nos períodos de alta estação (dezembro, janeiro e
fevereiro) e baixa estação (maio, junho e julho).
31

Nessa fase, verificou-se que em 1970 não havia anúncios de terrenos à


venda nas localidades estudadas e, os poucos encontrados, não continham
informações que pudesse realizar algum tipo de cálculo, a exemplo do seguinte tipo
de anúncio relativo a Arembepe: “vende-se excelente loteamento de terreno com
frente para o mar tratar no mesmo povoado com Ribeiro”.
Posteriormente à coleta dos dados foram geradas tabelas por localidades
(Apêndices B a M), contendo: área do terreno em m² e o respectivo preço do
terreno. De posse dos dados dos preços de terreno foram calculados os preços
médios considerando os meses dos dois períodos pesquisados, donde foi apurado o
preço médio dos terrenos em US$ para cada localidade ao longo do tempo5.
Outras informações sobre a construção da rodovia BA-099, particularmente
sobre a Estrada do Coco, foram encontradas em autores como Gomes Sobrinho
(1998) e Magalhães (2003). Em caráter complementar, no Derba, foram coletadas
informações históricas sobre a rodovia. No Inema foram coletadas informações em
arquivo técnico do Centro de Recursos Ambientais (CRA) e na Agerba coletados
dados sobre as linhas autorizadas de transporte rodoviário intermunicipais de
passageiros que passam nas localidades em estudo.
Na SEI e na Conder foram coletados dados secundários (ortofotos digitais do
Mapeamento Sistemático do Estado da Bahia, em escala 1:10.000, e tabelas
estatísticas sobre população) que puderam auxiliar na interpretação do estudo.
No IBGE foram coletados dados secundários espaciais e não espaciais:
mapas temáticos georreferenciados, tabelas, dados alfanuméricos, tendo como base
de informações o Censo Demográfico de 2010, com dados referentes aos setores
censitários que contemplam variáveis de domicílio e renda. Com esses dados,
utilizou-se o software de geoprocessamento ArcGis para gerar mapas temáticos
analíticos e de síntese da área em estudo. O recorte espacial se deu em função da
seleção dos setores censitários urbanos mais próximos à rodovia e onde se
concentra a maior parte da população da área, já que os setores censitários mais a
oeste dos que foram selecionados são muito extensos e a população é distribuída
de forma dispersa, por se tratar de área rural.
5
Foi feita a conversão do preço da moeda corrente nacional para uma moeda equivalente, o US$,
com base no preço de venda do dólar Norte Americano, fornecida pelo Banco Central do Brasil para
servir como referência para comparação histórica. Com esses dados foram gerados gráficos e um
mapa temático que contribuíram para a análise do fenômeno estudado.
32

Com o intuito de manter uma relação de contiguidade entre os setores


censitários dos municípios de Camaçari e Mata de São João também foram
selecionados alguns setores censitários rurais. Destaca-se o fato de ocorrerem
setores censitários sem informações e isto se deve a dois motivos: o primeiro é o
fato de existirem setores censitários sem domicílios ou sem moradores nos
domicílios e, segundo, para preservar a identificação dos informantes naqueles
setores censitários que tenham até cinco domicílios ocupados, divulgando apenas
informações gerais, como população total residente por sexo e total de domicílios
(IBGE, 2011).
O mapa de síntese gerado com base no Índice de Desenvolvimento Social
(IDS) adaptado de Cavallieri; Lopes (2014) utilizou oito indicadores do IBGE (2010):
i. Percentagem de domicílios particulares permanentes com forma de abastecimento
de água adequada (ligados a rede geral de distribuição); ii. Percentagem de
domicílios particulares permanentes com esgoto adequado (ligados à rede geral de
esgoto ou pluvial); iii. Percentagem de domicílios particulares permanentes com lixo
coletado diretamente por serviço de limpeza ou colocado em caçamba de serviço de
limpeza; iv. Número médio de pessoas por banheiros; v. percentagem de
analfabetismo de moradores de 10 a 14 anos em relação a todos os moradores
nessa faixa etária; vi. Rendimento médio dos responsáveis por domicílio em salários
mínimos; vii. Percentagem dos responsáveis por domicílio que têm rendimento até
dois salários mínimos; viii. Percentagem dos responsáveis por domicílio que têm
rendimento igual ou superior a 10 salários mínimos.
Para a elaboração do IDS procedeu-se à “normalização” dos valores de cada
um dos indicadores, transformando-os em índices comparáveis entre si, ou seja, que
fossem compatibilizados e que tivessem o mesmo intervalo de variação numa escala
de 0 (menor valor) a 1 (maior valor). Para a normalização dos indicadores, aplicou-
se a fórmula a seguir:

VNij = 1 – (MVi – Vij) / (MVi – mVi)


Onde:
VNij = valor normalizado na escala de 0 a 1 do indicador “i” no lugar “j”; MVi = maior
valor obtido pelo indicador “i” entre todos os recortes geográficos pesquisados; mVi
= menor valor obtido pelo indicador “i” entre todos os recortes geográficos
pesquisados; Vij = valor obtido pelo indicador “i” no lugar “j”.
33

No caso dos indicadores “v” e “vii”, os valores foram invertidos para que
seguissem a mesma lógica dos demais, ou seja quanto maior o valor do indicador,
melhor a situação. Assim, para a taxa de analfabetismo e para a proporção dos
responsáveis ganhando até dois salários mínimos a fórmula adotada foi a seguinte:
VNij = 1 – (mVi – Vij) / (mVi – MVi).
Em seguida, somou-se os valores obtidos em cada um dos oito índices
“normalizados” para cada setor censitário urbano e calculou-se sua média aritmética,
dividindo a soma obtida por oito. Essa média corresponde ao valor do IDS de cada
um dos setores censitários que abarcam a área pesquisada.
A coleta de dados primários, por meio da pesquisa de campo, foi feita com
base na observação não participante em todas as localidades mencionadas,
acrescidas de entrevistas com moradores e comerciantes locais. Nelas foram
coletados dados e informações sobre: os equipamentos urbanos e infraestrutura
básica (energia e telecomunicações, serviços públicos básicos ─ saneamento básico
e limpeza pública, transporte público, vias e lazer ─, comércio e serviços); bem como
a parte de hospedagem (hotéis, pousadas, resorts, flats e albergues) e condomínios,
demonstrados em quadros no decorrer do texto.
Considerando-se a importância da proximidade geográfica existente entre os
sistemas urbanos de Jauá/Areias, Monte Gordo/Guarajuba, Itacimirim/Barra do
Pojuca, no município de Camaçari e Praia do Forte/Açú da Torre, no município de
Mata de São João, nessas localidades, como técnica de coleta de dados e de
informações utilizou-se da aplicação de questionários para explorar
quantitativamente — possibilitando a análise estatística — e qualitativamente as
informações. As questões foram padronizadas, com perguntas abertas e fechadas,
destinadas à: população local proprietária de imóveis residenciais (Apêndice N);
comerciantes (Apêndice O) e comerciários das localidades (Apêndice P). Também
foram aplicados questionários a: gestores públicos dos municípios de Camaçari e
Mata de São João (Apêndice Q); intermediadores (corretores imobiliários) (Apêndice
R); líderes de associações comunitárias locais (Apêndice S); e pessoas que têm
residência secundária no LNE da Bahia, contatadas através da internet (Apêndice
T).
Para a entrevista com a população local proprietária de imóveis residenciais,
comerciantes e comerciários, buscou-se, através do conhecimento prévio, seus
principais logradouros. Foi considerado como universo ou população, o total de
34

domicílios nas localidades, tendo como fonte de dados: a) os setores censitários do


IBGE - Censo Demográfico de 2010; b) a Base Demográfica do IBGE, de 2010; c)
ortofotos digitais georreferenciadas, do Mapeamento Sistemático do Estado da
Bahia da SEI.
Com base na imagem, mapas e dados citados e utilizando o software ArcGis
foi feita uma seleção dos setores censitários que correspondem às áreas das
localidades estudadas, com o intuito de obter o número de domicílios. Notou-se que
durante o recenseamento, o IBGE só considerou os domicílios ocupados. Assim, as
residências secundárias não foram recenseadas. Essa situação reflete o número
relativamente baixo de domicílios, registrados pelo recenseamento, em Guarajuba e
Itacimirim, localidades onde predominam as residências secundárias, sendo, ainda,
pouco expressivo o número de moradores fixos.
Para a determinação do tamanho da amostra entre os domicílios, utilizou-se a
seguinte expressão para população finita, de 7.201 (GIL, 2006: 97).

δ²p. q. N
=
e² (N − 1) + δ² p. q

Onde:
n = Tamanho da amostra.
δ² = Nível de confiança estabelecido, expresso em número de desvio padrão.
Foi utilizado um grau de confiança de 68% (área compreendida por um desvio
padrão à esquerda e à direita da média).
p = Percentagem com a qual o fenômeno se verifica = 50%.
q = Percentagem complementar = 50%.
N = Tamanho da população = 7.201.
e² = Erro máximo permitido. Utilizou-se um erro de amostragem de 5%.

A esse tipo de amostragem foi conferida uma estratificação, sendo a


população das localidades classificada segundo grupos: i. Proprietários de
residências; ii. Comerciantes; iii. Comerciários, com ou sem vínculo empregatício.
Com os questionários correspondentes foi executado um pré-teste com o
propósito de evidenciar possíveis falhas na redação do mesmo, tais como:
complexidade das questões, imprecisão na redação, desnecessidade das questões,
35

exaustão, desmembramento das questões, constrangimentos ao informante etc.


(GIL, 2006). Para tal foram aplicados 15 questionários à população pesquisada e,
após sua crítica e posterior revisão, assegurou-se sua validade e precisão para a
aplicação final. Também através do pré-teste verificou-se a necessidade de uma
entrevista narrativa com antigos moradores das comunidades de Jauá, Monte
Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Praia do Forte.
De acordo com o primeiro grupo da população “proprietário de residência”, a
Tabela 1 destaca o tamanho da amostra dos domicílios, por cada localidade.
Entretanto, verificou-se que um setor censitário pode abranger mais de uma
localidade, sendo excluídas dos questionários aquelas que não faziam parte do
estudo.

Tabela 1 − Tamanho da amostra dos domicílios, por localidade – 2014


Total de População Setores
Localidade Amostra
domicílios residente censitários
Total 7.201 22.840 61 652
Açú da Torre e Açuzinho 196 637 1 66
Areias 542 1.927 2 84
Barra do Pojuca 2.309 7.755 10 95
Guarajuba 183 445 8 65
Itacimirim 300 846 6 75
Jauá 1.030 3.345 18 91
Monte Gordo 2.216 7.199 10 95
Praia do Forte 425 686 6 81
Fonte: Censo Demográfico do IBGE, 2010; Ortofotos digitais, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2014.

A Tabela 2 destaca o tamanho da amostra das unidades de comércio para


cada localidade, sendo considerado o mesmo valor para o grupo de “comerciantes”
e “comerciários” entrevistados. Ressalta-se que não foram encontrados dados das
localidades de Açú da Torre e Itacimirim, mas como nelas existem poucos
estabelecimentos comerciais esses foram visitados em sua totalidade, obtendo-se,
assim, uma população de 54, entre comerciantes e comerciários.
As amostras representativas do universo para os três grupos da população
das localidades geraram indicadores consistentes e relevantes para subsidiar uma
leitura crítica fundamentada em uma análise exploratória de dados.
Para a determinação do número da amostra que compõe o universo das
unidades de comércio, utilizou-se a mesma expressão para população finita (GIL,
36

2006: 97), que não excedeu a 1.156 no total sendo estabelecido, também, um grau
de confiança de 68%.
A gestores públicos de Camaçari (da Secretaria da Infraestrutura e Secretaria
do Desenvolvimento do Turismo) e de Mata de São João (da Secretaria do
Planejamento e Meio Ambiente) foram aplicados três questionários com perguntas
abertas (Apêndice Q), versando sobre a importância da área costeira e ações da
administração relativas à infraestrutura, meio ambiente, urbanismo, turismo e lazer.

Tabela 2 − Tamanho da amostra das unidades de comércio,


por localidade – 2014
Total das unidades
Localidade Amostra
de comércio
Total 1.156 322
Açú da Torre ... ...
Areias 2 2
Barra do Pojuca 182 65
Guarajuba 68 41
Itacimirim ... ...
Jauá 129 57
Monte Gordo 282 74
Praia do Forte 493 83
Fonte: Base dos Contratos Ativos com Tarifa Comercial. Coelba
2014.
Nota: ... Dado numérico não disponível.
Elaboração: Denise Magalhães, 2014

As entrevistas com os corretores imobiliários (Apêndice R), que atuam na


área, tiveram por base a análise da pesquisa efetuada dos classificados de venda
dos terrenos nas localidades escolhidas para o estudo, nos anos de 1970, 1980,
1990, 2000, 2010 e 2012. Assim, as perguntas, de modo geral, versaram sobre: i. As
transformações sócio-espaciais-residenciais no LNE da Bahia; ii. A grande
valorização dos preços de terrenos; iii. A valorização desigual dos terrenos situados
a leste e oeste da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, no sentido da fragmentação
e da segregação do espaço; iv. A dinâmica do mercado imobiliário com relação ao
meio ambiente; v. Participação dos clientes internacionais na dinâmica do mercado
de imóveis no LNE baiano; vi. Marketing.
Foram três as entrevistas realizadas com líderes comunitários de Açú da
Torre, Praia do Forte (Mata de São João) e Jauá (Camaçari) e quatro entrevistas
37

com presidentes, vice-presidentes e membros de associações comunitárias:


Sociedade de São Francisco de Assis dos Pescadores e Moradores de Praia do
Forte; Associação Beneficente de Jauá; Associação Comunitária e Recreativa dos
Moradores de Campinas de Açú da Torre e Adjacências; Associação Unidos de
Areias (Apêndice S). As questões foram abertas, versando sobre as transformações
sócio-espaciais-residenciais no LNE baiano, bem como sobre as principais
demandas da população.
As entrevistas foram elaboradas com o intuito de preencher os seguintes
requisitos: i. Validade das respostas, comparando-as com fontes externas, com
outro entrevistado ou observando as dúvidas do próprio entrevistado; ii. Relevância
da resposta ou sua importância, constatada com os objetivos da investigação; iii.
Especificidade (dados precisos) e clareza das respostas; iv. Profundidade das
respostas, relacionada aos sentimentos, pensamentos e lembranças do
entrevistado, sua intensidade e intimidade; v. A extensão da resposta, relacionada
aos outros critérios (LODI, 1974).
A combinação dos dois métodos (aplicação de questionário e entrevista) foi
favorável, no sentido em que a entrevista complementou e esclareceu as respostas
dos questionários.
Como fenômeno expressivo da urbanização litorânea, as residências
secundárias foram pesquisadas através de questionários on line que contemplaram
questões sobre: o perfil do proprietário na região do LNE baiano
(nacionalidade/naturalidade, grau de instrução, ocupação); localização da residência
principal; localização da residência secundária; tipologia do imóvel (Apêndice T).
O universo escolhido para a aplicação dos questionários on line foi: o da
UFBA (professores, funcionários e alunos), com o envio de mensagem eletrônica
para, aproximadamente 10.000 contas de e-mails; e da empresa Abelhaz.com, do
segmento de compras coletivas situada em Salvador, com clientes residentes na
Bahia, abarcando uma população de 2.500 contas de e-mails enviados. Computados
um total de 51 respostas aos questionários, esses tiveram um tratamento
diferenciado dos demais, adotando-se o critério de análise qualitativo.
2ª) ETAPA: PERIODIZAÇÃO
Com base na coleta de dados para a pesquisa (fontes secundárias
disponíveis), estabeleceu-se uma periodização a partir da década de 1970, anterior
à implantação da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco” (1975), até o ano de 2012, há
38

quatro décadas da sua implantação. Entretanto, a pesquisa em fontes primárias


(através das entrevistas e questionários aplicados) estendeu-se do ano de 2012 até
2015, período de duração do curso de doutorado. Tais dimensões temporais
mostraram-se apropriadas ao estudo em questão.
3ª) ETAPA: INTEGRAÇÃO
Nesta terceira etapa determinaram-se os caminhos a serem seguidos para a
realização da pesquisa, através da integração das principais informações recolhidas:
direta (coleta de campo) e indireta (pesquisa documental).
4ª) ETAPA: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Nesta etapa, teve-se como suporte o referencial teórico e o auxílio do
geoprocessamento (cartografia digital e sensoriamento remoto, através das ortofotos
digitais), e o trabalho de campo. Tendo à disposição um grande volume de dados
colhidos através dos questionários e questionários on line iniciou-se o
processamento dos mesmos, de acordo com Gil (2006) (Apêndice U).
Com o intuito de analisar (sintetizar) e interpretar qualitativamente os dados
coletados nos questionários utilizou-se o software Excel que gerenciou a tabulação
dos dados e para a elaboração dos mapas temáticos (analíticos e de síntese) o
software de geoprocessamento ArcGis e o Corel Draw, este último visando uma
melhor apresentação de alguns documentos.
O delineamento da análise da pesquisa caracterizou-se como analítico-
descritivo. O estudo analítico procurou estabelecer relações entre as variáveis
determinadas para a pesquisa e o estudo descritivo contemplou os objetivos mais
precisos em relação aos fatos observados, descrevendo as características de uma
situação ou do grupo de indivíduos das localidades trabalhadas.
5ª) ETAPA: RESULTADOS
Na quinta e última etapa, definiram-se os resultados pretendidos com a
pesquisa, por meio dos estudos efetuados.

1.4 ORGANIZAÇÃO DA TESE

A partir das questões de pesquisa, dos objetivos e municiado pelo arcabouço


teórico e conceitual, bem como pelo conjunto de dados primários gerados, dos
39

dados secundários, leituras e a respectiva análise pôde-se produzir o texto final


desta tese, composto por oito capítulos, além da introdução e das considerações
finais.
No capítulo intitulado Sobre o espaço geográfico: elementos para entender a
fragmentação espacial e a segregação sócio-espacial-residencial no processo de
urbanização litorânea — escopo do estudo — foram feitas reflexões teóricas
necessárias para o desenvolvimento e compreensão do fenômeno estudado. Trata
da escolha e discussão dos conceitos, tais como, “espaço geográfico”,
“fragmentação e segregação espacial” que explicaram a realidade investigada do
espaço analisado e que permearam o desenvolvimento dos capítulos e
considerações finais subsequentes.
No segundo capítulo Percursos históricos: a espacialidade da fragmentação e
segregação sócio-espacial-residencial em Salvador e no Litoral Nordeste da Bahia
buscou-se compreender o processo de segregação sócio-espacial-residencial na
cidade do Salvador e nas localidades do LNE baiano no entorno da rodovia BA-099,
de Lauro de Freitas até Praia do Forte. Ainda neste capítulo foi verificado o processo
de implantação da rodovia BA-099  “Estrada do Coco” pelo Governo estadual,
como um evento significativo de nova dinâmica para a região, bem como as
principais implicações socioeconômicas e ambientais provenientes da sua
construção.
No capítulo seguinte A “nova” estrutura fundiária do Litoral Nordeste da Bahia
e os conflitos com comunidades empobrecidas abordou-se brevemente o processo
de formação da propriedade privada da terra no Brasil e suas repercussões na
urbanização do LNE baiano. Nessa parte também foi verificada a resistência de
comunidades empobrecidas que se mantêm nas terras do LNE, por onde avança o
capital fundiário e imobiliário.
No quarto capítulo O processo contemporâneo de incorporação do Litoral
Nordeste da Bahia ao turismo verificou-se que ações do Governo dão ênfase às
atividades turísticas com incentivos e investimentos no setor através do Prodetur/NE,
Prodetur/BA e do Tesouro Estadual; e a iniciativa privada com a implantação dos
projetos de hotelaria e empreendimentos imobiliários na região, que conduzem à
geração do lucro empresarial e ao aumento da geração de empregos formais para
as atividades relacionadas ao turismo. Neste capítulo são verificadas as práticas
espaciais decorrentes do processo de gestão das atividades turísticas e imobiliárias
40

no LNE e, nesse âmbito, foi destacado o fato das residências secundárias e sua
expansão, com base no modelo de Lundgren (1974). Ainda nessa parte foi
examinado, no contexto ambiental, o processo de implantação do loteamento
Paradiso Laguna no LNE e também como se dá o processo de valorização
imobiliária na região, pelas estratégias de marketing territorial.
No capítulo seguinte, O espaço litorâneo: a gestão integrada e as políticas
públicas no Brasil convergindo para planos e programas com base no
“desenvolvimento sustentável” a área litorânea foi diferenciada por possuir
características geográficas próprias, por seu uso e ocupação, possibilitando ações
de planejamento e de gestão integrada pelo Estado no LNE. Nesse sentido, o
modelo de Gestão Integrada das Áreas Litorâneas (GIAL) foi reconhecido e
institucionalizado em planos e programas no país a partir da “ECO-92”, tendo por
base o “desenvolvimento sustentável”, conceito este questionado no capítulo. Na
gestão das áreas litorâneas, relevou-se a participação da população como
coprodutora, cogestora e codecisora de políticas públicas.
No sexto capítulo O espaço litorâneo: mercadoria “enobrecida” constatou-se
que o desejo de morar na orla marítima é um fenômeno da sociedade brasileira,
incluindo usuários, políticas públicas e o mercado imobiliário que, no LNE da Bahia,
vem ressignificando o espaço e determinando uma lógica de ocupação residencial
distinta nos dois lados da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, entre grupos de
pessoas e com grande distância social entre eles. Neste sentido buscou-se
compreender, através de pesquisa de preço de terrenos nos classificados
imobiliários no jornal A Tarde, o desenvolvimento do mercado imobiliário formal de
terras urbanas na região.
No capítulo seguinte Elementos da urbanização em localidades do entorno da
rodovia BA-099 – “Estrada do Coco” foram observadas e analisadas: a distribuição
da população, as características de ocupação do solo urbano, a configuração urbana
e a infraestrutura — serviços públicos básicos, comércio e serviços privados,
saneamento básico, equipamentos de lazer, dentre outros — como materialidade de
um espaço urbano desigual. Nesta parte também foram verificados o papel e a
interação espacial das localidades em estudo, bem como a população de
comerciantes, comerciários e residentes. Foi também analisada a organização das
localidades quanto à morfologia, ocupação, segregação sócio-espacial,
empreendimentos hoteleiros e condomínios fechados. Através de pesquisa indireta e
41

trabalho de campo concluiu-se que as residências secundárias, indutoras de


urbanização no LNE baiano, são determinantes no processo de fragmentação e
segregação sócio-espacial.
No último capítulo A reprodução da segregação sócio-espacial-residencial no
processo de urbanização no Litoral Nordeste da Bahia discutiu-se o processo de
fragmentação espacial e de segregação sócio-espacial-residencial no LNE da Bahia
que se traduz pelos fortes contrastes entre áreas costeiras e áreas periféricas. Para
a caracterização dessa segregação averiguou-se: indicadores de renda e padrão de
moradia baseados em variáveis do Censo Demográfico do IBGE, de 2010; e os
dados do levantamento de campo do ano de 2014. A síntese foi concluída
comprovando-se a fragmentação e segregação sócio-espacial no Litoral Nordeste
baiano.
La búsqueda de la verdad debe ser objeto de nuestra actividad;
es el único fin digno de ella.

Henri Poincaré (1964: 13)


43

2 SOBRE O ESPAÇO GEOGRÁFICO: ELEMENTOS PARA ENTENDER A


FRAGMENTAÇÃO ESPACIAL E A SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-
RESIDENCIAL NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO LITORÂNEA

O espaço geográfico constitui o objeto de estudo da Geografia, mas ele não é


assunto de exclusividade desta disciplina; estudiosos de outros campos disciplinares
como a Sociologia, a Economia, o Urbanismo, a Política dentre outras, também se
dedicam à sua investigação segundo as perspectivas e dimensões de abordagem
próprias de seus respectivos campos de estudo, e que todos os saberes contribuem
para compreender a totalidade.
Para alguns pesquisadores, o espaço geográfico é formado pelos elementos
da natureza, pelo trabalho humano e pelas dimensões sociais, produzidas pelas
relações entre os indivíduos e entre esses e as instituições sociais.
Santos, M. (2009 [1996]) tem o espaço geográfico como instância da
sociedade, abarcando contradições que são fruto de um processo dialético, que é a
própria história da humanidade na Terra. O autor considera o espaço geográfico
enquanto resultado da ação humana, do passado e do presente. É a vida, a
presença do homem que dá sentido às formas espaciais — enquanto objetos sociais
já valorizados —, lhe atribui dinamismo e uma funcionalidade, tornando-se “forma-
utilizada”, ou seja, “forma-conteúdo” (sistema de objetos/ações). Portanto, “[...] o
espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única [...]
um sistema de valores, que se transforma permanentemente [...]” fazendo parte da
sua evolução (SANTOS, M. 2009 [1996]: 103-104). Dessa forma, através do uso e
da produção do espaço no sistema capitalista, este se torna um conjunto de
mercadorias, cujo valor é atribuído pela sociedade, tendo efeito profundo sobre os
processos sociais e as respectivas formas espaciais.
Castells (1983) entende o espaço como uma conjuntura histórica e uma forma
social que toma sentido através dos processos sociais que se exprimem através
dele6. Para o autor

6
A partir do seu campo disciplinar que é a sociologia, Castells (1983) vê no espaço geográfico a
possibilidade da explicação das relações sociais e do processo de reprodução do capital. Entende-se
que o autor trabalha com o conceito de espaço social podendo ser compreendido, segundo Souza, M.
(2013b) como mais específico e, a rigor, mais central do conceito de espaço geográfico, este mais
geral.
44

o espaço é um produto material em relação com outros elementos materiais


 entre outros, os homens, que entram também em relações sociais
determinadas, que dão ao espaço (bem como aos outros elementos da
combinação) uma forma, uma função, uma significação social. Portanto, ele
não é uma pura ocasião de desdobramento da estrutura social, mas a
expressão concreta de cada conjunto histórico, no qual uma sociedade se
especifica (CASTELLS, 1983: 181-182, grifos do autor).

Como produto social, Castells (1983) especifica o espaço pela relação das
diferentes instâncias de uma estrutura social: econômica, política, ideológica, bem
como pelas combinações e práticas sociais que dele decorrem — o homem sendo
transformado e transformando “[...] seu ambiente na sua luta pela vida e pela
apropriação diferencial do produto de seu trabalho” (CASTELLS, 1983: 181). Por
conseguinte, o espaço geográfico é construído e organizado historicamente como
obra de sujeitos sociais coletivos e individuais que, ao se relacionarem segundo
seus interesses, reproduzem o espaço, e, simultaneamente, são condicionados pelo
mesmo numa dialética sócio-espacial7.
Harvey (1980 [1973]) considera que a forma espacial e o processo social
estão em contínua interação. Assim, numa visão dialética, tudo está relacionado
entre si e “[...] a compreensão do processo social em toda sua complexidade
depende de uma apreciação da forma espacial” (HARVEY, 1980 [1973]: 26) ou,
como nos diria Santos, M. (2009 [1996]) através das “rugosidades”, materialidades
atuais, como heranças do passado, através das quais se pode entender o processo
de produção do espaço. Desse modo, o espaço testemunha a realização dos fatos e
intenções que acontecem com sucessão e coexistência de eventos que são,
simultaneamente, a matriz do tempo e do espaço (SANTOS, M. 2009 [1996]).
Segundo o autor, ação e evento são movimentos inter-relacionados, que se
sucedem, se superpõem, contribuindo para os processos sociais. Por conseguinte, é
através dos eventos que se pode “[...] rever a constituição atual de cada lugar e a
evolução conjunta dos diversos lugares, [regiões etc., como] um resultado da
mudança paralela da sociedade e do espaço” (SANTOS, M. 2009 [1996]: 155,
acréscimos nossos).
Segundo Soja (1993: 99) na dialética sócio-espacial: “[...] os dois conjuntos de
relações estruturadas (o social e o espacial) são não apenas homólogos, no sentido
de provirem das mesmas origens no modo de produção, como também
7
No presente texto, o termo sócio-espacial refere-se, concomitantemente, às relações sociais e ao
espaço, na sua unidade dialética.
45

dialeticamente inseparáveis”. Da interdependência da prática humana, do processo


social e da forma espacial, resulta o adequado significado do espaço geográfico,
segundo as relações sociais e de produção subjacentes.
É a sociedade que, em sua inter-relação com a natureza, produz o espaço,
vivendo, atuando, trabalhando, através de ações, de interesses, de valores, de
ideias que, no plano material e simbólico, o põe em movimento, fortalecendo
criativamente as forças que trabalham para um desenvolvimento geograficamente
desigual — na sobrevivência do capitalismo — através de tendências simultâneas
para a homogeneização e para a diferenciação espacial (LEFEBVRE, 2004). Assim,
“[...] a produção do espaço não pode produzir senão o espaço diferencial [visto que]
sua redução, aquela que afeta suas possibilidades, conduz ao espaço homogêneo”
(LEFEBVRE, 2008: 145, acréscimos nossos).
Ao espaço geográfico são associadas múltiplas contradições, que se
exprimem a partir dos processos sociais e suas respectivas “formas-conteúdo”: valor
de troca-uso, centro-periferia, totalidade-fragmentação, homogeneidade-diferença
(LEFEBVRE, 2008). Contradições que, de acordo com Soja (1993: 65), “[...]
deveriam ser analítica e dialeticamente ‘reveladas’, para nos permitir ver o que se
esconde por trás do véu espacial”.
Para Lefebvre (2008: 142, grifos do autor) tanto “[...] na prática, como na
representação, a produção do espaço tem entraves oriundos das relações de
produção e, sobretudo, da propriedade privada do solo”, que tem efeito sobre as
rendas, transpostas para o meio urbano. Nesse sentido, a produção do espaço
urbano é realizada segundo as visões e os interesses dos empreendedores que os
gerem e muito se beneficiam. Com isso, o capitalismo encontrou uma nova
sustentação na geração do lucro, seja através de grandes obras, da produção
imobiliária, na compra e venda da terra e em outras atividades baseadas no lucro.
Sob a égide do capitalismo, o espaço é produzido como mercadoria e a
segregação, como fenômeno urbano de tempos pretéritos, ganha sua “nova” forma:
a de forte desigualdade sócio-espacial, engendrada, no Brasil, principalmente pelo
modo de acesso à propriedade privada da terra.
De acordo com Corrêa (2011: 43), a produção do espaço “[...] é consequência
da ação de agentes sociais concretos, históricos, dotados de interesses, estratégias
e práticas espaciais próprias”, aqui se destacando os agentes imobiliários
transformadores do espaço urbano, os grandes proprietários de terra e os
46

incorporadores imobiliários que compram, registram, desmembram o terreno em


frações “ideais” (os loteamentos) e criam o solo urbano. Neste sentido, Capel (1974:
19, tradução nossa) argumenta que os agentes que produzem a cidade no sistema
capitalista, agem “[...] utilizando os mecanismos legais à sua disposição ou
realizando sua atuação à margem destes mecanismos e obtendo, posteriormente, a
sanção legal correspondente”8, exempli gratia dos loteamentos “fechados” —
ilegalmente divulgados pelos incorporadores imobiliários como condomínios, no ato
da negociação do produto imobiliário —, os quais não são condomínios, e são assim
considerados para induzir o cliente incauto e tentar burlar a fiscalização dos agentes
públicos.
Na sociedade capitalista a cidade e o espaço geográfico em geral, são
modelados de acordo com os interesses dos grupos sociais dominantes (VILLAÇA,
2001). Neste sentido, “[...] a segregação constitui um dos fundamentos da produção
do espaço capitalista e o urbanismo, uma mediação para sua reprodução”
(ALVAREZ, 2013: 111), tendo em vista que desvenda alguns aspectos relevantes do
processo social que opera na sociedade como um todo.
A cidade capitalista é constituída por diversos usos do solo que se
concentram, de acordo com Harvey (1980 [1973]), nas características do valor de
uso ou valor de troca. Segundo Moreira (2009: 48), “[...] se não tivesse valor-de-uso,
a terra não teria valor-de-troca e não seria objeto de renda”, ou seja, há uma relação
e movimento constante do valor de uso para valor de troca, e vice-versa. Partindo-se
dessa perspectiva se aceita o duplo aspecto das expressões, relacionando-os
dialeticamente entre si: no setor de habitação “[...] uma mesma casa pode assumir
significado diferente [valor de uso e de troca], dependendo das relações sociais que
os indivíduos, as organizações e as instituições expressam nela” (HARVEY, 1980
[1973]: 138; acréscimos nossos). Não obstante, a habitação é uma necessidade
essencial a todo ser humano e dela não há como se abrir mão. O ato de comprar ou
vender este bem implica que “[...] o direito à moradia se confunde com o direito de
ser proprietário” (SANTOS, M. 1993 [1987]: 126).
A indústria da construção de habitações e os incorporadores se envolvem no
processo de criar novos valores de uso para os consumidores, a fim de realizar
valores de troca para si mesmos. A compra do terreno, sua preparação e a
8
“[...] utilizando los mecanismos legales a su disposición o realizando su actuación al margen de
estos mecanismos y obteniendo posteriormente la sanción legal correspondiente” (CAPEL, 1974: 19).
47

construção de habitações requerem considerável desembolso de capital em


adiantamento à troca (HARVEY, 1980 [1973]). Nesse sentido, Smolka (1979)
acrescenta que o incorporador,

[...] insere-se entre os fatores primários de produção e o consumidor final,


atuando de acordo com uma lógica que aliena do último o comando sobre a
estruturação do espaço e a produção imobiliária, rompendo assim a
identidade entre ‘valor de uso’ e ‘valor de troca’ na produção de imóveis
(SMOLKA, 1979: 31).

Admite-se que no mercado imobiliário é considerada a produção do valor,


sendo que, de acordo com Carlos (2013), o uso do espaço da cidade é cada vez
mais dominado pelo valor de troca, eliminando-se aos poucos, para o cidadão, o
sentido da cidade como obra, espaço de criação e gozo. É o que Santos, M. (1993
[1987]) chama a atenção para o quase exclusivo jogo do mercado que leva as
pessoas a privilegiar os meios materiais como instrumento de busca da ascensão
social formando o não-cidadão. “Em lugar do cidadão formou-se um consumidor,
que aceita ser chamado de usuário” (SANTOS, M. 1993 [1987]: 13, grifos do autor).
No sistema capitalista a propriedade da terra urbana e suas benfeitorias
torna-se, no ato de morar, uma mercadoria indispensável aos citadinos e aqueles
que a possuem estão colocados em uma posição privilegiada em relação a todos
que não a têm, conferindo-lhes direitos de monopólio (CLARK, 1985 [1937]). O solo
urbano, como “mercadoria” irreproduzível e passível de monopolização pelos seus
proprietários, representa um bem escasso, sendo necessária a transformação de
terras de uso rural em terras urbanas para a contínua expansão areal da cidade,
embora esta possa, por meio da verticalização, crescer sem incorporar novas áreas
horizontalmente.
Segundo Topalov (1979: 118-119, tradução nossa) “[...] o preço do terreno é o
preço de uma mercadoria sem valor”9 porque não é um produto do trabalho humano
e “[...] não é um produto do trabalho privado controlado pelo capital. Não tem custo
de produção privado”10. O que equivale dizer que a terra urbana é uma mercadoria
singular. Como bem não produzido, não tem valor, mas nem por isso deixa de ter
um preço.

9
“[...] el precio del terreno es el precio de una mercancía sin valor” (TOPALOV, 1979: 118).
10
“[...] no es un producto del trabajo privado controlado por el capital. No tiene costo de producción
privado” (TOPALOV, 1979: 119).
48

Segundo Ribeiro, Luiz (1997)

[...] a terra urbana somente adquire um preço porque o seu uso permite aos
agentes econômicos obterem ganhos extraordinários nos investimentos que
realizam na cidade. O preço da terra é somente um reflexo da disputa entre
os diversos capitalistas pelo controle das condições que permitem o
11
surgimento dos sobrelucros de localização (RIBEIRO, LUIZ, 1997: 40).

Topalov (1979) reconhece, também, a importância da acessibilidade


(localização) para o consumidor para explicar o preço da terra, denominado pelo
autor de preço de monopólio (preço superior ao do mercado, por ser o solo um bem
limitado e localização única), o qual implica a segregação social. O agente
imobiliário só fará a venda se a sua taxa de lucro lhe assegurar uma rentabilidade
mínima prevista, calculada, esta determinada segundo a valorização desigual dos
capitais, característica essencial da etapa monopolista da propriedade da terra em
uma dada localização que

[...] inverteu a relação entre a produção e a propriedade do solo. De agora


em diante, o motor da produção e do conjunto dos processos de formação
dos preços, é o capital. Já não é a propriedade do solo. Concretamente, é
o capital o que decide construir ou não o fazer. É o ganho do capital que
determina a formação e o volume máximo da renda (TOPALOV, 1979:
12
124) .

Smolka (1979: 31) discute a possibilidade de se atribuir ao consumidor do


solo urbano “[...] o comando último da formação e transformação da estrutura
espacial do ambiente construído”. O que esse autor advoga é que ao usuário
proprietário seria atribuída a localização do seu imóvel, em função de preferências
parametrizadas por sua renda: áreas “nobres” para os grupos de renda mais
abastados e as áreas populares para os grupos sociais de menores rendimentos.
Há, portanto, uma correlação entre a localização das habitações das pessoas ou

11
Lucro extraordinário dos incorporadores, originado pela “[...] diferença entre o preço de compra do
terreno e o preço máximo admissível que levaria o incorporador a obter apenas o lucro considerado
normal” (RIBEIRO LUIZ, 1997: 129).
12
“[...] ha invertido la relación entre la producción y la propiedad del suelo. De ahora en adelante, el
motor de la producción y del conjunto de los procesos de formación de los precios, es el capital. Ya
no es la propiedad del suelo. Concretamente, es el capital el que decide construir o no hacerlo. Es la
ganancia del capital la que determina la formación y el volumen máximo de la renta” (TOPALOV,
1979:124).
49

famílias e a renda que dispõem.


Do ponto de vista do cidadão, ressalta Santos, M. (1993 [1987]: 81-82,
acréscimos nossos): “Cada homem vale pelo lugar onde está [, seu valor como]
homem, assim como o capital em todas as suas formas, depende de sua localização
no espaço”. Desta maneira, o capital imobiliário age de maneira seletiva na
produção do espaço residencial, fato que determina o local de residência para os
indivíduos ou famílias segundo sua capacidade de pagar pela habitação e suas
benfeitorias conforme estejam próximas ou distantes da infraestrutura urbana, dos
serviços coletivos e das áreas de amenidades naturais, o que resulta a separação
das áreas de habitação de parte da população na cidade.
Em seus argumentos, Smolka (1979), sem levar em conta a competição do
mercado imobiliário, assume a perspectiva de que a segregação sócio-espacial-
residencial é resultado da soberania do usuário proprietário, embora reconheça que,
no sistema capitalista haja um privilégio para o capital imobiliário ancorado no
monopólio dos terrenos lançados no mercado, ao invés do consumidor que
depende, também, do padrão construtivo das benfeitorias, do preço de impostos e
taxas públicas etc., e não da sua “livre escolha” para morar. Neste sentido, Smolka
(1979) ratifica as ideias de Harvey (1980 [1973]) quando afirma que a liberdade da
população quanto à prioridade sobre o uso do espaço varia diretamente com a renda
do aspirante à ocupação de uma parte do solo ofertado pelo mercado imobiliário.
A propriedade privada do solo, segundo Harvey (1980 [1973]), se baseia no
monopólio por parte das pessoas que possuem as condições econômicas para
adquiri-las e isso implica a exclusão daqueles que não possuem renda suficiente
para atender as demandas do mercado imobiliário. Assim a renda13 de monopólio
surge porque é possível registrar um preço de monopólio “[...] determinado apenas
pela avidez do comprador em comprar e capacidade de pagar, independentemente
do preço determinado pelo preço geral de produção, bem como pelo valor do
produto”14 (MARX, 1996[1894]: 545, tradução nossa).
Desta maneira, a renda de monopólio, caracteriza-se pela necessidade e

13
A renda é a parte do valor de troca, excluídas as taxas públicas e impostos recolhidos ao governo,
que se destinam ao proprietário e possuidor do solo e/ou das benfeitorias (HARVEY, 1980 [1973]).
14
“[...] determined only by the purchasers' eagerness to buy and ability to pay, independent of the price
determined by the general price of production, as well as by the value of the products” (MARX,
1996[1894]: 545).
50

poder de compra de quem quer obter a terra.


De acordo com Singer (1982), a renda do solo urbano, com destaque para a
renda de monopólio, decorre da existência de localizações, que conferem aos que
possuem terras/habitações, a possibilidade de cobrar preços mais elevados pelos
produtos que vendem. Singer (1982: 27) explica ainda que para fins de habitação
“[...] a demanda de solo urbano [...] também distingue vantagens locacionais,
determinadas principalmente pelo maior ou menor acesso a serviços urbanos, tais
como transporte, serviço de água e esgoto, escolas [...]”. Uma dessas vantagens
locacionais é determinada pelo prestígio social da vizinhança, que decorre da
tendência dos grupos de renda mais altos se isolarem do restante da sociedade e,
também, do objetivo de ascensão social dos grupos de média renda (SINGER,
1982).
Na cidade, os agentes que dominam o mercado imobiliário associados às
normas urbanísticas agem de acordo com a lógica prevista pela renda de monopólio
e suas implicações sócio-espaciais, fazendo com que os grupos sociais de renda
mais alta da população, capazes de pagar preços altos pelo direito de morar,
ocupem áreas mais “privilegiadas” em termos de localização, benfeitorias e serviços;
enquanto a população mais pobre fica relegada às áreas pior localizadas e mal
servidas dos benefícios sociais coletivos e, por isso, de menor preço. Segundo este
mecanismo, os promotores imobiliários tiram o máximo de proveito, no momento em
que lançam imóveis em áreas mais afastadas, promovendo o isolamento dos grupos
de renda mais abastados (SINGER, 1982) que não se incomodam com a despesa e
deslocamento maior, já que possuem maiores rendimentos e os meios particulares
de locomoção, o automóvel.
De acordo ainda com Singer (1982), pela concentração de pessoas na
cidade, a terra urbana é motivo de muitas disputas, em relação a seus diversos
usos, pautadas pelas regras do jogo capitalista, fundamentadas na propriedade
privada.
Inovações na tecnologia da oferta da mercadoria e o uso da propaganda
(marketing) são recursos estratégicos utilizados pelos vendedores de terrenos e de
habitações — que destacam a importância da localização e da qualidade dos
imóveis como fator de diferenciação do valor de uso (objetivos e
subjetivos/simbólicos) — para alcançar preços previstos (RIBEIRO, LUIZ, 1997).
Segundo Smolka (1979), o Governo é o grande responsável pelo alto preço
51

da terra urbana, embora estejam também relacionados, ao fato, os especuladores


fundiários e as facilidades do sistema de crédito. Desta forma, eleva-se a pressão
das empresas incorporadoras sobre o mercado de terras, dando condições à
especulação que se reverte em novos acréscimos nos preços, significando que a
escassez da terra é intensificada pela retenção para “engorda”, criando uma
alternativa altamente rentável de reserva de valor — renda que é capitalizada com o
tempo — para os proprietários que se beneficiam da terra parasitariamente (do
ponto de vista do solo urbano) ou para aqueles que a empregam como meio de
produção, ou seja, que “beneficiam a terra” (como na agricultura).
Para Smolka (1979),

[...] a distribuição desigual de propriedade fundiária no Brasil, aliada à


fragilidade dos mercados financeiros, gerou uma situação em que a terra
tem sido particularmente privilegiada como reserva de valor. Com isto, o
volume de terras negociadas tem sido sistematicamente menor do que seria
de outra forma, implicando uma situação de escassez absoluta, mesmo que
artificial, isto é, socialmente criada (SMOLKA, 1979: 8).

Esta situação, aliada à proteção institucional do mercado de imóveis, a


exemplo do antigo Banco Nacional de Habitação (BNH), tem favorecido o
crescimento e a concentração na indústria imobiliária e consequente oligopolização
deste mercado, mantendo alto o preço dos imóveis, que, obstante as atuais crises,
procura acompanhar as inovações, criar “[...] sinergias advindas de articulações com
o Estado e com outros agentes envolvidos nos empreendimentos imobiliários, o que
torna impraticável a suposição de independência do mercado” (SMOLKA, 1979: 34).
Para Corrêa (1993) grandes capitais industriais, financeiros e imobiliários
(integrados em grandes corporações), além de outras atividades, compram,
especulam, financiam, administram e produzem o espaço urbano, organizando-o
espacialmente e aparecendo, dessa forma, como espaço fragmentado.
A distribuição espacial descontínua de parcelas de lotes urbanos
segmentado/fragmentado, como resultado de uma luta de classes, já tinha sido
explicada por autores neomarxistas, como Harvey (1980 [1973]), Topalov (1979),
que desenvolveram novos pressupostos para tratar a questão da propriedade do
solo urbano. A persistência sistêmica do reinado do mercado de terrenos urbanos e
habitação, aliado à estrutura conservadora dos salários no Brasil definida pelos
empresários/Estado faz reproduzir as condições para a manutenção da
fragmentação espacial e da segregação sócio-espacial.
52

Segundo Vasconcelos (2011, 2013) a noção de fragmentação é bem


interessante para descrever a heterogeneidade das cidades atuais, sobretudo em
países pobres e “emergentes”. Vários estudiosos vêm trabalhando a noção de
fragmentação a partir de muitas perspectivas, evidentes em muitos trabalhos que
utilizam o termo: Souza, M. (1998), para indicar o tecido sóciopolítico-espacial das
metrópoles (fechamento de loteamentos habitacionais, condomínios, favelas);
Seabra (2000), discute a mobilidade urbana que separa/fragmenta as relações, as
instituições, a natureza, e o espaço.
De acordo com Seabra (2000), ao se falar nas formas de uso do espaço da
cidade, se pode falar em espaço parcelado, hierarquizado e fragmentado onde se
misturam o “novo” e o “antigo”, transformando-se no espaço da metrópole.
Castro (2013) e Azevedo, D. (2013) discutem o uso do termo fragmentação
para fenômenos de causas, dinâmicas, consequências e escalas diferentes, assim
como as mudanças na divisão político-administrativa brasileira. Azevedo, D. (2013)
argumenta sobre o uso corrente na literatura do termo “divisão” como sinônimo de
“fragmentação”, sendo que esta, semanticamente, sugere uma conotação negativa
ou, conforme Castro (2013), uma forma de impacto não esperado que, de modo
geral, desarticula e desorganiza, assim como o que ocorre na fragmentação dos
habitats pela construção de uma estrada.
Segundo Castro (2013), a ideia de “divisão”, no campo da política, foi aplicada
ao longo da história em situações precisas, dessa forma sendo menos problemática
do que a de fragmentação, de uso mais recente e ainda pouco tratada em
profundidade. Castro (2013: 41) esclarece que o resultado “[...] da fragmentação,
como fenômeno desencadeado por um processo de fratura ou quebra, é o
fragmento, ou seja, uma parte quebrada de, ou deslocada de uma porção isolada,
desunida, desconectada; uma parte incompleta ou inacabada”.
Na geografia política, de acordo com Castro (2013), o sentido da
fragmentação pode ser ampliado para qualquer forma de diferenciação social ou
espacial que constitua “fragmentos” do que anteriormente era uno ou homogêneo,
de forma que o espaço urbano caracteriza-se, entre outros aspectos, por ser
fragmentado segundo as apropriações (econômicas e sociais), o que o torna um
mosaico irregular de usos diferenciados (industriais, residenciais, de lazer, comercial
etc), com áreas de distintos tamanhos, formas e conteúdo, assim geradas por
distintos processos espaciais e agentes sociais.
53

Santos, M. (1990) descreve o princípio da fragmentação do espaço no


aglomerado urbano formado pela cidade de São Paulo e as outras cidades em seu
entorno, a grande São Paulo, evidenciado pela distinta capacidade de mobilidade da
população nas questões de transportes e moradia. De acordo com o autor, a cidade
capitalista se expande arealmente, incorpora novas áreas, e, graças à distribuição
dos usos do solo (localização das atividades econômicas e sociais e residências), se
fragmenta cada vez mais e “segrega” seus moradores de acordo com a
estratificação social, sendo os pobres as grandes vítimas. Segundo Santos, M.
(1990) a relação é inequívoca entre nível de renda e meios de transporte, ou seja,
quanto mais pobre o indivíduo, mais dependente ele é dos transportes coletivos; e
essa situação se agrava mais pela expansão da cidade e consequente fixação da
população nas periferias. Assim, grande parte da população periférica paulistana
(principalmente idosos e pobres) são prisioneiros do espaço local.
Santos, M. (1990) e Seabra (2000) abordam a temática sob a perspectiva
tempo/espaço, passando a ideia de processo/construção da fragmentação da
cidade, visto que, segundo Sposito (2013) resulta em amplas dinâmicas e envolve
diferentes formas de uso e apropriação do espaço contemporâneo.
Outros indicadores são priorizados pelos pesquisadores do urbanismo para
constatar a fragmentação urbana, como verificado em Carlos (2013), cuja
fragmentação é explicada

[...] pelo fato de que a extensão do valor de troca do solo urbano divide e
parcela o espaço, disponibilizando-o para o mercado de moradia e, nesta
condição, a propriedade privada do solo, associada à existência de rendas
diferenciadas no seio da sociedade, justapõe morfologia social/morfologia
espacial (produto da subordinação ao valor de troca e à realização do
mundo da mercadoria) (CARLOS, 2013: 100).

Carlos (2013) e Vasconcelos (2011 e 2013) são mais abrangentes na


formulação do conceito, por abarcarem a totalidade do espaço da cidade. Para
Vasconcelos (2011; 2013) a fragmentação apreende várias dinâmicas: mistura
desconectada de vários usos mal articulados pelas infraestruturas de transporte —
produzida pela “ação” ou “inação” do Governo — do mercado imobiliário e da
população pobre.
Assim posto pelo autor, considera-se outro ponto de vista que interessa ao
desenvolvimento desta tese: na cidade fragmentada coexiste uma população que é
segregada. Ou seja, existe uma ampla relação entre os dois processos, sendo “[...]
54

possível tratar tanto da segregação sócio-espacial como da fragmentação sócio-


espacial, na cidade atual” (SPOSITO, 2013: 84).
Na cidade, segundo Corrêa (1993), são os grupos sociais que atuam
intensamente gerando uma marcante fragmentação da estrutura social. Afirma o
autor (1993: 62) que da localização diferenciada no espaço urbano desses grupos
sociais fragmentados, “[...] emerge a segregação residencial da cidade capitalista”,
fundamentada na propriedade privada da terra e na reprodução do capital. Destarte,
a fragmentação projeta-se no espaço devido

[...] ao diferencial da capacidade que cada grupo social tem de pagar pela
residência que ocupa, a qual apresenta características diferentes no que se
refere ao tipo e à localização. Em outras palavras, as áreas sociais
resultam das diversas soluções que as classes sociais e suas frações
encontraram para solver os problemas de como e onde morar (CORRÊA,
1993: 62; grifos do autor).

Não é tão simples dizer que os grupos sociais “encontram” soluções para
resolver problemas de moradia, implícitas aí, questões como a intervenção do
Governo (direta ou indiretamente), o preço da terra, a produção da habitação, entre
outros fatores. Neste sentido,

[...] o como e onde se fundem, dando origem a áreas que tendem a ser
uniformes internamente em termos de renda, padrões culturais, valores, e,
sobretudo, em termos dos papéis a serem cumpridos na sociedade pelos
seus habitantes (CORRÊA, 1993: 63).

Em seus estudos Rouppila (2004) analisa o processo de “diferenciação


residencial” em cidades socialistas, como Budapeste, Praga, Tallinn e Varsóvia,
durante a era do socialismo de Estado, após a Segunda Guerra. Segundo o autor,
contrariamente à ideia de distribuição socialmente equitativa, o que seria de esperar
nos países socialistas, o sistema habitacional — resultado direto de projetos
conduzidos pelo setor estatal — produziu várias “diferenciações residenciais”
principalmente socioprofissionais. Em Budapeste, a redistribuição das habitações
privilegiou os membros da elite administrativa, os quais ocupavam os melhores
imóveis nas melhores localizações, antes que a redistribuição para o resto da
população fosse sequer começada. Em Tallinn, moradores foram forçados a sair de
suas casas a fim de deixar o espaço para pessoas em posições ocupacionais mais
elevadas, espaços estes privilegiados pela qualidade dos apartamentos em áreas
centrais e diferentes dos construídos na periferia. Já em Praga e em Varsóvia, a
55

redistribuição não chegou a afetar as pessoas em posições sócio-ocupacionais mais


elevadas que, dando continuidade ao “passado burguês”, não foram redistribuídas,
ocupando o centro da cidade parcialmente reconstruído como em Varsóvia, 1970,
com diferenças significativas na qualidade da habitação ou instalações entre bairros
residenciais de operários.
Autores como Rouppila (2004) preferem utilizar a terminologia “diferenciação
residencial” ou “desigualdade sócio-espacial” ao conceito de segregação, um dos
mais discutidos na literatura das ciências humanas. A etimologia do verbo “segregar”
originária do latim segrego, que quer dizer “separar do rebanho, apartar, isolar etc.”
remete a uma ideia de cercamento, pois, historicamente, sua origem se deu na
formação do guetto de Veneza, quando os judeus foram reclusos (fechados com
muros e portas), tornando-se a palavra sinônima de área segregada
(VASCONCELOS, 2004, 2011, 2013; SOUZA, M., 2013a).
O conceito foi adotado por pesquisadores, como resultante do estudo de
sociólogos da Escola de Chicago (CLARK, 1985 [1937]) que observavam a
preferência de aglomerações de grupos étnicos nas cidades norte-americanas,
formando diferentes “áreas sociais”. Posteriormente, de acordo com Vasconcelos
(2004, 2013), a noção foi transferida para outras realidades, passando por múltiplas
adjetivações, sendo o caso de segregação sócio-espacial, que indica tanto as
desigualdades nas cidades latino-americanas e europeias, como as separações de
atividades econômicas.
Em 1858, o vocábulo fez sua entrada em nosso idioma, tendo como primeira
acepção o ato ou efeito de se segregar (SOUZA, M., 2013b), ênfase dada por muitos
autores até os dias atuais (CORRÊA, 1993; SPOSITO, 2013; CARLOS, 2013). O
termo é adotado na Geografia devido às grandes desigualdades socioeconômicas
existentes no Brasil (VASCONCELOS, 2004, 2011).
Como uma das marcas das cidades contemporâneas que apresentam
diferenças sociais, culturais, econômicas e étnicas, a segregação sócio-espacial tem
sido objeto de preocupação de muitos pesquisadores, a partir da segunda metade
do século XX. Pode-se dizer que, de início, a análise indicava a separação, nas
cidades norte-americanas, entre negros e brancos, sancionada por normas legais,
quando, em 1950, aconteceu o movimento pelos direitos civis, estendendo-se,
posteriormente, a segregação entre brancos e minorias etno-raciais (CARVALHO;
PEREIRA, 2008).
56

Na França, as discussões sobre segregação, privilegiam as categorias


sóciocupacionais. Segundo Vasconcelos (2011, 2013), o termo é utilizado para
demonstrar, na cidade de Paris, a exclusão dos operários da cidade — no tocante
ao acesso aos equipamentos coletivos —, empurrados para residir em conjuntos
habitacionais na periferia metropolitana. Neste mesmo sentido, estudos recentes em
países da América Latina discutem como as transformações sociais e econômicas
têm se agravado, tornando visível a questão da segregação sócio-espacial.
Apesar do consenso existente sobre a relevância do fenômeno, o termo e seu
significado ainda são discutíveis, apresentando diferentes interpretações, às vezes
polissêmicas, mas envolvendo matrizes teóricas distintas, evidenciando
compreensões distintas entre grupos de estudiosos. Alguns trabalham a ideia de
segregação como uma separação forçada, legalmente estabelecida, em que a
população é obrigada a residir, ou seja, uma segregação formal involuntária,
associando-a a casos, como o apartheid na África do Sul, do gueto judeu das
cidades medievais, inclusive portugueses, ou os guetos, como em Varsóvia,
instalados durante a ocupação de cidades europeias pelos nazistas
(VASCONCELOS, 2013).
Assim, Vasconcelos (2004, 2011, 2013) se contrapõe ao uso do termo
“segregação”, nas cidades brasileiras, argumentando que noções e conceitos
elaborados em cada realidade não são automaticamente transferíveis perdendo seu
rigor e “[...] precisão necessária para ser um instrumental analítico que ajude no
conhecimento da realidade urbana” (VASCONCELOS, 2013: 33).
Para outros estudiosos, a segregação é entendida segundo o grau de
proximidade ou concentração espacial de pessoas que pertencem a um mesmo
grupo (determinado segundo condições socioeconômicas, políticas, ideológicas) que
residem em locais específicos da cidade, formando áreas relativamente
homogêneas. Neste contexto, Gordilho-Souza (2008: 15), tendo como objeto de
estudo a cidade do Salvador, define a segregação como “[...] separação da
população no espaço habitacional por classes sociais relacionadas à renda, em
localizações distintas, com características físico-ambientais diferenciadas”. É esta
perspectiva que adotamos nesta pesquisa, e trataremos por “segregação sócio-
espacial-residencial”.
Nesta perspectiva, Sposito (2013) considera dois pontos fundamentais à
questão:
57

[...] só cabe a aplicação do conceito de segregação quando as formas de


diferenciação levam à separação espacial radical e implicam rompimento,
sempre relativo, entre a parte segregada e o conjunto do espaço urbano,
dificultando as relações e articulações que movem a vida urbana.
Um segundo ponto que respeita ao caráter multidimensional da segregação
está nas MULTIPLAS FORMAS DE ADJETIVÁ-LA (SPOSITO, 2013: 65,
grifos da autora).

Neste sentido, Santos, M. (1990: 89-90; grifo nosso) afirma que a imobilidade
relativa dos pobres na grande São Paulo “[...] leva a cidade a se tornar um conjunto
de guetos [...]”, reafirmando-se a aplicabilidade do termo para o fenômeno no Brasil.
Assim, trata-se de concebê-lo amparado na fundamentação teórica e empírica, que
alimentem e sejam retroalimentados por esforços de pesquisa baseados na
realidade sócio-espacial.
Caldeira (2000) evidencia, para a cidade de São Paulo, os padrões da
segregação espacial, considerando, entre eles, a segregação por tipo de moradia,
por distância (periferia) e por muros e tecnologias de segurança. São os “enclaves
fortificados” ou “enclaves de luxo”, expressões propostas pela autora para
denominar os loteamentos e os condomínios fechados.
Autores como Harvey (1980 [1973]) e Souza, M. (2005) possibilitaram maior
entendimento a respeito da segregação residencial. O primeiro discutiu o termo,
considerando o mercado imobiliário, que

[...] leva diferentes grupos de renda a ocupar diferentes posições [e]


podemos ver os padrões geográficos na estrutura residencial urbana como
uma expressão geográfica tangível de uma condição estrutural na
economia capitalista (HARVEY, 1980 [1973]: 234, acréscimo nosso).

Souza, M. (2005) considera a segregação residencial como sendo um


processo permanente na história da urbanização, visto que, como resultado do nível
econômico, o indivíduo de um grupo de renda mais baixa é obrigado a viver em
áreas de urbanização mais precária.
No caso das cidades brasileiras, os locais de moradia de distintos grupos
sociais expressam as desigualdades sociais que se refletem no espaço urbano.
Neste mesmo contexto, tendo a segregação residencial como expressão espacial
dos grupos sociais na cidade gerando a fragmentação desse espaço (CORRÊA,
1993, 2013) afirma este autor:

A segregação residencial implica necessariamente em separação


espacial das diferentes classes sociais fragmentadas. A separação, por
sua vez, origina padrões espaciais, ou seja, as áreas sociais que emergem
58

da segregação estão dispostas espacialmente [...] (CORRÊA, 1993: 66;


grifos nossos).

Importante observar o que Sposito (2013) explica sobre as relações entre


fragmentação e segregação:

[...] do ponto de vista da abrangência, a fragmentação socioespacial é mais


ampla, porque abarca o conjunto da cidade e só pode ser apreendida pelo
conjunto das suas relações, as realizadas e as não realizadas. Do ponto de
vista da profundidade, o par segregação  autossegregação é mais radical,
porque associa-se a formas materiais e imateriais de separação, contendo
em muitos casos o direito à interdição do ir e vir, que muros e sistemas de
segurança tornam evidentes e que controles de outras naturezas efetivam,
ainda que de modo mais subliminar (SPOSITO, 2013: 84).

Corrêa (1993) considera, ainda, a segregação residencial como processo que,


origina a tendência a uma organização espacial em áreas que, de acordo com
Castells (1983: 250, acréscimos nossos), apresentam “[...] forte homogeneidade
social interna [no interior de uma unidade] e com intensa disparidade social entre
elas [em relação às unidades exteriores], sendo esta disparidade compreendida não
só em termos de diferença, como também de hierarquia”, essa geralmente
compreendida conforme a distância social derivada do sistema de
estratificação/estruturação urbana, consolidada pelo Governo que distribui,
intencionalmente, os equipamentos urbanos.
Assim, Brito (2005) ao estudar o mercado de habitação e a segregação
residencial na cidade do Salvador evidencia claramente os elementos da
segregação sócio-espacial, imbricados e alimentados pelo

lucrativo mercado de terras urbanas que, associado à promoção imobiliária


privada, consegue, por vias políticas, econômicas e outras, impor fronteiras
que definem áreas residenciais segregadas na cidade ocupadas por
distintas frações das classes sociais (BRITO, 2005: 52).

Torres; Marques; Bichir (2012) concordam com o entendimento de Castells


(1983) e Corrêa (1993), quando buscam a interface entre políticas públicas, pobreza
urbana e segregação residencial, nas metrópoles brasileiras e, especialmente, sobre
a cidade de São Paulo. Estes autores definem a segregação residencial como o
grau de separação ou isolamento residencial entre diferentes grupos sociais, sendo
destacado nas áreas residenciais: padrões de concentração espacial dos grupos e o
grau de homogeneidade observado. Destaque-se que os autores Castells (1983),
59

Corrêa (1993), Torres; Marques; Bichir (2012) discorrem sobre a tendência à


homogeneidade interna em escala local, assim como um bairro ou áreas
residenciais de vizinhança. Esta mesma tendência pode ser observada em algumas
cidades brasileiras, contrariando a tese de Vasconcelos (2013) quando afirma que
não há espaços homogêneos, sobretudo na escala das cidades.
A partir dessa perspectiva, Corrêa (2013: 14) define a segregação residencial
como a “[...] concentração no espaço urbano de classes sociais, gerando áreas
sociais com tendência à homogeneidade interna e à heterogeneidade entre elas
[...]”, definição esta bem próxima da de Castells (1983), conforme afirma o próprio
autor.
De acordo com Smith, N. (1988: 19), no capitalismo, a diferenciação social
ocorre e é responsável pela diferenciação geográfica em várias escalas espaciais e
“[...] o padrão que resulta na paisagem é bem conhecido: desenvolvimento de um
lado e subdesenvolvimento de outro”, sendo o capital concentrado em alguns
lugares em detrimento de outros (desenvolvimento desigual). Compreende-se,
então, que as diferenças sociais geram espaços segregados, entendidos aqui, de
fato, como segregação residencial, visto que somente pessoas de alta renda “[...]
estão onde estão por sua própria escolha” (TUAN, 1980: 249) e, desta forma, podem
“escolher” os espaços mais privilegiados na cidade para morar. O que fica
subentendido é que essas pessoas se submetem às ações do Governo e do
mercado imobiliário que “manipulam” o solo urbano com construções, habitações,
infraestrutura etc.
De acordo com Davis (1993), emerge, nos anos de 1990, uma obsessão por
sistemas de segurança física e, paralelamente, o controle arquitetônico da
construção urbana, apoiados na “resposta armada” ubíqua, claramente visível nas
ruas das cidades. Essa lógica, segundo o autor, é orientada para a enclavização
urbana, tornando-se abstrata a ideia de “liberdade na cidade”. Grupos sociais
dominantes da sociedade brasileira, por conta do aumento da violência nas cidades,
se isolam em loteamentos/condomínios fechados, com acessos restritos e prédios
protegidos por altos muros e equipamentos de segurança eletrônica. A provisão
desse mercado de “segurança” gera sua própria “demanada paranóica” (DAVIS,
1993), incentivada, também, pelo setor imobiliário que acresce a “mercadoria
segurança” ao produto, com o objetivo de aumentar seus lucros e rendas.
Nos loteamentos e nos condomínios fechados, segundo Davis (1993), a
60

“segurança” não se vincula, necessariamente à proteção do morador, mas sim com


seu grau de isolamento pessoal em ambientes residenciais, em relação a indivíduos
ou grupos “desagradáveis”. Nessa direção, aponta Vasconcelos (2013) para o
radicalismo desse

[...] agrupamento residencial defensivo que procura juntar os semelhantes e


excluir os diferentes e impedir o acesso dos indesejáveis. [...] Ele
caracteriza a anticidade na medida em que cria rupturas no ‘tecido urbano’ e
causa obstáculos ou impedimentos à livre circulação (VASCONCELOS,
2013: 27).

