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Volume 07 - Historia Da OAB - A OAB Na Voz Dos Seus Presidentes PDF
Volume 07 - Historia Da OAB - A OAB Na Voz Dos Seus Presidentes PDF
A O A B n a V o z d o s se u s P r e s i d e n t e s
R ubens A p p ro b a to M ach a d o
P residente da OAB
H e r m a n n Assis Baeta
C o o rd e n a d o r
1
V A i
________ H i s t ó r i a da
O r d e m dos A d v og a do s do Brasil
A OAB na Voz dos seus Presidentes
H istória da O rd e m dos Advogados d o Brasil; A O A B na v o z d o s seus p r e s id e n te s
r Edição • 2003
C o o r d e n a ç ã o g e s a i cw c o l e ç ã o
H erm ann Assis Baeta
CO NSULTORIA
M a rly Silva da M o tta - d o u to ra em história/UFF e p e s quisad ora/C P D O C -F C V
E N m y is T A S
M a rly M otta, A ndré Dantas e C a b rie la N e p o m u c e n o
T r a n s c r i ç ã o d a s e n t r e v is t a s
C láudia Peçanha da T rindad e
C o n s e l h o C o n s u l t iv o
Rubens A p p ro b a te M a c h a d o - Presidente da O A B / CF
Ivan A lk im in - Presidente d o lAB
H erm a n n Assis Baeta - C oorden ador - P rojeto H is tó ria da O AB
Josó G e ra ld o de Sousa Júnior - A dvog ado
A nna M a ria B ia n c h in i Baeta - Pedagoga
C D D -1 8 .e d ,
34 0.06081
H i s t ó r i a da
O r d e m dos A d v o g a d o s do Brasil
A OAB na Voz dos seus Presidentes
Rubens A p p ro b a to M a c h a d o - Presidente
R oberto A n to n io Busato Vice-Presidente
-
Prefácio_______________________________________________________________7
Apresentação _________________________________________________________ 9
9à»
V o lu m e , \ O A l i iici VO/ (lo s s i'll'. I ' n ' s i c k ’ iitc s
PREFÁCIO
#àm 7
______________ História_da
Ordem dos Advogados do Brasil
8 9ÁB
V o iiin ic A (,)A B n,i v o x f l o s s ens I’ l C s i f l t ’ iUes
APRESENTAÇÃO
Este volum e traz a público a palavra viva dos Presidentes da O rdem dos
Advogados d o Brasil n u m do s p erío do s m ais d ra m á tic o s e com plexos da
sociedade brasileira.
A OAB N A V O Z D O S SEUS PRESlDENTESé u m livro n o qual se adotou
a m etodologia da história oral, integrado por quatorze entrevistas dos dirigentes
do C onselho Federal que exerceram suas funções de 1969 até a presente data.
Trata-se de um a fase histórica das mais ricas e controvertidas, porque nela se
verifica u m período de inquestionável poder autoritário e repressor, seguido de
descompressão política e social e de construção do Estado Democrático de Direito.
As entrevistas seguem a ordem tem poral do exercício do m an d ato de cada
Presidente, partin d o -se do m ais antigo até o atual, o qual concluirá sua gestão
em 31/01/2004, com o se verá a seguir: Laudo de Alm eida C am argo (1969/
1971); José Cavalcanti Neves (1971/1973); Caio M ário da Silva Pereira (1975/
1977); E duardo Seabra Fagundes (1979/1981); José B ernardo C abral (1981/
1983); M ário Sérgio D uarte Garcia (1983/1985); H e rm an n Assis Baeta (1985/
1987); M árcio T h o m az Bastos (1987/1989); O p h ir Filgueiras Cavalcante (1989/
1991); Marcello Lavenère M achado (1991/1993), José R oberto Batochio (1993/
1995); E rnando U choa U m a (1995/1998); Reginaldo O scar de Castro (1998/
2001); Rubens A pprobate M achado (2001/2004).
Lam entam os m uito não constar deste livro entrevista de autoria do saudoso
Presidente José Ribeiro de Castro Filho, que exerceu a presidência da O rdem de
1973/1975. Ribeiro de Castro foi u m notável Presidente e cum priu integralm ente
seu m an d ato n u m p erío d o de d u ra repressão. H o m em valente, corajoso e
independente não se curvava diante do autoritarism o. M uitas vêzes se dirigiu
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INTRO DUÇ ÃO
A O R D E M D O S A D V O G A D O S D O BRASIL:
ENTRE A C O R P O R A Ç Ã O E A IN S T IT U IÇ Ã O
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Ordem dos Advogados do Brasil
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V o lu n tc , A O A B n<i V O / d o s s eus P rc s ic lc n tc s
lem branças dos eventos históricos carecem de algum a ressonância social para
que se to rn em representativos. Isto é, o indivíduo, ainda que único, constrói o
seu passado inserido em vários contextos grupais, sociais, a u m só tem po, que
vão desde a família até a nação. Com as palavras do p ró p rio autor, diríam os
que qu an d o lem bram os “n u n ca estamos sós”.
Assim considerada, po d em o s afirm ar que a m em ó ria coletiva o u social
encontra-se em constante reconstrução. Q uando lem bram os, lem bram os no
presente, de acordo com as condicionantes históricas que no s a p o n ta m as
questões a serem buscadas no passado. É dessa m aneira que se to rn a possível
entender a existência de várias memórias em disputa, de acordo com os interesses,
visões de m u n d o e posicionam entos dos grupos que as preservam o u com batem
em todos os âm bitos d a vida em sociedade.
O ofício do historiador, p o r seu tu rn o , ao m esm o tem p o em que se presta
à desconstrução de m e m ó ria s - p ro b le m a tiz a n d o -a s , re la tiv iz a n d o -a s e
precisando-as no tem p o - , ratifica parte das já existentes e inventa o u tras novas.
Em suma, história e m em ória são categorias através das quais o acesso ao passado
nos é facultado. Reside nessa problem ática, justam ente, o laço da relação entre
entrevistador e entrevistado. Assim, u m a das tarefas da história é abalar as
estruturas totalizantes e generalizadoras d a m em ória, provocando a lem brança
daquilo que a m em ó ria gostaria de “silenciar”, “apagar” o u “in terd itar”.
Todas essas questões estão presentes p o r trás d a form a final do texto que o
leitor tem agora em m ãos. Além destas, do prim eiro ao ú ltim o m ovim ento,
para que u m a entrevista chegue a b o m term o, são necessárias várias etapas de
trabalho, das quais tratarem os a seguir.
De início, u m levantamento o mais minucioso possível do contexto político,
da biografia e da atuação dos entrevistados no período a ser estudado é a prim eira
tarefa do pesquisador/entrevistador. De posse dessas inform ações, o passo
seguinte é a preparação de u m roteiro e a elaboração de questões que funcionarão
co m o a esp in h a dorsal das entrevistas. No caso do presente projeto, nossa
principal fonte foram as atas das sessões do C onselho Federal, de 1969 a 2003.
D aí em diante inicia-se o processo de negociação que vai desde a marcação
das datas e locais das entrevistas até a edição final d o texto. A entrevista,
o b v ia m e n te , é o p o n t o alto d e to d o o p ro c e s s o d e tr a b a lh o . É n ela,
fundam entalm ente, onde se define o to m de todo o trabalho fu tu ro de edição
do texto. É nela onde o pesquisador/entrevistador tem a chance de captar o
significado dos silêncios, das emoções, das indignações e das indiferenças, de
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form a a estar apto, posteriorm ente, a transportá-los para o texto escrito da forma
m ais fidedigna possível.
Finda a entrevista, faz-se necessária a passagem do m aterial gravado para
a form a escrita. O trabalho de transcrição, conjugado à sua posterior conferência
de fidelidade, talvez seja, entre todos, o m ais delicado. Se ao escrivão cabe a
atenção redobrada com a vírgula que pode incrim inar ou inocentar u m acusado,
ao transcritor e ao conferente cabem, em outros term os e escala, tarefa similar.
N ão é p o r o u tro m otivo que a transcrição deve ser realizada p o r profissional
especializado e a conferência, de preferência, pelo p ró p rio entrevistador.
Tem-se então, nessa altura do trabalho, u m material b ru to que contém ,
em geral, tod o s os excessos da inform alidade que caracteriza u m a conversa,
q u an to m ais quand o a relação de confiança entre entrevistador e entrevistado
perm ite a franqueza e a descontração. A tarefa do trabalho de edição, portanto,
é justam ente estabelecer um m eio term o entre o to m coloquial da linguagem
falada e o sentido mais formal do texto escrito, en q u ad ran do o depoim ento
n u m form ato que possa ser agradável e inteligível para o leitor. >feturalmente,
com o já dissemos, este processo de “limpeza” e “en q u ad ram en to ” não é objetivo
e fi"io, m as concentra u m significativo grau de “escolhas” nas m ãos de quem
edita. Evidentemente, com o se trata dos term os finais que perpetuarão a “fala”
do entrevistado, o próprio, claro, é cham ado a opinar, tendo a prerrogativa da
palavra final.
H á u m a relação d ireta en tre o g rau de d e s p re n d im e n to co m que o
d epoim ento é concedido e a intensidade da posterior negociação em to rn o de
sua form a final. N orm alm ente, as entrevistas m arcadas pela rigidez e pelo
laconismo, onde o entrevistado, por razões que p o d em estar relacionadas desde
à sua p ouca disponibilidade de tem p o até ao seu pouco interesse ou disposição
em se expor, não carecem de m uito investimento para alcançarem o seu form ato
definitivo. Ao co n trário , nas entrevistas em q u e o to m d a fala p e rm ite a
transpiração das emoções, envolvendo impressões, nom es, críticas vigorosas e
p o r vezes denúncias, o material tende a ser mais vigoroso e passível de constantes
idas e vindas das m ãos do editor para as do entrevistado, e vice-versa. Nesse
m o m en to , então, cabe ao entrevistado o direito de su p rim ir falas que n o seu
julgam ento n ão deverão se to rn ar públicas e acrescentar o que a m em ória não
foi capaz de recordar n o m o m en to da entrevista.
Incorporadas as m udanças prom ovidas pelo entrevistado, o ato final do
trabalho de edição consiste n a pesquisa e elaboração de notas explicativas acerca
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V 'tilu r n c r A ( ) A i i n ,i VO/ (Jos s f 'ii'’ r r ( " . i ( j r i ‘)l('s
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O rdem dos Advogados do Brasil
Sem dúvida que sim. Fizemos contatos diretos com os batônniers de Roma,
Lausanne, Genebra, Paris, M adri e Lisboa, com as Organizações das Nações
Unidas, com a Comissão Internacional de Juristas de Genebra, com a Law
Society, a General Council o f the Bar o f England and W alks, em Londres. Na
consecução do mesmo objetivo, participamos ainda do Primeiro Congresso
da Federação Nacional das Uniões de Jovens Advogados de França, das
reuniões preparatórias da X X V I Conferência da Union Internationale des
Avocats e da Conferência da Inter American Bar Association, em Caracas,
em novembro de 1969. A estas duas últim as entidades citadas, a OAB filiou-
se oficialmente - situação que permanece até hoje. Vale arrem atar que, em
documento assinado pela OAB epela Ordre des Avocats, de Paris, fo i firm ado
u m convênio que instituiu um a comissão p erm a n en te de ligação e de
informação, com o intuito de promover o intercâmbio técnico e científico
entre advogados do Brasil e da França. Ao que sei, não fo i avante.
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V o lu m e / / \ ( ). \ R na (l o s s c - l i s P r c s i d r n t c s
^ O A I-5 , baixado pelo presidente A r tu r da Costa e Silva em 13 d e d ezem b ro de 1968, consistiu n u m co n jun to de
m edidas q u e s u p rim ia m as g arantias constitucionais individuais, com o o habeas-corpus, e o autorizava a
in tervir nos estados e m unicípios, cassar m andatos, suspender direitos políticos e d ecretar o estado d e sítio
sem a a n uên cia do Congresso. Pelo A to C om plem entar n .”38 fo i decretado a inda o fe c h a m e n to do Congresso
N acional p o r tem po indeterm inado. Ver D icionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-30, coord. p o r Alzira
Alves de Abreu, Israel Beloch, Fernando L a ttm a n -W e ltm a n e Sérgio L a m a rã o (R io d e Janeiro, E ditora FCV,
2001, 2 “ ed„ versão C d - r o m j , designado d aqui e m d ia n te pelas iniciais D H BB.
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Logo que foi instalado, o Conselho, presidido pelo m inistro da Justiça, tinha a
seguinte representação: pelo Congresso Nacional, o presidente do Senado,
Filinto Müller, e 0 presidente da Câmara, deputado R aim undo Padilha;pela
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), seu presidente, D anton Johim; pela
Associação Brasileira de Educação (ABE), Benjamin Albagli; o professor Pedro
Calmon, como constitucionalista, eeu, como presidente da OAB, que sempre
participei das reuniões. A participação da Ordem no Conselho constituiu,
p o r assim dizer, um prolongamento lógico de sua atuação como entidade
dedicada tam bém ao aperfeiçoam ento da ordem jurídica. Esta só tem
expressão real por meio da prática de um sistema de garantias e de preservação
dos direitos civis epolíticos de todos os cidadãos, sem discriminação. Estivemos
presentes a todas as reuniões do Conselho, relatando processos eparticipando
ativam ente dos debates e deliberações. N ão foram poucas as representações
que formalizamos, objetivando a adoção, pelo Conselho, de medidas coibitivas
de atentados e lesões a direitos da pessoa hum ana, envolvendo, inclusive,
profissionais da advocacia. Um dia, quando vierem a lum e as atas das sessões,
se poderá ver a medida de nossa atuação.
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V o lu m e , A O A B n.) V O / d o s suits P i c s ic i c n t c s
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Ordem dos Advogados do Brasil
Que tipo de auxílio lhe foi solicitado pelo dr. Arnaldo Sussekind?
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\ olum e 7 A OAB na voz cios seus Presidentes
Stm. Fui, ato contínuo, encontrar-me com o }osé Carlos no aeroporto Santos
D um ont, aguardando-lhe a chegada de São Paulo, para conversarmos sobre
0 assunto. Convenci-m e, então, que ele nada sabia sobre o ocorrido, e,
possivelmente, nem o ministro.
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______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
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Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
M inha eleição teve dois votos contrários, como disse. M eu sucessor, José Neves,
candidato único, contou com apenas um voto em branco. N ão acho que o
Conselho tenha se composto ou recomposto por isso ou com isso, pois que
foram eleições tranqüilas, democraticamente normais.
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V n lu n x ' , A O A B n,i \ ' ( ) / d o s sc-us l ' r ( ‘>ick‘ nlc‘s
e altivo’. Esses adjetivosjam ais foram usados anteriormente para justificar outras
reinvidicações. E seguramente dão ao calmo presidente da OAB a certeza de
que pelo menos por enquanto portas e ouvidos continuam abertos”Anos depois,
em um a conversa, o ministro Leitão de Abreu, que havia sido chefe da Casa
Civil deM édici, confirmou que o presidente havia tido um a impressão positiva
dos ofícios a ele enviados por mim. Quando me reportei aos termos da citada
revista ele se limitou a responder: “O repórter estava bem informado.”
* R u b en s Paiva (1929-1971), e n g e n h e iro e jorn a lista , foi d e p u ta d o federal p o r São Paulo, pela legend a d o
P artid o T rab alhista B rasileiro (P TB ), de fevereiro de 1963 até a s u a cassação p e lo re g im e m ilitar, e m 10 d e
abril d e 1964. Em 20 d e ja n e iro de 1971 foi p re so e levado p a ra as d e p en d ê n c ia s d a III Z o n a A érea,
s itu a d a ju n t o a o a e r o p o r to S a n to s D u m o n t, n o R io de Janeiro, à é p oca s o b o c o m a n d o d o b rig a d e iro
J oão P au lo P e n id o B u rn ie r, o n d e foi in te n s a m e n te to rtu ra d o . T ra n s fe rid o p a ra o D e p a r ta m e n to d e
O p e ra ç õ e s In te rn a s (D O I) , situ a d o à ru a B arão d e M esquita, m o r r e u e m co n se q ü ê n cia d o s m a u s -trato s.
D e clarado até e n tã o c o m o fo rag id o , ap en a s e m 1996 o seu d e sa p a re c im e n to e ó b ito fo r a m re c o n h ec id o s
p e lo Estad o brasileiro. Ver D H B B , op. cit.
’ S tu a rt E d g a rd A ngel Jones (19 4 6 -1 9 7 1 ), m ilita n te d o M o v im e n to R ev o lu c io n á rio 8 d e o u t u b r o (M R -8),
foi pre so n o R io d e Jan e iro e m 14 d e ju lh o d e 1971, p o r agentes d o C e n tro d e In fo rm a çõ e s d a A ero n á u tic a
(C isa), s u b o r d in a d o à III Z o n a A érea, q u e era c o m a n d a d a pe lo b rig a d e iro Jo ão P a u lo P e n id o B u rnier.
D e po is d e to r t u r a d o , c o n sta q u e foi a m a r r a d o ao c a n o d e de sc a rga d e u m jip e m ilitar, pela b o c a , e
a r r a s ta d o p e lo p á tio d o C isa, o q u e o c a s io n o u a s u a m o r t e p o r asfixia. A re p e rc u ss ã o in te r n a c io n a l d o
caso p ro v o c o u , n o fim d o m e s m o a n o , o p e d id o d e d e m is sã o d o m in is tr o d a A e ro n á u tic a , M árcio
S o u s a M e lo , e o c o n s e q ü e n t e a f a s t a m e n t o d o b r i g a d e i r o B u r n i e r , q u e fo i p a r a a r e s e r v a .
O d ija s C a rv a lh o d e Souza (19 4 5 -1 9 7 1 ), m ilita n te d o P a rtid o C o m u n is ta B ra sileiro R e v o lu c io n á rio
(P C B R ), foi p re s o e m Paulista (P E ) n o d ia 30 d e ja n e iro d e 1971, p o r a g entes d o D e p a r ta m e n to de
O rd e m Política e Social (D o p s ) d e P e rn a m b u c o . Levado p a ra as d e p en d ê n c ia s d o órg ã o , foi in te n s a m e n te
t o r t u r a d o p e lo p e r ío d o d e u m a s e m a n a . L evado às pre ssa s p a r a o H o s p ita l d a P o lícia M ilita r d e
P e rn a m b u c o n o d ia 6 d e feve re iro d e 1971, m o r r e u d o is d ia s d e p o is e m c o n s e q ü ê n c ia d a s t o r t u r a s
sofridas. D is p o n ív e l e m h ttp ://w w w .to r tu r a n u n c a m a is .o r g .b r .
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Sim, 0 CDDPH foi criado pela Lei 4.319, de 16 de março de 1964, por projeto
do deputado Olavo Bilac Pinto, ilustre jurista mineiro, e sancionado pelo
presidente João Goulart, sendo ministro de Justiça, à época, o advogado Abelardo
Jurema. Mas a regulamentação desse diploma legal somente ocorreu por força
do Decreto 63.681, de 22 de novembro de 1968, sob a presidência do marechal
A rtu r da Costa e Silva. A edição deste decreto resultou de u m trabalho da OAB,
por meio de seu presidente, SamuelDuarte, e de outros líderes da nossa entidade,
entre os quais Sobral Pinto. Todos acreditavam que a presença do professor
Pedro Aleixo na vice-presidência da República, levando em conta os seus
compromissos com a democracia, revelados durante brilhante carreira
parlamentar, poderia conduzir o governo àquela, sempre prometida, “abertura
lenta e graduaVl Depois de entendimentos com Pedro Aleixo e com a ajuda do
dr. Adroaldo Mesquita da Costa, consültor-geral da República e tio do presidente
Costa e Silva, fo i possível a assinatura do questionado Regulamento, cujo texto,
segundo comentava-se na época, teria sido redigido pelo próprio Samuel Duarte.
O Regulamento fo i assinado, em solenidade realizada no Palácio Guanabara,
com a presença de membros do governo e de líderes da classe dos advogados,
entre os quais, além do próprio Samuel Duarte, inúmeros conselheiros federais
e presidentes de conselhos seccionais. N ão obstante o Regulamento estabelecer
que 0 CDDPH deveria reunir-se “ordinariamente, duas vezes por mês”, somente
foram realizadas, até 1970, sete sessões. E vale salientar que o Regulamento foi
assinado poucos dias antes da realização da IIJ Conferência Nacional da OAB,
em Recife, já aqui referida, cujos trabalhos, iniciados e desenvolvidos em clima
de euforia, terminaram com a notícia da edição do Ato Institucional n®5.
