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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

DANIELA NUNES PEGO PEREIRA


GABRIEL DA SILVA ARAUJO

RELIGIÃO E POLÍTICA: ALEXANDRE, O GRANDE E SUA


LEGITIMAÇÃO RELIGIOSA NO EGITO SOB O OLHAR DA
ICONOGRAFIA MONETÁRIA

SÃO PAULO,
2013
UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

RELIGIÃO E POLÍTICA: ALEXANDRE, O GRANDE E SUA


LEGITIMAÇÃO RELIGIOSA NO EGITO SOB O OLHAR DA
ICONOGRAFIA MONETÁRIA

DANIELA NUNES PEGO PEREIRA


GABRIEL DA SILVA ARAUJO

SÃO PAULO
2013

2
UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

DANIELA NUNES PEGO PEREIRA


GABRIEL DA SILVA ARAUJO

RELIGIÃO E POLÍTICA: ALEXANDRE, O GRANDE E SUA


LEGITIMAÇÃO RELIGIOSA NO EGITO SOB O OLHAR DA
ICONOGRAFIA MONETÁRIA.

Monografia apresentada para


trabalho de conclusão de curso,
como parte dos requisitos do
curso da graduação em
licenciatura de História da
Universidade de Santo Amaro.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Raquel


Paz dos Santos
Coorientador: Prof. Dr. Vagner
Carvalheiro Porto

SÃO PAULO
2013

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Dedicamos esse trabalho a nossos pais,
eles são nosso maior exemplo de força e
perseverança e a todos que nos apoiaram
nesta longa jornada que percorremos até
a finalização dessa pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Por Daniela:

Agradeço aos meus amados pais (Marlene e Ildebrando), familiares e aos meus irmãos
Lúcio, Ângelo e Patrícia pelo incentivo, exemplo, amor e carinho, sempre acreditando
na realização desse trabalho.

Agradeço aos meus bons amigos em especial a Teonas, Ronaldo e Eliane, pelos
conselhos, e todo apoio que me fizeram amadurecer muito nestes três anos e a toda
equipe da socicam lugar onde fiz várias amizades e vou carregar os ensinamentos que
aprendi lá durante toda minha vida.

Agradeço aos Professores (as) Maria Aparecida de Oliveira Silva, Maria Thereza
Rímoli, Adomicio Lopes, Raquel Paz dos Santos e a toda equipe de Professores do
curso de História da Unisa, por sempre transmitirem conhecimento e contribuírem para
minha formação intelectual.

Por Gabriel:

Primeiramente agradeço a minha querida mãe Zilda que sempre me incentivou no


mundo dos estudos e me apoia nas decisões fáceis e difíceis de minha vida, sem deixar
de lado o afeto e carinho que foram decisivos para minha vida pessoal e carreira
acadêmica.

Agradeço também aos meus amigos, em específico Ronaldo e Eliane com quem aprendi
a amar mais ainda os livros e as artes, sem esquecer-se das boas risadas que permearam
nossa árdua trajetória nesta universidade.

Agradeço também aos meus mais antigos exemplos de dedicação e estudo, Michelle e
Marcelo Bandoria e Rafael que sempre me ajudaram nas tarefas mais pueris do mundo
escolar, me incentivando cada vez mais com seus exemplos e conversas, sem vocês eu
certamente não estaria aqui.

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Não posso deixar de agradecer meus queridos amigos Thaís, Bruna, Marcela, Cássia,
Daiany, Daniel e Paulo que mesmo não se interessando tão fortemente pelos caminhos
da História me ajudaram a conceber meu próprio eu. Um agradecimento em especial
deve ser creditado aos meus “japo-amigos” Letícia Hara e Felipe Chikuji que sempre se
mostraram atentos as minhas mirabolantes ideias acerca do mundo, além de serem os
poucos a acompanharam esta pesquisa com olhos atentos, esses pequenos momentos
significam muitíssimo para mim.

Agradeço com carinho todos os professores que contribuíram para minha formação,
desde o jardim de infância até aqui, á Prof. Dr. Raquel Paz dos Santos que mesmo com
todos os percalços pelo caminho nos orientou com profissionalismo e eficácia, mas não
poderia deixar de citar três mulheres incríveis: minha querida Professora Andrea, que
desde meus tempos de fundamental me ajuda no âmbito acadêmico, seu empenho para
me ajudar no início desta pesquisa é notável, suas aulas estão guardadas em minha
memória com muito carinho, Professora Mestra Maria Thereza Rímoli que apoiou nossa
pesquisa e sempre nos ajudou de bom grado nesta aventura pela antiguidade e a
Professora Doutora Maria Aparecida Oliveira Silva que com sua imensa bagagem
intelectual me agraciou com conselhos e dicas que levarei para vida inteira, seu carinho
e apreço por minhas ideias e pesquisa foram essenciais para minha vida.
Por último, mas de extrema importância, minha eterna gratidão e admiração pelo
Professor Doutor Vagner Carvalheiro Porto que além de orientar este trabalho desde seu
início sempre foi doce em suas palavras de encorajamento, suas aulas e seu
conhecimento me fascinaram e aguçaram mais ainda minha vontade de se aventurar
pelo mundo grego, sua simpatia e educação são equivalentes à sua erudição e
profissionalismo, muito obrigado por incentivar o pesquisador que pretendo ser.

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“Temos apenas de seguir a trilha do herói,
e lá, onde temíamos encontrar algo
abominável, encontraremos um deus. E lá,
onde esperávamos matar alguém,
mataremos a nós mesmos. Onde
imaginávamos viajar para longe, iremos ter
ao centro da nossa própria existência. E lá,
onde pensávamos estar sós, estaremos na
companhia do mundo todo.”
Joseph Campbell – O Poder do Mito

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RESUMO

Esta pesquisa pretende analisar o papel da religião na legitimação do poder de


Alexandre o Grande no Egito, sobretudo na análise da iconografia de moedas antigas
cunhadas sob o governo alexandrino e de seus generais, evidenciaremos os aspectos que
auxiliaram Alexandre na sua afirmação política. Nosso objetivo geral é destacar o
importante papel que esse mecanismo trouxe para a dominação e a criação de um
“Alexandre divino”, além das moedas traçamos um paralelo entre a tradição escrita
sobre Alexandre, e a cultura material, a priori sob a luz de seus principais biógrafos
antigos, Plutarco, Ariano de Nicomedia, Quinto Cúrcio, nos escritos de, Heródoto e
Daniel e seus principais pesquisadores dos últimos séculos: Johann Gustav Droysen,
Claude Mossé, Peter Green e Pierre Briant.
A análise monetária se baseará na interpretação de signos, símbolos e
iconografia religiosa utilizadas pelo o rei macedônio com o intuito de construir uma
imagem divinizada sob a religião grega e egípcia, através de suas próprias crenças e
tradições, legitimando seu domínio no Egito e em outras localidades do Oriente
próximo e médio Oriente, destacaremos estes aspectos através da história cultural que
nos permite analisar diferentes documentos e ciências neste caso: Arqueologia e
Numismática.

Palavras-chave: História Antiga, Alexandre, o Grande, Egito, Religião, Política,


Iconografia, Numismática.

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ABSTRACT

This research aims to examine the role of religion in the legitimation of the
power of Alexander the Great in Egypt, especially in the iconography of the analysis
of ancient coins minted under the Alexandrian government and his generals, we show
the aspects that helped Alexander in its policy statement. Our overall objective is to
highlight the important role that this mechanism brought to the domination and the
creation of a "divine Alexander" in the light of his main biographers, a priori we use in
time of documents: the writings of Plutarch, Arian of Nicomedia, Quintus Curcius,
Herodotus and Daniel, Egyptian coins, Macedonian, and his main biographers of today:
Johann Gustav Droysen, Claude Mossé, Peter Green and Pierre Briant.
The monetary analysis will be based on the interpretation of signs, symbols
and religious iconography used by the Macedonian king in order to build a picture
deified in the Greek and Egyptian religion through their own beliefs and traditions,
legitimizing their rule in Egypt and other in the Near and Middle East, we highlight
these aspects through nouvelle histoire that allows us to analyze different documents
and sciences in this case: Archaeology and Numismatics.

Key-words: Ancient History, Alexander the Great, Egypt, Religion, Politics,


Iconography, Numismatics.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
ALEXANDRE E SUA TRAJETÓRIA DIVINIZADA ............................................................ 11

CAPÍTULO I
DA MACEDÔNIA AO E GITO: OS CAMINHOS DO REI ................................................... 15

1.1 - A ESCRITA SOBRE ALEXANDRE ...................................................................... 15


1.2 - ORIGENS DIVINAS ............................................................................................. 17
1.3 - A CONQUISTA DA ÁSIA MENOR ...................................................................... 21
1.4 – CAMPANHA DO E GITO ..................................................................................... 25
1.5 – CONSTRUÇÃO DE ALEXANDRIA ...................................................................... 28
1.6 - O OÁSIS DE ZEUS AMON: A CONSTRUÇÃO DO REI DEUS ............................... 29

CAPÍTULO II
CULTURAS ENTRELAÇADAS : OCIDENTE E ORIENTE ................................................. 38

2.1 – O MUNDO HELÊNICO E AS RELIGIÕES .............................................. 38


2.2 – RELIGIÃO GREGA ............................................................................................ 39
2.3 – RELIGIÃO EGÍPCIA .......................................................................................... 43
2.4 – A RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO PERSA - ZOROASTRISMO ....................... 46
2.4 – A UNIÃO DESSAS RELIGIÕES ............................................................................ 47

CAPÍTULO III
ICONOGRAFIA MONETÁRIA: ASPECTOS RELIGIOSOS DE ALEXANDRE NA CULTURA
MATERIAL ...................................................................................................................... 48

3.1 – NUMISMÁTICA E SEUS PARADIGMAS .............................................................. 48


3.2 – A GRÉCIA E AS MOEDAS .................................................................................. 49
3.3 – ALEXANDRE E SUAS MOEDAS .......................................................................... 52
3.4 – A IMAGEM DE ALEXANDRE: USOS E DESUSOS ............................................... 57

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 62

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 64

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 64

FONTES ........................................................................................................................ 64

ESTUDOS ..................................................................................................................... 64

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INTRODUÇÃO

ALEXANDRE E SUA TRAJETÓRIA DIVINIZADA

Quem foi Alexandre, o Grande e como foi a sua vida? Alexandre III da
Macedônia nasceu em Pela no ano de 356 a.C. e morreu na Babilônia no ano de 323
a.C, seus pais eram: Olímpia de Épiro (religiosa fiel do deus Dioniso) e o monarca
Filipe II da Macedônia. Rei, general, guerreiro, conquistador, ébrio, Alexandre possui
muitas facetas ao longo dos séculos, sua história se confunde com mitos e fantasias, sua
epopeia foi lembrada e seus feitos honrados, mas onde realmente reside o Alexandre
como homem pensante? Apesar de ser criado para carreira militar, Filipe II preocupado
com a formação intelectual de seu filho e sucessor encarregou Aristóteles como mentor
de seu herdeiro, seus tempos célebres no liceu só serão ofuscados por trajetória militar
digna de reconhecimento, conquistou um vasto império que ia dos Balcãs a Índia
incluindo a Báctria e o Egito – local este que essa pesquisa se debruçará em analisar as
correlações e sincretismos existentes através das moedas cunhadas após o domínio
macedônio – conhecido por suas habilidades em batalha, descritas por seus biógrafos,
foi considerado o maior conquistador do mundo antigo e segundo muitos sem nunca
perder uma batalha. O antecessor de Alexandre, seu pai Filipe II foi o responsável pela
organização de todo poderio militar do exército macedônio, e pelo domínio da península
grega subjugando as cidades-estados.
Filipe II derrotou as ligas da Hélade uma a uma, se aproveitou do
enfraquecimento provindo da guerra do Peloponeso e adentrou a península grega,
dominando as hindependentes cidades e anexando-as ao reino da Macedônia, criando o
que ele mesmo chamou de comunidade grega. Filipe muda a estrutura política, mas
como grande admirador da cultura grega – da qual o mesmo já compartilhava – se
utiliza dos símbolos e imagens referentes ao ethos das cidades para propagar seu
domínio e legitimá-lo, mostrar aos helenos que agora eles tinham um reino era
necessário, não à toa observamos as primeiras moedas cunhadas com o busto de Filipe
II circulando no mundo grego, essa tradição será melhor aprimorada e explorada por seu
filho.