Dessa maneira, retorna-se a Corrêa (2013) quando afirma que a política dos
grupos sociais que é operada na autossegregação, consiste numa determinada
espacialidade — no caso, sua fragmentação sócio-espacial-residencial — sem a
qual, de acordo com Villaça (1998), o domínio pelas camadas de mais alta renda
não poderia ocorrer. Nesse sentido, a segregação sócio-espacial configura
determinada geografia (VILLAÇA, 1998), produto do embate entre a produção social
do espaço e a apropriação privada da terra urbana. Assim, os
loteamentos/condomínios fechados são áreas onde se processa a segregação
residencial “[...] consideradas nobres, tendo sido criadas pelo grupo de alto status
social e para ele” (CORRÊA, 2013: 43, grifos do autor). São áreas sujeitas a

[...] uma política de classe associada à elite e aos estratos superiores da


classe média, dotados de elevada renda monetária [visando] reforçar
diferenciais de existência e de condições de reprodução desses grupos por
intermédio da escolha das melhores localizações no espaço urbano,
tornando-as exclusivas em razão dos elevados preços da terra urbana e de
suas amplas e confortáveis habitações (CORRÊA, 2013: 43; acréscimos
nossos).

Davis (1993) e Corrêa (2013) afirmam que a segregação residencial é


símbolo de status e prestígio, embora, segundo Davis (1993: 206) haja um “[...] limite
decisivo entre os que estão meramente bem e os ‘verdadeiramente ricos”,
subentendidos aí os grupos de média renda.
O que se conclui das assertivas sobre a segregação sócio-espacial-
residencial é que, tendo o privilégio de escolha do local e forma de moradia em
loteamentos/condomínios fechados, essa mesma camada da população “agrupada”
tem as condições suficientes (geralmente econômicas) de se separar dos demais
que não as possui, impedindo a entrada do “outro”. Não seria essa uma atitude de
61

“descaso”, como nos alerta Vasconcelos (2004)15, mas uma atitude voluntária
(segregativa) para com a outra camada da população, que também, é segregada
pelo Governo, subsidiário pelo mercado imobiliário, controlado por esses grupos de
alto status da sociedade. Assim “[...] a segregação de uns provoca, ao mesmo
tempo e pelo mesmo processo [dialético], a segregação de outros” (VILLAÇA, 1998:
148; acréscimo nosso).
O “enclave fortificado” emerge, então, como uma estratégia sócio-espacial
deliberada pelos grupos de média e alta renda, em localização possibilitada e
favorecida pelo mercado imobiliário privado. Em contraponto, às pessoas de grupo
de renda baixa é imposta uma segregação, viabilizada pelo controle da terra urbana
e políticas do Estado. Involuntariamente, pessoas são “obrigadas” ou “empurradas”
a morar em espaços menos favorecidos: áreas periféricas mal localizadas, na
maioria das cidades brasileiras. Assim, não há opção de escolha e a população
passa a residir onde é possível, segundo seus rendimentos, subentendida aí,
também, a questão da acessibilidade/mobilidade sócio-espacial.

15
Vasconcelos (2004) também é criticado por Souza, M. (2013a), pelo uso “paternalista” do termo.
D’abord, la différenciation sociale des espaces est une donnée
qui résulte, comme on did, de l’«histoire».

Christian Topalov (1984: 174)


63

3 PERCURSOS HISTÓRICOS: A ESPACIALIDADE DA FRAGMENTAÇÃO E


SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-RESIDENCIAL EM SALVADOR E NO
LITORAL NORDESTE DA BAHIA

Nesta parte buscou-se compreender o processo de segregação sócio-


espacial-residencial na cidade do Salvador, continuado nas localidades urbanas do
Litoral Nordeste baiano no entorno da rodovia BA-099, trecho “Estrada do Coco”, até
Praia do Forte. Admite-se que, no LNE, a exemplo do que acontece em Salvador, há
uma fragmentação refletida no espaço urbano em razão de uma racionalização do
uso do solo pelo mercado imobiliário, que impõe fronteiras e define áreas
residenciais segregadas. A seguir, reconhece-se que a construção da rodovia BA-
099 foi um evento que representou uma nova dinâmica para a região, modificando
sua estrutura e organização socioeconômica, cultural e ambiental.

3.1 A CIDADE DO SALVADOR: UMA EXPANSÃO URBANA SÓCIO-ESPACIAL-


RESIDENCIAL DIFERENCIADA E CONTINUADA EM SEU VETOR NORDESTE

A dinâmica têmporo-sócio-espacial da cidade do Salvador indica que, desde


sua constituição como capital da colônia em 1549, até fins do século XIX, seguiu um
crescimento linear, ao longo da borda marítima voltada para a Baía de Todos os
Santos — em função do ponto escolhido para o porto e para a proteção da urbe —
direcionado para o norte e para o sul da península (SANTOS, M., 2008 [1959];
VASCONCELOS, 2002; ANDRADE; BRANDÃO, 2009).
Santos, M. (2008 [1959]) e Andrade; Brandão (2009) fornecem uma
explicação para a repartição social e demográfica da população de Salvador,
baseada na infraestrutura e na tendência de ocupação pelos grupos sociais, entre a
primeira metade do século XVIII até fins do século XIX. No sentido norte,
possibilitada pelas novas vias de comunicação e meios de transporte, foram sendo
formados bairros habitados por grupos de renda média (profissionais liberais,
pequenos comerciantes, proprietários de terras e funcionários públicos) e grupos de
pessoas pobres (operários, empregados no comércio, pequenos funcionários e
64

gente sem profissão definida); a sul, no sentido dos atuais bairros da Vitória e Graça,
constituídos por grandes e luxuosos palacetes, residências de uma burguesia
enobrecida (banqueiros, grandes comerciantes, industriais, grandes proprietários de
terra e incorporadores imobiliários).
Consolidou-se então, na época, uma diferenciação dos grupos sociais na
cidade do Salvador em sentidos espaciais opostos: a parte sul abrigava a parcela
rica da população soteropolitana, enquanto os grupos populares se instalaram na
parte norte. Apesar de manter um crescimento linear, a cidade já apresentava,
desde 1714, características de uma expansão radioconcêntrica, considerando que a
Baía de Todos os Santos fica a oeste e novas áreas de ocupação se estabeleceram
a leste (VASCONCELOS, 2002; ANDRADE; BRANDÃO, 2009), vindo a se expandir,
mais tarde, constituindo-se a área de urbanização contínua da cidade.
Com a consolidação do atual bairro da Barra, ao sul, no início do século XX,
as camadas sociais mais ricas da população da cidade começaram a se direcionar
para o setor de amenidades (orla oceânica de alto mar) atraídos pelas belezas
naturais, praias e melhor microclima. Segundo Vasconcelos (2002), neste setor,
iniciaram-se as construções residenciais, implantados os primeiros loteamentos, e,
com a abertura de novas vias (Avenida Oceânica, estrada Amaralina-Itapuã-Campo
de Aviação16). Com o início desta estrada, em 1942, a área foi aberta à urbanização
dando origem aos bairros de Ondina, Amaralina17 e Pituba.
As características desse espaço urbano não se reduziram aos seus aspectos
físicos e naturais, mas, de acordo com Topalov (1984), resultou no aumento do
preço da terra urbana e dos imóveis, na lógica da renda da terra em sua modalidade
de monopólio. E, independente do uso do solo, criaram-se novos valores
sociais/culturais.
Como área de residência predileta dos grupos sociais de renda mais elevada,
e denotando, de acordo com Agier (1990), uma ascensão social pela renda/salário
16
Essa estrada, construída pelo Derba em 1949, ligava a cidade do Salvador ao povoado de Ipitanga
(atual cidade de Lauro de Freitas, sede do município de mesmo nome emancipado de Salvador em
1962). A estrada possibilitou a expansão da capital baiana ao longo do litoral oceânico, atração
natural para o lazer, bem como a possibilidade futura de ligação da cidade com outras cidades e
localidades a nordeste do município (entrevista realizada em 23/07/2012 a MEIRA, Edyano de Castro,
Engenheiro Civil, aposentado pelo Derba). Atualmente a estrada está integrada ao equipamento
urbano soteropolitano com o nome de Av. Octávio Mangabeira.
17
Santos, M. (2008 [1959]) apresenta mapa da ocupação do espaço da cidade em 1957 indicando,
para a área litorânea entre Ondina a Amaralina, uma extensão da “zona residencial de classe rica”.
65

do indivíduo, passou a ser ocupada, a partir do final da década de 1970, por uma
elite operária (os mais graduados, de formação superior e uma parte dos técnicos)
das indústrias “dinâmicas” do Pólo Petroquímico de Camaçari (COPEC). Os
operários subalternos moravam do “lado da baía” (ou em bairros como a Liberdade)
que em termos sociais, raciais, arquiteturais, de saúde pública, de equipamentos
urbanos etc., recebia e recebe até hoje, o valor negativo em cada item da
comparação com essa área a nordeste da cidade (AGIER, 1990).
Segundo Vasconcelos (2002), o período compreendido entre 1945 e 1969 foi
de aceleração da expansão populacional e espacial da cidade do Salvador, como
resultado dos novos aportes migratórios de população interiorana, mas também das
difíceis condições de vida de boa parte da população o que levou às primeiras
ocupações informais, como o Nordeste de Amaralina18. Para a Orla Atlântica
também foram relocados, em 1958, os moradores da ocupação informal Bico de
Ferro para o atual bairro de Boca do Rio, que “[...] passou a contar com um bolsão
de população pobre” (VASCONCELOS, 2002: 338). Segundo o autor, com a
abertura da Orla Atlântica, um grande número de loteamentos foi aprovado
consolidando a ocupação da área, sobretudo por residências unidomiciliares.
De acordo com Carvalho; Pereira (2008), com a expansão e modernização da
capital baiana (1960-1970), aconteceu uma intensa ocupação informal de famílias
pertencentes aos grupos de renda baixa no interior da península. Nessa época, a
Prefeitura de Salvador — que detinha a propriedade da maioria das terras do
município — comprometida com uma modernização excludente e com os interesses
do capital imobiliário, transferiu através da Lei de Reforma Urbana, em 1968, sua
propriedade, para algumas poucas mãos privadas. Nessa fase, outras estratégias de
crescimento e modernização da cidade foram implementadas pelo governo
municipal.
Assentamentos de população pobre que ocupavam os inacessíveis fundos de

18
A origem do bairro está estreitamente ligada ao do Rio Vermelho que, cobiçado pela burguesia no
início do século XX, as famílias de pescadores foram obrigadas a se instalar no alto da colina em
frente à praia de Amaralina. Na época, as terras pertenciam a diversos proprietários, alguns
incentivando a ocupação informal desses terrenos, o que veio a dificultar as relações de propriedade
até os dias atuais. O bairro de Nordeste de Amaralina localizado em área de grande valorização
imobiliária — vetor de extensão da orla marítima margeando o Oceano Atlântico — e sujeito às
pressões do mercado imobiliário, contrasta com bairros do seu entorno dotados com equipamentos,
infraestrutura e serviços urbanos (História do bairro. Disponível em:
<http://amnaluta.blogspot.com.br/p/historia-do-bairro.html>. Acesso em: 16 out 2015.
66

vales da cidade foram deslocados com a abertura de avenidas, cuja área começou a
ser ocupada pela produção imobiliária, através do Sistema Financeiro de Habitação,
com conjuntos residenciais para grupos de renda baixa, e por loteamentos populares
e sucessivas ocupações informais (CARVALHO; PEREIRA, 2008).
A expansão da construção civil residencial e a valorização da terra urbana
impulsionadas pelo processo de crescimento urbano em ritmo acelerado assinalava
a metropolização da cidade e a consequente expansão do mercado imobiliário
formal para as famílias de renda alta e média nos novos bairros da Pituba, Caminho
das Árvores, Itaigara, Iguatemi, a partir do final dos anos 1960 (BRITO, 1993).
Nessa época, começaram a ser construídos grandes quantidades de apartamentos
em Salvador dando início à maciça verticalização da cidade. Tal fato exprimiu,
segundo Santos, M. (2008 [1959]), não apenas o conflito entre a herança do
passado e a especulação imobiliária, mas, igualmente, um imperativo de
crescimento urbano e descentralização funcional intraurbana, que a partir dos anos
1970 implicou simultânea e dialeticamente o processo de deterioração funcional do
antigo tradicional19 centro da cidade e a constituição e adensamento de novos
subcentros funcionais, com destaque para o mais novo e importante subcentro —
vale do Camarugipe — Iguatemi/Tancredo Neves (RODRIGUES, ADILMA, 2001)20.
Essa descentralização — que resultou também dos interesses dos
proprietários fundiários e promotores imobiliários — foi impulsionada por grandes
empreendimentos, destacando-se a nova Estação Rodoviária, o Shopping Iguatemi
(atual Shopping da Bahia), a Av. Luís Viana (Paralela) e o Centro Administrativo da
Bahia (CAB) que com suas artérias de ligação, como a Avenida Tancredo Neves,
direcionaram a expansão urbana no sentido da orla marítima a nordeste da cidade.
Neste setor, em bairros como o Caminho das Árvores, Pituba, Itaigara,
Patamares, Piatã e Stela Maris, foram formadas as maiores concentrações dos
chamados espaços “nobres” de Salvador (VASCONCELOS, 2002), embora,
contrapondo a esses, os “bolsões de pobreza” no Nordeste de Amaralina, Boca do
Rio e parte de Itapuã, ressalvando-se que os dois primeiros foram sendo
consolidados como bairros populares de alta densidade demográfica, ocupando
19
Ao longo do texto, o termo está frequentemente relacionado às comunidades do LNE baiano de
grupos de renda baixa, que mantêm de uma geração a outra a sua cultura, incorporando hábitos e
costumes.
20
Segundo o estudo de Rodrigues, Adilma (2001) ao longo do tempo, a partir dos anos 1970 foram
constituídos subcentros funcionais urbanos na cidade com suas respectivas hierarquias.
67

enclaves urbanos ainda não reclamados pelo grande capital fundiário e imobiliário e
de proprietários de Salvador.
Embora não exista grandes barreiras naturais que limitem a expansão urbana
de Salvador entre a orla da Baía de Todos os Santos e a área costeira Atlântica, na
própria região metropolitana essas barreiras já aparecem e limitam a expansão
residencial, a cerca de 90 graus: o Oceano Atlântico e a Baía de Todos os Santos
(VILLAÇA, 1999). Nas porções interioranas, os mananciais de abastecimento de
água (barragens de Joanes I e II, Ipitanga e do Cobre), além do Centro Industrial de
Aratu (CIA) e Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC). Logo, é para o setor
nordeste a direção predominante de crescimento da cidade, materializada pelas vias
de acesso: a Avenida Luís Viana (Paralela) que atinge a rodovia BA-099, (trecho
“Estrada do Coco”) na divisa do município de Salvador com Lauro de Freitas e sua
extensão para o segundo trecho, a “Linha Verde”, em direção à divisa do estado
com Sergipe. A área considerada no estudo está exatamente neste contexto — um
setor de expansão urbana da cidade do Salvador e da sua região metropolitana.
Estudos realizados por Carvalho; Pereira (2006) e Silva, S.; Silva, B.;
Carvalho (2008), demonstram uma “segmentação” sócio-espacial leste-oeste em
Salvador, expressa em áreas limitadas pelos eixos das avenidas Antônio Carlos
Magalhães (parte), Tancredo Neves e Luís Viana (Paralela). Na Orla Atlântica têm-
se os grupos sociais de renda mais elevada, a exemplo da população dos bairros da
Pituba, Itaigara, Iguatemi e Imbuí, excluídos os “enclaves” ou “bolsões de pobreza”
dos bairros da Paz, do Stiep e Boca do Rio. Enquanto nessas áreas há o predomínio
dos ricos, na vizinhança (área central da cidade) o oposto: predominam os grupos
sociais de renda mais baixa, a exemplo da população dos bairros de Pernambués,
Sussuarana, Mussurunga e São Cristóvão, próximo ao Aeroporto, limite de Salvador
com Lauro de Freitas.
Estudos feitos por Brito (2005) demonstram o processo de estruturação e
desenvolvimento do mercado de terras e habitação nos bairros de Salvador, de 1970
a 2004 (Tabela 3). Em bairros “nobres” como Barra e adjacentes (Vitória, Graça,
Campo Grande), onde residem famílias de grupos de renda média e alta da cidade,
os preços médios dos terrenos eram os mais elevados, de U$ 41,9 (1970) a U$
291,7 (2004). Percebe-se que o centro da cidade, por comportar, em 1970, funções
comerciais e residenciais, os terrenos, depois da área da Barra, atingiam os preços
médios mais elevados, enquanto que nos demais bairros da cidade os preços
68

médios dos terrenos decrescem. De forma geral, os terrenos de preços mais baixos
encontram-se na periferia de Salvador, em bairros como São Caetano, Pau da Lima,
Cajazeiras, Valéria, São Cristóvão, Subúrbio e Tancredo Neves, enquanto em
direção ao setor residencial da Orla Atlântica, registra-se forte valorização fundiária e
imobiliária. Em 2004, os preços médios dos terrenos por m² situavam-se em torno de
U$ 180,0 no bairro da Pituba e U$ 104,0 no do Rio Vermelho.

Tabela 3 – Preço médio de terrenos urbanos em Salvador – 1970/2004


U$/m²
Localidades
1970 1980 1990 2000 2004
Barra 41,9 126,4 234,1 233,3 291,7
Pituba 15,0 54,4 123,6 177,4 182,2
Rio Vermelho 12,0 54,1 88,8 110,6 104,9
Federação 11,5 18,9 64,7 90,5 84,9
Centro 36,0 190,1 110,7 72,6 79,7
Boca do Rio 6,2 28,7 77,9 49,6 74,3
Brotas 14,6 36,6 1538 75,0 72,0
Itapuã 5,8 22,2 27,5 41,3 59,0
Liberdade 16,9 24,0 63,9 40,5 44,1
Cabula 4,5 25,8 51,0 27,8 42,6
Itapagipe 16,1 53,3 137,2 57,5 36,1
São Caetano 5,1 10,3 21,3 30,5 22,0
Pau da lima 1,5 14,0 14,1 41,2 16,8
Cajazeiras ... 2,5 12,0 18,9 15,4
Valéria ... 4,5 14,3 2,6 12,9
São Cristóvão ... 3,4 10,3 19,2 12,8
Subúrbio 3,2 9,5 9,4 16,0 9,4
Tancredo neves ... 9,3 15,7 25,8 6,9
Fonte: BRITO, 2005.
Elaboração: Denise Magalhães, 2014.
Nota: ... Dado numérico não disponível.

Assim, segundo Carvalho; Pereira (2006) a apropriação diferenciada da


cidade do Salvador se consolidou e intensificou com o surgimento da cidade
contemporânea, notadamente com as intervenções dos poderes governamentais
nesse setor costeiro ao longo do Oceano Atlântico, decisivas para o adensamento
de uma destacada população de faixa de renda mais elevada.
Carvalho; Pereira (2006) e Silva, S., Silva, B. e Carvalho (2008) assinalam
que a “segmentação” sócio-espacial leste-oeste — a exemplo do que acontece em
Salvador — se repete no município vizinho de Lauro de Freitas. A orla marítima do
município é uma continuação da área enobrecida de Salvador, visto que para ela
são atraídos os segmentos populacionais de média e alta renda provenientes
principalmente da capital (CARVALHO; PEREIRA, 2006), inclusive com os enclaves
69

sociais pobres, ocupações informais etc.


No presente estudo admite-se uma divisão espacial (fragmentação) ao longo
do litoral, como produto de uma racionalização do uso do solo urbano pelo mercado
imobiliário. O mercado imobiliário segundo Harris (1984), tornou-se o mecanismo
pelo qual as relações entre grupos sociais no sistema capitalista de produção, são
refletidas no espaço residencial urbano. Segundo Harris (1984), historicamente
apareceram padrões de segregação de grupos sociais na cidade com a ascensão do
capitalismo industrial que criou as condições para o desenvolvimento de um
mercado distinto para habitações e hoje, com uma pequena variação de cidade para
cidade, a tendência é tomar isto como inevitável.
A exemplo, na Avenida Paralela, em Salvador — importante eixo viário que
liga a área do Iguatemi a divisa do município com Lauro de Freitas e que atrai, cada
vez mais, empresários, comerciantes e moradores para o seu entorno — a
distribuição de terras é espacialmente desigual em termos de sua composição
social. Na orla marítima (a leste) a presença de grupos de renda média e alta,
excluído o Bairro da Paz (antiga ocupação informal das Malvinas) que fora as más
condições de vida da população, sofre muito preconceito pelo estigma da pobreza e
da violência. Do lado oeste da pista, parte central do município, se estabeleceu uma
população de renda mais baixa, em aglomerados urbanos, nos loteamentos ilegais e
nos conjuntos habitacionais populares estabelecidos pelo planejamento
governamental por meio do BNH e outros, como a Companhia de Habitação Popular
(COHAB) e a Habitação e Urbanização da Bahia S.A. (URBIS), a partir dos anos
1964 (SALVADOR, 1985; MENDONÇA, F., 1989; FERNANDES; REGINA, 2005).
Ressalvando-se a maior complexidade do fato urbano em Salvador, existe,
também, uma fragmentação que se repete no município de Lauro de Freitas,
Camaçari e Mata de São João, ao longo de toda a rodovia BA-099  “Estrada do
Coco”, e, como corolário, uma segregação sócio-espacial-residencial da população
no espaço, mesmo considerando que em localidades como Abrantes, Arembepe e
Jauá habitam pobres e ricos.
70

3.2 NOVA DINÂMICA DA OCUPAÇÃO E USO DO SOLO NO LITORAL


NORDESTE BAIANO A PARTIR DA ABERTURA DA RODOVIA BA-099

No mapa do IBGE de 1953, na década de 1950 não existia, estrada na parte


litorânea que, saindo da cidade do Salvador, desse acesso direto às localidades do
LNE da Bahia. Nessa época existia somente uma estrada carroçável que chegava
ao povoado de Ipitanga (sede do atual município de Lauro de Freitas) e dessa
localidade, por meio de caminhos, se chegava à localidade de Portão (hoje bairro da
cidade de Lauro de Freitas) e outras localidades do município de Camaçari, como a
vila de Abrantes e povoados de Gajirus e Jauá. O acesso a outros povoados e
praias da região LNE (Arembepe, Jenipabu, Monte Gordo, Guarajuba, Barra do
Pojuca, também chamada de Pojuquinha, até Praia do Forte) se fazia por estradas
carroçáveis a partir da cidade de Camaçari (Figura 2).
Ainda no início dos anos 1970 não havia estradas de rodagem no LNE da
Bahia, e as localidades permaneciam quase isoladas, tornando-se necessária a
implantação de uma rodovia costeira que integrasse essa parte do estado à cidade
do Salvador. Nesse sentido, mais como uma demanda imediata de uma grande
empresa industrial que havia sido instalada na parte litorânea do município de
Camaçari — a Tibras21 —, o Governo estadual planejou a construção de uma
estrada em 1975. Esta rodovia é a BA-099, que, em virtude da existência de muitos
coqueirais ao longo da costa, recebeu o nome de “Estrada do Coco” (BA-099 –
ESTRADA DO COCO, 1976).
Observa-se que a construção desta rodovia por meio do Derba também foi
justificada pela possibilidade de exploração futura das potencialidades econômicas
da região: turismo, atividade pesqueira, produção do coco-da-baía e expansão
urbana.
A partir dos anos 1970, apesar da dificuldade de acesso, o veraneio no LNE
baiano já era praticado por grupos sociais de alta renda. Foi essa parte da
população e os agentes imobiliários com interesses na urbanização do LNE, aliados

21
A empresa Tibras estava instalada nas proximidades do povoado de Arembepe desde 1971.
Atualmente privatizada, é denominada Cristal Pigmentos do Brasil S.A. À época o local era
desabitado e distante de áreas urbanas, fator importante devido à natureza de seus efluentes
atmosféricos, de grande impacto, pois processava o ácido sulfúrico, ácido oxigenado (H2SO4)
derivado do enxofre, altamente corrosivo.
71

as intenções econômicas e estratégias de articulação espacial do Governo, que


comandaram a transformação da estrutura espacial regional, atraindo, não só a
implantação da rodovia, como outros investimentos econômicos e em infraestrutura
ao longo desta estrada.
Segundo Villaça (1998) uma estrada de interesse regional, independe de uma
urbanização que ali ocorre, embora possa beneficiá-la, como é o caso da rodovia
BA-099  “Estrada do Coco”. Nesse sentido, a importância da acessibilidade para o
capital fundiário e imobiliário e para os consumidores é tanta que favorece o
aumento do preço da terra (TOPALOV, 1979).

Figura 2  Vias de acesso às localidades do Litoral Nordeste da Bahia, 1953

Fonte: IBGE, 1953.

A implantação rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, bem como da avenida


72

Paralela e avenida Octávio Mangabeira em Salvador, facilitou a ligação da capital


com a cidade de Lauro de Freitas provocando, ao longo do tempo, uma conurbação
entre as duas cidades e que é adensada a cada dia. Considerando os loteamentos
existentes, a oeste, predominam os populares no distrito de Itinga (em Lauro de
Freitas), vizinho ao bairro também popular e urbanizado de São Cristóvão (em
Salvador), situado no fim da Avenida Paralela e na proximidade com o Aeroporto. Na
orla marítima, predominam loteamentos voltados a uma população de renda média e
alta, em locais como Stela Maris e Praia do Flamengo e Praia de Ipitanga (em
Salvador). Segundo Carvalho; Pereira (2006), novos empreendimentos imobiliários
atraíram para Lauro de Freitas uma população de alta renda proveniente
principalmente de Salvador. Esta população busca, pela proximidade, um veraneio
mais acessível e/ou uma moradia em contato com a natureza e sem os “medos” da
vida urbana, proporcionados pelos condomínios fechados, a exemplo de Vilas do
Atlântico e outros tantos que, ainda, apesar de pouca área disponível no município,
são multiplicados.
Considerando a sua importância, a rodovia BA-099 foi o evento que
representou uma nova dinâmica para a região: novas localidades com potencial
turístico foram “descobertas”; foi ativado um mercado de terras e habitação
preferencial para atuação do capital fundiário e imobiliário; implantados novos
equipamentos e atividades relacionadas ao turismo (MAGALHÃES, 2003).
Concorda-se então com Santos, M. (2009 [1996]) quando explica que ao emergirem,
os eventos propõem uma nova geografia, mudam as coisas, transformam os
objetos, dando-lhes novas funções. Destarte, segundo Silva, S.; Silva, B.; Carvalho
(2008), ao ser implantada a rodovia BA-099  “Estrada do Coco”,

[...] toda a região, com seus recursos naturais, cênicos e culturais, passou
a ser facilmente acessível à metrópole de Salvador o que possibilitou [sua]
intensa transformação, [...] passando de um ‘deserto’ (SANTOS, 1959, p.
155) a um ‘território de enclaves’ turísticos, recreacionais, de lazer e de
residências secundárias (SILVA, S.; SILVA, B.; CARVALHO, 2008: 189,
acréscimo nosso).

O primeiro trecho da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, principal artéria


estruturante do sistema viário subregional, caracteriza-se como o principal eixo de
expansão urbana de Salvador e de sua região metropolitana pelo litoral, contribuindo
73

com a configuração urbanística linear22 (MAGALHÃES, 2003). Para as suas


margens é atraída uma variada gama de atividades econômicas, além do que, o
mercado imobiliário local vem atuando de maneira distinta na configuração
espacial/residencial fragmentando-o e, desta maneira pondo à vista a natureza
profunda da segregação sócio-espacial-residencial desse setor marítimo.
A partir da rodovia BA-099, modifica-se a estrutura e organização do espaço
regional do ponto de vista socioeconômico, cultural e ambiental. Concorda-se então
com Moraes (2007), quando afirma que o Governo, enquanto produtor do espaço
geográfico tem sido um dos mais importantes agentes de transformação nas áreas
costeiras, pela instalação de grandes equipamentos, a exemplo das rodovias.
Neste sentido, observa-se que, a exemplo de alguns setores do litoral
brasileiro, o LNE da Bahia também evolui num processo de “onda de ocupação”,
ditado pelas ações definidas pelos proprietários de terras (articulados com o
Governo) interessados em obter mais lucros e de maneira mais rápida com a oferta
de glebas de terras ao mercado com o apelo do veraneio e principalmente do
turismo de sol e mar. Nesse sentido, o capital imobiliário atua com estratégias de
marketing territorial promovendo a imagem diferenciada, subjetiva e simbólica da
região, para alcançar preços calculados com base na renda de monopólio.
Mas, juntamente com as oportunidades econômicas criadas, aparecem as
implicações sócio-espaciais que a rápida urbanização sem infraestrutura, atrai para
os frágeis ecossistemas do litoral, provocando efeitos negativos nas praias, lagoas,
rios, restingas, no solo e na paisagem como um todo.
É nesse setor litorâneo que, segundo Carvalho; Pereira (2006) e Silva, S.;
Silva, B.; Carvalho (2008) é construído um novo tipo de “cidade”: como resultado de
um forte papel empreendedor do Governo, sobretudo ligada ao consumo de bens e
serviços; bastante dependente da metrópole baiana e com sérios problemas
ambientais e de conflitos dos grupos de turistas/veranistas com as populações
tradicionais, remanescentes dos períodos anteriores. É, ainda, de acordo com os
autores, um espaço “desprovido” de mecanismos institucionais de gestão
compatíveis com as mudanças que se operam na região, embora seja competência

22
A rodovia BA-099 foi construída pelo Governo do estado, mas em 1999 teve a sua concessão de
exploração transferida à Concessionária Litoral Norte (CLN) para, com a cobrança de pedágios,
operar e fazer os melhoramentos necessários. Apesar da sua duplicação possui um dos maiores
fluxos de veículos ao longo da cidade de Lauro de Freitas, agravando os problemas com o trânsito
congestionado em horários de grande fluxo.
74

da Conder a gestão da execução de projetos e obras de desenvolvimento urbano de


todo o estado da Bahia.
Essa “cidade” no LNE baiano se expande e nela se multiplicam
empreendimentos como os loteamentos e condomínios fechados cuja implantação
causa muitos problemas ambientais e com a população do seu entorno. Se são
requeridos, pela Lei Federal n 11.428/2006 estudos de impactos e licenciamentos
prévios aos empreendedores, cabe ao Governo, segundo a Lei 6.766/1979 que
regula o Parcelamento do Solo Urbano, disciplinar a aprovação desses
empreendimentos. Entretanto, segundo razões que se verão no decorrer do estudo,
a atuação dos órgãos fiscalizadores e conselhos gestores de áreas de preservação
ambiental é questionável, pois se verificam irregularidades, divergências e
contradições entre leis e interesses dos vários interessados do processo.
75

A produção capitalista (e a apropriação da natureza) é


acompanhada não pela satisfação das necessidades em geral,
mas pela satisfação de uma necessidade particular: lucro. Na
busca do lucro, o capital corre o mundo inteiro. Ele coloca uma
etiqueta de preço em qualquer coisa que ele vê, e a partir desta
etiqueta de preço é que se determina o destino da natureza.

Neil Smith (1988: 94)


76

4 A “NOVA” ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO LITORAL NORDESTE DA BAHIA E


OS CONFLITOS COM COMUNIDADES EMPOBRECIDAS

Neste capítulo, aborda-se o processo de ocupação da propriedade privada de


terras no Brasil e na região do Litoral Nordeste baiano, bem como as transformações
sócio-espaciais decorrentes da ocupação e do uso do solo no decorrer do tempo:
agricultura de subsistência, pesca e extrativismo vegetal, agropecuária, exploração
petrolífera, instalação do CIA e do COPEC, silvicultura e exploração turística.
Discute-se também a resistência e conflitos de comunidades locais empobrecidas
que se mantêm nas terras do LNE, por onde avança o capital fundiário e imobiliário.

4.1 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA CAPITALISTA


DA TERRA NO BRASIL E NO LITORAL NORDESTE BAIANO

De acordo com Ribeiro D. (2000) os verdadeiros donos das terras brasileiras


são os indígenas, que habitavam as terras pré-cabralinas há tempos. As terras
“descobertas” pelos portugueses, em 1500, deram origem à formação histórica da
propriedade estatal no Brasil, sob a Coroa portuguesa. Nesse sentido, pode-se dizer
que as terras foram “expropriadas” dos habitantes locais, o que permitiu à Coroa
portuguesa traspassá-las por “doação” — Capitanias Hereditárias — a terceiros com
posses (incentivando, com isso a concentração de terras23), que detinham a
propriedade privada no país, baseada na escravidão da população indígena e,
posteriormente, da população negra trazida da África. Esse tipo de gestão da
propriedade da terra e da formação social brasileira desde o período colonial,
consolidou a apropriação concentrada da propriedade da terra e a desigualdade
econômica, social e espacial presentes hoje na formação sócio-espacial brasileira
(GONÇALVES, 1995).
23
A concentração e fragmentação da propriedade são processos simultâneos presentes na história
agrária do Brasil: de 1920 a 1940, época da Grande Depressão, a fragmentação predominou; entre
1940 e 1950, predominou a concentração; a fragmentação continuou a dominar nas décadas
seguintes (1960 a 1970), mas em 1975, com a intervenção do Governo federal no sentido claramente
concentracionista, o movimento global de fragmentação é superado pelo de concentração da
propriedade. Essa estratégia, bem como os incentivos e subsídios do Governo favoreceram a
concentração da propriedade agrária, e, com mais intensidade, a concentração da produção e da
renda (GUIMARÃES, 1982).
77

Ribeiro, D. (2000) destaca o enorme patrimônio fundiário que se estendia de


norte a sul do país, no século XIX, na forma de missões e concessões territoriais
outorgadas pela Coroa portuguesa, muitas célebres, como a de Garcia D’Ávila. As
sesmarias não compreendiam as terras lindeiras ao mar (marinhas) e, consideradas
bens públicos desde o período colonial, estavam sujeitas ao pagamento da
respectiva renda pelo direito de uso. Essa forma jurídica que presidiu o processo de
apropriação fundiária no Brasil colonial faz valer seus efeitos até hoje (ABREU,
2011).
A formação da propriedade privada da terra no atual LNE baiano remete à
própria história da colonização do Brasil. No sentido de formalizar a posse e
ocupação da colônia portuguesa no país, em 1549, Tomé de Souza chegou e
fundou a cidade do Salvador, a capital da nova colônia. Com Tomé de Souza, que
foi o primeiro Governador Geral do Brasil, dentre outros membros da corte
portuguesa, veio também Garcia d’Ávila24, um fidalgo, que obteve uma sesmaria que
ao longo do tempo foi constituindo um vasto patrimônio, cujos descendentes,
continuaram a expandir os seus domínios, a partir da porção nordeste do atual
município de Salvador, avançando por todo o sertão norte baiano, ocupando terras
da Paraíba, do Piauí até o Maranhão.
As terras de Garcia d’Ávila começavam em Itapuã, nos limites da cidade do
Salvador, seguia em direção ao atual LNE da Bahia, em que entrava a cobiçada
angra de Tatuapara, onde se localiza hoje a Praia do Forte, local cuja ocupação era
estratégica para a defesa do sítio. Lá se instalou, fazendo benfeitorias: uma
povoação de casas de sua vivenda, a Igreja de N. Sra. da Conceição e a Casa da
Torre (também conhecida como Castelo Garcia d’Ávila) (MONIZ, 2007).
Segundo Moniz (2007) o Garcia d’Ávila, proprietário absenteísta, tornou-se
um dos principais e mais ricos habitantes da cidade do Salvador, e um dos maiores
sesmeiros do Brasil, conquistando terras à custa da aniquilação dos índios
tupinambás, que dominavam o sertão nas proximidades da enseada de Tatuapara.

24
De acordo com alguns genealogistas e historiadores, buscou-se uma linhagem nobre para Garcia
d’Ávila sugerindo-se sua filiação bastarda a Tomé de Sousa, questão que permanece, ainda hoje,
como conjectura. Apesar de que, fora os “queixumes” que dele tinha, conta o padre Manuel da
Nóbrega em carta a Tomé de Sousa: “[...] achava nele um rastro do espírito e bondade de V.
Mercê do que eu sempre me contentei, e como ter cá me alegrava, parecendo-me estar ainda
Tomé de Sousa nesta terra [...]” (CALMON, 1983: 26, grifos nossos). “Possivelmente Garcia d’Ávila
nunca se identificou como filho de Tomé de Sousa porque a lei portuguesa proibia aos capitães-
mores e governadores conceder sesmarias aos seus familiares, ainda que isto pudesse haver
ocorrido” (MONIZ, 2007: 622).
78

Verifica-se, então, o domínio econômico e político da família dos “Ávila” sobre


as terras do Litoral Nordeste baiano, bem como o prestígio que conseguiu acumular,
ao longo de dez gerações em três séculos. Os Garcia d’Ávila mantiveram a
propriedade da terra em família até 1852, quando o patrimônio começou a ser
disperso mediante partilha de heranças e depois em vendas25.
Segundo Silva, L. (2014), os grandes sesmeiros — a exemplo de Garcia
d’Ávila — tinham total autonomia sobre seus domínios fundiários, podendo negociar
as terras (arrendá-las ou vendê-las). Nesse sentido, de acordo com a autora, já era
forjado um “mercado” de terras, não sendo necessária uma lei de terras para
caracterizá-la como mercadoria. Assim, a Lei nº 601/1850 (que ficou conhecida
como Lei de Terras), instituída pelo Governo imperial no sentido de regulamentar a
propriedade privada da terra no Brasil, tornou-se o instrumento legal em 1854, com a
publicação do Decreto nº 1.318. Esta lei

[...] foi feita exclusivamente para dar continuidade ao poder dos grandes
latifundiários, já que o sistema de sesmaria caíra em 1822, não permitindo
que europeus recém-chegados ou a caminho [...] tivessem acesso fácil à
terra. Para possuí-las eles teriam que comprá-las a preços altos,
determinados por um mercado dominado pelo monopólio dos grandes
proprietários (SILVA, L., 2014: 86).

Entretanto, segundo a autora, a terra permanecia sendo monopólio de


grandes proprietários que cada vez mais ampliavam os seus domínios fundiários,
concentrando mais terras, mais rendas, mais poder econômico e político26 e o “[...]
seu impacto sobre a estrutura fundiária do país faz-se sentir até hoje” (ABREU,
2011: 541).
O período se caracterizou por amplo e indiscriminado movimento de

25
Em 1922, o coronel Otacílio Nunes de Sousa tornou-se proprietário do Castelo Garcia d’Ávila e
terras adjacentes onde iniciou o cultivo do coco associado à pecuária extensiva, até a época do seu
tombamento, em 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Embora
seja um dos principais monumentos do patrimônio histórico e cultural brasileiro, este continua sendo
uma propriedade particular da Fundação Garcia d’Ávila, criada em 1981. Esta fundação é uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Segundo Gomes Sobrinho (1998) o
poder político e econômico da Fundação enfraquece o poder político municipal e favorece seu papel
como principal elemento articulador de forças políticas locais.
26
No final do século XIX já era registrado no Sudeste brasileiro “[...] um número considerável [de]
unidades agroprodutivas, originárias, em parte, das migrações européias que inicialmente
destinaram-se às fazendas de café. [...] no Sul do Brasil, mediante um processo diferente, de
migrações subsidiadas, concentram-se também pequenas propriedades”. A partir dos anos 1950, o
capital transnacional detém os maiores latifúndios do país, nas regiões Centro-Oeste e Norte,
aumentando as contradições no campo brasileiro (SILVA, L., 2004: 88).
79

apossamento de terras, na sua nova modalidade (com intenção definida pelas elites
do país) de constituição do latifúndio. A partir daí foram estruturadas as bases
através das quais o Estado conferia legitimidade à propriedade da terra e objetivaria
a separação entre as esferas do público e do privado.
Ao longo da segunda metade do século XIX, poucas terras foram
regularizadas ou tituladas, e as ocupações irregulares multiplicaram-se. Na
República, a Constituição de 1891, transferiu aos Estados-membros o controle
político da maior parte das terras devolutas (livres), portanto públicas, situadas nos
seus respectivos domínios político-administrativos. Isso significou colocar as terras
do país sob o arbítrio das forças oligárquicas e proprietários de terras que passaram
a controlar sua distribuição, através da venda a grandes grupos e empresas
privadas, perpetuando-se a apropriação e legitimação privilegiadas, circunstância
esta que marcou o início da luta legal pela terra no país (SMITH, R., 1990). Desta
forma, segundo Maricato (2011), a propriedade da terra continua a ser um nó na
sociedade brasileira, estando no centro do conflito social, alimentando as
desigualdades no país.
Com o declínio dos Garcia d’Ávila, no final do século XIX, as terras no LNE
baiano foram adquiridas por Sigisfred Sigismundo Schindler, prussiano naturalizado
norte americano, que as ocupou basicamente com o extrativismo da piaçava27, látex
da mangaba para produção de borracha e a castanha do caju (CALMON, 1983).
Segundo Gomes Sobrinho (2011), Schindler posteriormente vendeu essas terras
para a companhia inglesa de borracha British and Brazilian Rubber Plantters &
Manufaturados LTDA, que manteve o extrativismo para exportação em grandes
extensões de terras  aproximadamente 80.000 hectares  que se extendiam do
litoral para o interior. Com a falência desta empresa em 1940, o Bank of London
ficou como responsável pelo remanescente da companhia e, em 1949, vendeu as
terras para a empresa Odebrecht28, que da área original titulou, em 1957, 2.500
hectares, conservando aproximadamente 1.700 hectares (GOMES SOBRINHO,
2011). Esta área que corresponde à Fazenda Sauípe no município de Mata de São

27
Conhecida também como piaçaba, nomes populares de duas espécies (Attalea funifera e
Leopoldinia piassaba) de palmeira, que produzem uma fibra usada na confecção de vassouras e
coberturas.
28
A empresa Odebrecht, sediada em Salvador desde 1945, atualmente atua na maioria dos estados
brasileiros, com ações diversificadas nos setores de engenharia, construção, indústria e no
desenvolvimento de projetos de infraestrutura, energia e militar.
80

João foi mantida sem utilização pela Odebrecht até os dias atuais, quando promoveu
a construção do complexo hoteleiro Costa de Sauípe, em 2000, ano que foi
inaugurada a primeira etapa do empreendimento.
Durante longo tempo a estrutura fundiária foi mantida praticamente, inalterada
no LNE baiano, com grandes extensões de terra — remanescentes das primitivas
“plantations” açucareiras implantadas à época da colonização —, em mãos de
poucos proprietários que as detinham, parasitariamente, para “engorda” como
alternativa altamente rentável de reserva de valor, aguardando valorização
decorrente de intervenção governamental com infraestrutura (SMOLKA, 1979).
Assim, até meados do século XX, pouco se alterou a organização sócio-
espacial e econômica da região29, assentada na agricultura de subsistência, na
pesca e no extrativismo vegetal, e como únicas atividades agropecuárias com
alguma expressão: o cultivo do coco e, inicialmente, a pecuária de corte praticada
em regime extensivo; a pecuária leiteira também foi incorporada no LNE baiano, que
seguiu assim até os anos de 1957/1958, formando a base de uma importante bacia
leiteira abastecedora do mercado de Salvador, quando começou a declinar, pelo
acelerado e extensivo processo de urbanização e industrialização regional que não
comportava mais atividades do tipo extensivo (BAHIA, 1972?, t. III) e em grande
parte como reflexo da própria decadência da economia baiana nos anos 1950.
Recentemente, havendo leves tendências para uma inversão desta atividade para a
primitiva pecuária de corte (BAHIA, 1972?, t. III).
Em face do declínio dessa atividade, modificou-se a estrutura fundiária da
região, entre 1950 a 1960: estabelecimentos de até 1.000ha foram fracionados e os
de 1.000 a 10.000ha sofreram um processo de concentração de terras, devido à
venda de algumas fazendas e incorporação de outras com menor área. Vale
ressaltar que a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), com a introdução de suas
atividades30, promoveu uma série de desapropriação de terras31 nos municípios

29
A região agora referida é a do Recôncavo Norte (constituída dos municípios de Camaçari,
Candeias, Catu, Itanagra, Itaparica, Lauro de Freitas, Mata de São João, Pojuca, Salvador, Simões
Filho e Vera Cruz), que fez parte do zoneamento econômico da Microrregião do Recôncavo Baiano
(IBGE, Sinopse Preliminar do Censo Demográfico de 1960), para o Projeto Agropecuário do
Recôncavo Baiano, que teve como meta a implementação da estratégia de desenvolvimento
agropecuário da região.
30
Em 1939, foi descoberto o petróleo no Recôncavo Baiano e a Petrobras foi fundada em 1953. Em
1954, tiveram início as ações diretas dessa empresa nessa parte do espaço geográfico. Até 1973, a
região “[...] era responsável por 80% da produção nacional de petróleo, diminuindo progressivamente
com as descobertas de grandes jazidas petrolíferas noutras partes do país, em especial, na
81

petrolíferos, em Candeias, Catu, Pojuca e Alagoinhas tornando-se proprietária de


cerca de 60.000ha de terras na região, diminuindo a quantidade de terras antes
destinada à agricultura e a oferta, direta ou indireta de empregos. Associado a isso
ocorria a negociação da posse ou da propriedade pelos pequenos agricultores
estimulados pela possibilidade de ingressarem na Petrobras como trabalhadores ou
nas empresas que lhe prestava serviços, tendência que foi acentuada, nos anos
posteriores a 1960, com a criação: do CIA, em 1968, do Pólo Petroquímico de
Camaçari (COPEC), em 1978, e de algumas fábricas isoladas que atraíam para as
cidades da região a população rural (BRITO, 2008), aumentando o fracionamento
das terras, determinado, também, pela divisão das terras por herança (BAHIA,
1972?).
Observa-se que a região apresentou, ainda em 1960, a maior extensão de
terras ociosas — consideradas as que não estavam incorporadas ao processo
produtivo — correspondendo a 31,1% do total do estado, e que na região chegou a
atingir 66,5% (BAHIA,1972?, t. III). Tal fato resultava principalmente da suspensão
da utilização econômica das terras pela desapropriação em favor da Petrobras, a
partir de 1956 (BRITO, 2008), que associado a isso pesava a própria decadência da
Bahia e a pobreza natural dos solos arenosos predominantes nos terrenos de
tabuleiros costeiros.
O Censo Agropecuário de 2006 apresenta a estrutura fundiária e a utilização
das terras nos municípios litorâneos no LNE baiano, com o predomínio de grandes
estabelecimentos, sendo que Lauro de Freitas apresenta um maior percentual
(36,4%) de pequenos estabelecimentos, pois é um município eminentemente urbano
e onde predominam pequenas chácaras, e possui a menor área da região e uma
das menores do estado (5.770ha). Por outro lado, o município de Esplanada se
destaca com o maior percentual de minifúndios (23,5%), tendo a maior área da
região (129.800ha). O total de terras dos municípios com 562.470ha são ocupadas
principalmente com a pecuária (315,7%) destacando-se Jandaíra com 62,3% e Mata
de São João com 52,2%. Em segunda posição vem a lavoura (188,9%) tendo pouca

plataforma continental, com destaque para a Bacia de Campos-RJ” (BRITO, 2008: 105).
31
Ato do Governo federal (Decreto-Lei nº 40 489 de 4 de dezembro de 1956) em declarar de utilidade
pública para fins de servidão ou desapropriação, em favor da Petrobras, de maneira genérica por
cinco anos, todas as terras de nove municípios do Recôncavo Baiano (Salvador, São Francisco do
Conde, Santo Amaro, São Sebastião do Passé, Camaçari, Mata de São João, Pojuca, Catu e
Alagoinhas), descreve de maneira precisa como a Petrobras, alicerçada pelo Governo, agia na
região, comprando as propriedades por preços aviltantes (BRITO, 2008).
82

expressão os municípios de Entre Rios e Lauro de Freitas. Nesse ano, a ocupação


das terras com a produção florestal ainda é pequena (117,2%), comparada com a
ocupação da agropecuária (Tabela 4 e Tabela 5).

Tabela 4 – Estrutura fundiária dos municípios do Litoral Nordeste da Bahia, 2006


Extensão dos estabelecimentos agropecuários (%)
Municípios
Minifúndio Pequena Média Grande
Camaçari 9,0 12,7 5,3 55,4
Conde 15,0 5,5 27,5 36,3
Entre Rios 3,4 3,5 20,7 68,3
Esplanada 23,5 2,7 15,2 58,6
Jandaíra 11,6 4,1 22,1 49,2
Lauro de Freitas 11,5 36,4 - -
Mata do São João 2,6 12,4 8,5 49,6
Fonte: IBGE/ Portal SIDRA/ Censo Agropecuário 2006; INCRA, 2013.
Nota: As áreas com menos de três informantes foram desidentificadas no censo.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Tabela 5 – Utilização das terras nos municípios do Litoral Nordeste da Bahia, 2006
Produção Florestas
Área Lavouras Pecuária
Municípios Florestal Nativas Outras
(ha) (%) (%)
(%) (%)
Total 562.470 188,9 315,7 117,2 8,6 24,8
Camaçari 78.470 40,1 49,8 0,4 1,8 7,9
Conde 96.460 41,7 38,5 19,3 0,4 0,1
Entre Rios 121.530 6,3 33,4 58,9 0,8 0,6
Esplanada 129.800 40,6 41,3 11,2 5,6 1,3
Jandaíra 64.120 35,8 62,3 - - 1,9
Lauro de Freitas 5.770 5,1 38,2 - - 56,7
Mata de São João 66.320 19,3 52,2 27,4 - 1,1
Fonte: IBGE/ Portal SIDRA/ Censo Agropecuário, 2006.
Nota: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Em que pese a questão fundiária, a área petrolífera no Recôncavo Baiano


surgiu como um centro de forte atração de população para a região, acusando altas
taxas de migração (destacando-se os municípios de Candeias e Camaçari) e de
elevado crescimento urbano, estimulados pelas atividades diretas e indiretas da
Petrobras que demandava pessoal, produtos e serviços, em grande escala. Com o
aumento da arrecadação de receitas nos municípios petrolíferos, as municipalidades
implantaram e/ou ampliaram a infraestrutura pública, com serviços de saneamento,
pavimentação de ruas, energia elétrica, abastecimento de água etc. (BRITO, 2008).
Nessa época, no LNE baiano, foram reiniciados os conflitos relacionados à
posse e propriedade da terra. Grande parte dos estabelecimentos rurais mudaram
para as mãos de poucos proprietários e de grandes empresários. A exemplo, a
83

construtora Odebrecht, que comprou a Fazenda Sauípe, e o empresário paulista de


origem alemã Klaus Peters, adquiriu a Fazenda Praia do Forte, da família Padilha de
Souza (descendente de Otacílio Nunes de Souza, que a comprou de herdeiros da
família d’Ávila), ambos os estabelecimentos sediados no município de Mata de São
João (MAGALHÃES, 2003).
Durante os anos 1970, novas dinâmicas foram introduzidas na região,
principalmente com a silvicultura em grandes extensões para produção de celulose e
carvão vegetal com a plantação de pinus e eucaliptus, a partir da criação do Distrito
Florestal do Litoral Norte (DFLN)32, possibilitado pelas condições climáticas
favoráveis, abundância de recursos hídricos, proximidade de áreas portuárias como
Salvador e Aracaju, disponibilidade de mão de obra barata já fixada na região,
grande concentração fundiária e preço baixo das terras. Esse fato implicou a
substituição das terras até então ocupadas pela agricultura de subsistência e a
respectiva transferência da população rural para as cidades, vilas e povoados da
região (MAGALHÃES, 2003).
O fenômeno de transferência da população rural para as áreas urbanas pode
ser constatado nos municípios do LNE baiano, desde a década de 1970 (Tabela 6).
Observa-se que no município de Camaçari, com uma população total, em 1970, de
33.273 habitantes, 60,5% era urbana e 39,5% rural. Já em 2010, de uma população
total de 242.970 habitantes, 95,5% era urbana e 4,5% rural. Em Mata de São João
verifica-se igual situação, mas com menor intensidade: em 1970, de uma população
com 27.188 habitantes, 51,1% era urbana e 48,9 rural; em 2010, de uma população
com 40.183 habitantes, 74,2% era urbana e 25,8% rural. Lauro de Freitas reflete
uma situação inversa no ano de 1970, onde a população rural (60,7%) era maior que
a urbana, com 39,3%; já em 2000, a população total cresceu sensivelmente
(113.543 habitantes), apresentando somente 4,4% de população rural. Atualmente,
pela expansão e conurbação da cidade do Salvador com a de Lauro de Freitas, este
município se encontra totalmente urbanizado.

32
Com o início da crise da atividade petrolífera e como alternativa econômica regional, dado o preço
favorável da celulose no mercado internacional, por iniciativa do Governo estadual foi implantado em
1970 o DFLN, abrangendo 763.000ha em vários municípios da região. A Companhia de Ferro Ligas
da Bahia (FERBASA) que atua com atividades florestais na região por meio da REFLORA, sua
subsidiária para fins madeireiros, cultiva o eucapitus em nove municípios — dentre estes o de Mata
de São João, Entre Rios, Esplanada e Conde — com 25.000ha de área plantada.
84

Tabela 6 – Crescimento populacional dos municípios costeiros do Litoral Nordeste da Bahia – 1970 a 2010
Continua
População
Localidades 1970 1980 1990
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Camaçari 20.137 13.136 33.273 76.123 13.041 89.1645 108.232 5.407 113.639
Conde 3.734 13.482 17.216 5.734 9.494 15.228 5.494 10.655 16.149
Entre Rios 4.748 14.440 19.188 9.761 12.784 22.545 16.897 10.821 27.718
Esplanada 5.969 10.702 16.671 10.527 8.489 19.016 15.198 8.007 23.205
Jandaíra 2.290 4.424 6.714 2.929 3.674 6603 4.471 3.754 8.225
Lauro de Freitas 3.902 6.099 10.001 23.405 12.026 35.431 44.374 24.892 69.266
Mata de São João 13.878 13.310 27.188 23.727 8.934 32.661 24.143 6.392 30.535

Conclusão
População
Localidades 2000 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Camaçari 154.402 7.325 161.727 231.973 10.997 242.970
Conde 10.492 9.934 20.426 12.129 11.491 23.620
Entre Rios 23.016 14.494 37.510 23.824 16.048 39.872
Esplanada 17.538 9.692 27.230 20.822 11.980 32.802
Jandaíra 5.211 4.816 10.027 6.147 4.184 23.620
Lauro de Freitas 108.595 4.948 113.543 163.449 - 163.449
Mata de São João 24.964 7.599 32.568 29.825 10.358 40.183
Fonte: IBGE/Portal SIDRA.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
Nota: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
85

As instalações do CIA, em 1968 e do Copec, em 1978, no entorno do


município de Salvador, bem como a construção da rodovia BA-099, em 1975, no
LNE baiano, proporcionaram diversas implicações na urbanização sub-regional
(BRITO, 2008). A economia de aglomeração gerada pelo processo de
industrialização e o próprio processo de metropolização da cidade do Salvador a
partir dos anos 1970 implicaram transformações fundamentais na estrutura urbana
da capital e sua expansão futura em vários vetores de crescimento do município: no
subúrbio, na parte central e na Orla Atlântica. Ao tempo em que ocorria a expansão
da cidade o veraneio se consolidava na Ilha de Itaparica, mas, aos poucos, já
começava a se destacar a incorporação de setores de praia no LNE baiano ao
processo de valorização capitalista da terra aproveitando a infraestrutura pública até
então disponível — a rodovia BA-099  “Estrada do Coco”.
O potencial turístico da região começou a ser explorado a partir da instalação,
em 1985, do Hotel Club Robinson Crusoé (atual Resort Praia do Forte), em Praia do
Forte, visando, segundo Gomes Sobrinho (1998), atender ao turista internacional. A
partir daí mudanças se fizeram sentir no espaço: geração de novos empregos;
alteração da composição social tradicional; na configuração e estruturação urbana
(novas demandas para o setor imobiliário, de construção civil e infraestrutura);
intensificação dos fluxos através da nova rede viária e o movimento especulativo das
terras subutilizadas (MAGALHÃES, 2003).
Em consequência as terras foram sendo valorizadas, acentuando o
desmembramento de grandes fazendas — envolvidas que estavam numa complexa
cadeia sucessória mantendo vivas as relações de propriedade do tempo das
sesmarias — e loteadas.

4.2 A RESISTÊNCIA DE COMUNIDADES LOCAIS EMPOBRECIDAS E OS


CONFLITOS GERADOS PELA POSSE DA TERRA

O processo de consolidação da propriedade da terra e seu consequente


“fechamento” a outras formas de acesso à terra que não a aquisição formal da
propriedade ocasionou o processo de expulsão de antigos posseiros que viviam na
terra, por meio de idenizações irrisórias (MURICY, 2009). Segundo Muricy (2009),
86

muitas famílias que viviam há gerações nestas fazendas foram obrigadas a migrar
para áreas menos valorizadas pelo capital, enquanto outras vêm conseguindo
resistir e se manterem nas terras ocupadas mas em extensão bastante restrita.
Famílias descendentes de índios, negros e brancos pobres, hoje moradoras
das comunidades tradicionais em Tapera, Pau Grande e Barreiro localizadas na
fazenda Praia do Forte, orla de Mata de São João, vivem em constante conflito pela
posse e uso da terra contra a Fundação Garcia d’Ávila, a Imobiliária Açú da Torre
(atual Landco Empreendimentos Imobiliários Ltda) e o Governo do estado (DINIZ,
2007).
Segundo Diniz (2007), a Fundação adota o modelo de unidade de
conservação33; isso implica que embora a população das comunidades já habitasse
a área34 muito antes de ser implantado tal modelo de gestão pela Fundação, suas
necessidades de exploração dos recursos naturais inerentes ao seu modo de vida e
sobrevivência (extrativismo, pesca e lazer) raramente são reconhecidas pela
instituição e frequentemente são interpretadas como atos fora da norma, como
sugere a interpretação de um líder comunitário local: “a Reserva Sapiranga é de
fachada, prejudica a comunidade; as pessoas de Sapiranga são perseguidas como
se fossem criminosas” (Entrevista com um líder comunitário de Açú da Torre)35.
Deve-se observar que as áreas de proteção ambiental e suas modalidades de
uso são definidas pelas autoridades governamentais, contudo, de acordo com Diniz
(2007), as comunidades tradicionais são excluídas do processo de decisões. Este
fato confirma a assertiva de Diegues (2001), que por falta de poder político as
comunidades tradicionais locais são tornadas “invisíveis” e os chamados “planos de
manejo” nem sequer mencionam a sua existência. Isto é respaldado nos argumentos
dos agentes e entidades preservacionistas ou conservacionistas contra a existência
das populações tradicionais em áreas naturais protegidas, quando, contrariamente,
são essas populações locais que, com um conhecimento secular da natureza,
contribuem efetivamente para a conservação biológica dos ecossistemas, seguindo
suas culturas tradicionais. De acordo com o autor, no Brasil, para os órgãos

33
Fazem parte da área a Área de Proteção Ambiental (APA) do Litoral Norte e a Reserva Sapiranga.
34
Tal fato é comprovado na escritura pública de venda da Fazenda Praia do Forte, em 1971,
transcrita sob número 15.222, do livro 3 M fls. 202: “[...] ficou estipulado que, além das glebas, faziam
parte da venda todos os seus pertences e benfeitorias [...] incluindo as casas onde residem os
rendeiros, pertencentes às fazendas” (GOMES SOBRINHO, 1998: 31, grifos nossos).
35
Entrevista realizada em 6/12/2013.
87

governamentais de defesa e proteção ambiental, e mesmo algumas Organizações


Não-Governamentais (ONG’s), a questão tem sido tratada, ainda hoje, dentro de
uma visão conservadora, influenciada por percepções retrógadas do que realmente
poderia significar a manutenção da diversidade biológica e a conservação da
diversidade cultural.
No cerne do conflito estão de um lado, as populações tradicionais — entre a
possibililidade de permanecer vivendo de maneira ancestral repassada por gerações
às famílias de posseiros e a realidade objetiva do lucro capitalista com a extração de
renda de monopólio com a venda da terra — assistidas quando muito por suas
associações comunitárias frágeis e cooptáveis. Do outro lado, o grande capital
(fazendeiros, em boa parte grileiros de terras, empresas imobiliárias, bancos,
empresas industriais, o Governo estadual e municipal e ONG's), que por meio do
capital fundiário e imobiliário avança sobre as terras onde habita a população das
comunidades tradicionais na perspectiva de imputar valor às terras antes
negligenciadas. Isto implica a imobilização e expulsão da população de posseiros
das terras deixando livre o caminho para nova valorização, tendo como prioridade a
incorporação imobiliária residencial e de lazer voltada para clientes de média e alta
renda. Assim, “[...] de um lado, há uma aquisição de bens de uma classe social em
busca de novos espaços de lazer e, de outro lado, um grupo social defendendo a
sobrevivência” (DINIZ, 2007: 24).
Pode-se concluir que, desde o início da colonização do país, as terras do LNE
da Bahia já se constituíam monopólios, sob a forma de propriedade privada.
Atualmente, grandes empresários, incorporadores, fazendeiros, que servem ao
grande capital nacional e internacional, por meio da propriedade privada da terra,
controlam e segregam socialmente esta porção do espaço, sujeitando-o aos seus
interesses.
Assim a natureza se transforma em um verdadeiro sistema de
objetos e não mais de coisas e, ironicamente, é o próprio
movimento ecológico que completa o processo de
desnaturalização da natureza, dando a esta última um valor.

Milton Santos (2009[1996]: 65).


89

5 O PROCESSO CONTEMPORÂNEO DE INCORPORAÇÃO DO LITORAL


NORDESTE DA BAHIA AO TURISMO

Essa parte trata da incorporação do LNE baiano ao turismo, quando as ações


do Governo federal e estadual deram ênfase às atividades turísticas com incentivos
e investimentos no setor através do Prodetur/BA,Prodetur/NE e do Tesouro
Estadual. Com essas ações do Governo e da iniciativa privada na implantação dos
projetos de hotelaria e empreendimentos imobiliários na região é verificado o
aumento na geração de empregos formais para as atividades relacionadas ao
turismo, no período entre 2007 a 2015, mas são apontados, em contrapartida, os
efeitos negativos na região. Também são verificadas as práticas espaciais
decorrentes do processo de gestão das atividades turísticas e imobiliárias de
grandes empreendimentos privados nacionais e estrangeiros, que foram instalados
no LNE. No âmbito do turismo residencial/imobiliário é destacada a “mundialização”
das residências secundárias e a expansão destas — com base no modelo de
Lundgren (1974) — em relação à cidade do Salvador e seu entorno imediato. Ainda
neste capítulo é analisado o processo de implantação de um loteamento no litoral do
município de Camaçari, explorando a sua dimensão ambiental, e também como se
dá a valorização imobiliária no LNE pelas estratégias de marketing territorial.

5.1 ATIVIDADES DO TURISMO NO LITORAL NORDESTE BAIANO: PRÁTICAS


ESPACIAIS E RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS

Como uma unidade da federação periférica — o estado da Bahia — em uma


economia nacional também periférica — o Brasil —, a sua participação na divisão
territorial do trabalho ainda estava presa a uma economia eminentemente mercantil
e primário-exportadora até a primeira metade da década de 1960, que assim se
reproduzia comandada por uma elite econômica e política regional que seguia

[...] criando fortunas, sem um fundamento que provesse sua manutenção


regular, apostando sempre na generosidade da natureza, na sagacidade de
um ou outro comerciante e/ou banqueiro importante, sob o amparo fiscal e
financeiro do Estado, dependente de contingências dos mercados
90

estrangeiros, e secularizada na manutenção de uma horda de serviçais


desvalidos, já estava esgotada no crepúsculo dos anos 1940 (BRITO,
2007:91).