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\ ( » \!> i\; \ n / (l( j- - r . i v
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_______________ H istória da ^
O rdem dos Advogados do B r a s il_____________________________________________
^Em sua c o m p o siçã o orig in al, pela Lei 4.319, d e 16 d e m a rç o d e 1964, o C D D P H e ra in te g ra d o pelos seguintes
m e m b ro s : m in is tr o d a Justiça, p re s id e n te d a OAB, p ro fe s so r c a te d r á tic o d e d ire ito c o n stitu c io n a l,
presid en te d a Associação B ra sile ira d e lm p re n s a , presidente d a Associação Brasileira d e E du cação e líderes
d a m a io ria e d a m in o r ia da C â m a ra F ederal e d o S enado. C o m as tra n s fo rm a ç õ e s im p o s ta s peta Lei
5.763, d e 15 d e d e z e m b ro d e 1971, o C on se lh o pa sso u a s e r c o m p o s to p e lo s s e g u in tes m e m b ro s : m in istro
d a Justiça, re p re s e n ta n te d o M in istério das Relações E xteriores, re p re s e n ta n te d o C o n se lh o Federal de
C u ltu ra , re p re sen ta n te d o M inistério P ú b lico Federal, presid en te d a OAB, p ro fesso r c a ted rático d e direito
c o n stitu c io n a l, p ro fessor c a ted rático de d ire ito penal, p re sid en te d a A ssociação B rasileira d e Im prensa,
p re sid en te d a A ssociação Brasileira d e Educação e líd eres d a m a io ria e d a m in o r ia d a C â m a r a F ederal e
d o S e nado. D isponível e m h ttp ://w w w .m j.g o v .b r/s e d h /c d d p h ,
* N essa o p o r tu n id a d e , o C o n se lh o Federal p u b lic o u no ta oficial e x p o n d o os m o tiv o s d a s u a decisão. Este
d o c u m e n to , a lé m d a expo sição d o e n tre v istad o acerca d o assu n to , p o d e m s e r e n c o n tra d o s na R evista do
C onselho Federal, n® 9, agosto/1972, p, J 73-181.
48 màM
V olu m e \ 0 \H na \ ( ) / (l o s x ' u - I’ l c - i i l c i i t c - '
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O rdem dos Advogados do Brasil
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V o lu m e ' - A ( )Ai'j 11,1 \ ( ) 7 (l os s('ii< i ' i ( ‘' i ( l c n t c s
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
quisermos sair da classe dos advogados, tam bém há nomes a ser citados, como
por exemplo os dos senadores Teotônio Vilela e Severo Gomes, que exerceram
m andatos pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) até os últimos anos do
governo Ernesto Geisel Eu mesmo, quando eclodiu o golpe, estava licenciado
da presidência da OAB-PE, ocupando o cargo, em comissão, de procurador-
geral da Fa:xnãa Nacional, nomeado pelo presidente João Goulart, do qual
me dem iti quando da edição do AI-2.
52 •àl
V olum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
nacional da OAB, com serenidade e firm eza, teve a coragem de romper com
0 A to n °5, de 1968, até então tolerado ou simplesmente ignorado pela cúpula
de nossa instituiçãoV*
•ài 53
______________ História d&
Ordem dos Advogados do Brasil
José Cavalcanti Neves na XV Conferência Nacional da OAB (Foz d o Iguaçu - setem bro de
1994).
54
•àM
Volume 7 A OAB na voz cios seus Presidentes
Creio que não seja possível estabelecer comparações entre a OAB do meu
tempo e a OAB de hoje. São tão distintas as circunstâncias sociais, políticas e
jurídicas, que não se pode dizer que exista um critério único ou um parâmetro
indispensável para a comparação. Por isso é que tam bém se pode dizer que as
épocas históricas, por serem distintas, condicionaram a missão que tem a
OAB, em cada um a delas. Assim como a OAB soube apreender o contexto em
que atuou, na m inha época, também a OAB de hoje deve entender a realidade
atual e a ela aplicar os princípios e os valores pelos quais se bate, que são
permanentes, hoje os mesmos de então, apenas flexibilizados pelas novas
realidades.
•àl 55
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
C aio M ário com Sobral Pinto, H eleno Fragosc^ AJfio Ponzi e Sepúlveda Pertence.
56
V olu n u ' ' \ O A H ii<i \ < ) / d o s s c ii s l ’ rr > ic l ( ‘ [i t( '‘'
57
______________ História da
O rd e m dos A dvogados d o Brasil
' Jânio Q u a d ro s exerceu a presidência d a R epública de janeiro a ag osto d e 1961. M agalhães P info foi governador
d o e sta d o d e M in as G erais d e 1961 a 1966. M ilto n C a m p o s foi m in is tro d a Justiça d o go v e rn o C astelo
B ra n co d e 14 d e a b ril d e 1964 a 11 d e o u tu b r o d e 1965. P e dro A leixo foi m in is tro d a E d uc a ç ão d o
g o v e rn o C astelo B ra n co d e 10 d e ja n e iro a 1° d e ju lh o d e 1966. V e rD H B B , o p .c it.
58
Volume- , A ( ) \ R na \ o / d o s s riis r i i ' s i d i ' i i k ' s
m im . Para meu conforto, isto não só não ocorreu, como dele recebi plena
liberdade para continuar agindo na Ordem.
Sempre foi. Eu sempre considerei que a OAB havia nascido livre, e, portanto,
deveria permanecer livre ao longo de sua existência. Nesse sentido, estive
sempre disposto, durante a m inha gestão, a responder a todo e qualquer
questionamento do governo m ilitar em relação à atuação da Ordem, mas
m antendo um a posição dc absoluta independência.
59
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Fui convocado sim, porque logo após o início da m inha presidência começaram
a ocorrer uns certos desentendimentos, uns certos conflitos, entre a OAB e o
governo, em função das criticas severas da Ordem ao regime.
60 «4B
V o lu m e , \ ( ).\B n,i V O / do '-
Não. Quis saber por que razão eu era contra à subordinação da Ordem. Eu
novamente respondi, cordialmente, dizendo que no momento em que a Ordem
se subordinasse financeiramente ao Tribunal de Contas ela perderia a sua
independência. “Mas e se a independência financeira da Ordem fo r mantida?']
insistiu ele de novo. Eu me m antive inflexível. Por fim , ele me disse que o
presidente da República tinha m uita admiração por mim. Eu agradeci e lhe
respondi que isso em nada alteraria o meu comportamento na qualidade de
presidente da Ordem, posto que a admiração estaria no plano pessoal ou
profissional.
•ál 61
História da
Ordem dos Advogados do Brasil
O senhor tinha o apoio dos conselheiros da OAB para atuar dessa forma?
62 «àl
\ U A B n,5 V I ) / í l o s ' - s n i s I ’ u - s i i i c n t c ' '
Eu acho que a ditadura mais severa fo i a dos militares. Foi pior do que a do
G etúlio/ Os militares foram mais rigidos em relação aos advogados. Eles
queriam nos subordinar ao regime. E como os advogados, de um modo geral,
eram independentes, sofriam essas restrições: eram presos, transferidos para
outros locais e tudo mais. Alguns permaneceram presos e outros saíram, foram
postos em liberdade. M as a notícia que eu tinha era que os advogados presos
eram m uito duram ente interrogados a respeito das suas atividades.
m àB 63
______________ Históría_da
O rdem dos Advogados do Brasil
’ S o bre o ass u n to , ver e n tre v ista d e José C avalcanti Neves, neste volum e.
64 •àM
Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
•àB 65
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
66 «▲B
Volum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
•ái 67
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
68
V o lu m e / \ O M ? n .i VO/ (lo s (.('IIS I’ K 's ir k 'n t c s
69
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
70 •41
V o lu m e , \ O A l ' j II.I VO/ clos s r u s I ' r c s n l c i i t u s
•Al 77
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
trinta anos - não foi dotada dos meios e mecanismos adequados para prestar
um bom serviço à comunidade. Evidentemente que não se podem culpar os
juizes, eles estão simplesmente sob uma carga avassaladora de serviço, não podem
prestar o que se espera deles. Então, peca o poder político, peca o presidente da
República, peca o Congresso, porque não dotam a justiça federal de meios
suficientes para prestar um serviço pelo menos razoável. Naquela época, a
situação era incomparavelmente pior, porque havia um único Tribunal de
Segundo Grau responsável pelo julgamento das causas em grau de recurso,
recurso ordinário. Para causas em que a União e suas autarquias fossem parte,
no Brasil inteiro, havia apenas um tribunal, que era o Tribunal Federal de
Recursos, na capital da República. Era simplesmente inviável, com ou sem regime
autoritário. É evidente que o Poder Judiciário pode proteger muito melhor o
cidadão contra o regime autoritário se houver descentralização. Mas antes
mesmo do regime militar já havia essa demanda superior à capacidade de
julgar da justiça federal.
A Ordem tinha suas próprias idéias sobre a reforma do Judiciário. Acho que
ela deveria ter exigido a convocação de um a Constituinte. Senão a convocação
da Constituinte, um a reforma bastante profunda da Emenda Constitucional
de 1969.^ A lém de um a reforma do Judiciário m uito mais am pla do que
aquela que fo i feita. Deveria ainda ter pedido a anistia, o desmantelamento
dos órgãos de repressão, enfim, podia ter aproveitado aquela oportunidade
para obter um avanço muito maior do que se obteve. Evidentemente jam ais
72 •▲B
V o lu m e / A ( ) / \ R n.\ VO/ (lo s s e n s I ’ r c - 'id e n le s
fiz criticas ao presidente que me antecedeu, acho que esses assuntos só podem
ser tratados historicamente, posto que ele não podia ter a sua posição erodida
por divergências internas. Mas eu divergi internamente.
Sim, porque o Faoro, duas semanas após a outorga, pela Junta Militar, da
Emenda Constitucional de 1969, extremamente autoritária e violenta, que
nos envergonhou perante o mundo, escreveu um artigo de página inteira no
Correio da M anhã dizendo, entre outras coisas, que se tratava de um
docum ento dem ocrático.^ Então, para ele ficaria m u ito difícil fa zer as
reivindicações que eu vim a fazer durante o meu mandato. O ex-presidente
Caio M ário da Silva Pereira, um jurista excepcional, m uito afinado com o
Faoro, e cuja administração fo i muito conservadora, num a época em que
havia advogados presos e torturados, publicou um livro de reminiscências
em que diz que quando a m inha candidatura fo i lançada ele se retirou porque
não m e achava em condições de assumir a presidência da Ordem.^ Passados
20 anos, não se sentiu obrigado a dizer se a m inha atuação na presidência
havia confirmado, ou não, sua impressão pessimista.
•Al 73
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Acho que realm ente os quatro anos dos dois m andatos anteriores ao m eu
foram u m período bastante distinto dos precedentes e dos que se lhes
sucederam. Representavam o pensam ento mais conform ado com aquele
estado de coisas. Já no regime militar, a O rdem tinha tido, antes d o Caio
M ário e do Faoro, alguns presidentes m uito combativos: Samuel D uarte,
José Cavalcanti Neves, Ribeiro de Castro, que eram h om ens extrem am ente
afirmativos e combativos, inclusive n o Conselho de Defesa dos Direitos
d a P esso a H u m a n a ( C D D P H ) / D epo is, ach o q u e o p e n s a m e n to
conservador foi reentronizado com o Bernardo Cabral, que foi senador
pelo Partido da Frente Liberal (PFL). É m eu am igo e um hom em cujas
qualidades com o político todos reconhecemos, m as que tam b ém é m uito
m o d era d o , m u ito p o n d e ra d o nas atitudes. E n tã o foi n o v am e n te um
período de retraim ento. Daí em diante foram eleitos sem pre presidentes
afinados com o pensam ento progressista da Ordem .
74 «àl
V o liim r , •\ O A I'. 11,1 v t ) / (Ills s e n s I ’ l x - K k ' n t r s
75
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
76 «4t
V o lu m e / A Ü A B n a v o / clcjs sun s I ’ lc s i c i c n l c s
77
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil
Petrônio Portela tratou de reativar o CDDPH, que fora criado anos antes e
havia parado de funcionar. Era um fórum muito importante porque permitia
que tivessem assento, em torno da mesma mesa, o ministro da Justiça, os lideres
do governo e da minoria nas duas casas do Congresso, o procurador-geral da
República-que naquele tempo era de livre nomeação do presidente da República
- e três instituições que eram absolutamente independentes: a OAB, a A B I e a
Associação Brasileira de Educação (ABE), que naquele tempo era presidida
pelo professor Benjam in A lba ^i, além de dois professores - um de direito
constitucional e um de direito penal - indicados pelo próprio Conselho.
78 «41
V o liin ir A ( ) A l i ii<i \,i)X (lu> sc'Lis l ’ r(,'--i(k'iit('s
•àM 79
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
N o Conselho, por essa atuação, não. N o foro, era. Eu sabia que alguns colegas,
nos corredores, diziam: “M as como é possível um presidente da Ordem que
defende terroristas, que não condena 05 autores de crime de sangue, não os
reprova de maneira incisiva?" E isso chegava aos meus ouvidos. Recebi cartas
anônimas ameaçadoras de pessoas que absolutamente não concordavam com
as posições da Ordem.
80
V o lu m e / A O A B na v o z (!ob seus Presid entes
Sim. Acho que esta tradição existe em função do engajamento na luta pela
lib erta çã o dos escravos, p ela R ep ú blica , p ela s red em o cra tiza çõ es.
Tradicionalmente, os advogados que participavam dessa associação tinham
posições políticas avançadas. O que caracterizou a Ordem fo i ela ter sido
criada pelos advogados. Porque, na verdade, o Instituto fo i um instrumento
de batalha pela criação da Ordem. A Ordem fo i criada pelo governo, mas por
um pedido, uma exigência, um a solicitação perm anente dos advogados, que
tiveram, assim, a oportunidade de moldá-la, dando-lhe dupla característica
- de defesa profissional e luta pelo aperfeiçoamento das instituições políticas
- que absolutamente não é contraditória, mas complementar.
* o In s titu to d o s A d vo gad os B rasileiros foi c ria d o em 7 d e ago sto dc 1843. Pa ra u m a análise d a c ria ç ã o e
a tu a çã o do In.stituto d u r a n te o Im p é rio ver o v o lu m e 1 dessa coleção, O lAB e os A dvogados n o Im p é rio ,
dc Lúcia M aria Paschoal G u im a rã e s & T â n ia M , T. Bessone da C ru z Ferreira, Rio tie Janeiro, O AB, 2003.
•ái 81
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
®Sobre a participação d a OAB n a resistência à d ita d u ra \^ rg a s ve ro de poim ento d e E vandro Lins e Silva ao C P D O C -
FGV publicado n o livro O saião dos passos perdidos. Rio d e laneiro: Nova Fronteira: Editora. FVG, 1997.
82 •àl
V o lu m e r A ( )A Pj 11,1 v o x ( I d s s t u'- P r c s i d r n t r s
Pela sua fala, então, fica evidente que o senhor identifica a Ordem
como uma instituição que assume a feição dos seus presidentes.
Isso é uma característica que perpassa toda a sua história?
•àl 83
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
coíher a opinião dos colegas dos estados. Mais tarde, com o desenvolvimento do
transporte aéreo e da telefonia no Brasil, passou a haver uma participação
maior dos presidentes das seccionais em reuniões. Periodicamente, o presidente
do Conselho Federal convocava - e até hoje é assim - todos os presidentes das
seccionais a se reunirem em determinado estado para discutir, trocar idéias,
impressões. N o meu período, o diálogo com as seccionais fo i m uito intenso, eu
visitei quase todas elas - inclusive Roraima, que fiz instalar durante a minha
gestão. Sempre recebido com m uita cordialidade, com m uita consideração, pelos
colegas dos estados, sentávamos com os advogados, discutíamos os assuntos,
inclusive a própria orientação da Ordem. Eu participava de encontros regionais
de advogados: fu i a um em Garanhuns (PE); outro em Londrina (PR). Dessas
reuniões, participavam, sobretudo, os advogados mais atuantes, porque o
advogado que é contra a participação da Ordem em questões políticas não
comparece, dificilmente disputa u m cargo eletivo. Eu diria então que a Ordem
é conduzida, em grande medida, por advogados que entendem que essa deve
ser a postura da instituição. Havia um grupo de presidentes extremamente
afinados comigo e com a minha administração^ de sorte que eu falava muito
freqüentemente com vários deles por telefone e nos reuníamos de dois em dois
meses no Colégio de Presidentes.'^
84 •Al
V o lu m e - A (')AB na v o z (los scu> l ^ ii’s id c n lc s
85
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
86 màM
V o liiiiic , A OAI-) n,i VO/ (los si'U'-- I’ rc'-idi'Htc's
•àl 87
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
E a Defensoria Pública?
Naquela época, estava ainda em organização. Ela sempre sofreu m uito por
fa lta de meios. A pobreza no Brasil é tão disseminada que sobrecarrega os
órgãos de defesa dos economicamente necessitados. Em um a cidade como o
Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 70 a 80% das causas são provavelmente
patrocinadas por defensores públicos. Pode ser até que eu esteja enganado
quanto à exatidão desses números, mas, de todo modo, é bastante expressivo.
Obviam ente, a Defensoria não pode dar conta dessa massa de trabalho.
Embora tenha melhorado muito, ainda assim continua sendo um serviço
extrem am ente deficiente e que terá de ser aperfeiçoado com o tempo.
Eu não imaginava tanta violência, mas não podia ignorar que alguma reação
haveria, como freqüentem ente ocorre em períodos de quebra de garantias
constitucionais. Agora, acho que a Ordem não podia faltar, naquela ocasião,
aos perseguidos, aos desaparecidos e suasfamílias. Eles não tinham para quem
apelar - havia diálogo com a ABI, mas menos do que com a OAB. A verdade
é que vinham ao meu gabinete trazer denúncias, queixas e reclamações, sendo
inadmissível um a atitude pusilânime.
88 «41
V olum e / A C)AI5 na v o / (lo'4 scus IVcsidtMilfS
A OAB tinha facilidade para obter espaço nos jornais para a denúncia
desses casos de desaparecidos?
•à B 89
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
Houve mudanças, mas eu não acho que tenha havido um a ligação direta
com os atentados. O Abi-Ackel era um homem mais duro na presidência do
CDDPH, e isso se manifestou logo, mas nada além disso.
Não, ele era m uito formal. Todos os entendimentos com ele foram no âmbito
do Conselho. Aliás, tanto com ele quanto com o Petrônio. Eu nunca tive uma
reunião com os dois em que não houvesse outras pessoas presentes. Os dois
foram sempre m uito elegantes, jam ais tiveram qualquer manifestação que
pudesse ser interpretada como um a interferência ou como um a ameaça.
Porque eu achava que a abertura era um a etapa vencida, e que era preciso
aprofundar a luta, inclusive para convocação da Constituinte. A Constituição
estabelece m ecanism os para que a sociedade possa reivindicar m elhor
distribuição da riqueza. Eu achava que já estava no m om ento de a OAB sair
90
V o lu m e 7 A O A i) na \o / dos s o l i s I’ r c ^ i c k ' n l L ' s
£ra uma questão espinhosa e não havia unanimidade em torno dela, isso porque
há um contingente muito grande de advogados conservadores-porformação até,
0 advogado tende a ser conservador mesmo. Mas no tocante à Conferência, acho
que no momento em que ela foi organizada - quase um ano antes - ainda havia
uma ênfase maior nas garantias das liberdades. Por isso este foi o tom dominante.
91
______________ História da
O rd e m d os A dvogados d o Brasil
Foi um seminário mais técnico do que qualquer outra coisa. Foi uma discussão
m u ltid iscip lin a r, m u ito bem organizada, vo lta d a p a ra a análise da
criminalidade comum, especialmente da criminalidade urbana.
A violência ligada à criminalidade comum ainda não tinha a intensidade dos dias
atuais, ao contrário da violência política, muito presente e intensa. Havia, de fato,
crimes violentos, mas eu diria que na medida do que se podia suportar. Depois é
que a criminalidade sofreu um crescimento espan^so, que, naquda ocasião, ninguém
seria capaz de prever. De todo modo, era um assunto que já preocupava.
o Se m in ário sobre C rim inalidade Violenta acon tec e u n a cid a d e d o Rio d e Jan eiro, e n tr e os dias 23 e 25 d e
ab ril d e 1980.