11
Após a morte de Filipe em 356 a.C. Alexandre deu continuidade aos desejos de
seu pai que naquele momento era a conquista do Oriente. Através da expansão
Alexandre disseminou a cultura grega que se fundirá com as culturas ocidentais,
formando no futuro o que denominaremos helenismo, criando cidades em sua própria
homenagem e colocando seus veteranos de guerra para governá-las, em 334 a.C.
efetuou sua primeira batalha contra os persas – Granico – obtendo êxito e conquistando
o território da Ásia Menor, no ano seguinte derrotou o rei Dario III na batalha de Isso,
no próximo ano conquistaria Tiro e o Egito e em 331 a.C., após a batalha de
Gaugamela, conquistou Babilônia e Persépolis, – esta que fora destruída por Alexandre
– Dario III foi assassinado por sua própria corte, Alexandre assim ganhou o título de
imperador do Oriente.
A interessante fusão cultural entre Ocidente e Oriente se deu de forma natural, à
medida que a cultura helênica adentrava os territórios que deixavam os macedônios
encantados com as enormes riquezas materiais e naturais que se encontravam nas terras
adiante, tais descobertas fizeram Alexandre, o Grande continuar seu projeto
imperialista, durante dois anos Alexandre dominou pequenas cidades e enfrentou
difíceis batalhas, chegando a ser brutalmente atacado na batalha de Hidaspes, onde lutou
contra Poro e seus exércitos em elefantes, lá o conquistador perdeu seu fiel cavalo
Bucéfalo, que fora posteriormente homenageado com uma cidade em seu nome,
Bucéfala.
Houve grande resistência por parte dos povoados da região indiana até 325 a.C.
Quando o território foi conquistado. Vendo o estado lastimável de seus exércitos após a
campanha da Índia Alexandre se reúne junto aos seus generais e resolve encerrar a
jornada, voltando à Babilônia local onde iria permanecer até sua morte em 323 a.C. Sua
morte veio através de uma febre de causa desconhecida, não há nenhum relato de época
que nos revele alguma armação por parte de seus aliados para sua morte, sabemos que
Alexandre estava bem abalado depois da morte de seu amigo e amante Heféstion, o
estado de espirito que ele se encontrava provavelmente o afetou em sua doença,
dificultando ainda mais sua recuperação, o levando a morte.
Mesmo após sua morte Alexandre ainda permaneceu no imaginário de seus
conterrâneos e dos povos dominados, porém aceitar um rei desconhecido que conquista
o território em que um povo habita há séculos não é algo muito natural, o que nos faz
crer que a dominação alexandrina teve um caráter muito diferente das conquistas da
época. O fato de Alexandre respeitar a cultura desconhecida faz com que o mesmo se

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utilize das mesmas em sua afirmação política, numa espécie de propaganda que visava a
legitimação de seu poder sobre as novas terras, o uso das moedas é o exemplo claro, a
maioria das moedas possuem cunhagem em Alexandria e Mênfis e é no Egito que a
análise deste trabalho se debruçará. O Egito é o local onde evidenciamos os usos que
Alexandre fez do código religioso egípcio para se legitimar no poder, vincula e eterniza
títulos e ideias nas moedas que possuem o poder intrínseco da informação e da
propaganda nos mais diversos meios sociais e classes de uma sociedade.
As religiões grega e egípcia sofreram um processo de sincretismo que pode ser
evidenciado na cultura material egípcia após Alexandre, e mesmo as moedas de tradição
grega que foram cunhadas e circuladas em solo egípcio. Alexandre ganha um caráter de
heroi especificamente no Egito, a partir da conjuntura política que o território se
encontrava – o domínio Persa -, o conquistador livra os Persas do Egito e logo é
reconhecido e legitimado pelos sacerdotes egípcios que os encarregam das obrigações
faraônicas como mantenedor da maat, ao se mostrar merecedor de tal título Alexandre
se mostra divino em suas moedas e as associações aconteceram rapidamente, as moedas
serão analisadas minuciosamente por este trabalho.
O recorte no Egito, local onde Alexandre obteve uma aproximação cultural –
entre a Grécia e o Egito - e auto se denominou filho de Zeus Amon e posteriormente
faraó no oráculo de Siuá. Nos faz inferir o simbolismo utilizado através da cultura
material nos fazendo entender que Alexandre, o Grande utilizou da iconografia
monetária para obter legitimação política fazendo uso da religião egípcia e grega
fortificando o sincretismo. Nas páginas deste trabalho nossa intenção é responder se o
uso da iconografia religiosa facilitou o domínio no Egito, além de outros locais em que
o jovem rei utilizou esse aparato, além disso nos questionamos se houve benefícios na
conquista de Alexandre e na continuidade da expansão territorial.
A Arqueologia explica aquilo que os documentos escritos não podem nos
explanar, as moedas denotam historicidade pura, muito mais livres de leituras
enviesadas que os documentos escritos, cabe a nós historiadores se utilizar da cultura
material não apenas como aporte teórico, mas sim como fontes. Justamente por isso
analisaremos um conjunto de moedas que denotaram tais aspectos religiosas de
Alexandre e as tradições religiosas gregas e egípcias. Esta pesquisa é dividida em três
capítulos (Da Macedônia ao Egito: os caminhos do rei deus, Culturas entrelaçadas:
Ocidente e Oriente e Iconografia monetária; aspectos religiosos de Alexandre na cultura
material) capítulos desta pesquisa se propõe apresentar um panorama acerca do domínio

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macedônico até o Egito, a política macedônica e as raízes culturais, religiosas e
tradicionais que foram fundidas por parte dos povos egípcios e gregos transformando
quiçá a mentalidade e memória desses povos nesse amalgamo posteriormente
denominado por Helenismo.

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CAPÍTULO I
DA MACEDÔNIA AO E GITO: OS CAMINHOS DO REI

1.1 - A ESCRITA SOBRE ALEXANDRE

Em verdade Alexandre, o Grande tem inúmeras facetas ao longo da história


ocidental, a veracidade desses registros são altamente refutáveis, já que o escritos acerca
de Alexandre são datados a partir dos séculos I e II d.C. as obras Ἀλεξάνδρου ἀνάβασις1
de Arriano de Nicomédia, Βιοí παραλληλóι2 de Plutarco e Historiae Alexandri Magni
Macedonis3 de Quinto Cúrcio, são todas datadas dos primeiros séculos da era cristã, os
três autores formam uma importante tríade de biógrafos antigos que relatam a vida e
história de Alexandre.
Se nos baseássemos somente nestes autores para conceber Alexandre e seu papel
na história cometeríamos os mesmos equívocos que diversos historiadores cometeram ao
analisar somente os grandes atos de Alexandre, mesmo se utilizássemos autores da era
moderna e contemporânea teríamos que ter cautela na análise, ao se pesquisar os livros de
História que falam de Alexandre evidenciamos que os primeiros tratam geralmente o rei
macedônico como um apaixonado pelo Oriente, um conquistador nato ou um ébrio rei, o
quão pretenciosas e românticas essas obras são não poderíamos mensurar, porém mesmo
sendo passiveis de críticas as mesmas contem aspectos importantes no que cerne o estado
da arte de Alexandre como personagem histórica.
A priori devemos ter em mente que a forma rankeana de se fazer História era
amplamente utilizada desde a consolidação da História como ciência, a oficialidade de
documentos como, por exemplo, cartas, selos reais e eclesiásticos deveras requisitados
nas análises de Leopold Von Ranke eram basicamente utilizados pelo historiador e seus

1
Anábase de Alexandre Magno – obra relata alguns acontecimentos da campanha militar de Alexandre
contra o império Aquemênida, mas pouco denota aspetos da vida pessoal ou política do monarca, assim
como os motivos que levaram a campanha da Ásia.
2
Vidas Paralelas – compilado de biografias envolvendo grandes personalidades históricas gregas e
romanas, Plutarco segundo Jacyntho Lins Brandão enaltecerá sempre as personalidades gregas em
detrimento das romanas, numa tentativa altiva de mostrar sua identidade grega, mesmo com o
mediterrâneo dominado pelos romanos (CERQUEIRA, 2010, p. 13).
3
História de Alexandre Magno da Macedônia – conjunto de dez obras que formam uma grande biografia
do conquistador, a maioria das partes está perdida, as que sobreviveram ao tempo relatam tal como a obra
de Arriano a vida militar de Alexandre.

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seguidores, os historiadores da passagem do século XIX para o XX inevitavelmente são
frutos do seu tempo, suas análises refletiram suas vontades, suas vivências e meio social
que estão inseridos, esse dilema é fruto do ofício do historiador, e não exclusivo dos
pensadores do século XIX, ele é um paradigma vivo. Por mais necessário que seja o
historiador e a história que ele faz não se distancia do tempo espaço que o mesmo vive
(CERTEAU, 1982, p. 17), Michel de Certau exemplifica de maneira coesa e poderosa
exatamente as peripécias que envolvem o trabalho do historiador, mesmo querendo ser
imparciais, analíticos e cientificistas nos deparamos com aspectos culturais que nos
prendem à algum lugar, No discurso onde faço representar as questões gerais, essa marca
terá a forma do idiotismo: meu dialeto demonstra minha ligação com um certo lugar.”
(CERTEAU, 1982, p. 18) o tempo e espaço do historiador, sua posição social, política e
econômica contribuem imensamente na construção de sua escrita, assim como seus
anseios e até mesmo devaneios.
É neste sentido que não podemos somente analisar Alexandre, o Grande pelos
documentos escritos, o historiador deve se atentar aos novos objetos, problemáticas e
ciências que auxiliam a concepção e síntese da História, revisitar temas já estudados sob
uma nova metodologia contempla a discussão historiográfica e enriquecem as ciências
humanas, a História Antiga em específico necessita de outras concepções que se
desprendam do olhar tradicional e preconceituoso que muitos autores costumavam
transparecer.
Na segunda metade do século XIX, a História Antiga recebeu um novo
impulso, proveniente da História Natural e do surgimento da
Antropologia, da Sociologia e da Arqueologia. Abriram-se novos
campos para o conhecimento das Ciências Humanas: a sociedade, a
família, a comunidade, a economia, a cultura e a religião.
(GUARINELLO, 2013, p. 21)

Com a variedade de possibilidades de se analisar História e os inúmeros


documentos que a nouvelle histoire4 possibilitaram aos historiadores, nossa pesquisa
analisará um fato já muito conhecido na trajetória do conquistador macedônio: sua
estadia no Egito, mas nossa análise não ficará restrita somente aos acontecimentos
políticos que permeiam este evento e sim nos desdobramentos e o impacto que a presença
macedônia fará no Egito, mais especificamente a legitimação religiosa de Alexandre o

4
Escola historiográfica surgida 1970, conhecida também como a terceira geração da Escola dos Annales,
seus principais expoentes são os historiadores franceses Jacques Le Goff e Pierre Nora, os ideais da
terceira geração e de ambos os autores são claramente elucidados nas publicações dos mesmos: História:
Novas Abordagens, História: Novos Objetos e História: Novos Conceitos.

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Grande no Egito, os usos da religião egípcia e grega pelo jovem rei e a autocriação de sua
imagem divinizada.
Somente os documentos escritos não possibilitariam a nós uma análise tão
minuciosa ou questionamentos tão específicos, são as moedas cunhadas sob a ordem de
Alexandre e a iconografia presente nas mesmas que responderam nossas indagações.
O tato com a cultura material é bem diferente do que nós historiadores estamos
acostumados, a cultura material e variada em sua forma, composição, utilização e
significado, não que os documentos escrito não sejam problemáticos, já que podem ser
adulterados e enviesados, mas os documentos materiais nos possibilitam uma ampla
análise da teia social que teve contato com aquele objeto, utilizou-o ou mesmo descartou-
o, é um equívoco gigantesco do historiador pensar que a cultura material é inerte, e que
oferece informações e verdades (MENESES, 1980) Toda essa discussão travada em
meados do século XX, só foi possível graças à renovação metodológica na História que
nos possibilitou ter o auxílio de ciências como a Arqueologia e Numismática na
interpretação e análise de diversos documentos, mais especificamente de nossas fontes.

1.2 - ORIGENS DIVINAS

Como qualquer príncipe na antiguidade Alexandre, o Grande teve que cedo


aprender a ser um típico homem da realeza macedônia, desde cedo o príncipe fora
iniciado na filosofia e nas artes do corpo – a clássica Paideia grega –,a personalidade de
Alexandre deve-se muito a sua posição social e política adquirida ao longo de sua
formação, sua precocidade política e militar sempre atestada por seus biógrafos tem
ligação direta com sua história pessoal, analisaremos inicialmente seu nascimento, o
evento coexiste com vários aspectos místicos e religiosos (PLUTARCO, 2005),
Alexandre nasceu no mesmo dia em que um terrível incêndio havia destruído o templo de
Ártemis em Éfeso, logo este evento será interpretado como um sinal divino.