A transformação essencial dos fundamentos econômicos na Bahia somente


ocorreu a partir das ações do Governo federal que direcionou investimentos
industriais, sobretudo, subsidiando o processo de industrialização da Bahia com a
instalação do CIA, em 1968, e do COPEC, em 1978, nos arredores da capital
baiana. Isso dentro do contexto do processo de recuperação da economia brasileira
no período chamado “milagre econômico”, mas que serviu também para incorporar,
de fato, a economia baiana já com uma função industrial, mas de produção de bens
intermediários, complementares à indústria sediada no centro da economia nacional,
no eixo São Paulo/Rio de Janeiro (BRITO, 2008; CARVALHO JUNIOR; PESSOTI;
PEREIRA, I., 2002).
É neste contexto que o planejamento da economia baiana, mesmo de
maneira indicativa (SPINOLA, 2009) por meio do Plano de Desenvolvimento da
Bahia (Plandeb) sinalizava a atenção ao setor turístico, de maneira sistemática.
Todavia, a emergência do turismo como campo de investimentos econômicos na
Bahia somente foi concretizada com a criação pelo Governo estadual: da Empresa
Baiana de Turismo (Bahiatursa), em 1968, a criação do Conselho Estadual de
Turismo, em 1971, e a Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A (Emtur)36, em
1973 (MENDONÇA, L., 2002). Com isso, o Governo baiano seguia, em termos
gerais, as principais diretrizes do Governo federal para empreender os negócios do
turismo na Bahia, pois a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur)37 e o Conselho
Nacional de Turismo já tinham sido criados em 1966.
O processo de crescimento econômico nacional durante a fase do “milagre
econômico” — 1967 a 1975 — implicou investimentos e crescimento industrial
acelerado para o Brasil e para o estado da Bahia, cujo PIB do setor passou a
crescer a uma taxa anual de cerca de 9% ao ano durante os dez anos seguintes, a
partir de 1975 (CARVALHO JUNIOR; PESSOTI; PEREIRA, I., 2002). Contudo, o
contexto internacional de crise no sistema capitalista fez com que a economia

36
A Emtur era a subsidiária da Bahiatursa, por meio da qual eram operadas a construção e
administração de pousadas e hotéis no estado da Bahia.
37
Em 2003, com a criação do Ministério do Turismo, a Embratur passou a trabalhar no sentido de
ampliar o fluxo turístico internacional para os destinos nacionais.
91

brasileira declinasse revertendo a taxa de crescimento do PIB geral que era de 6,5%
ao ano até a primeira metade dos anos 1980, para cerca de 0,1% no início dos anos
1990 e com inflação de mais de 90% ao mês, era a temível recessão econômica da
“década perdida” (CARVALHO JUNIOR; PESSOTI; PEREIRA, I., 2002).
Como expressão da crise econômica aguda da economia nacional, o Governo
baiano, sem alternativas consistentes e imediatas, e com poucos recursos para
investir e evitar que declinasse ainda mais o nível da atividade econômica, lançou
mão do setor turístico de maneira mais decidida. Se nos períodos anteriores os
investimentos no turismo se davam de maneira residual, pois o essencial dos
investimentos econômicos governamentais era no setor industrial, a inflexão dos
anos 1990 fez com que Governo baiano

[...] passasse à implementação de um terceiro plano estratégico de


desenvolvimento turístico na Bahia: o Prodetur-Bahia. Esse plano começou
a ser gestado em 1991, com a contratação de consultorias para
identificação dos atrativos com potencial turístico existentes no estado.
Buscava-se então fazer um mapeamento das melhores localizações para a
implantação de Centros Turísticos Integrados (CTI), concebidos para
funcionar como indutores do desenvolvimento do turismo para toda uma
região circunvizinha (MENDONÇA, L., 2002:172-173).

Esta mudança na percepção do turismo pelo poder público estadual resultou


em profundas transformações na atividade turística, “[...] destacando-se a
construção de uma espacialização da atividade [...] no Estado, definindo-se, assim,
sete zonas turísticas [...], nas quais a ação estatal passaria a focar suas ações,
provendo-as de infra-estrutura para alavancar o desenvolvimento do turismo”
(MENDONÇA, L., 2002:173), por meio de recursos próprios e do Prodetur-NE, cujos
investimentos são oriundos dos organismos financiadores oficiais, sendo o principal
o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) (QUEIROZ, 2005).
Concluído o Prodetur-BA, em 1992, que tinha no mercado internacional o seu
principal público-alvo, foram criadas sete zonas turísticas38 no estado da Bahia:
Costa dos Coqueiros (no Litoral Nordeste), Baía de Todos os Santos, Costa do
38
Observe-se que a ideia inicial da espacialização das regiões turísticas baianas não é, porém,
originária do Prodetur-BA, uma vez que antes mesmo da concepção deste a estratégia de subdivisão
da Bahia em regiões turísticas já aparece, embrionariamente, no programa Caminhos da Bahia —
que definiu roteiros turísticos para o estado, geograficamente delimitados — estando também
presente no estudo Bahia novas fronteiras do turismo que realizou uma subdivisão da Bahia,
especificando as seguintes regiões turísticas: Salvador; Entorno Metropolitano (Baía de Todos os
Santos e Litoral Norte), Litoral Sul e Chapada Diamantina. Esta ação governamental foi necessária
para a definição de uma estratégia de marketing e de áreas de planejamento a serem contempladas
com ações promocionais, de infraestrutura e de capacitação de recursos humanos (QUEIROZ, 2005).
92

Dendê, Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias e Chapada


Diamantina. Nestas Zonas Turísticas foi feito um investimento público da ordem de
US$ 280.340,00, com uma maior parcela de recursos aplicada na Baía de Todos os
Santos (31%), aparecendo, em seguida, a Costa dos Coqueiros (21,6%), cujo
investimento mais importante foi a extensão da rodovia BA-099 “Linha Verde” até o
estado de Sergipe, em 1993, interligando a cidade do Salvador à cidade de Aracaju-
SE pelo LNE (QUEIROZ, 2005; MENDONÇA, L., 2002). Atualmente, com a vigência
das ações do Prodetur-NE, as zonas turísticas compreendem 13 polos, sendo
incorporadas: Caminhos do Sertão, Caminhos do Oeste, Caminhos do Jiquiriçá,
Lagos e Cânions do São Francisco, Vale do São Francisco e Caminhos do
Sudoeste.
A região nordeste do Brasil é grande receptora de turistas. Em 2014,
chegaram à região 346.744 turistas — principalmente para os estados da Bahia
(145.660), Ceará (85.025), Pernambuco (78.075) e Rio Grande do Norte (38.014).
Neste ano, a região nordeste ocupou o terceiro lugar do país como receptor de
turistas, após as regiões sudeste, com 3.867.986, e sul, com 1.901.691 (BRASIL,
2015). Isto significa, segundo o discurso oficial, uma via de redução da pobreza e
das disparidades regionais com o fortalecimento da atividade econômica, embora
sua eficácia no sentido de contribuir, de fato, para melhorar as condições de vida
das pessoas que vivem nos locais turísticos, seja questionável39.
A macrorregião nordeste do Brasil é caracterizada pela diversidade de seus
recursos naturais, associada principalmente à extensão litorânea. Neste contexto a
Bahia se destaca tornando-se o principal destino turístico da região, impulsionando
as taxas de crescimento na recepção de turistas estrangeiros e nacionais,
responsáveis pela valorização das áreas de praia, com demanda principalmente dos
grupos de visitantes de renda média e alta. Pode-se dizer, inclusive, que o estado
vivencia seu “momento chave” no turismo, tornando-se um dos principais destinos
turísticos do Brasil.
Com relação ao mercado internacional, a Europa continua sendo a principal
demanda turística para a Bahia (Tabela 7), apesar do decréscimo na entrada de

39
O Parágrafo Único da Lei n 11.771 estabelece que a atividade do turismo deve gerar dinâmica
econômica, trabalho, emprego, renda e receitas públicas, constituindo-se em instrumento de
desenvolvimento econômico e social, promoção da diversidade cultural e preservação da
biodiversidade (BRASIL, 2008). A complexidade do fenômeno turístico tem rebatimentos em
diferentes esferas da organização sócio-espacial do país.
93

turistas entre 2010 e 2013, como resultado do forte impacto da crise econômica
iniciada em 2008 nos países europeus e na América do Norte, dois dos principais
mercados emissores para o Brasil. Em contraponto, segundo a Secretaria Nacional
de Políticas de Turismo (SNPTUR), entre 2010 e 2011 cresceu sensivelmente no
estado da Bahia a entrada de turistas provenientes da América do Sul, embora
apresentando decréscimos consideráveis nos anos de 2012 e 2013. O ano posterior
volta a apresentar acréscimos na entrada de turistas na Bahia provenientes de todos
os continentes, excluindo os provenientes da América do Sul que continuam em
decréscimo.

Tabela 7  Entrada de turistas segundo o continente de residência permanente –


Bahia – 2010 a 2014
Continentes 2010 2011 2012 2013 2014
África 467 487 346 469 476
América Central e Caribe 330 255 264 194 868
América do Norte 14.618 7.982 6.612 7.686 9.048
América do Sul 36.643 56.570 36.931 33.837 27.420
Ásia 1.647 966 962 1.144 1.653
Europa 111.898 99.729 97.388 85.302 105.794
Oceania 357 287 293 205 401
Fonte: SNPTUR, 2012 a 2015.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Segundo a Secretaria do Turismo do Estado da Bahia (Setur), o fluxo geral de


turistas para a Bahia (Tabela 8) reflete um aumento progressivo de 2008/2009 até
2011, embora de 2010 para 2011 o fluxo turístico internacional tenha decrescido,
reflexo do crescimento do turismo mundial interrompido pela crise econômica de
2008, com amplas repercussões no setor. Entretanto, mais que os números aqui
apresentados interessam-nos compreender e explicar a interferência da atividade
turística na produção do espaço no LNE baiano.
Observa-se a clara intenção do Governo quando dá ênfase à atividade do
turismo com investimentos, notadamente a partir do lançamento do Prodetur/NE
para o estado da Bahia (Prodetur/BA), vinculado ao MTUR, evento determinante
para as mudanças da configuração do espaço costeiro: estrutura fundiária, evolução
demográfica, ecossistemas e substituição das atividades econômicas tradicionais.
Os investimentos do Prodetur/BA no LNE baiano têm contribuído para
consolidar o turismo na região com incentivos e investimentos realizados não só
94

pelo Governo estadual, como também pelo Governo federal, e pela iniciativa
privada, com a implantação dos projetos turísticos e empreendimentos imobiliários.
Mesmo considerando a complexidade do Prodetur, Silva, S. (1996) acredita no
desenvolvimento social e econômico de muitas localidades litorâneas, atendendo
prioritariamente a população local no que diz respeito à geração de emprego e
renda.

Tabela 8  Fluxo turístico na Bahia – 2008 a 2011


2008/2009 2010 2011
Fluxo
Absoluto % Absoluto % Absoluto %
Total 9.052.000 100,0 10.553.916 100,0 11.150.941 100,0
Internacional 514.000 5,7 600.000 5,7 558.000 5,0
Nacional 4.081.164 47,8 4.971.988 47,1 5.291.242 47,5
Estadual 4.456.836 52,2 4.981. 928 47,2 5.301.699 47,5
Fonte: SETUR, 2008 a 2011.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.

Com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do


Ministério do Trabalho (MTE), no período compreendido entre 2007 a 2015, foram
levantados dados sobre o número de pessoas admitidas e desligadas nos setores
ligados ao turismo40, nos municípios de Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Mata
de São João. A figura 3 indica que a evolução dos fluxos de admissões e
desligamentos vem aumentando de 2007 a 2015, mostrando um maior dinamismo
dos setores ligados ao turismo no conjunto de municípios elencados. De modo geral
os picos de contratações (admissões) se dão a partir de setembro de cada ano e se
estendem até março. Observa-se no período que, na maior parte das vezes, as
admissões são maiores que as demissões.
A tabela 9 mostra que os saldos de empregos gerados (a diferença entre
admissões e desligamentos) nos setores ligados ao turismo, na maioria das vezes é
positivo gerando mais postos de trabalho que perdendo com um saldo de empregos

40
Segundo o MTE, são atividades ligadas ao turismo: transportes (metroferroviário, rodoviário,
marítimo); terminais rodoviários e ferroviários; estacionamento de veículos; gestão de portos e
terminais; hotéis e similares; restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e
bebidas; locação de automóveis; agências de viagem; operadores turísticos; artes cênicas,
espetáculos e outras atividades artísticas; atividades de museus e de exploração, restauração
artística e conservação de lugares e prédios históricos e atrações similares; atividades de jardins
botânicos, zoológicos, parques nacionais, reservas ecológicas e áreas de proteção ambiental; clubes
sociais, esportivos e similares; parques de diversão e parques temáticos; atividades de recreação e
lazer, dentre outros.
Figura 3  Número de pessoas admitidas e desligadas nos setores ligados ao turismo - Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Mata de São
João – 2007 2015
5.000

4.500

4.000
Total de admitidos e desligados

3.500

3.000

2.500

2.000 Desligados
Admitidos
1.500

1.000

500

0
out/07

out/08

out/09

out/10

out/11

out/12

out/13

out/14
jul/07

jul/08

jul/09

jul/10

jul/11

jul/12

jul/13

jul/14
jan/07
abr/07

jan/08
abr/08

jan/09
abr/09

jan/10
abr/10

jan/11
abr/11

jan/12
abr/12

jan/13
abr/13

jan/14
abr/14

jan/15
abr/15
Meses/anos

Fonte: MTE-Caged.
Dados sistematizados pela SEI/DIPEQ/COPES, 2015.

95
96

positivo em 25.324 postos de trabalho formais. Desses, 68,92% são em Salvador,


destacando-se em segundo lugar Mata de São João, com 14,52%, fato que pode ser
explicado por ofertas de emprego no Complexo Hoteleiro Costa do Sauípe, em Praia
do Forte e em Imbassaí. Lauro de Freitas vem em terceiro lugar com 11,94% e
Camaçari, entretanto, ficou com o menor percentual (4,62%) dos postos de trabalho
criados. De forma geral, o ano de 2010 foi o mais promissor na geração de
empregos formais para as atividades relacionadas com o turismo, fechando o ano
com um saldo positivo de 4.896 postos de trabalho.

Tabela 9  Saldo de empregos nos setores ligados ao turismo Salvador, Lauro


de Freitas, Camaçari e Mata de São João – 2007 a 2015
Lauro de Mata de
Ano Camaçari Salvador Total
Freitas São João
Total 1.170 3.026 3.678 17.450 25.324
2007 396 674 1.508 1.765 4.343
2008 -208 203 -454 2.780 2.321
2009 104 377 -299 2.006 2.188
2010 212 411 556 3.717 4.896
2011 250 608 389 3.379 4.626
2012 -133 248 209 1.147 1.471
2013 589 303 498 2.818 4.208
2014 53 187 -139 949 1.050
2015 -93 15 1.410 -1.111 221
Fonte: MTE-Caged.
Dados sistematizados pela SEI/DIPEQ/COPES, 2015.

De modo geral, também o período de 2007 a 2014 foi gerador de empregos


na economia como um todo e os setores de atividades econômicas ligados ao
turismo também registraram esta tendência, fato que vem corroborar com Silva, S.
(1996), quando acredita no desenvolvimento socioeconômico das localidades da
região do LNE baiano, com base na geração de emprego e renda para a população
local. Considera-se, porém, que postos de trabalho são criados, mas no nível de
subemprego, salário mínimo: garçom, faxineiro, segurança de condomínio etc, e isso
não cria desenvolvimento.
Ainda segundo informações do MTE-Caged, no acumulado dos sete primeiros
meses de 2015, a Bahia apresentou um saldo de emprego da ordem de -31.202
postos de trabalho, ocupando a oitava posição na geração de empregos no
Nordeste, e a 23ª posição no país.
De acordo com Gomes Sobrinho (2013) a zona turística oficial Costa dos
97

Coqueiros41, no LNE, é no momento a região preferencial para investidores das


redes hoteleiras espanholas e portuguesas, desde os anos 1980 quando começou a
crescer o fluxo turístico para a região, destacando-se a Praia do Forte como o
primeiro investimento de turismo internacional e hoje o principal polo de atração de
turismo voltado para esse mercado.
Segundo Gomes Sobrinho (2013), no período compreendido entre 1991 e
2010, as zonas turísticas Costa do Descobrimento (incluindo Porto Seguro) e Baía
de Todos os Santos (incluindo a cidade do Salvador) são as que receberam maior
investimento público oriundos do Prodetur/BA, Prodetur/NE e do Tesouro estadual,
respectivamente 10,05% e 43,18%, e que os maiores investimentos concluídos pela
iniciativa privada são direcionados também para Costa dos Coqueiros (34,1% dos
investimentos totais) e Baía de Todos os Santos (24,7%). Isto, segundo a SETUR
(2008-2011), é explicado, pela existência de grandes redes hoteleiras (resorts) na
região42.
No conjunto de todas as zonas turísticas do estado a Baía de Todos os
Santos é responsável pela maior atração de todo o fluxo receptor do país como
verificado nos anos de 2011, 2012 e 2013, respectivamente 36,3%, 36,9% e 35,1%.
Nestes anos, merecem destaque também as zonas Costa do Descobrimento e
Costa dos Coqueiros e no ano de 2013, a zona Caminhos do Oeste que fica em 2º
lugar com 10,8%, após a Baía de Todos os Santos. De forma geral, percebe-se que
há um decréscimo da participação das zonas turísticas no fluxo receptor nacional da
Bahia, enquanto, em 2013, aumenta consideravelmente o fluxo turístico para outras
cidades do estado (Tabela 10).
De acordo com a Superintendência de Investimentos em Polos Turísticos
(Suinvest, 2013), no LNE, vários empreendimentos de caráter turístico estão sendo
implantados ou previstos, assim como grandes complexos hoteleiros, resorts, hotéis

41
Compreendida pelos municípios de Lauro de Freitas, Camaçari, Mata de São João, Entre Rios,
Esplanada, Conde e Jandaíra.
42
O avanço da rede hoteleira no LNE da Bahia aconteceu devido à convergência de vários fatores:
os incentivos públicos e financiamentos concedidos pelo Governo brasileiro, na década de 1970, às
empresas multinacionais que se instalavam no país, visando estimular a implantação do setor
turístico; a partir de 1991, o incentivo do Governo, através do Prodetur/NE, com recursos destinados
à infraestrutura pública; a desconcentração do desenvolvimento turístico no estado da Bahia por meio
das zonas turísticas, privilegiando para expansão hoteleira a região Costa dos Coqueiros e Salvador;
e o baixo custo dos terrenos na região que tinham potencial natural a ser explorado, despertando um
nicho de mercado (SILVA, I., 2008).
98

(APÊNDICE A). A maioria dos investimentos é de capital internacional ou em


associação com o nacional, os quais, segundo Gomes Sobrinho (2013), resultam de
Investimento Externo Direto (IED), incentivos dos países receptores via
financiamento externo apoiados por isenção fiscal do Governo baiano.

Tabela 10  Participação das zonas turísticas no fluxo receptor nacional da


Bahia 2011, 2012 e 2013
2011 2012 2013
Zona turística
(%) (%) (%)
Total 100,0 100,0 100,0
Baía de Todos os Santos 36,3 36,9 35,1
Caminhos do Oeste 4,3 4,3 10,8
Costa do Descobrimento 14,3 14,1 7,0
Costa dos Coqueiros 10,3 10,1 5,3
Caminhos do Sertão 5,2 5,2 5,1
Caminhos do Sudoeste 0,5 2,3 -
Costa das Baleias 5,5 5,5 5,0
Costa do Cacau 6,3 6,2 3,8
Costa do Dendê 5,8 5,8 1,9
Chapada Diamantina 4,5 4,5 1,5
Lagos do São Francisco 2,3 1,5 1,3
Vale do Jiquiriçá 1,5 0,9 0,4
Vale do São Francisco 0,9 0,5 -
Outras cidades 2,3 2,3 22,8
Fonte: SETUR, 2013; FIPE, 2011 e 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
Nota: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Especificamente no LNE baiano verifica-se o avanço de projetos hoteleiros


previstos, ou em implantação, afiliados às principais redes hoteleiras que operam no
Brasil: Complexo Sol Meliá, 1ª e 2ª etapa, Double Tree/Les Terrasses, Bahia dos
Coqueiros, Busca Vida Bangalô Resort e Quintas de Arembepe (em Camaçari);
Iberostar - 3ª etapa, Complexo Turístico Praia do Forte – Norte/Sul (em Mata de São
João). Salientam-se os investimentos voltados ao turismo de negócios, sendo
implantado o Aero Espaço Empresarial & Hotel, de origem nacional, cuja localização
em Lauro de Freitas foi pensada em função da expectativa da expansão dos
investimentos econômicos na RMS e por ser próximo ao Aeroporto Internacional de
Salvador.
Esse avanço dos projetos em hotelaria nas áreas litorâneas  mediante
articulação com o Governo, que atua por meio de investimento em infraestrutura,
isenções fiscais e marketing  é considerado benéfico pelos moradores locais,
99

apesar da oferta limitada de postos de trabalho diretos e os empregos subalternos


de remuneração baixa, porque, como se percebe, pelas falas a seguir, há a ilusão
da criação de muitos postos de trabalho:

Há vinte anos não havia nada. Agora temos a hotelaria em alta e o turismo.
Jauá era uma vila pacata, com apenas pescadores e melhorou bastante em
termos de economia. Com isso, hoje são poucos os pescadores
tradicionais. Ninguém quer mais pescar, mas os moradores tradicionais e
43
nativos continuam na comunidade (Sr. G. O. S., 47 anos) .

O centro de trabalho hoje é Praia do Forte, nos hotéis, nas pousadas.


Somos procurados a todo instante por empresas hoteleiras. Desemprego só
para quem não quer trabalhar, preguiçoso, marginal (Sra. M. N. S. S., 58
anos)44.

A transformação no Litoral Norte trouxe outro meio de vida, emprego, renda,


uma vida melhor. Só não trabalha quem não quer. O pescador tinha uma
vida penosa. Chegava com o peixe, não tinha a quem vender. Hoje tem as
colônias, mas estão se acabando por causa do emprego no turismo (Sr. M.
45
B., 64 anos)

Em que pese a ingenuidade destas declarações, as contradições previstas e


não solucionadas ou mesmo atenuadas dos efeitos negativos vinculados às
atividades turísticas são apontadas pelos moradores locais, como: aumento do custo
de vida; degradação ambiental46; transferência do local de moradia da população
pobre do lugar; e “perdas” de valores culturais. Mas o que eles não observam é que
suas terras foram apropriadas por esses grupos econômicos multinacionais que
atualmente imperam na região, promovendo, de acordo com Gomes Sobrinho
(2013), a supervalorização do valor de troca das terras; mais que isso, provoca
alteração da estrutura fundiária e estabelece suas próprias normas e estratégias de
regulação e controle do espaço, fomentando a superespecialização da ocupação e
uso do solo, produzindo exíguas receitas para as localidades e poucos benefícios

43
Entrevista realizada em 7/12/2013, a membro da Associação Beneficente de Jauá.
44
Entrevista realizada em 6/12/2013, a presidente da Associação Comunitária e Recreativa dos
Moradores de Campinas de Açú da Torre.
45
Entrevista realizada em 13/12/1013, a membro da Sociedade São Francisco de Assis dos
Pescadores e Moradores de Praia do Forte.
46
Concorreu para a preservação desta área costeira do estado a criação das Áreas de Proteção
Ambiental (APA`s): Litoral Norte, Lagoas de Guarajuba, Rio Capivara, Joanes-Ipitanga e Plataforma
Continental do Litoral Norte. Enquadradas como unidades de preservação e/ou conservação,
observa-se a responsabilidade de órgãos ambientais, como do atual Inema, do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Organizações Não Governamentais
(ONGs) ambientalistas e do Ministério Público quanto ao aproveitamento seletivo de glebas desse
setor litorâneo. Destaca-se ainda no setor: o Parque Florestal e Reserva Ecológica Garcia d'Ávila, o
Parque Municipal das Dunas de Abrantes, a Reserva de Sapiranga e o Projeto Tamar/Ibama.
100

para a região. Desse modo, “[...] não alcançando os objetivos propostos nos planos
de desenvolvimento turístico, quanto à geração de renda, trabalho e emprego e
desenvolvimento” (GOMES SOBRINHO, 2013: 182).
Segundo a autora a Câmara Municipal e a prefeitura de Mata de São João
aprovaram e sancionaram leis que concedem incentivos fiscais na fase de
implantação dos empreendimentos hoteleiros, tendo em contrapartida a reserva de
mercado de trabalho para a população do município. Mas declaram os empresários
que a mão de obra local é insuficiente e desqualificada profissionalmente para
atender a demanda, o que os leva a buscar trabalhadores em Salvador — os quais
se deslocam diariamente em veículos de transportes contratados pelas empresas.
Exemplos disso ocorrem no núcleo turístico mais importante do LNE baiano — Praia
do Forte —, onde comerciantes afirmam, de forma contundente e claramente
preconceituosa, que o morador do povoado não é o trabalhador ideal: “A mão de
obra vem de fora. Você vai botar índio pra trabalhar?” (Sr. E. A. B., 52 anos)47.
Assim, quando existem possibilidades de empregos para os moradores locais,
esses, de acordo com Limonad (2007), são de baixa qualificação e baixa
remuneração: em bases formais para prestação de serviços nos resorts ou como
funcionários em instalações de hospedagem e de turismo de médio e pequeno
porte; e em bases formais ou informais, nas residências situadas nos diversos
condomínios existentes na região. Tais condições refletem, segundo Gomes
Sobrinho (2013) a forma como se dá a inserção da atividade turística de alta
performance em países de economia subalterna como o Brasil.

5.1.1 Práticas espaciais como resultado das atividades do turismo na região

O processo de gestão de atividades de grandes corporações que se instalam


em uma determinada localização, ocorre por meio de práticas espaciais (materiais e
imateriais) que concorrem para garantir sua manutenção presente e futura de
maneira favorável (CORRÊA, 1992, 2011). Entre essas práticas espaciais, algumas
condizem com as atividades turísticas no LNE baiano. São elas: seletividade,

47
Entrevista realizada em 13/12/2013, com corretor de imóveis em Praia do Forte.
101

antecipação, fragmentação e reprodução espacial, que, de acordo com Corrêa


(1992), não são mutuamente excludentes, acontecendo inclusive de maneira
combinada e simultânea.
Estas práticas espaciais nesta região são geridas por grandes
empreendimentos privados nacionais e estrangeiros, que delas muito se beneficiam,
principalmente por obterem vantagens subsidiadas pelos Governos federal,
estadual, municipal. Os empreendedores agem seletivamente (seletividade espacial)
no espaço, decidem sobre determinado local segundo esse apresente atributos
julgados de interesse por eles: atrativos naturais; proximidade de cidades
importantes e da infraestrutura indispensável (aeroporto internacional, acessibilidade
pela rodovia BA-099 e força de trabalho barata).
Segundo Acselrad (2010), a força desses atores no mercado mundial reside
na “chantagem locacional”:

No plano nacional, se não obtiverem vantagens financeiras, liberdade de


remessa de lucros, estabilidade etc., os capitais internacionalizados
ameaçam se ‘deslocalizar’ para outros países. No plano subnacional, se
não obtiverem vantagens fiscais, terreno de graça, flexibilização de normas
ambientais, urbanísticas e sociais, também se ‘deslocalizam’ [...]. Ao
escolherem o espaço mais rentável onde se relocalizar (ou seja, aqueles
locais onde conseguem obter vantagens fiscais e ambientais), acabam [...]
punindo com a falta de investimentos os espaços mais organizados, e
premiando, em contrapartida, com seus recursos, os espaços menos
organizados (ACSELRAD, 2010: 113).

A permanência de uma atividade econômica robusta numa porção do espaço,


caracterizada por certas práticas espaciais é afetada, segundo o autor, pela
operação de outras práticas espaciais. Populações que viviam no LNE da Bahia
sobrevivendo da pesca, agricultura de subsistência e pequenas criações de gado
foram desestabilizadas com as práticas espaciais dos grandes empreendimentos
hoteleiros/imobiliários que foram implantados na região. Mas, antes mesmo que as
condições de localização na região sejam satisfeitas, atendendo às exigências dos
grandes empreendedores, as terras foram adquiridas (a baixo custo) por esses
incorporadores, a exemplo da Odebrecht, numa visão antecipada (antecipação
espacial) de renda futura, mediante seu parcelamento para a construção de hotéis e
residências secundárias em loteamentos e condomínios fechados.
Como esses grandes empreendimentos interferem na organização espacial
da região, segundo Gomes Sobrinho (2013), acabam por fragmentar o espaço,
102

implicando a sua alienação, gerando enclaves (fragmentação espacial), sem


estabelecer conexões com seu entorno ou firmando conexões fracas. Nesse sentido,
e para salvaguardar seus interesses, os grandes empreendedores, por meio de
diretrizes, ações e estratégias expressas em programas e projetos governamentais
que lhe são favoráveis ou foram elaborados para atender suas demandas,
promovem o chamado “turismo sustentável” (reprodução espacial) como requisito
para prever as condições de sua manutenção no mercado e ampliar seus negócios.
As relações entre turismo e “sustentabilidade” devem ser abordadas por meio
dos princípios ambientais, econômicos, sociocultural e político-institucional, embora
os atores envolvidos com o turismo procurem dar ênfase à questão ambiental,
quando vários impactos provenientes das atividades do turismo têm um caráter
muito mais econômico ou sociocultural (BRASIL, 2007). Mas se questiona a respeito
do compromisso dos grandes empreendimentos diante da “sustentabilidade” do
turismo, com a inclusão da comunidade local, com a atenção ao meio ambiente e se
os aspectos econômicos são justos, a ponto de auxiliar na melhor distribuição da
renda e minimização dos danos naturais.
Nota-se que a sustentabilidade sociocultural “[...] tem por objetivo construir
uma civilização mais igualitária, ou seja, com mais equidade na distribuição de renda
e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos
pobres” (BRASIL, 2007: 20). Nesse âmbito, o “turismo de inclusão” visa a inserção
das comunidades locais na cadeia produtiva do turismo por meio do artesanato,
cursos de capacitação, manifestações culturais, conscientização ambiental, entre
outros. Mas o que se observa é que somente uma pequena parte das comunidades
participa da atividade turística na região, como o Programa Brasileiro de
Conservação das Tartarugas Marinhas (TAMAR)48, onde os produtores locais de
artesanato não se adéquam em qualidade e quantidade para entrar no circuito de
venda e abastecimento regular de suas lojas (PANGEA, 2009).
Assim, os artesãos ficam sujeitos ao comércio informal, expondo suas
mercadorias em barracas improvisadas, em pontos de venda ambulante como nas
ruas e praças da localidade de Praia do Forte, fora dos limites do Tamar, sendo tal

48
O projeto Tamar foi criado em 1980 pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
atual Instituto Brasileiro de Meio Ambiente. A coordenação do TAMAR é de responsabilidade da base
de Praia do Forte, área concedida pela marinha para suas instalações. O preço que se paga para ter
acesso é muito caro para o morador local, o que demonstra a privatização do espaço público
(SANTOS, T., 2006).
103

espaço, segundo Santos T. (2006), definido pela Prefeitura de Mata de São João.
Mas, comprovando a inserção parcial da comunidade local na atividade turística
regional, a exemplo da Associação das Artesãs de Vila Sauípe (AAVS), os artesãos
podem expor seus trabalhos na localidade de Praia do Forte, no hotel IberoStar,
apesar de acusarem dificuldades de divulgação e comercialização das mercadorias
(PANGEA, 2009).
Em complemento a Corrêa (1992, 2011), Acselrad (2010) se refere às
práticas discursivas, englobadas sob a chancela da “proteção ao meio ambiente”, no
processo crescente e intransparente que envolve as atividades das corporações em
certos procedimentos de ambientalização: empresas proclamam sua capacidade de
autocontrole ambiental, quando suspeitas de práticas predatórias; autoridades
governamentais flexibilizam a legislação ambiental, alegando rapidez e rigor nos
licenciamentos etc.
Desta maneira, de acordo com Acselrad (2010), na busca por caracterizar as
práticas espaciais e seus impactos no meio ambiente, organizações se instauram
estabelecendo conflitos sociais associados à “proteção ambiental”. Nesse sentido, o
“meio ambiente” é visto como “oportunidade de negócios”, segundo concepções
vigentes em planos e programas do governo brasileiro; o meio ambiente e a
sustentabilidade tornam-se discursos na competição dos lugares e, para atrair
capitais, a “ecologia” e a “sustentabilidade” são símbolos, marcas de atratividade.
Consequentemente são instrumentos das práticas espaciais imateriais de
apropriação do meio, de localização espacial das atividades e de distribuição do
poder sobre os recursos ambientais (ACSELRAD, 2010).
Nesse contexto, o grande capital, sobretudo o multinacional, se estabelece no
LNE baiano. Por meio de práticas espaciais voltadas às atividades turísticas e
imobiliárias, as grandes corporações selecionam o espaço, antecipam seu uso e
ocupação e se reproduzem, contribuindo para a criação da fragmentação espacial e
da segregação sócio-espacial-residencial.
104

5.1.2 As residências secundárias no âmbito do turismo residencial

A expansão mundial das residências secundárias49 despertou o interesse de


estudiosos sobre o tema, aparecendo na literatura internacional em meados de
1970. Estudos que discutem esta temática ainda são escassos, tendo Lundgren
(1974) como um dos seus precursores.
Entre os pesquisadores brasileiros o fenômeno é recente e as reflexões ainda
precisam de clareza, principalmente sobre as diversas finalidades que são atribuídas
às residências secundárias: aluguel, arrendamento, empréstimo a parentes e
amigos, assim como a tendência crescente das residências de lazer multifamiliares,
como os condomínios, condo-resorts, chalés, privês etc.
A “mundialização” das residências secundárias tem sido acompanhada pelo
surgimento de várias tipologias, usos e relações que tornam amplo e complexo o
seu entendimento, provocando diversas interpretações. No Brasil, assim como em
outros países, termos restritivos denominam esse tipo de habitação: residência
secundária, segunda residência, residência turística, casa de veraneio (como é mais
utilizado na Bahia), casa de campo, casa de praia etc., sem haver um consenso
terminológico50.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), a residência secundária
limita-se à propriedade residencial para fins de veraneio e turismo, não sendo,
portanto, a residência principal do titular (BRASIL, s/d), expondo, dessa forma, o
caráter seletivo da mesma, pois a capacidade de investir em imóveis de uso
esporádico é restrita a pequeno segmento da população mundial, fato que evidencia
seu crescimento em regiões com maior desenvolvimento econômico, a exemplo da
Europa Ocidental.
A residência secundária, segundo Müller (2009), em nenhum lugar do mundo
é tão comum como nos países nórdicos; faz parte da sua cultura e é explorada em
promoções turísticas. Na Suécia faz parte da vida social, desde a segunda metade

49
Consideram-se residências secundárias no âmbito do turismo residencial, um tipo de alojamento
voltado para turismo considerando-se os fatores distância e local não habitual das residências
principais dos proprietários, situadas em grandes centros urbanos.
50
O IBGE inclui as residências secundárias como: domicílios fechados, no censo de 1970; domicílios
de uso ocasional, no censo de 1980, considerando a não presença do morador temporário na época
do recenseamento; domicílios particulares de uso ocasional, no censo de 1991, mas sem restringir
esta condição à presença do morador temporário, formulação que permaneceu inalterada quando do
Censo de 2000; e como domicílios particulares fechados, no censo de 2010.
105

do século XIX, quando passaram a ser comum nos arredores das cidades, assim
como nos centros turísticos situados na costa ou nas montanhas. As casinhas de
madeira vermelha, símbolo do idílio rural, atraem, atualmente, a demanda turística
internacional e continuam sendo um destino de férias entre os próprios suecos.
De acordo com Leontidou; Tourkomenis (2009), o turismo residencial51 na
Europa tem sido facilitado pela abertura de fronteiras e tecnologias da comunicação,
tendência esta já presente nos Estados Unidos desde as últimas décadas do século
XX. O litoral mediterrâneo da França, Grécia, Espanha e Itália, atraem visitantes,
gerando forte efeito na litoralização, observada desde a década de 1980,
expandindo-se até os dias atuais. Esta modalidade de turismo residencial de
estrangeiros52 foi transformada em um novo estilo de vida, com maior importância
que a expansão do mero “lazer” (LEONTIDOU; TOURKOMENIS, 2009). Nesse
sentido, Mazón; Huete; Mantecón (2009) fazem alusão a uma revalorização da
tradição, aparecendo novos estilos de vida, articulados em torno de espaços
ambientalmente saudáveis e distantes das grandes cidades (LUNDGREN, 1974).
No Brasil, segundo Cruz (2009), a estabilidade econômica alcançada em
meados de 1990 e importantes incentivos governamentais contribuíram,
positivamente, para o desenvolvimento tanto do setor turístico como imobiliário, em
consequência do turismo residencial.
De acordo com Leontidou; Tourkomenis (2009) parte-se da noção de que

[...] o turismo é um requisito prévio para a existência do turismo residencial.


O turismo se converteu, progressivamente, em um artigo de consumo,
globalizado, porém também híbrido, tanto que suas formas se modificam e
53
se convertem em polivalentes (LEONTIDOU; TOURKOMENIS, 2009: 39) .

Neste contexto, Müller (2009) destaca o fenômeno da residência secundária


exclusivamente como elemento turístico, visto que as residências secundárias
podem ser utilizadas como residências alternativas, tanto para o lazer como para o

51
Terminologia adotada na Europa.
52
Por este conceito entende-se o deslocamento temporal de pessoas que em geral ocupam casas
das quais não são proprietárias, em países estrangeiros, durante longos períodos (meses), garantido
pela lei europeia, de 1993, que permite a todos os cidadãos da União Europeia estabelecer-se com
liberdade em qualquer país membro (MARMARAS, 2009).
53
“[...] el turismo es el requisito previo para la existencia del turismo residencial. El turismo se ha ido
convirtiendo progresivamente en un artículo de consumo, globalizado, pero también híbrido, en tanto
que sus formas se modifican y se convierten en polivalentes” (LEONTIDOU; TOURKOMENIS, 2009:
39).
106

trabalho e como importantes projetos da ação humana. Neste sentido, Mazón;


Huete; Mantecón (2009) falam da confusão recorrente entre as atividades próprias
do turismo e as da indústria da construção civil, interpretada como uma consciente
instrumentalização imobiliária do turismo. Mas tal não acontece, a exemplo do litoral
mediterrâneo espanhol, quando, durante mais de quatro décadas, ações
consensuadas de elites políticas e econômicas “[...] tem utilizado o desenvolvimento
turístico como pretexto para promover uma atividade imobiliária desmesurada,
orientada por interesses privados e depredadora do meio ambiente e das culturas
locais tradicionais”54 (MAZÓN; HUETE; MANTECÓN, 2009: 408).
No Brasil, o processo de urbanização de áreas costeiras pelo
desenvolvimento imobiliário de residências secundárias é chamado de “turismo
imobiliário” ou “turismo residencial”, embora, segundo Cruz (2009), as residências
secundárias até certo ponto são independentes das entidades turísticas, estando
mais vinculadas ao mercado imobiliário.
De acordo com a autora, esse tipo de turismo é seletivo quanto o espaço,
embora esse caráter seja mais determinado pela ação hegemônica dos agentes
produtores do espaço que, na maioria das vezes, define a área de ocupação, mais
que os interesses subjetivos da maioria dos consumidores. Pode-se dizer que os
agentes imobiliários descobriram nas residências secundárias um investimento
rentável, excelente opção de negócio.
Segundo dados do mercado imobiliário, a Embratur (s/d) destaca três tipos
mais frequentes de investimentos em turismo, voltados às residências secundárias:
os resorts integrados, o timeshare (que muitas vezes é vinculado a um resort
integrado) e a tradicional residência secundária. Os primeiros surgem como um novo
produto turístico, ofertando ao mercado uma experiência diversificada e
diferenciada. Os resorts integrados são residências secundárias localizadas em
empreendimentos turísticos que consolidam uma gestão integrada de hotelaria,
atrações, desportos, entre outros. No LNE da Bahia, destacam-se o Trivoli Eco
Resort e o Iberostar (em Praia do Forte), Vila Galé Marés Resort e Costa Smeralda
Resort (em Guarajuba) e o Itacimirim Resort, na localidade de mesmo nome.
Atualmente, a maior parte das grandes redes hoteleiras internacionais, como

54
“[...] han utilizado el desarrollo turístico como pretexto para promover una actividad inmobiliaria
desmedida, orientada por intereses privados y depredadora del medio ambiente y de las culturas
locales tradicionales” (MAZÓN; HUETE; MANTECÓN, 2009: 408).
107

o Marriot Vacation Club, o Hilton e marcas como a Disney possuem a modalidade


timeshare55, tipo de negócio que permite ao proprietário o compartilhamento do uso
de imóveis, em diversos locais do mundo, em todas as épocas do ano, dividindo as
despesas de manutenção anual, após aporte inicial de capital para ter o título de
propriedade de um bem imobiliário que será alugado por temporadas. O timeshare
oferece várias opções de compra para poder atender demandas por variedade e
flexibilidade em termos de férias, segundo um novo estilo de vida, muito comum nos
Estados Unidos, mas somente nos últimos anos vem sendo oferecido no Brasil.
Em Costa do Sauípe, no LNE baiano, de acordo com Araújo; Vargas (2013), a
modalidade timeshare oferecida pelo Quintas Private Residence conta com os
serviços e estrutura do condomínio Quintas de Sauípe Grande Laguna. Neste o
imóvel pode ser revendido ou locado e o direito de uso é proporcional à fração
adquirida (geralmente algumas semanas por ano), podendo também o proprietário
pagar o valor correspondente às semanas negociadas com a intercambiadora
credenciada e viajar para outros destinos filiados.
Embora o sistema timeshare seja considerado uma forma econômica de os
“associados” viajarem com qualidade para diversos locais do mundo e também uma
maneira de eliminar preocupações inerentes às residências secundárias (alto custo
de aquisição e manutenção) é um produto turístico altamente segregacionista,
destinado a grupos sociais de renda alta.
A residência secundária está mais relacionada à aquisição de imóveis pelo
valor de uso familiar. O investimento, neste caso, está relacionado com a maior
participação do proprietário no contexto sociocultural da região, onde o imóvel está
sendo comprado ou construído. Vale, no entanto, observar que este tipo de turismo
como forma de investimento precisa estar relacionado com o imóvel que o
proprietário utiliza e não apenas com a terra adquirida que não se vincula ao
turismo, mas ao aspecto financeiro. É um tipo de investimento que oferece uma
menor liquidez e pequena rentabilidade imediata, sua venda está sujeita às leis de
oferta e procura e, nem sempre, os imóveis são alugados, permanecendo fechados

55
O sistema TimeShare, TimeSharing, Propriedade de Férias, Vacation Club ou Tempo/Uso
Compartilhado, começou na Europa, na década de 1960, e os primeiros empreendimentos foram:
Superdevoluy, nos Alpes Franceses (1964); Club Hotel, na França e Hapimag, Suíça, em 1964. A
ideia expandiu-se geograficamente nos anos de 1970, e devido à necessidade e o interesse do
viajante em conhecer novos lugares surgiu como solução aos serviços de intercâmbios de resorts
lançados inicialmente pela RCI (Resorts Condominiuns International) em 1974, acelerando o seu
crescimento.
108

a maior parte do ano. Sem contar que a residência secundária absorve boa parte do
rendimento das famílias com a manutenção, impostos e custo com os
deslocamentos.
Na orla do município de Camaçari, a demanda dessas residências é
proveniente, principalmente, da população residente da cidade do Salvador. Na orla
de Mata de São João, de acordo com Gomes Sobrinho (2013), o modelo turístico é
diferenciado e inspirado na experiência ibérica, integrando turismo, hotelaria e
residência secundária, e resulta da articulação de empresas portuguesas e
espanholas ligadas ao setor imobiliário, turístico-hoteleiro, investidores institucionais
(fundos privados) e empresas da construção civil. A autora também ressalta a
possível revisão desses investimentos na área, em face dos efeitos da crise
econômica e política na União Européia.

5.1.3 As residências secundárias e sua relação com a cidade do Salvador e


seu entorno imediato

A relação entre as residências secundárias e sua localização em relação à


metrópole soteropolitana e sua região de influência imediata (Baía de Todos os
Santos e LNE), foi pesquisada por Silva, S.; Silva, B.; Carvalho (2009), com base em
Lundgren (1974). Este autor elaborou um modelo histórico-genético que se
desenvolve em três fases56, a partir de experiências no Canadá (cidade de Québec),
destacando as transformações espaciais/temporais associadas às residências
secundárias e à cidade.
Ao considerar que “[...] as explicações dedutivas proporcionadas por este
modelo têm-se mostrado frágeis [...], posto considerar como condições
determinantes as distâncias em relação ao centro emissor e o tempo gasto pelo
deslocamento”, Pereira (2012: 205) avalia que o modelo de Lundgren (1974) é
inapropriado para ser aplicado ao nordeste brasileiro.

56
Fase I: quando a cidade, com certo porte, passa a ter residências secundárias em seu entorno
imediato (de montanhas ou lagos); Fase II: quando, a partir do crescimento da aglomeração urbana
as residências secundárias são transformadas em principais, ocorrendo a implantação de novas
residências em áreas mais distantes; a tendência se reproduz na Fase III, agora com porte
metropolitano, sucessivamente, na forma de um ciclo (SILVA, S.; SILVA, B; CARVALHO, 2009).
109

Pereira (2012) argumenta ainda que o modelo desconsidera vários outros


fatores que afetam diretamente a escolha ou exclusão de lugares para o veraneio de
beira-mar: o destaque para um único núcleo emissor de veranistas e as
características deste núcleo; a ideia errônea de saturação de áreas antigas de
veraneio; o crescente número de residências secundárias nos centros emissores de
um público nacional e internacional o que contraria modelos que exprimem somente
o movimento centrífugo, ou seja, aquele que envia os veranistas cada vez mais
distantes do centro; a distribuição não equidistante dos municípios (litorâneos e não
litorâneos); as áreas de residência secundária incorporadas, transformando-se em
áreas residenciais permanentes, quando essas tendências são flexibilizadas, vez
que os espaços à beira-mar podem ser multifuncionais.
Entretanto, verificou-se a validade do modelo de Lundgren (1974), quando
aplicado por Silva, S.; Silva, B.; Carvalho (2009) no sentido de compreender as
transformações ocorridas e em curso nas áreas turísticas da Baía de Todos os
Santos e no Litoral Nordeste, considerando-se seu empirismo no tocante à
expansão urbana e de residências secundárias. De acordo com os autores, poder-
se-ia compatibilizar a análise efetuada para as áreas no entorno de Salvador, com
as três fases do modelo (Figura 4):
Fase I: ocorre a expansão física da cidade do Salvador para a Orla Atlântica,
a partir dos anos 1920, possibilitado pelas novas vias de comunicação e transporte,
surgindo os primeiros loteamentos em Amaralina, com características claras de
residências secundárias. O bairro do Rio Vermelho, mais próximo do centro de
Salvador era, na época, considerado de veraneio, mas também de moradores
permanentes (SILVA, S.; SILVA, B.; CARVALHO, 2009). Esta fase, segundo
Lundgren (1974), apresenta uma relação tipicamente geográfica entre o centro
urbano e sua região de residências secundárias.
Fase II: No decorrer do ano de 1949 a estrada Amaralina-Itapuã que
acompanhava a orla oceânica de Salvador foi implantada, possibilitando a ocupação
litorânea inclusive por residências secundárias, progressivamente transformadas em
residências principais ou em atividades comerciais e serviços ligados ao uso das
praias para turismo, recreação e lazer. Nas décadas de 1960 e 1970, na ilha de
Itaparica, dá-se o início de construção de casas de veraneio, principalmente por
habitantes de Salvador, estimulados, a partir de 1970 pela implantação do transporte
marítimo na Baía de Todos os Santos ligando a cidades do Salvador à ilha de
110

Itaparica através de navios ferry-boat57 (SILVA, S.; SILVA, B; CARVALHO, 2009).


Fase III: Este processo se reproduz no município de Lauro de Freitas,
contíguo a Salvador. Loteamentos como Vilas do Atlântico, no final dos anos 1970,
eram especialmente destinados a residências secundárias, que mudaram, com a
crescente integração metropolitana, para o status de residências principais, embora
algumas, próximas da praia, ainda permanecem com seu uso para veraneio e fins
de semana. Diferente do que aconteceu no LNE, na ilha de Itaparica não houve
mudança expressiva das residências secundárias para principais, por parte dos
moradores de Salvador (SILVA, S.; SILVA, B.; CARVALHO, 2009).
Em contraposição a Pereira (2012), Cruz (2009) afirma que as residências
secundárias se localizam cada vez mais em distâncias maiores das residências
principais. Isto ocorre pelas condições materiais criadas pelos meios de transporte,
ideia que resulta essencial para a compreensão do processo de internacionalização
da demanda dessas residências no país durante os últimos anos. Nesse sentido, o
modelo de Lundgren (1974), aplicado para Salvador, foi ampliado por Silva, S., Silva,
B.; Carvalho (2009) inspirando-lhes a Fase IV.
Na ilha de Itaparica — tradicional área de turismo, em função das praias e a
estância hidromineral — predominam as residências secundárias, no município de
Vera Cruz (SILVA, S.; SILVA, B.; CARVALHO, 2009). Entretanto, o entorno da Baía
de Todos os Santos passou por um lento crescimento da atividade turística, obstante
o surgimento de diversos empreendimentos, principalmente na ilha de Itaparica. Na
década de 1950, a ilha de Itaparica era a opção de veraneio, preferencial, para os
soteropolitanos que mantinham ou alugavam residências nos fins de ano. O
deslocamento entre a cidade do Salvador e a ilha de Itaparica era feito pelo “navio
de Itaparica” e o movimento das pessoas no local era feito por bicicletas ou “a pé”.
Atualmente, pela facilidade trazida pelo ferry-boat e o acesso rodoviário58, o
transporte é realizado predominantemente por automóveis, ônibus etc.
A mudança do veraneio da ilha de Itaparica para um veraneio feito por
população de média e alta renda no LNE baiano aconteceu gradativamente, a partir
dos anos 1970, após o interesse de agentes que dispunham da oferta de terras para
investimentos imobiliários rentáveis futuros.

57
Ferry-boat é um tipo de embarcação de fundo chato, com pequeno calado, para operar próximo às
margens (águas rasas) e utilizada para transporte de veículos e passageiros.
58
Pelas rodovias BR-324, BR-420 e BA-001 o percurso é de 187km.
111

Figura 4  Salvador e seu entorno: expansão urbana e residências secundárias

Fonte: Lundgren (1974). Silva, S.; Silva, B.; Carvalho (2009), com complementação de Denise
Magalhães, 2013.
Elaboração: Dilson Magalhães, 2013.
Nota: A escala gráfica horizontal do perfil está correlacionada com as distâncias das localidades, em
relação ao polo emissor (Lauro de Freitas, 30 km; Abrantes, 45 km; Arembepe, 58 km; Barra do
Jacuípe, 64 km; Guarajuba, 83 km; Itacimirim, 87 km e Praia do Forte, 90 km) ao longo da área
analisada.
112

A construção da rodovia BA-099, trecho “Estrada do Coco”, em 1975, bem


como sua posterior extensão, a “Linha Verde”, em 1993, são investimentos públicos
resultantes desse processo e aconteceram devido à importância da acessibilidade
tanto para o incorporador, como para o consumidor.

59
Se falava Ilha, Ilha, hoje só é Estrada do Coco (Sr. D. C. P., 50 anos)

A rodovia foi um canal de desenvolvimento e o pessoal está vindo para se


60
refugiar em novas residências (Sra. D. S. S., 53 anos)

A cidade está crescendo nesta direção, para onde há um afluxo de gente


muito grande. Aqui é o paraíso das “invasões” dos ricos (Sra. A. M. M., 66
61
anos)

De acordo com os moradores locais, cujas falas permitem adequar a


realidade à teoria, os locais de veraneio no LNE estão cada vez mais longe da
cidade do Salvador: “Historicamente, Jauá foi um lugar muito procurado. Quando
saiu de moda, começou a deterioração” (Sra. A. M. M., 66 anos). Hoje os lugares da
“moda” são Guarajuba, Itacimirim, Imbassaí, e cada vez mais distante do seu
principal centro emissor, contrariando, assim, a contestação de Pereira (2012) de
saturação de áreas antigas de veraneio. Esses locais, de investimento imobiliário em
decorrência de uma demanda potencial, são difundidos pelas camadas sociais de
médio e elevado rendimento que, associados às empresas imobiliárias e à mídia,
provocam um boom imobiliário nesses locais (ARAÚJO; VARGAS, 2013). Nesse
sentido, elaboramos as seguintes questões: em que condições esses locais de
veraneio serão valorizados pela população de veranistas e pelo mercado imobiliário?
O que faz um local ser da moda?
A assertiva de Cruz (2009), no tocante ao processo da demanda das
residências secundárias é reafirmada por Silva, S.; Silva, B.; Carvalho (2009). Esses
autores argumentam que essas residências incorporaram, em sua expansão para as
áreas de praia do LNE, não só uma expressiva participação de brasileiros de outros
estados, como também a entrada de empreendedores e compradores do exterior.
Pereira (2012), porém, admite um número crescente de residências
secundárias de brasileiros e estrangeiros, nos centros emissores do nordeste

59
Entrevista realizada em 7/12/2013, com presidente da Associação Beneficente de Jauá.
60
Entrevista realizada em 6/12/2013, com presidente da Associação Comunitária e Recreativa dos
Moradores de Campinas de Açú da Torre.
61
Entrevista realizada em 7/12/2013, com jornalista, moradora em Jauá.
113

brasileiro, apesar de se revelar que a participação dos clientes internacionais no


mercado imobiliário do LNE baiano tem arrefecido em decorrência da crise
econômica de 2008: “Com a crise ficou muito difícil. O que mais temos é cliente
português que comprou e quer vender” (Sr. E. A. B., 52 anos)62.
Na Bahia, municípios do LNE também refletem um número crescente de
residências secundárias em áreas urbanas, embora com preponderância do
principal centro emissor, Salvador, com 23.172 residências em 2010 (Tabela 11).
Esse fato é justificado pela grande quantidade de pessoas do interior do estado que
mantêm esse tipo de residência na capital, por questão de trabalho, estudo ou busca
de serviços especializados. O município de Camaçari também se distingue, em
2010, por ser o segundo maior concentrador de residências secundárias em áreas
urbanas (14.401), principalmente no litoral, para onde são atraídos os compradores
de imóveis principalmente para veraneio. É bem menor a quantidade dessas
residências nos municípios de Lauro de Freitas e Mata de São João, fato explicado
pela proximidade do primeiro com a cidade do Salvador, onde muitas residências
secundárias são convertidas em principais e, em Mata de São João, a concentração
de tais residências em poucas localidades litorâneas, como Praia do Forte e
Imbassaí.

Tabela 11 - Municípios do Litoral Nordeste da Bahia: residências secundárias


recenseadas em áreas urbanas, 1980-2010
Anos
Municípios
1980 1991 2000 2010
Total 4.957 15.603 27687 42517
Camaçari 1.958 4.629 8.897 14.401
Lauro de Freitas 309 597 2.467 3.079
Mata de São João 199 385 723 1.865
Salvador 2.491 9.992 15.600 23.172
Fonte: IBGE. Censos Demográficos: 1980, 2000, 2010. Sinopse Preliminar: 1991.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Araujo; Vargas (2013) acrescentam que não só a cidade do Salvador, mas o


seu entorno na Baía de Todos os Santos constitui destino turístico, tendo nos
municípios de Vera Cruz e Saubara, maior incidência de residências secundárias.

62
Entrevista realizada em 13/12/2013, com corretor imobiliário em Praia do Forte.
114

O que hoje se constata através da aplicação do modelo de Lundgren (1974) é


uma maior quantidade de residências secundárias ao longo da costa no LNE baiano
em relação à ilha de Itaparica, em função da melhor acessibilidade pela rodovia BA-
099.
O modelo de Lundgren (1974) explica a natureza do processo de escolha dos
lugares de veraneio a partir da expansão de residências secundárias, do principal
centro emissor. No caso da cidade do Salvador e ao longo da orla oceânica do LNE,
setor determinado, de acordo com Singer (1982) pelo prestígio social da vizinhança
entre grupos de renda mais alta com tendência de se segregarem do resto da
sociedade e dos membros de grupos de renda média de ascender socialmente. Os
agentes imobiliários tiram o máximo de proveito “[...] ao fazer “lançamentos” em
áreas cada vez mais afastadas do centro para os que podem pagar o preço do
isolamento [...]” (SINGER, 1982: 27).
Não só soteropolitanos, mas brasileiros e estrangeiros ricos preferem comprar
residências no LNE baiano, pela valorização do local, o que implica a seletividade da
vizinhança, e pelo contato com a natureza. Para essas pessoas, o custo de
aquisição e manutenção do imóvel é alto, mas compensador por ser um
investimento em um bem, que em condições normais de mercado — sem crise —
tem liquidez imediata.
Considerando-se a localização do imóvel, os custos das pessoas com o
transporte são elevados, mas o tempo de deslocamento muitas vezes é minimizado
pela infraestrutura da área (rodovia BA-099 e o aeroporto de Salvador) e, ainda, o
relativamente pequeno congestionamento de veículos, comparado ao de outros
estados, nas vias de acesso às localidades litorâneas onde se encontram as
residências secundárias. Mesmo ao lançarem imóveis em áreas cada vez mais
afastadas, os promotores imobiliários, segundo Singer (1982), tiram o máximo de
proveito da lógica de que pessoas ricas não têm, nem se importam com problemas
financeiros, ou custos de mobilidade.
115

5.2 A EXPANSÃO DAS RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS NO LITORAL DE


CAMAÇARI: O EXEMPLO DO LOTEAMENTO PARADISO LAGUNA

A implantação de loteamentos como o de Interlagos, em 1960, e o


Loteamento Guarajuba, em 1971, no setor costeiro do município de Camaçari,
antecedeu a abertura, em 1975, da rodovia BA-099, trecho “Estrada do Coco” no
LNE da Bahia e de sua “descoberta” como lugar de veraneio. Se nesse período não
havia maior preocupação ambiental com os empreendimentos que eram instalados
na região, atualmente, segundo a Lei Federal no 11.428 de 200663 são requeridos,
estudos e licenciamentos prévios. Os órgãos ambientais os exigem, especialmente,
em caso de atividades consideradas impactantes, como os loteamentos, que se
multiplicam em diversas zonas costeiras64 do estado da Bahia.

5.2.1 Contextualização geográfica da área

O município de Camaçari possui o litoral mais extenso, com 42 km ao longo


da costa do LNE da Bahia. Desde a década de 1970 esta parte do município vem
sendo alvo de investimentos imobiliários para veranistas de alta renda, e para os
serviços de hotelaria e turismo.
Atualmente, o litoral do município está segmentado em dois distritos (Monte
Gordo e Abrantes). É neste último que foi instalado o loteamento denominado
Paradiso Laguna65, a partir de 1994. O loteamento está situado no km 20 da rodovia
BA-099 – “Estrada do Coco”, na parte voltada para o mar, entre o condomínio
Interlagos, após a fábrica Cristal Pigmentos do Brasil S.A, e os limites da vila de
Arembepe (Figura 5 e Anexo A).

63 o
A Lei n 11.428 dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.
64
No contexto das leis brasileiras e zoneamento ambiental, utiliza-se aqui o termo “zona costeira”,
espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, abrangendo as faixas marítima e terrestre,
consideradas patrimônio nacional pela Constituição de 1988, embora a titularidade não seja atribuída
exclusivamente à União. O direito brasileiro (Decreto nº 5.300/2004) proporciona uma superposição
de atividades exercidas em terreno de marinha e acrescidos (como bem da União e extensão dos
municípios).
65
O loteamento se destaca para um estudo mais detalhado de caso, por razões que se verão a
seguir.
116

Figura 5  Imagem aérea da área do loteamento Paradiso Laguna

Fonte:
onte: Imagem adaptada pela autora, a partir do folder promocional do
loteamento em 2012.

A área onde está localizado o loteamento constitui uma das mais belas
paisagens do LNE baiano, vista pela rodovia BA-099
BA – “Estrada do Coco” (Figura 6).
Isto fez com que, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Cepram)66 transformasse
aquela área em Zona de Proteção
Proteção Visual (ZPV), em 2001, caracterizada como Área
de Preservação Permanente (APP), segundo o que dispõe o Código Florestal
Brasileiro (BRASIL,
BRASIL, 1965). Na imagem da figura 6 é possível observar a presença de
condomínios e loteamentos perto da praia, bem como os coqueirais, a Lagoa
Grande e, no primeiro plano, a área do loteamento.
São características principais do clima: temperaturas elevadas (sempre
superiores a 22°C) e grandes precipitações durante todo o ano, sem estação seca
marcante (KOEPPEN, 1948; FINCH; TREWARTHA, 1954). Segundo tipologia
climática de Thornthwaite e Matther, pode ser classificado como do tipo úmido, com
pequena ou nenhuma deficiência hídrica (BAHIA, 1998). No período mais chuvoso
(trimestre abril, maio e junho) os rios e lagoas cheios
cheios transbordam nas planícies de
inundação e a vegetação mais verdejante de junco (Juncus
( effusus
effusus) e taboa
(Eleocharis interstincta)) prenominam nessas áreas. Nos meses mais secos (agosto a
fevereiro), entre a vegetação seca, sobressai-se
sobressai se o Rio Capivara Grande, fazendo
meandros na planície.

66
Resolução nº 2.872/2001 (BRASIL, 2001).
2001)
117

Figura 6  Paisagem do loteamento Paradiso Laguna

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015.

Ao longo do litoral de Camaçari, os ventos são influenciados pelo Oceano


Atlântico, que desempenha um papel significativo sobre a circulação atmosférica
brasileira e, claro, do local. São áreas consideradas privilegiadas para o
aproveitamento para o lazer ao ar livre, pelas temperaturas elevadas de verão e total
anual de horas de insolação (2.500 a 3.000 horas).
O estudo das condições climáticas reinantes na orla marítima de Camaçari
indica ser a área propícia ao turismo, veraneio e lazer, principalmente durante as
férias de fim de ano, quando é grande o afluxo de pessoas provenientes de várias
partes do estado, do país e do mundo.
A vegetação local é caracterizada pela formação pioneira de restinga67 (IBGE,
2012), que se encontra bastante antropizada e invadida por espécies cultivadas. A
vegetação recobre extenso terraço marinho68 — o que traz grandes problemas de
drenagem nos períodos chuvosos —, tendo sido, em parte, anteriormente
desmatada para implantação do coqueiral. O cenário paisagístico da restinga é
dinâmico e segundo o Projeto Radambrasil (IBGE, 2012), apresenta três tipologias

67
O termo é empregado para designar dois elementos do meio físico. Em geomorfologia, vincula-se à
história da sedimentação marinha costeira (GUERRA, 1972; ROMARIZ, 1974; AB’ SÁBER, 2003). No
Art. 2º, Item VIII da Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) nº 303/02, passou
a ser entendido também como cobertura vegetal e se encontra em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões (CONAMA, 2002). Cumpre notar que esta “obscuridade” terminológica deu margem a
muitas interpretações, que somadas a falta de clareza nas leis conduziu a constantes dificuldades
para aplicar o direito ambiental.
68
Domínio ambiental da planície costeira, constituído de depósitos de sedimentos litorâneos.
118

de cobertura vegetal: arbórea, arbustiva e herbácea (Figura 7), representadas na


área do empreendimento.
No local, também são encontradas a vegetação hidrófita (IBGE, 2012) —
vulgarmente conhecida como plantas aquáticas —, o coqueiral, bem como os
dendezeiros (Elaies guineensis Jacq.), não sendo observadas espécies vegetais
raras e/ou ameaçadas de extinção de acordo com a listagem oficial do Ministério do
Meio Ambiente (MMA) (BRASIL, 2008).