” O Serviço N acion al de In f o rm a çõ e s (S N I) foi cria d o em 13 d e ju n h o d e 1964. E n tre o s vários órg ã o s q u e o
inte g ra v a m , e n c o n tra v a m -se os c en tro s d e in fo rm a çõ e s das Forças A rm a d a s: Ciex, Cisa e o C e n tro d e
In f o rm a ç õ e s d a M a r i n h a (C e n im a r). O D e s ta c a m e n to d e O p e ra ç õ e s d e In f o rm a ç õ e s - C e n t r o de
O p e ra çõ e s d e D efesa In te rn a (D O I- C o d i) foi c ria d o e m ja n e iro d e 1970, c o m o fo r m a d e centralizar, a
p a r tir d o Exército, as ações repressivas d o Estado. P resentes n a s esferas region ais e respo nsáv eis pelo
c o m a n d o de to d o s os o rg a n is m o s existentes e m c ada área, to rn a ra m - s e d e sd e e n tã o a p rin c ip a l e s tr u tu ra
p o r m e io d a q u a l os gov ern os m ilitares a rtic u la ra m a repressão. Ver D H B B , op. cit.
92 •41
V o lu m o / A Ü ' \ Í 3 n a v o z cios sclis I're s ic lo n fc s
entre as duas coisas. Nós sabíamos que aqueles mecanismos jam ais poderiam
ser utilizados para reprimir a criminalidade comum, que estava crescendo
muito. Achávamos que havia a necessidade de se estudar as causas, sobretudo
as causas da violência, e as maneiras de combate inteligente através de
m ecanism os democráticos. Realm ente não se pensava no uso de força
extrapolicial para reprimir aquele tipo de criminalidade.
•àM 93
História da
I Ordem dosAdvogados do Brasil___________________________________________
Ordem. Era inim aginável que houvesse u m aparelho tão fora de controle
a pon to de chegar àquele excesso. Particularm ente, m eu p a i tinha m uito
tem or pela m in h a segurança, vivia m e dando conselhos. Ele lam entava
que eu morasse em lugar ermo, distante. N aquela época, eu residia em
São Conrado, em u m a casa - da qual eu me m udei no dia do atentado -
n u m a rua bastante deserta, extrem am ente vulnerável: era em fren te a
um morro coberto p o r um a floresta, de m odo que se alguém entrasse ali
não seria visto e veria todo o m ovim ento da casa. H ouve u m fa to que me
preocupou m u ito e que m e fe z im aginar que algum a represália poderia
haver, só não fa zia idéia de que seria tão trágica. Por ocasião do atentado
ao professor D alm o Dallari,'"^ que até hoje não ftcou bem esclarecido, eu
reivindiquei que lhe fossem mostradas as fotografias dos agentes do D O I-
Codi de São Paulo, para ver se ele identificava alguém. Eu dizia que ele
tinha 0 direito de ver essas fotos, porque esses agentes não poderiam ser
im unes à ação do Estado e da Justiça. Era preciso identificá-los. Aquilo
rea lm en te causou u m a reação e x tre m a m e n te vio le n ta p o r p a rte do
governo, o A b i-A c k e l reagiu de m a n eira m u ito in ten sa . E u fiq u e i
preocupado e, de fato, pouco tem po depois explodiu a bom ba na Ordem.
Não, nada, proteção nenhuma. Pus minha fam ília no carro e fu i para um hotel
na avenida Atlântica, com nome falso. O atentado teve efeitos muito sérios na
m inha fam ília. M eu p a i temia m uito que eu fosse alvo de um atentado
simulando um aádente. E realmente era isso que eu achava que podia acontecer.
De vez em quando eu me preocupava, principalmente diante de certos episódios,
como quando recebi cartas ameaçadoras de um advogado do interior do estado,
mentalmente perturbado. Ou então, quando eu estava no escritório e recebia
um telefonema de minhas filhas, ainda pequenas, dizendo: “Olha, tem um
hom em nos seguindo.” Possivelmente era um a fantasia, mas o que eu havia de
fazer? Eu até achava que com aquele escândalo que se form ou não haveria
mais nada contra m im nem contra a m inha família.
" N o dia 2 d e ju lh o de 1980, o jurista D alm o Dallarl foi preso e agredido e m São Paulo, ao q u e tu d o indica, p o r
agentes d o D O I-C o d i. A despeito de to d o o esforço da OAB, à época, pa ra q u e t u d o fosse devidam ente
a p u ra d o , o caso foi arquivado p o r d eterm inação da lustiça. Ver DHBBy op. c i t e M arly Silva d a M otta, op. cit.
94
V o k in ie , A ( ).\ H n a \ o / d o s s c lis I'rc'sick'H tcs
Estava viva e foi removida em seguida. Uma parte da mão dela caiu na marquise
do andar de baixo, umfunáonárioarecolheuparaversenoHospitalSouzaAguiar,
para onde ela havia sido levada, seria possível fazer um reimplante. Telefonei para
0 secretário de Saúde e pedi para que me mantivesse a par de tudo. Dali a algum
tempo ele me telefonou dizendo que dona Lyda tinha falecido. Foi tudo muito
traumático. Naquela ocasião eu tinha uma filha muito pequena, com uns seis ou
sete anos, e no colégio onde estudava ela tinha por tarefa fazer um a redação diária
sobre um fato que tivesse lhe chamado a atenção. E até hc^e ao falar nisso eu me
emociono um pouco, porque naquele turbilhão eu não pude nem me preocupar
com a família, só liguei para dizer que estava vivo. A redação que ela fez no dia
seguinte foi um a coisa comovedora: ela contou a história toda, inclusive que a mão
da Dona Lyda havia caído na marquise do andar de baixo, coisa que eu não pensava
que um a criança daquele tamanho pudesse tomar conhecimento. Umjornalista da
revista Manchete soube dessa redação e a publicou por aqueles dias.
•àl 95
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
Eu estava tão atingido que sequer p ude acompanhá-lo pelas ruas. O corpo
dela fo i levado a p é num a passeata até o Cemitério São }oão Batista, mas eu
não tive condições psicológicas de acompanhar o cortejo. Fui direto para o
cemitério, onde havia uma multidão, um a coisa espantosa. Foi a demonstração
de que o povo havia sido atingido tam bém p o r aquela agressão terrível A
passeata fo i um a coisa realmente impressionante.
Isso mesmo. A missa de sétimo dia, celebrada pelo cardeal dom Eugênio Salles,
fo i um espetáculo emocionante. A Igreja da Candelária cheia, a pregação,
tudo fo i m uito tocante. Se ela não tivesse morrido talvez a opinião pública
recebesse com menos emoção o ocorrido. Mas a morte de dona Lyda contribuiu
para m axim izar o episódio e, de certa form a, proteger a Ordem. Ela era uma
senhora afável, que não tinha nada a ver com as atitudes da Ordem, uma
funcionária com 42 anos de serviço. Ela abria toda a correspondência, salvo
as que tinham as notas de “pessoal” e “confidencial”. Foi essa circunstância
que a matou e que me preservou.
96 9ÁI
V o iu iix - r A O A B n.) \ ' ( ) / <I()s s e u - , P r u s i d c n t o
Houve. Durante algum tempo houve muitas ameaças e o prédio foi evacuado por
mais de uma vez. Eu era procurador do estado do Rio de Janeiro naquela época,
e na minha mesa, na Procuradoria, foi colocado um embrulho extremamente
9àM 97
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
S up õe-se q u e R o n ald W atters seja u m ex-ag en te da C e n tra l Intelligence A gency (C IA ). Sua ficha crim in a l
n o Brasil é extensa. W atters foi p re s o p e la p rim e ir a vez e m 1962, a c u s a d o d e te r p o s to u m a b o m b a -
relógio - q u e a ca b o u n ã o e x p lo d in d o - na E xposição Soviética d o C a m p o d e São C ristó v ã o , n o Rio de
Janeiro. D ispo nível e m h ttp ://w w w .o a b .o rg .b r/h is t_ o a b .
98 •41
V o k im c . A ( )AH n,i \ ( ) / lios I 'u - 'id c t iK ’s
Sim, é correto. Houve um inquérito puram ente burocrático. Quer dizer, foram
tomados os depoimentos dos porteiros, dos ascensoristas e dos funcionários,
fo i feito um retrato falado de uma pessoa vista por u m a faxineira, mas não
houve trabalho de inteligência, de investigação. Repito: fizeram inquérito para
dar um a satisfação à opinião pública. O Comando de Caça aos Comunistas
(C C C ),'^ chegou a assum ir a autoria do atentado, dizendo que eu era
comunista e que estava pregando o credo de Moscou. M as a nossa convicção
é de que havia sido um desses bolsões de resistência à distensão política que
tinha resolvido mostrar do que era capaz.
#Á# 99
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Sim, sem sombra de dúvida. Aquilo ali foi o início da derrocada do regime.
Tudo 0 que aconteceu depois, até a Constituinte, começou naquele dia. Foi
uma coisa chocante demais, o mundo ficou com a atenção voltada para o Brasil
ainda mais intensamente do que antes. A Ordem era um a instituição respeitada
internacionalmente. Eu me lembro que um a vez fu i convidado a participar, já
no fim do meu mandato, de um seminário em Genebra acerca da situação dos
países latino-americanos. Eu fiquei surpreso com o conhecimento que as pessoas
tinham a respeito do papel da Ordem no processo de redemocratização do Brasil.
N ão só da Ordem, mas da A B I e da Igreja também. O atentado, portanto,
projetou ainda mais a Ordem internacionalmente e tornou irreversível o processo
de abertura. Meses depois, veio o atentado do Riocentro,'^ que fo i a pá de cal
que faltava sobre o regime. Ali, como dois militaresforam vitimados em “aciden te
de trabalho”, veio à tona toda a verdade.
'* Sob re o episód io, ver e n tre v ista d e B ern a rd o C ab ral, neste volum e.
100 •Al
V o k im c / A O A B nu voz do s seus Presid entes
101
______________ História da.
O rd e m d os A dvogados d o Brasil
Sim. A seção de Mato Grosso construiu a sua sede, em grande parte com um
auxílio que eu criei e distribuí para as seccionais que não tinham sede. Quando
fom os convidados para a inauguração, eu levei os dois, Cabral e Pertence.
Chegando ao hotel, em Cuiabá, encontrei em cima da mesa da sala um livro de
poesias, da lavra de um conselheiro do estado, o dr. Silva Freire, com uma
dedicatória muito amável. Eu folheei, guardei e à tardefui, com todos, à solenidade.
Após 0 meu discurso, o locutor passou apalavra ao Bernardo, que, no meio do
pronunciamento, recitou um poema do livro de Silva Freire. Não era uma
quadrinha não, era um soneto, era um poema - um belo poema, por sinal - de
umas quatro ou cinco páginas, que ele havia memorizado. Eu olhava para o
autor do poema - um ilustre conselheiro e um advogado muito bem sucedido,
que tinha feito política estudantil - e via que ele estava verdadeiramente encantado
com a homenagem. E não apenas ele. Daí a dois ou três dias, a seccional de Mato
Grosso se reuniu e deliberou apoiar o Bernardo na eleição.
Eu não escondia que achava o Pertence o candidato mais indicado para aquele
momento. Alguns amigos, e algumas seções, como a do meu estado, o Rio Grande
do Norte, votaram com ele. Eu fiquei isento. A não ser quando um amigo me
perguntava é que eu externava a m inha preferência. Sem prejuízo da amizade
que tenho com o Bernardo, ainda que sejamos pessoas bastante diferentes.
102 9ÀB
V o lu m e / -A ( M l ; tt.t VO/ (lo s M 'u s I’rc 's ic k -n tc 's
As eleições no Brasiljá erarn então - agora estão muito piores - muito influenciadas
pelo poder econômico. Eu teria que dispor de bastante dinheiro para divulgar o
meu nome, e este dinheiro teria que ser captado em empresas, com amigos etc.
Além do mais, eu sou tímido. Quando fu i lançado candidato a presidente da
OAB, um dos conselheiros me contou que ao pedir voto para m im ouvira o seguinte
comentário: ''Mas como? Aquele antipático que entra, senta lá no canto, não fala
com ninguém?”. E realmente era o meu modo de ser: eu chegava naquele salão
cheio, geralmente atrasado, sentava-me na primeira cadeira que estivesse vaga e
ficava ali participando da sessão, sem cumprimentar ninguém, até porque já
estavam todos trabalhando. Quando acabava a sessão, cumprimentava apenas
um ou outro. Outro dia, Sérgio Bermudes, meu amigo querido, advogado
brilhante, publicou um livro revelando uma coisa que eu havia lhe dito: que se- eu
fosse escrever umas memórias - e não vou - o título seria “A qui por engano”.
Porque eu fu i presidente da Ordem um pouco por força das circunstâncias.
703
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil ]
Eu avaliei que aquilo era um processo no sentido da abertura democrática,
quer dizer, era necessário enfrentar um ou alguns problemas de cada vez e ir
aprofundando. Eu achava que a Constituinte era o marco zero. A partir dali,
0 povo brasileiro construiria o seu destino como achasse que deveria fazê-lo.
M as antes, eu achava que a Ordem precisava atuar até chegar à Constituinte.
Em lá chegando, ocorreria, como ocorreu, um refluxo para a sua posição
tradicional de u m órgão de expressão nacional, mas não um órgão de proa,
como durante muitos anos ela foi. Em seu lugar, ou ju n to dela, atuariam os
partidos, associações, confederações, enfim, entidades da sociedade civil.
104 •Ál
Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
entender por que a American Bar Association era tão exclusivamente voltada
para os assuntos profissionais e a Ordem dos Advogados do Brasil era um a
instituição que prestava relevante serviço público. Se, naquela oportunidade,
a Ordem não houvesse exercido aquela atuação em defesa da sociedade, teria
ficado desmoralizada, em vista do seu passado, em vista do que a sociedade
dela esperava.
•Al 105
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
106
Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
107
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Na reunião do Conselho Federal, Bernardo Cabral, tendo ao lado, losé Cavalcanti Neves
( M em bro H onorário Vitalício), H erm ann Assis Baeta (secretário-geral), e Barbosa Lima
Sobrinho ( presidente da ABI).
108
V o lu m e / A ( X \ B na v o z d o s s o lis I’ ri'sick'ntcs
Bernardo Cabral
•àl 109
______________ Historia da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
770 •ál
V o k in n ,' , A OAB v o x (U)s sinis
111
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
772
V o lu tn c 7 A OA13 n a v o / d o s sclis P ic s id e n le s
' Sob re a o b rig a to rie d a d e d o E xam e de O rd e m , ver no ta 1 1 da en tre v ista de E d u a rd o Seabra F ag un des, neste
volum e.
- Sobre o ep isó d io , ver en trev ista d e E d u a rd o Seabra Fagundes, neste volum e.
" O a te n ta d o d o R io c en tro o c o r r e u na n o ite d o dia 30 d e abril d e 1981, d u ra n te a realização d e u m show dc
m úsica p o p u la r , p ro m o v i d o p e lo C e n tro Brasil D e m o crático (C e b ra d e), em c o m e m o ra ç ã o d o 1“ de
M aio. N a ocasião, c m q u e estav am p re sen te s mais de 20 mil pessoas, u m a b o m b a e x p lo d iu no in te r io r de
u m v eículo p a r a d o n o e s ta c io n a m e n to d o c en tro d e con vençõ es, m a ta n d o o s a r g e n to d o Exército,
G u ilh e rm e P ereira d o R osário, d e 35 anos, e o cap itão W ilso n Luis C h aves M ac h a d o , de 33 ano s e q u e
servia n o D O I - C o d i d o 1 Exército. A c o n tra d iç ã o e n tre a c on clu sã o d o in q u é rito , q u e a p o n to u p a ra a
o c o rrê n c ia d e u m a te n ta d o c o n tr a os m ilitares citados, e a suspeita de q u e o o c o r r id o teria sido u m a ação
te rrorista fr u stra d a c o n tra as pessoas q u e ali estavam reun id as, fez d o caso u m d o s m ais co n tro v e rs o s do
p e río d o . Ver D H B B , o p . cit.
•ál 113
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Sim, eu recebi m uitas ameaças, pela madrugada, via telefone. M inha m ulher
ficava bastante assustada. Nós tínhamos um a neta de dois anos e as ameaças
recaiam sobre ela. D iziam que iriam estuprá-la e seqüestrá-la. Eu recebia
tam bém ameaças por escrito, assinadas por um tal “Comando Delta” Quando
eu m e queixei à autoridade competente, a única coisa que eu ouvi fo i a
recomendação para andar sempre em carro de praça e nunca fazer o mesmo
percurso. D urante os dois anos que fu i presidente da OAB, só andei em tá xie
nunca fiz o mesmo trajeto.
114 #à#
V o lu m e , \ ( > \ 1 ! I I , ) \ ( 1/ d o s s( ‘us M t r s i d c t i l c s
N o meu caso, sim. Certa vez, num a reunião com o ministro Abi-Ackel, eu
denunciei a existência de um a célula da Polícia, em M inas, que estava
torturando presos. E ele m andou apurar. A cordialidade não ficava apenas
no gesto, pelo menos comigo. No CDDPH acontecia a mesma coisa. Todas as
denúncias que eu, o Barbosa Lim a Sobrinho, representando a Associação
Brasileira de Im prensa (ABI), ou o Benjam in Albagli, representando a
Associação Brasileira de Educação (ABE), fazíamos, ele m andava apurar.
N ão sei. Eu nunca revelei isso publicamente. Eu poderia ter revelado para alguns
colegas as ameaças do “Comando Delta”, mas nunca dei entrevistas para que
não pudessem pensar que havia ali uma exploração política do episódio. Eu
sempre tive o cuidado de não transformar isso num palco iluminado.
•At 115
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
" So bre o a ss u n to , ver en trevistas de M á r io Sérgio D u a rte G arcia e H e r m a n n Assis B aeta, neste vo lu m e.
776 •Al
V o lu m e / A O A B n .i v o z d o s s e u s P re s id e n te s
màB 117
______________ H istória da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Sim , eu acho que essas questões não fo ra m levadas para o centro dos
acontecimentos. A OAB, eu sempre disse, e acho que continua sendo assim,
era a única instituição que não tinha conotação político-partidária, apesar
de muitos serem de partidos políticos diferentes. Q uando a OAB tomava um a
posição, a posição era da OAB e era sempre voltada para o Estado de direito.
Então, se havia um a voz discordante ela não se manifestava por ser deste ou
daquele partido político. A s bandeiras da instituição eram o principal, o resto
era acessório. Isso é rigorosamente verdadeiro, embora, evidentem ente,
conflitos internos tenham sempre havido.
118 •41
V oiuiD i' T A ( ) A i; 11,1 \ ( ) / ( i o s M ' ti s r r c ^ i d c n U ' ^
O ]osé Neves até que tentou, mas o Sobral Pinto se insurgiu contra ele e a
intenção não vingou. A lguns presidentes costum am ser indagados se
gostariam ou não de continuar. Comigo mesmo isto ocorreu, mas recusei. Eu
acho que esta é um a bela posição assumida internam ente pela OAB. Tem
sido a sua grande firmeza.
So bre o assu nto, ver e n tre v is ta de José C avalcanti Neves, n este volum e.
•41 779
,_______________ H istóda.da
[ Ordem dos Advogados do Brasil
120 «ái
V o lu m e / A 0 / \ l ) n,i VO/ (l o s sc'us P rc's ic lc ntcs
Fui aos Estados Unidos como também à União Soviética. E aos dois países fu i
convidado por entidades ligadas aos direitos humanos, a fim de que visse qual
era a diferença de tratamento entre os dois países a respeito da questão. A Israel
fu i também em função da proposta pela paz, que até hoje ainda não teve
desfecho. Q uando fu i à União Soviética, os convidados fom os eu e o Barbosa
Lima Sobrinho, que acabou não podendo embarcar por problemas de saúde. O
saudoso Miguel Seabra Fagundes se apressou em censurar a m inha ida aos
Estados Unidos, esquecendo-se que também tinha eu ido à União Soviética.
121
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
122
V olum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
Porque ninguém quis ir. Eu estava impossibilitado e, portanto, não poderia estar
presente. Mas até o final da minha gestãofomos sempre convidados para todos os
eventos, sendo então presidente do STF o ministro Xavier de Albuquerque. Ele,
inclusive, havia sido meu professor na Faculdade de Direito do Amazonas.
M ário Sérgio era o candidato natural, mas o fa to é que ele não desejava a
presidência, porque tinha um escritório m uito m ovim entado em São Paulo,
como tem até hoje. Só na última hora resolveu aceitar, tendo sido difícil reverter
a situação. O Sobral Pinto escreveu um a carta, eu f i z alguns pedidos e o Baeta
trabalhou bastanteJ^ A sucessão do M ário Sérgio fo i mais fácil, porque logo
começamos a trabalhar o nom e do Baeta como candidato natural e ele se
tornou vitorioso pelos seus próprios méritos.