Alexandre nasceu no mês de hecatombeon [outono], que os


macedônicos chamam loios, no dia do incêndio do templo de Ártemis
em Éfeso. A coincidência inspirou a Hegésias de Magnésia um
comentário que, pela sua frieza, poderia ter apagado o incêndio: “É
compreensível”, diz ele, “que o templo tenha queimado, pois Ártemis
estava ocupada trazendo Alexandre ao mundo!”. Todos os magos
então se encontraram em Éfeso julgaram que o mal que atingira o
templo anunciava um segundo; eles percorreram a cidade golpeando
seus rostos e gritando: “Este dia trouxe ao mundo ao mesmo tempo
um flagelo e um grande mal para a Ásia”. Em contrapartida, Filipe,

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que acabara de tomar Potidéia, recebeu três boas novas ao mesmo
tempo: a da derrota dos ilírios, vencidos por Parmênion numa grande
batalha, a da vitória em Olímpia de um cavalo de corrida que lhe
pertencia, e enfim a do nascimento de Alexandre. Ele ficou muito
feliz, como podemos imaginar, e os adivinhos aumentaram mais ainda
a sua alegria declarando que esta criança, cujo nascimento coincidia
com três vitórias, seria invencível. (PLUTARCO, 2005, p. 21-22)

Todo evento astrofísico na antiguidade era interpretado como sinal divino, raios,
cometas, eclipses são compreendidos por sacerdotes como dádivas e desgraças associadas
à agricultura, festas e política, é notável que na data de nascimento de Alexandre tal
evento tenha acontecido, é bem provável que desde a tênue infância Alexandre tenha sido
informado de sua chegada associada a um evento tão marcante quanto a destruição de um
templo, ainda mais o templo de Artémis em Éfeso que na época era uma dos maiores
complexos religiosos do mundo antigo, a forte ligação com o mágico é ainda mais
presente na genealogia de sua família que remonta ascendências divinas ligadas ao
período homérico, ligações de casas reais com deuses antigos e atributos sobrenaturais à
seus familiares, assim reforçando a ideia de que o próprio Alexandre era na verdade um
deus ou um heroi tal como Aquiles, Héracles ou Odisseu. Por mais incrível e estranho
que pareça era perfeitamente cabível para os gregos e macedônios a possibilidade da
descendência olímpica

É importante, contudo, compreender como tal ascendência divina poderia


parecer natural aos olhos de gregos e macedônios. [Já que a imortalidade
ou os atributos mágicos não impediam] a possibilidade de deuses e
deusas engendrarem mortais” (MOSSÉ, 2004, p. 79)

O parentesco divino sempre esteve presente na maioria das sociedades antigas, era
perfeitamente cabível que o chefe tribal, o faraó ou o rei tivesse sua ascendência
legitimada pelo divino, as grandes famílias aristocráticas atenienses exaltavam sua
ascendência divina nos herois e semideuses tais como Teseu, mesmo séculos depois na
Roma Antiga observamos tal mecanismo sendo utilizado por líderes como Júlio César ao
reclamar Vênus (Afrodite) como sua matrona protetora e sua companheira Cleópatra
Filopátor VII (Κλεοπάτρα Φιλοπάτωρ) com a deusa egípcia Ísis.
Alexandre descendia dos deuses tanto por seu pai Filipe II quando por Olímpia
sua mãe: a casa real da Macedônia dizia descender de Héracles (Hércules), do lado
paterno, Alexandre descendia de Hércules por Caranos (PLUTARCO, 2005, p. 19),
Héracles por sua vez é um semideus filho de Zeus com a mortal Alcmena, a divindade
Héracles em especial passa pela trajetória do heroi clássico que sai da vida pacata e desse

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aos infernos, passa por provas, para depois conquistar a glória (cf. CAMPBELL, 2011),
era tido como exemplo de determinação por seus doze trabalhos, além disso, os cultos
heroicos gregos exaltavam sempre a figura de Héracles como o maior heroi grego, várias
são as representações de Héracles ao longo da história grega, a cultura material Ática,
Lacedemônia e Egeia é repleta de cerâmicas e moedas associadas à divindade, além disso
várias são as cidades que tem Héracles como patrono. É preciso ter em mente essa
imagem do heroi mais célebre da mitologia grega, cujas vida, morte e apoteose
inspiraram os grandes poetas trágicos atenienses do século V, para compreender certos
aspectos da divinização de Alexandre” (MOSSÉ, 2004, p. 80) diversos templos e
festividades eram feitas em honra de Héracles em toda Hélade e no restante do mundo
grego, a sua imagem e culto serão de extrema importância na criação da figura do rei
deus que Alexandre adquirirá.
Não é somente Héracles povoa a linhagem mágica de Alexandre, Aquiles, o heroi
da Ilíada também está presente nesta árvore genealógica. Segundo historiadores antigos
Olímpia – mãe de Alexandre – descendia da casa real dos Eácidas que reinavam no
Épiro, a ligação divina pela parte de Olímpia dava-se pela nereida Tétis e o mortal Peleu
filho de Éaco. Peleu e Tétis foram os pais do “melhor guerreiro que a Grécia já havia
visto”, Aquiles. Alexandre possui uma ligação muito forte com o heroi de Tróia, Aquiles
era o modelo a ser seguido pelo jovem rei, como grande leitor da Ilíada Alexandre
conhecia de trás para a frente à história do famoso guerreiro. Aquiles e Héracles, grandes
herois sustentam a família de Alexandre. O filho de Zeus, exerce forte influência na
criação e autoafirmação de Alexandre enquanto ser divino. Os eventos do oráculo de Siuá
no Egito esclarecem ainda mais o uso dessas origens divinas, outros notáveis eventos
mágicos que permeiam o nascimento e vida de Alexandre, já na noite nupcial de Olímpia
e Filipe um sonho da princesa do Épiro perturbou o casal.

A noiva sonhou que havia uma tempestade e que um raio caía em seu
ventre: o choque produzia um grande fogo que se dividia a seguir em
diversas chamas; estas se propagavam em todas as direções, e então o
fogo se apagava. Quanto Filipe, pouco depois do casamento teve um
sonho no qual aplicava um sinete sobre a barriga de sua mulher:
parecia-lhe que a impressão do sinete representava um leão. Este sonho
suscitou a desconfiança dos adivinhos... O filho que ela carregava tinha
o humor colérico e a natureza de um leão (PLUTARCO, 2005, p. 19)

É evidente que o raio evoca Zeus, tal como o leão trás o símbolo da nobreza, não
necessariamente Zeus em sua forma divina havia copulado realmente com Olímpia, é

19
comum na mitologia grega evidenciarmos diversas vezes os deuses de transfiguram em
animais ou forças da natureza para terem com deusas ou mortais, o caso de Leda e o
cisne, Europa e o touro entre outros nos refutam tal afirmação, mas a ligação de
Alexandre com Zeus não fica restrita as explicações mágicas da genealogia macedônica,
outro relato que devemos ter em mente é o caso da serpente, certo dia Filipe vê uma
serpente no leito de sua esposa, o animal se prostrava ao lado de Olímpia enquanto ela
dormia, Felipe observava tudo pelo buraco da fechadura e por isso fora punido perdendo
um olho anos mais tarde em uma batalha. O caráter punitivo nos indica que Filipe II
estava invadindo a privacidade da serpente que representa um deus transfigurado em
animal, neste caso Dionísio a serpente tem ligação com o mito de Dionísio, – na verdade
com Zagreu que por diversas vezes é associado ao deus do vinho e das orgias – na
mitologia, não só Dionísio é associado à serpente, também Zeus se transfigura em uma
serpente e violenta sua filha Perséfone, que naquele momento ainda era conhecida como
Koré, já que a mesma ainda não havia sido raptada por Hades, esta versão do nascimento
de Dionísio é encontrada nos grandiosos poemas da Dionysiaca do poeta grego Nono de
Panópolis5.
Logo percebemos claramente a ligação da serpente com Dionísio e posteriormente
com Alexandre, a apoteose de Dionísio assim como a história de Aquiles são muitas
vezes encontradas em arquétipos da vida de Alexandre, os mistérios da Índia que tanto
encantaram Alexandre têm grande relação com Dionísio, que segundo a tradição grega
vem do Oriente, mais precisamente da Índia, ao chegar monte Olimpo conquistando
multidões e espalhando seus mistérios órficos e orgiásticos, seduzindo todos meros
mortais e fazendo-os delirar por sua presença, Quanto à serpente as coisas são um pouco
mais complicadas. A serpente fora associada ao Oriente tanto qual à figura fálica, a
mesma evoca a esse respeito uma tradição, segundo a qual Olímpia teria sido adepta de
práticas orgiásticas, às quais se entregavam as mulheres da região, em homenagem a
Dionísio. Quando participava dessas orgias ela trazia consigo grandes serpentes cativas
(MOSSÉ, 2004, p. 81), além disso, tanto Dionísio quanto Héracles tiveram que sofrer a
cólera de Hera, que enciumada trama sempre a destruição de ambos e de certa forma
consegue, pelo menos a vida mortal dos mesmos, já que ambos têm sua apoteose.

5
Νόννος - Nono de Panópolis, Dionísica, Livro V, 562-585.

20
Tanto Héracles, e Dionísio têm Zeus em comum em seu sangue, estas evidências
são de extrema importância para analisarmos os usos que o próprio Alexandre faz de sua
ascendência.

1.3 - A C ONQUISTA DA ÁSIA MENOR

Após a morte misteriosa de Filipe II, Alexandre é coroado rei da Macedônia e


Grécia (Hélade), o jovem rei fora acusado de conspiração juntamente de sua mãe Olímpia
na morte de Filipe, porém nada foi provado e Alexandre como primogênito torna-se rei, a
morte de Filipe desencadeia as rebeliões nas cidades gregas, que veem o momento
oportuno de voltarem a serem independentes e não estar sob a égide de um poder
monárquico, mas a destreza militar e política da estrutura macedônia impede que os
territórios sejam perdidos, Alexandre massacra os tebanos e atenienses e coloca um ponto
final nas rebeliões à seu poder, adora chegava a hora dos gregos se unirem para derrotar
um inimigo comum, os Persas.
Os territórios conquistados por Alexandre em sua expedição são de extensões
colossais, da Macedônia ao rio Indo, o rei guerreiro sobrepunha qualquer vilarejo, cidade
ou província que se encontrasse em seu caminho, desde sua saída de Pela o jovem rei
enfrentou duramente os exércitos do Grande-rei6 mesmo tendo saído da macedônia com
problemas econômicos. As conquistas dos territórios persas poderiam acarretar
problemas administrativos se a dominação não fosse efetiva e duradoura, pois a falta de
recursos nos cofres macedônicos poderia pôr em risco o pagamento dos exércitos e a
manutenção da expedição, sem a frente de batalha que era praticamente a única vantagem
que Alexandre detinha contra Dario III, Alexandre talvez não teria tanto sucesso. Os
exércitos macedônicos eram extremamente conhecidos por sua organização militar, as tão
famosas falanges faziam uma absurda diferença na movimentação das tropas, sem contar
a infantaria e cavalaria macedônia que sem dúvida era a mais organizada da Hélade e
quiçá do Mediterrâneo antigo, o próprio Filipe II já havia mostrado o poder militar
macedônio ao dominar as cidades-estados da Grécia.
Vencer o inimigo nos campos de batalha era só uma fraca parcela da
sua obra: seria necessário organizar e tornar duráveis os sucessos
alcançados pelas armas. O número de habitantes e o das tropas que
comandava estavam, em face dos exércitos persas da terra e do mar,
em uma relação quase idêntica. Sua leviandade parece temerária e

6
Dario III, rei dos aquemênidas (persas), Senhor da Ásia.

21
quase insensata quando acrescentamos que o tesouro da macedônia
tinha um déficit de 500 talentos quando Filipe morreu, enquanto
imensas reservas de ouro amontoavam-se nos cofres do Grande Rei,
em Susa, em Persépolis e em Ecbatana. Terminados os preparativos,
para os quais precisou usar oitocentos talentos, Alexandre só dispunha
de sessenta talentos. (DROYSEN, 2010, p.113)

Figura 1: Mapa do Império de Alexandre.


Fonte: DROYSEN, 2010.