Figura 7  Restinga com vegetação arbustiva e herbácea às


margens da lagoa, com vegetação hidrófita – 2013

Fonte: Foto, Denise Magalhães, 2013.

Todavia, o projeto paisagístico e marketing do empreendimento prevê a


utilização de espécies nativas das Áreas de Preservação Permanente (APP)69, mas
com a introdução de espécies exóticas (BAHIA, 2004). Consequentemente, o
loteamento destruirá o ambiente existente para, a posteriori, fazer um arremedo de
recomposição.
A fauna reflete o antropismo a que foi submetida, durante décadas, tendo em
vista: os loteamentos/condomínios já implantados, a caça predatória, por moradores

69
Essa área, devido a sua relevância ambiental e de acordo com a Lei nº 4.771/1965, só poderia ser
alterada, em casos excepcionais, mediante decreto de utilidade pública, interesse social ou baixo
impacto ambiental. Com esse enfoque inequívoco, como forma de flexibilizar a aplicação das normas
ambientais, o CRA, encarregado, na época, de avaliar o projeto do emprendimento, emitiu
autorização para supressão da vegetação e licenciou sua implantação, através do Cepram.
119

do entorno e a contaminação dos solos e de águas superficiais e subterrâneas


(BAHIA, 2004). Contudo, ainda podem ser observados alguns réptéis,
representantes da avifauna, insetos, anfíbios e espécies de peixes (algumas
exóticas como o tucunaré, o robalo e o tambaqui) que vivem na Lagoa Grande, que
provavelmente foram introduzidas pelo peixamento a partir do Condomínio
Interlagos ou através de atividades de pesque-pague locais.
Assim como a flora, também não foi identificada na fauna local nenhuma
espécie animal, rara ou endêmica ameaçada de extinção, considerando-se o
estabelecido da Lista Nacional das Espécies de Fauna Brasileira Ameaçadas de
Extinção (BRASIL, 2003).
Com base em Ribeiro, Lucedino (2004), Mota (2004), Azevedo, R.; Silva, H.;
Vidal (1992) podem ser traçadas algumas informações geoambientais, consideradas
importantes para a ocupação da área pelo loteamento Paradiso Laguna.
Formada por solos arenosos, classificados como Neossolos, de baixa
fertilidade, a cultura agrícola que melhor se adaptou foi a do coco-da-baía, como se
pode ver no local. Nenhuma cultura de subsistência foi observada, com excessão de
poucas árvores frutíferas, possivelmente disseminadas pelos próprios moradores do
entorno ou pelas aves.
A topografia plana ou levemente ondulada, caracterizada por baixas
declividades e cotas topográficas baixas (na faixa de 2,60m) na proximidade da
Lagoa Grande e mais altas (na faixa de 10m) formando pequenas encostas que
acompanham a rodovia, facilitaram a terraplanagem do empreendimento.
O lençol freático aflora à superfície do terreno, ou se situa a pequena
profundidade (± 0,80m) podendo ocorrer em maiores profundidades (± 2,80m) nos
pontos mais altos do terreno, geralmente nas proximidades da rodovia BA-099 –
“Estrada do Coco”. As características hidrogeológicas, se por um lado favorecem
satisfatoriamente o loteamento, conquanto beneficiem o lazer, por outro se mostram
críticas, devido, principalmente, à proximidade do nível do aquífero, que recebe
carga extra de água a partir da rede de coleta implantada na rodovia BA-099,
drenagem essa que flui na direção W-E (estrada-Lagoa Grande).
Em atendimento à Lei Federal 6.766/79 (Art. 3º, parágrafo único) que
determina não ser permitido o parcelamento do solo de extensão urbana “[...] em
terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para
assegurar o escoamento das águas” (BRASIL, 1979), os incorporadores do
120

Loteamento Paradiso Laguna70, viabilizaram soluções para sua implantação e


operação, desta forma evitando os alagamentos do terreno em períodos de muita
pluviosidade.

5.2.2 O loteamento Paradiso Laguna no contexto ambiental

Segundo a Lei 6.766/1979 (BRASIL, 1979) que regula o Parcelamento do


Solo Urbano, coube ao Governo estadual, disciplinar a aprovação do loteamento,
pelo município de Camaçari, a ser instalado em área de interesse especial, de
proteção paisagística e em área de uma região metropolitana, definidas por
legislação federal ou estadual.
O processo para a implantação do loteamento teve início em 1992, quando os
empreendedores fizeram estudos para sua realização, em uma área com 200ha, de
estabelecimento rural. Posteriormente as terras foram adquiridas pelos
empreendedores, para loteamento e venda.
Geralmente, os lucros embolsados pelos empreendedores são fantásticos
(CARLOS, 1994), mas como o loteamento foi embargado pelo Ministério Público
Estadual71, o empreendimento perdeu credibilidade junto aos clientes. Atualmente
(2014) não há vendas de lotes, apesar do prosseguimento da obra, com finalização
da iluminação e esgotamento sanitário.

Nós tivemos realmente um prejuízo enorme. Ninguém ia querer investir num


empreendimento que estava na mira da mídia, que estava com o embargo,
claro e evidente. Quando nós lançamos o empreendimento em 2006, era
uma febre. Logo no primeiro mês nós vendemos 100 lotes. Área bonita.
Condomínio de alto padrão. Depois vieram os problemas [...] (Sr. A. S. S.,
gerente da incorporadora do Loteamento Paradiso Laguna).

O faturamento da operação — preço cobrado por cada um de seus produtos


— é projetado pelo agente imobiliário desde a compra do terreno para lotear ou
construir. No caso do loteamento em questão, 336 lotes residenciais com área
70
Entrevista realizada em 08/01/2014 com gerente.
71
Após a comercialização de lotes e início das obras, os empreendedores relataram sua paralisação
(1995). O Cepram e o Ministério Público Federal acusam problemas de gestão da incorporadora.
Outra questão é atribuída à questão da terra envolvendo descendentes da família do proprietário e
adquirentes prejudicados.
121

média de 1.000m², foram comercializados, em 2012, com valor mensal a partir de R$


1.800,00. Lote individual com 1.650m², segundo o site das incorporadoras, foi
recomercializado no valor de R$ 580.000,00, reforçando se tratar de um loteamento
destinado a uma população com alto poder aquisitivo.
Atualmente, de acordo com a empresa incorporadora, por causa dos motivos
apontados, o preço do lote com 1.000m² está entre R$ 250.000,00 e R$ 300.000,00,
sendo o preço do terreno um dos mais baratos, comparados a outros do LNE
baiano. Segundo os corretores que atuam na região, o preço da terra varia de R$
1.000,00 a R$ 2.000,00 o m² nas localidades de Guarajuba e Itacimirim, chegando a
atingir R$ 4.000,00 o m² em Praia do Forte. Por outro lado, em áreas afastadas da
praia, o preço da terra varia de R$ 100,00 a R$ 500,00 o m². Como bem nos alerta
Topalov (1984: 5, tradução nossa) “[...] a origem de todos os males da cidade
moderna: a especulação fundiária”72, tem na segregação espacial dos grupos
sociais, um de seus efeitos perversos.
Qualquer ação de parcelamento do solo urbano, através de loteamento em
áreas consideradas de fragilidade ambiental, remete à legislação federal, estadual e
municipal específicas.
A legislação federal estabelece limites e restrições à implantação de
loteamentos, como este em foco. A Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981), define que as áreas consideradas de
fragilidade ambiental são patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
protegido. A Constituição Federal (CF) de 1988, estabeleceu valiosos artigos sobre o
meio ambiente considerando — Seção VI, Art. nº 225, § 4º — a Zona Costeira
patrimônio nacional (BRASIL, 1988). A Lei nº 4.771/1965 instituiu o Novo Código
Florestal (BRASIL, 1965), considerando, em seu Art. 2º, como APPʼs a vegetação
natural ao entorno de lagoas e nas “restingas”. Na Seção VII, Art. 38º e 42º,
estabelece a obrigatoriedade da prévia autorização do órgão ambiental
73
competente , quando da localização e implantação de empreendimentos capazes
de causar degradação ambiental.
A legislação estadual da Bahia contribui para a proteção ambiental em
questão através da Constituição estadual de 1989, que instituiu as APPʼs,

72
“[…] l’origine de tous les maux de la ville moderne: la speculation foncière” (TOPALOV, 1984: 5).
73
No caso, o CRA e o Cepram.
122

considerando o princípio de intocabilidade das “restingas”, áreas de valor


paisagístico e costeiras (BAHIA/BRASIL, 1989). O Decreto Estadual nº 6.785/1997,
aprovou o Regulamento da Lei nº 6.569/1994, que dispõe sobre a Política Florestal
do Estado da Bahia, considerando (Capítulo II, Art 4º) de preservação permanente a
vegetação natural ao redor de lagoas, as “restingas”, como vegetação fixadora de
duna e áreas de valor paisagístico (BAHIA, 1997)74. A Lei Estadual nº 7.799/2001 e o
Decreto Estadual nº 7.967/2001 definem a legislação ambiental do estado e a
necessidade do licenciamento ambiental para diversas atividades (BAHIA, 2001)75.
Outro fator restritivo ao direito de uso do loteamento é sua localização, ao sul
da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Capivara76, com uma extensão
superficial de aproximadamente 1.800ha, aspecto considerado importante na
urbanização e emergência provocada pelos impactos ambientais urbanos.
Instrumento relevante da política ambiental e das atividades humanas (em ação
conjunta) a APA, nesta localização, deveria ser gerida com obediência à legislação
ambiental específica e em vigência, para possibilitar a manutenção da qualidade
ambiental.
As condicionantes que regem a implantação do loteamento são derivadas não
só da legislação ambiental, como dos projetos e programas governamentais que
orientam a ocupação da faixa costeira da Bahia. Nesse sentido, a Lei nº 7.661/1988
instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), como parte
integrante da Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e Política Nacional
do Meio Ambiente (PNMA), visando orientar a utilização racional dos recursos na
Zona Costeira. Reza seu Art. 10º que as praias são bens públicos de uso comum da
população, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em
qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de
Segurança Nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica.
No loteamento Paradiso Laguna o acesso à praia para os proprietários de
imóveis ou seus convidados está sendo construído pelo Loteamento Praia dos
Lagos, próximo à praia, contrariando a legislação em vigor, conforme verificado em
campo, pois, o local de passagem encontra-se protegido por seguranças que

74
Observe-se que ao conceito “restinga” é conferido o status de “vegetação” ou de “feição
geomorfológica”, indiscriminadamente.
75
Tais leis, vigentes à época de implantação do loteamento, atualmente foram revogadas.
76
Criada pelo Decreto Estadual nº 2.219/1993.
123

impedem o acesso de pessoas não autorizadas para as quais o único acesso é pela
vila de Arembepe.
É simplesmente impossível para os cidadãos comuns o acesso à praia pelo
loteamento, sem o convite de um proprietário, apesar de a citada Lei 6.766/1979
assegurar, desde a constituição original do loteamento, quais as áreas públicas que
passarão ao domínio do município, que regidos pelo Código Civil, podem ser
utilizadas por todos em iguais condições. Caberia ao Poder Público garantir o livre
trânsito das pessoas e seu direito, inalienável, de acesso à praia. Mas,
lamentavelmente, a lei não é aplicada a empreendedores imobiliários que se
apropriam de espaços públicos, para implantar loteamentos destinados a grupos de
média e alta renda.
Uma grande preocupação dos moradores residentes da Área de Influência
Direta (AID) do empreendimento, diz respeito à passagem para a Lagoa Grande,
que acontecia pela rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”. Segundo o Sr. V. S.77 (76
anos), “[...] na Lagoa Grande e Lagoa de Santa Maria os pescadores pescavam
traíra no inverno, quando o mar não dava para pescar e eles viviam disso”.
O referido loteamento fecha esse acesso, apesar de se verificar que os
empreendedores, através de gestão em conjunto com a APA do Rio Capivara,
assegurarem, em documentos escritos e registrados em cartório, a utilização plena
pelas comunidades. Mas não é bem assim, dado que apenas indivíduos
regularmente cadastrados no loteamento, podem ter acesso, o que extingue o
direito, inalienável, de “ir e vir” de quaisquer outros cidadãos. Hoje, o acesso pelos
pescadores à lagoa acontece por um caminho feito pelos empreendedores, fora do
loteamento. Assim os empreendedores imobiliários, com a propriedade privada da
terra, redefiniram a forma/conteúdo do local, criando mais uma modalidade de
segregação sócio-espacial.
De acordo com Silva, M.; Hainard (2005), convém aos agentes
(incorporadores imobiliários e comunidades) que atuam nessa área encontrar os
parâmetros necessários para arbitrar os conflitos oriundos desse processo,
considerando o ecossistema e as condições essenciais de sua reprodução. Assim,
na implantação de quaisquer projetos de urbanização exige-se prévia autorização do
órgão gestor da APA, bem como sua adequação ao Zoneamento Ecológico-

77
Entrevista realizada em 14 de novembro de 2013, com pescador aposentado de Arembepe.
124

Econômico (ZEE) da área78.


Esta Resolução, a Lei nº 7.803/1989 e demais leis anteriormente citadas no
âmbito federal foram consideradas para a elaboração do ZEE e do Plano de
Manejo79 da APA, que aprovados pela Resolução Cepram, nº 2.872/2001, orientam
e disciplinam sua ocupação e regulam a utilização dos recursos existentes. Entende-
se então, que todos os investimentos a ela direcionados, como o loteamento
Paradiso Laguna, deverão se subordinar a essa legislação, bem como às
expectativas sociais e econômicas de sua ocupação, sem esquecer as implicações
na comunidade local.
Ao se analisar o projeto do empreendimento quanto aos parâmetros e
condicionantes contidos no ZEE e no Plano de Manejo da APA, confrontados com a
Resolução Cepram 2.872/2001 (Art. 9º e 10º), o parecer técnico do CRA, em 2004, e
o mapa ambiental do loteamento80 (Figura 8), constata-se que grande parte do
empreendimento se encontra em ZPV81, reafirmando o flagrante desrespeito à
legislação vigente, pois, nesta não se permite parcelamento do solo, mas apenas
atividades de uso indireto como visitação, pesquisa científica e turismo ecológico
controlado.
No extremo sul da APA, também há uma Zona Turística Residencial (ZTR)
que permite turismo, lazer e ocupação residencial unidomiciliar. Nessa área, existe o
parcelamento do solo e ocupações com alto padrão construtivo e boa infraestrutura,
a exemplo do Condomínio Interlagos, típico modelo que os empreendedores do
Paradiso Laguna estão instalando na área vizinha.
O diagnóstico ambiental da APA, elaborado pela Conder, em 1998, e pela
Cepram (via Resolução 2.872/2001) especifica as características que norteiam o uso
e tipo construtivo residencial permitido na área: loteamentos voltados para grupos
sociais de renda média e alta (BAHIA, 2004). O tipo de uso recomendado reflete a
78
Segundo Resolução Conama, nº 010/1988, Art. 8º.
79
Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de
Conservação, se estabelece seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o
manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade.
80
O mapa foi elaborado pela Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidades de
Conservação (SFC) da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).
81
Quando da implantação do loteamento, em 1994, a APA do Rio Capivara não se encontrava
zoneada. Com o ZEE da APA em 2001, o empreendimento estaria inserido em uma ZPV, sendo
necessário que esta fosse transformada em uma Zona Turística Residencial (ZTR) para que fosse
viabilizado o empreendimento.
125

orientação para consumidores com bom poder aquisitivo, mas pouco exigente em
termos de atendimento às normas e leis ambientais, se comparado com os padrões
exigidos por pessoas de igual padrão de renda, em países “ricos”.

Figura 8  O loteamento Paradiso Laguna no contexto ambiental - 2004

Fonte: BAHIA, 2004, adaptado por Denise Magalhães, em 2013.


Elaboração: Denise Magalhães e Francisco Magalhães, 2013.

Mas o que se verifica é que os empreendedores, com base numa suposta


“ideia de respeito e integração ao meio ambiente” visaram criar um parcelamento de
forma a elevar o padrão das ocupações residenciais características dessa região.
Com isso, empreendem um tipo de ocupação do terreno incompatível com o que é
126

previsto pelo conjunto de normas e leis que disciplinam a ocupação e uso da terra.
Contrariando o citado, os empreendedores afirmam que o loteamento é
destinado a “[...] um turismo residencial (veraneio) para mercados nacionais e locais
[...]” (BAHIA, 2004), compatível com a Resolução Cepram e ao que é referendado no
ZEE e no Plano de Manejo da APA, embora comprove Gomes Sobrinho (2011,
2013) ser o mesmo destinado a uma clientela internacional principalmente europeia.
O Decreto Estadual nº 8.169/2002 permite, e a Resolução nº 3.712/2006 —
que aprovou a Norma Técnica 004/06 — define procedimentos de análise e revisão
de ZEEʼs para os empreendimentos causadores de significativa degradação do meio
ambiente que venham a se instalar nas APAʼs do estado da Bahia. Procurando se
“adequar” às leis ambientais vigentes para a ocupação pretendida, os
empreendedores do Paradiso Laguna apresentaram Estudo de Impacto Ambiental
(EIA)82 ao Cepram83 que acatou seu pleito em 2004. Pretendiam e conseguiram
rezonear a APA, transformando, na área do loteamento, a ZPV em ZTR84, o que
causou muita polêmica entre os moradores locais. Observe-se a seguinte
manifestação: “[...] com a astuciosa ação os desenvolvimentistas do Governo do
estado da Bahia em conivência com os da Prefeitura Municipal de Camaçari, essa
área foi alterada para Zona Turística Residencial” (depoimento de um ambientalista
do LNE da Bahia).
Ao referido estudo ambiental dos empreendedores, faz-se necessárias
algumas considerações:
1º) Aparentemente é uma justificativa tendenciosa dizer-se que a área do
empreendimento já se encontrava antropizada, sem maior prejuízo à paisagem;
2º) A criação, pela Cepram, de uma ZPV na APA, não foi um “equívoco”,
como afirmaram os interessados, haja vista ser a área da APA formada por
ecossistemas que contemplam áreas de preservação permanente;
3º) Ainda que se mencionasse a preocupação dos empreendedores em
82
A exigência de Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (os EIA e RIMA) tenta aproximar a
ecologia e o desenvolvimento socioeconômico. Tal paradigma continua vivo e cada vez mais
abrangente na academia e também nos programas de governo.
83
Na época, o Cepram tinha caráter licenciatório, atribuição, hoje, do Inema.
84
O Cepram não considerou a possibilidade de que a alteração fosse para Zona de Ocupação
Rarefeita (ZOR), com menor densidade de ocupação e construções com apenas um pavimento, o
que não seria de interesse do empreendedor, pois, com baixa densidade construída haveria menor
desembolso de capital em adiantamento à troca (HARVEY, 1980 [1973]). O que ele buscou foi uma
maior renda por unidade de superfície do solo, capaz de pagar o preço elevado do m² do terreno
(TOPALOV, 1984).
127

minimizar os impactos na paisagem, a implantação do loteamento causaria,


inevitavelmente, alterações no visual paisagístico do local. Assim, os citados efeitos
deletérios não são irrelevantes; e
4º) Constatou-se que o estudo se mostrou insuficiente, havendo necessidade
de outros estudos adicionais, que foram postergados às etapas posteriores à
emissão da Licença de Localização, constituindo-se uma “transgressão”
(compactuada) dos empreendedores (BAHIA, 2004).
Com base no parecer técnico do CRA, posterior ao EIA, o empreendimento
obteve a Licença de Localização. Entretanto, sobre esse parecer, o MPF, em 2005,
acusou transcrições literais do estudo elaborado pelo empreendedor e sua
aprovação antes da apresentação do EIA afirmando:

[...] que é um equívoco, na medida em que se legitimam as proposições de


uso e ocupação do solo apresentadas pelo principal interessado [...] e não
pelo órgão fiscalizador e executor da política ambiental do Estado” (BAHIA,
2004).

Tal fato, segundo o MPF, sugere o descaso dos técnicos tomadores de


decisão do CRA, para com a área da APA do Rio Capivara, principalmente quando
consideram o empreendimento de porte excepcional, com alto impacto ambiental
(potencial degradador).
O pedido de rezoneamento, portanto, é juridicamente legal. Mas entre as
condicionantes da Resolução Cepram nº 3.310 — Seção VI — verifica-se que a
licença seria revista em caso de manifestação contrária ao projeto por parte do
Conselho Gestor da APA85, o qual, em 2004, questionou, inicialmente, a liberação do
loteamento pelos órgãos estaduais (CRA e Cepram). Isso foi feito em consonância
com os representantes de Organizações Não Governamentais (ONGʼs) e a
comunidade local, os quais se indignaram com o fato de não terem sido consultados
nem participado desse processo, encaminhando suas reivindicações de repúdio ao
rezoneamento da APA, nos seguintes termos:

[...] o Cepram promoveu, de forma insana, data venia, o rezoneamento da


APA, alterando a Zona de Proteção Visual – ZPV, contida na poligonal do
empreendimento, para Zona Turística Residencial – ZTR em flagante
desrespeito à população desta localidade, constantemente vitimada por
especulações imobiliárias, bem como aos transeuntes em geral, privados

85
Constituído por representantes de organizações da sociedade civil, dos órgãos públicos e da
população residente.
128

doravante do conforto visual oferecido pela área preservada.

O sentimento que nos aflige é de desamparo, haja vista não cessar a


ganância de poderosos protegidos por quem deveria defender os nossos
legítimos interesses. Para as pessoas de bom senso que conseguiram
tomar conhecimento do fato [...] atos ilegais como esse são imorais
(depoimentos de moradores do sub-distrito de Arembepe ao Ministério
Público do Estado da Bahia, em 25 de outubro de 2004).

[...] pergunto com quem é que vamos contar para garantir a biodiversidade,
se até uma instituição como o Cepram é capaz de mudar o zoneamento de
uma área tão importante como essa, desrespeitando toda pesquisa e laudos
anteriores e, inclusive, a Lei de Zoneamento das APA`s para beneficiar um
grupo econômico (depoimento de biólogo do Grupo Gambá, em Relatório
do Conselho Gestor da APA do Rio Capivara, em 11/09/2004).

Todos se preocupam [...] como foi rezoneada a área de zona de proteção


visual para zona turística residencial em menos de dez dias para beneficiar
o loteamento [...].

A comunidade tem se reunido para discutir extra-oficialmente e até hoje não


teve acesso às informações que requisitou ao Cepram [...], como os estudos
técnicos que fundamentaram o rezoneamento da APA [...]. Todas as
informações solicitadas ao Cepram e à Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) foram ‘ignoradas’ (depoimentos de
membros da ONG Coqueiro Solidário, em Jornal A Tarde, de 27 de abril de
2005) (BAHIA, 2004).

Falta agravante. O rezoneamento da APA foi acatado pelos órgãos estaduais


sem uma discussão aprofundada com a comunidade local, conforme determina a Lei
Federal 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidade de Conservação
(SNUC). No caso, o instrumento legal “audiência pública”, deixou de ser solicitado
pelos órgãos competentes, ainda que, às vezes, a presença da comunidade, seja
usada apenas para legitimar os interesses empresariais.
Mesmo diante de tantas divergências, a questão foi “assentada” quando o
Conselho Gestor da APA, em 2005, se manifestou favoravelmente à implantação do
empreendimento (BAHIA, 2004). Ou seja, atendeu única e exclusivamente aos
interesses do mercado imobiliário. Exemplos dessa postura têm sido verificados na
gestão de áreas públicas estaduais e municipais, mas, na gestão de Unidades de
Conservação, trata-se de um perigoso precedente, aberto pela constante pressão e
pleito dos agentes do mercado econômico, representado, nesse caso, por
empreiteiras e incorporadores imobiliários.
O processo final do licenciamento pleno do loteamento Paradiso Laguna é
recente de 2011. Neste percurso verificaram-se várias irregularidades, contradições,
incoerências e ambiguidades entre leis, decretos, pareceres, resoluções e os
interesses dos diversos participantes deste processo.
129

Por um lado, há o interesse — inclusive arrecadatório de taxas e impostos —


da Prefeitura Municipal de Camaçari na execução do empreendimento. A
Coordenadoria de Uso do Solo da SEPRAN do Município de Camaçari, por exemplo,
afirmou que:

[...] o empreendimento não irá gerar prejuízo para o desenvolvimento


urbano do município, tendo em vista que o novo parcelamento está sendo
projetado à luz de leis ambientais mais rigorosas e por sua vez oferecendo
ao município um padrão urbanístico mais elevado (BAHIA, 2004).

Através de abaixo-assinados, pessoas da comunidade de Arembepe


acreditam no “desenvolvimento” da localidade, por esses empreendimentos
imobiliários, mesmo sabendo das implicações socioambientais resultantes de
experiências anteriores dos condomínios e loteamentos vizinhos.

Achamos que o empreendimento Paradiso Laguna será um avanço para a


nossa região, pois, além de preservar o meio ambiente, promoverá o
desenvolvimento econômico de Arembepe e a valorização de muitas áreas
vizinhas, refletindo na geração de renda através de empregos diretos e
indiretos, aumento na arrecadação de impostos, incentivo ao comércio
local, divulgação das potencialidades turísticas.
Hoje, não podemos mais ficar dizendo não ao desenvolvimento das áreas
valorizadas do nosso município através de ocupações planejadas, pois
justamente isto pode nos trazer grandes avanços sociais e também
promover a preservação da natureza.
[...] quando um projeto apresenta soluções interessantes adequadas ao
meio ambiente e, sobretudo, amparadas pelas Leis, temos a obrigação de
nos manifestar favorável e contribuir para o processo da melhor maneira
possível (Manifestação da comunidade de Arembepe, em 2005).

[...] a posição de algumas Associações/ONG’s, que fazem parte deste


conselho [...] e que nos deixou bastante preocupados, não representa a
posição do conjunto dos moradores da nossa comunidade e sim de uma
pequena parcela desta que por motivação político-partidária vem
distorcendo a verdade dos fatos e dificultando para a população o
entendimento do que verdadeiramente significa o projeto Paradiso Laguna.
[a comunidade] acredita que ele [o loteamento Paradiso Laguna] irá trazer
desenvolvimento para nossa região com a criação de novos empregos e
ações de promoção social e educação ambiental, uma vez que, de forma
equilibrada e consequente, temos nos preparado para com a assessoria
técnica pertinente, acompanharmos o desenvolvimento e a implantação do
projeto, cobrando dos empregadores a coerência e os compromissos
assumidos (Moradores de Arembepe integrantes do Movimento pró de
Arembepe – Modesa, em 2005, ao Conselho Gestor da APA do Rio
Capivara) (BAHIA, 2004, acréscimos nossos).

Ao conjunto de matrizes discursivas relacionadas ao que Rodrigues, Arlete


(1998) denomina de “problemática ambiental urbana” corresponde os diferentes
agentes sociais, como os governos, os diferentes movimentos sociais: ONGʼs e
130

também os ambientalistas, que se expressavam em contraposição a outros


representantes da sociedade. As oposições ao loteamento, expondo a imagem dos
empreendedores que receberam todas as licenças necessárias, inclusive a de
viabilidade ambiental, ainda hoje, têm sido veiculadas na mídia:

O Paradiso Laguna, empreendimento em que três empresários baianos


atraíram mais um endinheirado e majoritário sócio mineiro [...] é um dos
exemplos da desenfreada e desastrosa especulação imobiliária do litoral
[nordeste] da Bahia.
Com todos os danos e irregularidades já anunciadas, esse condomínio
residencial [...] torna-se nefasto aos interesses das comunidades de sua
vizinhança, que teria no turismo sua principal fonte de renda, bem como o
seu patrimônio natural de maior atrativo. É uma questão simples: com a
destruição do meio ambiente diminui-se o turismo e até o extingue,
fragilizando o comércio e, consequentemente, desgastando toda a principal
fonte de renda da comunidade que estará sem o seu patrimônio natural e
ainda mais pobre (MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE, 2012, não paginado).

Em seus discursos, os ambientalistas apresentam uma concepção ideológica


da natureza, tornando-a “estratégica e política” (CARLOS, 1994), por outro lado,
abrem-se perspectivas apropriadas pelas imobiliárias, criando-se a necessidade de
consumo de “espaços verdes”, de vida saudável, sem poluição. Vende-se o verde e
vende-se mais, criando esse tipo de apelo. Essa postura “naturalista” das empresas
é, desde o princípio, uma estratégia de marketing. Um modo de valorizar seu
produto para obter maiores lucros.
O Paradiso Laguna e outros empreendimentos semelhantes no LNE da Bahia
encontram no marketing territorial uma ferramenta sem igual no processo de
divulgação do produto. Observa Harvey (2005) que o marketing tende a destruir as
qualidades exclusivas, pois quanto mais facilmente negociáveis são os terrenos,
menos proporcionam base para a renda monopolista, mas essa não parece ser a
preocupação dos empreendedores desse espaço, pois “[...] o marketing urbano (das
construções e dos terrenos) gera expectativas que influem nos preços” (SANTOS,
M., 2008[1993]: 107).
Comprovando o argumento acima, as empresas imobiliárias exageraram nas
informações do folder informativo do Paradiso Laguna, com o intuito de valorizá-lo,
ao mesmo tempo atraindo a população a que se destina, usando a natureza como
recurso da valorização do espaço: “Venha morar no Laguna. O sol, a alegria e a
tranquilidade esperam por você. Rodeado pela natureza e com uma linda lagoa. É
assim que você vai viver no Laguna, o seu novo residencial no Litoral [Nordeste]”.
131

Em torno do conceito de paisagem foi recorrente a polêmica no processo de


licenciamento ambiental do loteamento, como caminhos para impor uma
mentalidade da “natureza primária” no local. Assim, traz-se à tona o problema,
elucidando-se que, na Geografia, tal conceito visa compreender as relações entre o
homem e o ambiente que eles transformam — a natureza (SALGUEIRO, 2001),
histórica e culturalmente construída (SOUZA, M., 2013a).
Assim, sociedade e natureza estão interrelacionadas formando uma só
“entidade” (BERTRAND, 1972) ou uma “natureza social”, (SEABRA, 2000), numa
mesma porção do espaço geográfico. Somente assim, se entenderá que a produção
do espaço e o desenvolvimento da sociedade em harmonia com a natureza, talvez
não seja um ideal utópico.
Vários empreendimentos similares ao Paradiso Laguna vêm sendo instalados
no LNE baiano nas últimas décadas, consolidando a ocupação na orla marítima da
região. O planejamento municipal, inclusive o Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano (PDDU)86 de Camaçari (Lei Municipal nº 866/2008), visa atrair novos
empreendimentos residenciais de alto padrão para seu litoral; neste sentido, incluiu
como área urbana toda a faixa costeira do município. Também o Governo do estado
da Bahia, ao instituir o Prodetur-BA e NE, favoreceu os investimentos na área.
Embora a questão ambiental tenha se tornado uma preocupação cotidiana
para os diferentes grupos de interesse da sociedade, o que se observa é que a
ocupação urbana de áreas de grande fragilidade ambiental, como a do LNE baiano,
torna difícil a conciliação de sua preservação, frente aos interesses do mercado
imobiliário, principalmente diante do processo de estagnação do maior mercado
regional — a cidade de Salvador —, quando os seus operadores estão em busca de
alternativas consistentes e lucrativas para dar seguimento ao processo de
reprodução ampliado do capital.

86
Instrumento básico da política municipal de desenvolvimento urbano (artigo 182, § 1°, Constituição
Federal de 1988), cabendo ao mesmo cumprir a premissa constitucional da garantia da função social
da cidade e da propriedade urbana. De acordo com os princípios e diretrizes expressos no Estatuto
da Cidade (Lei 10.257/2001), o Plano Diretor é instrumento obrigatório: para municípios com
população acima de 20.000 habitantes; para aqueles situados em regiões metropolitanas ou
aglomerações urbanas; em áreas de interesse turístico; ou sob influência de empreendimentos de
grande impacto ambiental (BRASIL, 2005).
132

5.3 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA NO LITORAL NORDESTE BAIANO PELAS


ESTRATÉGIAS DE MARKETING

Investimentos importantes públicos e privados voltados para o turismo têm


contribuído para alterar significativamente a franja costeira do LNE do estado da
Bahia, nas dimensões econômicas, sociais, culturais e ambientais, gerando um
espaço complexo, fragmentado e socialmente segregado, onde imperam,
simultaneamente, lógicas econômicas de interesses de agentes regionais, nacionais
e globais.
Na região, grandes extensões de terra vêm sendo adquiridas por grupos
privados principalmente estrangeiros para a implantação de grandes
empreendimentos turísticos, hoteleiros e imobiliários: loteamentos para veraneio,
residências secundárias e, sobretudo, condomínios de luxo para a população de
média e alta renda.
De acordo com Gomes Sobrinho (2011), esses investidores, atraídos pelo
baixo preço da terra, adquirem grandes glebas no LNE baiano. Essas terras de uso
rural ainda (a maioria fazendas de coco) ou sem uso definido, são transformadas em
terra urbana com o parcelamento em lotes, os quais são adquiridos por
empreendedores do turismo, comerciantes, firmas imobiliárias e por famílias de
média e alta renda para construir residências de veraneio.
Silva, S.; Carvalho (2010) e Silva, S.; Silva, B.; Carvalho (2008) também
discutem a aquisição de glebas nessa região turística, recreacional, de lazer e de
residências secundárias por estrangeiros, bem como a forma de ocupação contínua
do LNE da Bahia. Em pesquisa realizada, em 2010, sobre anúncios de venda de
grandes terrenos na região em sites de classificados ou sites de grandes corretoras,
Silva, S.; Carvalho (2008) destacam o envolvimento de 155 milhões de m² em
negociação (alguns terrenos com 8, 12 ou 13 km de extensão ao longo da praia),
sendo que a maioria das glebas estão localizadas nos municípios de Camaçari e
Mata de São João, onde o crescimento das atividades turísticas e imobiliária é
maior.
No estudo, Silva, S.; Carvalho (2008) enfatizam o marketing territorial87 como

87
O marketing territorial surge e se desenvolve formalmente no início dos anos 1990, incluindo
características gerais do marketing estratégico aplicado a um determinado produto: a terra, suas
133

uma importante ferramenta para atração de compradores localizados no país e no


exterior. Os autores questionam que tipo de região está sendo produzida por esse
marketing e quais impactos podem ser esperados como resultado das ações
públicas e privadas nos próximos anos, tendo em vista que o Governo do estado da
Bahia estimula a venda de terrenos. De modo que, por meio do marketing territorial,
a região é “vendida” enquanto produto turístico, de forma fragmentada.
Nesse âmbito, há de se considerar que o marketing territorial trata de
construir uma imagem permitindo a manipulação dos valores de consumo dos
indivíduos. Desse ponto de vista (econômico, empresarial e, também, simbólico),
reproduzem-se parcelas do espaço geográfico (SOUZA, M., 2013b), e neste
processo a segregação sócio-espacial se destaca viabilizada pelo modo capitalista
de apropriação da terra.
Segundo Ferrás Sexto, et al (2011), a promoção e o marketing territorial é
uma prática ancestral, transmitida por meio da comunicação, associada e vinculada
a imagens — essenciais para a comunicação e para a compreensão social — e
representações88 sobre os lugares. Segundo Costa (2003), o aparecimento do
marketing ocorreu na Inglaterra em fins do século XVIII, com a Revolução Industrial,
com as invenções e inovações — especialmente no setor da metalurgia —,
progressos técnicos: na agricultura, desenvolvimento dos meios de transporte e
influência no crescimento demográfico. Mas é no século XX, de acordo com Ferrás
Sexto, et al (2011), que o marketing foi estruturado com estratégias de ações
mercadológicas coordenadas e integradas, sendo definida como área de estudos e
de aplicação da Administração, tendo Philip Kotler e Kevin Lane Keller como seus
principais expoentes.
Assim, para Kotler; Keller (2006:2), para que uma empresa alcance um
resultado e obtenha lucro, tem “[...] de colocar as coisas em andamento”, ou seja,

benfeitorias e as amenidades sociais e naturais em uma dada localização.


88
Segundo Moscovici (2009: 40), as interações humanas pressupõem representações sociais
(simbólicas, de algo ou de alguém), que “[...] se tornam capazes de influenciar o comportamento do
indivíduo participante de uma coletividade”. As representações sociais se criam segundo hipóteses
gerais, mas é na hipótese do controle quando “[...] grupos criam representações para filtrar a
informação que provém do meio ambiente e dessa maneira controlam o comportamento individual.
Elas funcionam, pois, como uma espécie de manipulação do pensamento e da estrutura da realidade,
semelhantes àqueles métodos de controle ‘comportamental’ e de propaganda que exercem uma
coerção forçada em todos aqueles a quem eles estão dirigidos” (MOSCOVICI, 2009: 54, grifos
nossos). Desta maneira, as representações sociais podem modelar o comportamento do indivíduo,
segundo estratégias de diferentes agentes/grupos sociais, quando da construção dos lugares.
134

todas as vendas começam com o marketing, um sistema de comunicação comercial.


Da habilidade acurada de quem faz o marketing, muitas vezes depende o sucesso
do empreendimento: finanças, operações, contabilidade e outras funções de
negócios. Como o marketing envolve a identificação e a satisfação das
necessidades humanas e sociais (abrigo, conforto, segurança, privacidade etc.),
suas estratégias aplicadas à habitação vinculam essas necessidades à realização
de um sonho de morar, é exatamente deste sonho que o capital imobiliário se
“alimenta”.
Kotler; Keller (2006) destacam a definição de marketing, segundo a American
Marketing Association:

[...] o marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos


que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os
clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo
que beneficie a organização e seu público interessado (KOTLER; KELLER,
2006: 4).

Desta forma pode-se dizer que o marketing só existe quando há vantagens


para a empresa e para o cliente, embora seus princípios de base focalizem a
satisfação das necessidades dos clientes, o que no fim significa um ótimo negócio
para as empresas. Desta maneira, Kotler; Keller (2006: 4) estabelecem a definição
para marketing como sendo “[...] um processo social pelo qual indivíduos e grupos
obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de
produtos e serviços de valor com outros”.
Com enfoque no marketing territorial, Ferrás Sexto, et al (2001: 68, tradução
nossa), ampliam a definição do marketing reconhecendo que o mercado inclui não
só compradores dos produtos, mas também todos que sejam afetados diretamente
por suas operações: “[...] busca da satisfação das necessidades-demandas dos
residentes, turistas e investidores num território ou entidade administrativa-territorial
produzindo benefícios para a sociedade civil local”89.
De acordo com os autores, os estudos do marketing territorial — como
ferramenta valiosa do planejamento estratégico — devem evidenciar a imagem de
conjunto e características que oferece uma cidade, município, país, região, e,
difundidas através dos meios de comunicação com o objetivo de atrair investimentos
89
“[...] búsqueda de la satisfacción de las necesidades–demandas de los residentes, turistas e
inversionistas de um territorio o entidad administrativo-territorial produciendo beneficios para la
sociedad civil local” (FERRÁS SEXTO, et al, 2001: 68).
135

e clientes. Assim, segundo Serpa (2011: 16), “[...] os lugares estão presentes nos
meios de comunicação e estes também se fazem presentes, de modo material e
concreto, em seus lugares de ocorrência.” Desta relação se produz o espaço urbano
contemporâneo, engendrado pelas táticas, estratégias e discursos de atores que
agem nesse espaço.
De acordo com Ferrás Sexto, et al (2001: 68-69), o conteúdo teórico do
marketing territorial gira em torno de quatro princípios básicos: i) perspectiva para
pensar e planejar o desenvolvimento a partir das expectativas e necessidades de
residentes, turistas e investidores; ii) análise integrada e prospectiva destinada a
atuar; iii) perspectiva de desenvolvimento sustentável que promova a identificação
do território; e iv) prática de promoção territorial destinada à visibilidade e
notoriedade dos lugares. Esse último princípio se aproxima teórica e
metodologicamente dos conceitos de comunicação e publicidade, que através da
propaganda, utiliza o recurso das imagens para valorizar o território e seus produtos,
embutidos aí, a questão da manipulação da informação.
Verifica-se que o marketing territorial busca conduzir o processo de forma a
atrair investimentos e clientes, mas não descaracterizando o território, tentando
manter sua identidade. A estratégia dos vendedores é “vender” a imagem dos locais,
obstante questões fundamentais como os efeitos perversos dos resultados que as
ações desse marketing podem desencadear. Assim, o marketing pode ser entendido
como um conjunto de procedimentos por meio do qual indivíduos ou grupos de
empreendedores, com o recurso da criação, planejamento, administração,
comunicação e oferta do produto, influenciam os desejos e necessidades dos
clientes em potencial.
Na Bahia, o Governo estadual não só apoia iniciativas empresariais, como
tem sido o protagonista na iniciativa de conceber vários planos estratégicos voltados
ao segmento de turismo: em 1970, o Plano de Turismo do Recôncavo, elaborado
pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder); em
1979, o Programa Caminhos da Bahia; posteriormente, o plano Estratégia Turística
da Bahia, ancorado no Prodetur-BA; em 2003, o plano Século XXI — Consolidação
do Turismo; e, atualmente, o Terceiro Salto, uma nova visão de 2010 para o
horizonte de 2016 (BAHIA, 2011).
Foi na fase anterior do turismo na Bahia, denominada Segundo Salto, entre
1970 e 2006, que, propiciada pelo Prodetur-NE e Prodetur-BA, foram criadas as
136

zonas turísticas, dentre elas a Costa dos Coqueiros no LNE do estado. Essa região
vem se afirmando como núcleo estratégico do estado da Bahia não só pelas suas
características geográficas, como materiais e imateriais, sendo adotada pelas
entidades públicas e particulares perspectivas de mercado em relação aos produtos
turísticos/imobiliários, superando fronteiras regionais, nacionais e internacionais.
No setor turístico, o processo de comunicação e o marketing da Bahia fazem
parte do desenvolvimento da estratégia que vem sendo trabalhada pela Setur
principalmente através da Bahiatursa, que atua de forma sincronizada com os
princípios definidos pelo Governo do estado e a Embratur, visando a atração de
turistas para o estado.
As entidades públicas, bem como as particulares através do marketing
territorial promovem a “[...] imagem do território, de modo que esse adquira
características que o tornem distinto dos que com ele directamente competem, na
atractividade junto aos seus públicos alvo e que torne apelativa a sua ‘aquisição’”
(NUNES, 2011: 14). Neste domínio, segundo a autora, o marketing territorial surge
como uma técnica de gestão que compreende: a análise do mercado, a definição de
uma estratégia de mercado e a formatação de uma estratégia de comunicação e de
promoção do produto e da imagem, de forma que transcende ao ato de tornar
público as vantagens ou qualidades do território, visto que segue a análise, a
planificação, a execução e o controle de resultado das medidas implementadas. Tal
gestão, entretanto, segundo a autora, não é fácil de ser alcançada vista a existência
de vários agentes territoriais (pessoas e entidades) que indefinidos quanto a metas
comuns, podem dificultar a estratégia de marketing territorial.
Segundo Dantas (2009), essas informações vêm formar opiniões internas
(escala local) e externas (escala regional, nacional e internacional) conflituosas por
excelência, implicando ganhos e perdas. Assim, enquanto o discurso dos agentes do
desenvolvimento do turismo é formulado para atrair os turistas com representações
que os fazem sonhar com o paraíso90 prometido, os moradores locais
percebem/vivem o espaço litorâneo sem a sua “maquiagem”.
Em razão da demanda turística, de veraneio e lazer em expansão por áreas
costeiras, foi estabelecida para o LNE baiano uma política de exploração fundada

90
Mito moderno originário dos países industrializados se refere às áreas naturais protegidas,
consideradas pelo ecologismo preservacionista como o paraíso, um espaço desabitado, e que a
natureza deve ser conservada virgem e intocada (DIEGUES, 2001).
137

nessas atividades. A esta racionalidade associa-se o mercado imobiliário, que, de


acordo com Ribeiro, Luiz (1997), atuando com estratégias de propaganda
(marketing) e inovações na tecnologia de divulgação do produto a ser
comercializado, releva a localização da mercadoria — habitação, benfeitorias,
amenidades naturais e socialmente produzidas — como fator de diferenciação do
valor de uso, para alcançar os objetivos de lucros estabelecido pelo mercado. Isso
leva a um esforço de marketing pelas empresas imobiliárias, fazendo com que os
agentes imobiliários desenvolvam estratégias de marketing para os lugares e para a
própria mercadoria em si (KOTLER; KELLER, 2006). No primeiro caso, competindo
para atrair turistas e novos moradores, e no segundo, atuando para comprar ou
vender produtos imobiliários como: imóveis residenciais ou comerciais, loteamentos,
lotes, sítios, chácaras, fazendas etc.
Na dinâmica do mercado de imóveis, as empresas imobiliárias entrevistadas
que atuam no LNE baiano têm como alvo não somente clientes brasileiros, mas
também internacionais, principalmente portugueses e espanhóis, muito embora, em
razão da crise econômica internacional iniciada em 2008, cerca de 80% dos clientes
que procuram o LNE da Bahia para comprar imóveis é da Bahia principalmente
oriundos dos municípios de Salvador e de Feira de Santana.
Segundo os corretores entrevistados, das localidades mais procuradas para
compra de imóveis, destaca-se Praia do Forte. Neste sentido, a ação dos agentes
imobiliários para influenciar e/ou contribuir direta e indiretamente para a valorização
dos imóveis é a de gerar produtos de alta qualidade, investir em segurança e
limpeza urbana, implantar “serviços do lado da praia” e buscar manter
condomínios/loteamentos residenciais “sustentáveis”, embora, para muitos, a
postura ambientalista das empresas não passe de mais uma estratégia de
marketing.
Para ampla divulgação midiática dos produtos, com projeção nacional e
internacional, as empresas incorporadoras imobiliárias que atuam no LNE baiano
utilizam vários meios: jornal, rádio, correio eletrônico, telefone, outdoor, revista, mala
direta, internet/rede social, telemarketing, placa e faixa. Trabalham ainda com
promoção de vendas, merchandising, folhetos, folders e prospectos, além de sites
dos empreendimentos, todos muito bem elaborados, com muitas imagens reais e
virtuais, plantas e croquis de localização (Figuras 9 e 10). As peças de mídia
desenvolvidas criam ou ativam “necessidades”, envolvendo questões simbólicas e
138

subjetivas relacionadas ao indivíduo e ao lugar, obtendo muitas vezes a reação


desejada nos possíveis clientes.

Figura 9 – Anúncio de terrenos em “condomínio fechado” de Praia do Forte

Fonte: Prospecto promocional do empreendimento, 2014.


139

Figura 10 – Anúncio de villages em Itacimirim

Fonte: Prospecto promocional do empreendimento, 2014.

Vários empreendimentos e condomínios na região são construídos em


associação com algum aspecto físico ou simbólico da natureza, sendo esses
utilizados no marketing imobiliário para valorizar o espaço, atraindo investidores e
compradores.
Os apelos midiáticos são assim descritos:

Apartamentos com três quartos (duas suítes), duplex com 4 quartos e


diversas opções de lazer. Tudo isso próximo aos encantos de Praia do
Forte e as praias paradisíacas de Guarajuba. Bosque de Guarajuba: a
vida com muito mais qualidade (prospecto de uma empresa imobiliária,
grifos nossos).

Areias de Itacimirim. Existe sim! Pronto para morar. 2 e 3 suítes com 2


amplas vagas cobertas de depósito privativo. Piscina orgânica com borda
infinita e iluminação, espaço gourmet com churrasqueira, deck e redário,
paisagismo com árvores nativas, face nascente, segurança. Você dentro
da praia com estilo (prospecto de uma empresa imobiliária, grifos nossos).

A Reserva Imbassaí é um empreendimento exclusivo e de alto padrão que


agrega tudo o que você precisa para seu lazer e tranquilidade. Sua
estrutura bem planejada contempla 132 hectares de natureza, 1.000m de
140

praia paradisíaca com centenas de coqueiros e mar azul, condomínios


residenciais de luxo, shopping, um sofisticado complexo de hotéis e
excelentes opções de lazer e entretenimento. O acesso é feito pela BA-099,
a famosa Linha Verde [sic], uma das estradas de maior preocupação
ecológica e controle ambiental do país (prospecto de uma empresa
imobiliária e site: http://www.viladoslirios.com.br, grifos nossos).

Venha viver de frente para o mar. 18 exclusivos bangalôs de 2/4 na beira


da praia, no melhor de Itacimirim (prospecto de uma empresa imobiliária,
91
grifos nossos) .

Assim, o marketing imobiliário “descobre o mar” do LNE baiano e influencia a


valorização e negociação dos empreendimentos imobiliários. Segundo Henrique
(2005), a natureza, transformada em mercadoria e apropriada pelos agentes da
dinâmica capitalista torna-se mercadoria intangível, logo, seu preço exprime renda
de monopólio e seu preço relativo é arbitrado segundo a expectativa de lucro do
proprietário da parcela de terreno.
Além da natureza, a “inigualável qualidade de vida urbana” e a infraestrutura
são alguns dos aspectos apresentados pelo marketing territorial, além da segurança,
forte atributo de carga ideológica, exaustivamente explorado pelos promotores
imobiliários e apresentado na propaganda dos empreendimentos:

O Arboris Praças Residenciais chega em Lauro de Freitas como o primeiro


Praças Residenciais da Bahia. Um conceito inovador, feito para famílias que
procuram tranquilidade e qualidade de vida [...]. Lugar ideal para quem
quer estar estrategicamente afastado do centro, mas ao mesmo tempo, com
fácil acesso a Salvador (prospecto de uma empresa imobiliária, grifos
nossos).

Descubra que qualidade de vida é uma simples questão de tempo: tempo


para curtir a natureza, tempo para praticar esportes, tempo para aproveitar
a praia [...] Genipabu Club House. Um projeto completo e único que vai
superar suas expectativas e redefinir seu conceito sobre o que é ter uma
vida repleta de privilégios (prospecto de uma empresa imobiliária, grifos
nossos).

Já imaginou ter uma linda casa de praia sempre que o final de semana
chegar? Pois é isso que o Residencial Dunas de Guarajuba oferece. A
comodidade de estar perto do que você mais precisa: shopping,
supermercados, restaurantes, postos de saúde e combustível, banco,
comércio diversificado, transporte e segurança, tudo isso em Monte
Gordo, pertinho da linda Praia de Guarajuba (site:
http://www.dunasdeguarajuba.com.br, grifos nossos).

Com relação ao atributo segurança, o que se percebe é que as famílias ou


91
Os prospectos deste texto foram divulgados de 2012 a 2015, no período de alta estação (janeiro a
março), na praça de pedágio da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco” — um ponto de parada
obrigatória de visitantes do LNE baiano —, ou no acesso às localidades turísticas de Guarajuba,
Itacimirim e Praia do Forte.
141

indivíduos pertencentes aos grupos de alta renda deixam-se levar pelo “discurso”
das propagandas — que objetivam o máximo de lucro e o sucesso de vendas —
mas o que fica implícito é o desejo latente de autossegregação dessas pessoas.
A ideia de valorização e localização do empreendimento — de importância
vital para o sucesso do negócio imobiliário — são também embutidas nas
propagandas, mantendo uma forte ligação, visto que as melhores localizações são
as mais valorizadas. Com efeito, a própria localização da região do LNE baiano é um
fator decisivo na definição da sua estratégia de afirmação: usufrui da proximidade
urbana das cidades de Lauro de Freitas e Salvador, onde se localiza o aeroporto
internacional, e é servida por uma rodovia estadual — BA-099.
Com base nesses fatores, os agentes imobiliários que operam no LNE baiano
apelam para conceitos inusitados no domínio das representações sociais, que
transformam as praias locais em paraísos turísticos: em Imbassaí, “O Solaris Village
é um empreendimento pronto para você. [...] proporciona uma estrutura de lazer
completa, num lugar paradisíaco de praia, rio e dunas”; em Guarajuba (presente
nos topônimos dos condomínios: Paraíso, Paraíso das Águas, Paraíso dos Lagos,
Paraíso dos Corais); em Praia do Forte, “Villa Verona. Um verdadeiro paraíso para
relaxar e aproveitar o contato com a natureza” ou “Village das Acácias. Tudo que
você precisa para viver em um lugar paradisíaco”; ou até em loteamentos recém
implantados, como o Paradiso Laguna próximo a Arembepe.
As propagandas evocam, também, a tranquilidade e o sossego, a exemplo do
anúncio em uma peça publicitária de vendas de casas em Itacimirim: “Venha viver
com vista para a tranquilidade”. Ou em Praia do Forte “Reserva Timeantube. É um
empreendimento com localização privilegiada [...]. Ideal para você relaxar com a
tranquilidade e a privacidade da Lagoa Timeantube [...]”. Discursos dominantes que
implicam a fragmentação do espaço. Absorvidos por veranistas e turistas, evocam a
distinção dos locais à beira mar afastados de áreas de maior densidade urbana e
onde o ser humano possa reverenciar a natureza e refazer suas energias materiais e
espirituais, o que traduz novas ideologias e tendências globais de apropriação,
ordenação e gestão do território.
De acordo com os corretores de imóveis que atuam no LNE a estratégia para
o sucesso de vendas é que o “cliente paga sempre pelo menor preço”, mas isso é
relativizado em decorrência da diferenciação do produto. E o “cliente paga por essa
diferenciação”, pois, segundo Singer (1982: 23),“[...] os preços no mercado
142

imobiliário tendem a ser determinados pelo que a demanda estiver disposta a


pagar”. É o que Costa (2003) chama de “preço geográfico”, prevalecendo preços
subjetivos, como prestígio e status dos futuros moradores, que no fim é o preço de
monopólio — o maior preço. A comprovação disso é ratificada pela afirmação de um
corretor autônomo entrevistado em 28/03/2013, ao ser perguntado sobre os preços
dos terrenos em Guarajuba: “[...] se o cliente gostar não importa o preço. Aqui a
referência não é mais o m²”. Desta maneira, segundo Fidalgo; Fernandes (2010), a
localização continua a ser fator-chave não só na economia global e nas identidades
territoriais, mas também nas dinâmicas de afirmação coletiva ou individual.
Nesse sentido, segundo Costa (2003), para compor o complexo do marketing
territorial e conhecimento dos consumidores, os agentes imobiliários fazem uma
segmentação do cliente-alvo segundo critérios, altamente segregativos, como:
status, rendimento, raça, expressão social, profissão e ocupação. Dessa forma, o
marketing territorial utilizado pelos agentes imobiliários que atuam no LNE baiano
contribui para produzir um espaço urbano residencial fragmentado, voltado para
grupos sociais distintos. Entretanto, de acordo com Smolka (1979), essa dinâmica
do capital imobiliário sobre a distribuição espacial da população restringe-se, de
modo mais direto, ao segmento de média e alta renda e a imóveis mais
“diferenciados”. Essa “diferenciação” decorre não só do uso do solo em área
costeira, como da alteração de preferências individuais dos consumidores, induzidos
sob o “discurso ideológico” da necessidade de um modo de vida capaz de protegê-
los da violência. Para isso o capital imobiliário cria “ilhas segregadas” no espaço
geográfico incorporando-as à lógica da reprodução capitalista.
É assim que a especulação imobiliária se realimenta, conduzindo, ao mesmo
tempo, à extensão da malha urbana segregando e fragmentando a cidade.
[...] la visión del litoral que se necessita para su gestión es
aquella que permite imaginar los sucesos más probables em el
futuro, sopesando lo que se observa em el presente pero
teniendo em cuenta y adrendiendo del passado.
Juan Manuel Barragán Muñoz (2014: 85)
144

6 O ESPAÇO LITORÂNEO: A GESTÃO INTEGRADA E AS POLÍTICAS


PÚBLICAS NO BRASIL CONVERGINDO PARA PLANOS E PROGRAMAS
COM BASE NO “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”

Nesta parte a área litorânea é destacada por suas características geográficas


próprias e por seu uso e ocupação: assentamentos humanos, infraestrutura de
transportes, serviços e atividades de maior rentabilidade econômica, como
instalações industriais, atividades de lazer, veraneio e turismo, o que vem ensejando
novas concepções de planejamento e de gestão integrada deste espaço pelo
Estado. Através de uma política pública, o processo legitimado da GIAL proposto por
Barragán Muñoz (2014) tem sido difundido em grande parte do mundo em países
desenvolvidos e, no Brasil, a partir da ECO-92, o modelo foi reconhecido e
institucionalizado em planos e programas tendo por base o “desenvolvimento
sustentável”. Esse conceito é questionado no capítulo por suscitar polêmicas no
meio acadêmico e por impor uma nova racionalidade ambiental, principalmente em
áreas de destinação turística, como no LNE baiano. Releva-se, também, na gestão
das áreas litorâneas, a participação da população como cooprodutora, cogestora e
codecisora de políticas públicas.

6.1 ÁREAS LITORÂNEAS: NOVAS CONCEPÇÕES DE PLANEJAMENTO E DE


GESTÃO DESTE ESPAÇO

As áreas litorâneas são diferenciadas, segundo Moraes (2007), por suas


características geográficas próprias quanto aos elementos naturais, a ocupação
humana e o uso do espaço. Barragán Muñoz (2014) também destaca a
diferenciação do espaço litorâneo92 pelas respectivas normas de ocupação e uso do
espaço provenientes do subsistema político-administrativo. Elemento este abstrato
segundo Moraes (2007), mas essencial na delimitação das divisões político-

92
O autor subdivide o espaço litorâneo em: águas oceânicas (ocean waters), águas litorais (coastal
waters), espaço intermareal (intertidal área), borda litorânea (coastline), frente litorânea (oceanfront,
shorelands área), terras e águas litorâneas (coastal uplands), terras e águas continentais (inland).
145

administrativas93.
Como resultado da ocupação histórica da humanidade é nas “frentes” e
“terras litorâneas” em várias partes do mundo, por excelência, que as atividades
humanas se concentram com diferentes usos e ocupações: assentamentos
humanos, infraestrutura de transportes e serviços, que, de acordo com Barragán
Muñoz (2014), em princípio, são submetidos a diferentes controles por parte dos
Governos.
Moraes (2007) assevera que as atividades agropecuárias são cada vez
menos praticadas nessas áreas que, em função do seu valor econômico pela
interface com o mar, ficam disponíveis para usos preferencialmente não
agropecuários, possibilitando o monopólio espacial de certas atividades de maior
rentabilidade econômica do uso da terra: instalações industriais, atividades de lazer,
veraneio e turismo. Tal fato determina um adensamento populacional no litoral —
dois terços da humanidade habita essas áreas (MORAES, 2007) —, conferindo-lhe
um perfil claramente urbano, sendo possível verificar que a maior parte das
metrópoles contemporâneas localiza-se à beira-mar e muitas foram convertidas em
importantes centros de atração turística, como Nova York, Singapura, Istambul,
Dubai, Hong Kong, Barcelona, entre outras. No Brasil, a cidade do Rio de Janeiro é
exemplo de um dos principais destinos turísticos dos estrangeiros que viajam para o
país.
Não é exclusividade das atividades turísticas, mas estas contribuem
sobremaneira para reorganizar as relações sociais onde estão inseridas,
mobilizando o mercado dos negócios turísticos e imobiliários: proprietários de terras,
corretores de imóveis, incorporadores imobiliários e a indústria da construção civil
(MORAES, 2007). Isto contribui cada vez mais para aumentar a concentração da
população que, muitas vezes, no caso dos espaços costeiros, ocupa lugares
inapropriados, degradando os ecossistemas, muitos dos quais extremamente
frágeis, a exemplo das áreas de restinga e manguezais dentre outros. Portanto, a
crescente expansão da ocupação sobre as áreas costeiras e os diversos impactos

93
No Brasil, na porção terrestre destaca-se o município como espaço de planejamento e ação
política, conforme os Planos Estaduais de Gerenciamento Costeiro e na porção marítima pela
extensão do Mar Territorial (12 milhas náuticas ou 22,2 km a partir da linha de base). Em termos
legais, novo espaço de gestão territorial (a Orla Marítima) foi definido no Art. 22 do Decreto no
5.300/2004 como a faixa contida na zona costeira, de largura variável, compreendendo uma porção
marítima e outra terrestre, caracterizada pela interface entre a terra e o mar (BRASIL, 2004).
146

ambientais aí produzidos desperta a necessidade de novas concepções de


planejamento e de gestão desse espaço.
No Brasil, de acordo com Moraes (2007: 27), “[...] o papel do Estado94, e da
regulação estatal, na valoração e valorização95 dos espaços costeiros não pode ser
minimizado [...]”. Por meio da legislação o Estado cria limitações, impedindo ou
induzindo a ocupação e uso do solo e com o recurso do planejamento busca orientar
tendências de ocupação e utilização. Com as ações de gestão, o Governo busca
mediar ou intervir nos conflitos de uso que emergem em razão dos processos de
ocupação e uso. É o Governo que, por meio de suas ações, dota os lugares
litorâneos de qualificações, exempli gratia de obras de engenharia, como estradas,
distritos industriais, infraestrutura de saneamento e outras grandes edificações que
geram impactos ambientais, o que o qualifica como o mais importante agente de
intervenção nesses espaços (MORAES, 2007).
De acordo com Barragán Muñoz (2014), no caso dos denominados
subsistemas litorâneos (físico/natural, socioeconômico e político/administrativo) são
desenvolvidos conteúdos operativos nas tarefas de planificação e “gestão
integrada”. A origem desse modelo de gestão integrada procede dos EUA e da
Europa em fins dos anos 1960 e princípio dos anos 1970, quando ficou evidenciada
no mundo a questão ambiental. Daí surgiu a noção de gestão integrada inspirada
nas diretrizes e recomendações de convenções e tratados internacionais. Assim, em
termos jurídicos, o “Coastal Zone Management Act” de 1972, dos EUA, pode ser
considerado a legislação precursora na matéria. Atualmente, segundo Barragán
Muñoz96 (2014), 99% da costa estadunidense está integrada em um programa de
gestão costeira, do qual a União Europeia e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) são referências, por suas iniciativas nesse
modelo de gestão integrada.
O autor propõe que a GIAL seja considerada como

94
Entende-se aqui por Estado, o conjunto das instituições públicas que formam o sistema político-
administrativo de um país.
95
Moraes (2007: 27) especifica a relação entre valoração e a valorização dos lugares, sendo a
primeira “[...] um ato de atribuição de valor, isto é, de mensuração qualitativa ou quantitativa de um
bem ou conjunto de bens [...]. O preço aparece como uma boa exemplificação do ato de valorar”. Já
valorizar “[...] significa a realização do valor (objetivação) do valor, sua apropriação material”.
96
Juan Manuel Barragán Muñoz é catedrático da Universidade de Cádiz (UCA), na Espanha, e dirige
o grupo Gestão Integrada de Áreas Litorâneas (GIAL).
147

[...] um processo legitimado através de uma política pública, com


fundamentação técnica-científica, porém que tenha em conta os saberes
tradicionais, dirigido à administração de bens comuns e interesses públicos;
que se orienta para a tomada de decisões para obter o maior e mais
equitativo benefício dos serviços dos ecossistemas costeiros marinhos,
pondo especial esmero em conservar o capital natural, o patrimônio cultural,
a paisagem; ao tempo em que encara riscos e ameaças que despontam
97
sobre pessoas, bens ou recursos (BARRAGÁN MUÑOZ, 2014: 170,
tradução nossa).