São épocas que não podem ser comparadas. Na minha gestão havia uma repressão
aguda, que estava quasefindando, mas ainda sefazia presente. E o que nós vemos
hoje? Queiram ou não queiram, gostem ou não gostem do Lula, a eleição dele
serviu para mostrar que um torneiro mecânico pode chegar à presidência da
República sem fazer nenhuma revolução. Hoje nós vivemos concretamente sob
um Estado democrático de direito. Repito, são épocas distintas que não podem
ser comparadas. Mas no que diz respeito à OAB, posso garantir que de qualquer
sorte, qualquer que seja a época, ela sempre estará à frente de qualquer outra
entidade. Não há nenhuma entidade que seja tão forte quanto a OAB.
•Al 123
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
124
Volume 7 A O A B n a v o z d o s s e u s P re s id e n te s
•àl 125
_____________ História_da
Ordem dos Advogados do Brasil
Na cam panha das EXretas Já, M ário Sérgio ao lado de Ulysses G uimarães.
126 •ÁM
VdlutiK' r A ( ).\H n,t \ ( ) / dos seus I’ rc'-'idi.iitcs
727
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
128 9AU
V o lu n u ' 7 A ( ).\li n.i v o / dos <rus I'lvsidcntcs
m andou um recado perguntando se eu não iria cum prim entá-lo porque ele
já tinha os 14 votos necessários à sua vitória eleitoral. 'E eu disse que não, que
iria aguardar o resultado porque eleição se decide na hora do voto. Sucede
que no prim eiro escrutínio houve u m em pate de 13 a 13, e no segundo
escrutínio eu obtive u m voto a mais e ganhei por 14 a 12. O dr. Sobral Pinto
escreveu cartas a vários conselheiros que questionavam a m inha eleição,
defendendo-a. Ele mostrou bem as razões pelas quais houve esta reviravolta e
eu terminei sendo eleito.
' Sobre a q u e stã o su cessó ria, ver en trevistas d e H e rm a n n Assis B aeta e B e rn a rd o C ab ral, n este volum e.
129
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
130
V o lu n x ' - A 0 . \ i ’> no v ( ) / d o s s r i i s P ic ’s i d i ’ n lt's
O Sobral escrevia cartas e não julgava que elas devessem ser privadas, em se
tratando da Ordem. Eu fu i vítim a de um a campanha difamatória logo em
seguida à m inha eleição, em função da publicação de um a fotografia do Seabra
Fagundes - ou minha, não me recordo bem - num grande jornal do Rio de
Janeiro, com a manchete: “Candidato de Seabra Fagundes derrota candidato
de Faoro”. Isso gerou um a manifestação do dr. Faoro, afirm ando que a m inha
eleição dividiria a Ordem dos Advogados, já que de um lado estariam os
estados que haviam me apoiado e do outro os que tinham votado contra
m im . O Sobral, então, escreveu a todos os jornais que reportaram essa
divergência momentânea, esclarecendo o episódio, ao mesmo tempo em que
eu comecei a receber, de todos os estados, manifestações de seus Conselhos,
com a mais absoluta solidariedade, desagravando-me e fortalecendo a união
da instituição em prol dos seus ideais.
131
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
132 9AI
V o lu m e , / \ O A B n a v o z d o s s e u s l ^ i c 's i c k ' n t c s
•Al 133
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Não, eu não diria que houvesse dois grupos distintos. O que havia era a
manifestação central de dois presidentes, o Bernardo de um lado e e u d e outro.
Bernardo Cabral como presidente não se descurou também desses problemas
institucionais, mas talvez não lhe tivesse dado a importância que eu julgava
que devesse ser dada. O meu comportamento como presidente fo i no sentido de
batalhar pela efetiva democratização do país. Ê claro que nós não nos descuramos
da defesa dos interesses da classe, mas isso era algo mais voltado à atuação dos
conselhos seccionais. O Conselho Federal, evidentemente, tinha que dar todo o
apoio aos conselhos seccionais nesse sentido, mas ele tinha um a posição de
liderança perante a sociedade civil que não podia ser desprezada. D aí a razão
dos realces do meu discurso em relação a esta questão. Tanta era a nossa
preocupação que nós promovemos, aqui em São Paulo, o Primeiro Congresso
Nacional Pró-Constituinte,^ logo em seguida à m inha eleição. Fizemos questão
de convidar também pessoas desvinculadas da advocacia, justam ente porque
considerávamos a questão de modo amplo e abrangente. Contamos com a
participação de sociólogos, historiadores, psicólogos, enftm, profissionais de
outras áreas que trouxeram a sua contribuição no sentido de caminharmos
para um modelo de Constituição que todos almejávamos.
•' o P r im e iro C ongresso N a cion al P ró -C o n stitu in te o c o rre u e m ago sto d e 1983, n a F a c u ldade d e D ireito do
Largo d e São Francisco, e m São Paulo, re u n in d o advogados d e to d o o Brasil. Sobre o assu n to , ver tam b é m ,
en trev ista d e H e r m a n n Assis Baeta, neste volum e.
134 •áB
V o lu m i' / A O ,A li n a v o / d o s >cu> l-’i f s i c k ' H l e ^
O Ahi-Ackel era um político muito hábil. Ele recebia, registrava, dizia que
tom aria providências, m as pouco fa zia . N ós tivem os m uitos em bates
principalmente nas reuniões do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
H u m an a (CDDPH ). Sobre esta reunião em especial, eu não tenho uma
lembrança exata de como ela se deu, mas fomos lá e fizem os um protesto
veemente. Ele nos ouviu com m uita atenção e prometeu tom ar providências,
mas eu me recordo de não ter saído de lá com m uita esperança de que aquelas
promessas viessem a se efetivar, o que acabou se confirmando.
135
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Eu não sei, talvez hoje a gente até possa encarar de um a outra form a, mas na
ocasião havia um a coragem m uito grande por parte dos dirigentes da Ordem
e, a despeito dos riscos que se corria, havia de outra sorte um a chama, uma
obrigação de defesa intransigente de certos valores da democracia, da vida
dos advogados, que nos levava a afrontar as situações com m uita disposição.
Eu acho que de uma certa forma foi, embora nós sentíssemos também a mesma
dureza aqui em São Paulo, onde eu exerci a presidência da OAB local, no mesmo
biênio. O regime provocava uma abertura gradativa, o que fazia com que a situação
fosse mais rigorosa do que durante a minha gestão à frente da Ordem Federal.
Mas, de qualquerforma, restrições nós tínhamos de toda espécie, tanto no período
136 «41
V o lu m e A (JAH tt.i v o x (los sens I're -'ide n tcs
■' Sobre a LSN d u r a n t e o reg im e m ilitar, ver n o ta 3 d a e n trevista de B e rn a rd o C ab ral, n este v olum e.
^Em fins d e 1982, e m m e io a u m a grave crise e co n ô m ica , o go v e rn o b ra sile iro d e c la ro u a im p o ssib ilid a d e de
a rc a r c o m os ju r o s d a d ívida n o a n o segu inte- A c o n tra p a rtid a im e d ia ta foi a a ss in a tu ra d e u m a c a rta de
in tenções c o m o F u n d o M o n e tá rio In te rn a c io n a l (F M I), selan do c o m p ro m is s o s d e estabilização da
e co n o m ia. U m d o s p o n to s d o a c o r d o passava ju s ta m e n te pe la re d u ç ão d a s taxas d e re a juste salarial da
classe tra b a lh a d o ra b rasileira. D esd e e n tã o o go v e rn o te n to u a p ro v a r n o C o n g re ss o u m a n o v a política
salarial q u e a tend esse às exigências d o FM I, a m a rg a n d o , e m c o nse qüê ncia, u m a u m e n to a ce le ra d o d o
d e sc o n te n ta m e n to po pu la r. D epois d e q u a tro d e rrotas consecutivas, Figueiredo e seus m in is tro s busca ra m
cercar-se d e g a ra n tia s e x tia o rd in á ria s p a ra o b te re m êxito n a ap ro v ação d o D e c re to n.® 2.045, referente à
política salarial. Sob fo rte p ressão p o p u la r, e m Brasília, c o n tra a a p ro vação d o d e c re to . F ig ueiredo, pela
p rim e ira vez d e p o is da revogação d o A I-5, em 1979, recorreu à s u sp e n sã o p arcial das lib e rd a d e s públicas,
p o n d o a capital federal e m e sta d o d e em erg ên cia e e n c a rre g a n d o o gen eral N e w to n C ruz, c o m a n d a n te
m ilitar d o P la n alto, d a aplicação das m e d id a s coercitivas q u e julgasse necessárias p a ra a m a n u te n ç ã o da
o rd e m . V e rD H B B , op. cit.
137
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
138 •àB
V o lu m e / A { ) , \ l i n ,i V O / ( l ( h s('Lis l ’ i(.‘s i ( k ‘ n tc s
Eu acho que, de certa form a, isto até fortalecia o em bate que a Ordem
vinha travando naquela ocasião. O país caminhava sim para um a abertura
política definitiva. Era como dizia o general Golbery, com a sua célebre
imagem da sístole e da diastole: enquanto endurecia de u m lado, am enizava
do outro. N ós tínham os que conviver naquele am biente agindo d efo rm a
rigorosa em determ inadas situações, prezando pela cautela em outras, mas
sempre na perseguição do ideal que norteava o com portam ento da Ordem.
Isto é, nós não nos furtávam os de tomar a frente desses m ovim entos, mas
agíamos de acordo com o que as circunstâncias perm itia m , até o lim ite das
possibilidades.
* S obre os casos d e am eaças e assassinatos d e advogados, ver, so b re tu d o , en trev ista d e H e r m a n n Assis Baeta,
neste volum e.
739
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Quanto ao caso do Tobias Granja, a seccional de Alagoas, que então era presidida
pelo Marcelo Lavenère, tomou providêndas locais e nós levamos os fatos ao
conhecimento do CDDPH como antes referido. Do ponto de vista jurídico,
recordo-me que um processo fo i aberto e que os acusados foram condenados.
Eu não entendo que pudesse atrapalhar a transição democrática, mas até servir
como ingrediente para que, politicamente, se caminhasse para um regime
letivam ente democrático, que pudesse centrar sua preocupação também na solução
do problema social que afetava o povo brasileiro. Essas manifestações populares
talvez refletissem exatamente um anseio popular por mais liberdade, por mais
conquistas, pela defesa de interesses mais imediatos do povo de um modo geral.
140
V o lu m e / -A 0 / \ H lilt \ ( i x cios s('U ‘' l ’ ifs ic !(.'n !c s
Sim, claro. Este assunto, por exemplo, foi bastante debatido no Conselho, por
iniciativa do próprio dr Miguel Seahra Fagundes. H á inclusive no OAB Federal,
que era um jornal que nós então publicávamos, de um a form a m uito simples,
sem fotografias e sem personalismos, em sua décima primeira edição, publicada
em setembro do mesmo ano, uma referência a esse assunto. Nós nos posicionamos
contrariamente a esse acordo, que feria a soberania brasileira.
#à# 141
______________ Historia da
O rd e m dos A dvogados d o Brasil
142
V o lu m e , A OAi '5n a \ o / do'- s ( 'ii\ P i c ^ id c n t c s
•ài 143
_____________ História da
O rd e m dos A dvogados d o Brasil
Não, nunca fu i filiado. Depois de ter sido secretário de Justiça aqui de São
Paulo, de 1987 a 1990>fui convidado pelo governador Orestes Quérciapara
ingressar no PMDB, mas não aceitei o convite.
144 màB
V o lu m e / A ( ) / \ B na v o / d o s seus P reside ntes
145
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
146
V o lu n u * \ ( >AI-'> iKi \ u / (los s(,'Lis l ’ n ' s i ( k ‘n trs
coletivos estaduais que não se vê, apenas com u m senão: ele é tam bém dono
da empresa Andorinha, um a das forças maiores que este país tem em matéria
de transporte rodoviário. A lém do mais, responsável p o r u m lo b b y de
empresas em São Paulo. Vai daí que não gosta de trens, é u m direito que lhe
cabe. Querem m ais coincidência? Pois aí vai outra: sendo representante da
região de Presidente Prudente, Walter conversou m uito com M a lu f sobre as
inconveniências do transporte ferroviário na A lta Sorocabana. M ais acasos?
É ele, Walter, que detém o monopólio das linhas rodoviárias da região. E
para dar aos estranhos casos, p or hoje, findos, fo i então que M a lu f que
hoje conta com 0 apoio de Walter para a presidência, desativou praticam ente
todos os trens que serviam à região a custos rentáveis. N ão são uns amores?
E depois 0 Chico A nísio acha que o ‘Justo Veríssimo' é caricatura.” Por fim ,
isso ficou suplantado. O objetivo único era desmoralizar politicam ente a
OAB.
147
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
" S o bre o a ss u n to , ver, so b re tu d o , e n trevista d e C aio M ário d a Silva P ereira, neste volum e.
148
V o lu m e / A () /\ 1 5 n . i V O / d o s s e n s I ' i c s i d e n l e s
Foi gratificante, porque Tancredo Neves havia sido eleito presidente pelo Colégio
Eleitoral, e ele quis conversar comigo em Brasília. Fui à sede do governo provisório,
acompanhado do dr. Ulysses Guimarães e do Márcio Thom az Bastos, então
presidente da OAB/SP. Quando nós saímos do encontro o Tancredo perguntou se
eu iria à posse do presidente do STF e eu respondi afirmativamente. Fomos, então,
juntos. Quando chegamos à Praça dos Três Poderes ele me pegou pelo braço e
entrou comigo no Supremo. Assisti à posse, e, quando cumprimentei o Moreira
Alves, expus um certo descontentamento por não ter podido me manifestar Ele
então me disse: “Se você tivesse pedido a palavra eu teria lhe dado.”
Seria, mas essafo i um a form a de demonstrar que ele, o ministro Moreira Alves,
possivelmente não concordava com aquela situação criada pelo Cordeiro Guerra.
Qual foi o teor da conversa informal que o senhor teve com Tancredo
Neves?
#àm 149
_______________ História da_______________________________________
O rdem dos Advogados do Brasil ________________________________________
De modo m uito sutil, bem de acordo com a sua habilidade política, ele queria
sondar a posição da Ordem a respeito do governo, as expectativas que
tínhamos. Recordo-me bem de um a particularidade que somente mais tarde
fo i fazer sentido para m im , mas que me chamou a atenção: ele apalpava
m uito a região do estômago, porque certamente já sentia m uitas dores, que
prenunciavam a sua morte}^
Eu acho que há prós e há contras. Eu talvez possa vir a ser m uito criticado no
futuro, mas entendo que a mudança da sede da Ordem enfraqueceu-a um
E m 14 d e m a rç o d e 1985, vésp era da posse, o p re sid en te eleito foi a c o m e tid o d e fortes d o re s n a região do
a b d ô m e n . D iag n o stica d a u m a apend icite, T an credo foi o p e ra d o n o m e s m o dia. Após a o p e ra ç ã o a d m itiu -
se u m n o v o dia g nó stico: d iv erticu lite - d o e n ç a q u e g e ra u m q u a d r o a g u d o , p ro v o c a n d o d o re s parecidas
c o m as d a a p en d icite. A pós b reve im p asse s o b re q u e m deveria, d e fato, a s s u m ir p ro v is o ria m e n te a
p resid ên cia d a R epública: o vice, José Sarney, o u o p re sid en te da C â m a r a , Ulysses G u im a rã e s, con clu iu -
se, em n o m e da le g itim id a d e d o pro c e sso eleitoral, q u e o p rim e ir o deveria s e r e m p o ss a d o . Às 10 ho ras,
p o r ta n to , d o d ia 15 d e m a rç o d e 1985, José Sa rn e y a ss u m iu a pre sid ên c ia d a R ep úb lica . D esde e n tã o o
e sta d o d e s a ú d e d e T an cred o só p io ro u . S u b m e tid o a m ais seis ciru rg ias, em fu n ç ã o d e u m q u a d ro
infeccioso q u e n ã o apre se n ta va sinais d e m e lh o ra , n ã o resistiu e faleceu n a n o ite d o d ia 21 d e abril. Vér
D HBBy op. cit.
750 #Á#
V o lu m r r A ( ) \r> n a v t ) / (l()s I'u'sidctttcs
pouco.“ O Rio de Janeiro, par ter sido a capital da República, era o centro para
0 qual convergiam grandes nomes da intelectualidade e da advocacia, o que se
Leal, Evandro Lins e Silva, Miguel Seabra Fagundes, Sobral Pinto, José Ribeiro de
Castro, Eduardo Seabra Fagundes, Raymundo Faoro e outros, que compareciam
às sessões, abrilhantavam as deliberações do Conselho. Muitas vezes as deliberações
eram absolutamente inesperadas, surgiam através de um a proposição que
entusiasmava a assembléia. Eram reuniões memoráveis, porque agradavelmente
surpreendentes, e que nos alimentava essa coragem cívica de que falei.
Eu acho que o presidente que m e sucedeu, H erm ann Baeta, se viu forçado, de
alguma form a, a m udar a sede para Brasília, em função das circunstâncias
que foram transformando a capital federal em efetivo centro decisório do
país. Evidentemente isso representou um a democratização, ou melhor, um
fortalecimento dentro do sistema federativo do Brasil, mas eu acho que, em
termos de força política, jurídica, o Conselho no Rio de Janeiro fo i algo que
eu nunca mais vi.
•41 151
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
152 «ái
I
Na posse de Márcio Thom az Bastos na presidência da QA.B (abril de 1987). Entre outros,
H erm ann Assis Baeta (M embro H onorário Vitalício), Mareio Thomaz Bastos, Paulo Brossard
(m inistro da justiça), Almir I^ z ia n o tto (m inistro do trabalho) e M ário Sérgio Duarte.
i- -
153
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
154 •Al
Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
755
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Posse de H erm ann Assis Baeta (abril de 1985). E ntre outros, Fernando Lyra (m inistro
da Justiça); M ário Sérgjo D uarte (M embro H onorário Vitalício); Barbosa Lima Sobrinho
(presidente da ABI) e Sepúlveda Pertence (procurador-geral da Repúplica).
156
Volume 7 A O A B n d V O / i l o s s ens I ’ n ' s i d c n t c s
ttàB 7 57
_____________ Históiía da
Ordem dos Advogados do Brasil
7S8 •41
V 'o lu m r \ ( ) . \ l i ii.'i \ o / ( l o s s i ‘ U ‘- l ' [ ( , ' M < I c n l f s
•àl 159
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
O M unhoz Neto vinha com m uita força. Ele era u m aim inalista, do Paraná;
u m h o m e m m u ito bem relacionado, q u e tin h a o apo io de várias
personalidades da advocacia, dentre as quais o R aym undo Faoro, que viajou
o país todo pedindo votos para ele. Nós percebemos, quase tardiamente, que
se nos desuníssemos ele poderia ganhar e promover o cerceamento do espaço
que 0 nosso grupo vinha conquistando, contra o retomo da predominância
dos ditos '‘medalhões”.
160
V o k in t c ’ / \ CJAB tui \ ( ) / dos soLis I’ lesiclcntcs
•41 161
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Sim, claro. A questão da instabilidade política por que passava o pais poderia
ter posto a gestão do M ário Sérgio a perder e, por conseqüência, a m inha
candidatura também.^ Mas o fato é que essa m inha estratégia para alcançar
a presidência da Ordem era pensada em torno da democratização em um
sentido lato, tanto no âmbito da própria Ordem quanto tam bém no que dizia
respeito ao país, em primeiro plano. Em função disso, épossível compreender
por que, na m inha gestão, das duas grandes vertentes de atuação da Ordem,
a político-institucional e a técnico-jurídica, predominou a primeira. Eu partia
do princípio de que a advocacia só poderia ser exercida na sua plenitude dentro de
um Estado demoaático de direito. Não eram concebíveis as violências que vinham
sendo impostas a determinados setores da sociedade brasileira, inclusive contra os
próprios advogados. A prisão dos advogados Augusto Sussekind de Moraes Rêgo,
' Sobre a in s ta b ilid a d e p olítica q u e m a rc o u o fim d o re g im e m ilitar, ver en tre v ista d e M á r io Sérgio D u a rte
G arcia, n este volum e.
762
V o lu iin ; , \ O A I! I I . I v o / d o s s c L i s l ’ i L ' s i ( l i ' f i t c > '
George Tavares e Heleno Fragoso^ eram exemplos claros desse estado de coisas
contra o qual nós lutávamos e que deveria ter fim o quanto antes, através,
fundam entalm ente, de um a atuação enérgica da Ordem como defensora dos
postulados democráticos do estado de direito.