Podemos perceber que a ida ao Oriente se demonstra economicamente necessária,


se pensarmos no número de riquezas que os butins poderiam trazer, e as riquezas que o
Oriente provia à Grécia, a península balcânica nunca fora uma eximia produtora de cerais
e nem detinha grandes reservas de metais, não à toa muitos historiadores atribuem o
milagre grego as condições naturais do território que fizeram os gregos se adaptarem e
acentuassem o comércio, mas é preciso entender que após a travessia do Helesponto os
macedônios estariam a mercê de sua própria sorte, a saída da Hélade foi preocupante
justamente pelo déficit econômico que os cofres macedônios apresentavam, levar a
civilização helênica ao Oriente e destruir o império Persa eram trunfos presentes na
imaginação de qualquer grego, Alexandre provavelmente nutria tal ideia desde a infância,
o conquistador sempre tivera interesse nas lendas do Oriente de Dionísio e das
maravilhas egípcias contadas por Heródoto. Além de sua curiosidade nata por outras
culturas, mesmo que segundo seu principal precursor Aristóteles somente a cultura grega

22
era digna de conhecimento e propagação, o restante dos povos deveriam ser aculturados e
sofrerem domínio militar e cultural (ARISTÓTELES, 2011) A travessia do Helesponto
foi incisiva, o território já fora dominado por Filipe e um estratego macedônico
administrava a região, lá Alexandre recebeu mais soldados, as tropas macedônicas
detinham grande contingente militar

Alexandre quando partiu para a Ásia levou consigo 1,5 mil cavaleiros
tessalianos, seiscentos cavaleiros e 7 mil infantes escolhidos entre os
contingentes gregos aliados, 5 mil infantes que eram mercenários
helênicos e, por fim alguns trácios a pé e alguns odrisianos e paiônios
a cavalo. Segundo a tradição mais segura [Arriano], parece que as
forças totais do exército que se pôs em marcha para o Helesponto
quase não ultrapassavam 30 mil infantes e 5 mil cavaleiros
(DROYSEN, 2010, p.119)

Após atravessar O Helesponto Alexandre chega a Ílion (Troia) e seus afazeres


religiosos se intensificam, Alexandre adentra à terra que povoa as aventuras de seu
querido antepassado Aquiles e sob aquela terra os gregos se mostraram poderosos, por
isso a jornada religiosa de Alexandre pode-se dizer tem mais significância após sua
estadia em Troia, a presença da Ilíada na configuração do imaginário de Alexandre é
intensa, ele considerava a Ilíada o grande manual da virtude militar e assim a
denominava, ele havia recebido uma versão corrigida por Aristóteles, chamada de edição
“da Caixinha” e, segundo Onesicrito, guardava-a sempre embaixo do travesseiro junto
com seu punhal. (PLUTARCO, 2005, p. 27) Alexandre presta libações e sacrifícios aos
deuses e herois recorrentes na guerra de Troia, não devemos desassociar que a Guerra de
Troia tal como a Ilíada nos atesta era uma verdade indiscutível para Alexandre e boa
parcela da população grega.

Logo Alexandre se desloca até o porto dos aqueus desde os tempos de


Aquiles e Agamenon. Nas margens erguiam-se os outeiros funerários de
Ajax, Aquiles e Pátroclo. Chegando ao meio do Helesponto, Alexandre
com uma taça de ouro, fez libações às nereidas e a Poseidon. Então
aproximou-se da praia. A tirreme de Alexandre foi a primeira a atracar.
Da proa, o rei lançou seu dardo na terra para tomar posse dela e foi o
primeiro a descer na praia, vestido com sua armadura brilhante. Ordenou
que fosse erguido um altar naquele local, para designá-lo à veneração dos
séculos futuros. (DROYSEN, 2010, p.132)

Os sacrifícios e cultos a Aquiles são ricamente comentados por vários


historiadores, Ele subiu até Ílion, onde ofereceu um sacrifício à Atena e libações aos
herois. Sobre o túmulo de Aquiles, após esfregar o corpo com óleo e correr nu com seus

23
companheiros, conforme o costume, ele depositou uma coroa: “Feliz és tu”, gritou ele,
por teres tido, enquanto vivo, um amigo fiel, e, depois da morte, um grande arauto para te
celebrar! (PLUTARCO, 2005, p.35) Após os sacrifícios a Atena, Alexandre consagrou suas
armas à deusa e pegou no seu lugar as armas que estavam no templo, notadamente o escudo
sagrado, diziam ter sido forjado para Aquiles. Ele ofereceu sobre o altar de Zeus, protetor dos
rebanhos, um sacrifício à alma de Príamo, para apaziguar sua cólera contra a linhagem de
Aquiles, que havia ferido o real ancião diante do fogo sagrado. Sobretudo, homenageou a
memória de seu venerado ancestral. Ungiu e coroou com flores o túmulo do heroi de quem
Alexandre logo não teria nada a invejar a não ser o poeta que havia cantando suas façanhas. Seu
amigo Heféstion fez o mesmo sobre o túmulo de Pátroclo. Depois realizaram-se jogos de todos os
tipos [...] e no fim ordenou que Ílion (Troia) fosse reconstruída (DROYSEN, 2010, p. 132)
Logo na primavera de 334 a.C. Alexandre se opôs a Dario, sabia que necessitava
cumprir com sua tarefa de livrar as cidades gregas da Ásia Menor da tutela persa. Porém
as cidades de fundação grega na Ásia Menor tinham relações ligeiramente amistosas para
com o Grande Rei, algumas famílias aristocráticas gregas tinham um relacionamento
positivo com os sátrapas persas, isso poderia se configurar em um ponto negativo, até
porque devemos salientar que Alexandre e Filipe II nunca foram totalmente aceitos pelos
helenos, Alexandre sabia há muito tempo disso, desde que fora reunir seus exércitos e
percebeu que a Liga de Corinto não parecia estar tão interessada na conquista da Pérsia,
por isso a investida contra os persas teria que ser certeira e fulminante, não à toa a batalha
de Granico é tão importante e pontual.
Em Granico, onde Alexandre arremeteu sua cavalaria contra a
cavalaria persa, aniquilando-a. Em algumas semanas, tornou-se senhor
da Frigia Helespôntica e da Lídia, apoderando-se da capital desta
última, Sardes. As consequências desse rápido sucesso se fizeram
sentir. As cidades gregas da Jônia aderiram ao vencedor, que lhes
impôs regimes democráticos e proclamou sua autonomia e a supressão
do tributo que antes pagavam. Em todo caso, é o que Diodoro afirma
(XVII, 24 1), mas não parece que as cidades gregas libertadas tenham
sido admitidas no seio da Liga de Corinto. (MOSSÉ, 2004, p.29)

Os homens de Dario III sob as ordens do grego Mêmnon de Rodes conseguem


barrar a primeira tentativa de entrada do exército macedônio em Halicarnasso, assim
Alexandre muda a direção das tropas e marcha em direção à grande Frígia, Mêmnon não
só resiste como também empenha uma campanha marítima que ameaça os territórios da
Hélade, Quio e Lesbos são dominadas, porém a morte de Mêmnon afeta as frontes de
batalha, Alexandre e seus generais aproveitam o episódio para investir massivamente na
entrada à Síria, o Grande Rei não reforça seus exércitos em terra e mesmo com um

24
número de combatentes praticamente iguais aos de Alexandre a cavalaria e as falanges
macedônias destroçam os persas em Issus, a batalha é decisiva, pois configura a fuga de
Dario e a primeira grande conquista de Alexandre na Ásia, já em novembro de 333 a.C.
Alexandre segue seu domínio pela Síria-Palestina, tendo apenas o problema do cerco de
Tiro.
Onde os tirianos resistiram ao domínio por cerca de oito meses, o cerco só
sucumbiu em julho de 332 a.C. Após o enfraquecimento da resistência de Tiro e
Alexandre transformar a ilha de Tiro numa península, sob suas ordens de depositar os
destroços da antiga cidade continental e criar uma ponte, onde suas armas de guerra
puderam transpor as muralhas da cidadela, o gênio militar de Alexandre sempre será
associado à interferência divina, nesta ocasião Alexandre viu em sonho Héracles
estender-lhe a mão e chamá-lo do alto da muralha e do lado de lá, muitos tirianos
ouviram Apolo dizer-lhes em sonho que se juntaria a Alexandre porque não gostava do
que acontecia dentro da cidade. (PLUTARCO, 2005), Eles trataram então o deus como
um desertor surpreendido a passar para os inimigos; eles envolveram com que cordas sua
estátua colossal e a pregaram no seu pedestal, denominando-o: “Alexandrista”. Alexandre
teve outro sonho. Um sátiro apareceu-lhe; de longe, parecia querer brincar com ele, mas
em seguida, como Alexandre insistia e dividiram a palavra sátiro e disseram a Alexandre
de maneira assaz convincente, que a cidade seria “sua Tiro” Ainda existe a fonte onde
Alexandre acreditou ver em sonho esse sátiro. (PLUTARCO, 2005, p. 47)
Obviamente que esses aspectos do mágico e religioso são considerações dos
historiadores antigos, que devemos questionar, mas não invalidar. A marcha até Gaza foi
tranquila, Alexandre havia deixado para trás homens de sua confiança e generais
responsáveis por manter a ordem e evitar rebeliões lideradas por algum sátrapa ou
qualquer outro aliado aos persas. Não restava empecilhos para Alexandre adentrar nos
domínios egípcios, o místico país – que nunca esteve na rota de domínio – esperava pela
visita do heroi que no momento muito simbolizou a liberdade do julgo persa para muitas
cidades e povos, a incursão ao Egito será fundamental na autocriação de um Alexandre
divino.

1.4 – CAMPANHA DO E GITO

Após o domínio de Gaza e sua transformação em entreposto militar, Alexandre se


demonstra benevolente e interessado pelas diversas culturas do Oriente, antes mesmo de

25
chegar ao Egito, Alexandre age politicamente acerca do contato com os povos hebraicos,
umas das primeiras ações de Alexandre é fazer sacrifícios a Jeová. As tradições hebraicas
nos dizem que, depois da queda de Gaza, Alexandre realizou uma expedição pelas
províncias judias e samaritanas. Contam que, nas cercanias de Jerusalém, o sumo
sacerdote, acompanhado por todo o clero paramentado com ornamentos sacerdotais,
compareceu diante do rei e saudou-o como sendo aquele que os livros santos anunciavam
como destruidor do poderio persa. O rei teria sido muito benevolente em relação a eles.
Teria deixado que mantivessem em vigor suas leis e os teria exonerado do imposto a cada
sete anos. Além disso, teria feito um sacrifício solene no templo de Jeová, seguindo as
indicações do sumo sacerdote. Esse sacrifício motivou muitos comentários, mas é difícil
saber a verdade, pois os autores dignos de fé não o mencionam, e as afirmações dos
judeus e dos samaritanos se contradizem. (DROYSEN, 2010, p. 213).
Esta será uma peculiar marca em Alexandre, que terá um comportamento
semelhante a respeito dos deuses egípcios, a entrada de Alexandre no Egito acontece de
maneira especifica, sem nenhum grande conflito, ou resistência por parte dos egípcios,
obviamente a conjuntura política do Egito naquele momento propiciou isso. O território
egípcio sempre fora cobiçado pelos persas, não só por sua legendária história e, mas
também pela sua importância econômica, que no período rivalizava com o crescente fértil
mesopotâmico. O Egito tido na antiguidade como o celeiro do mundo não tinha esse
título à toa, as produções de cereais egípcias eram gigantescas, dar-se-ia pelas regulares
cheias do Nilo, diferentemente das incontroláveis cheias do Tigre e Eufrates (PINSKY,
2013).
Na última metade do século VI a.C. o general persa Cambises II havia dominado
o povo egípcio, findando com ele a administração, deveras teocrática dos faraós, o povo
egípcio por diversas vezes se rebelava contra o julgo persa, mas pouquíssimas vitórias
foram contabilizadas, muitas vezes as elites e a nobreza interessadas na reestruturação da
monarquia se utilizaram de mercenários gregos na composição de seus exércitos e até
mesmo de soldados vindos de Atenas e Esparta, quando as mesmas possuíam alianças
com o Egito. As notícias do avanço macedônio só despertam a esperança da enfim
derrocada Persa, o povo egípcio vê em Alexandre o libertador da opressão persa.
Os povos deviam reconhecer que ele [Alexandre], vinha com o
objetivo de libertação e edificação, que respeitaria sua fé e suas
crenças e deixaria subsistir seus hábitos e seus costumes. Nada
ofendera mais os egípcios do que ver o rei Ochos [Cambises] abater
com um golpe de gládio o touro sagrado [Ápis]. (DROYSEN, 2010, p.
214)