A GIAL, de acordo com Barragán Muñoz (2014), tem sido difundida em


grande parte do mundo, em países com prosperidade econômica como Canadá,
Austrália, Nova Zelândia, e em países economicamente pobres como Equador,
Tailândia, Filipinas, Colômbia, com a cooperação das agências de desenvolvimento
internacional. Um marco muito importante para a GIAL foi a realização da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92),
no Rio de Janeiro, quando o modelo teve reconhecimento internacional e pôde ser
implantado como programa institucional. A GIAL propõe o reconhecimento e a
institucionalização de uma política pública específica para as áreas costeiras e
marinhas como meio de compatibilizar as atividades humanas com a conservação
do meio ambiente, ou seja, com um “desenvolvimento sustentável”98.
A partir da ECO-92, a busca por uma gestão eficiente de áreas litorâneas
constituiu uma crescente preocupação dos governos dos países com significativa
parcela de atividades econômicas desenvolvidas nessas áreas. De acordo com
Barragán Muñoz (2014), várias iniciativas foram tomadas para encontrar estratégias
de gestão para as áreas litorâneas concentrando esforços dos Governos nacionais e
de instituições internacionais, mas ainda com parcos resultados.
Em escala supranacional, salienta-se que a União Europeia vem tentando
encontrar um modelo próprio que se adapte às diferentes realidades políticas,

97
“[...] un proceso legitimado a través de uma política pública, com fundamentación técnico científica
pero que tiene em cuenta los saberes tradicionales, dirigido a la administración de bienes comunes e
intereses públicos; que se orienta a la toma de decisiones para obtener el mejor y más equitativo
benefício de los servicios de los ecosistemas costero marinos, poniendo especial esmero em
conservar el capital natural, el patrimônio cultural, el paisaje; al tiempo que afronta los riesgos y
amenazas que se ciernen sobre personas, bienes o recursos“ (BARRAGÁN MUÑOZ, 2014: 170).
98
Essa ideia surgiu em 1987 com o relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da ONU
(Relatório Brundtland, publicado em 1987 sob o título Nosso Futuro Comum), ganhando
fortalecimento com a ECO/92. Esta noção significa “[...] obter crescimento econômico necessário,
garantindo a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social para o presente e gerações
futuras”. Para que isso ocorra, seria necessário um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a
preservação do meio ambiente, a justiça social e o uso dos recursos da natureza. Mas como falar de
equilíbrio no contexto de uma sociedade capitalista?
148

econômicas e jurídicas dos Estados membros99. A dificuldade até então é não ter
conseguido compatibilizar os distintos interesses e contribuir para a solução dos
graves problemas dos recursos costeiros europeus. Outras iniciativas recentes como
o Programa de Demonstração sobre Gestão Integrada de Zonas Costeiras (1997-
1999) e o Conselho da Europa (2000) têm demonstrado interesse na melhoria da
gestão das áreas litorâneas (LOUREIRO FILHO, 2014).
No Brasil, as políticas públicas não identificam áreas específicas para sua
ação, contudo “[...] é possível apontar os setores de atuação da administração
federal, segundo a ótica da gestão costeira, identificando políticas de âmbito federal
que possuem maior incidência e/ou prioridade na vida dessa região” (BRASIL, 2005:
6). Contudo, em 1974, o governo federal criou a Comissão Interministerial para os
Recursos do Mar (CIRM), órgão de assessoria da Presidência da República,
presidida e secretariada pelo Ministério da Marinha, que, em 1987, estabeleceu o
Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (Gerco). Um ano depois da criação
do Gerco foi elaborado o seu marco legal mais importante, a Lei 7.661 que instituiu o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), como parte integrante da
Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e da Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), com o escopo de fazer a gestão da zona costeira, assim definida
pela legislação, nos termos do Decreto Federal nº 5.300/04:

Art. 3º. A zona costeira brasileira, considerada patrimônio nacional pela


Constituição de 1988, corresponde ao espaço geográfico de interação do ar,
do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo
uma faixa marítima e uma faixa terrestre, com os seguintes limites:
I - faixa marítima: espaço que se estende por doze milhas náuticas, medido
a partir das linhas de base, compreendendo, dessa forma, a totalidade do
mar territorial;
II - faixa terrestre: espaço compreendido pelos limites dos Municípios que
sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na zona costeira
(BRASIL, 2004, s/n).

O PNGC lançou as diretrizes gerais para a preservação da zona costeira


brasileira. Com base no PNGC vem sendo elaborados outros planos, políticas e
programas de iniciativa federal, estadual ou municipal. Um bom exemplo dessas
iniciativas, segundo Oliveira; Nicolodi (2012), refere-se ao Projeto de Gestão

99
A Carta Europeia do Litoral, aprovada em 1981 pela Conferência das Regiões Marítimas Periféricas
da Europa, foi uma das tentativas mais importantes para salvaguardar e valorizar o litoral europeu.
Mas foi a partir da década de 1990 que foram adotadas medidas de proteção, requalificação e
valorização da faixa costeira, muitas delas inspiradas em políticas da União Europeia.
149

Integrada da Orla Marítima (Projeto Orla), implementado em 2001 por iniciativa do


Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA),
tendo como objetivo otimizar o ordenamento dos espaços litorâneos sob o domínio
da União.
Entretanto, convém salientar que este plano, assim como outros planos,
programas e projetos, seja do Governo federal, estadual ou municipal, todos
convergem para ações de gerenciamento integrado da área costeira do país, com
base no que se convencionou chamar de “desenvolvimento sustentável”.

6.1.1 “Desenvolvimento sustentável” ou “sociedades sustentáveis”?

No meio acadêmico o conceito de “desenvolvimento sustentável” suscita


grandes polêmicas, e muitos estudiosos consideram a ideia da sustentabilidade uma
falácia, uma utopia, vez que, no sistema capitalista, seus princípios são
simplesmente inviáveis em razão de haver mudanças na estrutura de produção e de
consumo das mercadorias, bem como a superação do quadro de degradação
ambiental e da miséria social; pois tudo isso tem por base a geração do lucro no
sistema capitalista, e uma vez que essas condições venham deixar de existir, seria a
capitulação do capitalismo.
As correntes que apontam um “desenvolvimento sustentável”, segundo
Souza, M. (1997), não indicam soluções consistentes, vez que, se por um lado
acentuam o risco da degradação do meio ambiente, por outro subestimam o papel
do espaço propriamente social. Neste sentido, Barragán Muñoz (2014) também
compreende a dificuldade em aplicar, na íntegra, o conceito de “desenvolvimento
sustentável” em áreas litorâneas, interpretado, sobremaneira, como administração
de bens e serviços, pouco se destacando a ideia de que se trata de administrar
atividades humanas, de governar pessoas, comunidades ou grupos sociais.
Segundo Gomes Sobrinho (1998) a problemática ambiental impõe hoje uma
nova racionalidade. Coloca-se em cena novos agentes sociais (empresários, ONGʼs,
ambientalistas), implicando novas formas de apropriação, controle, ordenamento e
gestão do espaço, principalmente em áreas de destinação turística, como no LNE da
Bahia.
150

Assim o “desenvolvimento sustentável” apontado como solução para a


degradação ambiental provocada principalmente pela população pobre, relega a
questão da redistribuição de riqueza e renda e “[...] encerra um conjunto de medidas
meramente paliativas para os grandes problemas que cercam a questão ambiental,
onde o “sustentável” se apresenta como o “suportável” (BORELLI, 2007: 9).
Observa-se, também, o desgaste do termo na retórica de documentos oficiais,
nos discursos políticos e por parte do movimento ambientalista, bem como a perda
da sua operacionalidade.
Acredita-se, porém, na “sustentabilidade” ou “uso sustentável” das sociedades
ou em “sociedades sustentáveis”, termo proposto por Diegues (2001) em
contraposição ao de “desenvolvimento sustentável”, tendo como prioridade a
qualidade de vida. O autor considera o termo mais adequado na medida em que
essas sociedades definem o seu padrão de produção e consumo, bem como seu
bem-estar no contexto cultural, de desenvolvimento histórico e de seu ambiente
natural. Nesse sentido, critica-se a ideia de sustentabilidade que é defendida por
muitos empreendedores quando da implantação de loteamentos e condomínios
fechados na orla marítima do LNE baiano, porque são causadores de significativa
degradação ao meio ambiente, a exemplo do loteamento Paradiso Laguna e outros
similares que vêm sendo instalados na região.

6.1.2 Uma sociedade cooprodutora, cogestora e codecisora de políticas


públicas

O conhecimento do complexo sistema litorâneo, sua dinâmica,


interdependência, interação e problemas, de forma integrada, deveria se revelar,
assim, como um meio para melhor planejá-lo, geri-lo com as atividades humanas. A
importância da ocupação e uso da terra nestas áreas, riscos para a população
diante de eventos naturais, impactos das atividades humanas sobre os
ecossistemas costeiros, instalação de empreendimentos imobiliários, turismo ou
situações de pobreza e exclusão social — na planificação e gestão das áreas
litorâneas — são preocupantes e mais merecedores de atenção dos poderes
públicos, em planos e programas.
151

Para tal, relevam-se os diálogos entre o poder público, os agentes privados e


a sociedade civil organizada ou mesmo cada cidadão no sentido de constituir uma
sociedade consciente “[...] como cooprodutora, cogestora e codecisora de políticas
públicas” (BARRAGÁN MUÑOZ, 2014: 103) visando a real gestão ambiental das
áreas litorâneas. Um planejamento ambiental consistente, seguido da execução de
políticas públicas efetivas, necessita da participação de comunidades que conheçam
e compreendam bem os condicionantes ambientais, sociais, culturais e econômicos
dos lugares.
Nesse sentido, para Subirats, et al (2008), as políticas públicas se configuram
como

[...] uma série de decisões ou de ações, intencionalmente coerentes,


tomadas por diferentes atores, públicos e às vezes não públicos — cujos
recursos, nexos institucionais e interesses variam — a fim de resolver de
100
maneira pontual um problema politicamente definido como coletivo
(SUBIRATS et al, 2008: 36, tradução nossa).

A definição acima se adéqua às áreas litorâneas, para as quais, segundo


Barragán Muñoz (2014), convergem várias atividades, muitas vezes legitimada pelo
Estado, quando intervém ou arbitra os conflitos frente à questão ambiental e à
aplicação de políticas públicas. Isto foi verificado no processo de implantação do
loteamento Paradiso Laguna, no litoral de Camaçari-BA, quando os
empreendedores, de acordo com os órgãos estaduais, conseguiram rezonear uma
APA, não obstante a desaceitação da comunidade de Arembepe que sequer foi
ouvida em “audiência pública” conforme determina a Lei Federal 9.985/2000.
Segundo Braga (2001: 95), sendo a urbanização “[...] um dos processos mais
impactantes no meio ambiente [...]”, é de competência municipal101 a ordenação (ou
microzoneamento) do processo de ocupação e uso do solo urbano (cidades, vilas e
povoados), embora, do ponto de vista técnico e institucional, a maioria dos
municípios brasileiros não demonstre estar pronto para atender esta demanda.

100
“[...] una serie de decisiones o de acciones, intencionadamente coherentes, tomadas por diferentes
actores, públicos y a veces no públicos — cuyos recursos, nexos institucionales e intereses varian —
a fin de resolver de manera puntual um problema políticamente definido como colectivo” (SUBIRATS
et al, 2008: 36).
101
O município emerge como instrumento chave na proteção de áreas costeiras urbanas, pois pode
legislar sobre os assuntos de interesse local, desde que observados os princípios estabelecidos pela
Constituição e normas federais, planos nacionais e estaduais de gerenciamento costeiro e de uso e
ocupação de solo urbano.
152

Deve-se reconhecer que uma boa parte desses municípios não está preparada para
as responsabilidades da descentralização política-administrativa, a partir da
promulgação da Constituição de 1988, quando foi atribuído aos municípios diversas
responsabilidades e competências, o que implica dizer: “[...] vivemos num país onde
é mais fácil falar da descentralização do que operá-la” (MORAES, 2007: 121).
Desta maneira, segundo Braga (2001), é muito pequena a quantidade de
municípios que possui o PDDU102, mesmo considerando a obrigatoriedade
constitucional para cidades com população superior a 20.000 habitantes, integrantes
de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, de áreas de especial interesse
turístico, caso de quase a totalidade dos municípios litorâneos; e cidades inseridas
nas áreas de influência de empreendimentos e atividades com impacto ambiental de
âmbito regional ou nacional.
De acordo com Braga (2001), dos PDDUʼs existentes, alguns incluem
diretrizes gerais sobre o desenvolvimento econômico e social dos municípios, pouco
acrescentando ao que já existe nas Leis Orgânicas Municipais, mas de pouca
aplicação efetiva. A mesma consideração pode ser feita após análise pontual do
PDDU de Camaçari e de Mata de São João, no LNE da Bahia (CAMAÇARI (Bahia),
2006; MATA DE SÃO JOÃO (Bahia), 2008) e respectivas Leis Orgânicas
(CAMAÇARI (Bahia), 2008; MATA DE SÃO JOÃO (Bahia), 2005). Assim, costuma-
se dizer, de acordo com Braga (2001: 99) que no Brasil “[...] há leis que pegam e leis
que não pegam e o Plano Diretor tem se encaixado frequentemente no segundo
tipo.”
Elemento intrínseco ao PDDU, o zoneamento urbano deveria servir como
instrumento de solução de conflitos de uso e ocupação do solo, na disputa entre o
interesse público e o privado pelo espaço. Entretanto, segundo Braga (2001), o
PDDU é criticado tanto por sua eventual ineficácia quanto por seus efeitos
negativos, com destaque para a especulação imobiliária cuja formação dos preços
dos produtos imobiliários não tem como ser controlada, e, com isso a segregação
sócio-espacial-residencial aparece.
As causas subjacentes do estado atual das áreas costeiras são complexas e

102
Instrumento público definidor das diretrizes de planejamento e gestão territorial urbana, previsto no
Art. 182, § 1°, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). O Plano Diretor, consagrado pelo
Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001, Art. 4º III) tem como conteúdo básico o controle do uso,
ocupação, parcelamento e expansão do solo urbano, além de outros como saneamento,
infraestrutura, habitação, sistema viário e transportes urbanos.
153

muitas vezes incompreendidas pelos “fazedores” de planos e projetos, e tomadores


de decisão. Para a compreensão da dinâmica sócio-espacial do espaço costeiro é
fundamental que o planejamento e a gestão dessas áreas envolvam a comunidade
local e que não seja pro-forma.
Para Loureiro Filho (2014), a necessidade de assegurar um processo de
gerenciamento integrado, voltado especialmente para o combate à urbanização não
autorizada das áreas costeiras, consiste na participação efetiva da sociedade em
audiências e consultas públicas de maneira autônoma. Segundo o autor, seria o
caso de uma

[...] mudança de paradigma no direito administrativo contemporâneo, até


então centrado na unilateralidade do ato administrativo em sua visão
tradicional, para a atuação da administração via processo/consenso e,
portanto, participação social (LOUREIRO FILHO, 2014: 120).

Porém o que parece preocupante é a necessidade de transpor delimitações


políticas e inserir a comunidade como agente e beneficiária dessas políticas públicas
que não existem na realidade, pois só aparecem em metas e leis que não
funcionam, porque a participação da sociedade é apenas formal, para cumprir a
legislação.
Esta foi a situação vivenciada pela comunidade de Arembepe durante o
processo de implantação do loteamento Paradiso Laguna. Preocupada com os
impactos ambientais provenientes da implantação de loteamentos na orla marítima
do município de Camaçari-BA, a comunidade local tomou atitudes coletivas segundo
suas necessidades para a construção desse espaço, mas não foi consultada nem
participou do processo. Se assim fosse, acreditar-se-ia que os benefícios da gestão
pudessem, de fato, privilegiar a sociedade. Porém, o país está muito distante de
chegar a bom termo na gestão da costa brasileira.
[...] estar diante de imagens poéticas quase a todo instante,
diante de imagens trans-objetivas, de imagens com o poder de
atrair distintas subjetividades, de seduzir e de fazer sonhar o
rico e o pobre, e os habitantes locais e os forasteiros [...].

André Nunes de Sousa (2011: 33-34)


155

7 O ESPAÇO LITORÂNEO: MERCADORIA “ENOBRECIDA”

Nesta parte, o espaço litorâneo é considerado uma mercadoria “enobrecida”


devido ao interesse ancestral dos humanos em morar preferencialmente na orla
marítima. Contemporaneamente, esta maritimidade denota um verdadeiro fenômeno
da sociedade brasileira, incluindo não só usuários, como políticas públicas e o
mercado imobiliário que pelas ações constantes têm ressignificado esse espaço. No
LNE baiano a ação dos agentes imobiliários projetou uma lógica de ocupação
residencial distinta nos dois lados da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, com
diferentes grupos de pessoas e grande distância social entre famílias e indivíduos.
Neste capítulo, procura-se também compreender o desenvolvimento do mercado
imobiliário formal de terras urbanas, no LNE da Bahia, com base em pesquisa dos
classificados no jornal A Tarde, nos anos de 1970, 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012.
Os dados demonstram disparidades do preço médio de terrenos nas localidades ao
longo da rodovia, indicando grandes diferenças sócio-espaciais e do uso do solo na
orla marítima em relação as localidades do lado oposto à praia.

7.1 O INTERESSE PELO ESPAÇO LITORÂNEO E O DESENVOLVIMENTO DO


MERCADO IMOBILIÁRIO FORMAL DE TERRAS NO LITORAL NORDESTE
BAIANO

O interesse dos humanos pelos espaços litorâneos é ancestral. Nos trópicos


brasileiros, de acordo com Dantas (2009), as cidades litorâneas foram
transformadas em marítimas em meados do século XX e início do século XXI,
quando grupos mais abastados da sociedade brasileira deixaram o hábito de
veranear na orla marítima das cidades, incorporando as áreas de praia como lugar
de moradia.
Salvador é, de acordo com Santos, M. (2008 [1959]: 35-36) “[...] uma cidade
peninsular, uma cidade de praia, uma cidade que avança para o mar”. Essa
maritimidade — relação da sociedade em relação ao mar e ao marítimo — toma
corpo, denotando um verdadeiro fenômeno contemporâneo da sociedade brasileira,
que inclui não só os usuários, mas, sobretudo, as políticas públicas e o mercado
imobiliário que assimilaram a ressignificação do mar e do marítimo (DANTAS, 2009).
156

Pereira (2012), ao estudar as contribuições da vilegiatura marítima103 à


metropolização no nordeste do Brasil, destacou seu potencial metropolizador,
periurbanizador contribuindo para o processo de implosão-explosão da cidade,
propiciando a produção/reprodução do espaço (urbano) para o lazer. Ou seja,
Pereira (2012: 78) considera a expansão da vilegiatura marítima, como posterior ao
turismo, e sua extensão litorânea “[...] como fenômenos que ultrapassam a
dimensão da cidade e assumem uma feição metropolitana”. Desta forma, o espaço
urbano nas áreas costeiras, assume representações morfológicas, econômico-
fundiárias e sociais distintas: baixa densidade de ocupação do espaço; elevação
relativa do preço da terra e tendência à homogeneização social dos usuários, em
parcelas da cidade (PEREIRA, 2012).
De acordo com o autor, o veraneio marítimo deixa de ser essencialmente
elitizado na medida em que famílias abastadas, que construíram suas residências
secundárias104 em locais praianos distantes são seguidas (efeito “manada”) por
estratos médios da população, cuja prática aumenta cada vez mais.
Da contribuição de Pereira (2012) é possível constatar que o “simples” desejo
social de residir à beira-mar tem produzido a complexidade dos desdobramentos
urbanos. Em Pereira (2012) e em Dantas (2009) verifica-se a lógica de ocupação do
litoral nordestino com foco na maritimidade. No LNE da Bahia, a ação dos agentes
imobiliários — conhecedores, com bastante antecedência, de áreas de interesse das
camadas da população de renda alta — determinou a lógica de ocupação
diferenciada105 desse espaço, provocando a expulsão de antigos moradores das
áreas de praia, que, como estratégia de sobrevivência, passaram a se concentrar
nas localidades a oeste da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, espaço residual,
periférico à Orla Atlântica. É na parte da orla onde se localizam loteamentos e
condomínios fechados de luxo, resorts e hotéis. Nesse caso, a segregação urbana
acontece no LNE, pois há uma enorme distância social entre as famílias ou
indivíduos, exteriorizada no espaço.

103
Temporada que se passa na praia, fora das grandes cidades, mais frequentemente no verão. No
Brasil, por esse motivo, o termo veraneio é mais usual, assim como na região do Litoral Nordeste da
Bahia, razão pela qual o adotamos no presente texto.
104
Termo adotado neste texto.
105
Neste texto, a expressão é utilizada com relação à ocupação residencial e grande distância social
— em termos de renda — entre os distintos grupos de pessoas na região do LNE baiano.
157

Uma possível manifestação desse fato pode ser revelada com base em
pesquisa dos classificados de venda de terrenos — Jornal A Tarde — nas
localidades escolhidas para o estudo, nos anos de 1970, 1980, 1990, 2000, 2010 e
2012, sendo encontrados 828 anúncios de terrenos naqueles anos (Apêndice B a
M). Através desses dados se pretende compreender o desenvolvimento do mercado
imobiliário formal de terras urbanas, no LNE da Bahia.
Nas localidades de Areias, Malhadas, Açú da Torre, Barra do Pojuca, situadas
a oeste da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, o número de oferta de terrenos é
bem menor, destacando-se a vila de Monte Gordo, com 8%, enquanto nas
localidades situadas na Orla Atlântica a oferta é bem maior, com destaque para o
povoado de Jauá, com 19%. Neste caso, a exceção vai para a localidade de Praia
do Forte onde apenas foram colocados à venda seis terrenos (1%), durante os
citados anos (Figura 11). Mas é nela onde há a maior procura de imóveis, afirmam J.
C. S. (37 anos) e demais corretores entrevistados que atuam naquelas áreas. Isso
implica a produção da escassez planejada das mercadorias pelos agentes
imobiliários.

Figura 11 – Percentual de ofertas de terrenos nas localidades estudadas


no LNE baiano – 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012

Açú da Torre Praia do


2% Forte Areias
Barra do 1%
Pojuca 0%
Malhadas
5% 0%
Barra do
Jacuípe
7% Jauá
19%
Monte Gordo
8%

Guarajuba Itacimirim
11% 16%

Abrantes Arembepe
15% 16%

Fonte: Classificados de terrenos do Jornal A Tarde, nos anos de 1980, 1990,


2000, 2010 e 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2014.
158

Segundo o referido corretor, a maior produção de imóveis da região está em


Itacimirim, localidade que, assim como Guarajuba, concentra muitas residências
secundárias, apesar de não possuir a infraestrutura existente nesta última, quanto a
hotéis, pousadas, restaurantes, mercados, arruamentos etc.
Quanto ao valor (US$/m²), os dados demonstram a disparidade do preço
médio de terrenos nas localidades ao longo da rodovia BA-099, trecho “Estrada do
Coco”, leste-oeste (Figura 12). Enquanto entre Abrantes, Jauá, Arembepe, Barra do
Jacuípe, Guarajuba, Itacimirim e Praia do Forte, todas a leste da estrada, o preço
médio dos terrenos chega a atingir US$ 175,22/m², nas localidades de Areias, Monte
Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas, a oeste, o preço médio dos
terrenos não ultrapassava US$ 37,66/m², demonstrando a clara diferença para
menor, dos imóveis da área do lado oposto à praia.
Devido à localização diferencial (Orla Atlântica) de certas localidades,
associada à condição de monopólio da propriedade da terra urbana entre poucos
proprietários, há uma hipervalorização dos preços dos terrenos, com o máximo
proveito do capital imobiliário, ao venderem os imóveis (SINGER, 1982). A
localização se apresenta, assim, como um valor de uso da terra, o qual, no mercado
imobiliário, se traduz em preço da terra (valor de troca).
Para autores marxistas, como Topalov (1979), Smolka (1979), Harvey (1980
[1973]) se não existe uma lei de oferta de terrenos que possa explicar o preço da
terra, este é determinado pela escolha individual da localização pelos consumidores,
segregando assim o espaço urbano. De acordo com os autores, acredita-se que a
“liberdade” do consumidor é parametrizada pela renda e não por sua “livre escolha”
para morar.
No LNE o preço médio do m² de terra varia de R$ 1.000,00 (em área próxima
à praia) a R$ 100,00 (em área afastada da costa), gerando o status dos moradores:
ricos ocupando áreas mais “privilegiadas” em termos de localização em relação às
amenidades naturais e as socialmente construídas, e pobres ocupando áreas
“periféricas” mais baratas. É uma ação lógica do mercado imobiliário e dos grupos
monopolistas que gera a fragmentação do espaço.
Nas últimas duas décadas observa-se uma tendência de elevação dos preços
de terrenos, sobretudo em 2010 (Figura 12), como possível resposta da expansão
econômica do país possibilitando uma maior oferta do crédito e da renda, associado
à melhoria da infraestrutura: muitos investidores, muitos lançamentos imobiliários;
159

melhor acessibilidade (rodovia BA-099 e acessos às localidades); segurança jurídica


dos empreendedores e tendência à migração da população rica por conta da
dificuldade de residir em Salvador106
Segundo Smolka (1979) é o Governo que favorece o crescimento e a
concentração da indústria imobiliária e consequente oligopolização desses bens por
parte dos operadores do mercado que, enquanto não saturar e a acessibilidade e a
infraestrutura não se deteriorar, mantêm alto o preço dos imóveis. As ações dos
incorporadores imobiliários, ofertando produtos de alto padrão (casas, loteamentos e
condomínios de luxo), investimento em segurança particular, infraestrutura e limpeza
urbana influenciam e/ou contribuem direta e indiretamente para a valorização dos
imóveis em áreas adjacentes à rodovia.
Assim, entre 2010 e 2012, notou-se a aceleração dos preços dos terrenos em
Abrantes, Jauá, Arembepe, Barra do Jacuípe, Guarajuba, Itacimirim, Monte Gordo e
Barra do Pojuca e retração dos preços dos terrenos em Praia do Forte sem uma
explicação aparente (Figura 12), onde apesar de ter o m² de terra mais caro do LNE,
já se aponta uma escassez de oferta de terrenos livres. No caso de Areias, Açú da
Torre e Malhadas não houve oferta de terrenos no ano de 2012 e nem na época de
coleta dos dados. Supõe-se que os proprietários de terras em volta destas
localidades não quiseram mais disponibilizar terrenos para demandas de baixos
rendimentos, esperando maior valorização.
De forma geral verifica-se forte aceleração do preço médio dos terrenos na
região. Tomando-se como parâmetro as localidades de Abrantes, Arembepe, Barra
do Jacuípe, Guarajuba, Itacimirim, Jauá e Monte Gordo que totalizando 58,33%
destas, apresentaram, respectivamente, os seguintes valores: em 1980 (0,11; 4,99;
2,55; 4,79; 2,99; 6,65 e 1,94 US$/m²) e em 2012 (82,91; 49,46; 62,60; 175,22; 72,79;
37,85 e 15,54 US$/m²), com destaque para Guarajuba, localidade que comprova,
hoje, ser a segunda do LNE da Bahia a ter o m² de terra mais caro (Apêndice B a
M).
Quanto à área dos terrenos ofertados nos anúncios, a totalidade nas
localidades somou 15.190.099 m², sendo que as maiores áreas foram ofertadas nos
anos de: 1980, em Abrantes (1.742.400 m²) e, 1990, em Arembepe (1.372.140 m²) e

106
Segundo entrevistas realizadas, em 2013, com corretores que atuam no LNE baiano.
160

Figura 12  Preço médio de terrenos (em US$/m²) nas localidades estudadas no LNE
baiano - 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012
161

Barra do Jacuípe (1.150.000 m²), indicando que áreas rurais, provavelmente


fazendas, com o cultivo do coco-da-baía, seriam ocupadas por grandes
investimentos implantados por grupos privados estrangeiros, principalmente
portugueses e espanhóis, que adquiriram grandes extensões de terra, atraídos pelo
preço baixo. “A economia brasileira dorme em ‘berço esplêndido’. No Brasil, os
imóveis são muito baratos” (palavras do corretor F. A. H. C., 40 anos, em entrevista,
em 07/12/2013).
Hoje a metragem de terrenos à venda nas localidades do LNE baiano é
pequena, e esses terrenos são concentrados nas mãos de particulares (Apêndice B
a M). “A oferta está reprimida, já não existem maiores terrenos à venda em Praia do
Forte, Guarajuba” (corretor J. M., em entrevista do dia 29/03/2013) e em muitos
casos é mais barato comprar uma casa e destruir do que comprar um lote de terra
“nua”. A demolição de habitações para criar mais valor de monopólio foi observada
por Davis (1993: 209, 219) ao analisar o processo contemporâneo de urbanização
na cidade de Los Angeles, onde proprietários abastados demolem “[...] casas de 3
milhões de dólares para a construção de mansões de 30 milhões [...]”. De acordo
com Davis (1993), Villaça (1998: 79) afirma que “[...] o incorporador libera o preço do
terreno ao demolir a casa”, entretanto, essa per si não é condição suficiente para a
atualização do seu preço, pois somente “[...] quando estiverem com o uso certo no
momento certo, estarão com seu valor plenamente realizado”. Em que pese a
concentração da terra com grandes proprietários fundiários no LNE da Bahia
(empresas como Goes Cohabita, Odebrecht, Barreto de Araújo), ainda são
encontrados, de acordo com Silva, S.; Carvalho (2010), terrenos à venda com áreas
de até milhões de m², principalmente em Camaçari e Mata de São João, municípios
turísticos onde são construídos empreendimentos hoteleiros e condomínios de
residências secundárias voltados para o mercado nacional e internacional.
O mapa da figura 13 mostra o tamanho das áreas totais dos terrenos à venda
nas localidades, nos anos em que a pesquisa foi efetuada. Nele, indica-se uma
localização mais precisa desses terrenos, com suas correspondentes áreas. Mais
ainda, distinguem-se as localidades de: Abrantes, Arembepe, Barra do Jacuípe;
Jauá, Areias, Barra do Pojuca, Açú da Torre, Malhadas, respectivamente com as
maiores áreas (30.000 a 50.000 m²) e menores áreas (1.000 a 10.000 m²) dos
terrenos à venda.
162

Figura 13 – Área dos terrenos à venda nas localidades estudadas no LNE baiana – 1980,1990, 2000, 2010 e 2012
163

A tabela 12 especifica a área média, em m², de terrenos à venda, segundo as


localidades e anos escolhidos para o estudo. Observa-se que as localidades de
Abrantes, Arembepe, Barra do Jacuípe detêm as maiores áreas médias de terrenos
ofertados, que se concentram, principalmente, nos anos de 1980 e 1990.

Tabela 12  Área média (m²) de terrenos à venda nas localidades estudadas no LNE
baiano – 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012
Anos
Localidades
1980 1990 2000 2010 2012
Abrantes 37.034 179.520 14.863 15.477 3.166
Açú da Torre 5.000 5.198 10.437 13.600 -
Areias 1.000 - 1.000 4.000 -
Arembepe 60.650 47.425 30.094 23.599 749
Barra do Pojuca - 1.000 29.295 1.168 2.776
Barra do Jacuípe 1.337 146.691 3.299 3.919 1.075
Guarajuba 48.575 9.021 1.162 851 1.746
Itacimirim 14.720 2.821 36.234 2.555 4.303
Jauá 14.720 1.414 1.051 1.460 3.737
Malhadas - - - 1.028 -
Monte Gordo 16.403 4.760 27.633 44.800 6.117
Praia do Forte 4.478 41.238 3.051 1.679 22.908
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 1970, 1980, 1990, 2000, 2010 e 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2012 e 2013.
Nota: No ano de 1970 não houve registro de terrenos à venda nas localidades estudadas.

Outras localidades como Areias, Jauá e Malhadas apresentam menores áreas


médias, sendo que nesta última só foi registrado anúncio de venda de terreno em
2010107. De forma geral se verifica o decréscimo das áreas de terrenos ofertados de
1980 a 2012, nas localidades. Especificamente em Guarajuba, no ano de 1980, foi
ofertado uma média de 48.575 m² de área de terrenos, decrescendo muito em 2010
e 2012, fato explicado por não haver mais grandes glebas à venda. Atualmente na
localidade só se verificam revendas de pequenas áreas de terreno, entre 400 a 600
m², e semelhante situação é encontrada em Praia do Forte que pela maior
valorização imobiliária apresentou alta de anúncios ofertados de terrenos com uma
área média de 41.238 m² em 1990, embora decrescendo em 2012 para 22.908 m².
Conclui-se que o mercado imobiliário é o regulador dos preços e da oferta de
terras no LNE da Bahia. Por sua ação de controle constitui-se em um forte elemento
produtor de uma estrutura urbana altamente fragmentada e socialmente segregada.
Diferentes grupos de renda ocupam diferentes posições no espaço, condição

107
O fato de não aparecerem anúncios em jornais de grande vinculação sobre oferta de terrenos, não
quer dizer que não houvesse negociação, pelo menos diretamente entre os interessados.
164

fundamental na economia capitalista (HARVEY, 1980 [1973]).


Nas localidades praianas de Guarajuba, Itacimirim e Praia do Forte,
concentram-se os condomínios de luxo com residências unifamiliares de moradores
de grupos sociais de renda mais elevada e os megaempreendimentos hoteleiros
(resorts e hotéis). Distante da faixa costeira reside uma população
predominantemente de pobres.
A capacidade de utilizar o território não apenas divide, como
separa os homens, ainda que eles apareçam como se
estivessem juntos.

Milton Santos (1993 [1987]: 59)


166

8 ELEMENTOS DA URBANIZAÇÃO EM LOCALIDADES DO ENTORNO DA


RODOVIA BA-099 – “ESTRADA DO COCO”

Nesta parte são analisados os elementos da urbanização, assim como a


distribuição da população, as características de ocupação do solo urbano, a
configuração urbana e a infraestrutura básica como materialidade de um espaço
urbano desigual no entorno da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”. Averiguou-se,
também, o papel das localidades em estudo e sua interação espacial. Foi verificada
a indissociabilidade da organização desse espaço geográfico quanto à morfologia,
ocupação e segregação sócio-espacial e como elementos de distinção social os
empreendimentos hoteleiros e condomínios fechados. Concluiu-se que as
residências secundárias, indutoras de urbanização na região, são determinantes da
fragmentação e segregação sócio-espacial.

8.1 CARACTERÍSTICAS DA OCUPAÇÃO DO SOLO NAS LOCALIDADES DO


ENTORNO DA RODOVIA

Localidades, como Abrantes, Areias, Jauá, Arembepe, Monte Gordo, Barra do


Pojuca e Praia do Forte, são originárias de antigas comunidades de pescadores, que
viviam da pesca no mar, nas lagoas e rios, bem como de atividades extrativas, da
pequena agricultura e do artesanato. Em quase todas as localidades a terra era
ocupada com cultivo extensivo de coco em grandes fazendas.
A vila de Monte Gordo formava um conjunto de pequenos assentamentos,
cujos moradores tinham em Guarajuba o seu porto de pesca (BRANDÃO, 2006),
onde existiam “casas de pano de vela” dos pescadores. Monte Gordo, assim como
outros povoados localizados no lado da rodovia oposto ao mar, a exemplo de Areias,
Barra do Pojuca e Açú da Torre, serviam como ponto de parada, passagem de gado
ou conexão de caminhos de tropeiros. Ao longo do tempo os comerciantes foram
estabelecendo hospedarias e pequeno comércio. Ao longo da costa, o transporte de
pessoas e de mercadoria era feito principalmente por embarcações (saveiros),
interligando a cidade do Salvador às localidades costeiras.
167

A organização sócio-espacial e econômica da região pouco se alterou até


meados do século XX, quando aos poucos a atividade turística foi instalada em
Praia do Forte. Até então, segundo Santos, T. (2006), era praticado na localidade
um turismo rústico por grupos sociais de alta renda provenientes da cidade do
Salvador, atraídos pelas belezas naturais do local, apesar do difícil acesso. Igual
situação apresentava Guarajuba, que, por volta de 1970, já cumpria a função de
local de veraneio para as famílias ricas oriundas de Salvador.
A partir da abertura da rodovia BA-099  “Estrada do Coco” pelo Governo do
estado da Bahia, que favoreceu a acessibilidade à região, paulatinamente, mas de
maneira consistente, foram sendo feitos outros investimentos particulares, sobretudo
em loteamentos residenciais com o fim de veraneio, lazer e turismo. Assim, ao longo
do tempo, foram sendo atraídas cumulativamente novas atividades econômicas e
infraestrutura, que também implicou a atração de pessoas tanto da área rural, como
de outras cidades e vilas vizinhas, para as localidades do LNE baiano.
Os moradores antigos são desviados de suas antigas formas de trabalho,
voltando-se à prestação de serviços turísticos que vão surgindo, principalmente com
a multiplicação das residências secundárias e dos estabelecimentos hoteleiros.
Grande parte da população local foi forçada a se adaptar às novas circunstâncias
impostas pela crescente demanda turística, nos bares, restaurantes, hotéis e
pousadas, seja através do pequeno comércio, na construção civil ou na condição de
assalariados diretos dos novos habitantes, como jardineiros, caseiros e empregados
domésticos.
Como resultado dos investimentos sistemáticos no setor turístico no LNE
baiano, após 1980, se consolidou um processo de modificações quanto aos padrões
de uso do solo e de residências na região, gerando áreas urbanas distintas
social/espacialmente. Para possibilitar uma visão de conjunto da urbanização em
curso no LNE baiano, estabeleceu-se uma análise qualitativa das formas de
ocupação e utilização do espaço pela população residente e pelas atividades
comerciais nas localidades em estudo, com base nas características de ocupação
do solo (SALVADOR, 2009), com base em ortofotos digitais da SEI, em escala
1:10.000 e trabalho de campo (Quadro 1).
Em Abrantes, Areias, Jauá, Arembepe, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú
da Torre/Açuzinho e Malhadas a área urbana é predominantemente horizontal com
168

Quadro 1 – Características da ocupação do solo nas localidades do Litoral Nordeste da Bahia, 2015
Continua

ABRANTES AÇÚ DA TORRE

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: predominantemente residencial (população predominante de Uso: predominantemente residencial (população predominante de
renda baixa e média) e comercial; renda baixa) e comercial;
Parcelamento do solo: formal ou informal; Parcelamento do solo: formal ou informal;
Arruamento: regular e irregular. Arruamento: predominantemente irregular.
169

Continua

AREIAS AREMBEPE

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: predominantemente residencial (população predominante de Uso: predominantemente residencial (população predominante de
renda baixa) e comercial; renda baixa e média) e comercial;
Parcelamento do solo: formal ou informal; Parcelamento do solo: formal ou informal;
Arruamento: predominantemente irregular. Arruamento: regular e irregular.
170

Continua

BARRA DO JACUÍPE BARRA DO POJUCA

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: predominantemente residencial (população predominante de Uso: predominantemente residencial (população predominante de
renda baixa e média) e comercial; renda baixa) e comercial;
Parcelamento do solo: formal ou informal; Parcelamento do solo: formal ou informal;
Arruamento: regular e irregular. Arruamento: predominantemente irregular.
171

Continua

GUARAJUBA ITACIMIRIM

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: residencial (população de renda média e alta) e comercial; Uso: predominantemente residencial (população de renda média e
Parcelamento do solo: formal; alta) e comercial;
Arruamento: regular. Parcelamento do solo: formal ou informal;
Arruamento: regular e irregular;
172

Continua

JAUÁ MALHADAS

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: predominantemente residencial (população predominante de Uso: predominantemente residencial (população predominante de
renda baixa e média) e comercial; renda baixa) e comercial;
Parcelamento do solo: formal ou informal; Parcelamento do solo: formal ou informal;
Arruamento: regular e irregular. Arruamento: predominantemente irregular.
173

Conclusão

MONTE GORDO PRAIA DO FORTE

Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até Ocupação: predominantemente horizontal com edificações de até
dois pavimentos; dois pavimentos;
Uso: predominantemente residencial (população predominante de Uso: predominantemente residencial (população predominante de
renda baixa e média) e comercial; renda baixa e alta) e comercial;
Parcelamento do solo: formal ou informal; Parcelamento do solo: formal;
Arruamento: predominantemente irregular. Arruamento: predominantemente irregular.

Fonte: Características de ocupação do solo. Sedam, 2009; Ortofotos digitais do mapeamento digital do estado da Bahia, SEI; Trabalho de campo, 2011-
2015.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
174

uso residencial e comercial, com edificações predominantemente de até dois


pavimentos. Pode ter origem em parcelamentos do solo formais ou informais, com
arruamento regular e irregular ou predominantemente irregular. No entorno das
localidades de Abrantes, Areias, Monte Gordo, Açú da Torre e Malhadas destaca-se
a existência de sítios e de chácaras. Ressalta-se que em áreas rurais dos distritos
de Camaçari e Mata de São João, a ocupação é esparsa, onde ainda se veem
muitas roças com exploração agropecuária de subsistência e pequena criação de
gado.
Situadas na margem esquerda da “Estrada do Coco”, Areias, Açú da
Torre/Açuzinho e Malhadas (Figura 14) são pequenas localidades, habitadas
principalmente por moradores pobres originários das terras da região, embora nas
três últimas residam trabalhadores de Praia do Forte e do Complexo Hoteleiro de
Sauipe devido ao preço menor dos aluguéis ou para aquisição de posses de
terrenos ou casas.
A vila de Monte Gordo e o povoado de Barra do Pojuca (Figura 15), também
situados à margem esquerda da rodovia BA-099, tiveram um crescimento muito
rápido nos últimos anos em virtude do aumento das atividades econômicas voltadas
ao lazer, recreação e veraneio, tornando-se — pela proximidade — locais de apoio e
fornecedores de bens e serviços e força de trabalho para as demandas da
população de Guarajuba e Itacimirim, sendo que nessa última, o comércio é muito
pequeno e não chega minimamente suprir às necessidades dos moradores e
veranistas.
A grande área de ocupação urbana formada pelas localidades de Abrantes,
Jauá (Figura 16), Areias e outras como Gajirus, Pé de Areia e Buris  área de
expansão de Jauá , conformam uma extensão de comércio e serviços nas
margens da “Estrada do Coco”, nas proximidades da Praça de Pedágio. Jauá possui
dois núcleos urbanos, um próximo à praia, composto principalmente por residências
secundárias, pousadas e casas comerciais e outro que se estende nas localidades
de Gajirus e Pé de Areias, onde residem os antigos moradores da localidade.
A vila de Arembepe (Figura 17) ficou conhecida entre o final dos anos 1960
e início da década de 1970 quando foi instalada uma aldeia hippie no local,
tornando-se espaço para visitação pública, dos adeptos do naturismo e do
camping. Sua ocupação se deu de forma desordenada em torno de uma antiga
aldeia de pescadores, apresentando, atualmente, uma configuração urbana e social
175

Figura 14 – Localidades periféricas no LNE baiano: Areias, Açú da Torre, Açuzinho e


Malhadas
Areias Açú da Torre

Açuzinho Malhadas

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2014 e 2015.

Figura 15 – Localidades periféricas no LNE baiano: Monte Gordo e Barra do Pojuca


Monte Gordo Barra do Pojuca

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2013 e 2015.


176

Figura 16 – Localidades costeiras no LNE baiano: Abrantes e Jauá

Abrantes Jauá

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2015.

heterogênea: uma colônia tradicional de pescadores assentados na parte central


junto à praia e na parte denominada Volta do Robalo, com a predominância de
residências de médio e baixo padrão construtivo; na parte mais afastada do centro,
residem veranistas em imóveis de padrão construtivo elevado, onde também estão
localizadas as pousadas e os pequenos hotéis. O comércio supre as necessidades
locais e do turismo de fim de semana.
O povoado de Barra do Jacuípe (Figura 17) se desenvolveu nas proximidades
do rio de mesmo nome, com duas configurações distintas, nos dois lados da rodovia
BA-099  “Estrada do Coco”. A porção oeste é caracterizada por sítios, chácaras e
estabelecimentos comerciais, enquanto a leste é composta por residências de baixo
e médio padrão construtivo, mas de caráter permanente, e com maior adensamento.
Nesta parte também, mais perto da foz do rio, existem loteamentos e condomínios
fechados, com residências secundárias dos veranistas. A atividade comercial é
intensa nas margens da rodovia, ocorrendo também internamente em algumas vias
secundárias.
Em Guarajuba, e parte de Itacimirim nas proximidades da orla marítima
(Figura 18) a ocupação, regulada pelo mercado imobiliário formal, é
predominantemente horizontal com assentamento preferencialmente residencial —
de população de veranistas de renda média e alta — e comercial. Os locais são
caracterizados pelo parcelamento formal do solo e pela predominância de lotes
177

Figura 17 – Localidades costeiras no LNE baiano: Arembepe e Barra do Jacuípe

Arembepe Barra do Jacuípe

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2014 e 2015.

Figura 18 – Localidades costeiras no LNE baiano: Guarajuba e Itacimirim


Guarajuba Itacimirim (lado da orla marítima)

Fonte: Fotos, Denise Magalhães, 2013 e 2014.

ocupados por edificações uniresidenciais (casas) em loteamentos ou condomínios


fechados — com vigilância permanente, cercados por muros altos — de médio e alto
padrão construtivo e arruamento regular. Entretanto, a localidade de Itacimirim é
heterogênea, sendo que a área de acesso à localidade, próxima à rodovia, é
caracterizada pela presença de pequenos sítios e residências compostas por uma
população que pertence ao grupo de renda baixa (pescadores, caseiros,
empregados domésticos etc.). Esta área é composta por setor censitário único e
distinto dos dois outros setores que compõem a localidade: a orla marítima e a Ilha
do Meio, locais de veranistas e residentes dos grupos de renda média e alta.
Também é na parte junto à praia que se localizam as pousadas, hotéis etc.
A prática social do turismo voltado ao veraneio e excursões, que começou a
178

ser desenvolvida na região a partir de 1970, promoveu a transformação do espaço


em Praia do Forte (Figura 19), produzindo um tipo particular de urbanização.
Segundo Santos, T. (2006), estruturou-se uma “urbanização turística”108, como
resultado da ação de agentes produtores do espaço (proprietários de terras,
incorporadores imobiliários, empresários do ramo comercial e hoteleiro) bem como,
da ação do Governo, seja federal, estadual ou municipal, financiando por meio do
Prodetur-NE/BA ou recursos próprios a infraestrutura básica e a malha rodoviária de
acesso à localidade.

Figura 19 – Localidade costeira de Praia do Forte

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2014 e 2015.

A ocupação e uso do solo em Praia do Forte, regulada minunciosamente pela


Landco Empreendimentos Imobiliários Ltda, empresa criada pela Fundação Garcia
d’Ávila, é predominantemente horizontal com assentamento residencial — de
população heterogênea: coabitando antigos moradores (família dos grupos de renda
baixa), residentes em pequenas casas nos becos e vielas da localidade e em
condições de pobreza; e veranistas e turistas de renda média e alta. É relativamente
grande o adensamento comercial na área central do povoado, com bons
restaurantes, pousadas, comércio de roupas em boutiques, joalherias, lojas de
material de esportes náuticos etc. Prevalecem as construções sofisticadas de alto
padrão construtivo, típicas de locais turísticos onde os consumidores (nacionais e

108
“[...] onde privilegia-se no espaço urbano lugares para o lazer, seja recreativo ou turístico, com
edificações e infra-estrutura voltada para este fim e com paisagens em forma de cenários
reproduzindo a estética da natureza e a cultura típica local”, como instrumentos para o consumo do
espaço (SANTOS, T., 2006: 77).
179

principalmente estrangeiros) possuem grande poder aquisitivo.


Praia do Forte se diferencia das demais localidades do LNE baiano, em
termos de “[...] formas urbanas de forte apelo visual e cênico, onde se destaca a
espetacularização dos ambientes naturais e construídos [não representando mais] a
realidade da tradicional comunidade de pescadores” (SANTOS, T., 2006: 112,
acréscimos nossos). O local atrai, cada vez mais, turistas, novos moradores,
grandes e médios comerciantes, empresários do ramo turístico e hoteleiro e
prestadores de serviços.
Nesse sentido, o desenvolvimento do mercado imobiliário formal de terras
urbanas no LNE da Bahia se deu de forma distinta entre as localidades. Do ponto de
vista dos agentes imobiliários, Praia do Forte, Guarajuba e Itacimirim se distinguem
das demais localidades da orla marítima, a exemplo de Arembepe, Abrantes e Jauá
que “[...] não se 'desenvolveram' porque a população nativa permaneceu na beira do
mar” (Sr. C. C., corretor de Guarajuba, em entrevista de 28/03/2013).
Arembepe, Abrantes e Jauá retratam a resistência dos antigos moradores
diante da tentativa de expulsão dos agentes do mercado imobiliário.

8.2 A DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NAS DISTINTAS LOCALIDADES

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE, a distribuição da


população total (55.861 habitantes) residente na região (Tabela 13, Figura 20),
ilustra uma maior concentração populacional nos distritos de Abrantes e Monte
Gordo (município de Camaçari), especificamente nos setores censitários urbanos
que abrangem as localidades a oeste da rodovia, como Abrantes, a extensão de
Arembepe, Barra do Pojuca e Monte Gordo, respectivamente com 18.282, 8.563,
7.755 e 7.199 habitantes, tendo as três primeiras altas densidades demográficas
com 5.264,3, 1.985,4 e 2.442,5 hab/km². Também apresentam altas densidades
demográficas as localidades de Areias e Praia do Forte. Destaca-se que, segundo o
IBGE (2010), na RMS o município de Camaçari detém a segunda maior população
residente (231.973 habitantes), superado por Salvador com 2.674.923 habitantes.
180

Tabela 13 – População total residente por setores censitários –


Litoral Nordeste da Bahia, 2010
Densidade
População
Localidade Demográfica
residente
(hab./km²)
Total 55.861 990,26
Abrantes 18.282 5.264,3
Areias 1.927 2.104,9
Arembepe 8.563 1.985,4
Açú da Torre e Açuzinho 637 189,9
Barra do Jacuípe 3.289 278,4
Barra do Pojuca 7.755 2.442,5
Guarajuba 445 98,1
Itacimirim 846 107,9
Jauá 3.345 707,6
Malhadas 2.157 694,6
Monte Gordo 7.199 890,8
Praia do Forte 1.416 1.320,9
Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2010.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

As menores concentrações populacionais estão em parte da orla marítima,


certamente em razão do controle do uso do solo que exige uma densidade de
ocupação máxima e espaços abertos. Nos distritos de Açú da Torre (em Mata de
São João) e em Monte Gordo (em Camaçari) por serem localidades de habitação
predominantemente popular a densidade de ocupação é maior, isso muito pela ação
mais livre da ocupação da terra, pouco controlada, onde a maximização da
ocupação é preponderante — casas com parede meia, famílias numerosas etc. As
localidades de Guarajuba (445 habitantes) e Itacimirim (846 habitantes) detêm
menores quantidade de residentes, em razão de boa parte das residências serem
secundárias.
O município de Camaçari continua a receber população de outras regiões
baianas e outros estados brasileiros atraída pelas empresas do Polo Industrial de
Camaçari, pelo desenvolvimento das atividades e dos empreendimentos voltados ao
turismo, na área costeira.
Da população entrevistada do universo de proprietários de residência
permanente e residência secundária, comerciantes e comerciários, no total de 1.316
pessoas (721 mulheres e 615 homens) a maioria (22,24%) está na faixa etária entre
181

Figura 20  População total residente por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2014.
182

30 a 40 anos. Distinguem-se Guarajuba, Itacimirim e Jauá pela maior concentração


dos grupos na faixa etária de 50 a 60 anos (Tabela 14), situação reveladora de
morarem nessas localidades pessoas que se fixaram nas residências antes
utilizadas para veraneio, provavelmente prevendo a aposentadoria. O fato é também
relacionado às condições de vida e moradia no tocante à infraestrutura local.
Coerentemente, Guarajuba e Itacimirim registraram, segundo o IBGE (2010), as
menores concentrações (3,1 e 7,0%), respectivamente, 14 e 59 habitantes na faixa
etária de 15 a 18 anos. Nas demais localidades grupos com as menores
concentrações representam a faixa etária de idosos, acima de 65 anos.

Tabela 14 – População total entrevistada, segundo faixa etária - Litoral Nordeste da


Bahia, 2014
Faixa de idade
Localidades
<20 20├ 30 30├ 40 40├ 50 50├ 60 60├ 70 70├ 80
Total 74 242 296 249 228 154 73
Açú da Torre 6 12 29 21 9 11 3
Areias 8 18 28 20 22 14 9
Barra do Pojuca 18 55 59 27 24 7 9
Guarajuba 15 27 32 32 48 37 19
Itacimirim 2 4 16 24 28 19 11
Jauá 4 20 30 34 39 26 5
Monte Gordo 14 35 52 52 24 22 3
Praia do Forte 7 71 50 39 34 18 14
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

No mapa (Figura 20) constata-se que na maior parte da área costeira —


incluindo as localidades de Guarajuba e Itacimirim, o número de habitantes é menor,
atingindo valores abaixo de 448 pessoas por cada setor censitário. Isso é explicado
pela presença das residências secundárias, que não são consideradas pelo IBGE
como “domicílios particulares permanentes” no ato do recenseamento, sendo os
moradores recenseados no local da residência principal. Entretanto, principalmente
nessas localidades e em Praia do Forte observa-se outra dinâmica. Os proprietários
dessas residências secundárias, inicialmente utilizadas para veraneio, estão optando
cada vez mais por habitar permanentemente, sendo atraídos pela promessa de
melhor qualidade de vida residindo em habitações unifamiliares e pela oferta de
serviços e comércio de apoio residencial e especializado, que vem sendo instalado
nas localidades.
183

8.3 O PAPEL DAS LOCALIDADES E SUA INTERAÇÃO ESPACIAL. A


POPULAÇÃO DE COMERCIANTES, COMERCIÁRIOS E RESIDENTES

A atividade comercial e de serviços109 em Abrantes, Jauá, Arembepe, Barra


do Pojuca, Barra do Jacuípe, Monte Gordo, Praia do Forte é realizada em grande
parte por pequenos estabelecimentos, e, nessa última localidade, o comércio e
serviços é feito por empresários já consolidados noutras praças, estrangeiros etc. Do
total de estabelecimentos levantados (288), 130 comerciantes contratam
funcionários fixos, sendo que destes 68,7% contratam pessoas em serviços
temporários (garçons, camareiras, balconistas, atendentes etc.) em época de alta
estação; 158 não contrata funcionários e o proprietário trabalha só, assumindo, ao
mesmo tempo, a direção, o pequeno capital e o trabalho. Também é frequente o
emprego de membros da própria família, permitindo ao pequeno comerciante
aumentar os resultados econômicos sem a necessidade de pagar os encargos
sociais com trabalhadores assalariados.
A sazonalidade do turismo cria instabilidade tanto no mercado formal como no
informal de empregos, e grande parte da população local, sem atividade regular,
acaba exercendo diferentes funções ao longo do ano. Segundo Santos, M. (2008), a
fluidez do emprego no circuito inferior da economia urbana é impressionante e a
falta de necessidade de especialização para um grande número de atividades faz
com que os indivíduos passem de uma ocupação à outra sem muitas dificuldades110.
Entre a população pobre, a divisão do trabalho não é rígida, sobretudo em razão das
experiências desde criança como trabalhadores manuais e artesanais. Assim,
muitos prestadores de serviços têm mobilidade no trabalho e ao mesmo tempo

109
Restaurantes, lanchonetes, panificadoras, bares, mercadinhos, vendas, quitandas, mercearias,
drogarias/farmácias, casas de materiais de construção, madeireiras, barbearias, salões de beleza,
padarias, pet shops, bombonieres, papelarias, armarinhos, vidraçarias, borracharia, depósitos de
bebida, copiadoras, academias de ginástica, peixarias, barracas de praia, bicicletaria, oficinas
mecânicas, estofarias, sorveterias, sapatarias, artesanato e bijuterias, lan house, docerias, lojas de:
móveis e eletrodomésticos, confecções, eletroeletrônicos, produtos agropecuários, variedades,
equipamentos de informática, decoração, motos, refrigeração, dentre outras.
110
Isso é de se esperar entre os pequenos, pois é na grande empresa, no modo capitalista de
produção, que há a necessidade de separações das tarefas — o que barateia suas partes individuais
— e alienação do trabalho para aumentar a produtividade. “[...] em termos de mercado, isto significa
que a força de trabalho capaz de executar o processo pode ser comprada mais barato como
elementos dissociados do que como capacidade integrada num só trabalhador” (BRAVERMAN,
2011[1974]: 79).
184

exercem a função de pedreiros, pintores, caseiros, jardineiros, vendedores,


agricultores, artífices em geral.
Dos 288 comerciantes entrevistados nas distintas localidades, a maioria
(51,1%) é morador local, justificando assim a escolha do local para abrir o negócio;
11,9% reputavam favorável a condição do comércio durante a época em que se
instalaram e 10,6% consideraram as atratividades locais no tocante à natureza
(praia, clima etc.). Outros comerciantes evidenciaram outros motivos para se
estabelecerem no LNE: herança (9,8%); oportunidade em abrir o negócio (6,0%);
atração pelo turismo regional e pela presença (embora sazonal) de veranistas
(5,6%); família já estabelecida no local (3,2%); meio de manutenção econômica
(1,4%) e imigraram em busca de trabalho (0,4%) (Figura 21).

Figura 21 – Motivo da escolha do local para estabelecimentos comerciais – Litoral


Nordeste da Bahia, 2014
3,2% 1,4% 0,4%
Morador(a)
5,6% Condição favorável do comércio
6,0%
Local aprazível

9,8% Herança

51,1% Oportunidade de negócio


10,6%
Local turístico

Família
11,9%
Forma de sobrevivência

Estabeleceu-se a trabalho

Fonte: Coleta de campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães.

De forma geral os comerciantes sentem-se satisfeitos com o negócio que


empreendem, embora pelas dificuldades que sempre aparecem, alguns procuram
novas perspectivas. Distintamente, em Guarajuba se fixaram no comércio pessoas
com posses, moradoras na localidade ou de outras do entorno, a exemplo de Monte
Gordo, Barra do Pojuca, Barra do Jacuípe ou de cidades como Lauro de Freitas e
Camaçari. Essas pessoas são atraídas pelos veranistas do lugar.
185

Em muitas das localidades do LNE da Bahia, como em Abrantes, Jauá,


Arembepe, Barra do Jacuípe, Monte Gordo, Barra do Pojuca e Praia do Forte, a
atividade comercial e de serviços é densa e compacta permitindo aos clientes locais
realizarem a busca por bens e serviços à pé; o atendimento nos estabelecimentos
comerciais envolve um considerável número de pessoas (entre proprietários e
funcionários), bem como profissionais especializados, como corretores, técnicos em
informática, personal trainer, dentre outros.
Excluindo Praia do Forte, a extensão da área comercial, a variedade das
mercadorias e o volume ofertado é adaptada a um consumo um pouco mais que
diário dos moradores locais. O estoque é reduzido e renovado no dia a dia, pois a
compra por parte dos clientes, em sua maioria pobres, é fracionada, numa espécie
de hand to mouth basis commerce. Compra-se pouco e compra-se todos os dias,
mas é, sobretudo o crédito que permite a vida do pequeno comércio varejista local
(SANTOS, M., 2008[1978]). A sazonalidade do turismo ou do veranismo amplia
subitamente a demanda criando instabilidade e irregularidade no mercado local,
sobretudo no verão e nos finais de semana prolongados, além do que ocorre
também elevação dos preços em razão da demanda dos consumidores visitantes.
Apesar das dificuldades óbvias da sazonalidade no comércio local,
pouquíssimos são os comerciantes que desejam sair da atividade, sendo relatados
motivos particulares (problemas de saúde, mudar de profissão, desgaste do
trabalho) ou o comércio fraco. Dos 288 comerciantes entrevistados, a maioria (208)
não pretende sair do ramo comercial, enquanto 80 pretende mudar de ramo. Nesse
sentido, segundo Santos, M. (2008 [1978]), a reconversão do tipo de negócio pela
quantidade de capital investido e instalações simples não é empecilho no circuito
inferior. Recomeça-se no mesmo local uma nova atividade, ajustando-se
estreitamente ao mercado local e dependendo totalmente dele, como resposta direta
à demanda.
No comércio e nos serviços, do total de 288 estabelecimentos pesquisados,
138 são próprios, destacando-se as localidades de Açú da Torre, Itacimirim,
Guarajuba, Jauá e Areias. Prevalece na condição de alugados 150
estabelecimentos, notadamente em Barra do Pojuca, Monte Gordo e Praia do Forte
(Tabela 15). Nessa última localidade moradores autóctones costumam alugar suas
residências (ou a frente delas) para instalar estabelecimentos comerciais e de
serviços nas ruas principais do povoado, principalmente nas Alamedas do Sol e da
186

Lua, onde o comércio é mais intenso.

Tabela 15 – Condição dos estabelecimentos comerciais


- Litoral Nordeste da Bahia, 2014
Estabelecimentos Total de
Localidades
Próprio Alugado estabelecimentos
Total 138 150 288
Açú da Torre 11 2 13
Areias 20 2 22
Barra do Pojuca 20 34 54
Guarajuba 16 9 25
Itacimirim 11 3 14
Jauá 21 16 37
Monte Gordo 17 43 60
Praia do Forte 22 41 63
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Em certas localidades, como em Areias e Açú da Torre é comum que o ponto


de venda dos comerciantes seja em sua própria habitação, o que, de acordo com
Santos, M. (2008 [1978]), representa uma economia de tempo e dinheiro, e quase
sempre constitui a única possibilidade de se ter uma atividade econômica. Nessas
localidades, as atividades do comércio são geralmente ocupadas por mulheres —
diante da necessidade de aumentar a renda — que podem ter ao mesmo tempo
outras atividades, sobretudo como cuidar da família. Também, segundo Santos, M.
(2008[1978]), o trabalho em casa facilita as relações com a vizinhança, pois os
clientes estão certos de poderem ser atendidos a qualquer hora ou dia da semana,
desta forma se prolongando a jornada de trabalho por longos horários, prática muito
corrente no circuito inferior.
Dos 285 comerciários entrevistados nas localidades — 204 mulheres e 81
homens e predomina a faixa etária de 20 a 30 anos — a maioria (58,9%) possui
vínculo empregatício destacando-se Praia do Forte com 79,8% do total de 89
pessoas entrevistadas; 41,0% não possui vínculo empregatício, com destaque para
Itacimirim, Açú da Torre, Jauá e Barra do Pojuca com, respectivamente, 60%,
58,3%, 57,1% e 51,1% do total de 15, 12, 28, 47 pessoas entrevistadas. O fato
reflete não só o grande número de pessoas que trabalha sem o vínculo
empregatício, como o número menor de comerciantes nas localidades,
diferentemente do que acontece em Praia do Forte (Tabela 16). Independente das
vantagens que o vínculo empregatício proporcionaria aos comerciários, a maioria
187

deles (82,4%) está satisfeita em morar e trabalhar no local e 62,1% não pretende
mudar.