Não. O Costa Neto e o grupo que ele representava não tinham essa visão
acerca da necessidade de um a atuação mais enérgica da Ordem, no sentido
da democratização da sociedade. Ele era um hom em honrado, considerado
de esquerda, u m bom adm inistrador, mas parecia que não tinha essa
disposição. Sinceramente acho que ele não estagnaria a Ordem, mas também
julgo que não contribuiria para que ela avançasse.
Estou certo que sim, mas esse papel ativo da Ordem estava condicionado ao
perfil do presidente que a assumisse. Ainda que possamos afirm ar que até
hoje n en h u m presidente tenha conseguido retroceder a O rdem , houve
momentos em que ela vacilou na sua trajetória de lutas pela reconquista ou
manutenção das regras democráticas. Eu via que era preciso um a pessoa que
conhecesse a sociedade brasileira, que tivesse sido testada nas lutas progressistas
da sociedade brasileira. E eu me sentia preparado para a tarefa, porque há
m uito tempo eu vinha observando, estudando e discutindo a sociedade
brasileira, desde os bancos acadêmicos.
163
______________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil
Sim, desde lá. Eu passei seis anos em Maceió, vindo da m inha cidadezinha,
antes de m e transferir para o Rio. Foi u m aprendizado fantástico. Eu
participava dos movimentos estudantis, fu i u m líder estudantil em Alagoas,
enfrentando um a sociedade autoritária e altamente violenta, fu n da d a na
cultura do senhor de engenho, no trabuco, com u m passado terrível de
eliminação dos índios e dos pobres. Fui presidente do Centro Acadêmico da
Escola Técnica de Comércio de Alagoas. Marcelo Lavenère e eu fundam os o
Centro Cultural Pontes de M iranda. Iniciei o curso de direito e, logo no
primeiro ano, me tornei presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de
Direito. Fui secretário-geral da UNE (União Nacional dos Estudantes) no
período de 1960-61 epresidente também do Comitê Universitário pró-Lott.
Em Maceió, organizamos o Centro de Estudos de Problemas Nacionais, onde
nos reuníam os para estudar as questões do desenvolvim ento político e
socioeconômico do Brasil. Lia não só os jornais do Rio, de São Paulo, de
Pernambuco, como tam bém os periódicos nacionalistas. Sem anário, Novos
Rum os; acompanhava pelo rádio as discussões mais importantes do Congresso
Nacional. Em suma, f u i adquirindo ao longo da m inha vida de militância
uma formação sólida acerca dos problemas nacionais, que m e permitiram
consolidar um a visão sobre o Brasil.
Não, porque nós conhecíamos o S a m eye tínhamos dúvida sobre a sua posição,
e por princípio não aceitávamos nenhuma comissão constituída fora do âmbito
do Congresso Constituinte. Sabíamos que a Constituinte tinha tudo para ser
164 «ái
V o lu n u ' / A OAH n<t V O / d o s s r u s P r c s i d i u i l c s
165
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
166 •41
V o lu m e / A O A B 11.1 V O / d o s st'Lis Pi ( ’s i d c t i t c s
•41 767
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
que nela estava o Afonso Arinos, um constitucionalistoy eu disse que o àr. Afonso
Arinos estava na mesma posição do Dom Pedro /, que queria um a Constituição
digna dele e do Brasil, e não de todo o povo brasileiro. Ele se sentiu mordido e
m e alfinetou algum tempo depois, através da imprensa também.
Sim, ele disse: “Quem é Herm ann Baeta?” É claro, ele não m e conhecia. Eu
não vivia no ambiente dele, tinha outra origem, eu conheci o país p o r outros
ângulos. D izem que ele aprendeu primeiro o francês para depois aprender o
português. O fato é que a polêmica estava instalada, até porque quase ninguém
o atacava. D iziam à época que apenas duas pessoas lhe haviam dirigido
críticas: Carlos Lacerda e eu - o primeiro pela direita e eu pela esquerda. Mas
0 caldo entornou mesmo quando um jornalista da revista Isto é Senhor,
168 9àM
V o lu m e / A O A B n .i v o z d o s I'lc s irlix ttc s
O Sarney deu toda a força para a tal comissão, colocou lá o pessoal dele, e saiu
um projeto parlamentarista. Sarney era presidencialista por motivos óbvios.
Quando então $e começou a discutir a redução do seu mandato, que era de seis
anos - dizem que ele negociou politicamente votos para conseguir os cinco anos,
principalmente através da concessão de canais de televisão e de rádio.^ E depois,
quando recebeu da ''comissão de notáveis"’ o projeto de Constituição, não o
enviou ao Congresso Constituinte. Apenas publicou-o no D iário Oficial.
•41 169
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
170 «4B
V o lim ii' 7 A ( J / \ B lUi V O / (Id s s('Lt> P i'c 'si(k‘ n l c s
171
______________ História_da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Sím, nós vislumbrávamos isso. A té porque não é novidade para ninguém que a
mídia é conservadora. Ela só bate palmas na medida em que vocêfa z o jogo dela.
M as ofato é que nós não poderíamos ficar inertes em relação a questões cruciais
da sociedade brasileira. E há ainda uma outra coisa: a OAB nunca teve em tomo
de si essa unanimidade toda, nunca foi intocável. Mesmo no tempo da repressão
havia jornais que nos criticavam. Não foi surpresa para nós.
772
V o lu m e , \ O.-M) n a ' . ( ) / (I(js s v iis P i c s i d c n t o
Eu acho que havia as duas coisas, sendo que predominava a questão ideológica.
O ponto crucial girava em torno de se a luta da O rdem em defesa das
instituições democráticas deveria arrefecer, em função do fim da ditadura,
ou manter-se atuante, para que não fôssemos pegos de surpresa com o retomo
inesperado da repressão. O choque veio daí, fundam entalm ente.
màM 173
______________ História da_
O rd e m dos A dvogados d o Brasil □
Como se dava a relação entre o Colégio de Presidentes e o Conselho
Federai? Havia o receio de que o Colégio esvaziasse a representação
do Conselho?
O senhor acha que a adoção das eleições diretas, que era uma
demanda de toda a sociedade brasileira no período, poderia
representar uma ameaça ao equilíbrio institucional da Ordem,
abalando, por exemplo, a representação federativa?
®So bre a criação d o Colégio d e Presidentes, ver e n tre v ista de L a u d o C a m a rg o , n e ste v olum e.
174 •ài
V o lu n u ' / A na viy/. dos seus
Há um amigo meu de Brasília, filósofo, que diz que o Bmsil tem três poderes: dois
republicanos, o Executivo e o Legislativo, e um monárquico, o Judiciário, que é
vitalício, não passa pela aprovação popular e, na prática, permanece como no tempo
do Império. E não há exügero nenhum nisso. O que nós queremos, o que a Ordem
quer, é democratizar o Poder Judiciário, somente. Para isso, é preciso aprovar o
projeto de reforma que já tramita no Congresso há vários anos. O controle externo
é uma necessidade. Nesse sentido, o presidente Approbato brilhou recentemente,
quando, através da imprensa,^ em resposta ao presidente do STJ, colocou as coisas
nos seus devidos lugares, afirmando com todas as letras que se o Poder Judiciário
não quiser 0 controle externo, que se submeta às eleiçõespopulares, da mesmaforma
que ocorre com os outros dois poderes. Com o Márcio, agora, no Ministério da
Justiça, eu acho que há grandes chances de a reforma do Judiciário sair. Para isso é
que foi criada, há algumas semanas, uma comissão encarregada de estudar o assunto,
0 que nunca havia ocorrido antes.
’ Sob re o ep isó d io , ver en tre v ista d e M á r io Sérgio D u a rte G arcia, neste volum e.
" A referida m a n ife staç ã o foi p u b lic a d a n o Jornal do Brasil^ e m 6 d e m a io d e 2003, n a c o lu n a “Coisas da
Política” (D o ra K ra m e r), so b o título: “O s adv o gad os c o n tra -a ta c a m ”.
•ài 775
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
176
V o lL im c / A O A B na v o z cios suits Prc'sidentcs
•àM 177
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
178 «ái
V o k in u * 7 A OAI-) II.I \ ' ( ) / ( lo s si'LM i ^ r c s i d c i i l c s
Lá tam bém o problema era grave. De todos, fo i o seminário que deu mais
trabalho, porque o presidente da subseção da Ordem, da própria cidade, fez
tudo para inviabilizar a realização do evento. A lém de latifundiário, ele era
advogado do prefeito, que tam bém era latifundiário, depois nós descobrimos.
Eles tentaram engrossar com a gente, fizeram discursos provocativos. Para
equilibrar e fazer com que percebessem que não estávamos brincando, eu
ta m b é m f u i incisivo. A m ea cei, no discurso de a b ertu ra , fa z e r um
levantamento, desde o período colonial, das terras griladas da região.
179
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
180 9ÁI
\A ik m ic , A (),\B i)<i V O / ( l o s ' - ( ■ u s
E O S argumentos políticos?
•41 181
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Os advogados de São Paulo, Goiás, M inas Gerais, Rio G m nde do Sul, quase
todos da região Nordeste e um a parte dos advogados do Espírito Santo e de
Brasília. Os advogados de Brasília, aliás, tinham um a posição ambígua.
182
V o lü llK ' , \ ( ) \l') ti.i \ ' ( ) / ( lo s scLis
Sim, era o que m e restava. Liguei para o chefe da Casa Civil, que era o Marco
Maciel, e pedi u m a audiência. Ele foi muitíssimo cortês e m e atendeu no dia
seguinte. N a conversa eu expus toda a questão para ele, com base no Estatuto,
que ele exam inou com atenção. A o fim do encontro ele me deu toda a razão e
disse que iria levar o caso ao presidente Sarney. Pediu-me alguns dias e depois
me telefonou marcando um a audiência com o presidente, onde estaríamos
presentes eu, ele próprio, o presidente e o governador José Aparecido.
•àM 183
______________ H istória,da.
O rdem dos Advogados do Brasil
não mais estaria a meu cargo, seria construir nesse terreno um edifício que
simbolizasse a pujança da advocacia brasileira.
Não, como não havia unanim idade acerca da transferência, mas eu estava
apoiado na lei e convicto de que aquele deveria ser o mom ento da mudança
definitiva da sede para Brasília, trabalhei m uito com o elemento surpresa.
Tão logofo i oficializada a doação do terreno, ai sim, eu participei ao Conselho
Federal. Mas, em verdade, o Conselho já estava se reunindo em Brasília, em
local provisório, desde setembro de 1986.0 comunicado ao Conselho, quando
da oficialização da doação do terreno, serviu apenas para confirmar, em
definitivo, que não haveria possibilidade de retorno e dali em diante o
Conselho mudava irrevogavelmente de domicílio.
184 màM
V olum e r A ( ).\I5 n a \ o / d o s s e u s r r c s i d i / n t c s
•ál 185
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
Mas o senhor não acha que a OAB nunca esteve tão perto do poder
como agora, quando um ex-presidente está à frente do Ministério
da Justiça?
Em tese sim, mas a OAB não quer o poder, nem deve querer. A questão é que
0 poder assimilou o discurso da Ordem, o que é ótimo. Agora, o inverso é que
não pode acontecer, nós não somos o poder. Eu vou repetir u m a frase que eu
uso muito: nós não queremos conquistar o poder. N ós queremos, tão-só e
186 «41
A'olume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
N o lançam ento da pedra fundam ental da sede da OAB em Brasília, a ser construída
em terreno doado pela U nião (16/ 02/1987).Da direita para a esquerda, entre outros,
M unir Fegure (conselheiro federal por M ato Grosso), A m auri Serralvo (presidente
da seccional do D F ),e Pom peu de Souza (ABI).
•▲I 187
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
188
\ Illu m e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
•àl 189
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
190 •Al
V o lu m e A ( )/\l5 n j VO/ ( l o s P r r ' i i l i ’ ntc's
191
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
192 9àM
V o lu m e / A O A R n a v t ) / d o s sc'u s I ' l i ' s i d i ' i i l i ' s
Eu acho que pode ter significado, mas dá uma certa saudade daquele tempo.
Quando eu fu i vice-presidente do Conselho Federal, a sede ainda era no Rio de
Janeiro, e, realmente, era brilhante a plêiade de advogados que lá estavam. Eram
' Sobre o a ssu n to, ver, so b re tu d o , en trev ista d e H e rm a n n Assis Baeta, neste v olu m e.
193
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil
''medalhões" não no sentido pejorativo, mas por serem grandes juristas, grandes
oradores, grandes pensadores. Essa virtude o Rio tinha, da mesma form a como
teria tido São Paulo ou qualquer outro grande centro. Já Brasília tem a virtude de
ser 0 ponto de confluência do Brasil, da federação, o que trouxe um ganho para a
autenticidade do Conselho Federal da Ordem, no sentido de representação efetiva
do que os advogados são, e não apenas do que é a elite dos advogados.
194
V o I luhi .' . A O A !) 11,1 VO/ (los sc'Lis I’ r c s i d f n t o
Era, até porque nós julgávamos que havia nesse processo um pecado original. Nós
lutamos muito para que se convocasse uma Assembléia Constituinte “exclusiva”,
eleita exclusivamente para elaborar a nova Constituição, e não transformada de
Congresso em Congresso Constituinte. E achávamos, ainda, que naquele momento
havia uma predominância forte de interesses conservadores e particularistas -
representados pelo grupo de parlamentares que mais tardeficaria conhecido como
' G r u p o s u p r a p a r t i d á r i o , p o l i t i c a m e n t e a lin h a d o a o c e n t r o e à d ir e ita e c o m a n d a d o p o r lid e ra n ç a s
c o n se rv a d o ra s d o P a rtid o d a F ren te Libera] (PFL), d o P a rtid o d o M o v im e n to D e m o c r á tic o Brasileiro
(P M D B ), d o P a rtid o D e m o c r á tic o Social (PD S), d o P a rtido T rab alh ista B rasileiro (PTB ), d o P a rtid o
Libentl (PL) e d o P a rtid o D e m o c r a ta C ristão (P D C ). C ria d o ao final d o p r im e ir o a n o d a A ssembléia
N acional C o n stitu in te , co m o objetivo d e d a r sustentação política a o presidente José Sarney, foi responsável
pelas m u d a n ç a s na c o n d u ç ã o d o processo de e lab o ração co n stitu cio n al, a lte ra n d o as n o r m a s reg im en tais
q u e a té e n tã o n o rte a v a m o s tra b a lh o s c o n stitu in te s, p o s sib ilita n d o a o g o v e rn o a v itó r ia e m te m a s de s e u
interesse, c o m o o sistem a d e g o v e rn o presidencialista e o m a n d a to d e cin c o an o s. Ver D H B B , op. cit.
795
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Sim, através do Conselho Nacional de Justiça. E essafoi uma luta que agente travou
fortemente. A criação deste Conselho e a instituição do controle externo foram
196 màM
V o lu n u ' , A O A I ) ti.i v o / d o s scLis I ’ t f M c k ' n l c s
É claro que o Bernardo Cabral, que fo i presidente da Ordem, era m uito nosso
amigo, mas eu não me recordo de nenhum trabalho nosso nesse sentido. A
Ordem naquela época tinha muito pudor em fazerlóbhy.
Houve sim, até porque nossa relação com ele fo i marcada por m uitos vaivéns.
À s vezes nós brigávamos com ele, às vezes conseguíamos coisas com ele. Eu
m e lembro de que realmente havia essa queixa.
•AB 197
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Esta não era uma posição majoritária, ainda que também não fosse isolada. Havia
adeptos. Nunca foi, por exemplo, a minha posição. Eu acho que o Supremo também
sofreu durante a ditadura, como todas as instituições republicanas sofreram, mas
ele não se derrocou, ele não se degradou, não se diminuiu. Eu considerava naquele
momento que a Corte Constitucional era um instrumento indispensávelpara efetivar
a nova Constituição no concreto da vida brasileira. A função dessa Corte
Constitucional com juizes não-vitalicios e com mandatos de sete anos renováveis
por mais sete, seria exclusivamente a de velar e guardar pela Constituição, como
198
V o lL im c . A ( )AH n.i \'()/ dos
Naquele momento, a nossa proposta era de que cada terço dos juizes fosse
indicado por um dos poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Todos passando pelo escrutínio do Senado, como acontece com os ministros
do Supremo. Mas eu m udei de opinião. Hoje eu acato a fo rm a republicana
desenhada por R u y Barbosa na Constituição de 1891, na qual o presidente
indica e o Senado aprova ou rejeita.
199
______________ História da
O rd e m d os A dvogados d o Brasil
Eu acredito que sim, sendo que alguns, inclusive, entre os advogados. Mas na
Constituinte eles se aliaram claramente ao “Centrão”, se aliaram ao grupo
conservador coordenado, entre outros, pelo deputado Roberto Cardoso Alves,
0 Robertão, com o intuito óbvio de barrar tudo o que pudesse arranhar os
200 «ái
V o lu m e / A { ) A 1j 11,1 VO/ (los scLis ricsidcMitc'^
Eu acho que ficou bom. A luta contra a Lei de Segurança Nacional (LSN ) e
pelo restabelecimento das garantias constitucionais fo i árdua e importante.
Eu creio que grande parte do “entulho autoritário” fo i jogada fora. Hoje é
notório que vivemos sob um Estado democrático de direito no Brasil.
•àl 201
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
202 •àB
V o lL im f A { ) / \ H n .i V I ) / ( I n s sc'L is I ’ r c M d c ' n t c s
•àl 203
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
N ão tenho m uitas dúvidas que sim. Considero até que o Vital do Rego tenha
agido de um a maneira um pouco temerária fazendo aquele comício no
m om ento em que, se não me engano, o presidente S a m ey passava pelo local,
mas a arbitrariedade é injustificável, a situação fo i radicalizada.
204 •àM
V o lu m e / A O A H n.i VO/ (los si-us P rc s id rn k -s
205
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
Ele, como meu vice-presidente, e o Luís Carlos Madeira, que fo i meu secretário-
geral, tão logo teve início o processo sucessório, apresentaram suas candidaturas
à presidência do Conselho. Os dois trabalharam muito, viajando, cada um
ao seu modo. À medida que a eleição fo i se aproximando, eu percebi que a
candidatura do Ophir estava m uito mais forte que a candidatura do Madeira,
porque ele tinha angariado mais adesões. Eu, como presidente, procurei influir
o m ínim o possível. M ais tarde, quando da formação da chapa do Ophir, já
com 0 seu nome praticamente confirmado como novo presidente, ele colocou
0 Lavenère como secretário, o que para nós fo i bastante significativo, já que
era um a pessoa da nossa confiança, do nosso grupo.
' Sobre a cria ç ão d o C D D P H , ver en trev ista d e José Cavalcanti Neves, neste volum e.
206
I )lume 7 A OAB na voz d o s se u s Presidentes
207
______________ História da
O rd e m dos A dvogados d o Brasil
Hoje, eu acho que a Ordem cresceu muito, cresceu na sua base. O Conselho
Federal atualmente, pelo que eu posso perceber, é m uito representativo. As
bandeiras tam bém são outras, talvez até outra identidade. M as o que
permanece é a confiança de que ela vai continuar a representar esse papel
im portante que sempre representou na sociedade brasileira, desde a sua
fundação.
208 9AI
VI lu m e 7 A OAB na voz d o s se u s Presidentes
•àl 209
_____________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
210 9ÂE
V o lu m e 7 A O A B n ü v u / cios s e u s P re s ic ie n te s
6AI 211
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
212
V o k in K ’ , A O A R n a v o / d o s s r u s f i c s i d i iitc s
OS p r o b l e m a s p a r a o liv r e e x e rc íc io d a a d v o c a c i a e a d e fe s a das
prerrogativas dos advogados.
213
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
214
V o liim r , \ O A l ! n ,i v ( i / d o s s c i i s I’ r t ' M d c n k ' s
275
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
276 #Ám
V o lu m e , A O A I) n.i VO/ flo s s c lis PrcsidiMUc^
277
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil
218 «41
Volum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
Creio que os problemas não são muito diferentes, apenas acontecem agora
mais rapidamente graças ao avanço dos meios de comunicação. É interessante
constatar que o Conselho Federal, no que diz respeito à parte corporativa,
pouco ou nada m udou no relacionamento com as seccionais, pois já dirigi a
OAB com a existência do Colégio de Presidentes, o que ajuda m uito esse
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O rd e m d o s A dv og ad o s d o Brasil
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Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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______________ H istória da
O rdem dos Advogados do Brasil
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V o lL im f / A ( ) / \ B iKi V O / (l o s s i ' i is P n ’s i d i ' n t c ’s
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O rdem dos Advogados do Brasil
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Volume / A C } \ M n a \ o / c l o s sc-us P i i ' s i d c n U ' s
Eu creio que isto ocorreu porque a candidatura do dr. Jair Leonardo era vista
como mais form al e conservadora, ao contrário da m inha que tinha um viés
considerado mais progressista.