26
Alexandre ao migrar de Gaza até Pelúsio já afugenta o insignificante número de
persas residentes em terras egípcias, sem nenhuma batalha ou defesa o sátrapa Mazakes
entrega o Egito à Alexandre, não era de se esperar muito de Mazakes, a fama do exército
macedônio crescia desde a saída de Pela e já tinha chegado aos ouvidos dos persas em
Persépolis, o Egito estava isolado da Babilônia, a dominação alexandrina na área da
Síria-Palestina fez com que o contato dos aquemênidas com egípcios fosse destruído,
assim qualquer tipo de resistência duraria pouco tempo, além de que o povo egípcio de
modo algum defenderia os persas, como já citado acima, Alexandre é bem recebido no
Egito justamente por ser o libertador da opressão persa, o rei macedônio logo percebe
essa confiança e esperança dos egípcios para se articular politicamente com as elites e
também com o povo.
Alexandre adentra o território egípcio seguindo o contra fluxo do rio Nilo em
direção a Mênfis, na capital tornou-se formalmente faraó do Egito, como o haviam sido os
reis persas, e procurou conciliar a única “classe instruída” do Egito, os sarcedotes. Para o
politeísmo flexível da Grécia isso foi relativamente fácil, particulamente em contraste com os
odiados persas, monoteísta [zoroastrismo] e doutrinarios. Alexandre sacrificou Àpis, ao passo
que o conquistador persa Cambises havia degolado o touro sagrado. (BURN, 1963, p. 96) após
os cultos em Mênfis ele foi consultar o oráculo de Amon no oásis de Siuá e deu ordem
para que se prosseguissem as obras nos santuários egípcios mais reputados (Karnak,
Luxor), onde foi representado como faraó. Conseguiu assim o apoio da influente
categoria social constituída pelos sacerdotes e administradores de santuários. (BRIANT,
2011, p. 85)
Os templos de Luxor e Karnak, serão finalizados no período ptolomaico, os
mesmos ainda se encontram no Vale dos reis e são consagrados à Amon-Rá, divindade
esta que será primordial na legitimação de Alexandre no Egito, o respeito especifico a
essa divindade dar-se-ia após os eventos em Siuá. A seguir podemos observar um baixo
relevo interessante demonstrando Alexandre com vestes egípcias e sendo retratado tal
como a tradição egípcia, sabemos que é Alexandre graças ao seu nome inscrito em
hieroglífico.

27
Figura 2: Baixo relevo na parede do templo de Luxor,
Amon-Ra (direita) recebe Alexandre (esquerda).
Ao lado detalhe do nome de Alexandre em hieróglifo
Fonte: Wikimedia Commons7

1.5 – CONSTRUÇÃO DE ALEXANDRIA

A campanha egípcia tem um grande momento quando Alexandre tem um


misterioso sonho e concretiza seu desejo de fundar uma cidade grega no Egito:
Alexandria. Dizem, na verdade, que depois de tomar o Egito, o rei quis fundar ali uma
cidade grega, grande e bem povoada, e dar-lhe seu nome. Ia-se medir e delimitar o lugar
designado pelos arquitetos, quando durante a noite, Alexandre teve, durante o sono um
sonho surpreendente. Pareceu-lhe que um homem de cabelos muito brancos que parecia
bem idoso, estava a seu lado e recitava os seguintes versos épicos: “Vem em seguida ilha
no mar agitado, Na frente do Egito: ela é chamada de Faros” [Odisseia, IV v. 354-355]
(PLUTARCO, 2005, p. 50)
É evidente que o homem ao qual Alexandre vê em seu sonho é Homero, logo o
jovem rei vai até Faros, inspeciona a ilha e manda construir-lhe um farol enorme, que
seria utilizado para o porto que ficaria no continente, no delta do Nilo, a escolha de o

7
Disponível em: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Louxor_Amon_Ra_Alexandre.jpg >. Acesso
em: 24/11/13.

28
delta é clara, área mais próxima do território egípcio da Hélade, a confluência de
informações e navegação no Mediterrâneo estariam próximas dos olhos do rei, Alexandre
demarca o território da cidade tal como os herois as faziam.

Como não havia giz, usou-se farinha e traçou-se no chão escuro uma
superfície em arco de círculo com o perímetro interior fechado por
linhas retas que fechavam simetricamente o espaço, dando-lhes a
forma de uma clâmide encolhendo a partir das franjas. O rei
contemplava este traçado com grande satisfação quando, de repente,
vinda do rio e do lago, uma multidão de pássaros de todas as espécies e
de todos os tamanhos cobriu o local com uma grande nuvem e não
deixou um grão de farinha para trás. Alexandre ficou perturbado com
tal augúrio. Mas os adivinhos o tranquilizaram dizendo que a cidade
que ele fundaria seria muito rica e alimentaria os homens de todos os
países. (PLUTARCO, 2005, p. 50)

Alexandre logo ordena a construção da cidade, a escolha do local não depende


obviamente só de pretensões míticas e religiosas, a preocupação central de Alexandre
além de econômica também é militar, proteger o delta é essencial, já que nesse momento
os persas ainda estão lutando no mar Egeu, além disso, aparecer como fundador de uma
cidade se inscrevia na perspectiva heroica que o animava.

1.6 - O OÁSIS DE ZEUS AMON: A CONSTRUÇÃO DO REI DEUS

O aspecto religioso sempre atraiu Alexandre, o Egito se apresenta como um


ambiente novo, repleto de mistérios que só ajudaram a enaltecer a figura divina de
Alexandre, A primeira etapa visível da evolução de Alexandre se situa no Egito, onde ele
decidiu consultar os sacerdotes do célebre santuário de Amon no oásis de Siuá (BRIANT,
2010, p. 96), Quem melhor narra o evento do Oásis de Siuá é o historiador Quinto
Cúrcio, o autor antigo denota especificamente os passos do jovem rei macedônio de
Mênfis até Siuá.
De Mênfis Alexandre navegou rio acima e penetrou no interior do
Egito, onde, depois de ter resolvido questões administrativas sem
interferir com as tradições egípcias, ele decide visitar o oráculo de
Zeus-Amon. A viagem que tinha de ser feita dificilmente poderia ser
gerenciada mesmo por um pequeno grupo de soldados levemente
armados: a terra e o céu com falta de umidade; as areias totalmente
estéreis, banhadas pelo sol escaldante o solo queimava os pés e o calor
era insuportável. Além das altas temperaturas e secura do terreno,
também tiveram de lidar com qualidade tenaz da areia, que, pela sua

29
profundidade era difícil abrir caminho a pé [Quinto Cúrcio].
(GERGEL, 2004, p. 65, tradução nossa)8

A peregrinação até o oásis se demonstrou complicada, a tenacidade da terra, o clima


hostil, temperaturas insuportáveis e uma longa caminhada só criavam ainda mais um
perfeito cenário para mais uma possível aventura, os registros nos contam acerca de
diversas dificuldades que a campanha de visitação até Siuá sofreu, porém logo nos relata
também as providências mágicas e religiosos que facilitaram a travessia de Alexandre,
estes relatos obviamente foram tanto criados e enriquecidos, pelos egípcios quanto pela
historiografia – se é que podemos chamar assim – de Alexandre. As ocasionais aventuras
sempre foram alimentadas pelo próprio, tanto com o objetivo de se mostrar superior –
não só como homem – como rei e principalmente divino, filho dos deuses.
O primeiro e segundo dia as dificuldades pareciam suportáveis, pois
ainda tinha que chegar às vastas extensões de deserto, embora até
agora a terra era estéril e sem vida. No entanto, quando planícies
cobertas com areia profunda apareceram, era como se estivessem
entrando em um vasto mar e seus olhos em vão procuraram terra -
nenhuma árvore era para ser vista, e não havia um traço de solo
cultivado. Eles também tinham acabado com a água, que foram
transportadas m peles de camelos, e no solo árido e areia ardente nem
uma gota era encontrada. O sol também tinha tostado tudo, e suas
gargantas estavam secas e queimadas, quando de repente - se era um
presente dos deuses ou puro acaso - nuvens no céu esconderam o sol,
proporcionando alívio enorme para eles, exausto como estavam pelo
calor, mesmo apesar da ausência de água. Na verdade, porém, ventos
fortes agora derramadas quantidades generosas de chuva, do qual cada
homem recolheu seu próprio abastecimento, alguns deles, selvagens,
com tanta sede, tentavam pegar água com bocas escancaradas. [Quinto
Cúrcio] (GERGEL, 2004, p. 65, tradução nossa)9

8
Original - From Memphis Alexander sailed upstream and penetrated into the interior of Egypt where,
after settling administrative matters without tampering with Egyptian traditions, he decides to visit the
oracle of Jupiter Ammon. The journey that had to be made could scarcely be managed even by small band
of soldiers lightly armed: land and sky lack moisture; the sands lie flat and barren, and when they are
seared by the blazing sun the ground swelters, and burns the feet and the heat is intolerable. Apart from
the high temperatures and dryness of the terrain, one also had to contend with tenacious quality of the
sand, which, because of its depth and the fact that it gives way to the tread, is difficult to negotiate on
foot. [Quintus Curcius].
9
Original - The first and second day the difficulties seemed bearable, for they had yet to reach the vast
stretches of naked desert, though even now the earth was barren and lifeless. However, when plains
covered with deep sand appeared, it was as if they were entering a vast sea and their eyes vainly looked
for land – no tree was to be seen, not a trace of cultivated soil. They had also run out of water, which had
been carried in skins by camels, and in the arid soil and burning sand not a drop was to be found. The sun
had also parched everything, and their throats were dry and burned, when suddenly – whether it was a gift
of the gods or pure chance – clouds shrouded the sky and hid the sun, providing enormous relief for them,
exhausted as they were by the heat, even despite the absence of water. In fact, though, high winds now
showered down generous quantities of rain, of which each man collected his own supply, some of them,
wild with thirst, attempting to catch it with gaping mouths. [Quintus Curcius].

30
Por diversas vezes notamos descrições sobre os fantásticos eventos que assolaram
o caminho da marcha macedônia até o oráculo de Siuá, a peregrinação de Alexandre se
demonstra necessária para o âmago e construção do rei deus, Alexandre assim como
Héracles precisa de uma digna aventura, tal como os grandes herois, a etapa mais
significativa da construção do Alexandre rei deus se dá no Egito mais especificamente no
caminho até Siuá, Mas o chamariz de nossa análise se encontra nos aspectos que as
moedas e a cultura material podem nos apresentar, a chegada até o oásis e a consulta ao
oráculo denotam exatamente aquilo que poucos anos Lisímaco fará com a imagem de
Alexandre nas tetradracmas.
Primeiramente devemos ter em mente o quão era renomado o oráculo de Zeus-
Amon, a associação das divindades grega e egípcia já acontecia há muito tempo, e a
própria história pessoal de Alexandre remonta isso, Felipe II ao querer saber notícias
sobre o nascimento de seu filho e de seu possível sucesso militar enviou a Delfos, Cairon
de Megalópoles, que trouxe, dizem o seguinte oráculo: “O deus ordenava que ele fizesse
sacrifícios a Amon e reverenciasse particularmente este deus” (PLUTARCO, 2005, p.21),
As divindades egípcias sempre tiveram uma grande associação e comparação com as
divindades de Hélade, as semelhanças e atributos dos deuses constituíam uma linha muito
tênue, o que fomentou o processo sincrético e transcultural. Os atributos de Amon, ora, se
confundem com os de Zeus e o sincretismo acontece de forma natural, debates
historiográficos são travados a todo o momento no cerne da formação do Panteão grego,
Heródoto em Euterpe, segundo livro de História nos relata sua passagem pelo Egito e
suas observações, segundo o autor a maioria das divindades gregas são originárias do
Egito e o costume grego muitas vezes provém do Egito.
De fato, a Hélade recebeu do Egito quase todos os nomes dos deuses.
Estou convencido de haver descoberto que eles vieram dos bárbaros –
sobretudo do Egito –, penso eu. À exceção de Posêidon e de Dióscuros,
como já disse anteriormente, e de Hera, de Têmis, das Graças e das
Nereidas, os nomes de todos os outros deuses sempre foram conhecidos
no Egito (repito as palavras dos próprios egípcios). Segundo me parece,
os deuses cujos nomes eles dizem não conhecer receberam os seus
nomes dos pêlagos, exceto Posêidon, conhecido por eles através dos
líbios, o único povo que desde sua origem têm um deus com o nome de
Posêidon e que sempre cultuou esse deus. Mas os egípcios não dedicam
qualquer culto aos os heróis. (HERÓDOTO, História, 2006 II, pg. 50)