Tabela 16 – Percentual de comerciários segundo o vínculo empregatício


– Litoral Nordeste da Bahia, 2014
Vínculo empregatício
Localidades Não possui Possui Total
Absoluto (%) Absoluto (%)
Total 117 41,0 168 58,9 285
Açú da Torre 7 58,3 5 41,7 12
Areias 4 36,3 7 63,6 11
Barra do Pojuca 24 51,0 23 48,9 47
Guarajuba 16 41,0 23 59,0 39
Itacimirim 9 60,0 6 40,0 15
Jauá 16 57,1 12 42,8 28
Monte Gordo 23 25,3 21 47,7 44
Praia do Forte 18 20,2 71 79,8 89
Fonte: Trabalho de Campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Pela proximidade espacial entre os núcleos urbanos do LNE, famílias que


veraneiam ou residem em áreas “ricas” dependem dos serviços de empregados
domésticos, caseiros, porteiros etc. disponíveis na população residente nas áreas
residenciais populares, que procuram residir nas proximidades do trabalho,
tornando-se, segundo Harvey (1980: 119, acréscimo nosso), “[...] recursos
[humanos] quando são forçadas a vender seu trabalho no mercado, com o objetivo
de sobreviver”. Nesse sentido, uma certa proximidade geográfica, entre as distintas
localidades de habitação da população pobre e as localidades onde se pratica o
veraneio e as atividades turísticas onde predomina a população de média e elevada
renda no LNE baiano aponta a existência dos fenômenos da fragmentação e da
segregação sócio-espacial. Assim, o espaço urbano pode ser simultaneamente
socialmente segregado e fragmentado, mas articulado verticalmente (CORRÊA,
1993; SPOSITO, 2013) por meio das relações de trabalho dos moradores com os
veranistas.
O processo de segregação sócio-espacial foi claramente ratificado quando da
entrevista com 233 proprietários de residências fixas e secundárias nas localidades
do LNE, em estudo. Ao serem perguntados sobre o local de residência dos seus
empregados (caseiros, empregados domésticos, “piscineiros”, jardineiros, entre
outros) pôde ser constatado que grande parte (79%) dos trabalhadores empregados
nas residências reside nas localidades onde predomina famílias cuja renda é baixa.
188

Destacam-se Monte Gordo (52,8%) e Barra do Pojuca (17,2%) ambas localizadas na


margem da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, oposta à praia, onde reside a
maioria dos trabalhadores. Observa-se que deste percentual respectivamente 50,2%
dos trabalhadores de Monte Gordo exercem suas atividades laborais em Guarajuba
e 15,0% dos que residem em Barra do Pojuca trabalham em Itacimirim (Tabela 17).
A mesma situação de dependência pode ser ampliada para porteiros, seguranças e
trabalhadores autônomos que prestam serviços nos condomínios/loteamentos de
Guarajuba e Itacimirim. Ressalta-se que a proximidade espacial entre as localidades
favorece “patrões” e empregados, considerando-se o custo com o transporte e o
tempo de deslocamento, contabilizados no pagamento da remuneração.
Não é surpresa encontrar entre esses trabalhadores das residências no LNE
19 moradores da cidade do Salvador, pois eles acompanham seus patrões quando
estes vão veranear, embora uma minoria seja residente em outras cidades, como
Camaçari (3), Mata de São João (2), Feira de Santana (2), Lauro de Freitas (1) e até
no Rio de Janeiro (1). Em Açú da Torre, Areias, Barra do Pojuca, Jauá e Monte
Gordo, mesmo que em minoria, também há demanda por estes trabalhadores em
razão da existência de famílias com melhor renda e precisar destes serviços.
Quanto aos funcionários ocupados nas atividades comerciais e de serviços no
LNE as 283 respostas às entrevistas com esta categoria ratificam a situação
explicitada anteriormente. Da totalidade de empregados em cada localidade (Tabela
18): Açú da Torre (83,3%), Areias (100%), Barra do Pojuca (95,7%), Monte Gordo
(100%) e Jauá (63,0%), a maioria reside no próprio local. O mesmo não acontece
com Guarajuba (2,6%), Itacimirim (20%) e Praia do Forte (28,1%), cuja maior parte
dos trabalhadores do comércio vem de outras localidades em suas proximidades, o
que facilita os custos de transporte. De forma que se percebe uma menor mobilidade
dos trabalhadores quando residem em locais distantes do trabalho, como nas
cidades de Camaçari, Dias d'Ávila e Lauro de Freitas.
Questionados quanto ao uso de transportes para o deslocamento ao trabalho,
55,8% dos comerciários — do total de 285 entrevistados — utilizam transporte,
predominando o maior número de pessoas que trabalha em Guarajuba (87,2%) e
em Praia do Forte (71,9%); 43,5% não utiliza transportes, sendo verificado que a
predominância desses comerciários trabalha em Açú da Torre, Areias, Barra do
Pojuca e Monte Gordo.
189

Tabela 17 – Local de residência dos empregados domésticos – Litoral Nordeste da Bahia, 2014
Local de residência

Mata do São João


Feira de Santana
Lauro de Freitas
Barra do Pojuca

Rio de Janeiro
Praia do Forte
Monte Gordo
Açú da Torre

Guarajuba

Arembepe
Malhadas
Camaçari
Itacimirim

Açuzinho
Salvador
Areias

Total
Jauá

Catu
Localidades

Total 4 1 8 40 10 11 123 3 1 19 3 2 1 1 2 1 1 2 233


Açú da Torre 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3
Local de trabalho

Areias 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Barra do Pojuca 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4
Guarajuba 0 0 8 1 0 0 117 0 1 11 0 2 1 1 0 0 0 0 142
Itacimirim 0 0 0 35 10 0 3 0 0 6 3 0 0 0 0 0 0 0 57
Jauá 0 0 0 0 0 11 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 13
Monte Gordo 0 0 0 0 0 0 3 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 4
Praia do Forte 1 0 0 4 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 2 1 0 2 13
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
190

Tabela 18 – Localidade de residência dos comerciários – Litoral Nordeste da Bahia, 2014


Localidades de residência

Mata de São João


Barra do Jacuípe

Lauro de Freitas
Porto do Sauípe
Barra do Pojuca

Praia do Forte
Monte Gordo
Açú da Torre

Dias D'Ávila
Guarajuba

Arembepe

Campinas
Malhadas
Camaçari
Itacimirim
Açuzinho

Abrantes
Salvador
Embaçai
Areias

Diogo

Total
Jauá
Localidades

Total 26 16 71 2 5 1 6 17 77 25 7 2 1 1 1 7 2 2 1 3 1 9 283
Açú da Torre 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 12
Areias 0 11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11
Local de trabalho

Barra do Pojuca 0 0 45 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 47
Guarajuba 0 0 3 0 0 1 0 0 30 0 0 0 0 0 0 3 0 0 1 1 0 0 39
Itacimirim 0 0 10 0 0 0 3 0 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 15
Jauá 0 5 0 0 0 0 0 17 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 1 0 0 27
Monte Gordo 0 0 0 0 0 0 0 0 44 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 44
P. do Forte 16 0 13 0 5 0 3 0 3 25 7 2 1 1 1 3 0 0 0 1 0 8 89
Fonte: Trabalho de Campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
191

Apenas dois comerciários que trabalham em Açú da Torre e Monte Gordo


eventualmente usam transporte (Figura 22). Esses trabalhadores no LNE deslocam-
se diariamente para o trabalho à pé, de bicicleta, de moto-táxi, de motocicleta
particular quando residem no próprio local ou nas proximidades do trabalho.

Figura 22 – Número de comerciários segundo o uso do transporte - Litoral Nordeste


da Bahia, 2014
70

60

50
Número d e c o merciário s

Utilização de meios
40
de transporte

Não utiliza
30 Utiliza

Eventualmente utiliza
20

10

Localidades

Fonte: Trabalho de Campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Algumas localidades possuem pontos fixos de moto-táxi, a exemplo de Jauá,


Arembepe, Barra do Pojuca, Monte Gordo, bem como em entradas de acesso a
Guarajuba e a Acuzinho/Açú da Torre/Malhadas. Embora exista
organização/liderança entre os moto-taxistas, os mesmos não são filiados a
sindicatos ou congêneres. De forma geral atendem à própria localidade ou àquelas
do entorno, entretanto podem transportar passageiros para qualquer local, sendo
mais frequente para Salvador, Camaçari e Praia do Forte. No povoado de Praia do
Forte “[...] a prefeitura não permite o ponto de moto-taxistas pela falta de espaço”
192

(entrevista ao Sr. G., em 18/07/2015), embora seja um tipo de transporte que


apenas chega e sai sem parada. Este fato reflete a forte segregação do local para
com pessoas que dependem do transporte público.
No caso específico de trabalharem distante do local de moradia, além dos
tipos de transportes mencionados, deslocam-se também por meio de transporte
coletivo com linha regular (ônibus, micro-ônibus ou vans), sendo a demanda cada
vez crescente. Do fluxo de ida e volta de linhas de transportes rodoviários
intermunicipais de passageiros que integra o LNE baiano (Figura 23), percebe-se
uma organização eminentemente linear direcionada à rodovia BA-099  “Estrada do
Coco”.
Pela “Estrada do Coco” trafegam linhas de ônibus urbanas convencional e
executiva: linha direta Salvador-Praia do Forte e micro-ônibus convencional que
saem da capital e fazem seção em Lauro de Freitas e nas localidades do LNE de
Abrantes, Arembepe, Barra do Jacuípe, Monte Gordo, Guarajuba, Barra do Pojuca,
Açú da Torre, Malhadas e Praia do Forte. Também integrando a região, saem cinco
linhas urbanas de Arembepe, sendo todas com destino a Salvador, quatro fazendo
seção na localidade de Areias e três em Jauá. Outras, no total de seis linhas
urbanas, saem das localidades de: Jauá (1), com seção em Areias, Abrantes, Lauro
de Freitas e Salvador; Monte Gordo (1), com seção em Guarajuba, Arembepe e
Salvador; Areias (2), com seção em Jauá, Abrantes e Salvador; e Barra do Pojuca
(2), com seção em Monte Gordo, Barra do Jacuípe, Arembepe, Jauá, Abrantes,
Lauro de Freitas e Salvador.
Um fluxo maior, acima de 16 linhas de transportes coletivos, ocorre entre
Salvador e Abrantes, comprovando que ainda é forte o apelo da conurbação
Salvador/Lauro de Freitas e adjacências, pela proximidade e oferta de bens e
serviços na capital. Em direção a Jauá, Arembepe, Barra do Jacuípe e Monte Gordo
o fluxo é menor (12 a 15 linhas), diminuindo ainda mais em direção à Barra do
Pojuca, Praia do Forte (8 a 11 linhas), com seguimento para Imbassaí e Porto do
Sauípe. Fazem roteiros de Jauá a Arembepe e de Barra do Pojuca a Praia do Forte,
entre 4 a 7 linhas. Forte. Poucas linhas (de 1 a 3) vão para as localidades de Açú da
Torre, Malhadas e Guarajuba. Comprovando a informação de campo, não existem
linhas que fazem seção em Itacimirim. Nesse quesito, a interação das sedes
municipais com as localidades do LNE é pequena e, excluindo Salvador, sai de Dias
d'Ávila, na RMS, de 4 a 7 linhas urbanas que fazem seção em Jauá e Arembepe.
193

Figura 23 – Fluxo de linhas de transportes rodoviários intermunicipais de passageiros – Litoral Nordeste da Bahia, 2015

Fonte: Agerba, 2015; Superintendência do Trânsito e Transportes (STT), 2015.


Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2015.
194

Recentemente, em Camaçari, a Superintendência do Trânsito e Transportes


(STT) fez a extensão de três linhas que saem do Terminal de Integração Sede e
Orla (Tiso) e passam pela Estrada da Cetrel — rodovia municipal não codificada —
com destino à Arembepe, Barra do Pojuca e Barra do Jacuípe, além do Circular que
percorre todas as localidades da orla marítima com roteiro de volta para a cidade.
Verifica-se uma forte interação espacial interna entre as localidades ao longo
da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco” no LNE motivada pelas articulações
funcionais entre os “pares” de localidades, sobretudo, as socialmente opostas, em
grande medida oportunizada pela proximidade geográfica entre as localidades.
Contudo, de Guarajuba e Itacimirim com, respectivamente, Monte Gordo e Barra do
Pojuca, que muito cresceram nos últimos anos em função do turismo e do veranismo
na região. Em certas épocas do ano, principalmente no verão e nos finais de
semana prolongados ocorre uma forte dinâmica entre as localidades com os
veranistas, tanto para as compras diárias, como para encontrar apoio de serviços
com a população local (pedreiros, encanadores, eletricistas, pintores, diaristas etc.).
Inversamente, a população de Monte Gordo também busca serviços bancários em
Guarajuba, assim como os moradores de Açú da Torre, Malhadas e Açuzinho
buscam serviços complementares em Praia do Forte.
Motivados pela proximidade e acessibilidade, os 285 comerciários locais
entrevistados buscam complementaridade de serviços, lazer, trabalho, em outras
cidades da RMS, principalmente em Camaçari (37,9%), não sendo tais atividades
monopolizadas pela metrópole, que ficou em segundo lugar com 31,6% (Tabela 19).
Pela lógica, as localidades que mais concentram trabalhadores que interagem com a
sede municipal Camaçari, são Guarajuba, Jauá, Monte Gordo e Areias, com,
respectivamente, 61,5%, 60,7%, 50,1% e 36,4% do total de entrevistados (39, 28, 44
e 11 pessoas). O vínculo com Salvador é maior em localidades de Mata de São
João, pois a sede do município não oferece acessibilidade pela Orla Atlântica, o que
implica contar com serviços sociais para a população da Orla. Nessa situação
encontram-se Praia do Forte e Açú da Torre com 50,6% e 41,7% do total de 89 e 12
pessoas entrevistadas, logo o povoado de Praia do Forte é que oferece os bens e
serviços. A busca dos trabalhadores de Itacimirim também é por Salvador, com
44,7% do total de 15 pessoas entrevistadas. Particularmente nessa localidade,
existem muitas estofarias, cujo material específico é comprado, segundo os
entrevistados, no Taboão, na cidade do Salvador.
195

Tabela 19 – Cidades da Região Metropolitana de Salvador mais frequentadas pelos comerciários residentes em
localidades do Litoral Nordeste da Bahia, 2014.
Cidades da Região Metropolitana de Salvador
Localidades Lauro de Simões Dias Mata de Sem
Salvador Camaçari Outra Total
Freitas Filho D'Ávila São João Mobilidade
Total 31,6 4,2 6,0 37,9 1,0 6,0 5,6 7,9 285
Açú da Torre 41,7 0 0 33,3 0 8,3 16,7 0 12
Areias 36,4 9,1 0 45,4 0 0 0 9,1 11
Barra do Pojuca 12,7 2,1 36,2 10,6 4,2 17,0 2,1 14,9 47
Guarajuba 23,1 2,5 0 61,5 0 0 12,8 0 39
Itacimirim 46,7 13,3 0 26,7 0 0 6,7 6,7 15
Jauá 28,6 0 0 60,7 0 0 0 10,7 28
Monte Gordo 13,6 4,5 0 50,1 2,3 6,8 13,6 0 44
Praia do Forte 50,6 5,6 0 25,8 0 5,6 1,1 11,2 89
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
196

A principal opção dos comerciários — 36,2% do total de 47 — de Barra do


Pojuca é para a cidade de Simões Filho e também existem opções para outras
cidades da RMS (6,0%), distinguindo-se os que trabalham em Açú da Torre, com
16,7% do total de 12 pessoas entrevistadas. O percentual de trabalhadores que
busca Lauro de Freitas é pequeno (4,2%), sendo a cidade procurada — pela maior
proximidade que Salvador — por aqueles que cursam a faculdade e que trabalham
em localidades como Barra do Pojuca, Guarajuba, Itacimirim, Areias, Açú da Torre,
Jauá ou Praia do Forte.
Entretanto, observa-se forte hierarquia da metrópole quando 81,7% dos
comerciários entrevistados vão a Salvador, apontando vários outros motivos:
principalmente por serviços de saúde (50,2%); especificamente por buscarem lazer,
incluindo as idas aos shoppings centers (44,5%) e apenas 5,4% vão por trabalho.
Questionados quanto à frequência dessas viagens à capital, 35,4% vão
esporadicamente; 24,9% mensalmente, com destaque para os 89 trabalhadores
entrevistados em Praia do Forte, com 34,8%; 13,7% semanalmente; 7,7%
diariamente e 18,2% afirmam não necessitar ir à Salvador (Tabela 20).

8.4 A INDISSOCIABILIDADE DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL: MORFOLOGIA,


OCUPAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL

Segundo Capel (2002) há uma clara relação entre morfologia urbana e


espaço social, afirmando que a forma urbana é um produto social (de pessoas e
agentes sociais). No ambiente construído, expressam-se as funções e relações
sociais e, em consequência de mudanças ocorridas no espaço, forma, estrutura e
função se modificam rapidamente, obrigando as pessoas a se readaptarem,
redimensionarem/redirigirem seus passos (CARLOS, 2004).
De pequenas aglomerações e vilas de pescadores isoladas ao longo da área
costeira, as localidades do LNE da Bahia passaram por um processo de intensas
modificações iniciado após a implantação do primeiro trecho da rodovia BA-099, em
1975.
Forte fator potencializador de novas dinâmicas e transformações das
atividades econômicas na região, a rodovia BA-099  “Estrada do Coco” contribuiu
para reforçar o processo de fragmentação e de segregação sócio-espacial-
197

Tabela 20 – Percentual de frequências das viagens a Salvador pelos comerciários residentes em localidades no Litoral Nordeste, 2014

Diariamente Semanalmente Mensalmente Esporadicamente Não vão


Localidades Total
Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%)
Total 22 7,7 39 13,6 71 24,9 101 35,4 52 18,2 285
Açú da Torre 1 8,3 3 25 1 8,3 3 25 4 33,3 12
Areias 1 9,1 2 18,2 0 0 6 54,5 2 18,2 11
Barra do Pojuca 3 6,4 7 14,9 9 19,1 18 38,3 10 21,3 47
Guarajuba 4 10,2 5 12,8 6 15,3 15 38,5 9 23,1 39
Itacimirim 2 13,3 1 6,7 3 20 7 46,7 2 13,3 15
Jauá 2 7,1 3 10,7 7 25 12 42,8 4 14,3 28
Monte Gordo 1 2,3 6 13,6 14 31,8 15 34,1 8 18,2 44
Praia do Forte 8 9 12 13,5 31 34,8 25 28,1 13 14,6 89
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
198

residencial ao longo de suas margens. Esse processo foi criado pelo mercado de
loteamentos e condomínios de alto luxo na extensão praieira, e, do outro lado
da pista, a outra, formada por localidades praticamente abandonadas pelo poder
público, onde o mercado de terras de status elevado não lançou seus olhos e garras,
portanto, onde sobrou como alternativa de moradia a porção economicamente mais
frágil da população.
A partir da ocupação e uso do solo modificou-se a estrutura fundiária da
região. Grandes fazendas foram compradas, a exemplo da Fazenda Sauípe, pela
construtora Norberto Odebrecht e a Fazenda Praia do Forte pelo empresário Klaus
Peters, ambas em Mata de São João, na margem da BA-099. Essas fazendas foram
desmembradas e suas glebas parceladas em loteamentos residenciais para famílias
de grupos de renda média e alta.
Famílias de posseiros que viviam nessas terras, há gerações, dedicando-se,
principalmente, ao cultivo de coco-da-baía, frutas e produtos da agricultura familiar e
à criação de pequenos animais, se viram obrigadas a migrar para áreas menos
valorizadas pelo capital.
A resistência dos que ainda lutam para garantir sua sobrevivência, como
habitantes das áreas de praia, foi relatada em entrevista do dia 6/12/2013: “o turismo
é que traz a destruição da natureza, antes a gente pegava pitu com a mão [...] hoje
emprego é para poucos. Meu desejo é ir para a roça” (Sr. J. B., 55 anos).
Grande parte das pessoas que vivia nessas terras, e conseguiu permanecer,
foi desviada de suas antigas formas de trabalho familiar, tendo que se adaptar às
novas relações de trabalho e produção do sistema capitalista onde predomina o
assalariamento. Tal processo ocorreu em função das novas modalidades de
ocupação e uso do solo, advindas do veraneio e turismo. Esses moradores pobres
são atraídos pelas transformações socioeconômicas desse espaço, criando novos
valores, novos hábitos e novos costumes.
Líderes comunitários das zonas rurais e urbanas falaram sobre as
transformações no modo de vida da população, com perdas de antigas tradições:

Desenvolvimento não preserva cultura, destrói. Não existe cultura sem a


preservação dos povos tradicionais (Sr. J. B., 55 anos).

Perdemos nossas manifestações culturais, as coisas simples, como as


casas de farinha, as mulheres se juntar para catar lenha, o samba de roda
de viola, a festa de reis, a capoeira, o traçado tupinambá para fazer esteira,
199

111
bocapio , chapéu [...]. A agricultura acabou. Lá em Praia do Forte ainda
persistem essas manifestações, pois, por estarem em zonas de turismo eles
112
recebem apoio da Prefeitura (Sra. D. S. S., 53 anos) .

Entretanto, as manifestações culturais e religiosas, que fazem parte do


passado e presente dessas comunidades tradicionais, são mantidas à custa de
muita luta: “[...] se baixarmos a cabeça eles não permitem que façamos nossas
manifestações” (Sr. M. S. S., 37 anos)113. Apesar de constar no Plano Diretor do
município de Mata de São João, diretrizes setoriais que integram o Programa de
Dinamização Cultural (MATA DE SÃO JOÃO (Bahia), 2006, Capítulo I, Art. 15) e
como diretrizes do município de Camaçari, a promoção e difusão da história e dos
valores culturais locais e regionais, visando a preservação das tradições e o
fortalecimento da cidadania (BAHIA, 2008, Subseção IV – VI).
Durante todo o ano e principalmente na época do verão, um ciclo de festas
acontece nas localidades. Uma das mais conhecidas é a Lavagem de Monte
Gordo/Guarajuba, em homenagem a São Francisco de Assis, padroeiro dos
pescadores. Esta festa tem sido motivo de muitos conflitos entre a população de
Monte Gordo e a de Guarajuba, com o envolvimento de comerciantes e políticos
locais.
Para quem acompanhou os antigos cortejos da Lavagem, o de 2014 esteve
muito distante dos do passado, sem as tradicionais batucadas, blocos de antigos
moradores e capoeiristas (Figura 24). Esperava-se, portanto, que fosse uma
homenagem das manifestações anteriores, mas só mostrou o descaso dos políticos
com as raízes do lugar: “Não respeitam mais a tradição da gente. A festa é bem
organizada, arrumada, mas é mais do pessoal de fora. Não é daqui” disse L. S. (40
anos)114. O pessoal de fora são os visitantes/veranistas.
Afirma veementemente o Sr. N. S. (77 anos)115 que “a tradição não mudou”,
verificando-se com isso que foi cooptado pela Associação dos Condomínios de
Guarajuba (Ascon), que, junto à Prefeitura de Camaçari, colocou em prática o

111
Sacola de palha, feita artesanalmente.
112
Entrevistas do dia 6/12/2013, com a Associação Comunitária e Recreativa dos Moradores de
Campinas de Açú da Torre.
113
Entrevista do dia 13/12/2013, com a Sociedade São Francisco de Assis dos Pescadores e
Moradores de Praia do Forte.
114
Moradora de Monte Gordo, em entrevista do dia 16/11/2013.
115
Morador antigo de Monte Gordo, em entrevista do dia 16/11/2013.
200

“clientelismo”, negociando para que o trio elétrico não saísse mais de Guarajuba116,
perturbando o “paraíso” da localidade.

Figura 24 – Aspecto da lavagem de Monte Gordo, 2014

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2014.

Entretanto, outra lavagem acontece em um condomínio fechado de Guarajuba


(Figura 25), segregando a população de Monte Gordo, como bem afirmou o Sr. J. M.
C. B. (73 anos) proprietário de residência e figura conhecida do condomínio: “A
nossa lavagem é uma e a deles é outra”. Ou seja, a festa dos pescadores — dos
pobres — é separada da dos ricos.
No último dia da lavagem de Monte Gordo, a procissão é iniciada com o
cortejo dos navegantes na praia do Porto, em Guarajuba, dirigindo-se à tarde para a
vila de Monte Gordo. Durante o dia, a população “pobre” da vila se concentrou em
festa na Colônia dos Pescadores situada na praia, enquanto veranistas e turistas
“ricos” permaneceram nos restaurantes do local; de modo que o espaço “público” se
transformou, simultaneamente, em uma justaposição de espaços privatizados entre
os diferentes grupos (SERPA, 2009, 2013).
Em entrevista do dia 16/11/2012 a Sra. S. S. deixou claro a ideia de
separação entre os ricos e os pobres por iniciativa dos primeiros em uma

116
A tradição “parece” não ter mudado, pois continua a sair de Guarajuba, mas sem a presença do
trio elétrico que, atualmente, sai de Monte Gordo.
201

manifestação popular em Guarajuba: “[...] na Lavagem, o povo ‘barão’ de Guarajuba


não vai à praia, não se mistura com os moradores de Monte Gordo. É
discriminação”. Isso, de acordo com Serpa (2013:177), são “[...] formas nuançadas
de segregação, como atos de vontade que impossibilitam o convívio ‘entre
diferentes’ e negam o ‘outro’ através da indiferença e do autoisolamento (em geral
voluntário)”. A figura 26 exemplifica a situação descrita.

Figura 25 – Aspecto da lavagem de Guarajuba, 2014

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2014.

Figura 26 – Praia de Guarajuba: concentração dos “pobres” e dos “ricos”

Fonte: Fotos, Denise Magalhães e Ricardo Kassius, 2014.

O que se coloca em evidência é que a segregação, dessa maneira, se


202

manifesta não só em razão das desigualdades sociais, mas também culturais entre
ricos e pobres.
Líderes de associações comunitárias justificam a transformação da região do
LNE da Bahia com o aumento populacional, pelo processo de migração de pessoas
atraídas para o local devido ao trabalho doméstico em residências secundárias e
busca de emprego em instalações hoteleiras, empreendimentos imobiliários e outras
empresas.
A situação percebida, vivenciada e representada pelos diferentes grupos
sociais que vivem e/ou trabalham na região é que um fato concreto — a rodovia BA-
099 — contribui para estabelecer a fragmentação espacial em consequência de uma
segregação sócio-espacial-residencial ao longo da rodovia. Na visão
117
sociopolítica/econômica do Sr. J. C. S. (37 anos) , “deste lado está tudo bonito. Do
outro lado... Migrantes118 vêm e ficam na periferia”119, dando ênfase ao componente
espacial e salientando as bem equipadas áreas costeiras (praias) e o oposto das
margens (denominadas periferias), mal equipadas, e de moradias populares.
Essas transformações na região se intensificaram a partir da década de 1980
e vários foram os fatores que, segundo a população local, contribuíram para isso:
elevação do nível de vida da população brasileira; implantação da rodovia BA-099;
belezas naturais (praias, lagoas, dunas, rios); saturação de Salvador e Lauro de
Freitas, transformando o LNE em opção de residência ou residência secundária,
como refúgio dos problemas urbanos da capital e de Lauro de Freitas.
A influência do empresário Klaus Peters em Praia do Forte é dicotômica.
Apesar de alguns habitantes locais considerarem que “o alemão”, muitas vezes, com
o uso da força, não preservou a cultura dos povos tradicionais — objetivando a
segregação — prevalece a visão dos que admitem a nova situação e têm interesse
pessoal nisso:
Eles podem fazer de tudo. Tiram a vegetação das lagoas, mas aqui nos
proíbem de fazer tudo. Klaus Peters foi um exterminador como foi o Garcia
D’Ávila. Proibição foi o que ele fez. Proibia pesca, criação, coleta de frutas,
coleta de madeira [...] (Sr. J. B., 55 anos).

[...] tem a questão de que quem tem dinheiro e de quem não tem. Ganha
quem tem e aí, ele [Klaus Peters] venceu (Sr. L. C., 59 anos)120.

117
Corretor de imóveis de Guarajuba. Entrevista realizada no dia 06/12/2013.
118
Um dos resultados das situações de desigualdade espacial, são as migrações, sejam inter-
regionais, rurais-urbanas ou inter-urbanas (SANTOS, M., 2008 [1978]).
120
Da Sociedade São Francisco de Assis dos Pescadores e Moradores de Praia do Forte, em
203

O que o Peters programou para a Praia do Forte já tinha a pretensão de


inserir os brasileiros na lógica de desenvolvimento. Hoje os empreiteiros
121
não se importam com essa dimensão social (Sr. F. A. H. C., 40 anos) .

A ação de Peters foi boa. Ele organizou a comunidade e não deixou criar
favela. Do entroncamento para lá tem favela, droga (Sr. M. S. S., 37 anos).

Depois de Praia do Forte muita coisa mudou. Ganhamos comércio, escolas,


infraestrutura, policiamento. Praia do Forte é o centro do trabalho. Somos
procurados a todo instante por empresas hoteleiras. Viver sem Praia do
Forte é viver sem pé, sem cabeça. É o centro de tudo. Tudo começou com
Klaus Peters. Uns começaram a olhar Klaus Peters como o homem que
tinha comprado as terras e os colocar para fora. O projeto que ele teve não
foi de castrar, mas de ajudar. Muita gente foi ajudada por ele. A visão que
tinham de Klaus Peters mudou com o que hoje se vê (Sra. M. N. S. S., 58
122
anos) .

Descobriu-se a vocação turística do Litoral [Nordeste] e [...] a percepção


diferenciada do Klaus Peters conseguiu conduzir toda uma estratégia de
qualificação de Praia do Forte. Nós devemos muito ao Klaus Peters (Sr. P.
123
R. A. M.) .

O que se percebe é que a comunidade de Praia do Forte enfrentou muitas


lutas, mas encontrou no discurso da sustentabilidade ambiental um obstáculo
insuperável, de maneira que os habitantes do local, bem como boa parte das
pessoas residentes na região, apontam alguns pontos positivos resultantes das
transformações ocorridas: a geração de emprego e renda originada pelos hotéis,
pousadas e residências secundárias; relativa melhoria na qualidade de vida e de
itens de infraestrutura das localidades como saúde, educação e transporte. Mas os
pontos negativos indicados são preocupantes: falta de esgotamento sanitário em
muitas localidades; poluição dos mananciais aquíferos, com esgoto doméstico;
prostituição; gravidez na adolescência; falta de segurança; fim das atividades de
subsistência; falta de oportunidades para os jovens em cursos de capacitação e
qualificação; restrições às atividades extrativistas dos moradores locais; falta de
fiscalização do Governo, na distribuição desigual de terras; tráfico e consumo de
drogas; pedágio da rodovia BA-099; custo de vida alto em função do turismo e do
veraneio na região; e opressão contra os moradores antigos em circunstâncias

entrevista do dia 13/12/2013.


121
Corretor de Praia do Forte, em entrevista do dia 07/12/2013.
122
Da Associação Comunitária e Recreativa dos Moradores de Campinas de Açú da Torre, em
entrevista do dia 06/12/2013.
123
Da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente de Mata de São João, em entrevista do dia
13/12/2013.
204

especiais124.
Na morfologia dessas localidades, reflete-se o desenvolvimento econômico —
retratado no uso do solo e diferenças de renda dos indivíduos e dos grupos sociais
— com paisagens diferenciadas internamente entre setores “ricos” e “pobres”, sendo
observados: a composição dos habitantes, aspectos relacionados com as
características e problemas sociais, qualidade construtiva das habitações e espaços
públicos.
A abordagem marxista, segundo Clark (1985[1937]), explica a questão em
termos da organização da sociedade no capitalismo: os proprietários fundiários e os
operadores do mercado imobiliário impõem as maneiras lucrativas de assegurar a
ordenação do uso do solo numa certa localização de seu interesse (atividades
comerciais e residenciais), fragmentando-a cada vez mais e segregando seus
moradores de acordo com a estratificação social, sendo os pobres as grandes
vítimas dessa segregação, que, no “partir do bolo” lhes reserva o menor ou pior
pedaço (SANTOS, M., 1990).
Até mesmo no sistema socialista, a redistribuição pelo poder público de boas
habitações “[...] em uma boa localização foi uma maneira de garantir privilégio nas
sociedades [...]. Portanto, a evolução nem sempre desafia o passado capitalista,
mas, ao contrário, continua seus padrões sócio-espaciais [...]125 (ROUPPILA, 2004:
15, tradução nossa) fragmentando e segregando a cidade. Ou seja, os processos de
segregação sócio-espacial-residencial não são concernentes às cidades capitalistas,
mas são configurados em benefício dos grupos mais privilegiados da população.
De acordo com Topalov (1984: 160, tradução nossa)126, o espaço dos grupos
de alta renda “[...] não pode ser marcado de distinções porque é ‘objetivamente’
diferente”. Segundo Carlos (2004) essas diferenças — forma mais visível das
diferenciações de grupos sociais no espaço — são resultantes dos processos de
produção material, com predominância das formas capitalistas de construção da
habitação, processos que por si próprios operam, segundo Topalov (1984), a
fragmentação e a segregação espacial. Assim, as localidades habitadas pelos ricos
124
Por não ser objeto de investigação do trabalho em pauta, a questão não foi investigada.
125
“[...] in a good location was one way to grant privilege in socialist societies [...]. Therefore,
developments did not always challenge the capitalist past, but rather continued its socio-spatial
patterns [...]” (ROUPPILA, 2004: 15).
126
“[...] ne peut être signe de distinction que parce qu’il est ‘objectivement’ différent” (TOPALOV,
1984: 160).
205

são as que preferencialmente detêm como privilégios os melhores e maiores


investimentos em infraestrutura e equipamentos públicos, pois o Estado, em uma
sociedade capitalista, promove ações de planejamento e gestão que, normalmente,
facilitam e ou contribuem para a manutenção e ou aumento das desigualdades
sócio-espaciais. Logo, entende-se ser mesmo privilégio e distinção, pois a oferta de
infraestrutura urbana deveria ser disponível para todas as partes da cidade.
Segundo Villaça (2001), historicamente, o Estado no Brasil tem sempre
privilegiado investimentos na área de alta concentração de grupos de alta renda.
Assim, para não fugir à regra, os recursos são distribuídos de forma desigual no
LNE: áreas mais ricas consomem maiores recursos; áreas mais pobres sofrem com
a escassez de investimentos (SOUZA, M.; RODRIGUES, ADYR, 2004). Isso, mesmo
tendo como princípios orientadores da política de desenvolvimento urbano dos
municípios de Camaçari e Mata de São João a democratização do acesso à cidade
e à cidadania, materializada no direito à moradia, à qualidade ambiental,
infraestrutura, serviços urbanos e sociais, cultura, esporte e lazer (BAHIA, 2008,
Capítulo II Art. 4º - I; BAHIA, 2006, Capítulo I, Art. 73 - I).
Nesse sentido, o planejamento e a gestão municipal realizados sob a égide
dos Planos Diretores de Desenvolvimento Urbanos (PDDU's), sequer alcançaram a
escala adotada. Mesmo que sejam assegurados aos cidadãos bens e serviços
públicos indispensáveis, desconhece-se o seu espaço enquanto cidadão (SANTOS,
M., 1993 [1987]).
É como se o Estado estivesse “esquecido” dessas localidades habitadas
predominantemente por pobres ao longo da rodovia BA-099 no LNE:

Areias é praticamente abandonada pela prefeitura, que esquece muito este


127
lado de cá da orla (Sr. D. B., 76 anos) .

Os políticos só conhecem a gente em época de eleição. Areias está jogada


128
às traças (Sra. M. G., 46 anos) .

Praia do Forte é a prioridade do governo. Nós somos o lado esquecido


129
pelos gestores (Sr. P. A., 49 anos) .

Estamos hoje com uma apartheid na região. Do lado contrário ao mar muita
droga, prostituição, criminalidade e uma vergonha na questão de

127
Membro da Associação Unidos de Areias, em entrevista do dia 14/12/2013.
128
Moradora de Areias, em entrevista do dia 10/05/2014.
129
Vereador de Açú da Torre – Mata de São João, em entrevista do dia 06/12/2013.
206

130
infraestrutura básica (Sr. S.)

A figura 27 evidencia os contrastes entre os “ricos” e os “pobres” nas


localidades de Guarajuba e de Areias, através das diferentes formas de habitação e
de equipamentos públicos, constatando-se a distribuição desigual dos recursos. Em
Guarajuba — local também conhecido como balneário131 — há a predominância de
residências secundárias e de população flutuante de veranistas. Fazendo parte da
paisagem, amplas e confortáveis residências, vegetação e jardins bem cuidados,
ambiente limpo e seguro. Na localidade de Areias, de atividades rurais
remanescentes de períodos anteriores, a urbanização é consolidada a partir de uma
rua principal e modestas ou precárias moradias e infraestrutura urbana compõem a
paisagem local.
Para o Secretário de Planejamento e Meio Ambiente do município de Mata de
São João o turismo da área costeira é estratégico132. O discurso é valorizar as áreas
turísticas, como em Praia do Forte, dando continuidade ao plano urbanístico do
empresário Klaus Peters. Isto significa conservar a vila “dos pescadores” e criar, no
entorno, loteamentos fechados para clientes da renda alta, o que não justifica o
abandono das demais localidades, implicando a segregação residencial e a
fragmentação do espaço.
Segundo o secretário, muitos investimentos estão sendo feitos em Praia do
Forte em função da arrecadação municipal. Assim explica o gestor:

[...] se antes a sede mantinha o litoral, hoje, o litoral mantém a sede. Aqui
[Praia do Forte] conseguimos o maior montante de nossos recursos. Em
2005, a arrecadação do município girava em torno de R$ 50.000.000,00 No
ano passado [2012] nossa arrecadação girou em torno de R$
113.000.000,00 sendo, a maior parte, recursos próprios. Mas muita coisa
nós conseguimos em termos de captação do governo federal. Existem em
Brasília projetos aprovados girando em torno de R$ 200.000.000,00, como a
estrada que fará ligação sede-litoral. Isso seria relevante para que os
moradores da sede venham ao litoral [...].

130
Presidente do Partido Verde, em depoimento no Seminário Saberes do Litoral Norte, em
21/08/2013.
131
Situações urbanísticas que não chegam a configurar uma concentração urbana completa e
complexa e com a função principal de atendimento às demandas turísticas, tanto para veraneio como
para férias, além de abrigarem, em pequena escala, a moradia fixa (PROJETO ORLA, 2002).
132
Elaboração de política vinculada ao turismo tem por objetivo a exploração econômica da orla
marítima e, a partir deste produto, despertar o interesse turístico do município como um todo (BAHIA,
2006, Capítulo I, Art. 17 – VI).
207

Figura 27 – Diferentes formas de habitação e espaços públicos em Guarajuba e Areias


Guarajuba

Areias

Fonte: Fotos, Denise Magalhães, 2013 e 1014.

Assim, o capital, em todas as suas formas, depende de sua localização no


espaço (SANTOS, M.,1993 [1987]. Outros autores como Topalov (1984), Lojkine
(1997), Harvey (1980 [1973]) e Brito (2005), também levam a perceber o valor da
localização de Praia do Forte no espaço geográfico em análise, para onde converge
o maior montante dos recursos municipais. Para Topalov (1984), espaços de grupos
de renda alta é ‘objetivamente’ diferente, revelando, segundo
segundo Lojkine (1997) uma
“primeira segregação” no nível de habitação e padrão construtivo da residência, com
grande diferença para as localidades circunvizinhas do outro lado da rodovia.
Acrescenta Harvey (1980 [1973]), que a localização é também fonte de re
renda
diferencial, bem como fonte da fragmentação e segregação sócio
sócio-espacial-
residencial, alimentadas, de acordo com Brito (2005), por um lucrativo mercado
imobiliário de terras urbanas.
208

8.5 OS EQUIPAMENTOS URBANOS E A INFRAESTRUTURA BÁSICA COMO


MATERIALIDADE DE UM ESPAÇO URBANO DESIGUAL

Buscando-se a essência dialética da reprodução da vida, que entrelaça os


processos sociais e as formas espaciais do espaço geográfico (CASTELLS, 1983;
HARVEY, 1980 [1973]; MOREIRA, 2009; SANTOS, M., 2008 [1993]; SOJA, 1993),
analisa-se a urbanização no LNE baiano, vinculada a sua materialidade, sem a qual,
de acordo com Santos, M. (1990), a maneira de ser e viver do homem e da
sociedade, dificilmente poderia ser entendida.
Com essa finalidade foram definidas sete categorias de equipamentos
urbanos133 e infraestrutura básica cuja oferta e sua qualidade concorrem para a
estruturação e qualificação da urbanização nas localidades estudadas e que
também distinguem e hierarquizam os grupos sociais. São eles: energia elétrica e
telecomunicações, serviços públicos básicos, comércio e serviços privados,
transporte público e equipamentos de lazer134 (Tabela 21).
A maior ou menor concentração desses equipamentos urbanos implica o
respectivo grau de urbanização dessas localidades. Assim, pode-se considerar que
localidades mais consolidadas como Abrantes, Arembepe, Praia do Forte, Monte
Gordo, Barra do Pojuca e Jauá têm um maior grau de urbanização porque são mais
equipadas e outras como Malhadas, Areias e Barra do Jacuípe um menor grau de
urbanização (menos equipadas). Destas distinguem-se, também, Guarajuba e
Itacimirim, fato explicado por serem localidades turísticas cuja população flutuante
de grupos de renda média e alta podem dispensar muitos equipamentos urbanos e
serviços — postos de correio, transporte público, escolas, creches, lan house etc —,
básicos às demais localidades com uma população residente.
Percebe-se que todas as localidades contam com serviços de: rede de
energia elétrica — prestado através da Companhia de Energia Elétrica do Estado da
Bahia (Coelba) — de telefonia e de TV a cabo/via satélite; sistema de água
encanada realizado pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento S. A. (Embasa)

133
Considerados os bens (públicos ou privados), de utilidade pública, implantados mediante
autorização do poder público, em espaços públicos ou privados, e necessários ao funcionamento das
localidades. Funcionam como suporte material para a prestação de serviços básicos de educação,
saúde, segurança, lazer etc.
134
O trabalho de campo foi realizado em 2013, quando foram feitas observações in loco e entrevistas
com moradores e comerciantes locais.
209

Tabela 21 - Equipamentos urbanos e infraestrutura básica das localidades ao longo da rodovia BA-099, 2013

Continua
Municípios - Localidades
Equipamentos urbanos e Camaçari Mata de São João
infraestrutura básica Barra do Barra do Monte Açu da Praia do
Abrantes Areias Arembepe Guarajuba Jauá Itacimirim Malhada
Jacuípe Pojuca Gordo Torre Forte
Total 28 20 28 20 27 23 25 13 27 18 21 28
Lan House 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1
telecomuni-

Posto dos Correios 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 0 1


Energia e

cações

Rede de Energia Elétrica 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1


Rede de Telefonia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Telefone Público 1 1 1 0 0 1 1 0 1 1 1 1
TV a Cabo/Via Satélite 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Creche 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 1 1
Escola do Ensino Médio 1 1 1 0 1 0 0 0 1 0 0 0
Serviços
públicos
básicos

Escola de Ensino
1 1 1 1 1 0 1 0 1 1 1 1
Fundamental
Segurança Pública 1 0 1 0 1 1 1 0 1 1 1 1
Unidade de Saúde 1 1 1 1 1 0 1 0 1 0 1 1
Agência Bancária 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 1 1
Casa Lotérica 1 0 1 0 1 0 0 0 1 0 0 1
Centro Comercial
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
serviços privados

Varejista
Farmácia 1 0 1 1 1 1 1 0 1 0 1 1
Comércio e

Mercearia 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0
Posto de
Autoatendimento (Caixa 1 0 1 0 0 1 1 0 1 0 0 1
Eletrônico)
Segurança Particular
1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 0 1
(Ronda, Residencial)
Shopping Center 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
Supermercado 1 1 1 0 1 1 1 0 1 0 0 1
210

Conclusão
Municípios - Localidades
Equipamentos urbanos e Camaçari Mata de São João
infraestrutura básica Barra do Barra do Monte Açu da Praia do
Abrantes Areias Arembepe Guarajuba Jauá Itacimirim Malhada
Jacuípe Pojuca Gordo Torre Forte
Saneamento básico
e limpeza pública

Água Encanada 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Esgotamento Sanitário 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 1

Coleta de Lixo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Limpeza Urbana 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Transporte

Ônibus (Empresa) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
público

Alternativo(Van e Moto
1 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Táxi)
Não Pavimentada 1 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 0
Vias

Pavimentada 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Praças, Parques,
Área de Lazer 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1
Lazer

(calçadão à beira-mar)
Barraca de Praia 0 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1
Restaurante 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1
Fonte: Pesquisa Direta, 2013.
Notas: Formatação da tabela a partir da ideia de Pereira, 2012.
o. o.
O n 0 indica a inexistência do equipamento; o n 1 indica a existência do equipamento.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
211

do Governo estadual, mas é comum a construção de poços artesianos privados


pelos moradores, concomitante ao uso do sistema convencional, pois, em períodos
de maior concentração populacional, como feriados prolongados e datas festivas,
falta água; e serviço de limpeza pública prestado pelas respectivas prefeituras,
embora muitos residentes consideram o serviço ineficiente.
O serviço de esgotamento sanitário adequado constitui-se um direito da
população, mas, sendo negligenciado pelo poder público, é mais uma demanda dos
residentes pobres — especialmente, de Abrantes, Areias, Arembepe, Barra do
Jacuípe, Jauá, Açú da Torre e Malhadas — que são os mais afetados, pois
convivem com sérios problemas ambientais e de saúde pública, na medida em que
são áreas de maior adensamento populacional. Nessas localidades, bem como em
Guarajuba onde, também, o esgotamento sanitário é ausente, se faz uso do sistema
individual (fossas sépticas) que pode ser pernicioso, principalmente em áreas
próximas à costa, contaminando o lençol freático.
Dos serviços públicos básicos, é notória a preocupação dos moradores locais
com a questão da segurança pública. Note-se que Areias, localidade à esquerda da
rodovia, com predomínio de moradores de renda baixa, não conta com quaisquer
elementos de segurança, seja um posto policial ou rondas.
Entretanto, Praia do Forte possui uma mini-delegacia e um posto da polícia
militar, com três viaturas, que promove rondas externas, atendendo diversas
localidades adjacentes. A este respeito há manifestações positivas na comunidade:

Praia do Forte é um local que tem segurança [...] um lugar mais ordeiro (Sr.
135
E. A. B., 52 anos) .

Depois de Praia do Forte muita coisa mudou. Ganhamos comércio, escolas,


136
infraestrutura, policiamento (M. N. S. S., 58 anos) .

Em Praia do Forte, existe, também, um posto de polícia ambiental cujo


trabalho consiste basicamente na orientação quanto aos procedimentos de
segurança ambiental e atenção aos animais silvestres, atuando, ainda, em questões
sociais, assim como ocupações informais e desmatamento.
Quanto aos serviços de educação há escolas de ensino fundamental e médio
135
Corretor de Praia do Forte, em entrevista do dia 13/12/2013.
136
Da Associação Comunitária e Recreativa dos Moradores de Campinas de Açú da Torre, em
entrevista do dia 06/12/2013.
212

em Abrantes, Arembepe, Barra do Pojuca, Monte Gordo e Açú da Torre, que


também atendem os alunos de localidades do entorno. Entretanto, essa situação
não é ideal, pois implica, para as famílias, um custo adicional de deslocamento de
seus filhos.
Todavia há necessidade de criação de cursos profissionalizantes a serem
ministrados nas localidades especialmente voltados para as demandas do mercado
empregador local. Observou-se a inadequação da mão de obra local, relativamente
aos empregos oferecidos pelos empreendimentos hoteleiros e turísticos da região,
que, de modo geral, contratam profissionais residentes em Salvador.
Postos de saúde sediam os serviços do Programa Estratégia da Saúde da
Família (antigo Programa Saúde da Família no Brasil), existentes nas localidades de
Abrantes, Areias, Arembepe, Barra do Jacuípe, Barra do Pojuca, Jauá, Monte
Gordo, Malhadas e Praia do Forte. Tal programa existe no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS) e o acesso a ele se faz mediante cadastramento e vinculação dos
usuários.
A consolidação desses programas depende da parceria estabelecida entre os
Governos federal, estadual e municipal, apesar da sua eficácia ser restrita: em
Monte Gordo, observa-se carência de profissionais de saúde e as pessoas das
localidades mencionam a ineficiência dos serviços prestados, a exemplo do que é
exposto em jornal local:

Chegou ao fundo do poço a situação da saúde pública em localidades da


orla do município de Camaçari, como Jauá, Abrantes, Areias.
[...]
Indignados com o descaso da Prefeitura [...] moradores de Abrantes
prepararam um protesto [...] em frente à Unidade de Saúde da Família
(USF) [...].
O colapso no atendimento à população se constata nos postos de saúde
fechados, na falta de remédios de uso contínuo e de material para curativo,
na impossibilidade de marcar consultas com especialistas e exames
laboratoriais porque as cotas se esgotaram [...].
A população de Jauá só é atendida no posto de saúde as terças pela
manhã e as quintas o dia inteiro. Por quê? [...] Isso revela erro de gestão,
ineficiência administrativa e configura abuso contra a população! [...]
137
(MANDIM, 2013) .

A principal demanda dos moradores do LNE baiano refere-se à falta de um


hospital, cuja implantação está prevista por intermédio do Consórcio Intermunicipal
da Costa dos Coqueiros (BAHIA, 2006, Capítulo I, Art. 20, IX). Na falta desse

137
Ana Maria Mandim é jornalista e editora do jornal “Jauá Abre o Bico”.
213

hospital geral, os casos de urgência e emergência são encaminhados às cidades de


Camaçari ou Mata de São João. Os hospitais de Salvador são procurados somente
em casos de extrema complexidade ou exames médicos específicos.
Os estabelecimentos comerciais e de serviços privados ainda são
considerados insatisfatórios, principalmente no tocante às agências bancárias e
equipamentos substitutivos dessas. Apenas Arembepe, Barra do Pojuca, Guarajuba,
Jauá e Praia do Forte possuem agências bancárias, sendo que nas demais
localidades a população recorre aos serviços parciais das casas lotéricas e postos
de autoatendimento. As localidades de Areias, Barra do Jacuípe, Itacimirim, Açú da
Torre e Malhadas não possuem nem esses serviços.
Usualmente os moradores das localidades buscam as agências bancárias em
localidades próximas, como é o exemplo dos moradores de Malhadas e Açú da
Torre, os quais utilizam a agência de Praia do Forte, e os de Monte Gordo, a
agência de Guarajuba. Estas localidades são privilegiadas por disporem desses
equipamentos coletivos e cuja “refinação” reforça a segregação das camadas de
grupos de renda média e alta (TOPALOV, 1984).
O abastecimento alimentar é feito, em quase sua totalidade, por compras em
mercearias, em nove localidades existem supermercados. Os centros comerciais
varejistas geralmente se agrupam nas ruas principais. Caracterizam-se por
pequenas lojas de mercadorias e serviços variados como: vestuário, vidraçaria,
locadoras de automóveis, cabeleireiro, oficinas, farmácias/drogarias dentre outros.
Há pequenos shoppings centers em Guarajuba e em Praia do Forte, oferecendo
pouca diversificação de bens e serviços. Sendo que a própria localidade de Praia do
Forte funciona como verdadeiro shopping center aberto, já que as lojas se
concentram na rua principal.
Nas localidades de Abrantes, Arembepe, Barra do Pojuca, Guarajuba, Jauá,
Itacimirim, Monte Gordo e Praia do Forte são contratados seguranças privados ou
empresas de segurança para atender aos comerciantes. Os condomínios fechados
contam com sistemas de segurança — grades de ferros, muros altos, portões
trancados, câmeras, portarias, vigias e guardas armados — que promovem o “bem-
estar” dos moradores, ao tempo em que exibem seu status (CALDEIRA, 2000),
acentuando ainda mais a segregação sócio-espacial-residencial local. Convém
lembrar que quem ocupa esses postos de trabalho são os moradores das áreas
residenciais populares.
214

Villaça (1998) considera que os transportes — meio de deslocamento das


pessoas — desempenham um papel fundamental na estruturação do território, tanto
intraurbana como regional. Na categoria de transporte público rodoviário há na
região, três opções, duas são de transporte coletivo: os ônibus de empresas
privadas e as vans de proprietários individuais. Há ainda as moto-taxis, usadas para
trajetos mais curtos, mas, obviamente, levam apenas uma pessoa por vez. Tanto o
transporte em vans, quanto em motos são meios alternativos.
Em Itacimirim, tais serviços não são oferecidos à população de veranistas e
moradores de média e alta renda, que se deslocam quase exclusivamente com seus
automóveis particulares. Mas não é o que acontece com os prestadores de serviços
domésticos que moram principalmente em Barra do Pojuca, “do outro lado” da
estrada, que só têm como opção para o deslocamento diário, as moto-táxis ou
bicicletas, mesmo diante da previsão da mobilidade e da acessibilidade em todo o
território municipal (BAHIA, 2008, Capítulo VI, Art. 11º - VI).
A ausência de transporte coletivo, para Itacimirim, ocorre por conta de
veranistas e moradores que, em atitude segregacionista consideram esse fato
positivo (para si mesmos), em prol da “tranquilidade” de que gozam.
A acessibilidade (o transporte) — força dominante da estruturação espacial
urbana —, varia, segundo Villaça (1998), conforme os veículos utilizados e grupos
sociais, com a distinção entre os que dependem do transporte público e entre os que
possuem o veículo individual. Ou seja, entre os grupos de baixa, média e alta renda,
sendo os primeiros, de maneira geral, mais prisioneiros do espaço que os segundos,
cuja mobilidade é bem maior.
As praias da Barra e da Espera, em Itacimirim, são as únicas ditas “abertas”
ao público, apesar da contradição pelos próprios veranistas: “praia mais seleta, não
entra ônibus” (Sra. D. M., 64 anos). “Praticamente a praia é exclusiva para
moradores. Não tem farofeiro, gente que vem de ônibus” (Sr. H. N, 76 anos). A falta
de transporte coletivo também é restritiva à frequência às praias pelos moradores
pobres do entorno, embora lhes sejam facultados esses direitos, não só para o lazer,
como para a educação, o trabalho etc. (BAHIA, 2008).
Em Areias não há nem serviço de moto-táxi. Nesse caso as pessoas são
obrigadas a utilizar o serviço de localidades próximas. Seus moradores são, em sua
maioria, pobres. Essa maioria não possui automóvel (fator primordial de segregação)
e motocicleta (que não tem o mesmo prestígio) pouco se observa na localidade. De
215

modo geral, a população transita a pé ou de bicicleta.


É notório que, a partir da localização das vilas e povoados, a questão do
transporte coletivo afeta, notadamente, os indivíduos de renda baixa, onerando os
deslocamentos entre o local de residência (espaço da reprodução) para o trabalho
(espaço da produção) e vice-versa, bem como para o lazer (especialmente para as
praias).
Esta articulação acessibilidade/proximidade é significante, havendo um
desequilíbrio no uso do solo urbano, pois os pobres deveriam necessariamente viver
onde pudessem gastar menos dinheiro para viver (HARVEY, 1980 [1973]). É uma
segregação também no nível do transporte coletivo-trabalho contrastando com os
privilégios do uso dos automóveis (LOJKINE, 1997).
Apesar da rede de transporte criar acessos, vizinhanças, convergências,
pode, também, trazer distanciamentos, disjunções, que os moradores de Areias não
aceitam. A duplicação da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, com suas vias de
retorno inadequadas à localidade, é uma barreira impeditiva/restritiva à circulação
dos indivíduos. Nesse caso, o sistema segrega sua própria territorialidade, que as
sociedades vivem (RAFFESTIN, 1993). Os moradores de Areias, bem como os de
Jauá se sentem injustiçados com a instalação de um pátio de pedágio138 em suas
proximidades. Consideram que deveria haver passe livre para os moradores, já que
a taxa de travessia é alta (R$ 7,50 para veículos pequenos) e onera seus
rendimentos. Acrescente-se que têm a garantia da Lei nº 866/2008 (CAMAÇARI
(Bahia), 2008) que, no Capítulo VI Art. 11º - IX, estabelece sua livre circulação entre
todas as localidades do município, sem cobrança de pedágio. Também não existem
vias alternativas, pois uma passagem por uma fazenda local (Las Palmas) foi
impedida por decisão judicial; outra estrada que liga Abrantes a Jauá não é
recomendável à noite por questões de insegurança.
O advento do pedágio também trouxe transtornos para os moradores e
veranistas das demais localidades, que questionam a obrigação do Estado, que já
cobra IPVA139, exatamente com a finalidade de prestar manutenção das estradas,
constituindo, por esse motivo, bitributação, exatamente por falta de vias alternativas
de acesso. Em contrapartida, parcela significativa de pessoas de média e alta renda

138
Por conta da concessão, pelo Estado, à Concessionária Litoral Norte (CLN).
139
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores.
216

avalia positivamente o pedágio, em função da conservação e manutenção da


rodovia, bem como dos serviços prestados pela concessionária.
São os comerciantes locais que se queixam de uma redução considerável do
fluxo de pessoas em função do pedágio, principalmente nas localidades de Areias e
Jauá.
Comprovando que a segregação não precisa de muros, nem tecnologias de
segurança, observe-se a opinião da Sra. C. A. (57 anos), veranista presente em
barraca da Praia da Espera, em Itacimirim que, ao ser questionada sobre o pedágio
da rodovia afirmou: “deveria ser mais caro e a cerveja deveria ser mais cara para vir
menos gente”.
De acordo com Moraes (2007), enquanto produtor do espaço, é o Estado,
através de seus diferentes órgãos, o mais impactante da área costeira, não só pela
instalação de grandes equipamentos, mas pela dotação de infraestruturas, como as
estradas. Neste quesito é fundamental a rede rodoviária estadual e intermunicipal da
região, formada pela BA-099, bem como pelas BA-522 e BA-512, que ligam a
porção litorânea à sede de Camaçari. Estradas vicinais costeiras interligam as
localidades, como entre Abrantes, Jauá e Lauro de Freitas, tornando a circulação
mais fácil e o território fluido, tendo como consequência uma acessibilidade física
maior dos indivíduos (SANTOS, M., 2008 [1993]), refletindo, também, uma
urbanização regional unificada pelo transporte e comunicação.
Todo o sistema viário que dá acesso às localidades possui vias
pavimentadas, com bom revestimento asfáltico, evidenciando o papel das
respectivas prefeituras e do estado. É pequeno o número de vias intraurbanas não
pavimentadas nas citadas localidades, existindo, como no caso de Açú da Torre e
Areias, reclamação dos moradores quanto a esta situação em áreas mais distantes
dos respectivos centros.
Outra situação relatada pelos moradores das localidades é a privatização de
ruas por empreendimentos hoteleiros e condomínios fechados que dão
acessibilidade às praias. Nesta situação encontra-se Itacimirim cujos próprios
veranistas e demais pessoas do local se sentem impedidos do direito de “ir e vir” em
algumas vias. O controle, com porteiro, da ponte que dá acesso ao Condomínio
Quinta das Lagoas, na Ilha do Meio, reflete tal situação.
As praças são as que mais se destacam na morfologia das localidades
estudadas. Um centro para o qual convergem e através do qual se articulam os
217

principais fluxos de pessoas e veículos. Espaços públicos distintos pelas práticas


cotidianas e dinâmicas sociais, que neles se desenvolvem (SERPA, 2009), são
locais mais aprazíveis para onde afluem os moradores e visitantes em dias de feiras
livres ou momentos de ócio, lazer ou festividades.
As praças e outros espaços públicos são bem cuidados em Guarajuba e Praia
do Forte, pois são mais frequentadas por veranistas e turistas, e investimentos de
iniciativa privada na região (setor hoteleiro e imobiliário) beneficiam-se desses
investimentos públicos no domínio da infraestrutura turística. Em outras localidades
expressam o abandono das administrações municipais e estadual, ressalvando-se a
recente obra de recuperação da Praça de Monte Gordo, em Camaçari.
Das doze localidades, Itacimirim é a única que não tem praça, indicando outra
face segregacionista da maioria dos proprietários e ou visitantes que costuma
afirmar: “Itacimirim é um lugar especial. Não tem praça para reunir gente bebendo”
(Sr. H., 76 anos). “Deste modo, a segregação surge em contradição à reunião
(sentido mais profundo da prática urbana)” (CARLOS, 2013: 96).
Restaurantes localizados na beira de praia têm melhor infraestrutura, como
em Guarajuba, contrapondo-se aos de Areias, Barra do Pojuca, Monte Gordo e
Malhadas. Os comerciantes donos de barracas de praia, de Arembepe, Barra do
Jacuípe, Guarajuba, Jauá e Praia do Forte vivem em constante estado de alerta por
dois tipos de ameaça. A primeira delas refere-se àquela atribuída pela erosão
costeira (Figura 28)140, a outra, atribuída aos poderes públicos que pela falta de um
planejamento urbano eficiente direcionado para a orla marítima, os estabelecimentos
ficam sujeitos a inesperados processos de derrubadas.
Conclui-se, portanto, que as localidades do LNE apresentam carência de
serviços básicos e desigual distribuição social dos equipamentos urbanos coletivos,
essencial à garantia de melhores condições de vida da população, e, como
consequência da apropriação privada do solo, a fragmentação do valor de uso,
conduzindo à segregação social e espacial (LOJKINE, 1997).
Os moradores permanentes das localidades buscam atividades de mais alto

140
Ocupação humana nos ambientes costeiros vem acentuando, cada vez mais, a erosão costeira
local, evidenciando transformações no ambiente praial, fazendo com que os comerciantes recorram à
utilização de sacos de areia com o propósito de conter o intenso processo erosivo, principalmente por
ocasião das marés de sizígia (marés vivas). Os danos materiais que o fenômeno tem gerado veem
preocupando pesquisadores (DOMINGUEZ et al, 2006), considerando que a vulnerabilidade à erosão
no trecho do LNE baiano poderá a se tornar mais acentuada nas décadas vindouras, provocando
potenciais consequências na linha da costa (BITTENCOURT et al, 2010).
218

nível que ocorrem predominantemente em Salvador e, complementarmente, em


Camaçari
maçari ou Lauro de Freitas, motivados pela proximidade espacial e
acessibilidade. Garante-se,
se, desta forma, a hierarquia da metrópole e através dessa,
todas as localidades são funcionalmente centrais, ou seja, lugares funcionais da
metrópole (SANTOS, M., 2008
20 [1993]).

Figura 28 – Praia de Guarajuba em 1974 e 2013

Fonte: Fotos, Dilberto Mendonça e Denise Magalhães, 1974 e 2013.

8.6 AS PRAIAS E OUTROS BENS PÚBLICOS DE ACESSO RESTRITO NA


REGIÃO

Dezenas de grandes empreendimentos hoteleiros, milhares de loteamentos e


condomínios de residências secundárias ao longo do LNE constituem
constituem-se em
verdadeiras barreiras físicas impedindo a acessibilidade dos transeuntes às praias,
apesar de constituírem “[...]
“[.. bens públicos de uso comum do povo, sendo
assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e
sentido [...] (Art. 10 da Lei Federal no 7.661,
661, de 16 de maio de 1988). O aumento dos
empreendimentos tem agravado a situação e os moradores das localidades pobres
se vêm excluídos do seu direito, inalienável, de acesso à praia nos fins de semana,
muitas vezes como única
a opção de recreação e lazer. Dentre os vários motivos
apontados (Figura 29)) a questão da acessibilidade às praias é um dos mais
relevantes.
219

Figura 29 – Principais motivos de impedimentos e/ou restrição de passar em áreas de


praia – Litoral Nordeste da Bahia, 2014

2,67%
1,33%
3,33% Pedágio: Falta de vias alternativas
ou trásito congestionado.
Pedágio: falta de
viasvéiculo
Acesso com alternativas ou
em Praia do
Forte. trânsito
14,00% congestionado.
28,67%
Acesso às praias, por
Acesso com veículofechados,
loteamentos/condomínios
hoteis. em Praia do Forte.

Acesso a condomínios fechados.


Acesso às
24,67% Privatização de rua
praias, por e/ou ponte em
Itacimirim. loteamentos/condo
25,33% minios
Acesso ao fechados,
Complexo Sauipe.
hotéis.
Acesso a
Acessso dos moradores ao
condomínios
Projeto Tamar em Praia do Forte.
fechados

Fonte: Coleta de campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Das 1.332 pessoas entrevistados, 24,7% (principalmente moradores)


apontam a impossibilidade desse acesso, a exemplo do que é exposto,
exaustivamente:

Depois desses hotéis, todo mundo está perdido. Os nativos não entram na
praia. Os “barão” tomaram conta da cidade. Quem manda agora são os
hotéis. Os nativos estão sem moral. Você hoje não pode mais pescar um
peixinho, pegar lagosta. A tradição da pesca acabou (Sr. G., 52 anos,
morador nascido em Açú da Torre).

Colocaram cancela nas praias [referindo-se ao Hotel Fronteira Tropical];


queriam privatizar. Tivemos que colocar fogo na cancela. Trouxeram
tratores para derrubar os barracos. Quiseram fazer um muro: o “muro de
Berlim”. Queriam privatizar a praia para vender água de coco para brasileiro
nenhum comprar (Sra. I. N., 22 anos, moradora de Barra do Pojuca e dona
de barraca na Praia da Barra, em Itacimirim).

As praias de Itacimirim eram usadas pela população de Barra do Pojuca


com grande fluxo de pessoas que não existe mais. Na década de 1990
fecharam a praia do Porto, onde hoje existe o Hotel Pousada do Porto (Sr.
L., 50 anos, morador de Barra do Pojuca).
220

Só quem tem direito de ter acesso à praia é barão, é turista (Sr. B. C. C., 58
anos, morador de Areias).

No condomínio Interlagos até na beira da praia os seguranças impedem da


gente ficar. Os seguranças abordam nos fins de semana e se for passando
o segurança segue de uma ponta à outra (Sr. E., 50 anos, morador de
Areias).

O condomínio Interlagos é fechado. Para ir à praia passamos por baixo do


arame, pois a Millenium [atual Cristal Pigmentos do Brasil S.A.] cercou a
área. São quatro quilômetros de mato e areia, a pé. Jauá fica mais distante.
Só de moto-táxi, pagando R$ 7,00 (Sr. R., 37 anos, morador de Areias).