E por que o senhor acha que interessava à OAB fazer a opção por
uma candidatura com tendências progressistas, em pleno governo
Collor?
Isso se deve ao fato de que naquela época a OAB era mais à esquerda do que
é hoje. Eu não sei se um a candidatura mais à esquerda hoje teria a mesma
sim patia ou a m esm a adesão que tivemos há quase 15 anos. N a época havia
u m certo sentimento de mudança. O próprio Collor não fo i eleito apenas
com 0 voto conservador. Q uem votou no Collor votou num a proposta nova,
votou na esperança de que ele trouxesse um novo estilo de governo. Talvez
esse clima tenha contribuído para a m inha vitória. Hoje, penso eu, e esse
registro deve ser feito, a Ordem passa por um processo de despolitização das
suas lideranças. Os candidatos mais progressistas, mais à esquerda, têm se
tornado mais raros. A s divergências deixaram de ser ideológicas: candidato
conservador versus candidato progressista. Evidentemente, penso que este é
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______________ H istória da
Ordem dos Advogados do Brasil
A posição era da sociedade civil, pelo menos dos seus segmentos organizados,
em função da pouca experiência que tínhamos com a Constituição de 88.
Nós, na Ordem, entendíamos que não adiantava revisar, reformar o que ainda
nem completamente pronto havia ficado. Considerávamos que a Constituição,
da form a como estava, respondia pela estrutura democrático-jurídico-político-
constitucional do país, mas restava editar a legislação infraconstitucionalpara
completar o seu arcabouço. Além do quê, nós sabíamos das intenções nada
cidadãs dos que estavam pretendendo m udar a Constituição. Já eram, àquela
altura, os sintomas, as posições neoliberais que visavam a descaracterização
da Carta de 88, que nasceu num período em que ainda prevalecia a idéia de
u m Estado presente e atuante. Mas, justiça seja feita, havia tam bém na OAB
' S ob re o pro c e sso d e revisão c o n stitu cio n aj e m 1993, ver entrev ista d e José R o b e rto B atochio, n e ste voJume.
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V o lu m e , A ()/\l> n<i VO/ ( l o \ sfLis I ' l i ' s i d c i i l i ’s
Eu acho que nós temos um traço histórico mais presidencialista, temos muitas
desconfianças dos nossos parlamentares. O Poder Legislativo no Brasil não
granjeia um respeito m uito grande. Adotar o parlamentarismo como sistema
de governo significaria colocarnas mãos de deputados e senadores o futuro, o
governo, a administração do país. A inda hoje este debate está ausente. Além
do quê, os p a r la m e n ta r is ta s m a is fe r r e n h o s se to r n a ra m gra n d es
presidencialistas. O último período governamental nos mostrou isso.
' Sobre o ass u n to , ver en trev ista d e José R o b e rto Batochio, n este volum e.
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
parte, com “moeda podreV E mais: nós não confiávamos que esses recursos
teriam a destinação prometida e não seriam desviados, como foram , para o
pagamento, por exemplo, de juros da dívida externa.
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V o lu m e 7 A ( ) / \ R n a v o / d o s se u s P r e s i d e n l e s
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Ordem dos Advogados do Brasil
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.V o lu m e ’ / A O A h ) lu i V O / clos st'Lis PiX'sick'Htt's
Sim ,foi um bom relator. Ele tinha posições muito próximas da Ordem naquela
ocasião. Todavia nós ficamos decepcionados com a demora da tramitação.
Levou dois anos no Congresso. Somente no segundo semestre de 1994, já na
gestão do Roberto Batochio, é que fo i sancionada pelo presidente Itam ar Franco
a Lei 8.906, que aprovava o nosso novo Estatuto. Hoje ele está completando
nove anos de vigência e se encontra perfeitamente adequado à realidade atual
da advocacia brasileira. De modo que se eu tiver que destacar, na m inha
gestão, ações e iniciativas que considero fundam entais, por certo, entre elas
estará a elaboração desse Estatuto.
Hoje a advocacia brasileira passa por uma crise m uito grande. E em grande
parte este quadro advém da crescente vulgarização da profissão. A proliferação
dos cursos de direito que, em sua grande maioria, são fábricas de diploma,
tem resultado num despreparo acentuado dos jovens que se form am . Nós
estamos presenciando um processo de sério enfraquecimento da formação do
advogado, o que motivou, por exemplo, a criação, em todas as seccionais, de
escolas superiores da advocacia, que fm c io n a m como um mecanismo com
vistas a um m ínim o controle do nível profissional e da formação do advogado.
O nosso Exam e de Ordem se tornou uma guilhotina para impedir que uma
massa de jovens formados pelas escolas particulares entrem na Ordem, porque
não estão m inim am ente preparados para o exercício da advocacia. Em alguns
estados 0 Exam e de Ordem reprova 80,90% dos candidatos. Esse é um grande
problema que a Ordem está enfrentando e terá que enfrentar ainda nos
próximos tempos, com muito cuidado e zelo.
O Provão não tem tido a força de conter esta hemorragia, que tem, senão o
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História da
O rdem dos Advogados do Brasil
' E m fevereiro d e 1992, P e d ro C ollor, irm ão d o pre siden te F e rn a n d o C ollor, e m e n tre v is ta à revista Veja,
a c u s o u Paulo C ésa r Farias - o PC prin c ip a l assessor d o p re sid en te e ex -le so u re iro d e su a c a m p a n h a ,
d e a prov eitar-se d a p ro x im id a d e c o m o p re sid ente p ara e n riq u e c e r ilicitam ente. Tais d e n ú n c ia s abalar am
fo rte m e n te a cre d ib ilid a d e d o go v e rn o p e ra n te a o p in iã o p ú b lic a e m a r c a r a m o início d e u m a seq üên cia
d e n o v a s acusações so b re a existência d e esq ue m a s d e c o rru p ç ã o e m v á rio s seto res do gov ern o. Em m a io
d o m e s m o a n o , o m e s m o P e d r o C o l l o r e n tr e g o u , n o v a m e n t e à re v is ta Veja, d o c u m e n t o s q u e
d e m o n s tra v a m irregu larid ad e s nos negócios d e PC Farias. A in da n o m e sm o m ês, m ais d u a s entrevistas
seriam co n ce d id a s p e lo irm ã o d o p re sidente à m e sm a revista, a p o n ta n d o ligações d ire ta s d o p re sid en te
c o m 0 e sq u e m a d e c o rru p ç ã o , à ép oca m o n ta d o p o r PC. D ia n te d a g ra v id a d e das acusações, n o dia 26 d e
m a io a C â m a r a a p ro v o u a cria ç ão d e u m C P I pa ra investigar as d e n ú n c ia s , q u e a c a b a ra m re d u n d a n d o
n o im p e a ch m e n t d o presidente. Ver D H B B , op. cit.
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V o lu m e / A O A B fici v o x clos s r u s P r ( s i f k ‘ n k s
De maneira alguma. Isso não era nem cogitado. Nós tínhamos inclusive a
preocupação de que a movimentação que promovíamos não fosse tomada
como partidária ou ideológica. Tinha que ser algo movido por um sentimento
mais amplo. Nada se encaixava melhor do que a bandeira da ética na política.
Então, logo de início não se pensou num movim ento anti-Collor, nem pró-
im peachm ent, mas ‘‘p ela ética na política'1 Estávamos ainda em maio de
1992. O nosso mote inicial fo i a necessidade de se apurar as denúncias através
de uma CPI. Começamos a divulgar notas pelos jornais tentando m obilizara
sociedade em torno da questão. Como a Ordem tinha uma posição de liderança
dentro desse grupo, a sede do M ovim ento Pela Ética na Política ficou sendo
no prédio do Conselho Federal da Ordem. Entramos em contato com as
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______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
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V o lu n u ' / A U A H 11.1 V O / , i l o s s o u s l ’ r c .'s i( k ’ iiI( 'S
tern espaço para um aventureiro qualquer, que empolga o poder e toma posse
dele. Esse país tem instituições, o tecido social brasileiro existe. Estão aqui os
empresários, estão aqui os trabalhadores, estão aqui os profissionais liberais,
está aqui a OAB, estão aqui os jornalistas, está aqui um sentimento patriótico
de que não é possível viver num país de bandidagem, de falta de ética, um país
que não é sério. Nós não somos uma republiqueta.
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V o lu m e 7 U A H in i v o / dos s c lis [’ i c s i d c n t e s
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______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil
março do ano seguinte. O ministro Sidnei Sanches então remarcou a sessão para
0 dia 28 de dezembro, entre o Natal e o Ano Novo. No mesmo dia 28, logo pela
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Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
dever cumprido. Estou certo de que ela, de fato, cum priu d efo rm a zelosa o
seu papel, como em outras ocasiões semelhantes. Que Deus a guarde para
que possa superar as dificuldades do presente vividas pela advocacia, que
existem e não são poucas. Mas a certeza que tenho é de que esse transatlântico
que é a Ordem não se desviará do seu rumo.
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\(i!u m e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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V o k iiiH ' r A O A I ’) n<i V O / (I ds s c tis I ' l c s i d c n l c s
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______________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil
Há, inclusive, numérica. São Paulo, por exemplo, tem mais de um terço
dos advogados brasileiros, mas isso não pode servir para enfraquecer o
sen tim en to de igual representatividade que deve prevalecer no Conselho
Federal. O princípio federativo deve ser preservado acim a de qualquer
interesse, na m edida em que ele é a razão de nos m anterm os como nação.
O cidadão de Macapá, no extrem o norte, fala a m esm a língua do cidadão
de Santana do Livramento, no extrem o sul. Isso é u m prodígio que nos
fa z encarar os rompantes regionalistas de conteúdo ufanista como um
grande equívoco. Precisamos de um a visão geral do Brasil, que passe pelo
tratam ento equânim e de todas as unidades da federação. Jam ais seremos
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V o lu n u ’ , A O A l - i n .i \ ' ( ) / d o s scLis I ’ r i ' s i c l c ' i i t o
Não. Simplesmente ele não indicou meu adversário como seu candidato. O
presidente Marcelo Lavenère ficou realmente neutro nessa disputa.
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
É importante verificar a exatidão dessa informação, mas sei que a questão chegou,
realmente, a ser suscitada, e me recordo de ter me empenhado na defesa de sua
permanência no Conselho. Ocorre que depois de ser derrotado nas eleições, ele
deixou de comparecer às sessões, e houve quem defendesse a aplicação do Estatuto,
que prevê perda de mandato quando o conselheiro se desinteressa pela instituição.
M as me parece que ele depois retornou e cumpriu o restante de seu mandato.
Consta ainda nesta mesma ata que ele ingressou com uma queixa-
crime contra o senhor, em virtude da campanha para a presidência
da OAB. De que ele o acusava?
De fato, fo i algo inusitado, mas não houve o impacto que se queria porque eu
tinha um a história. Tinha vindo da luta pelo im peachm ent^ do então
presidente Collor, fu i tam bém presidente da Associação e da Ordem dos
Advogados do estado de São Paulo. Tudo isso deixava às claras que os ataques
eram resultado de um a ação política de conveniência.
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V o k iit K ' A O A H iia \()/. clos k t'u '- Ptc'-ick’ntus
E o senhor reagiu?
N a ocasião manijèstei o meu repúdio a essa injustiça. Ele, como advogado, não
podia ser confundido com seus clientes. O que se buscava na época, salvo engano,
era identificar o fluxo do dinheiro desviado do Orçamento da União, insinuando
que daí proviriam os recursos para o pagamento de seus honorários - o que é
um cam inho absolutam ente inaceitável. Independentem ente das ofensas
lançadas durante o processo eleitoral, a visão da realidade não podia sofrer
obnuhilação naquilo que temos na conta de justo e correto.
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______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
O Marcelo iniciou este processo e eu dei continuidade. Ele tinha feito algumas
manifestações na imprensa acerca do assunto e começou a apontar na direção
correta. Disso resultou a tal queixa-crime feita pelo desembargador contra o
Marcelo, que teve a m im e ao Arnaldo Malheiros Filho como seus advogados
de defesa. A o fim e ao cabo, isto resultou no arquivamento do processo, até
porque o Marcelo falava a verdade.
248 màM
V o liim o / \ O A I ) n,i v o / d o s scu< Prc ^.i(k ’ titcs
4 P a rtin d o d o p rin c íp io d e q u e p a r a o alc an c e d a justiça social a e s tr u tu ra d o E sta d o b ra sile iro deveria ser
tra n s fo rm a d a , o g o v e rn o d e F e r n a n d o H e n riq u e C ard o so im p le m e n to u u m p r o g r a m a d e re form as
c o n stitu cio n ais q u e incluía, e n tre o u tro s p o n to s , a d e rru b a d a das b a rre ira s legais q u e im p e d ia m a e n tra d a
de capital e stra n g e iro em seto res estratégicos da ec o n o m ia na cio n al, c o m o a ex p lo ra ç ã o de p e tró le o e as
telecom u nicações. N a seq ü ê n c ia , pô s em p rá tic a u m pro c e sso de privatização d e e m p re sa s pú blicas, q u e
tin h a c o m o o b je tiv o d e cla ra d o a d im in u iç ã o significativa d a a tu a çã o d o E sta d o so b re a p ro d u ç ã o . Ver
D H B B , op. cit.
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Absolutam ente contrária à visão de justiça social que nós todos que dirigimos
a O rdem temos. É necessária e oportuna a intervenção do Estado para
neutralizar as diferenças e as injustiças sociais, estabelecendo igualdade de
oportunidades para todos e distribuindo rendas.
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V '( jlu n ) ( . ’ ()A I> Oci \ ( ) / f i o s s e u s l ' r ( ' s i ( l c n k ‘s
Sofremos m u ita s infâm ias. O jornalista Luis Nassif, que escreve sobre
economia, redigiu um a série de artigos contra m im na Folha de S. Paulo/
“Pela ética na OAB - 1 ” “Pela ética na OAB - 2 ” e “Pela ética na OAB - 3 T
Ele fo i ouvir todos os adversários que derrotei, tanto na Associação dos
Advogados de São Paulo quanto na OAB de São Paulo, além do que eu derrotei
para a presidência do Conselho Federal. É claro que essas pessoas não estavam
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______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
A OAB o apoiava?
6 O entrevistado refere-se à em en da constitucional n.° 8, de 15 d e agosto de 1995, que alterou a Constituição Federal
de 1988, perm itin do o ingresso d e capital estrangeiro n o setor de telecomunicações. Ver DHBB, op. cit.
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V o k in tc / A OAB n il \'o x d o s s c l i :> P re s id e n te s
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_____________ Hi^fnriA Ha
Ordem dos Advogados do Brasil
àe N ova York e disse: “Eu preciso que você seja candidato.” Eu respondi: “Ah,
mas não tenho intenção." Ele disse: “M as o país precisa. Você nasceu rico?”
Eu respondi que não, ai ele arrematou: “Você não estudou em escola pública?”
respondi afirmativamente. “Então Você deve isso ao seu país”, completou ele.
Fiquei então de pensar. No últim o dia do prazo de inscrição no partido, à
vista das eleições do ano seguinte, ainda em 1997, ele me telefonou: “Estou
m andando duas pessoas aí. Receba-as, por favor.” Veio então o presidente do
partido no estado de São Paulo, colocou a ficha de filiação diante de m im e
falou: “O governador Brizola pediu para você assinar.”Fiz o meu p a p el Recebi
nota m áxim a nos quatro anos do meu mandato, segundo o Diap.^ Acho que
fu i um dos poucos deputados em primeiro mandato que recebeu essa avaliação.
Estou em p a z com a m inha consciência e com o meu país.
Sim, não resta dúvida. O Estatuto anterior era de 1963 e o perfil da advocacia
que ele contemplava era ainda o do profissional liberal clássico. A advocacia
pública e a assalariada eram praticamente inexistentes. Enfim, a prática da
advocacia havia evoluído, avançado, e era preciso regrar o seu exercício em
regime assalariado, era preciso regrara advocacia pública, sujeita aos vínculos
com 0 Estado, mas subordinada deontologicamente à OAB.
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V o liin ií,' A ( ) \ l) n a \ ( ) / d o s sci i > l ’ i ( ' s i c l r n U ' s
Por quê?
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V ()lu n u ‘ A O A B na v o / d o s seus P ii-s id c n lc s
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V o lu m e , , A ( ) A i > 11,1 v o / ( i o s s r i i s I V t - s i í i c i i t c s
Sim, houve outro dispositivo que dispunha: ‘'Nos julgam entos de órgãos
colegiados, o relator dá seu voto e em seguida a palavra será dada ao advogado
para que faça a sua defesa, a sua sustentação.” E hoje é diferente, o advogado
fa z a sustentação e depois o relator dá o voto. Quer dizer, o advogado tem de
adivinhar quais serão os argumentos do relator. Tínham os invertido isso na
proposta do Estatuto para que o advogado pudesse se manifestar após o relator,
apenas para que fosse possível apontar o que não estivesse certo no voto do
relator M as novamente eles lograram suspendera vigência desse dispositivo.
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V o liiin i' 7 / \ OAI-; na V07 d<is srus Prc'sidc'nlc's
Sim, evidente. Veja a Abolição. Q uem escreveu Navio Negreiro? Castro Alves,
um baiano que estudava em São Paulo, aqui na Faculdade de Direito. Ou,
então, A n d ré Rebouças, Joaquim Nabuco. Você vai encontrar sempre
advogados ou estudantes de direito brilhantes, seja no Im pério ou na
República. Durante o Estado Novo, quem gritava por liberdade? Os estudantes
de direito, os advogados. A luta contra a ditadura militar, pela Constituinte,
por eleições livres, diretas e em todos os níveis. A luta pela ética na política, o
im peachm ent de Collor, nós de novo. O Brasil deve m uito aos advogados, que
lutaram sempre contra um a elite dirigente parasitária.
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Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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Ordem dos Advogados do Brasil
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Volum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
«tál 265
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’-“Vi.
E rnando Uchoa, presidente do Conselho Federa! da OAB, entrega M edalha Ruy Barbosa a
Barbosa Lima Sobrinho.
266 •Al
V o lu m e 7 ,\ ()Ai5 11,1 VI) / dos si'Lis l^K'sidcntcs
267
______________ História da
O r d e m dos A dvogados d o Brasil
Foi no início dos anos 1990, porque eu já era conselheiro federal quando fu i
eleito vice-presidente na chapa do Batochio, em 1993. Fiquei como vice até
1995, quando me tornei presidente da Ordem. Aliás, fu i o primeiro presidente
a ter um mandato de três anos, em função da mudança do Estatuto que
ocorrera em 1994.
268 •àM
V o k in x ' , \ ( ) . \ R 11(1 v o / d os sc’Lis Prc'si(l(‘nk's
0 orgulho mesmo que tenho é de ter sido presidente da m inha instituição. Agora,
naturalmente que o presidente da Ordem para se dedicar à instituição como é
necessário, ele praticamente tem de deixar tudo. Eu abandonei a advocacia
durante o tempo em que fu i presidente, porque não havia maneira de conciliar
a atividade profissional com os trabalhos da Ordem e as constantes viagens por
este Brasil afora, visitando seccionais, subseções, indo a congressos, participando
de encontros de advogados nos mais distantes rincões do país e tudo mais. Fiquei
afastado de qualquer atividade por cinco anos, se somarmos o período em que
fu i vice-presidente na gestão do grande presidente Roberto Batochio, que contou
com a m inha colaboração diutum a.
É grande 0 prejuízo financeiro que se tem. Hoje, por exemplo, você paga para
ser presidente da Ordem. M uita gente não entende e imagina que há um
pró-labore ou que se ganha alguma coisa. Nada, absolutamente nada. Eu me
recordo até de um fato que aconteceu comigo, quando encontrei, certa vez,
um advogado já veterano, lá do Ceará, que me disse: “Ernando, me diga um a
coisa: cada vez que assisto na televisão ou ouço no rádio alguma notícia sobre
a OAB está lá você. Você tem cara de OAB. M as me diga um a coisa: quanto
você ganha na OAB para se dedicar tanto?” Eu então agradeci pelo elogio e
respondi: ''Rapaz, não ganho nada."'Ele então ficou surpreso com m inha
resposta e falou: "Você não ganha nada? Então deixe isso."' A í eu respondi:
“Olhe, se todo advogado pensasse como você, a nossa instituição nem existiria.”