O trecho acima denota claramente a descoberta de Heródoto, mas anos mais tarde
seus estudos serão altamente criticados, Plutarco por sua vez em A Malícia de Heródoto
faz uma análise minuciosa sobre a obra de Heródoto, Plutarco nos denota que a leitura

31
herodotiana é confusa, pois Heródoto analisa os fatos alterando as devoções e purezas dos
assuntos sagrados dos gregos com imposturas e ficções dos egípcios (PLUTARCO, A
Malícia de Heródoto, 857E). Obviamente não iremos nos alongar na discussão
historiográfica sobre Plutarco e Heródoto, mas é significativo e necessário termos uma
singela ideia dessa discussão, não podemos tomar por correto ou absoluto os relatos de
Heródoto, assim como de nenhum historiador. Professora Doutora Maria Aparecida de
Oliveira Silva analisa exatamente esta questão da visão plutarquiana no Egito no capítulo
7 (Plutarco e o Egito) da obra Um outro mundo antigo10.
A aproximação religiosa já existia entre gregos e egípcios desde tempos
imemoráveis, o mediterrâneo que separava os dois territórios muitas vezes parecia
pequeno no que consistem as redes de comércio e cultura entrelaçadas pelas duas
civilizações, além de Heródoto, Pitágoras, Sólon entre outros conhecidíssimos gregos
transitaram nas terras egípcias, Ao lado de gregos, romanos e egípcios, estavam os
persas, que antecederam gregos e romanos no domínio do império egípcio. É nessa
conjuntura que se desenha um jogo de poderes no qual as manifestações culturais
também significam a materialização do poder local quer de gregos, romanos, egípcios ou
persas (SILVA, 2013, p. 172).
O Egito sofre uma efervescência cultural impressionante, os valores gregos e
egípcios se misturavam, mas efetivamente o que irá intensificar as trocas culturais será a
presença alexandrina no Egito. Logo evidenciamos que a divindade Zeus Amon – já
cultuada no Egito e Grécia –, será altamente venerada em Alexandria até os tempos
romanos.
O intercâmbio cultural e econômico entre gregos e egípcios foram
intensificados após a conquista de Alexandre, o Grande, e mais tarde
com a tomada do poder por Ptolomeu e seus descendentes. O Egito
conquistado por Alexandre em 332 a.C. estava longe de ser aquele de
Tutmósis III e Ramsés II. (SILVA, 2013, p. 173)

Siuá era um local que representava muito bem isso, lar do oráculo e templo de
Zeus-Amon, fez com que o conquistador ficasse tentado a descobrir seu destino através
das palavras do deus, ao adentrar no templo os sacerdotes o receberam com animação,
Alexandre pôs se a indagar a respeito do oráculo e o consultou, Alexandre logo
questionou o oráculo a respeito dos assassinos de seu pai, segundo autores antigos

10
SILVA, M. A. O. Plutarco e o Egito In: Kátia Maria Paim Pozzer, Maria Aparecida de Oliveira Silva e
Vagner Carvalheiro Porto. (Orgs.). Um Outro Mundo Antigo. São Paulo: Annablume, 2013, v. 1, p. 171-
196.

32
Alexandre teria perguntado “Algum dos assassinos de meu pai escapou de sua punição?”
(cf. PLUTARCO, 2005), porém o profeta disse-lhe para vigiar sua língua, pois seu pai
não era um mortal, novamente nos deparamos com o conflito travado no início do
capítulo, Filipe II não seria realmente o pai de Alexandre, mas sim algum deus,
obviamente segundo a tradição grega isso era totalmente plausível, assim Alexandre
reitera a pergunta modificando a palavra pai por Filipe, o oráculo prontamente responde
que sim, Alexandre continua seus questionamentos e pergunta: “Tu me concedes o
império da terra inteira?” (cf. ARRIANO, 1976) e o oráculo firmemente afirma que o
mundo será seu.
Alexandre oferece mais sacrifícios e libações ao oráculo e a Zeus-Amon, oferece
presentes e dinheiro ao templo e seus sacerdotes, outro evento essencial na construção do
Alexandre divino é o que Plutarco nos conta logo após a mítica consulta ao oráculo de
Amon.
Segundo alguns, o sacerdote, querendo saudá-lo afetuosamente em grego
dizendo païdion [“meu filho”], colocou um sigma no final da palavra, por
causa de sua pronúncia bárbara; ele disse pai Dios [“filho de Zeus”],
substituindo o ni por um sigma. Este lapso muito agradou a Alexandre, e
espalhou-se o boato de que o próprio deus saudava-o com o título de filho
de Zeus. (PLUTARCO, 2005, p. 52)

Alexandre proclamou a si mesmo como filho de Zeus, agora a ele não restariam
mais dúvidas acerca da sua descendência, a articulação política religiosa de Alexandre é
observada intensamente neste momento, ao voltar para Mênfis Alexandre já ordena a
cunhagem de moedas com signos religiosos gregos referentes à Héracles e à Zeus, logo a
iconografia grega se fundirá propositalmente com a egípcia no intuito de mostrar a
proximidade entre os povos que compartilham de um só rei. Para assimilar mais ainda a
ideia de Alexandre como suserano do Egito o rei associa, juntamente com os sacerdotes
de Amon sua imagem divina se proclama filho de Zeus-Amon, com o Egito conquistado,
ao lado da simpatia do povo egípcio Alexandre se sente extremamente confortável para
criar sua imagem divinizada, a aceitação dos egípcios por essa ideia pode parecer
imbecil, mas é só analisarmos o poder que o faraó detinha no Antigo Egito, e os símbolos
que o mesmo carregava e simbolizava (BAKOS, 2010).
Não podemos pensar apenas que a ideia da associação foi manobra política
arquitetada pelos macedônios e Alexandre, existia é claro o temor pelos deuses
desconhecidos. Se o oráculo de Zeus-Amon diz que o mesmo é filho do deus, Amon e
Zeus, na verdade são a mesma divindade e o filho de Amon-Rá no Egito é qualificado

33
como o próprio Hórus, ou seja, o faraó, a quem tem o direito divino de reinar sob os
egípcios.
Alexandre com toda certeza teve acesso as obras de Heródoto, Aristóteles
obviamente o fez conhecer este grande grego e é também em Heródoto que o próprio
Alexandre vê-se correlacionar os mistérios de Zeus com os de Amon. Nos sacrifícios a
Zeus eram normalmente imolados novilhos, carneiros e cabras, animais de médio e
grande porte, porém observamos que no Egito, mais em especificamente em Siuá,
carneiros e cabras não eram levados ao sacrifício.

Se abstêm de sacrificar ovelhas, assim procedem em virtude de uma lei,


motivada pelo seguinte fato: Hércules, segundo contam, desejava
ardentemente ver Júpiter, mas esse deus não queria ser visto. Por fim,
como Hércules não deixava de fazer solicitações nesse sentido, Júpiter
recorreu a um artifício: matou um cordeiro, cortou-lhe a cabeça e,
colocando-a à frente da sua, revestiu-se da lã, apresentando-se assim a
Hércules. É por essa razão que as estátuas de Júpiter no Egito
representam o deus com uma cabeça de cordeiro. (HERÓDOTO, livro II,
2006, p. 153)

Das implicações de Heródoto ressaltaremos duas: primeiramente o culto de Zeus-


Amon já continha vários aspectos sincréticos, observamos no trecho acima a presença de
Héracles, a trajetória desse heroi também se confunde com as práticas religiosas egípcias,
a pele de cordeiro usado por Zeus se assemelha muito ao episódio em que Héracles vence
o temível leão de Nemeia e se veste com a pele do leão, além disso o cordeiro é um
animal simbólico na antiguidade, no Egito em específico o animal tinha uma grande
ligação com Amon, já que a forma antropomórfica do deus é um carneiro.

Figura 3: iconografia de Amon e seu nome em hieróglifo


Fonte: CASTEL, 2001, p. 15

34
A proibição dos sacrifícios de ovinos é evidente já por este fato, além disso,
devemos nos atentar nas palavras de Heródoto, ao observar a cultura material egípcia, no
caso às esfinges que guardam a entrada do templo de Karnak, templo dedicado a Amon,
sua construção se inicia a mando de Alexandre, mas só se concretiza anos mais tarde
pelos Ptolomeus, observamos claramente inúmeras esfinges com feições de carneiros,
animal está ligado à Amon e posteriormente à Zeus Amon.

Figura 4: Esfinges com formato de carneiro na entrada do templo de Karnak.


Fonte: Enciclopædia Britannica11

Os atributos de Amon serão associados também aos de Zeus, evidenciamos isto


em diversas estátuas pública no mundo grego, principalmente em Alexandria, camafeus
romanos entre outros exemplos da cultura material que sofre esse sincretismo que fora
acentuado a partir da conquista macedônia, abaixo podemos observar um exemplo,
estatuas de Júpiter (Zeus), as estátuas de Júpiter no Egito representam o deus com uma
cabeça de cordeiro (HERÓDOTO, livro II, 2006, pg. 153), nenhuma estátua de Zeus-
Amon da cidade de Siuá sobreviveu, mas inúmeras estátuas romanas sobreviveram ao
tempo.

11
Disponível em: < http://www.britannica.com/EBchecked/topic/492674/Re > Acesso em: 24/11/13

35
Figura 5: Zeus-Amon, os cornos de Amon são representados como cifres de carneiro.
Fonte: © Musée Calvet Avignon12

O cordeiro, carneiro e bode habitam também o imaginário dos povos da


Mesopotâmia e Oriente, os hebreus têm uma relação intrínseca com tais animais que
eram imolados em seus sacríficos, é possível evidenciar nos textos bíblicos, inúmeras
passagens que exemplificam o quão simbólico tais animais podem ser, mas
especificamente no livro profético de Daniel observamos profecias com relação a estes
animais e Alexandre, pelo menos essa e a leitura que a tradição eclesiástica faz da
mesma, vejamos a seguir as curiosas palavras.

Eu estava olhando o rio Ulai. Dei com os olhos num bode postado diante
do rio. Tinha chifres altos, mas um era mais alto que o outro, só que esse
mais alto tinha crescido depois. Notei que o bode dava chifradas para o
ocidente, para o norte e para o sul e nenhum animal lhe podia resistir.
Nenhum escapava dele, que ia fazendo o que queria e progredindo
sempre. Eu estava refletindo sobre isso, quando apareceu um carneiro que
vinha do ocidente, sobrevoando o mundo inteiro sem ao menos tocar o
chão. Tinha um chifre bem visível, exatamente no meio, entre os olhos.
Ele veio na direção do bode de dois chifres, que eu tinha visto diante do
rio Ulai, e atirou-se contra ele com toda a fúria. Eu o vi atacar o bode,
agredindo-o furiosamente e quebrando-lhe os dois chifres. O bode não
teve forças para resistir. (DANIEL: 8: 2-7)

12
Disponível em: < http://www.musee-lapidaire.org >. Acesso em: 24/11/13.

36
A enigmática visão de Daniel nos apresenta Alexandre e Dario no confronto pela
Ásia, o bode com dois chifres é na verdade o imperador aquemênida, os dois chifres os
medos e persas, o bode é forte e avança para o ocidente, já o carneiro vem voando, rápido
e atravessa o mundo inteiro em direção ao oriente, tem apenas um chifre, pois é a
unidade, suas patas não tocam o chão e o mesmo destroça o bode, Alexandre é o carneiro,
ainda em Daniel podemos perceber mais aspectos que representam Alexandre. O carneiro
progrediu muito mais ainda. Mas no auge de sua força, quebrou-se o seu grande chifre e
no lugar dele, brotaram quatro chifres cada um voltado para um lado da terra (DANIEL:
8:8), Alexandre como sabemos morre muito jovem com apenas 33 anos, tendo
conquistado um território assustadoramente imenso, seu império é dividido por seus
quatro importantes generais – Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu –. Daniel não
compreendendo bem tem a ajuda do anjo Gabriel que lhe explica a visão profética. O
bode que viste com dois chifres são os reis dos medos e dos persas. O carneiro é o rei da
Grécia e o chifre enorme que tinha entre os olhos é o primeiro rei. Quebrado este, os
quatro reis da mesma nação que vão substituir este primeiro, mas não com o mesmo
poder. (DANIEL: 8:20-22)
As comunidades judaicas da Palestina haviam passados anos sob o cativeiro na
Babilônia, lá os textos bíblicos, começaram a serem compilados, tais passagens de
Daniel, provavelmente eram conhecidas, os relatos são datados de aproximadamente 300
anos antes de Alexandre, e sua exatidão é espantosa, porém a organização e tradução dos
textos bíblicos é bem mais tardia. Ao perceber essa imagem famigerada desde Heródoto,
Alexandre se utiliza dessas imagens e costumes ao seu favor, é necessário entender como
aconteceu o sincretismo religioso, como aspectos gregos, egípcios e persas se misturaram
e formaram o que chamamos de cultura helênica.