Percebe-se especificamente a exclusão explicita dos moradores de Açú da


Torre, Barra do Pojuca e Areias diante da grande dificuldade de acesso à praia, do
outro lado da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”. Em Areias, em ponto
estratégico existe uma passarela, mas o acesso aos pedestres é obstruído pela
cerca nas terras de propriedade da fábrica Cristal Pigmentos do Brasil S.A. e pelo
condomínio Interlagos vizinho. A praia de Jauá é uma opção, mas como está a
alguns quilômetros de distância, os moradores pobres obviamente alegam a falta de
recursos com a passagem do coletivo. Com isso, segundo Harvey (1980 [1973]: 116,
acréscimos nossos): “[...] o pobre tem pouco dinheiro para gastar em transporte; e
por isso seu poder de decidir sobre o uso do solo declina rapidamente com a
distância do lugar [de lazer ou de emprego]”. O poder de decidir para o rico não é
muito afetado pela soma de dinheiro investida em transporte.
Não só moradores se sentem impedidos do seu direito de frequentar as praias
do LNE para o lazer. Na praia de Guarajuba, vendedores ambulantes também se
sentiram coibidos, conforme o relato de antigo veranista da localidade:

[...] quiseram privatizar a praia em frente ao condomínio Paraíso dos Corais,


impedindo as baianas de acarajé e vendedores de coco de venderem,
segundo eles “sujando a praia”. Apreenderam as mercadorias, o que
motivou fazerem um abaixo assinado à Prefeitura de Camaçari,
reivindicando o direito de venderem na praia (Sr. D. M. S., 74 anos,
veranista de Guarajuba, entrevista em 18/01/2014).

Esse e outros loteamentos que muitas vezes se auto-denominam


“condomínios” — prática ilegal comum no LNE — estão instalando portarias e
impedindo as pessoas do acesso às praias, rios, lagoas (bem comum do povo),
dificultando o lazer e trabalho de marisqueiros e pescadores e negando-lhes o direito
de transitarem livremente em vias públicas. O “condomínio” Paraíso do Corais
221

(Figura 30) é exemplo de apropriação particular ilegal de terras públicas próximas ao


mar — com a conivência da prefeitura de Camaçari — revertendo no propósito de
privatizar a praia, impedindo a circulação dos vendedores ambulantes, apesar de
que a mobilização dos trabalhadores e medida adotada pela Associação dos
Barraqueiros e Ambulantes da Praia de Guarajuba junto à Prefeitura resultou
favorável.

Figura 30 – Condomínio Paraíso dos Corais, em Guarajuba – 2015

Fonte: http://www.aluguetemporada.com.br/imovel/p3692750.
Acesso em: 20 jul. 2015.

Entretanto, não se pode deixar de mencionar que a exemplo das praias,


outros locais da região são obstruídos para o acesso dos moradores, sendo o caso
do Complexo Sauipe ou Projeto Tamar de Praia do Forte, ambos em Mata de São
João. Nesta última localidade141, comerciantes e comerciários reclamam da
dificuldade de entrar com veículos para a entrega de mercadorias. Em Itacimirim, a
população (3,3%) reclama tanto de certas ruas privatizadas por conta dos hotéis,
como em ter acesso à Ilha do Meio pela ponte, sendo esta vigiada por segurança.

8.7 EMPREENDIMENTOS HOTELEIROS, LOTEAMENTOS E CONDOMÍNIOS:


ELEMENTOS DE DISTINÇÃO SOCIAL

141
O povoado de Praia do Forte já não comporta o fluxo de veículos e visitantes em certos períodos
do ano e buscando o ordenamento local a Prefeitura de Mata de São João determinou que apenas os
veículos de moradores, com adesivo identificador, podem entrar.
222

Buscando também elementos de distinção desse espaço socialmente


produzido verificaram-se os empreendimentos hoteleiros, loteamentos/condomínios
fechados, definindo para os primeiros os hotéis, pousadas, resorts, flats e albergues
e, para os segundos, os condomínios verticais, horizontais e villages (Quadro 2).
Em Areias (Camaçari) e Açú da Torre e Malhadas (Mata de São João),
localidades litorâneas distanciadas da Orla Atlântica e de baixo desenvolvimento
econômico e social, não se registram empreendimentos hoteleiros, o que comprova
a falta de projetos turísticos e de integração, por parte do Governo estadual e de
empreendimentos imobiliários pela iniciativa privada para os referidos locais.
É a minoria da população dessas localidades, principalmente de Açú da Torre
e Malhadas, que se beneficia do emprego e renda gerado pelas grandes redes
hoteleiras na região, notadamente em Praia do Forte. Observa-se que os
empreendimentos previstos principalmente em Praia do Forte, Itacimirim e
Guarajuba, a princípio, deveriam mobilizar mais empregos diretos e indiretos,
beneficiando principalmente essa população.
Distingue-se, também, Abrantes (Camaçari), mais próxima da orla marítima,
por não possuir quaisquer empreendimentos hoteleiros. Representativo destes, os
hotéis, pousadas, resorts e flats, concentram-se em Arembepe, Barra do Jacuípe,
Guarajuba, Jauá, Itacimirim e Praia do Forte, todas localizadas à beira mar e para
onde convergem os recursos e investimentos variados, de origem pública e
particular, o que garante ser hoje áreas de maior valorização imobiliária de todo o
estado. É somente em Praia do Forte que são encontrados os albergues, pela
especificidade do equipamento e da localidade.
Nas localidades “do outro lado” da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”,
Areias e Barra do Pojuca (Camaçari) e Açú da Torre e Malhadas (Mata de São
João), não se verificam condomínios horizontais e villages. Esses equipamentos, em
consequência da distribuição espacial dos grupos sociais de maior poder aquisitivo,
encontram-se em Abrantes, Arembepe, Barra do Jacuípe, Guarajuba, Jauá,
Itacimirim e Praia do Forte, área “enobrecida” (Orla Atlântica). São espaços sociais,
homogêneos, que se fecham revelando a “segregação orientada” (CARLOS, 2004)
imposta pelos agentes hegemônicos, produtores deste espaço geográfico — o
Estado — que contribui criando condições de formação das áreas residenciais,
articulado à lógica do mercado imobiliário e do “turismo imobiliário” (CRUZ, 2009).
223

Quadro 2 - Empreendimentos hoteleiros, loteamentos e condomínios nas localidades ao longo da BA-099 – “Estrada do Coco”, 2013

Empreendimentos Municípios / Localidades


hoteleiros e Camaçari Mata de São João
Barra do Barra do Monte Açu da Praia do
condomínios Abrantes Areias Arembepe
Jacuípe Pojuca
Guarajuba Jauá Itacimirim
Gordo Torre
Malhadas
Forte
Empreendimentos hoteleiros

Hotéis

Pousadas

Resorts

Flats

Albergues
Loteamentos e

Verticais
condomínios

Horizontais

Villages

Fonte: Pesquisa direta, 2013.


Notas: Formatação do quadro a partir da ideia de Pereira, 2012.
As marcações escuras representam a existência dos equipamentos e infraestrutura.
224

De acordo com Carlos (2004: 125), “[...] os empreendedores imobiliários


acharam na construção dos condomínios fechados um novo ‘filão’ de mercado a ser
explorado”. Assim, os condomínios denominados Dunas de Guarajuba e Bosque de
Guarajuba
uarajuba são empreendimentos imobiliários em Monte Gordo, nos quais foi
utilizado o recurso do marketing com referência a Guarajuba para imprimir status
elevado a estes produtos, para atrair investidores e compradores. O segundo é o
único condomínio com edifícios
edifícios verticalizados de todo o LNE (Figura 31), cujos
agentes imobiliários iniciaram a transformação no que se refere ao porte dos
empreendimentos na região. Nesses edifícios, com 52 unidades residenciais, foram
negociados até então cerca de 35 unidades, sendo ocupadas a metade por
veranistas e metade por residentes provenientes de outros estados, do interior
baiano e de Salvador142.

Figura 31 – Condomínio Bosque de Guarajuba:


verticalização em Monte Gordo

Fonte: Foto, Denise Magalhães, 2014.

Segundo o corretor responsável pelas vendas do empreendimento, um único


investidor, português, adquiriu 25 unidades habitacionais, e, por intermédio da

142
Entrevista com o corretor da imobiliária F. S. S. (37 anos), em Guarajuba, no dia 06/09/2014.
225

imobiliária, estes imóveis estão sendo revendidos a “passos lentos”.


Para este empreendimento a estratégia de marketing utilizada não está
obtendo o sucesso esperado das vendas. Pois, segundo Costa (2003), a escolha do
local para a construção de um imóvel de muito bom padrão construtivo é o primeiro
grande fator de sucesso de um lançamento imobiliário, sendo difícil inverter, nas
vendas, o conceito de que o produto está certo, mas no lugar errado (popular). O
custo é alto e pode acabar em prejuízo.
Assim, o citado corretor entrevistado parece desacreditar de novos
lançamentos imobiliários semelhantes previstos para o local, ao comentar: “Quando
apresento o imóvel o cliente pergunta onde é o local e quando vê que é em Monte
Gordo se desinteressa. A venda poderia ser efetuada se fosse em outro local”.
Neste caso, a segregação é quase “requerida” por esses clientes.
A forma da habitação (apartamento em edifício verticalizado) não parece
atender aos interesses dos grupos de renda média e alta de veranistas, que pela
proximidade de Guarajuba ainda admitem morar em Monte Gordo. Os moradores
dessa localidade, por uma questão cultural, estranham a “nova forma de morar”
impingida pelo setor imobiliário e não acreditam no sucesso do empreendimento
após três anos de construído e sem estar totalmente habitado.

8.8 A RESIDÊNCIA SECUNDÁRIA COMO INDUTORA DE URBANIZAÇÃO NO


LITORAL NORDESTE DA BAHIA

As residências secundárias consideradas no estudo são aquelas habitações


utilizadas para fins de veraneio das famílias que as mantêm e utiliza com frequência
e também as que foram construídas para atender as demandas dos investidores no
turismo residencial. Como quaisquer outros bens imóveis, por serem fixas no espaço
geográfico, e considerando o seu estudo no Brasil, podem ter sua localização em
qualquer parte do país, embora exista em maior quantidade nas áreas turísticas e de
lazer, principalmente litorâneas, sendo esse um dos principais motivos que
desencadeiam este fenômeno, ensejando a apropriação de espaços antes ocupados
por populações tradicionais.
Segundo Cruz (2009) a construção de rodovias especialmente nas áreas
226

litorâneas permitiu a urbanização turística em extensos trechos da costa brasileira,


de maneira que 80,3% das residências secundárias no país estão concentradas nos
estados costeiros, principalmente nas regiões sul, sudeste e nordeste, distinguindo-
se pela importância os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
As áreas de residências secundárias formam manchas, mais ou menos extensas e
contínuas, predominando construções horizontais (como no LNE baiano) ou
verticais, típica dos lugares mais densamente povoados.
De acordo com o IBGE (2000), a localização das residências secundárias no
Brasil, assim se distribuem regionalmente: 20,6% no nordeste, 50,5% na região
sudeste e 19,0% no sul, com destaque para os estados respectivos do Rio de
Janeiro (10,92%) e São Paulo (26,32%) e Rio Grande do Sul (8,64%) e Santa
Catarina (6,10%). Os menores percentuais são para as regiões centro-oeste e norte.
Para o mesmo ano de 2000, Cruz (2009) constata que para a região nordeste o
destaque vai para os estados da Bahia, com 7,19% e Pernambuco (3,17%). Para o
ano de 2010 decresce o número de residências secundárias nas regiões sudeste e
sul, indicando mais ocupações permanentes na época do recenseamento. Nas
demais regiões do país cresce o número de tais residências, a exemplo do nordeste
com 24,6% (Tabela 22).

Tabela 22 – Número de residências secundárias por grandes


regiões brasileiras – 2000 e 2010
2000 2010
Regiões
Absoluto (%) Absoluto (%)
Total 2.685.701 100 3.933.271 100
Centro-Oeste 142.594 5,3 231.300 5,9
Nordeste 552.198 20,6 966.263 24,6
Norte 123.686 4,6 212.842 5,4
Sudeste 1.355.698 50,5 1.831.867 46,6
Sul 511.525 19,0 690.999 17,6
Fonte: IBGE/Portal SIDRA.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

As residências secundárias são desvinculadas dos agentes turísticos, mas


143
compõem a oferta de negócios do mercado imobiliário , com a possibilidade de
atração de investimentos estrangeiros. Neste contexto, há de se considerar que o
turismo residencial é espacialmente seletivo mais determinado pela ação dos seus
143
Pela intensificação do processo de urbanização do litoral brasileiro e desenvolvimento imobiliário
dessas residências, é utilizada a expressão “turismo imobiliário”, terminologia adotada pelos agentes
do mercado imobiliário/turístico do país (CRUZ, 2009).
227

agentes promotores. Por outro lado, a condição de investir em uma residência


secundária é restrita a um pequeno segmento da população brasileira, o que explica
a ocorrência do fenômeno em regiões com maior dinamismo econômico. Exemplo
disso é o litoral paulista que concentra a maior quantidade de residências
secundárias da América Latina. Em Riviera de São Lourenço, no município de
Bertioga, foi instalada uma infraestrutura e uma quantidade de habitações capaz de
acolher uma população flutuante de cerca de 60.000 pessoas (CRUZ, 2009).
De acordo com Müller (2009), são várias as motivações que levam o indivíduo
a ter uma residência secundária. Entre essas se destacam a possibilidade de
mudança da vida diária rotineira; uma volta à natureza, esta que está distante ou
ausente no cotidiano de muitos na grande cidade; e uma identidade baseada mais
no lazer que no trabalho. Mas dispor das condições econômicas é essencial. No
LNE da Bahia, proprietários de residências secundárias enfatizam o privilégio do
local não só quanto à natureza, mas por outros fatores (acessibilidade, segurança,
infraestrutura) e ainda outros voltados para a segregação social que aparecem nas
referências de falas de maneira objetiva ou subliminar, como: privacidade (praias
exclusivas), ambiente seleto (considerando o nível social e econômico das pessoas)
e fechado (exclusividade), e a homogeneidade (social e econômica dos vizinhos).
As residências secundárias são projetadas e construídas como valor de troca
(investimentos imobiliários) ou também construídas/adquiridas prontas prevalecendo
o valor de uso, podendo ser conservadas durante toda a vida — muitas vezes como
futura residência permanente após a aposentadoria — e inclusive transmiti-la às
gerações seguintes. Ainda segundo Müller (2009), as residências secundárias
também são utilizadas para reuniões familiares e de amigos, representando um
ambiente de felicidade. São lugares para tarefas criativas e manuais, como
jardinagem e decoração e cumprem uma função simbólica expondo o status
econômico e social dos proprietários.
Para Müller (2009), a relação entre o turismo residencial e o desenvolvimento
econômico regional é complexa e controversa. Segundo alguns estudiosos, as
residências secundárias são um peso para os municípios, considerando que estas
podem se tornar residência principal, provocando problemas no planejamento local,
principalmente quanto a infraestrutura, porque implica diretamente a extensão dos
equipamentos coletivos custosos em áreas cada vez distante, o que acarreta a
diminuição de recursos nas áreas de urbanização consolidada. Isso poderia ser
228

desestimulado com a cobrança de taxas e impostos públicos de maior preço. Por


outro lado, o que se observa no Brasil é que os proprietários das residências
secundárias: contribuem de modo significativo à manutenção da economia local;
consomem os serviços disponíveis no local, os quais geram impostos (ISS144,
municipal, e ICMS145, estadual); além disso, são obrigados a pagar impostos e taxas
municipais diretos (IPTU146), assegurando para as prefeituras a fonte básica de suas
receitas.
Progressos técnicos-científicos (melhoria nos transportes, implantação de
rodovias) contribuem para reduzir o tempo empregado nos deslocamentos, criando
condições materiais para que as residências secundárias sejam localizadas cada
vez mais distante dos domicílios principais (LUNDGREN, 1974; CRUZ, 2009; SILVA,
S.; SILVA, B.; CARVALHO, 2009). Esse fenômeno é essencial para a compreensão
do processo de ampliação de residências secundárias construídas tanto pelas
famílias como por iniciativa de empresas imobiliárias nacionais e estrangeiras.
Quanto à ideia de uso das residências secundárias Müller (2009), reafirma a
condição da distância e destaca que

[...] o uso da residência secundária varia em função da distância que a


separa da residência principal. As mais próximas podem ser usadas com
maior frequência e em visitas curtas durante os fins de semana, enquanto
que as situadas em zonas mais remotas veem limitado seu uso a férias
147
mais extensas (MÜLLER, 2009: 26, tradução nossa) .

No LNE baiano, proprietários de residências secundárias, provenientes


principalmente da cidade do Salvador frequentam suas residências de veraneio nos
finais de semana, embora o maior fluxo desses proprietários, como de outros
provenientes dos municípios baianos e de outros estados do Brasil, se concentre em
feriados prolongados ou épocas festivas (carnaval, fim de ano, São João).
Proprietários estrangeiros utilizam suas residências em período de férias mais
prolongadas (MÜLLER, 2009), ou por temporadas, nos períodos de alta estação.

144
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza.
145
Imposto sobre Operações relativos à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação.
146
Imposto sobre a Propriedade Predial Urbana.
147
“[…] el uso de la segunda residencia varía en función de la distancia que la separa de la residencia
principal. Las más próximas pueden ser usadas con mayor frecuencia y en visitas cortas durante los
fines de semana, mientras que las situadas en zonas más remotas ven limitado su uso a vacaciones
más extensas” (MÜLLER, 2009: 26).
229

Para estes, bem como para proprietários provenientes de outros estados do país, o
fator tempo-custo-distância é irrelevante, mesmo considerando o tempo gasto
viajando de automóvel ou de avião para Salvador, acrescidas das horas de
deslocamento do aeroporto de Salvador até o local de veraneio pela rodovia BA-099.
A esse respeito Gomes Sobrinho (2013) considera que

[...] o fator tempo-custo-distância para o usufruto e deslocamento desses


novos usuários de segundas residências, principalmente europeus [...]
poderá ser limitado uma vez que viajam em média de 9 a 10 horas de sua
residência permanente até o Aeroporto Internacional de Salvador (GOMES
SOBRINHO, 2013: 165-166).

Diante de indícios de os veranistas e/ou turistas pertencerem a grupos sociais


de alta renda, esboçado tanto pelos resultados de pesquisas (GOMES SOBRINHO,
2013; MÜLLER, 2009), como pela própria ostensividade das residências de
veraneio, considera-se que o padrão de renda dessas pessoas é um dos principais
critérios para se explicar a relação entre o turismo e/ou veraneio e a residência
secundária. Para essas pessoas o fator tempo-custo-distância envolvido para
desfrutar do prazer de passar uma temporada de “folga” em um lugar diferente do da
residência habitual torna-se pouco relevante, embora os custos com o imóvel e
transportes (automóvel particular ou outro tipo de veículo terrestre, embarcação,
aviões, helicópteros) sejam elevados, e até por isso, esta liberdade de escolha do
local de veraneio, por diversas razões, ratifica a condição de distinção desse público.
Onde há concentração de residências secundárias de padrão construtivo
médio e elevado ocorrem várias implicações sócio-espaciais e ambientais, tanto na
forma da urbanização como em seu conteúdo. Os resultados disso associam
contradições reveladas nas formas construídas, no meio natural e nas relações
sociais: se por um lado, gera certo volume de riqueza econômica pelo fluxo
financeiro originado pelas demandas e gastos dos visitantes/veranistas, também
contribui para a elevação dos preços das mercadorias e dos serviços, especialmente
o preço da terra e das benfeitorias, o que leva ao exclusivismo social em forma de
segregação, especialmente com base na renda; por outro lado, o próprio processo
de incorporação de terras a este tipo de urbanização não exclui os impactos na
natureza (rios, lagoas, mangues, dunas, vegetação, fauna etc). Ao lado de tudo isso,
o resultado deste tipo de urbanização, não raro, produz a fragmentação espacial que
se materializa segundo as apropriações (econômicas e sociais) do solo urbano, que
230

se traduzem em usos, formas e conteúdos diferenciados.


Os balneários de Bertioga (SP), já citado por Cruz (2009), e Búzios (RJ) são
exemplos no Brasil. No município de Bertioga, segundo Bauer; Rejowskl (2003), as
desigualdades sociais são maiores que em boa parte dos municípios litorâneos de
São Paulo e o grande número de condomínios de luxo contrasta com a profusão de
favelas. Armação dos Búzios, um dos principais destinos turísticos no estado do Rio
de Janeiro e no Brasil é também conhecida em outros países. De acordo com
Souza, T.; Braga (2005), embora todo o município, seja considerado área urbana, as
características são distintas entre a parte continental e a parte peninsular,
configurando uma segregação sócio-espacial. Na primeira residem migrantes e
remanescentes de quilombolas formando uma porção rural com atividades ligadas à
agricultura e à pesca artesanal, marcado pela ausência de equipamentos urbanos,
enquanto na península, apropriada pela iniciativa privada, estão todos os
equipamentos urbanos e turísticos.

8.9 RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS: ELEMENTOS DETERMINANTES DA


FRAGMENTAÇÃO E DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL

No LNE baiano a situação da urbanização com as residências secundárias e


com o turismo não é diferente. As intervenções públicas e privadas com a finalidade
de favorecer o acesso ao lazer e ao turismo (instalação de novos equipamentos,
infraestrutura e serviços), bem como a urbanização com a expansão das residências
secundárias têm produzido implicações significativas no processo de
estruturação/reestruturação regional implicando o aparecimento de formas-conteúdo
e funções definidoras da fragmentação espacial concomitante à segregação
residencial.
A fragmentação espacial e a segregação residencial são fatos presentes no
processo de urbanização no LNE baiano. Considerando a rodovia BA-099 – “Estrada
do Coco”, a concretude dos dois fenômenos aparece nos núcleos de urbanização
situados de um lado e do outro lado desta rodovia. Na faixa costeira, a leste da
rodovia, situam-se principalmente os núcleos de urbanização constituídos em sua
maioria por residências secundárias, edificadas em loteamentos e/ou condomínios
fechados, onde ainda se conservam grande parte das amenidades naturais. Ali
231

predomina uma população de veranistas que utilizam suas residências diretamente


148
nos finais de semana ou as alugam em períodos curtos , nas localidades de Jauá,
Arembepe, Guarajuba, Itacimirim (município de Camaçari) e Praia do Forte
(município de Mata de São João). Mas não é somente nas áreas costeiras que o
fenômeno da residência secundária acontece. Ocorre também, por seu turno, do
lado oposto ao mar, em loteamentos e condomínios fechados, mas em menor
quantidade devido ainda existir oferta de terrenos, embora predominando áreas
residenciais populares como extensão da sede dos distritos ou povoados.
Tomando-se como referência o Censo Demográfico de 2010 do IBGE,
149
constata-se uma pequena quantidade de domicílios particulares permanentes nas
localidades de Guarajuba, Itacimirim e Praia do Forte, enquanto em Abrantes,
Areias, Arembepe, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas há uma
concentração desses domicílios, atingindo faixas entre 279 a 696 unidades por setor
censitário (Figura 32).
A pesquisa sobre as residências secundárias no LNE baiano foi efetuada com
a aplicação de questionários eletrônicos on line e em pesquisa de campo, a
proprietários dessas residências. A partir da análise das informações foi possível
destacar que a maioria (79%) dos proprietários desse tipo de residência no LNE
baiano é formada por brasileiros, residentes principalmente em bairros “nobres” da
capital baiana: Caminho das Árvores, Itaigara, Candeal, Barra e Graça (Figura 33).
Os 21% de proprietários de residências secundárias no LNE residem noutras
cidades da Bahia (Feira de Santana 7,18%, Lauro de Freitas 2,95%, Camaçari
1,43%, Catu 1,43%, Simões Filho 0,5%, Dias d’Ávila 0,5% e Alagoinhas 0,5%),
noutras cidades de outros estados brasileiros como Rio de Janeiro 1,0%, São Paulo
(Ribeirão Preto) 1,48%, Minas Gerais 0,5%, Sergipe (Aracaju) 0,5%, Goiás (Brasília)
0,5% e por fim, no exterior, Portugal 0,5%, Suíça 0,5% e Áustria 0,5% (Figura 34).
No LNE da Bahia, do total de 758 residências pesquisadas nas localidades,
547 são principais e 211 são secundárias (Tabela 23). Entretanto, em duas
localidades predominam as residências secundárias: 84% em Guarajuba do total de

148
Em média, quatro a seis dias, com diária variando segundo o imóvel e o local, entre R$400,00 a
R$ 1.500,00 ou mais em período de alta estação.
149
Considerados os domicílios ocupados e construídos para servir exclusivamente à habitação e, na
data do recenseamento, servindo de moradia a uma ou mais pessoas. Tais domicílios foram
caracterizados quanto ao tipo, condição de ocupação, forma de abastecimento e canalização de
água, esgotamento sanitário, característica dos residentes, renda, dentre outros itens.
232

Figura 32 – Total de domicílios particulares permanentes por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2010.
233

Figura 33 – Localização das residências principais de


proprietários de residências secundárias no Litoral Nordeste da
Bahia, com base em pesquisa on line, 2014

21%
Salvador
79% Outros locais

Fonte: Coleta de campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

Figura 34 – Localização das residências principais dos proprietários de


residências secundárias no Litoral Nordeste da Bahia, com base em
pesquisa de campo, 2014
16

14
Número de proprietários

12

10

Localizações

Fonte: Trabalho de campo, 2014


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
234

Tabela 23 – Total de residências secundárias pesquisadas nas localidades - Litoral


Nordeste da Bahia, 2014
Residências secundárias Residências principais
Localidades Total
Absoluto (%) Absoluto (%)
Total 211 27,9 547 72,2 758
Açú da Torre 1 1,4 68 99,0 69
Areias 0,0 0,0 88 100,0 88
Barra do Pojuca 1 1,0 97 99,0 98
Guarajuba 126 84,0 24 16,0 150
Itacimirim 60 80,0 15 20,0 75
Jauá 13 13,8 81 86,2 94
Monte Gordo 4 4,0 95 96,0 99
Praia do Forte 6 7,0 79 93,0 85
Fonte: Trabalho de campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

150, e 80% em Itacimirim do total de 75. Em Praia do Forte, local de veraneio onde
predomina famílias de média e alta renda, do total de 85 residências pesquisadas
93% são principais e apenas 7,05% são secundárias. Todavia, como não foi
possível o acesso aos loteamentos e condomínios fechados, estima-se que, por
observação direta e sondagem com a população local, quase a totalidade das
150
residências é para veraneio . Nas localidades de Açú da Torre, Barra do Pojuca,
Monte Gordo e Jauá, por ser área residencial popular, o número das residências
secundárias é inexpressivo, com maior destaque para essa última (13,82% do total
de 94). Entretanto, ressalta-se a grande quantidade de sítios e chácaras com
residências secundárias nessas localidades, bem como em Areias.
Assim, os grupos sociais podem adquirir ou construir imóveis nas áreas
costeiras (praias), onde o preço médio dos terrenos é mais alto: Guarajuba,
Itacimirim, Praia do Forte. Tal localização, segundo Lojkine (1997), revela uma
“primeira segregação” no nível da habitação e no padrão construtivo da residência
— 100 a 300 m² de área construída — havendo grande diferença entre as
habitações do lado costeiro e a “vizinhança”, a oeste da rodovia BA-099 – “Estrada
do Coco”, conforme a seguinte afirmação: “[...] tem dois lados residenciais. Do lado
direito da pista só condomínio, do lado esquerdo é favela. Não se vê loteamentos
151
populares” . Demonstra-se com isso que a localização, segundo Harvey (1980

150
Observa-se que, com base nos censos do IBGE de 2000 e 2010, Gomes Sobrinho verifica que a
variação de crescimento dessas residências em Mata de São João é de 154,45%, enquanto para
Camaçari é de 59,85% (Cf. LUNDGREN, 1974), sendo que os dois municípios apresentam variações
de crescimento maiores do que o total para o crescimento nacional (46,45%).
151
Entrevista realizada em 06/12/2013, com o Sr. J. B., líder comunitário de Pau Grande (município
235

[1973]), é fonte de renda diferencial, bem como, fonte da fragmentação e


segregação sócio-espacial-residencial.

de Mata de São João).


As enormes distâncias sociais que medeiam entre pobres e remediados, não apenas
em função de suas posses, mas também pelo seu grau de integração no estilo de
vida dos grupos privilegiados [...] opõe pobres e ricos mais do que negros e brancos.

Darcy Ribeiro (2000: 235)

[...] a segregação de uns provoca, ao mesmo tempo e pelo


mesmo processo, a segregação de outros.

Flávio Villaça (1998: 148)


237

9 A REPRODUÇÃO DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-RESIDENCIAL NO


PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DO LITORAL NORDESTE DA BAHIA

Nesta parte discute-se a fragmentação e a segregação sócio-espacial-


residencial no Litoral Nordeste da Bahia, que se traduz pelos fortes contrastes entre
áreas costeiras, ocupadas pelos ricos e pelos empreendimentos hoteleiros, e áreas
periféricas menos valorizadas, ocupadas pela população local economicamente
pobre.

9.1 A SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL-RESIDENCIAL NO LITORAL NORDESTE


BAIANO: ÁREAS COSTEIRAS E ÁREAS PERIFÉRICAS

Para a caracterização da segregação sócio-espacial-residencial no LNE foram


tomados inicialmente três indicadores baseados em variáveis do Censo Demográfico
do IBGE, de 2010: “renda média mensal do responsável pelo domicílio”, “renda
domiciliar per capita por salário mínimo” e, como alto padrão de moradia, “três ou
mais banheiros por domicílio”.
Tomando-se como parâmetro a renda média mensal do responsável pelo
domicílio nos setores censitários urbanos no LNE, mais precisamente aqueles nas
margens da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, percebe-se no mapa (Figura 35)
uma situação de grande desigualdade sócio-espacial. Observa-se que a renda
média mensal geralmente apresenta-se maior que R$ 2.550,00 ao longo da orla
marítima, chegando a atingir valores entre R$ 10.200,00 a R$ 25.000,00 nos setores
censitários que compreendem as localidades de Guarajuba, Itacimirim e Praia do
Forte. Abrangendo os setores censitários a oeste da rodovia, onde estão situadas as
localidades de Areias, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas a
renda média mensal do responsável pelo domicílio é menor que R$ 2.550,00 e em
mais de uma dezena de setores censitários desta parte do LNE baiano, a renda
mensal do responsável pelo domicílio é menor que um salário mínimo, entre R$ 0,00
a R$ 510,00.
238
Figura 35  Renda média mensal do responsável pelo domicílio, por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2014.
239

Tomando-se como parâmetro a renda domiciliar per capita por salário mínimo
por setores censitários urbanos (Figura 36) reitera-se a situação de grande
desigualdade social entre os dois lados da rodovia. Ao longo da orla marítima a
renda domiciliar nas localidades de Jauá, Barra do Jacuípe, Guarajuba, Itacimirim e
Praia do Forte chega a atingir valores entre 6,32 a 11,57 salários mínimos e a oeste
da rodovia, abrangendo a maioria dos setores censitários e localidades de Abrantes,
Areias, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas, a renda domiciliar
é menor que um salário mínimo (0,97).
Do total de 1.060152 pessoas entrevistadas nas localidades em estudo,
incluindo proprietários de residência e comerciários153 observa-se (Figura 37) que a
renda mensal familiar, per capita, da maioria das famílias de Açú da Torre, Barra do
Pojuca, Monte Gordo e Praia do Forte (estes antigos moradores) está situada entre
1 ├ 2 salários mínimos (SM), existindo famílias, como no caso de Monte Gordo e
Barra do Pojuca, que vivem com renda mensal inferior a 1 SM. Essas remunerações
refletem os níveis de pobreza local, o que contrasta especialmente com a chegada
do capital estrangeiro à região investindo no turismo, fato que tem encarecido o
custo de vida nas localidades, diminuindo o poder aquisitivo da população. Cresce a
faixa salarial familiar mensal em Jauá e Areias (2 ├ 5 SM) e reforçando a injusta
distribuição de renda local se destacam, com elevada amplitude de renda, Itacimirim,
com 22 famílias na faixa entre 10 ├ 30 SM, e Guarajuba, com 57 famílias na faixa de
renda maior que 30 SM. Guarajuba registra, ainda, níveis mais extremados de
concentração de renda: 31 entrevistados têm a renda familiar acima de 60 SM.
A distribuição espacial de domicílios com três ou mais banheiros, apresentada
no mapa (Figura 38), revela também a desigualdade social entre as duas áreas no
entorno da rodovia, concernente à tipologia de habitação. Há uma concentração dos
setores censitários urbanos com valores superiores a 40% desses tipos de
domicílios na área próxima à costa, compreendendo localidades como Guarajuba,
Itacimirim e Praia do Forte. O fato é indicativo da predominância de habitações
unidomiciliares — a maioria tida como residências secundárias em loteamentos e
condomínios fechados de alto padrão — de melhor qualidade construtiva, cuja forma
de aquisição se dá, sempre por meio do mercado imobiliário formal. Nesse setor, as

152
Desse total, 137 pessoas não responderam ao quesito renda familiar.
153
Excluíram-se os comerciantes que não foram questionados quanto à renda.
240
Figura 36  Renda domiciliar per capita por salário mínimo, por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2014.
241

Figura 37 – Total de proprietários de residência entrevistados segundo a


renda familiar – Litoral Nordeste da Bahia, 2014
70

60

50
Salários
Percentual de proprietários

<1
40 1Ⱶ2
2Ⱶ5
5 Ⱶ 10
30
10 Ⱶ 30
>30

20

10

Localidades

Fonte: Coleta de Campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

localidades de Guarajuba, Itacimirim e Praia do Forte são as que concentram os


maiores percentuais (80 a 100%) desse tipo de habitação. Observam-se, também,
esses maiores percentuais após o Rio Joanes, em Camaçari, notadamente em
Busca Vida, local de grande valorização imobiliária formado por hotéis e
condomínios de residências com alto padrão construtivo.
Do lado contrário à orla marítima, abrangendo as localidades de Areias,
Arembepe, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas, há uma
concentração de setores censitários com valores abaixo de 20% desses domicílios
(incluídos da classe de 0 a 20%). O fato é indicativo de habitações precárias e em
condições de informalidade, em termos urbanísticos e de mercado, ao longo dessa
faixa litorânea.
As diferenças entre moradores e veranistas nas localidades são bem
evidentes no plano educacional. Do total de 753 proprietários de residências
entrevistados nas localidades, predominantemente 34% possui ensino médio
242
Figura 38  Três ou mais banheiros por domicílio, por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2014.
243

completo e 17% ensino superior completo. Do primeiro, destacam-se Monte Gordo


(55,1%), Barra do Pojuca (47,9%) e Jauá (45,2%), respectivamente 99, 96 e 93
pessoas entrevistadas. Do percentual de proprietários com o nível superior,
destacam-se, respectivamente, Guarajuba (42,0%) e Itacimirim (30,7%), ou seja, 149
e 75 pessoas entrevistadas, sendo que destes 25 possuem estudos de pós-
graduação no nível de especialização e cinco no nível de mestrado. Entre as duas
últimas localidades, Guarajuba se destaca tendo 37 pessoas com especialização,
nove com mestrado e duas com doutorado (Tabela 24).
Localidades situadas a oeste da rodovia, como Areias, Açú da Torre, Barra do
Pojuca e Monte Gordo registram altos percentuais de pessoas (na maioria
moradores) com baixa escolaridade (nível fundamental), apresentando, ainda,
pessoas analfabetas. Do total de 247 pessoas do nível fundamental, em Açú da
Torre e Areias são registrados maiores percentuais, sendo que de 70 pessoas
entrevistadas 64,3% são de Açú da Torre e de 88 pessoas 64,8% são de Areias.
Com exceção de Guarajuba, existem, também, analfabetos funcionais nas
localidades, mas com destaque para Areias com 6,8% do total de 88 pessoas
entrevistadas.
Quanto ao percentual de proprietários entrevistados segundo a contratação
de empregados domésticos em cada localidade (Figura 39) distinguem-se
Guarajuba, Itacimirim e Praia do Forte, respectivamente, 81,3%, 68,0% e 20,0%.
Nas demais localidades, o número de pessoas que possui empregado doméstico é
muito pequeno, destacando-se aí, Jauá com 14,9%. Dos proprietários de residência
que possuem empregados domésticos, 10% mantêm vínculo empregatício formal e
88% não; proprietários com mais de um empregado doméstico (com e sem vínculo)
perfazem um total de 2%, isso ocorre notadamente em Guarajuba, Itacimirim, Jauá e
Praia do Forte.

9.2 SÍNTESE GEOGRÁFICA: FRAGMENTAÇÃO E SEGREGAÇÃO SÓCIO-


ESPACIAL NO LITORAL NORDESTE BAIANO

A partir da adaptação do IDS desenvolvido por Cavallieri e Lopes (2014) foi


gerado um mapa de síntese por setores censitários (Figura 40) que caracterizou
244

Tabela 24 – Grau de instrução dos proprietários de residência pesquisadas nas localidades - Litoral Nordeste da Bahia, 2014
Analfabeto Fundamental Médio Superior Especialização Mestrado Doutorado
Localidades Total
Total (%) Total (%) Total (%) Total (%) Total (%) Total (%) Total (%)
Total 19 2,5 247 24,1 270 34,0 128 17,0 72 9,6 15 2,0 2 0,3 753
Açú da Torre 1 1,4 45 64,3 4
20 28,5 3 4,282 1 1,4 0 0,0 0 0,07 70
Areias 6 6,8 57 64,8 25 28,4 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 88
Barra do Pojuca 5 5,2 38 45,6 46 47,9 7 0,29 0 0,0 0 0,0 0 0,0 96
Guarajuba 0 0,0 8 5,3 30 20,0 63 42,0 37 24,7 9 6,0 2 1,3 149
Itacimirim 2 2,7 2 2,7 18 24,0 23 30,7 25 33,3 5 6,6 0 0,0 75
Jauá 1 1,1 27 28,9 42 45,2 17 18,3 6 6,4 0 0,0 0 0,0 93
Monte Gordo 3 3,0 34 34,3 55 55,1 5 5,0 2 2,0 0 0,0 0 0,0 99
Praia do Forte 1 1,1 36 38,3 34 36,2 10 11,7 1 10,6 1 1,1 0 1,1 83
Fonte: Trabalho de Campo, 2014.
Elaboração: Denise Magalhães, 2015.
245

Figura 39 – Percentual de proprietários entrevistados segundo a contratação de


empregados domésticos – Litoral Nordeste da Bahia, 2014

120

100
P e rce n tu a l d e p ro p rietá rio s

80
Empregados
60 Não possui

40 Possui

20

Localidades

Fonte: Coleta de campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães, 2015.

o aspecto urbano propriamente dito das localidades estudadas, permitindo


compreender as dinâmicas das desigualdades sócio-espaciais que acentuam os
processos de segregação sócio-espacial-residencial e exclusão social entre as
localidades no LNE.
Os índices, estabelecidos para o IDS variando numa escala de 0 (menor
valor) a 1 (maior valor), pertinente aos oito indicadores construídos a partir de
variáveis do censo demográfico de 2010 do IBGE154, possibilitaram a identificação e

154
Percentagem de domicílios particulares permanentes com forma de abastecimento de água;
percentagem de domicílios particulares permanentes com esgoto; percentagem de domicílios
particulares permanentes com lixo coletado; número médio de pessoas por banheiros; percentagem
de analfabetismo de moradores de 10 a 14 anos em relação a todos os moradores nessa faixa etária;
rendimento médio dos responsáveis por domicílio em salários mínimos; percentagem dos
responsáveis por domicílio que têm rendimento até dois salários mínimos; e percentagem dos
responsáveis por domicílio que têm rendimento igual ou superior a 10 salários mínimos.
246

Figura 40  Índice de Desenvolvimento Social (IDS), por setores censitários urbanos  Litoral Nordeste da Bahia, 2010

Fonte: Derba. Sistema de Transporte, 2010; IBGE. Censo Demográfico, 2010; SEI. Limites Municipais. 2014.
Elaboração: Denise Magalhães e Harlan Rodrigo, 2014.
247

comparação das diferenças e desigualdades entre as localidades a oeste e leste da


rodovia BA-099  “Estrada do Coco”. Em termos mais tangíveis, Areias, Abrantes
(parte), Barra do Jacuípe, Monte Gordo, Barra do Pojuca, Açú da Torre e Malhadas
apresentam um IDS menor que 0,453, indicador de domicílios particulares
permanentes de baixo padrão ou qualidade. Assim, o IDS de Abrantes, Jauá e
Arembepe abrange, em alguns setores censitários, uma faixa intermediária, entre
0,454 a 0,540, destacando-se as localidades de Guarajuba, Itacimirim (no setor
censitário da Ilha do Meio) e Praia do Forte, que apresentam os maiores IDS da área
(0,678 a 0,965), com o predomínio de domicílios (residências secundárias) de alto
padrão, onde se situa a maioria dos loteamentos e condomínios fechados. Entende-
se que a síntese geográfica reafirma ao que se constatou nos primeiros mapas
analisados, levando-nos a concluir novamente sobre a concentração de famílias
pertencentes aos grupos de renda baixa em locais periféricos à orla marítima.
Tomando-se como base os questionários aplicados com proprietários de
residência no LNE (Apêndice N), obteve-se o Índice de Segregação Sócio-Espacial
(ISSE) (Apêndice U) — baixo (0,00 ├ 33,34), médio (33,34 ├ 66,68) e elevado (66,68
├ 100,00) — por localidades, considerando quatro variáveis: grau de instrução
completo, renda familiar, tipologia da residência (se principal ou secundária) e
empregados domésticos (se possui ou não). Para tal fim foram selecionadas as
localidades com maior proximidade geográfica: Areias/Jauá, Monte
Gordo/Guarajuba, Barra do Pojuca/Itacimirim (todas no município de Camaçari) e
Açú da Torre/Praia do Forte (ambas no município de Mata de São João), sendo que
dentre as 758 pessoas entrevistadas a maior quantidade (150) foi da localidade de
Guarajuba, enquanto a menor quantidade (69) foi de Açú da Torre, fato explicado
pelo tamanho da amostra dos domicílios destinado a cada localidade.
O mapa de síntese gerado (Figura 41) ilustra o fenômeno analisado. Neste
não foi representada a localidade de Praia do Forte, que teve um tratamento à parte,
com dados indiretos, fato justificado pelas dificuldades metodológicas na aplicação
dos questionários: a maioria dos entrevistados foi de moradores pobres devido à
dificuldade de acesso às residências secundárias em loteamentos/condomínios
fechados onde outro perfil de entrevistado poderia ter destaque, indicando,
provavelmente, um ISSE elevado, como bem demonstra análises anteriores,
acrescida de registro fotográfico feito do local (Figuras 42, 43, 44, 45, 46 e 47).
248
Figura 41  Índice de Segregação Sócio-Espacial (ISSE) por localidade Litoral Nordeste da Bahia, 2014

Fonte: Trabalho de campo, 2014.


Elaboração: Denise Magalhães e Francisco Magalhães, 2014.
249

Figura 42 – Praia do Forte: entrada do


Figura 43 – Praia do Forte: shopping
Tivoli Ecoresort

Fonte: Foto, Denise Magalhães, 2015. Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015.

Figura 44 – Praia do Forte: residências Figura 45 – Praia do Forte: residência


unidomiciliares na Avenida do Farol unidomiciliar na Rua da Foca

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015. Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015.

A sofisticação dos empreendimentos imobiliários de Praia do Forte é também


refletida no marketing através de banners ao longo das vias de acesso ao centro,
cuja estratégia é “vender” a imagem do local para atrair moradores ricos (Figura 48).
Praia do Forte, localidade mais procurada no LNE para compra de imóveis, é a mais
valorizada pelos atrativos que dispõe, mas também prevalecendo preços subjetivos,
como o status dos moradores (COSTA, 2003). Assim, com a diferenciação local,
agentes imobiliários tiram o máximo proveito com a hipervalorização dos preços dos
terrenos (SINGER, 1982), sendo o m² de terra mais caro do LNE, como exemplo, um
lote com 544 m² tem o preço de R$1.300.000,00 enquanto, em Guarajuba, segunda
250

localidade mais valorizada do LNE, um lote um pouco menor (500m²) é vendido a R$


300.000,00, conforme site da empresa imobiliária (http://www.vivareal.com.br, em
18/07/2015).

Figura 46 – Praia do Forte: residências Figura 47 – Praia do Forte: residência


geminadas na Rua da Foca unidomiciliar em condomínio fechado na
Avenida do Farol

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015. Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015.

Na região, segundo ação do mercado imobiliário e dos grupos monopolistas,


os ricos e os empreendimentos hoteleiros ocupam localizações mais “privilegiadas”
(próximas às praias) e os pobres áreas menos valorizadas (longe da costa), gerando
assim uma estrutura urbana fragmentada e socialmente segregada, marcada pelas
tipologias das habitações. Utilizando-se como parâmetro a Planta Genérica de
Valores (PGV) que define o Valor Unitário Padrão dos Terrenos (VUPT) dos
municípios de Mata de São João e de Camaçari, observam-se, no primeiro, valores
de R$ 286,82/m² em Praia do Forte e valores de R$ 2,71/m² em Açú da Torre; em
Guarajuba e Monte Gordo (Camaçari), observam-se, respectivamente, valores de R$
44,34/m² e de R$ 2,37/m² (MATA DE SÃO JOÃO (Bahia), 2014; CAMAÇARI (Bahia),
2013).
Os altos valores são indicativos de logradouros com residências de luxo (em
Praia do Forte e Guarajuba) e valores baixos são significativos de logradouros com
habitações populares, no caso, Açú da Torre e Monte Gordo. Tipicamente, em Praia
do Forte, convivem em justaposição: grupos de pessoas de alta renda
morando/veraneando em “mansões” nas alamedas principais, e pessoas pobres —
que ainda resistem à especulação imobiliária — morando em simplórias residências,
principalmente nos becos ou vielas (Figuras 49 e 50), embora com valor ainda alto
251

do VUPT, como R$ 20,01/m² no Beco da Lua ou R$ 24,02/m² na Viela do


Namorado.
Figura 48 – Banner exposto na Avenida do Farol, em Praia do Forte

Fonte: Foto, Ricardo Kassius, 2015.

Figura 49 – Praia do Forte: habitações em Figura 50 – Praia do Forte: habitações na


beco ou viela Rua da Aurora

Fonte: Foto Ricardo Kassius, 2015. Fonte: Foto da autora, 2015.

As localidades de Guarajuba e Itacimirim refletem um ISSE elevado,


respectivamente 85,5% e 62,5%. Nessas localidades foi permitida uma certa
acessibilidade aos loteamentos/condomínios fechados. Já em Jauá e Monte Gordo,
além dos antigos moradores das localidades, foi possível entrevistar proprietários de
252

residências secundárias, tanto na área central de Jauá, como em sítios e chácaras


de Monte Gordo. Os ISSE’s mais baixos são apresentados principalmente na parte
oeste da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, em Barra do Pojuca (95,4%), Açú da
Torre (93,5%), Areias (92,6%) e Monte Gordo (91,1%). Segundo a lógica
apresentada, na faixa costeira, Jauá apresenta o quinto ISSE mais baixo (73,%) com
referência às localidades a oeste da rodovia, distinguindo-se Guarajuba e Itacimirim
com os menores ISSE`s baixos, respectivamente, 1,50% e 8,9% (Figura 41).
Conclui-se que, embora a média geral das localidades acuse uma situação
predominante de ISSE baixa (65,3%) — explicada pela maior quantidade de
localidades onde os moradores são pessoas de renda familiar baixa, pequeno grau
de instrução e pouquíssimos são os que têm empregados domésticos na residência
—, a síntese demonstra o grande contraste entre as áreas costeiras onde
predominam, principalmente em Guarajuba e Itacimirim, pessoas de média e alta
renda, e áreas periféricas ocupadas pela população pobre, configurando-se, assim,
uma segregação sócio-espacial-residencial no LNE da Bahia.
253

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de urbanização em curso ao longo da rodovia BA-099 – “Estrada


do Coco”, no LNE baiano, teve início nos albores da década de 1970, com uma
incipiente urbanização ao longo da costa onde grupos sociais de alta renda,
principalmente da população de Salvador, já praticavam o veraneio em algumas
localidades.
A construção da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”, em 1975, foi o evento
responsável por uma redefinição sócio-economica e espacial da região LNE,
mantida até então como “reserva de valor”. A acessibilidade rodoviária à região foi
de grande importância, sobretudo para o capital fundiário e imobiliário que já tinham
interesse consolidado na “abertura da região”, em razão da potencial e lucrativa
exploração da renda de monopólio sobre suas terras.
A valorização da terra urbana e a expansão da construção civil, sobretudo
residencial, impulsionada por um ritmo acelerado de crescimento urbano na cidade
do Salvador (em sua fase metropolitana já em fins dos anos 1960), que junto com
sua área metropolitana passou a integrar de maneira funcional a economia urbana e
industrial nacional, assinalou, a partir desta época, uma forte expansão do mercado
imobiliário formal para as famílias que compõem os grupos de média e alta renda
em busca de residir ou veranear no LNE baiano, procurando as amenidades sociais
e naturais locais de mais fácil acesso por meio rodoviário.
Esta parcela da população já numerosa, mais ainda em formação, aliada as
intenções e interesses dos proprietários fundiários e do mercado imobiliário regional,
bem como o não menos importante interesse do Governo estadual, comandaram a
abertura da região à nova ocupação e uso da terra, inicialmente voltada para
habitação de residência secundária e lazer, e mais recentemente a atividade
preponderante, o turismo, incentivado pelos Governos estadual e federal como
alternativa para diversificação da economia baiana e superação da crise regional.
Desde finais dos anos 1970 vem se configurando ao longo da rodovia BA-099
 “Estrada do Coco”, entre áreas costeiras e periféricas, uma segregação residencial
como expressão espacial das inter-relações de interesses dos agentes imobiliários e
dos distintos grupos sociais, que implica também na fragmentação desse espaço, a
exemplo do que já vinha acontecendo na cidade do Salvador a partir de 1970, com a
254

expansão urbana, como produto de uma racionalização do uso do solo urbano, pelo
mercado imobiliário.
A região do LNE baiano foi incorporada ao turismo como Zona Turística Costa
dos Coqueiros, em fins dos anos 1990, a partir das ações, incentivos e
investimentos econômicos do Governo federal, estadual e da iniciativa privada,
principalmente com a implantação de projetos turísticos e empreendimentos
imobiliários de capital internacional ou em associação com o capital nacional.
Considera-se que o Brasil constitui uma economia periférica e neste contexto, o
estado da Bahia participa como um dos extremos desta periferia, mas em ambiente
de economia neoliberal, o que implica a inserção do turismo de maneira pouco
robusta gerando postos de trabalho na atividade turística em grande parte
subalternos e de remuneração baixa.
Apesar de uma parte dos moradores locais apontarem os efeitos negativos
gerados pelo turismo, outra parte da população entende que gera emprego e renda,
e quem não trabalha é porque não quer. Mas, subjacente a isso os grupos
econômicos multinacionais e nacionais dominam a região estabelecendo suas
próprias normas e estratégias de regulação e controle do espaço, lhes trazendo
poucos benefícios. Nesse sentido, manifesta-se também na região uma segregação
não só em razão das desigualdades sociais, mas também cultural entre “ricos” e
“pobres”, pois os moradores locais só à custa de muita luta conseguem manter
antigas tradições, mesmo que seja através de manifestações para turista ver, como
em Praia do Forte.
Estas grandes corporações privadas nacionais e estrangeiras que se instalam
no LNE baiano atuam por meio de práticas espaciais voltadas às atividades
turísticas e imobiliárias que, favoravelmente, concorrem para a sua manutenção no
espaço. Esses incorporadores selecionam os locais segundo suas características
físicas, adquirem grandes extensões de terras a baixo custo numa visão antecipada
de renda futura com a sua ocupação e uso e através de uma “chantagem locacional”
(ACSELRAD, 2010), buscam obter vantagens subsidiadas pelos Governos federal,
estadual, municipal, para a implantação dos empreendimentos que acabam gerando
“enclaves fortificados” (CALDEIRA, 2000) contribuindo para manter a fragmentação
espacial e a segregação sócio-espacial-residencial. À medida que essas práticas
espaciais se expandem provocam mudanças sócio-espaciais no LNE baiano,
sobretudo com a expansão das áreas de residências secundárias cada vez mais
255

distantes do seu principal núcleo emissor — a cidade do Salvador.


Prática discursiva comum das empresas incorporadoras que operam no LNE
baiano é a suposta ideia de “respeito, proteção e integração ao meio ambiente” e
sob essa chancela, autoridades governamentais flexibilizam a legislação ambiental
nos licenciamentos dos empreendimentos, a exemplo do que ocorreu no processo
de implantação de um loteamento que foi instalado em área de proteção ambiental
no litoral do município de Camaçari — o Paradiso Laguna. Em situação análoga
encontram-se empreendimentos hoteleiros e dezenas desses loteamentos e
condomínios fechados com residências secundárias na orla marítima da região,
configurando uma “problemática ambiental urbana” (RODRIGUES, ARLETE, 1998)
de difícil solução, frente as lógicas econômicas de interesses de agentes regionais,
nacionais e globais.
Essa postura “naturalista” das empresas como “estratégia política” (CARLOS,
1994) é também uma estratégica de marketing territorial — como ferramenta valiosa
do planejamento estratégico — que influencia e/ou contribui para a valorização do
produto e gera expectativas que influenciam no seu preço final. Tal conduta é
empreendida pelos agentes imobiliários que atuam no LNE baiano através de ampla
divulgação midiática dos produtos dentro e fora do Brasil — elaboradas em
associação com algum aspecto real ou simbólico da natureza para criar valor no
espaço —, gerando ou ativando as “necessidades” dos investidores e compradores.
Mas, em primeiro lugar se revela que, é a renda do consumidor que vai parametrizar
a sua localização neste espaço, prevalecendo preços subjetivos (ou preço de
monopólio); e em segundo, a prática de selecionar os clientes segundo o seu perfil
(status, rendimento, expressão social, profissão e ocupação), fomentando a
segregação sócio-espacial.
Desta maneira, a região do LNE baiano está sendo “vendida” (SILVA, S.;
CARVALHO, 2008) pelo mercado imobiliário e pelo Governo nas escalas estadual,
federal e municipal, como produto de uma racionalização do uso do solo urbano
voltada para grupos sociais de média e alta renda. De modo que o espaço se
fragmenta pelas demandas dos agentes do mercado imobiliário local, e
simultaneamente o processo de segregação sócio-espacial-residencial se destaca
viabilizado pela lógica capitalista de apropriação da renda de monopólio de parcelas
da terra.
Mesmo que, em princípio, as áreas costeiras sejam controladas pelos
256

Governos, sua crescente ocupação com atividades de grande valor econômico e os


diversos impactos ambientais aí produzidos despertam a necessidade de novas
concepções de planejamento e de gestão integrada deste espaço pelas autoridades
governamentais, com o envolvimento da comunidade local.
No Brasil, embora o Estado regule a ocupação e uso do solo nas áreas
litorâneas por meio de leis e normas, condutas e interdições, estas podem ser
seletivamente desobedecidas ante o interesse do mercado imobiliário. Planos,
projetos e programas que buscam uma gestão integrada de áreas litorâneas são
elaborados em diversos países e também no Brasil, como meio de compatibilizar as
atividades humanas com a conservação do meio ambiente, mas o equilíbrio
proposto no modelo reconhecido mundialmente pela GIAL (BARRAGÁN MUÑOZ,
2014) é em sua essência insustentável no contexto de uma sociedade capitalista.
Assim, a gestão das áreas litorâneas com base em um “desenvolvimento
sustentável” compreende dificuldades na sua aplicação e tem dado parcos
resultados.
Apesar de que em áreas turísticas, assim como no LNE da Bahia, se imponha
uma nova racionalidade, implicando novas formas de apropriação, controle,
ordenamento e gestão do espaço os Governos municipais, através dos Planos
Diretores, não conseguem sequer controlar o processo de expansão do mercado
imobiliário e dos grupos monopolistas que ao manipularem o preço de terrenos
segundo sua localização nos dois lados da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”,
fragmentam o espaço. Somando-se a isso, os agentes do mercado imobiliário ao
ofertarem produtos de alto padrão, investirem em segurança particular, infraestrutura
e limpeza urbana geram áreas urbanas distintas social/espacialmente quanto aos
padrões de uso do solo e de residências na região.
As desigualdades sócio-espaciais começam a se configurar entre a orla
marítima e localidades do lado oposto à praia a partir da definição do Valor Unitário
Padrão dos Terrenos (VUPT), que orienta o cálculo do IPTU, pelas prefeituras
municipais, determinando praticamente os lugares onde as famílias irão se instalar,
em função do preço do imposto. Aponta-se, então, que a inter-relação entre os
poderes públicos municipais e o mercado imobiliário influenciam diretamente a
fragmentação espacial e segregação sócio-espacial-residencial.
Até mesmo o processo de urbanização nos povoados e vilas distribuídas ao
longo das margens da rodovia contribuiu para a sua diferenciação espacial. Aqueles
257

cuja ocupação foi originada de antigas comunidades de pescadores ou que se


formaram a partir de ponto de parada ou conexão de rotas de tropeiros situados na
margem esquerda da rodovia BA-099  “Estrada do Coco”, têm como principal
característica da ocupação e uso do solo as habitações populares de moradores que
compõem os grupos de renda baixa, tendo por isso, uma maior densidade
populacional. Distintamente, as localidades turísticas “programadas” com habitações
de médio e alto padrão construtivo (geralmente residências secundárias) condizem
com a população de renda mais elevada, com menores densidades populacionais.
Outros elementos da urbanização assim como o comércio e a infraestrutura
das localidades também refletem a materialidade de um espaço urbano desigual no
entorno da rodovia. Pela sazonalidade do turismo, a atividade comercial e de
serviços nas diversas localidades é instável e realizada em grande parte por
pequenos estabelecimentos, cujos proprietários na maioria das vezes são
moradores locais. Em muitos casos é comum o ponto de venda dos comerciantes
estar localizado em sua própria habitação — prática corrente no circuito inferior —
como única possibilidade de se ter uma atividade econômica.
Distintamente, em Guarajuba e em Praia do Forte se fixaram no comércio
empresários brasileiros ou estrangeiros com posses, geralmente moradores das
localidades e já consolidados em outras praças. As duas localidades concentram
grupos de renda média e alta, são privilegiadas com os melhores e investimentos
em infraestrutura urbana e equipamentos públicos, a exemplo de shopping centers e
agências bancárias, constatando-se a distribuição desigual dos recursos. Também é
nas localidades costeiras que estão localizados os empreendimentos hoteleiros,
loteamentos/condomínios fechados como elementos de distinção social.
A interação/articulação vertical entre as localidades do LNE baiano e as
cidades se faz mais intensamente através de uma certa proximidade espacial entre
elas, mas não só. Em escala regional essa interação/articulação vertical acontece
quando moradores locais buscam complementaridade de serviços, lazer, trabalho,
em outras cidades da RMS, principalmente na cidade do Salvador. No primeiro caso,
da interação entre as localidades “aos pares”, isto ocorre principalmente por meio
das relações de trabalho dos moradores de áreas residenciais populares com os
moradores/veranistas de áreas “ricas”, reafirmando a segregação sócio-espacial-
residencial e a fragmentação espacial, mas ao mesmo tempo articulado
verticalmente.
258

As atividades comerciais e de serviços são outros fatores que reforçam a


fragmentação/segregação e articulação vertical no espaço, principalmente em certas
épocas do ano quando a população “rica” das localidades praieiras busca suprir
suas necessidades imediatas nas localidades dos “pobres” e, contrariamente os
“pobres” buscam equipamentos coletivos refinados que só existem nas localidades
privilegiadas dos “ricos”, agencia bancária etc.
O sistema de transportes rodoviário intermunicipal coletivo é insuficiente e
espacialmente seletivo, pois não serve todos os lugares, pelo menos onde a
demanda é relativamente grande. O transporte rodoviário coletivo também corrobora
com a fragmentação/segregação no LNE à medida que a massa de trabalhadores,
“os pobres”, residentes em locais distantes de onde é ofertado o trabalho
(doméstico, construção civil, segurança, entretenimento, lazer, bares e restaurantes,
hospedagem etc.) atende parcialmente a demanda. Em Itacimirim há uma evidente
intenção de fragmentação espacial que aparece nas falas dos residentes e
veranistas sugerindo que veículos de transporte coletivo, os ônibus, não entram, o
que no fim materializa também o fenômeno da segregação sócio-espacial. As linhas
de ônibus não fazem seção na localidade em razão de os veranistas e moradores,
por terem o privilégio do uso dos automóveis e em prol da falada “tranquilidade”
local, não admitem a circulação de ônibus, somente automóveis e motocicletas
entram nesta localidade. Mas permanece a demanda das pessoas que trabalham
em Itacimirim.
As principais demandas dos moradores nas diversas localidades referem-se
aos equipamentos urbanos e infraestrutura básica, como: esgotamento sanitário
adequado, segurança pública (postos policiais), escolas de ensino fundamental e
médio e criação de cursos profissionalizantes, hospital, postos de saúde eficientes
com suficiência de profissionais, agências bancárias, vias de retorno adequadas,
vias alternativas ao pedágio e passe livre para pessoas residentes em sua
proximidade, pavimentação de vias urbanas locais, conservação de praças e outros
espaços públicos. Entretanto, não se pode deixar de mencionar a relevante questão
de acessibilidade às praias, às vezes a única opção de recreação e lazer para os
moradores pobres, mas os antigos acessos, caminhos, foram obstruídos por
loteamentos e condomínios e hotéis.
O grau de urbanização nas distintas localidades é subtendido pela maior ou
menor concentração dos equipamentos urbanos e infraestrutura básica. Localidades
259

mais consolidadas e equipadas no LNE baiano têm um maior grau de urbanização e


as menos equipadas um menor grau de urbanização, em que pese algumas delas
serem densamente ocupadas. Disso pode-se concluir que há uma desigual
distribuição espacial dos equipamentos urbanos coletivos e as áreas onde habita a
população pobre é mantida em condições precárias com a escassez de
investimentos. Por outro lado, as localidades turísticas: Praia do Forte, Guarajuba e
Itacimirim, onde há o predomínio de população rica, e de residências secundárias,
bem como onde se desenvolvem as atividades de lazer e turismo, recebem a
atenção dos órgãos de Governo e dos próprios investidores nos negócios de turismo
e lazer e do mercado imobiliário. Nessas condições, como a população que
frequenta estas localidades é em grande parte “flutuante”, pela sazonalidade das
férias e folgas, sobretudo nos finais e início do ano e pelo turismo, equipamentos
urbanos e serviços podem ser dispensados, pois no cotidiano uma grande parcela
desta população já dispõe disso em seus locais de habitação regular.
A fragmentação espacial e a segregação sócio-espacial-residencial refletem-
se na morfologia das localidades estudadas, destacando paisagens diferenciadas
quanto ao uso do solo (padrão construtivo das habitações, infraestrutura dos
espaços públicos e serviços disponíveis), composição e diferenças de renda dos
indivíduos e de grupos sociais distintos “ricos” e “pobres” nos dois lados da rodovia
BA-099  “Estrada do Coco”, definidos em grande parte pelos interesses dos
proprietários fundiários e operadores do mercado imobiliário.
O padrão de renda dessa população é um dos principais critérios para se
explicar como se reproduz a grande desigualdade sócio-espacial-residencial nesta
porção do espaço. Nos setores censitários urbanos da orla marítima a renda é
sempre maior que nos setores censitários urbanos a oeste da rodovia. Nesta parte,
em várias dezenas de setores censitários a renda mensal do responsável pelo
domicílio é menor que um salário mínimo, enquanto em Guarajuba registra níveis
extremados de concentração de renda.
O Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e Índice de Segregação Sócio-
Espacial (ISSE) gerados, revelaram a realidade social das localidades, bem como as
contradições entre as duas áreas no entorno da rodovia. Destacaram-se Guarajuba,
Itacimirim e Praia do Forte por apresentarem os maiores IDS da região,
concentrando residências secundárias de alto padrão construtivo principalmente
situadas em loteamentos/condomínios fechados. Locais periféricos à orla marítima
260

apresentam IDS menor, com concentração de habitações precárias e em condições


de informalidade em termos urbanísticos e de mercado.
O ISSE ratifica a situação de desigualdade sócio-espacial descrita entre as
áreas costeiras e as periféricas. Nas primeiras, excluindo Praia do Forte pelas
dificuldades metodológicas na aplicação dos questionários, são as localidades de
Guarajuba e Itacimirim que refletem um ISSE elevado e, segundo a lógica
apresentada para o IDS, os ISSE's mais baixos são encontrados em localidades a
oeste da rodovia.
Ao se concentrarem os melhores índices sócio-espaciais ao longo da orla
marítima da região, consequentemente, nesta parte, estão localizados os grupos
sociais mais favorecidos que se auto-segregam, e que, pelo “prestígio social de
vizinhança” (SINGER, 1982) valorizam o lugar.
Por meio desta síntese, comprova-se, assim, a fragmentação espacial que é
materializada pela articulação vertical entre as localidades e a segregação sócio-
espacial-residencial inscrita nas áreas de vizinhança delimitadas pelas condições de
renda, pelo elevado preço de aquisição dos imóveis definido pelo mercado
imobiliário local. Estes dois fenômenos que ocorrem de maneira simultânea
compõem a matriz essencial do processo de urbanização em curso no LNE da
Bahia, nos dois lados da rodovia BA-099 – “Estrada do Coco”.
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278