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______________ Historia da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
270 «áB
X ^ o lu in c / A n.t \( )X d o s s c i i s I ’ lC 'sid i’ itli's
Uma certa falta de vocação política, que ultim am ente vem melhorando, é
um a das causas. Mas, sem dúvida, a questão da disponibilidade de tempo
pode ser outro motivo também. A colega, além do trabalho do escritório,
tendo que cuidarão lar, do marido, dosftlhos, não dispõe de tempo suficiente
para essas questões internas da Ordem.
Fui um dos defensores da criação desse Colégio porque entendi que seria mais
um a força a impulsionar as atividades da Ordem. E as colegas que lutavam
em prol de tal iniciativa eram idealistas, apaixonadas pela OAB, queriam
realizar um grande trabalho e essa colaboração não deveria ser desprezada.
Por isso foram prestigiadas na m inha administração. M as nem todos os
conselheiros federais estavam de acordo com a criação do referido Colégio e
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O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
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V o lu m e , A G A B nd \'()x (In s <('us I ’ K ^ ^ i fl c n i c s
Ela era integrada pelo inolvidável Evandro Lins e Silva, por M arília M uricy
epor Sérgio Sérvulo da Cunha. Nós tínhamos reuniões permanentes, de modo
que 0 que eles acom panhavam era discutido com a presidência e com o Pleno.
A inda hoje, por exemplo, um a Comissão de Acom panham ento Legislativo
atua, por meio de um conselheiro nosso, ju n to à Câmara dos Deputados e ao
Senado, no que diz respeito à tramitação de projetos de interesse nacional ou
que tratem especificamente da OAB.
Havia determinados aspectos de todas essas questões contra as quais nós nos
manifestávamos, em alguns casos até por unanimidade. Recordo-me que a
OAB reagiu m uito fortem ente em relação à reforma da Previdência, por julgar
até mesmo inconstitucional a exigência de contribuição do aposentado, pois
este já havia contribuído ao longo do seu tempo de serviço.
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______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Eu não sei se era minoritária porque essa matéria não foi nunca votada, mas
posso lhe garantir que havia dentro do Conselho muitos parlamentaristas. Havia
outros também que defendiam o presidencialismo. M as quando se trata de
um a matéria muito polêmica nós procuramos, às vezes, não tomar um a posição
fechada no Conselho, de modo que não se afetem opiniões que talvez sejam da
maioria dos 400 m il advogados da Ordem. Da mesma forma, há outras matérias
polêmicas que o Conselho não tem receio algum de enfrentar.
Eu acho que a posição da Ordem diante do governo Lula deve ser a mesma
que ela sempre teve em relação aos outros presidentes. N a hora em que o
presidente acertar vamos aplaudir, entusiasticamente. N a hora que errar
vamos criticá-lo, causticamente. Essa deve ser a posição da Ordem. Aliás, em
conversa com o presidente Lula da Silva, o presidente Approbate já disse isso.
A Ordem apoiará as reformas fundam entais, mas se alguma delas vier se
chocar contra os interesses da nação, nós estaremos absolutamente contrários.
Essa é a posição da Ordem e nós não vamos m udar nunca.
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V o lu m e O A H t i j V O / i l o s sen s I ’ l c ' s i d c n l t ’s
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N ão me recordo de ter havido esta discussão. N o meu modo de ver, não consigo
vislum brar instituição mais qualificada do que a própria O rdem dos
Advogados. Penso que o Conselho estaria m uito bem representado com
integrantes da magistratura, do Ministério Público e da advocacia.
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V o lu m e A O A B n ,i V O / d o s s e u s
Sim, foram discutidas no Congresso Nacional Eu arrisco dizer até que algumas
chegaram a ser aceitas, outras negadas ou desfiguradas, em função, claro, do
inegável lobby da magistratura.
Entendo que sim. Com o prestígio que ele tem junto ao presidente da República,
naturalmente que o apoio a essa iniciativa virá. O que eu não sei é se mesmo
com a vontade política do ministro, apoiado pelo presidente da República, os
empecilhos serão superados. Só para citar, há o problema do próprio Congresso
Nacional. A té agora, a meu ver, o presidente não conseguiu a maioria no
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V o Il iu k ' / \ ( )AI'i 11,1 vox (Ids se u s P t t ‘' ' i ( l r n t c s
Não, porque a posição da Ordem foi sempre muito clara em relação aos três
poderes: sempre que há acerto eles têm o aplauso da Ordem, mas quando erram
recebem a nossa critica veemente. Essa é a posição tradicional da OAB.
Naturalmente que isso cria um clima pouco cordial entre a Ordem e esses poderes,
que só gostam de elogios. Podemos até bater palmas para os acertos, mas como
eles erram mais do que acertam, a gente critica mais do que aplaude. Mas é esse
0 nosso papel e nós não abdicamos dele. Por isso, historicamente, em geral os
Sem dúvida. Tentamos fazer isso exatamente para evitar conflitos que levassem
à morte de vários irmãos nossos que lutavam pela posse da terra. Infelizmente
essa atuação da Ordem ~ e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(C N BB) tam bém - não logrou o êxito que nós esperávamos, em função da
radicalização de ambas as partes. De qualquer maneira, eu não chego a
a firm ar que fo i um trabalho inútil, porque os acontecim entos funestos
poderiam ter sido de maior monta.
•41 279
______________ Historia da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Reunim o-nos várias vezes e ele esteve, inclusive, na OAB. Nós apoiávamos
várias idéias dele para a reforma agrária. Houve momentos, inclusive, em
que dei declarações de apoio a ele, enquanto o M S T o combatia, porque eu
acreditava que suas intenções eram as melhores em relação à questão da
distribuição de terras. De modo que, no m eu entendimento, o Jungmann foi
m uito bom ministro.
Não, era um consenso não só dentro do Conselho, como dentro das seccionais,
talvez, do Brasil inteiro. N o que tange às medidas provisórias, a crítica da
Ordem girava em torno do caráter permanente que elas estavam tendo quando
280 9àM
V o lu ilK ' A ( J / \ B n ,i V O / d o s «.('IIS l ’ r c M (lc 'iile s
màM 281
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Julgo que da form a como foram feitas afetaram, em parte, a nossa soberania.
Eu me recordo, inclusive, que durante a m inha administração nós fizem os
u m a grande passeata em direção ao STF, de posse da ação contra a
privatização da Vale do Rio Doce. Uma empresa que dava lucros, um a empresa
que era u m orgulho nacional, não merecia a privatização. Com a Petrobras
tentaram fazer o mesmo, e nós tam bém fom os contra. A lém do que, eu me
recordo que me dediquei sobremaneira à cam panha “O petróleo é nosso”.^
Eu me considero sentimentalmente vinculado a Petrobras. Apanhei por causa
do petróleo, levei surra da policia. M as com relação à Petrobras a nossa luta
valeu, tanto que ela está aí, pujante, imbatível, motivo de orgulho nacional.
282 •4B
V olum e 7 A O A li na voz dos sens
Ê verdade. Todo m undo tem uma história para contar sobre a campanha do
petróleo. Eu tinha feito parte também, ainda enquanto estudante, de um a das
secretarias do Centro de Estudos e de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional,
lá no Ceará. Lembro-me que muita gente me aconselhava a não participar
porque diziam que o Centro era infestado de comunistas. M as a bandeira não
devia ser só de comunista. Por que só comunista deveria defender a idéia de
que 0 petróleo era nosso? O privilégio não era deles não, eu dizia. Vou defender
também o "nosso petróleo”. E fiquei lá. Digamos, dos chamados democratas,
que não eram mesmo comunistas, havia um a minoria, porque muitos ficavam
com medo de ser tachados de comunistas. Hoje já não se tem mais medo, mas
naquela época se tinha. Eu mesmo cheguei a ser tachado de comunista sem
nunca ter sido. Talvez eu nunca nem tenha tido inteligência suficiente para
entender M arx e por isso nunca tenha sido marxista. Estou dizendo isso,
portanto, para mostrar como essa luta, que vem de longe, já é uma luta também
da OAB, contra a desnacionalização do país e em defesa da honra nacional.
•ái 283
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Sim, havia e há uma comissão que examina, com o maior cuidado, todos esses
processos relativos ao ensino superior no Brasil. Aliás, diga-se de passagem, a
OAB sempre foi contra a proliferação indiscriminada dos cursos de direito. Ela
própria não decide, mas fornece pareceres acerca da procedência da criação de
novas escolas de direito no país. M as o que ocorre é que mesmo o parecer sendo
contrário, por influência ou interferência política^ o Ministério da Educação acaba
aprovando um novo curso que a própria OAB fez restrições ou não recomendou.
Não, não havia essa preocupação. Primeiro, porque a Ordem não fa z política
partidária. Isso é proibido em estatuto. Cada qual tem, naturalmente, suas
idéias políticas, há os que são inclusive filiados a partidos, mas este é um
posicionamento individual, de cada um. A té porque, desde o m omento em que
se pisa o batente da Ordem, de uma seccional ou do Conselho Federal, se deixa
de lado a filiação partidária. A política que nós fazemos é a política da Ordem.
E qual é a política da Ordem?É uma política de defesa dos interesses nacionais,
de defesa do primado do direito, da liberdade, da fiel observância das franquias
democráticas e do império da Constituição. Então, quando fizem os marchas
não ficamos preocupados se seriamos bem compreendidos ou não. De alguma
form a sabíamos que se houvesse algum tipo ãe incompreensão, por certo partiria
dos setores mais reacionários da sociedade. Nós sabíamos, como sabemos, que
a população apoiava este tipo de movimento no qual a Ordem marca a sua
presença, bem como a maioria esmagadora dos advogados. Ê certo que alguns
advogados dizem: “Olha, eu acho que a Ordem está se preocupando demais
com o aspecto institucional e de menos com o aspecto corporativo.” M as nos
284
V i 'l u m u / \ C ),\H n a ((o s s c u s I ' r i s k l v n t v s
tam bém que não podíamos em itir notas oficiais a torto e a direito, como se
queria, em parte, à época. Isso vulgarizaria a instituição, além de ser custoso
em termos financeiros.
285
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Se não m e falha a memóriay sim. E olha que nós batemos firm e no governo do
F ernando H enrique po r m uitas vezes. E ntram os com ações diretas de
inconstitucionaliàade, criticamos e tudo mais. H á algims limites que precisam
ser respeitados, no entanto. Você tem que ser veemente, cáustico, quando é
necessário, mas sem perder também a serenidade. Afinal de contas, quando se
fala como presidente da Ordem, fala-se também em nome de 400 mil advogados.
Penso que em grande parte sim. Nós vivemos hoje um regime de liberdade no
país. Ninguém pode comparar, por exemplo, o regime ditatorial com o regime
286 ttái
V o l u ilK ' , A ( ),\t) na vo/. d u s s(.‘us f i v s t d i ' n t v s
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______________ História_da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
deixou de eleger sua mesa diretora, passando essa com petência para as
seccionais. Isso configura, indubitavelmente, um enorme desprestígio para o
Colegiado. É de primeira evidência que a alegada democratização da eleição
do Conselho Federal não tem cabimento, pois, a p a rtir da nova Lei da
Advocacia e da OAB, os conselheiros são eleitos diretamente, ao contrário do
que acontecia no passado, quando eram escolhidos indiretamente, pelas
seccionais. Outro aspecto negativo é que um candidato a presidente precisará
comparecer a todos os estados, a fim de apresentar a sua plataforma, já que
as seccionais é que elegerão a diretoria do Conselho Federal M as nem todos
os componentes da chapa vão aos estados. Dessa form a, as seccionais estarão
votando em candidatos que não conhecem. Como se vê, as propostas de
reforma visavam a promover a eliminação dessas anomalias.
288 9àM
V o llH lll' / A O A B n a v o / d o s s c u s l'iL 's i(k 'n i(.'s
seccional era eleita pelo voto direto dos advogados e no dia da posse, logo que
se reunia, elegia os conselheiros federais. Hoje, não. Pela nova lei, como os
conselheiros federais são eleitos? São eleitos na chapa, por eleição direta. Não
há, portanto, mais, nem mesmo essa desculpa, esse pretexto.
Candidato sempre tem, pelo fato de ser um a honra presidir a Ordem. O que
é certo hoje é que ninguém se elege presidente do Conselho Federal, posto que
está na lei, sem passar pelo Colégio de Presidentes. Porque são eles que vão
votar, são as seccionais. Se houvesse, digamos, u m líder no Colégio de
Presidentes, um presidente de seccional que mais se destacasse e exercesse
rea lm en te u m a liderança e fosse ca nd ida to, q u e m iria derro tá-lo ?
N aturalm ente que há também ai, e não há como negar, um peso m uito forte
do presidente do Conselho Federal, porque o regime é presidencialista. Se o
presidente se em penhar pode eleger o seu sucessor, já que m uitas seccionais
acom panham o voto do presidente na hora da eleição. N ão tenho dúvida de
que a futura eleição da diretoria do Conselho Federal vai passar pelo presidente
Rubens Approhato. Se ele tiver um candidato tem chances de elegê-lo porque
vai contar com muitos votos de seccionais. Se ele ficar, digamos, eqüidistante,
não se envolver no processo eleitoral, poderá realmente surgir um candidato
do Colégio de Presidentes que obtenha êxito.
•àl 289
_____________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Claro, senão ocorre o efeito contrário. Mas graças a Deus eu sou considerado aqui
na OAB como um pacificador, porque sempre m antive um relacionamento
excelente não só com os meus colegas de diretoria, mas com os funcionários, os
ex-presidentes, os conselheiros federais e os presidentes das secáonais. Trato a
290 •41
\'()lL m ic . A O . M í n ,\ V O / i l u s s t'n s I'l v '- id t'n tv 's
todos como irmãos, tenho uma ligação afetiva profunda com todos eles. Eu sabia^
portanto, que o candidato que eu lançasse teria a aprovação deles. Resultado:
tivemos 0 apoio da totalidade das seccionais ao Reginaldo. Foi àiapa única.
Houve u m balão de ensaio, mas o balão não subiu, porque já havia ficado
m uito claro quem era o m eu candidato, e a i não houve problema.
#à# 291
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
E os arrependimentos?
292
Volum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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_____________ H istoriada
Ordem dos Advogados do Brasil
294 •Al
V olum e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Reginaldo de Castro com O scar Niemeyer, que fez o projeto da sede do C onselho Federal
em Brasília.
296 0AI
V o lu m e ’ / A O A B na v o / do s seus Pic^'iclcnlt's
•àl 297
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
298 •àB
V o lu m e , ,\ ( )AI5 na v<>/. dos Pi'c-kIciiN"
mudança. Isso, sem dizer que não fazia sentido algum a permanência do
Conselho Federal no Rio, estando a sede da República em Brasília. Aqueles
que se rebelaram contra a mudança, certamente julgavam que ainda não
havia am biente próprio na nova capital para a adequada representação da
advocacia brasileira.
màB 299
_____________ ÜísíQua da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
300 ®Ái
VolLinic 7 A 0 / \ B n.i v o x d o s seu s I 'r c s i r l c n t i 's
301
______________ H istória da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Sew dúvida a m inha identidade é m uito vinculada a esse viés critico, até
porque, em função da m inha experiência, haurida ao longo de 43 anos de
vida em Brasília, acumulei informações que m e perm item leras entrelinhas.
Q uando leio um a noticia sei quem está por trás dela, qual a sua intenção, e
raramente erro. Por essa razão, também, a postura da Ordem teve esse caráter
crítico. Agora, ao que eu saiba ou que m e recorde, não houve qualquer
comentário no Conselho que condenasse a m inha ação incisiva à frente da
Ordem. M uito pelo contrário, eu fu i sempre apoiado pelo m eu Conselho. É
óbvio que unanimidade não existe, nem deve existir, mas a maioria, m e parece,
nunca deixou de me apoiar. A lém disso, se a Ordem não tivesse esse forte
traço crítico e independente ela simplesmente não teria qualquer utilidade,
bastaria que os advogados se organizassem em um sindicato ou associação. A
Ordem tem como primeira finalidade, a ela atribuída pelo Poder Legislativo,
pela sociedade brasileira, portanto, o dever de defender a Constituição, o
Estado democrático de direito, a justiça social e o aprim oram ento das
instituições. A segunda finalidade é organizar a advocacia, cuidando de sua
disciplina. Dessa forma, toda defesa que compete à Ordem exercer, em nome
do Estado democrático de direito, ela realiza contundentemente. N ão há como
defender algo aplaudindo a violação de u m ou m ais direitos.
302 QÁã
V o liin u ' , ,\ ().\H n a v o / t i o s ‘• c u ' - ( ' i i - s i U i - n t c s
efetivamente ele não fez, até mesmo porque não teria possibilidade de fazê-
lo. Por outro lado, no Brasil nós ainda não conhecemos a democracia na sua
9 âB 303
______________ Hi&tQu'a-da.
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Eu sempre tive m uito cuidado com os limites que a O rdem devia respeitar na
sua ação institucional. Em face da necessidade que o Brasil hoje tem,
exatam ente por não termos experim entado até aqui, na nossa história
republicana, u m período plenam ente democrático, a O rdem não pode
abandonar em mom ento algum o seu espaço de atuação política, no sentido
da preservação das regras constitucionais brasileiras. A té porque nossa
Constituição é um a carta deprincípios m uito pouco respeitada, m uito pouco
concretizada. Lá você encontra direitos de todos e de tudo, e, no entanto, são
extrem am ente frágeis as garantias de seu exercício. D iante dessa situação, se
a Ordem se restringirá luta por interesses meramente corporativos, é melhor
que seja substituída por um sindicato. Eu garanto que durante o meu mandato,
m uitos advogados, sobretudo advogados mais conservadores, mais afeitos a
um certo conformismo com o estado de coisas que nós vivemos, devem ter me
criticado, mas pessoalmente nenhum teve a coragem de fazê-lo, salvo em um
único caso que respondi im ediatamente pela imprensa. E p or outro lado,
durante o meu mandato, tive o cuidado também de não estar me manifestando
304
V o lu m u 7 A O,AP) n a v o / d o s s e u s P i c ^ i f i e n t c s
305
_______________ História da_______________________________________
I O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s ií________________________________________________________
306 mà»
V o lu m e / ( ) / \ H n,i V I ) / (li)s scLis P r c s k l u n t c s
307
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Isso chegou ao Brasil em 1977, com o denominado Pacote de Abril,^ como forma
de desafogar o Supremo do acúmulo de processos, reduzindo o cabimento de
recurso exclusivamente para questões constitucionais. Ao que não dissesse respeito
à Constituição, só caberia o “recurso extraordinário” se comprovadamente se
tratasse de assunto de relevância federal. Este recurso recebeu o nome, então, de
“argüição de relevância”. Para que se tenha uma idéia, em cada 100 argüições
apenas uma era admitida pelos ministros do STF, e como não havia necessidade
de motivar a decisão, a apreciação dos pedidos acabava sendo lenta e aleatória.
Então, na Constituinte de 1988, criou-se o STJ para julgar os recursos que
abrangem questões infraconstitucionais, o que fez com que se extinguisse a
famigerada argüição de relevância. Om, sefo i criado o STJ exatamente para que
se pudesse banir do sistema a argüição, não há lógica que possa explicar sua
ressurreição.
Nessa questão não houve acordo, mas nós ganhamos. Nós ganham os porque
a Câmara aprovou o controle externo, composto, ainda que por maioria da
magistratura, mas com dois membros da Ordem, dois do Ministério Público
e dois indicados pelo Senado e pela Câmara. Conseguimos realizar aquilo
que sempre defendemos.
308 •àB
V d liiin i' A ( ) .\I5 11,1 V O / ( l o s s e l l s I’ i x ' s i d c n t c s
309
______________ H isto r ia da.
O rd e m d os A dvogados d o Brasil
Sim, nossa resistência a essa CPI se dava também porque certamente ela não
chegaria a casos protegidos pelos seus membros. O Brasil tem inúmeros
problemas de corrupção envolvendo o Judiciário e essa CPI se reduziu a dois ou
três casos. Eu nunca fu i contrário à apuração dos crimes de corrupção no âmbito
do Judiciário, e por isso sempre fu i um defensor do controle externo, justamente
para que se cerceassem os espaços desses tipos de ações ilírítas. Mas o que eu não
poderia aceitar era um desvio de competências como o que aconteceu com a
CPI do Judiciário. O Parlamento, em qualquer país civilizado do mundo, não
é delegada depolíáa e as CPIs existem para a apuração de um fato determinado.