37
CAPÍTULO II
CULTURAS ENTRELAÇADAS : OCIDENTE E ORIENTE

2.1 – O MUNDO HELÊNICO E AS RELIGIÕES

O termo helenismo, cunhado no século pelo historiador alemão Johan Gustav


Droysen se popularizou na historiografia e muitas vezes é utilizado de maneira leviana,
ao se pensar no final da era de ouro da Grécia Antiga diversos historiadores classificam
os períodos posteriores como Grécia Helênica, delegando a este vasto período de tempo e
de territórios imensuráveis a simples denominação sem a reflexão que esse período
necessita em sua essência e permanência, não podemos achar que a estrutura vigente no
mundo antigo no período republicano romano é fruto do simples acaso, pior ainda é
pensar que o processo de romanização deu-se apenas pelo poderio militar romano,
devemos tem em mente a estrutura deixada pelos macedônios, os estudos atuais tratam o
helenismo com uma atenção muito maior e de confluência de culturas tão intensas como
na atualidade, o gene da globalização já era existente na antiguidade, o historiador e
professor britânico Peter Green repensa o helenismo de Droysen e nos traz uma nova
visão sobre o helenismo, que deve ser analisado de Alexandre à batalha de Áccio, o
magnum opus do autor é uma publicação com esse mesmo título – Alexander to Actium.
Para Alexandre, um rei de reis, e governante de um império mundial, era preciso
mais. O poder real no Oriente estava intimamente ligado com a religião e romper esse
seria um erro serio. Mas havia muitas religiões no império de Alexandre e cada uma
tinha sua própria maneira de decidir se os reis eram divinos. Não sabemos como o
próprio Alexandre encarava esse problema. Como aluno de Aristóteles, pode ter
adotado o ponto de vista racionalista, tratando-o como simples questão de política; ou o
lado místico da mentalidade grega, que não via distinção absoluta entre o divino e o
humano e aceitava inteiramente a possibilidade de encarnação divina, talvez se tenha
feito ouvir no peito do conquistador. Não sabemos ao certo; mas cremos que Alexandre
se situava acima dos mortais comuns não apenas por ser rei e descendente distante de
Héracles. Os pensamentos de um homem são capazes de tomar uma direção mística
quando a morte o ameaça diariamente, quando suas vitorias não encontram limites e
quando a adulação dos que o cercam – adulação que no mundo antigo, especialmente no
Oriente, assumia a forma de adoração religiosa – ultrapassa todas as medidas.
(ROSTOVTZEFF, 1986, p. 252).

38
Entender as particularidades das religiões coexistentes no mundo helênico seria
formidável, porém tratar das especificidades de culto, cosmogonia e perpetuação dessas
práticas nos levaria à uma pesquisa somente sobre este tema, as páginas deste capítulo
pretendem especificar ao leitor de maneira geral as semelhanças e diferenças gerais entre
as religiões das quais mais observamos influência na trajetória de Alexandre.

2.2 – RELIGIÃO GREGA


Deve-se primeiramente inferir as diferenças entre religião e mitologia, religião
engloba aspectos místicos, mágicos que transcendem a explicação pelos sentidos
humanos e gera em sua essência os mistérios, basicamente a fé. Já os mitos são histórias e
lendas que - podem ter e geralmente têm – aspectos religiosos intrínsecos, essas
características não necessitam ter um caráter real ou verdadeiro. (ROBERT, 1988)
entende-se por religião grega (paganismo) os rituais e práticas ligadas ao mágico e
sobrenatural que aconteciam na Hélade desde seu povoamento. Dentre inúmeros aspectos
da religião grega o primordial era seu caráter politeísta, assim os cultos gregos possuíam
características em comum no que cerne a adoração de divindades que representam os
aspectos da natureza – tal como a religião grega em sua forma primitiva, que só detinha o
âmbito doméstico –, e os sentimentos humanos, o místico era explicado pelas divindades
e seus atributos.
Dentre os vários deuses e deusas do panteão greco-romano os principais são: Zeus
(Júpiter), Poseidon (Netuno), Hades (Plutão), Apolo (Febo), Ártemis (Diana), Afrodite
(Vênus), Ares (Marte), Dionísio (Baco), Hefesto (Vulcano), Atena (Minerva), Hermes
(Mercúrio), Deméter (Ceres), Héstia (Vesta) e Hera (Juno). As práticas religiosas dos
gregos se estendiam além da Grécia continental, das ilhas e do litoral da Jônia, o Egeu, do
Helesponto até Ásia Menor, incluindo a Magna Grécia (Sicília, Itália e Meridional), e nas
diversas colônias gregas por todo o Mediterrâneo ocidental, tais
como: Massília (Marselha na atual França) deve-se considerar que a presença grega na
península itálica influenciará os cultos e crenças etruscas, fomentando assim
posteriormente a religião da Roma antiga.
A religião grega é tida como uma “religião morta” (VERNANT, 2006, p.1), já que
a mesma não tem um grande número de adeptos na atualidade e suas práticas e
ensinamentos hoje estão mais presentes em livros de mitologia ou História Antiga do
que nas mãos de fiéis. Na antiguidade a religiosidade grega era extremamente viva, sua
presença e influência fora e é notada nas mais variadas civilizações e representações

39
sociais, a estrutura da religião obviamente sofre modificações de acordo com as épocas
e desenvolvimento econômico, político e cultural de cada região, e foram essas
modificações que muito influenciaram as religiões modernas. Do paganismo ao mundo
contemporâneo, modificaram-se o próprio estatuto de religião, seu papel, suas funções,
tanto quanto seu lugar dentro do indivíduo e do grupo. (VERNANT, 2006, p.1).
A organização das crenças e dos ritos gregos acontecia de forma interessante, para
uma religião desprovida de clero os gregos detinham uma cadeia explicativa de suas
origens e de como o mundo – divino e mortal – foram criados e dispostos. A
cosmogonia grega trabalha com a origem de tudo no caos, ninguém melhor que Hesíodo
explica essa origem divina, em Teogonia o autor grego elucida a origem dos deuses e
titãs.
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo
seio, de todos sede irrevelável sempre, dos mortais que tem a cabeça
do Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo de amplas vias, e
Eros: o mais belo entre os Deuses imortais, solta-membros, dos
Deuses todos e dos homens todos ele doma no peito o espírito e a
prudente vontade. Do Caos Érebos e Noite negra nasceram. Da Noite
aliás Éter e Dia nasceram, gerou-os fecunda unida por Érebos em
amor. (HESÍODO, 2011, p. 109)

Hesíodo traça toda a genealogia fantástica até chegar a Zeus, que é uma das
divindades importantes em nossa análise. Após a usurpar o trono dos céus de seu pai
Cronos, Zeus reinava no Olimpo imponente, por ser o responsável por destruir o pai,
enviá-lo as profundezas do Tártaro e libertar seus irmãos Poseidon e Hades, a grande
ação do deus trouxe-lhe glórias e o comando, uma hierarquia nos domínios do mundo
foi prontamente tomada, Zeus era o rei dos deuses e exercia o poder de dar as ordens
para cada atividade e os atributos que os deuses desempenhavam dentro da ótica dos
cultos pagãos, Poseidon ficou responsável pelos domínios dos mares, oceanos e rios, Já
Hades tornou-se senhor dos infernos. Os deuses gregos não eram onipotentes como o
Deus monoteísta do cristianismo, islamismo e judaísmo.
No que concerne o post mortem a religião grega detinha o submundo como
local comum a todos os mortos, os espíritos, porém cada qual baseado em suas ações
terrenas, iriam para determinada localidade no reino de Hades, os mortos só poderiam
pegar a barca infernal e navegar no rio estige quando fosse efetuado o funeral, se os
devidos ritos não fossem seguidos à alma do infeliz ficaria vagando na terra, sem rumo,
paradeiro ou descanso, tais como espectros e fantasmas do imaginário moderno, castigo
considerado terrível, a privação de sepultura. Punia-se assim a própria alma, e lhe

40
infligiam um suplício quase eterno (COULANGES, 2011, p. 27), os rituais fúnebres são
extremamente importantes, além disso, os mesmos vão além da pira funerária,
geralmente a manutenção do túmulo é necessária, provendo sacrifícios, libações e
presentes eventuais. Não à toa é observável o quão problemático é para os adeptos desta
religião a perda ou defloração do cadáver antes dos cultos funerais. Os poemas e
tragédias gregas nos exemplificam isso, no livro XXII da Ilíada, quando Aquiles atrela à
carruagem o cadáver de Heitor e circula sete vezes os muros de Tróia, fazendo Hécuba
ficar aos prantos, e a luta incessante de Antígona - na tragédia de mesmo nome de
Sófocles – para poder prestar os devidos cultos aos cadáveres de seus irmãos
Etéocles e Polinice.
Uma das principais áreas do Hades era o chamado Tártaro, local que segundo
residia à escuridão, os amaldiçoados eram enviados a esta área punitiva e residiam ao
lado de feras terríveis, monstros e titãs, o local repleto de tormentos configurava a
danação grega. Já os bens aventurados residiam nos Campos Elíseos local agradável
onde os mortos virtuosos e os iniciados nos cultos de mistério habitavam já os grandes
homens e heróis do passado iriam para um local tão bom quanto os Elíseos, às Ilhas dos
Afortunados. (BULFINCH, 2010) não há como desprender a religião da mitologia na
antiguidade, o que entendemos por mitologia hoje nada mais é do que o conjunto de
crenças e histórias de cunho religioso que se transfiguraram em mito, com o decorrer
dos anos. Exclua da religião helênica todo o campo da mitologia, sem o qual, contudo,
teríamos grande dificuldade em conceber os deuses gregos. (VERNANT, 2006, p. 3).
A mitologia que envolve a religião grega é rica em detalhes, e suas histórias nos relatam
diversos acontecimentos que marcam a importância dos deuses no cotidiano dos povos,
e como estes afetam a vida dos homens na terra. Anterior às divindades olímpicas
existiam seres primordiais, os Titãs, que não formam um conjunto organizado e
homogêneo como os deuses, tratam-se, em geral, de divindades muito antigas que, por
uma razão ou outra, continuaram a ter certa vigência, dentro da mitologia grega clássica
e, ao constituir-se o esquema genealógico dos deuses, foram incluídas entre os
descendentes de Urano (Céu). Urano era uma divindade que personificava o céu, foi
gerado espontaneamente por Gaia (Terra) e casou-se com sua própria mãe e irmã,
ambos foram ancestrais da maioria dos deuses gregos, mas nenhum culto dirigido
diretamente aos titãs sobreviveu até a época clássica, não são comuns na cultura
material grega, nem entre os temas comuns da cerâmica grega antiga, ou como símbolos
do ethos na cunhagem das moedas na Hélade.

41
Não existia uma cosmogonia correta acerca da criação do mundo entre os
gregos, cada grupo religioso acreditava que o mundo havia sido criado de diferentes
maneiras, a ausência de uma explicação universal nesse sentido, fazia com que cada
conjunto tinha uma diferente interpretação, isso se deve as diferenças culturais de cada
região que contemplavam a região da Hélade.
A moral religiosa grega se baseava a priori pelo acometimento da húbris, atos ou
sentimentos em demasiado, ou seja, atos considerados ilícitos pela sociedade, ou até
mesmo pelos próprios deuses. Todas as nuances e seguimentos religiosos gregos são
originários através das práticas religiosas domésticas que são transpassadas de geração a
geração, não existe livro sagrado ou manual religioso grego, porém os textos antigos,
em específico Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, de Hesíodo, a Ilíada e Odisseia
atribuídas à Homero, e as Odes de Píndaro, são considerados textos sagrados para os
antigos gregos, bem como diversas outras obras da Antiguidade Clássica; estes eram os
textos centrais a toda a literatura do período, e eram considerados inspirações;
costumavam incluir uma invocação às Musas em suas linhas iniciais. Segundo
Heródoto, estes são os principais responsáveis pela forma e conceitos que a religião
grega adquiriu, através dessas literaturas deram-se os nomes e características dos
deuses, heróis e monstros de toda a mitologia grega.