APÊNDICE A  Empreendimentos turísticos privados previstos e em implantação do LNE do estado da Bahia  2013
Continua
Unidades Incorporador ou Investimento Empregos
Empreendimento Origem Localização Situação
habitacionais proprietário estimado diretos
Complexo Sol Meliá - 1ª etapa (The
Reserve Paradisus Hotel - Guarajuba
Espanha 225 Grupo Sol Meliá 60.000.000 Licenciamento 225
Guarajuba) – Guarajuba /Camaçari
Empreendimentos S.A.
Complexo Sol Meliá - 2ª etapa (The Guarajuba
Espanha 1.000 Grupo Sol Meliá 700.000.000 Planejamento 500
Guarajuba Beach Resort) /Camaçari
Imbassaí /
Costa de Imbassaí Resort e Cyrela Brazil
Brasil Mata de São 2.714 450.000.000 Licenciamento 2.714
Residence (Orissio Norte) Realty
João
Imbassaí /
Orissio Sul Itália Mata de São 533 Alcebíades Barata 14.500.000 Planejamento 533
João
Itacimirim
Double Tree / Les Terrasses Brasil 110 Thomas Magnus 30.000.000 Licenciamento 180
/Camaçari
Barra do
Grupo Lena (Liz
Bahia dos Coqueiros Portugal Jacuípe / 770 220.000.000 Licenciamento 1.200
Construções
Camaçari
Praia do Forte /
Iberostar (3ª Etapa) Espanha Mata de São 240 - - Planejamento 400
João
Complexo Turístico em Praia do Praia do Forte/
Forte - Norte / Bensal Holding do Espanha Mata de São 1.200 Grupo TRUSAM 500.000.000 Licenciamento 2.000
Brasil João
279
Conclusão
Unidades Incorporador ou Investimento Empregos
Empreendimento Origem Localização Situação
habitacionais proprietário estimado diretos
Complexo Turístico em Praia do Praia do Forte/
Forte - Sul / Amagerone Capital Espanha Mata de São 2.500 Grupo TRUSAM 700.000.000 Planejamento 5.000
Holding do Brasil João
Baixio –
Plano Baixio (1ª Etapa) Espanha 60 Grupo É de Prima 398.000.000 Licenciamento 1.450
Esplanada
Busca Vida Grupo Lena / Liz
Busca Vida Bangalô Resort Portugal 45 40.000.000 Planejamento 50
/Camaçari Construtora
Naurigas
Massarandupió
Naurigas/Aguaduna Espanha 970 Empreendimentos 195 000.000 Planejamento 2.983
/Entre Rios
e Participações
Costa Azul Bahia Golf Resort & Costa Azul
Espanha 2 250 Grupo Invisa 312.500.000 Planejamento 1.500
Condomínio /Jandaíra
Lauro de Graute
Aero Espaço Empresarial & Hotel Brasil 187 30.000.000 Implantação 200
Freitas Empreendimentos
Arembepe
Quintas de Arembepe Portugal 350 Design Resorts 150.000.000 Licenciamento 400
/Camaçari
Malhadas /
Fazenda Santa Clara Brasil Mata de São 150 Ernani Castro 8.400.000 Planejamento 1.000
João
Caixa de
Costa do Investimentos dos
Arena Sauípe Brasil - 6.850.000 Implantação 700
Sauípe Funcionários do
Banco do Brasil
Fonte: Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos – SUINVEST/Secretaria de Turismo, 2013; GOMES SOBRINHO, 2013.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
280
APÊNDICE B  Tabelas de vendas de terrenos em Abrantes

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 518.476 18.920.764,0 358.280 22,3 4,2
504 7.500,0 142,0 0,3
102.000 3.570.000,0 67.600,8 0,7
26.500 1.500.000,0 28.403,7 1,0
5.000 1.000.000,0 18.935,8 3,8
102.000 3.570.000,0 67.600,8 0,7
Alta estação 1,0
10.000 350.000,0 6.627,5 0,7
102000 3.000.000,0 56.807,4 0,6 0,1
102 3.264,0 61,8 0,6
60000 1.200.000,0 22.723,0 0,4
4.000 200.000,0 3.788,0 0,9
102.000 3.570.000,0 67.600,8 0,7
1.170 230.000,0 4.355,2 3,7
Baixa estação 3,2
1.200 220.000,0 4.166,0 3,5
2.000 500.000,0 9.467,9 4,7

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.795.200 7.063.000,0 103.791,4 7,1 1,6
2.000 100.000,0 1.469,5 0,7
1.000 23.000,0 338,0 0,3
1.742.400 4.000.000,0 58.780,3 0,0
Alta estação 0,4
1.000 20.000,0 293,9 0,3
2.300 30.000,0 440,9 0,2 0,7
16.000 1.000.000,0 14.695,1 0,9
5.000 250.000,0 3.673,8 0,7
5.000 240.000,0 3.526,8 0,7
Baixa estação 1,1
18.000 1.000.000,0 14.695,0 0,8
2.500 400.000,0 5.878,0 2,3
281

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 386.437 1.946.900,0 1.946.900,0 121,0 8,7
35.000 30.000,0 16.483,5 0,5
1.000 5.500,0 3.022,0 3,0
160 1.600,0 879,1 5,5
4.000 58.500,0 32.142,9 8,0
1.000 9.000,0 4.945,0 5,0
Alta estação 3,5
1.000 9.000,0 4.945,0 5,0
160 900,0 494,5 3,0
5.000 15.000,0 8.241,8 1,6
18.000 38.000,0 20.879,1 1,1
37.000 129.500,0 71.153,8 1,9
5.080 17.100,0 9.395,6 1,8
25.000 53.000,0 29.120,9 1,2
5.000 20.000,0 10.989,0 2,2 4,6
5.600 30.000,0 16.483,5 2,9
12.087 60.000,0 32.967,0 2,7
400 8.000,0 4.395,6 11,0
600 12.000,0 6.593,4 11,0
5.000 18.000,0 9.890,1 2,0
Baixa estação 5,4
12.000 60.000,0 32.967,0 2,7
5.000 50.000,0 27.472,5 5,5
1.000 25.000,0 13.736,2 13,7
1.200 20.000,0 10.989,0 9,1
5.000 70.000,0 38.461,5 7,7
1.000 5.000,0 2.747,2 2,7
150 1.800,0 989,0 6,6
200.000 1.200.000,0 659.340,7 3,3
282
Continua
2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 866.720 18.809 000,0 11.330.722,8 2.458,6 90.0
6.000 200.000,0 120.481,9 20,1
1.000 40.000,0 24.096,4 24,1
330 25.000,0 15.060,2 45,6
300 45.000,0 27.108,4 90,3
165 28.000,0 16.867,5 102,2
110 13.000,0 7.831,3 71,2
330 25.000,0 15.060,2 45,6
1.000 22.000,0 13.253,0 13,2
200 29.000,0 17.469,9 87,3
2.100 95.000,0 57.228,9 27,2
8.044 500.000,0 301.204,8 37,4
2.100 100.000,0 60.240,9 28,7
1.470 30.000,0 18.072,3 12,3
2.100 110.000,0 66.265,0 31,5
4.000 135.000,0 81.325,3 20,3
10.000 130.000,0 78.313,2 7,8 43,9
Alta estação 37,2
17 000 450.000,0 271.084,3 15,9
243 31.000,0 18.674,7 76,8
50.000 80.000,0 48.192,8 0,9
2.100 100.000,0 60.240,9 28,7
2.100 140.000,0 84.337,3 40,1
7.000 25.000,0 15.060,2 2,1
70.000 150.000,0 90.361,4 1,3
830 29.000,0 17.469,9 21,0
2.100 90.000,0 54.216,8 25,8
3.000 300.000,0 180.722,9 60,2
175.546 685.000,0 412.650,6 2,3
2.000 10.000,0 6.024,1 3,0
1.000 60.000,0 36.144,6 36,1
7.000 65.000,0 39.156,6 5,6
8.000 1.000.000,0 602.409,6 75,3
51 11.000,0 6.626,5 129,9
283
Conclusão
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
130.680 23.000,0 13.855,42 0,1
35.000 1.200.000,0 722.891,57 20,6
200 35.000,0 21.084,3 105,4
1.900 250.000,0 150.602,4 79,2
1.000 20.000,0 12.048,2 12,0
880 88.000,0 53.012,0 60,2
10.000 130.000,0 78.313,2 7,8
220.000 7.040.000,0 4.240.963,8 19,3
6.011 360.000,0 216.867,5 36,1
1.300 160.000,0 96.385,5 74,1
1.080 110.000,0 66.265,1 61,3
1.200 120.000,0 72.289,1 60,2
Baixa estação 52,8 43,9
2.280 280.000,0 168.674,7 73,1
35.000 1.200.000,0 722.891,6 20,6
5.000 250.000,0 150.602,4 30,1
4.200 370.000,0 222.891,6 53,1
880 88.000,0 53.012,0 60,2
1.000 80.000,0 48.192,8 48,2
180 32.000,0 19.277,1 107,1
7.650 1.225.000,0 737.951,8 96,4
8.000 650.000,0 391.566,3 48,9
2.100 90.000,0 54.216,9 25,8
160 35.000,0 21.084,3 131,8
3.800 220.000,0 132.530,1 34,9
284

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 50.663 9.818.000,0 4.860.000,0 1.326,5 165,8
1.200 100.000,0 49.504,9 41,3
4.700 1.645.000,0 814.356,4 173,3
200 20.000,0 9.901,0 49,5
300 110.000,0 54.455,4 181,5
Alta estação 99,1
128 20.000,0 9.901,0 77,3
320 70.000,0 34.653,4 108,3
30.000 6.000.000,0 2.970.297,0 99,0
135 17.000,0 8.415,8 62,3 82,9
2.200 190.000,0 94.059,4 42,7
3.800 530.000,0 262.376,2 69,0
1.400 300.000,0 148.514,8 106,1
200 18.000,0 8.910,9 44,5
Baixa estação 66,7
2.030 400.000,0 198.019,8 97,5
2.500 160.000,0 79.207,9 31,7
1.050 180.000,0 89.108,9 84,9
500 58.000,0 28.712,9 57,4
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
285
APÊNDICE C  Tabelas de vendas de terrenos em Açú da Torre

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 5.000 175.000,0 3.313,8 0,7 0,7
Alta estação 5.000 175.000,0 3.313,8 0,7 0,7 0,7
Baixa estação Sem registros 0,0

1990
Valor em
Valor m² em Preço médio Preço médio total
Período m² moeda Valor em US$
US$ sazonal em US$/m² em US$/m²
corrente (Cr$)
Total 36.387 2.070.00,0 30.418,8 10,7 1,5
Alta estação Sem registros 0,0
800 300.000,0 4.408,5 5,5
5.000 350.000,0 5.143,3 1,0
1.225 60.000,0 881,7 0,7 1,5
Baixa estação 1.250 50.000,0 734,7 0,6 1,5
600 60.000,0 881,7 1,5
22.512 1.000.000,0 14.695,1 0,6
5.000 250.000,0 3.673,8 0,7

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 93.937 238.292,5 130.929,9 16,6 3,7
5.000 22.000,0 12.087,9 2,4
5.200 8.000,0 4.395,6 0,8
Alta estação 1,7
1.020 5.000,0 2.747,2 2,7
1,8
22.500 35.000,0 19.230,8 0,8
5.000 7.000,0 3.846,1 0,8
Baixa estação 22.517 56.292,5 30.929,9 1,4 2,0
5.200 10.000,0 5.494,5 1,1
286

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 27.200 740.000,0 443.783,1 41,1 41,1
Alta estação 1.200 50.000,0 30.120,5 25,1 25,1 20,5
Baixa estação 26.000 690.000,0 415.662,6 16,0 16,0

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
287
APÊNDICE D  Tabelas de vendas de terrenos em Areias

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.000 420.000,0 7.953,0 7,9 7,9
Alta estação Sem registros 0,0 7,9
Baixa estação 1.000 420.000,0 7.953,0 7,9 7,9

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.000 5.500,0 3.022,0 3,0 0,00
Alta estação Sem registros 0,00 3,0
Baixa estação 1.000 5.500,0 3.022,0 3,0 0,00

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 4.000 90.000,0 54.216,2 13,5 13,5
Alta estação 4.000 90.000,0 54.216,9 13,5 13,5 13,5
Baixa estação Sem registros 0,0

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
288
APÊNDICE E  Tabelas de vendas de terrenos em Arembepe
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 485.196 7.659.350,0 145.036,0 40,0 26,0
187 9 350,0 177,0 0,9
8.000 400.000,0 7.574,3 0,9
172.000 1.000.000,0 18.935,8 0,1
Alta estação 1.209 250.000,0 4.733,9 4,0 2,3 5,0
300.000 3.000.000,0 56.807,4 0,2
800 150.000,0 2.840,4 3,6
1.000 350.000,0 6.627,5 6,7
Baixa estação 2.000 2.500.000,0 47.339,5 23,7 23,7

Continua
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.565.028 11.371.800,0 167.109,5 202,8 12,3
360 5.000,0 73,5 0,2
1.372.140 2.700.000,0 39.676,7 0,0
300 5.000,0 73,5 0,2
310 100.000,0 1.469,5 4,7
300 80.000,0 1.175,6 3,9
1.400 40.000,0 587,8 0,4
1.228 150.000,0 2.204,3 1,80
30.000 80.000,0 1.175,6 0,0
6,1
Alta estação 480 20.000,0 293,9 0,6 6,1
480 20.000,0 293,9 0,6
600 180.000,0 2.645,1 4,4
400 500.000,0 7.347,5 18,4
200 250.000,0 3.673,8 18,4
400 500.000,0 7.347,5 18,4
200 200.000,0 2.939,0 14,7
20.000 350.000,0 5.143,3 0,3
250 350.000,0 5.143,3 20,6
289
Conclusão
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
90.000 900.000,0 13.225,6 1,4
300 300.000,0 4.408,5 0,6
510 50.000,0 734,7 1,4
8.000 350.000,0 5.143,3 0,6
300 70.000,0 1.028,7 3,4
350 400.000,0 5.878,0 16,8
900 160.000,0 2.351,2 2,6
13.000 2.000.000,0 29.390,1 2,3
Baixa estação 6,2 6,1
510 70.000,0 1.028,7 2,0
20.000 196.800,0 2.892,0 0,1
510 300.000,0 4.408,5 8,6
510 85.000,0 1.249,1 2,5
300 40.000,0 587,8 2,0
240 200.000,0 2.939,0 12,0
300 400.000,0 5.878,0 19,6
250 320.000,0 4.702,4 18,8
290
Continua
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 13,6 1.007.200,0 553.406,6 510,8 34,9
670 12.000,0 6.593,4 9,8
1.200 5.000,0 2.747,2 2,3
1.000 7.000,0 3.846,1 3,8
350.000 175.000,0 96.153,9 0,3
1.000 5.000,0 2.747,2 2,7
1.038 35.000,0 19.230,8 18,5
300 1.500,0 824,2 2,7
300 1.500,0 824,2 2,7
70.000 28.000,0 15.384,6 0,2
200 4.000,0 2.197,8 11,0
500 7.500,0 4.120,9 8,24
650 11.000,0 6.044,0 9,3 13,6
Alta estação 5,2
915 4.900,0 2.692,3 2,9
915 4.000,0 2.197,8 2,4
20.000 12.000,0 6.593,41 0,3
500 4.000,0 2.197,8 4,4
400 12.000,0 6.593,4 16,5
670 11.000,0 6.044,0 9,0
87.120 17.000,0 9.340,6 0,1
32.000 23.000,0 12.637,3 0,4
43.560 12.000,0 6.593,4 0,1
20.000 12.000,0 6.593,4 0,3
200 5.000,0 2.747,2 13,7
1.000 4.500,0 2.472,5 2,5
291
Conclusão
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
660 7.000,0 3.846,1 5,8
300 180.000,0 98.901,1 329,7
2.500 25.000,0 13.736,3 5,5
500 5.900,0 3.241,8 6,45
261.360 45.000,0 24.725,3 0,1
1.000 8.400,0 4.615,4 4,6
Baixa estação 1.500 30.000,0 16.483,5 11,0 29,7 13,6
20.000 17.000,0 9.340,7 0,5
20.000 17.000,0 9.340,7 0,5
1.000 8.000,0 4.395,6 4,4
100.000 85.000,0 46.703,3 0,5
510 15.000,0 8.241,8 16,2
70.000 150.000,0 82.417,6 1,2

Continua
2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 802.373 4.812.565,0 2.899.135,5 1.497,6 89,5
1.000 35.000,0 21.084,3 21,1
250 40.000,0 24.096,4 96,4
1.400 250.000,0 150.602,4 107,6
300.000 900.000,0 542.168,7 1,8
20.000 60.000,0 36.144,6 1,8
100.000 300.000,0 180.722,9 1,8
44,1
Alta estação 70.000 630.000,0 379.518,0 5,4 38,4
1.125 37.000,0 22.289,2 19,8
1.400 250.000,0 150.602,4 107,6
70.000 630.000,0 379.518,1 5,4
30.000 130.000,0 78.313,2 2,6
1.000 35.000,0 21.084,3 21,1
500 25.000,0 15.060,2 30,1
292
Conclusão
2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
250 50.000,0 30.120,5 120,5
95.000 200.000,0 120.481,9 1,3
250 60.000,0 36.144,6 144,6
Alta estação 38,4
69.100 217.665,0 131.123,5 1,9
600 24.000,0 14.457,8 24,1
620 16.000,0 9.638,5 15,6
30.000 75.000,0 45.180,7 1,5
782 65.000,0 39.156,6 50,1
270 34.900,0 21.024,1 77,9
250 25.000,0 15.060,2 60,3
274 25.000,0 15.060,2 55,0 44,1
2.200 150.000,0 90.361,4 41,1
1.000 35.000,0 21.084,3 21,1
Baixa estação 360 12.000,0 7.228,9 20,1 51,1
250 38.000,0 22.891,6 91,6
300 14.000,0 8.433,7 28,1
755 43.000,0 25.903,6 34,3
782 65.000,0 39.156,6 50,1
1.000 49.000,0 29.518,0 29,5
255 42.000,0 25.301,2 99,2
1.400 250.000,0 150.602,4 107,6
293

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 15.720 1.779.000,0 880.693,1 1.038,7 76,7
250 70.000,0 34.653,5 138,6
230 50.000,0 24.752,5 107,6
600 55.000,0 27.227,7 45,4
1.000 45.000,0 22.277,2 22,3
2.070 900.000,0 445.544,5 215,2
1.000 80.000,0 39.603,0 39,6
900 60.000,0 29.703,0 33,0
300 37.000,0 18.316,8 61,0
Alta estação 300 20.000,0 9.901,0 33,0 56,3
1.000 32.000,0 15.841,6 15,8
49,5
250 40.000,0 19.802,0 79,2
1.100 55.000,0 27.227,7 24,7
1.000 50.000,0 24.752,5 24,7
1.000 13.000,0 6.435,6 6,4
360 15.000,0 7.425,7 20,6
500 55.000,0 27.227,7 54,5
1.200 85.000,0 42.079,2 35,1
1.000 48.000,0 23.762,4 23,8
300 10.000,0 4.950,5 16,5
Baixa estação 20,4
360 14.000,0 6.930,7 19,2
1.000 45.000,0 22.277,2 22,3
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
294
APÊNDICE F  Tabelas de vendas de terrenos em Barra do Pojuca
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.000 20.000,0 2.939,0 2,9 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação 1.000 200.000,0 2.939,0 2,9 0,0

Continua
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 761.660 254.660,0 139 923,1 14,09 0,9
5.500 5.000,0 2.747,2 0,5
60.000 15 000,0 8.241,8 0,1
1.000 1.000,0 549,4 0,5
5.000 5.500,0 3.021,0 0,6
304.920 45.000,0 24.725,3 0,1
60.000 15.000,0 8.241,8 0,1
1.000 1.000,0 549,4 0,5 0,5
Alta estação 0,5
10.000 12.500,0 6.868,1 0,7
56.000 20.160,0 11.076,9 0,2
1 000 1.000,0 549,4 0,5
6.000 7.500,0 4.120,9 0,7
174.240 46.000,0 25.274,7 0,1
10.000 12.500,0 6.868,1 0,7
1.000 1.000,0 549,4 0,5
295
Conclusão
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
6 000 7.500,0 4.120,9 0,7
1.500 2.500,0 1.373,6 0,9
Baixa estação 16.500 23.000,0 12.637,3 0,8 0,6
10.000 12.500,0 6.868,1 0,7
1.000 1.000,0 549,4 0,5
6.000 7.500,0 4.120,9 0,7
0,5
1.000 2.000,0 1.098,9 1,1
1.000 2.000,0 1.098,9 1,1
Baixa estação 1.000 1.000,0 549,5 0,5 0,38
1.000 1.000,0 549,5 0,5
20.000 6.000,0 3.296,7 0,2
1.000 500,0 274,7 0,3

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 5.842 59.000,0 35.542,2 94,8 19,0
Alta estação Sem registro 0,0
150 8.000,0 4.819,3 32,1
150 12.000,0 7.228,9 48,2 19,0
Baixa estação 3.000 15.000,0 9.036,1 3,0 19,0
1.400 12.000,0 7.228,9 5,2
1.142 12.000,0 7.228,9 6,3
296

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 33.310 388.000,0 192.079,2 451,9 59,2
1.000 7.500,0 3.712,9 3,7
5.000 65.000,0 32.178,2 6,4
Alta estação 5,4
6.000 65.000,0 32.178,2 5,4
2.800 35.000,0 17.326,7 6,2
150 7.000,0 3.465,3 23,1
150 10.000,0 4.950,5 33,0 37,7
15.000 120.000,0 59.405,9 4,0
150 7.500,0 3.712,87 24,7
Baixa estação 53,8
1.000 11.500,0 5.693,1 5,7
1.000 8.500,0 4.207,9 4,2
60 40.000,0 19.802,0 330,0
1.000 11.000,0 5.445,5 5,5
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
297
APÊNDICE G  Tabelas de vendas de terrenos em Barra do Jacuípe

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 4.010 540.000,0 10.225,4 7,6 5,2
1.350 170.000,0 3.219,1 2,4
Alta estação 2,4 2,5
1.330 170.000,0 3.219,1 2,4
Baixa estação 1.330 200.000,0 3.787,2 2,9 2,9

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 15.000 550.000,0 565.000,0 24,6 5,6
1.120 85.000,0 1.249,1 1,1
4,0
1.150.000 140.000.000,0 2.057.310,8 1,8
Alta estação 5.100 2.000.000,0 29.390,2 5,8
510 6.000,0 88,2 0,2 5,6 3,1
600 450.000,0 6.612,8 11,0
1.200 300.000,0 4.408,5 3,7
Baixa estação 5.000 200.000,0 2.939,0 0,6 1,6
10.000 350.000,0 5.143,3 0,5
298

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 65.988 433.140,0 237.989,0 140,4 13,4
600 2.000,0 1.098,9 1,8
510 15.000,0 8.241,8 16,2
230 5.640,0 3.098,9 13,5
510 15.000,0 8.241,8 16,2
826 8.000,0 4.395,6 5,4
6.000 32.000,0 17.582,5 2,9
Alta estação 8,3
826 8.000,0 4.395,6 5,3
510 13.000,0 7.142,9 14,0
600 3.500,0 1.923,1 3,2
826 8.000,0 4.395,6 5,3 7,0
500 12.000,0 6.593,4 13,2
1.000 4.000,0 2.197,8 2,2
500 10.000,0 5.494,5 11,0
5.050 25.000,0 13.736,3 2,7
1.000 8.500,0 4.670,3 4,7
1.400 12.000,0 6.593,4 4,7
Baixa estação 5,2
22.000 120.000,0 65.934,1 3,0
600 2.500,0 1.373,6 2,3
22.000 120.000,0 65.934,1 3,0
500 9.000,0 4.945,0 9,9
299

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 74.460 21.168.000,0 12.751.807,2 930,5 93,7
5.000 290.000,0 174.698,8 34,9
600 65.000,0 39.156,6 65,3
510 60.000,0 36.144,6 70,9
43.000 20.000 000,0 12.048.192,8 280,2
600 65.000,0 39.156,6 65,3
300 12.000,0 7.228,9 24,1
Alta estação 300 14.000,0 8.433,7 28,1 52,6
300 13.000,0 7.831,3 26,1
530 32.000,0 19.277,1 36,4
49,0
6.000 90.000,0 54.216,9 9,0
3.500 100.000,0 60.241,0 17,2
2.000 75.000,0 45.180,7 22,6
5.900 35.000,0 21.084,3 3,6
420 65.000,0 39.156,6 93,2
1.000 15.000,0 9.036,1 9,0
600 55.000,0 33.132,5 55,2
Baixa estação 41,1
1.800 70.000,0 42.168,7 23,4
1.800 95.000,0 57.228,9 31,8
300 17.000,0 10.241,0 34,1
300

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 13.895 1.326.000,0 656.435,6 751,2 124,5
455 24.000,0 11.881,2 26,1
300 21.000,0 10.396,0 34,6
420 85.000,0 42.079,2 100,2
160 35.000,0 17.326,7 108,3
Alta estação 400 60.000,0 29.703,0 74,2 63,0
400 60.000,0 29.703,0 74,3 62,6
1.400 120.000,0 59.405,9 42,4
2.800 350.000,0 173.267,3 61,9
5.000 450.000,0 222.772,3 44,5
1.000 28.000,0 13.861,4 13,9
Baixa estação 260 68.000,0 33.663,4 129,5 61,5
300 25.000,0 12.376,2 41,2
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
301
APÊNDICE H  Tabelas de vendas de terrenos em Guarajuba
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.165.791 13.900.000,0 263.207,7 114,2 9,8
350.000 1.750.000,0 33.137,6 0,1
361.548 2.000.000,0 37.871,6 0,1
18.000 500.000,0 9.467,9 0,5
1.000 280.000,0 5.302,0 5,3
1.000 180.000,0 3.408,45 3,4
1.500 250.000,0 4.733,9 3,2
1.000 200.000,0 3.787,2 3,8
Alta estação 4,2
1.463 260.000,0 4.923,3 3,4
1.000 300.000,0 5.680,7 5,7
1.680 180.000,0 3.408,4 2,0
1.000 150.000,0 2.840,4 2,84
4,8
1.400 250.000,0 4.733,9 3,4
700 300.000,0 5.680,7 8,1
750 650.000,0 12.308,3 16,4
360.000 2.880.000,0 54.535,1 0,1
1.000 200.000,0 3.787,2 3,8
1.000 120.000,0 2.272,3 2,3
1.000 250.000,0 4.733,9 4,7
Baixa estação 1.000 300.000,0 5.680,7 5,7 5,7
750 1.500.000,0 28.403,7 37,9
18.000 500.000,0 9.467,9 0,5
18.000 500.000,0 9.467,9 0,5
18.000 150.000,0 2.840,4 0,2
302

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 234.551 14.794.900,0 217.412,2 253,3 18,0
1.078 80.000,0 1.175,6 1,1
428 30.000,0 440,8 1,0
1.000 50.000,0 734,7 0,7
209.088 199.900,0 2.937,5 0,0
1.300 50.000,0 734,7 0,6
Alta estação 1.000 135.000,0 1.983,8 2,0 11,6
600 800.000,0 11.756,1 19,6
1.000 2.500.000,0 36.737,7 36,7
400 1.100.000,0 16.164,6 40,4
1.000 500.000,0 7.347,5 7,3
2.000 2.500.000,0 36.737,7 18,4
700 500.000,0 7.347,5 10,5
1.000 350.000,0 5.143,3 5,1 9,7
1.125 200.000,0 2.939,0 2,6
760 700.000,0 10.286,5 13,5
1.080 200.000,0 2.939,0 2,7
2.000 550.000,0 8.082,3 4,0
718 600.000,0 8.817,0 12,3
Baixa estação 718 600.000,0 8.817,0 12,3 8,3
400 500.000,0 7.347,5 18,4
711 500.000,0 7.347,5 10,3
1.058 300.000,0 4.408,5 4,2
687 500.000,0 7.347,5 10,7
700 680.000,0 9.992,6 14,3
1.000 120.000,0 1.763,4 1,8
3.000 550.000,0 8.082,3 2,7
303

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 9.751 286.800,0 157.582,4 339,9 41,1
400 16.000,0 8.791,2 21,6
405 10.000,0 5.494,5 13,6
4.000 30.000,0 16.483,5 4,1
600 32.000,0 17.582,4 29,3
Alta estação 30,1
4.000 8.000,0 4.395,6 1,1
100 30.000,0 16.483,5 164,8
405 2.000,0 1.098,9 2,7
1.200 7.000,0 3.846,1 3,2
20,0
1.000 17.000,0 9.340,7 9,3
1.000 16.000,0 8.791,2 8,8
1.278 4.800,0 2.637,4 2,0
525 12.000,0 6.593,4 12,6
Baixa estação 1.000 8.000,0 4.395,6 4,4 11,0
560 25.000,0 13.736,3 24,5
1.278 4.000,0 2.197,8 1,7
1.000 32.500,0 17.857,1 17,9
1.000 32.500,0 17.857,1 17,9
304

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 11.067 2.314.000,0 1.393.975,0 1.779,0 253,0
500 150.000,0 90.361,4 180,7
500 230.000,0 138.554,2 277,1
1.012 17.000,0 10.240,9 10,1
638 200.000,0 120.481,9 189,0
Alta estação 2.000 850.000,0 512.048,2 256,0 153,4
1.000 36.000,0 21.686,7 21,7
136,8
745 270.000,0 162.650,6 218,3
534 180.000,0 108.433,7 203,0
1.186 49.000,0 29.518,1 24,9
440 180.000,0 108.433,7 246,4
500 100.000,0 60.241,0 120,5
Baixa estação 99,5
1.000 33.000,0 19.879,5 19,9
1.012 19.000,0 11.445,8 11,3

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 15.718 2.938.000,0 1.454.455,4 1.577,0 405,1
425 190.000,0 94.059,4 221,3
500 210.000,0 103.960,4 207,9
1.500 68.000,0 33.663,4 22,4
Alta estação 1.000 40.000,0 19.802,0 19,8 157,5
175,2
10.500 1.500.000,0 742.574,3 70,7
425 190.000,0 94.059,4 221,3
420 270.000,0 133.663,4 318,2
448 260.000,0 128.712,9 287,3
Baixa estação 247,6
500 210.000,0 103.960,4 207,9
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
305
APÊNDICE I  Tabelas de vendas de terrenos em Itacimirim
Continua
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 848.509 32.077.400,0 607.911,4 173,1 6,4
5.300 185.000,0 3.503,1 0,6
500 2.000,0 37,9 0,1
1.400 280.000,0 5.302,0 3,8
1.800 270.000,0 5.112,7 2,8
Alta estação 1.000 300.000,0 5.680,7 5,7 2.2
5.250 145.000,0 2.745,7 0,5
1.800 270.000,0 5.112,7 2,8
6.000 150.000,0 2.840,4 0,5
16.000 2.400.000,0 45.445,9 2,8
5.200 120.000,0 2.272,3 0,4
1.000 300.000,0 5.680,7 5,7
131.000 150.000,0 2.840,4 0,0
5.344 185.000,0 3.503,1 0,7
1.800 171.000,0 3.238,0 1,8
6.000 90.000,0 1.704,2 0,3 3,0
150.000 150.000,0 2.840,4 0,0
15.900 477.000,0 9.032,4 0,6
1.400 280.000,0 5.302,0 3,8
1.000 300.000,0 5.680,7 5,7
Baixa estação 3.000 180.000,0 3.408,4 1,1 3,2
174.240 3.150.000,0 59.647,8 0,3
131.000 3.000.000,0 56.807,4 0,4
5.000 1.200.000,0 22.723,0 4,5
1.220 100.000,0 1.893,6 1,5
5.400 1.500.000,0 28.403,71 5,3
28.300 700.000,0 13.255,1 0,5
9.000 360.000,0 6.816,9 0,8
5.400 1.500.000,0 28.403,7 5,3
16.000 500.000,0 9.467,9 0,6
5.000 250.000,0 4.733,9 0,9
306
Conclusão
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
6.000 2.500.000,0 47.339,5 7,9
6.200 600.000,0 11.361,5 1,8
5.500 1.500.000,0 28.403,7 5,2
16.000 500.000,0 9.467,9 0,6
6.200 800.000,0 15.148,6 2,4
850 250.000,0 4.733,9 5,6
5.000 100.000,0 1.893,6 0,34
5.000 150.000,0 2.840,4 0,6
5.000 180.000,0 3.408,4 0,7
240 170.000,0 3.219,1 13,4
1.000 180.000,0 3.408,4 3,4
1.000 200.000,0 3.787,2 3,8
1.890 300.000,0 5.680,7 3,0
1.000 180.000,0 3.408,4 3,4
Baixa estação 3,2 3,0
5.000 220.000,0 4.165,9 0,8
1.000 180.000,0 3.408,4 3,4
6.000 2.100.000,0 39.765,2 6,6
5.060 506.000,0 9.581,5 1,9
1.000 180.000,0 3.408,4 3,4
2.700 500.000,0 9.467,9 3,5
200 280.000,0 5.302,0 26,5
5.200 280.000,0 5.302,0 1,0
6.675 450.000,0 8.521,1 1,3
5.040 176.400,0 3.340,3 0,7
5.000 250.000,0 4.733,9 0,9
1.000 180.000,0 3.408,4 3,4
1.500 300.000,0 5.680,7 3,8
1.000 200.000,0 3.787,2 3,8
307

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 39.499 5.604.760,0 82.362,4 44,62 7,2
7.000 36.000,0 529,00 0,1
15.000 1.200.000,0 17.634,1 1,2
Alta estação 5.500 1.200.000,0 17.634,1 3,2 5,0
1.300 1.493.760,0 21.950,9 16,9
1.000 250.000,0 3.673,8 3,7
1.000 250.000,0 3.673,8 3,7
1.000 80.000,0 1.175,6 1,2 3,2
1.000 300.000,0 4.408,5 4,4
1.000 90.000,0 1.322,1 1,3
Baixa estação 1.080 190.000,0 2.792,1 2,6 2,2
1.059 130.000,0 1.910,4 1,8
1.000 80.000,0 1.175,6 1,2
1.560 195.000,0 2.865,5 1,8
1.000 110.000,0 1.616,5 1,6
308

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 579.738 354.500,0 194.780,2 88,4 10,3
900 35.000,0 19.230,8 21,4
1.200 11.000,0 6.044,0 5,0
450 15.000,0 8.241,8 18,3
5.200 2.500,0 1.373,6 0,3
174.240 46.000,0 25.274,7 0,1
Alta estação 6,6
361.548 85.000,0 46.703,3 0,1
1.400 6.000,0 3.296,7 2,3
1.400 6.000,0 3.296,7 2,3 5,5
1.000 25.000,0 13.736,3 13,7
1.800 6.500,0 3.571,4 2,0
1.800 6.500,0 3.571,4 2,0
5.000 3.000,0 1.648,3 0,3
20.000 70.000,0 38.461,5 1,9
Baixa Estação 3,8
1.400 6.000,0 3.296,7 2,3
1.400 6.000,0 3.296,7 2,3
1.000 25.000,0 13.736,3 13,7
309

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 53.652 7.322.000,0 4.410.843,4 1.292,5 121,1
3.700 190.000,0 114.457,8 30,9
1.000 60.000,0 36.144,6 36,1
800 30.000,0 18.072,3 22,6
1.000 50.000,0 30.120,5 30,1
1.000 40.000,0 24.096,4 24,1
Alta estação 2.000 60.000,0 36.144,6 18,0 75,0
2.150 1.000,0 602,4 0,3
5.652 1.600.000,0 963.855,4 170,5
8.000 2.500.000,0 1.506.024,1 188,2
805 32.500,0 19.578,3 24,3
61,5
2.150 1.000.000,0 602.409,6 280,2
2.000 190.000,0 114.457,8 57,2
1.000 40.000,0 24.096,4 24,1
1.000 40.000,0 24.096,4 24,1
8.000 450.000,0 271.084,3 33,9
800 40.000,0 24.096,4 30,1
Baixa estação 46,1
2.725 320.000,0 192.771,1 70,7
220 13.500,0 8.132,5 37,0
800 80.000,0 48.192,8 60,2
850 135.000,0 81.325,3 95,7
8.000 450.000,0 271.084,3 33,9
310

2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 98.971 7.788.720,0 3.855.802,0 1.674,3 145,8
1.000 50.000,0 24.752,5 24,7
920 370.000,0 183.168,3 199,1
1.000 40.000,0 19.802,0 19,8
1.000 210.000,0 103.960,4 104,0
3.000 310.000,0 153.465,3 51,2
1.000 30.000,0 14.851,49 14,8
3.000 310.000,0 153.465,3 51,2
Alta estação 72,3
920 370.000,0 183.168,3 199,1
1.000 60.000,0 29.703,0 29,7
1.000 70.000,0 34.653,4 34,6
1.000 230.000,0 113.861,4 113,9
72,8
1.000 50.000,0 24.752,5 24,7
670 65.000,0 32.178,2 48,0
1.000 197.000,0 97.524,7 97,5
1.000 22.000,0 10.891,1 10,9
2.040 250.000,0 123.762,4 60,7
1.600 200.000,0 99.009,9 61,9
2.000 200.000,0 99.009,9 49,5
Baixa estação 3.000 310.000,0 153.465,3 51,2 73,5
3.096 2.167.720,0 1.073.128,7 346,6
2.725 305.000,0 150.990,1 55,4
65.000 1.950.000,0 965.346,5 14,8
1.000 22.000,0 10.891,1 10,9
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
311
APÊNDICE J  Tabelas de vendas de terrenos em Jauá

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 338.562 18.327.000,0 347.036,5 152,9 13,2
550 250.000,0 4.733,9 8,6
600 300.000,0 5.680,7 9,5
14.000 2.100.000,0 39.765,2 2,8
14.000 380.000,0 7.195,6 0,5
6.000 1.300.000,0 24.616,5 4,1
300 250.000,0 4.733,9 15,8
Alta estação 8,0
300 150.000,0 2.840,4 9,5
3.400 1.300.000,0 24.616,5 7,2
1.070 642.000,0 12.156,8 11,4
260 260.000,0 4.923,3 18,9
1.112 450.000,0 8.521,1 7,7
6,6
230.000 2.500.000,0 47.339,5 0,2
750 225000,0 4.260,6 5,7
16.000 1.920000,0 36.356,7 2,3
16.000 1.600 000,0 30.297,3 1,9
800 350.000,0 6.627,5 8,3
5.000 600.000,0 11.361,5 2,3
Baixa estação 16.000 1.280.000,0 24.237,8 1,5 5,2
550 250.000,0 4.733,9 8,6
320 200.000,0 3.787,2 11,8
6.000 1.500.000,0 28.403,7 4,7
5.000 270.000,0 5.112,7 1,0
550 250.000,0 4.733,9 8,6
312
Continua
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 62.217 11.138.500,0 163.681,1 162,6 8,6
1.240 35.000,0 514,3 0,4
600 30.000,0 440,8 0,7
500 50.000,0 734,7 1,5
5.000 180.000,0 2.645,1 0,5
1.000 48.000,0 705,4 0,7
1.170 85.000,0 1.249,1 1,1
940 45.000,0 661,3 0,7
1.000 160.000,0 2.351,2 2,3
2.700 70.000,0 1.028,7 0,4
12.000 80.000,0 1.175,6 0,1
1.000 60.000,0 881,7 0,9
1.170 140.000,0 2.057,3 1,7
300 45.000,0 661,3 2,2
1.000 30.000,0 440,8 0,4
600 12.000,0 176,3 0,3
Alta estação 3,3 3,7
1.000 120.000,0 1.763,4 1,7
600 54.000,0 793,5 1,3
2.000 1.800.000,0 26.451,1 13,2
1.600 800.000,0 11.756,0 7,3
860 350.000,0 5.143,3 6,0
1.200 300.000,0 4.408,5 3,7
1.000 650.000,0 9.551,8 9,5
600 400.000,0 5.878,0 9,8
1.000 450.000,0 6.612,8 6,6
1.500 750.000,0 11.021,3 7,3
1.200 350.000,0 5.143,3 4,3
500 350.000,0 5.143,3 10,3
400 90.000,0 1.322,5 3,3
390 110.000,0 1.616,5 4,1
800 149.500,0 2.196,9 2,7
313
Conclusão
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
1.525 200.000,0 2.939,0 1,9
600 150.000,0 2.204,3 3,3
1.000 160.000,0 2.351,2 2,3
Alta estação 3.3
1.800 350.000,0 5.143,3 2,9
2.700 400.000,0 5.878,0 2,2
1.170 185.000,0 2.719,0 2,3
2.700 450.000,0 6.612,8 2,4
3.7
102 100.000,0 1.469,5 14,4
600 250.000,0 3.673,8 6,1
1.000 250.000,0 3.673,8 3,6
Baixa estação 5,2
500 230.000,0 3.379,9 6,75
600 140.000,0 2.057,3 3,4
1.200 280.000,0 4.114,6 3,4
1.850 200.000,0 2.939,0 1,6

Continua
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 54.668 544.500,0 299.175,8 414,6 16,3
675 5.000,0 2.747,2 4,1
300 7.000,0 3.846,1 12,8
1.000 5.000,0 2.747,2 2,7
300 6.000,0 3.296,7 11,0
1.245 12.000,0 6.593,4 5,3
1.000 6.000,0 3.296,7 3,3 8,0
Alta estação 6,7
1.000 4.000,0 2.197,8 2,2
1.000 6.000,0 3.296,7 3,3
600 7.000,0 3.846,1 6,4
1.980 24.000,0 13.186,8 6,7
500 3.000,0 1.648,3 3,3
100 1.800,0 989,0 9,9
314
Continuação
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
1.000 7.000,0 3.846,1 3,8
300 2.900,0 1.593,4 5,3
1.080 8.300,0 4.560,4 4,2
1.245 12.000,0 6.593,4 5,3
300 2.900,0 1.593,4 5,3
300 6.000,0 3.296,7 11,0
1.000 2.900,0 1.593,4 1,6
500 9.000,0 4.945,05 9,9
Alta estação 1.000 7.000,0 3.846,1 3,8 6,7
2.000 20.000,0 10.989,0 5,5
600 19.500,0 10.714,3 17,9
3.000 15.000,0 8.241,8 2,75
800 11.000,0 6.044,0 7,5
350 15.000,0 8.241,8 23,5
500 5.000,0 2.747,2 5,5
500 5.000,0 2.747,2 5,5
500 5 000,0 2.747,2 5,5 8,0
381 6.500,0 3.571,4 9,4
10.000 13.000,0 7.142,9 0,7
1.160 7.000,0 3.846,1 3,3
1.000 3.500,0 1.923,1 2,0
300 5.000,0 2.747,2 9,2
500 4.500,0 2.472,5 4,9
600 9.000,0 4.945,0 8,2
1.000 6.000,0 3.296,7 3,3
Baixa estação 9,5
900 42.000,0 23.076,9 25,6
300 5.000,0 2.747,2 9,2
1.000 3.800,0 2.087,9 2,1
1.160 7.000,0 3.846,1 3,3
400 42.000,0 23.076,9 57,7
266 3.200,0 1.758,2 6,6
1.246 1.200,0 659,3 0,5
1.160 7.000,0 3.846,1 3,3
315
Conclusão
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
900 42.000,0 23.076,9 25,6
1.050 50.000,0 27.472,5 26,2
1.600 12.000,0 6.593,4 4,1
Baixa estação 1.000 1.500,0 824,2 0,8 9,5 8,0
1.250 11.000,0 6.043,9 4,8
1.140 10.000,0 5.494,5 4,8
1.680 12.000,0 6.593,4 3,9

2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 29.200 1.556.000,0 337.349,4 731,3 72,1
2.100 130.000,0 78.313,2 37,3
390 30.000,0 18.072,3 46,3
2.100 130.000,0 78.313,2 37,4
900 20.000,0 12.048,2 13,4
Alta estação 33,4
900 27.000,0 16.265,0 18,1
4.000 90.000,0 54.216,9 13,5
160 10.000,0 6.024,1 37,6
520 55.000,0 33.132,5 63,7
900 22.000,0 13.253,0 14,7
2.000 85.000,0 51.204,8 25,6 36.6
3.100 105.000,0 63.253,0 20,4
2.100 130.000,0 78.313,2 37,3
190 25.000,0 15.060,2 79,3
1.000 78.000,0 46.987,9 47,0
Baixa estação 38,7
1.200 50.000,0 30.120,5 25,1
360 28.000,0 16.867,5 46,8
2.100 130.000,0 78.313,2 37,3
1.850 185.000,0 111.445,8 60,2
600 26.000,0 15.662,6 26,1
2.730 200.000,0 120.481,9 44,1
316
2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 41.109 2.460.000,0 1.217.821,8 416,3 67,5
900 22.000,0 10.891,1 12,1
600 35.000,0 17.326,7 28,9
Alta estação 1,87
4.000 130.000,0 64.356,4 16,1
4.000 145.000,0 71.782,2 17,9
1.200 70.000,0 34.653,5 28,9
37,8
1.000 55.000,0 27.227,7 27,2
1.000 120.000,0 59.405,9 59,4
Baixa estação 2.000 240.000,0 118.811,9 59,4 48.8
1.080 75.000,0 37.128,7 34,4
25.000 1.500.000,0 742.574,2 29,7
329 68.000,0 33.663,3 102,3
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
317
APÊNDICE K  Tabelas de vendas de terrenos em Malhadas

1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 400 15.000,0 9.036,1 22,6 22,6
Alta estação Sem registros 0,0 22,6
Baixa estação 400 15.000,0 9.036,1 22,6 22,6
2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
318
APÊNDICE L  Tabelas de vendas de terrenos em Monte Gordo
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 147.625 4.041.500,0 76.529,0 17,4 3,3
1.300 221.000,0 4.184,8 3,2
330 170.000,0 3.219,1 9,7
5.905 200.000,0 3.787,2 0,6
Alta estação 5.505 200.000,0 3.787,2 0,7 2,1
1,9
40.000 550.000,0 10.414,7 0,3
42 500,0 9,5 0,2
43.000 500.000,0 9.467,9 0,2
40.000 1.000.000,0 18.935,8 0,5
Baixa estação 1,2
11.543 1.200.000,0 22.723,0 2,0

1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 28.562 1.540.000,0 22.630,4 17,4 5,8
20.000 20.000,0 293,9 0,0
Alta estação 3,7
1.020 480.000,0 7.053,6 6,9
2,9
3.522 200.000,0 2.939,0 0,8
Baixa estação 1.000 200.000,0 2.939,0 2,9 2,1
2.000 350.000,0 5.143,3 2,8
319

2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 746.104 509.900,0 280.164,8 73,5 5,9
5.100 4.500,0 2.472,5 0,5
1.000 5.500,0 3.022,0 3,0
300 1.700,0 934,1 3,1
1.749 14.500,0 7.967,0 4,5
566.280 40.000,0 21.978,0 0,0
1.000 5.500,0 3.022,0 3,0
300 2.000,0 1.098,9 3,6
300 1.500,0 824,2 2,7
1.400 8.500,0 4.670,3 3,3
Alta estação 2.2
875 7.000,0 3.846,1 4,4
1.000 3.500,0 1.923,01 1,9
800 2.000,0 1.098,9 1,4
10.000 23.000,0 12.637,4 1,3
2,7
10.000 23.000,0 12.637,4 1,3
14.000 30.000,0 16.483,5 1,2
20.000 60.000,0 32.967,0 1,6
1.800 5.000,0 2.747,2 1,5
20.000 60.000,0 32.967,0 1,6
300 700,0 384,6 1,3
4.000 40.000,0 21.978,0 5,5
4.000 40.000,0 21.978,0 5,5
18.000 27.000,0 14.835,2 0,8
Baixa estação 1.000 15.000,0 8.241,8 8,2 3,7
13.000 20.000,0 10.989,0 0,8
16.500 30.000,0 16.483,5 1,0
400 7.000,0 3.846,1 9,6
33.000 33.000,0 18.131,8 0,5
320
2010
Período m² Valor em moeda Valor em US$ Valor m² em US$ Preço médio Preço médio total
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 672.000 2.130.079,0 1.283.180,1 227,5 30,1
130 6.500,0 3.915,7 30,1
566.280 900.000,0 542.168,6 1,0
760 17.000,0 10.241,0 13,5
1.800 30.000,0 18.072,3 10,0
Alta estação 16,9
130 6.500,0 3.915,7 30,1
250 6.000,0 3.614,5 14,5
5.000 220.000,0 132.530,1 26,5
15,2
1.100 18.000,0 10.843,4 9,9
1.000 15.000,0 9.036,1 9,0
250 15.000,0 9.036,1 36,1
1.000 15.000,0 9.036,1 9,0
Baixa estação 63.000 2.079,0 1.252,4 0,0 13,1
12.000 14.000,0 8.433,7 0,7
1.000 15.000,0 9.036,1 9,0
18.300 850.000,0 512.048,2 28,0
2012
Período m² Valor em moeda Valor em US$ Valor m² em US$ Preço médio Preço médio total
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 79.525 838.500,0 415.099,0 202,0 30,2
4.000 45.000,0 22.277,2 5,5
1.400 60.000,0 29.703,0 21,2
2.775 70.000,0 34.653,5 12,5
Alta estação 120 12.500,0 6.188,1 51,6 21,0
400 15.000,0 7.425,7 18,6
250 9.000,0 4.455,4 17,8
15,5
2.080 85.000,0 42.079,2 20,2
4.000 45.000,0 22.277,2 5,6
2.000 30.000,0 14.851,5 7,4
500 30.000,0 14.851,5 29,7
Baixa estação 9,1
60.000 420.000,0 207.920,8 3,5
1.000 7.000,0 3.465,3 3,5
1.000 10.000,0 4.950,5 5,0
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
321
APÊNDICE M  Tabelas de vendas de terrenos em Praia do Forte
1980
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
1990
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Alta estação Sem registros 0,0 0,0
Baixa estação Sem registros 0,0
2000
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 7.660 24.000,0 13.186,8 4,9 2,4
Alta estação Sem registros 0,0
2,4
660 4.000,0 2.197,8 3,3
Baixa estação 2,5
7.000 20.000,0 10.989,0 1,6
2010
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 1.560 75.000,0 45.180,7 57,6 57,7
Alta estação 760 30.000,0 18.072,3 23,8 23,8 28,8
Baixa estação 800 45.000,0 27.108,4 33,9 33,9
2012
Valor em moeda Preço médio Preço médio total
Período m² Valor em US$ Valor m² em US$
corrente (Cr$) sazonal em US$/m² em US$/m²
Total 18.160 500.000,0 247.524,7 35,0 35,0
Alta estação 3.160 150.000,0 74.257,4 23,5 23,5 0,0
Baixa estação 15.000 350.000,0 173.267,3 11,5 11,5
Fonte: Classificados de terrenos do jornal A Tarde, 2012.
Elaboração: Denise Magalhães, 2013.
322

APÊNDICE N – Estrutura de questionário com entrevista realizada a proprietários de


residências das localidades

Pesquisador:
Data: Data:
Local da entrevista:

Sexo: Idade: Grau de instrução (completo):


a) Não alfabetizado ( ) b) Alfabetizado ( ) c) Fundamental ( )
d) Médio ( ) e) Técnico ( ) f) Superior ( )
g) Especialização ( ) h) Mestrado ( ) i) Doutorado ( )

Residência
Reside aqui? a) Sim ( ) Não ( ) Onde?
Esta casa é para veraneio e fins de semana? a) Sim ( ) Não ( )
Há quanto tempo tem este imóvel? a) Anos ( ) b) Meses ( )
O porquê da escolha do local:
Pretende se desfazer deste imóvel? a) Sim ( ) Não ( )
Por que pretende se desfazer do imóvel?

Empregados
Possui empregado(s)? a) Sim (---) b) Não ( ) Quantos? ( )
Função(ões) que ocupam?
Empregado(os) possui(em) vínculo empregatício? a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Sim e Não ( )
Quais?
Em qual época do ano?
Local de morada do(s) prestador(es) de serviço(s), em sua maioria:

Pedágio
O que o pedágio significa para o seu deslocamento a esse local?

Trabalho
Onde trabalha? Qual a função que exerce?
Renda familiar: a) – 1 SM ( ) b) 1├ 2 SM ( ) c) 2├ 5 SM ( ) d) 5├ 10 ( ) e) 10├ 20 SM
f) 20├ 30 SM ( ) g) 30├ 40 ( ) h) 40├ 50 SM ( ) i) 50├ 60 SM ( ) j) ± 60 SM ( )
l) Não respondeu ( )

Você foi impedido ou teve alguma restrição de passar em alguma localidade em área de praia no
Litoral Nordeste da Bahia? Sim ( ) Não ( ) Onde e por quê?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
323

APÊNDICE O – Estrutura de questionário com entrevista realizada a comerciantes


das localidades

Pesquisador:
Data: Data:
Local da entrevista:

Sexo: Idade: Grau de instrução (completo):


a) Não alfabetizado ( ) b) Alfabetizado ( ) c) Fundamental ( )
d) Médio ( ) e) Técnico ( ) f) Superior ( )
g) Especialização ( ) h) Mestrado ( ) i) Doutorado ( )

Endereço
Residencial: Comercial:
Comércio
Tipo de comércio:
O porquê da escolha do local para montar o negócio:
Tempo de funcionamento: a) Anos ( ) b) Meses ( )
Estabelecimento próprio? a) Sim ( ) b) Não ( )
Como está o comércio ao longo do tempo? a) Melhorando ( ) b) Decaindo ( ) c) Estável ( )

Por quê?
Pretende mudar o ramo de negócios? a) Sim ( ) b) Não ( )
Por quê?
Empregados
Possui empregado(s)? a) Sim ( ) b) Não ( ) Quantos? ( )
O (os) empregado (os) possui(em) vínculo empregatício? a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Sim e Não ( )
Local de morada do(os) empregado(os), em sua maioria:
Como se desloca(m) para o trabalho?
Contrata serviços temporários? a) Sim ( ) b) Não ( )
Quais?
Em qual época do ano?
Local de morada do(s) prestador (es) de serviço(s), em sua maioria:
Como se desloca(m) para o trabalho?

Pedágio
O que o pedágio significa para o seu comércio?

Você foi impedido ou teve alguma restrição de passar em alguma localidade em área de praia no
Litoral Nordeste da Bahia? Sim ( ) Não ( ) Onde e por quê?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
324

APÊNDICE P – Estrutura de questionário com entrevista realizada a comerciários


das localidades
Pesquisador:
Data: Data:
Local da entrevista:

Sexo: Idade: Grau de instrução (completo):


a) Não alfabetizado ( ) b) Alfabetizado ( ) c) Fundamental ( )
d) Médio ( ) e) Técnico ( ) f) Superior ( )

Residência
Local de residência: Tempo de residência neste local:
Último local de residência:
Forma de apropriação da moradia: a) Própria ( ) b) Alugada ( ) c) Outra ( )
O porquê da escolha do local:
Está satisfeito em morar nesse local? a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Indiferente ( )
Por quê?
Pretende residir em outro local? a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Não sabe ( )
Onde?
Por quê?

Trabalho
Onde trabalha? Qual a função que exerce?
Vínculo empregatício? a) Sim ( ) b) Não ( )
Temporário ou permanente? Em qual época do ano?
Está satisfeito em trabalhar neste local? a) Sim ( ) b) Não ( ) c) Indiferente ( )
Por quê?
Renda familiar: a) Menos de 1 sm ( ) b) 1 sm ( ) c) 2 a 3 sm ( ) d) + 4 sm ( )
e) Não respondeu ( )

Vínculo com a metrópole


Costuma ir à Salvador? a) Sim ( ) b) Não ( ) a) Trabalho ( ) b) Lazer ( ) c) Outro ( )
Com que frequência? a) Diariamente ( ) b) Semanalmente ( ) c) Mensalmente ( )
d) Esporadicamente ( )
Acha que sua frequência de idas a Salvador: a) Tem aumentado ( ) b) Tem diminuído ( )
c) É estável ( )
Qual o transporte que utiliza?
Qual cidade você frequenta quando busca lazer, trabalho, serviços ou outras atividades: a)
Salvador ( ) b) Lauro de Freitas ( ) c) Camaçari ( ) e) Mata de São João ( ) g) Outra ( )
Por quê?

Você foi impedido ou teve alguma restrição de passar em alguma localidade em área de praia do
Litoral Nordeste da Bahia? Sim ( ) Não ( ) Onde e por quê?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
325

APÊNDICE Q – Estrutura de questionário com entrevista realizada a gestor público


municipal

Município: ________________________________________________________________________
Cargo que ocupa: __________________________________________________________________

1. Qual a importância da área costeira para o município: em ordem de prioridade?

2. Que ações esta administração vem desenvolvendo no sentido de mobilizar esse interesse?
(infraestrutura, meio ambiente, urbanismo, turismo, lazer).
326

APÊNDICE R – Estrutura de questionário com entrevista realizada a


intermediadores (corretores) de imobiliárias que atuam no Litoral Nordeste baiano

1. Que transformações sócio-espaciais-residenciais o senhor tem observado no Litoral Nordeste


(LNE) baiano?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

2. Em qual período se intensificaram estas transformações?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

3. Que fatores contribuíram para isso?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

4. Cite alguns pontos positivos resultantes destas transformações.


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

5. Cite alguns pontos negativos resultantes dessas transformações.


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

6. Quais são as ações dos incorporadores imobiliários no sentido de influenciar e/ou contribuir direta
e indiretamente para a valorização dos terrenos em áreas adjacentes à rodovia BA-099, trecho
Estrada do Coco?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

7. Em média, qual o preço do m² de terra no Litoral Nordeste baiano?


1) Em área próxima à praia: __________________________________________________________
2) Em área afastada da praia _________________________________________________________

8. O que justifica a grande valorização dos preços de terrenos no LNE baiano, na década de 2010?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

9. Atualmente em qual das localidades do LNE baiano há maior procura e produção de imóveis?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

10. Como se dá a dinâmica do mercado imobiliário com relação ao meio ambiente?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
327

11. Qual a participação dos clientes na dinâmica do mercado de imóveis no Litoral Nordeste da
Bahia?
a) Principais países emissores: ________________________________________________________

12. Qual a destinação dos imóveis no Litoral Nordeste da Bahia?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

13. O senhor atua com qual produto imobiliário?


a) Loteamento (---)
b) Condomínio (---)
c) Terreno (---)
d) Sítio, chácara, fazenda (---)
e) Outro: _________________

14. No processo de divulgação do produto, utiliza-se:


a) Propaganda: qual a mídia?
- Jornal (---)
- Televisão (---)
- Rádio (---)
- Correio (---)
- Telefone (---)
- Out Door (---)
- Revista (---)
- Mala Direta (---)
- Internet/ Rede Social (---)
- Placa e Faixa (---)
- Telemarketing (---)
- Outra (---) ______________
b) Promoção de Vendas ( )
c) Folhetos, Folders
d) Merchandising ( )
e) Outro? _________________
328

APÊNDICE S – Estrutura de questionário com entrevista realizada a líderes e


associações comunitárias do Litoral Nordeste baiano

1. Que transformações sócio-espaciais-residenciais o senhor tem observado no Litoral Nordeste


(LNE) baiano?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

2. Em qual período se intensificaram estas transformações?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

3. Que fatores contribuíram para isso?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

4. Cite alguns pontos positivos resultantes destas transformações.


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

5. Cite alguns pontos negativos resultantes destas transformações.


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

6. Quais são as principais demandas da população local?


_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
329

APÊNDICE T – Estrutura de questionário com entrevista online realizada a


proprietário de residência no Litoral Nordeste baiano

1. Nacionalidade: 2. Naturalidade:

(---) Brasileira (---) Salvador – BA


(---) Outra: ______________________________ (---) Outra: ______________________________

3. Grau de Instrução: 4. Ocupação:

(---) Alfabetizado (---) Empresário


(---) Ensino fundamental (---) Assalariado
(---) Ensino médio (---) Aposentado/ pensionista
(---) Ensino superior

Pós-graduação

(---) Especialização
(---) Mestrado
(---) Doutorado
(---) Pós-doutorado

5. Localização da residência principal: 6. Localização do segundo imóvel residencial:

(---) Salvador. Bairro: _____________________ ( ) Salvador. Bairro: ____________________


(---) Outro município da Região ( ) Lauro de Freitas. Bairro:_______________
Metropolitana de Salvador: _____________ ( ) Camaçari. Localidade: ________________
( ) Outro município da Bahia: ______________ ( ) Mata de São João. Localidade: _________
( ) Outro estado do Brasil: ________________ ( ) Outro. Localidade: ___________________
( ) Outro país: _________________________

7. Tipologia do segundo imóvel residencial (área construída)

(---) Menor que 100 m² (---) De 100 a 200 m²


(---) De 201 a 300 m² (---) De 301 a mais
330

APÊNDICE U – Processamento dos questionários

i. Organização dos dados mediante seu agrupamento em categoria: a) proprietário de residência;


b) comerciante; c) comerciário (Apêndices N, O e P);

ii. Codificação: dados ou indicadores transformados em valores escalares; igualadas as escalas


com valor proporcional (variando de zero a 100); construção de índices. Ex: Indicadores usando
quatro variáveis (grau de instrução; renda familiar; residência; empregados) para obter o Índice
de Segregação Sócio-Espacial (ISSE) por localidade estudada:

Grau de instrução Valor escalar Valor proporcional

Não alfabetizado 0 0
Alfabetizado 1 20
Fundamental 2 40
Técnico e médio 3e4 60
Superior 5 80
Pós-graduação 6 100

Renda familiar Valor escalar Valor proporcional

<1 sm 0 0
1 ├ 2 sm 1 12,5
2 ├ 5 sm 2 25
5 ├ 10 sm 3 37,5
10 ├ 20 sm 4 50
20 ├ 30 sm 5 62,5
30 ├ 40 sm 6 75
40 ├ 50 sm 7 87,5
> 50 sm 8 100

Residência Valor escalar Valor proporcional

Veraneio (não) 0 0
Veraneio (sim) 100 100

Empregados Valor escalar Valor proporcional

Possui (não) 0 0
Possui (sim) 100 100
331

Exemplo de obtenção do índice de exposição referente à primeira pessoa entrevistada da localidade


de Guarajuba:

Variáveis Valor escalar original Valor proporcional

Total 12 350
Grau de instrução 6 100
Renda Familiar 4 50
Residência 1 100
Empregados 1 100

Valor do índice: I = 350 / 4 = 87,5

Intervalo de classes: H / N, onde H (maior valor: 100 – menor valor: 0) = 100 / 3 = 33,34

Índice de segregação: 0,00 ├ 33,34 (Baixo)


33,34 ├ 66,68 (Médio)
66,68 – 100,00 (Alto)

iii. Tabulação simples ou marginal (processo manual para perguntas abertas e eletrônico para
perguntas fechadas);

iv. Análise estatística dos dados;

v. Interpretação qualitativa dos dados, levando-se em consideração os objetivos e questões


formuladas no início do estudo.
332
ANEXO A – Planta baixa do loteamento Paradiso Laguna

Fonte: Bahia, 2004.

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