Obviamente que lateralmente as CPIs term inam por responsabilizar indivíduos
que, aparentemente, antes das investigações, não tinham qualquer relação com
os fatos, mas as CPIs existem, sobretudo, para construir um a consciência dentro
do Parlamento que permita um a elaboração de leis que possa corrigir aqueles
desvios, impedindo que eles se repitam. A polícia existe para apurar os crimes e
0 Judiciário para julgá-los e condenar os culpados. Neste episódio, o senador
310
V o lu m e , -A O A I ) n a ' . o / d o s s c iis P i c s i d c i t l c s
Eu acho que sim, m as não porque o Ntcolau fosse ficar receoso àe praticar um
ato ilícito, e sim porque, simplesmente, a fiscalização não deixaria espaços
para que esse tipo de coisa viesse a ocorrer. Porque o controle externo que nós
pregamos é o controle administrativo e disciplinar. N o Brasil, cada tribunal é
independente adm inistrativa e financeiramente, e isso facilita a vida dos
corruptos. Se houvesse o controle externo, o órgão responsável pela fiscalização
teria o controle financeiro sobre as despesas do Tribunal e perceberia a fraude.
Debateu não só durante a m inha gestão, porque esse é um tema, para nós,
recorrente. A Ordem.sempre fo i a favor de um a revisão da legislação penal, e
mesmo processual, ao contrário do que todos afirmam.
* A c o m issã o era fo r m a d a pelos ju rista s M ig uel Reale Jr. (p reside n te ), A lb e rto Silva F ran c o , Ed so n Ô dw yer,
Jair L e o n a rd o Lopes, Luls F e rn a n d o X im enes, Luiz V icente C ern ic ch ia ro , N ilo B atista, R ené A riel D otti,
M au rício A n to n io R ib eiro Lopes e Ivete Senise Ferreira.
311
______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
criminalidade, além das questões jurídicas. Q uem são essas pessoas que tomam
os rumos da criminalidade? Geralmente são pessoas que não tiveram nenhum
apoio, no mais das vezes viram os pais morrerem assassinados, ou não tiveram
oportunidades de emprego, de sobrevivência, sem que o Estado sequer tenha
se lembrado deles. Este é o criminoso que nós queremos fuzilar. O que nós
precisamos fazer, óbvio, não há outro meio, é segregar aqueles que representem
efetivo risco para a sociedade. Agora, o Brasil tem que entender que Beccaria^
tinha razão. N ão é, portanto, a gravidade da pena o que m ais importa, mas
sim a seriedade na sua aplicação e cumprimento.
* C esa re B on esa na Beccaria (1738-1794), ju rista e e c o n o m ista italiano , p r o m o v e u u m a re n o v a çã o no D ireito
P enal c o n d e n a n d o o proc e sso secreto, a tortura, a a tro c id a d e do s supJicios, a d e sig u a ld a d e d o s castigos
de a c o r d o c o m o sta tu s social d o castigado e a p e n a capital c o m o m é to d o s legítim os e eficientes de
c o n tro le e d is c ip lin a m e n to d e c o m p o rta m e n to s d e sv iam es d o s in d iv íd u o s . Ver G rande Enciclopédia
Larousse C ultural, o p . cit.
312 màm
V o lu m e \ O A l i ii.i V07 cios scLis P r('s ic lc n U ‘S
adm inistra essa organização são correntes ligadas ao próprio Estado. Então
eu acredito que a Ordem possa estar sujeita a atentados ou coisa do gênero,
porque o Estado, quando integra facções criminosas, é capaz de fazer isso.
M as 0 ministro Márcio Thom az Bastos, um ex-presidente da O rdem e hoje à
frente da pasta da Justiça, conhece isso muitíssimo bem e está administrando
0 assunto com um a maestria que ainda não foi percebida. Se ele permanecer
no cargo por m uito tempo nós vamos assistir à correção desse problema.
•ál 313
______________ História da
O rd e m d os A dvogados d o Brasil
Uma outra CPI que ocorreu durante a sua gestão e que trouxe à tona
o envolvimento de autoridades com o crime organizado foi a do
Narcotráfico.^ E aí hâ um paradoxo, como ocorreu no caso doJuiz
Nicolau, porque se por um lado a apuração desses crimes é algo
louvável e positivo, por outro, fragiliza a imagem dos poderes
constituídos. Tanto o judiciário quanto o Legislativo saíram muito
arranhados dessas duas CPIs. Essa situação, de certa forma, acua o
Estado. No meio desse fogo cruzado, entre o desejo pela apuração
" A C P I d o N arcotráfico foi instalada n a C â m a ra f e d e r a l de d e z e m b ro d e 1999, te n d o c o m o re la to r o dçpuCado
M o ro n i T organ, d o P a rtid o d a F ren te Liberal {PFL-CE). D e p ois d e m eses d e investigação e v á rio s ped id os
d e p risõ e s e in d ic ia m e n to s, fico u c o m p ro v a d o o e n v o lv im e n to de au to rid a d e s federais e e sta d u a is c o m o
c rim e o rg a n iz a d o . Em m e a d o s d e n o v e m b ro de 2000 o re la tó rio d a C P I foi fin a lm e n te e n tre gu e à C âm ara,
q u e o a p ro v o u n o m ê s seg uinte. D isponível e m h ttp ://w v m .u o l.c o m .b r/2 0 0 0 /o u t/2 9 /0 p a i.h tm .
314
V o lu m e 7 A ( ) , \ H na \ o / d o s scnis I'if 's id r n lc 's
315
______________ H isto ria d a
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
316 «41
V o lu H K - / OAi-» n .i v o z d o s s c iis I ' l f s i d c t i t t ’s
A construção dessa nova sede decorreu de uma série de reflexões que eu sempre
fiz. Tão logo fu i eleito, me deparei com a necessidade de renovar um pouco o
ímpeto das seccionais, da cobrança das anuidades, que apresentava sinais
crescentes de falta de rigidez, o que estava enfraquecendo economicamente a
Ordem, já que o Conselho Federal sempre teve como hábito, justo, o repasse
de recursos para cobrir o déficit das seccionais. Eu precisava de um bom
argumento, então, para convencer as seccionais de que não teria como
c o n tin u a r a repassar os recursos. A construção de u m p réd io , que
evidentemente é m uito onerosa, caia como um a luva. Mas qual era o meu
objetivo com isso? Eu tinha a convicção de que a dependência financeira das
seccionais em relação ao Conselho Federal retirava delas a liberdade de escolha
da direção do próprio Conselho. E mais: fechando a torneira eu tinha certeza
de que eles iam começar a brigar para receber mais dinheiro, para tornar
’ o e x-p rcfeito d c Sào P aulo, Celso Pitta, a p a d r in h a d o p olítico d e Paulo M a lu f e eleito p a ra o carg o na
sucessão d este, e m 1996, foi a c u s a d o p o r sua esposa, N icéa P i t t a - c o m a q u a l vivia u m a crise co n jug a l na
o casião e m m a rç o d e 2000, de p a g ar p ro p in a e m tro ca d a ap ro v a çã o d e seus p ro je to s n a C â m a r a dos
V ereadores d e São P a u lo . As investigações te rm in a ra m a p o n ta n d o ta m b é m p a r a irreg u larid ad e s n o
p a g a m e n to d e p re c a tó rio s - d ívidas c o n tra íd a s d e sentenças jud iciais - p o r p a r te d o p o d e r m u nicip al.
D ep ois d e u m te m p o a fa sta d o d o exercício do cargo, p o r decisão d o STI, e m face d a s claras evidências do
seu en v o lv im e n to . P itta ío i re c o n d u z id o ao cargo pelo m e sm o STJ, em ju n h o d c 2000, te n d o co n clu íd o
0 seu m a n d a to . D isponível e m h ttp ://w w w .e sta d a o .c o m .b r/a g e s ta d o /n o tic ia s/2 0 0 1 /se t/0 4 /2 7 3 .h tm .
317
______________ História_da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
mais eficaz o seu sistema de arrecadação, etc. Por outro lado, as sedes do
Conselho Federal sempre foram apêndices de seccionais, e nós precisávamos
ter na capital da República a nossa identidade institucional, o nosso símbolo,
a nossa visibilidade assegurada, com instalações dignas, enfim.
Foi u m selo de qualidade que nós criamos para os cursos de direito no Brasil.
N ós reunimos dados de todas as faculdades que tivessem mais de dez anos de
existência - e isto era um critério importante - e avaliávamos um a a uma,
com três preocupações objetivas: a nota do Provão,''^ o índice de aprovação
nos exames de Ordem e as instalações físicas. Dentre 280 avaliações, nós
reconhecemos como harmônicas com os critérios de realização de um bom
trabalho apenas 42 faculdades. E a estas nós atribuím os, portanto, a
homologação, o reconhecimento da Ordem de que eram cursos que atendiam
aos critérios m ínim os exigidos para que fossem considerados cursos de direito
regulares. A conseqüência disso é que todas as faculdades começaram a tentar
se aperfeiçoar para merecerem a recomendação. Isto fo i algo importantíssimo,
do qual me orgulho, e que esse ano será renovado.
318 •àB
V olum e 7 A OAB na voz d o s seus P residentes
hurna**
•4B 319
______________ História da
Ordem d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Não, isso é m uito pequeno; é reduzir o Márcio a um a dimensão que ele não
merece. O M árcio é um jurista que tem um a larga experiência, certamente
m uito enriquecida pelo exercício da presidência da OAB, m as não é só isso. O
Márcio é capaz de agir no Ministério da Justiça com m uito mais amplitude
do que apenas como um ex-presidente da Ordem. Evidentemente que, como
qualquer cidadão que tenha tido a oportunidade que ele teve de conhecer o
pais por inteiro, e principalmente as suas instituições, o pensamento dele se
aproxima do pensamento da Ordem. É p o r isso que talvez se imagine que o
M árcio é a OAB, m as ele tem outras razões hoje que não são mais,
exclusivamente, as da OAB. Vê-lo assim é am esquinhá-lo demais. N ão há
ninguém que tenha ocupado o cargo de m inistro da Justiça com tanta
capacidade como ele.
320 9ÀB
\o lu m e 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
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______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
322 9àM
V o Il i u k ’ , A ()/\I3 na v o / dos sc'lis P i fs i d cm t cs
323
______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
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V o k iiiK ' , , \ O AI^ nd v o z d os si'us I’ lc’sidc’tiU’S
màM 325
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
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V d k iiiU ' / A O A B n<i V O / ( l o s s i ' i i s I ' l t ' s i d c n t c s
Eu entendo que a Ordem e os seus dirigentes não têm a seu dispor a mídia no
momento em que desejam. Qual então o melhor espaço para os advogados se
manifestarem senão num tribunal? E foi o que eu fiz. Apesar de eu ter sido, logo
depois, massacrado pelo séqüito governamental, apesar de estar na presença do
presidente da República, que ficou muitíssimo contrariado, fu i duro e contundente
na crítica ao desvirtuamento de uma prerrogativa do Poder Executivo que deveria
estar sendo usada com parcimônia. A repercussão alcançou o âmbito internacional.
Durante a própria solenidade, eu fu i interrompido sete vezes por aplausos efusivos
da assistência. O povo comentava nas ruas. A Ordem manifestou um sentimento
generalizado de descontentamento com a concentração de poderes promovida
pelo Executivo. A partir de então o Parlamento se sentiu na obrigação de tomar
um a posição, posto que senão ele passaria a ser conivente com esta situação que
também o castrava. D aí surgiu a Emenda Constitucional n° 32, que restringiu o
uso de medidas provisórias. ^
^ A E m en d a C o n stitu c io n a l n.° 32, de 11 d e s e te m b r o d e 2001, d e te rm in a , e n tre o u tr a s coisas, q u e as m edidas
p ro v isó rias só te rã o v alid a d e p o r u m p e río d o de 60 dias, p rorro gáv eis p o r m ais 60. D isp on ív el etn http :/
/WWW. v e m c o n c u rso s .c o m .b r/o p in ia o .
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______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil
Eu não avalio desta forma. Ê evidente que os caminhos percorridos pelo atual
presidente, na sua vida e na política, coincidem em m uitos pontos com o
cam inho que a Ordem sempre seguiu, mas isto não abala a nossa isenção.
Nós estaremos com ele em tudo aquilo que ele fizer e que nós reputemos que
seja do interesse da sociedade, e estaremos contra, e denunciaremos, tudo
aquilo que não for exatamente o caminho que julgarmos de acordo com o
indicado pela sua trajetória e com o interesse do povo brasileiro. O que nos
interessa é o cenário, a cena, e não os atores. Os atores, eles têm que cumprir
aquilo que a cena exigir. E fo i este o ponto de vista do m eu últim o discurso no
^ o a rtig o a q u e se refere o e n tre v is ta d o foi p u b lic a d o m Folha de S. Paulo, e m 5 d e j u n h o d e 2001, sob o título
“ Feitiço c o n tr a o feiticeiro”.
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V o lu m e / •\ O.AI'i i \ i V I)/ d o s s e lls I ’ lL 's id e n lc b
STF. Nós fizem os u m a eleição diferente das outras e talvez inédita no mundo.
Promovemos um a revolução pelo voto e não pelas armas. O povo m udou o
cenário do Brasil, dizendo com toda a clareza que tinha pressa nas mudanças,
nas reformas, desde que elas percorressem os caminhos da luta contra as
desigualdades sociais, e não exclusivamente da busca de índices econômicos,
comerciais e monetários. Nós temos que usar a política econômica no interesse
da política social, e não o contrário. Foi isto, em resumo, o que tentamos
transmitir para o presidente. Quanto às críticas que recebi, são próprias do
regime democrático. Devem ser respeitadas.
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______________ História da
O rd e m d o s A dvogados d o Brasil
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V olum e’ , ( ) / \ l 3 Hci V O / clos s('u> P r o i d c n t t - s
ao Senado, como a Constituição prevê, uma série de fatos para que o indicado
pudesse ter oportunidade de responder, mostrando assim que tinha condições
para ser ministro. Esta prática dava efetividade ao dispositivo constitucional
da argüição dos indicados para esse tipo de cargo, acabando com o aspecto
meramente protocolar. O problema é que esta intenção do Reginaldo fo i mal
interpretada e gerou um a repercussão negativa, como se tivesse havido algum
tipo de conotação pessoal neste gesto. O Gilmar M endes reagiu m uito mal,
confundindo o Reginaldo com a OAB como um todo. Nós divulgamos uma
nota respondendo de maneira dura e incisiva, em defesa do direito do dr.
Reginaldo, estando ou não à frente da OAB, de se m anifestar como cidadão.
Posso lhe garantir que sim. Eu não estive presente, porque estava fora, mas a
Ordem certamente esteve representada.
Como tem sido a relação da OAB com o STF durante a sua gestão?
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______________ História da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Não, no Brasil não há essa tradição. Mas por outro lado, acho que isso também
não pode ser descartado. É possível modificar os aspectos processuais, como
form a de dar mais eficiência ao Judiciário. Tudo isso pode ser possível se os
juizes tiverem mandato, po r exemplo, ao invés de terem cargo vitalício como
ocorre. Mas o fund a m en ta l é que todo poder público tem que ter u m controle
externo, mesmo o Judiciário, que exerce um '"controle externo'" sobre todos os
outros poderes. N ão desejamos questionar a legitimidade do Judiciário, entrar
no m érito das suas decisões, m as ter acesso aos seus m ecanism os de
funcionam ento. Isso é o controle externo.
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V o lu m e / ,\ na v o z dos sí .hjs I'lc s ic k 'n tc ’s
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______________ H isto ria d a
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Sim, claro. O que estão dizendo que é reforma, em verdade não é. Existe uma
proposta de se promover a concentração das ações, extinguindo afigura do
recurso, sob a promessa de que isso agilizará a Justiça, em função de lhe
possibilitar um a certa desburocratização. M as o fato é que vai se perder o que
de mais fu n d a m en ta l há para o exercício adequado da Justiça, que é a
proxim idade entre quem julga, quem é julgado e quem reclama. Os assuntos
Htigiosos, p o r essa proposta, seriam discutidos nas esferas dos tribunais
superiores, sem passarem pela primeira instância. Se isso começar a valer
estaremos pondo fim ao que chamamos de gestação do direito, que se fa z de
baixo para cima, dos tribunais inferiores para os superiores. Em suma, essa
concentração que se pretende é antidemocrática e nefasta para o Judiciário e
para a sociedade.
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V o lu iiu ' / / \ O A H n a v<>/ cios s c iis I ' n ' s i d c i i l c s
Tem sido bastante eficaz. Se até para tomar café nós precisamos de um selo de
qualidade, p o rq u e não seria preciso um selo para o ensino jurídico, que tem
conseqüências sociais importantíssimas? A inda recentemente conseguimos
também , no Superior Tribunal de Justiça, um a decisão que veta o aumento
de vagas oferecidas pelas escolas de Direito sem a aprovação prévia da Ordem,
0 que lim ita a autonom ia universitária das instituições de ensino.
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Nós realmente nos reunimos com o ministro Paulo Renato, tendo estado
presente também o presidente da nossa Comissão de Ensino Jurídico, dr. Paulo
Medina, conselheiro por M inas Gerais. Nós mostramos ao ministro que as
decisões tomadas pela ministra interina, M aria Helena Castro, relativas aos
assuntos que foram citados na pergunta, poriam a perder o que ainda restava
da qualidade do ensino jurídico. O ministro entendeu nossa argumentação e
suspendeu um a das medidas, posto que a outra já estava em vigor. Para esta
tivemos que recorrer ao STJ, que nos deu ganho de causa, anulando-a e
restabelecendo a nobreza que o curso jurídico merece.
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V o lu n ic 7 A ( ) A I i n ,i VO/ d o s scLis I ' t c ' - ' i d r i i l r s
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338 •ài
V o liin ii' 7 A ( ),\1! 11.1 \ ( i / <lí>s s(His I V c - ' i c k ' n l c s
federal no estado. Ele disse que o presidente tam bém já estava informado de
tudo e que no mesmo dia ele seria posto a par da nossa posição. À noite o
ministro me telefonou transmitindo a concordânda do presidente Fernando
Henrique Cardoso em patrocinar a intervenção. Dado o sinal verde, em 21
de maio de 2002 nós entramos com o pedido e então se abriu um processo no
CDDPH.
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O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
Ele não se conformou e com m uita dignidade renunciou ao cargo. Mas não
terminou nisso> porque nós ficamos inconformados, reclamamos e exigimos
explicações. Pela terceira vez, então, na m in h a vida, f u i convidado a
comparecer ao Palácio do Alvorada, para um a reunião com o presidente da
República e já com o novo ministro, Paulo de Tarso. Estiveram presentes
tam bém o Agesandro e o Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão
encarregada da apuração dos fatos no Espirito Santo. Depois de nos ouvir
atentamente, oportunidade na qual eu disse tudo o que precisava ser dito, ele
nos respondeu que havia vetado a intervenção em função do parecer do
procurador-geral da República. Isso realmente ficou até hoje sem explicação.
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V o lu m e -A ( ) A H n .i V 07 d o s s e u s I'rc s id c n k 's
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O rdem dos Advogados do Brasil
342
Volume 7 A OAB na voz dos seus Presidentes
343
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Ordem dos Advogados do Brasil
344 9AB
\'o k in i( ‘ , \ ( )'M'i 11,1 \ ( ) / do s s r u '' Pr(’‘' i(I('[itc's
É a globalização?
345
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
346
VoluilH' A ( ).\l'> 11,1 VO/ dos sriis Picsidctilcs
índice Onomástico
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____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil
348 •41
V o lu m e 7 , \ OAL-) 11(1 v o / cios scLis l’ i( s if lc n t c s
D
d'Aquino Fonseca, Ivo, 29
Dallari, Dalm o de Abreu, 93,94, 97
Dantas, Francisco Clementino de San Tiago, 2 8 ,113
Dias, José Carlos, 314, 338
•Al 349
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Ordem dos Advogados do Brasil
350
V o lu n ir \ ( ) \ [ ' i 11,1 v o / ( I d s s r u ' ' l ’ t ( ■ ' ! ( I t ' l l t r '
Herzog, Vladimir, 99
H orta, O scar Pedroso, 42, 47,48
•41 351
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O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il________________________________________________
352 9àM
A ( ).\i; tl,i \ ( ) / (I(I\ <rii>
#àm 353
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V 'o lu n x ' A ( ) \ l ' i Mil \ ( ) Z ( k ) ^ X ' l ; - , I ’ n ' M d c n l c - -
•àl 355
______________ Histó ria da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il
356 màM
MPf^SSAO:
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ISBN 8 5 - 8 7 2 6 0 - 3 8 - 3
91788587 2 6 0 3 8 3