Parece-me que Hesíodo e Homero, quanto à idade, foram mais velhos


do que eu em quatrocentos anos, e não mais. Eles são os que
compuseram teogonia para os gregos, deram os nomes aos Deuses,
distinguiram-lhes honras e artes, e indicaram suas figuras.
(HERÓDOTO, 2006, p. 53).

As cerimônias e cultos eram realizados junto ao fogo sagrado, no âmbito


doméstico, toda casa grega detinha uma lareira, onde os Lares eram adorados, libações e
pequenos sacrifícios eram executados sobre um altar que geralmente era dedicado a um
deus em específico que eram representados por estátuas, imagens e símbolos que
representavam seus afazeres e atributos. Estes altares também estavam presentes em
templos nas cidades e recebiam oferendas de diversos objetos para agradecimento ou
pedido aos deuses. Os sacrifícios eram feitos com animais domésticos, os participantes
queimavam as vísceras para os deuses, e comiam a carne, tal como as hecatombes, os
sacrifícios são essenciais na manutenção dos dons e contra dons nos cosmos.
O equilíbrio entre deuses e homens é feito através dessas honrarias, justamente
por isso observamos Alexandre prestar homenagens às mais diversas divindades

42
entrepostas em seu caminho, a religião sempre esteve presente na vida e no cotidiano
dos homens, sejam eles civis ou grandes generais. Os primórdios dessa religião são
encontrados nas práticas da civilização Micênica na Idade do Bronze, onde os valores e
costumes dessa época foram essenciais para formação da antiguidade grega. Toda essa
análise se refere ao contraste entre o plano mundano e as divindades, que por diversas
vezes se misturam, não haveria um sem o outro e o entrelaçamento desses dois cria a
ideia natural de religião.
Há, portanto, algo de divino no mundo e algo de mundano nas
divindades. Assim, o culto não pode visar a um ser radicalmente
extramundano, cuja forma de existência não tenha relação com nada
que seja de ordem natural, no universo físico, na vida humana, na
existência social. Ao contrário, o culto pode dirigir-se a certos astros
como a Lua, à aurora, à luz do sol, à noite, a uma fonte, um rio, uma
árvore, ao cume da uma montanha e igualmente a um sentimento,
uma paixão (Aidós, Éros), uma noção moral ou social (Díke,
Eynomía). Não que se trate sempre de deuses propriamente ditos, mas
todos, no registro que lhes é próprio, manifestam o divino do mesmo
modo que a imagem cultual, tornando presente à divindade em seu
templo, pode legitimamente ser objeto da devoção dos fiéis.
(VERNANT, 2006, p.5).

Ao se fazer qualquer pesquisa acerca da religião grega, o historiador deve-se


atentar acerca dos conceitos, presentes nesse tema tão vasto e peculiar, deve-se ter em
mente que no estudo da religião grega o papel do historiador é se atentar a princípio nas
mudanças e especificidades que a religião sofreu de região para região e ao longo das
eras, por exemplo, não podemos analisar a religião grega e atribuí-la somente uma
forma, a religião dos gregos clássicos não é exatamente a religião dos tempos
helenísticos. Nesse sentido:
A tarefa do historiador é identificar o que a religiosidade dos Gregos
pode ter de específico, em seus contrastes e suas analogias com os
outros grandes sistemas, politeístas e monoteístas, que regulamentam
as relações dos homens com o além. (VERNANT, 2006, p.3).

Devemos analisar os aspectos gerais da religião grega sem esquecer obviamente


que nosso recorte de tempo e espaço nos demonstra uma religião grega sofrendo
mutações, influências orientais e assimilações entre divindades, a cada conquista de
Alexandre novos aspectos se inserem nesse mundo helênico que tem o Oriente como
grande influência.

2.3 – RELIGIÃO EGÍPCIA

43
Mensurar e analisar a religião egípcia pode ser mais trabalhoso e complexo do
que a grega, primeiramente pelo vasto número de divindades e leituras, tanto pelas
origens milenares e desta civilização que de maneira alguma pode ser desassociada de
suas práticas religiosas. A religião do antigo Egito teve diversas transformações no
decorrer dos séculos, e as interpretações mudavam de acordo com a região, o Egito por
ser uma região de difícil locomoção devido ao deserto, dificultava o contato entre os
diversos povos e as práticas e cultas muitas vezes continham diferenças notáveis,
consideremos que a religiosidade egípcia sobreviveu há diversos séculos e mazelas que
o Império egípcio sofreu desde as primeiras dinastias até o triunfo do cristianismo o
Egito conservou sua religião sem grandes alterações no que concernem as práticas e
cultos, mesmo sob o julgo persa, grego e romano as nuances desta religião antiquíssima
sobreviveram. As cosmogonias egípcias são variadas e nem sempre se contradizem,
todas viviam em certa harmonia, o mito de Heliópolis é até hoje o mais encontrado nas
análises egiptólogas, mas não era o único. (BAKOS, 2009) assim como a religião grega
os cultos egípcios tinham caráter politeísta, sua cosmogonia se pautava em deuses
primordiais que formaram o mundo.
Nada ainda existe no mundo a não ser Nun, o grande oceano
primitivo que um dia será chamado pelos sábios de “sagrado Nilo”.
Ao seu redor, reinam o silêncio, as trevas e o caos infindo, não
havendo ainda olho humano que possa perceber a ausência das
formas, dos volumes e das cores. Não há nem mesmo morte nesse
opaco universo, já que vida alguma existe ali. (SEGANFREDO;
FRANCHINI, 2012, p. 9)

Nun cria o mundo tal como Caos cria o cosmos grego, logo a árvore genealógica
das divindades cresce com o surgimento espontâneo do deus sol Rá, que gera os irmãos,
Shu e Tefnut – o ar e a umidade - que em sequência dão à luz aos e eternos amantes Nut
e Geb, respectivamente o céu e a terra. O amor de Geb e Nut gerou Osíris, Seth, Ísis e
Néftis. Osíris torna-se o faraó e rei dos homens, porém a inveja de seu irmão Seth, deus
do deserto e da vingança faz com que Osíris seja assassinado, e todas as partes do seu
corpo sejam espalhadas pelo mundo, para desespero de sua esposa Isis que se lança na
aventura de reconstituir o marido e prestar-lhe o funeral adequado. Isis sofre diversas
desventuras até recuperar as partes de seu amado, com a ajuda do deus Anúbis,
embalsama e mumifica seu marido, fazendo de Osíris o faraó do mundo inferior. Anos
mais tarde, Isis se utiliza do membro viril de seu amado e engravida de Hórus, que
vinga a morte do pai e se torna faraó.

44
Além do mito heliopolitano outra cosmogonia deve ser analisada neste capítulo,
o mito de Tebas, para os Tebanos um deus surgiu dos seus e se fez senhor, Amon, por
sua ligação com os seus é rapidamente ligado ao sol e posteriormente à Rá, por isso
anos mais tarde será conhecido como Amon-Rá, essa divindade era altamente adorada
no Novo Reino como uma misteriosa manifestação do deus sol, era representado pelo
leão, criatura ligada ao sol, o carneiro e eventualmente o ganso (BAKOS, 2009).
As representações de Amon são muito importantes para nossa análise, neste
trecho observamos que o leão e o carneiro são animais atribuídos ao deus, o leão
também sempre esteve ligado a Héracles, que por sua vez está ligado a Zeus, o caráter
celeste de Zeus também se confunde com o de Amon, o que nos leva a inferir o quão
conectados os cultos dessas divindades se encontravam. Ao contrário das divindades
gregas, cujo simbolismo é, na maioria das vezes, meridianamente simples, no caso das
divindades egípcias essa simbologia torna-se bem mais complexa (SEGANFREDO,
FRANCHINI, 2012, p. 7).
Os deuses eram representados por sentimentos e forças da natureza, uma
importante diferença dos deuses gregos era o aspecto zoomórfico, trejeitos humanos se
fundiam a atributos animalescos. Devemos ter em mente que há uma fusão entre as
divindades Rá, Amon e Hórus, a mitologia egípcia explica a tomado do poder e dos
domínios da barca do sol, assim o poder de Rá passa-se par Amon e Hórus, tal como o
domínio do astro celeste sai das mãos do Titã Hélios e vai par Apolo. O poder real
egípcio provinha dos deuses, e era o faraó em específico a representação divina na terra,
o governante detinha poder absoluto e carregava a ideia de figura divina ligada
diretamente com os próprios deuses, fato importante para legitimação de Alexandre no
Egito, os cultos eram feitos nos templos, através de uma liturgia específica, três obras
são consideradas as mais importantes para entender o universo dessa religião: o livro
das pirâmides, o livro dos sarcófagos e o livro dos mortos, para se estudar a religião
egípcia e indispensável o uso da iconografia e da cultura material. Como templos,
pirâmides, estátuas, túmulos entre outros espaços e objetos que podem ser analisados
como fontes e documentos históricos e arqueológicos.
Os cultos, sacrifícios e oferendas eram feitos nos templos, nas câmaras
mortuárias e no âmbito doméstico, o faraó exercia suas obrigações para com os deuses,
os sacrifícios de animais era prática comunal, cada deus detinha seus próprios
sacerdotes que eram conhecidos como hem-netjer que em tradução livre, seria servo de
deus.

45
2.4 – A RELIGIÃO OFICIAL DO IMPÉRIO PERSA - ZOROASTRISMO

O império persa se estendeu em diversos territórios, com uma quantidade de


povos com culturas e costumes distintos, para manter a tranquilidade e conseguir
expandir cada vez mais seus domínios, os sátrapas permitiam uma liberdade religiosa,
onde as crenças de cada província eram respeitadas e aceitas, ou seja, todos os grupos
que vivessem sob julgo aquemênida poderiam continuar com seus cultos, porém teriam
também o conhecimento da religião persa. A religião oficial do império era o
Zoroastrismo, seguida por povos da região que habitavam as proximidades dos atuais
países Afeganistão, Paquistão, Índia e Iraque. Segundo Jonh R. Hinnells, no dicionário
das religiões o Zoroastrismo

Foi à primeira religião de características dualistas Ahura mazda


(bom) e Angra Manyu (mal) e monoteísta. A posição geográfica da
população que à cultuava ficava entre o Oriente e Ocidente, essa
aproximação teria criado um vínculo que influenciaria a formação do
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo (HINNELLS, 1984, p. 510).

Para o mitólogo Joseph Campbell, Zoroastro – criador desta religião – exerceu


grande influência na restauração cósmica, como fez Homero na Grécia, só que
Zoroastro talvez devesse ser olhado mais como símbolo de uma tradição do que como
específica e exclusivamente o homem (CAMPBELL, 2008, p.16). Para entender a
associação e uso que Alexandre exerceu para com a religião do império persa não
podemos, ignorar os fatores políticos e econômico que o levaram a ter tal preocupação,
Alexandre se utiliza dos símbolos religiosos das áreas que domina para apaziguar a
situação de domínio e nutrir um sentimento de pertencimento a todos, seja dominador
ou dominado, essa sensação traz benefícios na expansão do império alexandrino, além
disso, Alexandre, detinha uma admiração e curiosidade a tudo aquilo que parecia à ele
exótico, diferentes tipos de manifestações culturais, porém só essa admiração não
permitiria esse vínculo, só a curiosidade de Alexandre não iria manter essa relação de
respeito religioso que os imperadores persas sabiamente mantinham nos territórios
dominados, os ganhos econômicos e políticos exerciam grande influência para manter
os povos em harmonia, - como já citado no caso do Egito no primeiro capítulo -, esta
liberdade religiosa só trazia benefícios para ambas às partes, Alexandre só continua
efetuar esse trabalho que já era perpetuado pelos persas e se utiliza mais e mais dos

46
símbolos estrangeiros para dar o pontapé inicial no que viria a ser conhecido por cultura
helenística.

2.4 – A UNIÃO DESSAS RELIGIÕES

Alexandre, o Grande se utilizou do simbolismo e das semelhanças dessas duas


religiões para legitimar poder quando chegou ao Egito, através da iconografia religiosa
grega, egípcia e quiçá persa, o rei se utiliza desses símbolos atrelado as tradições de
cunhagem grega para formar sua imagem divina, seja ela eternizada em poemas,
estátuas, templos ou até mesmo moedas. Destacando neste contexto a iconografia
monetária, o vínculo feito com a nobreza egípcia legitimará totalmente sua ascendência
divina que desde sua tênue infância fora encorajada por sua família.
A imagem de um Alexandre divino transpassara as fronteiras do tempo, após sua
morte nos anos que se seguiram, na idade média, e na era contemporânea milhares são
as alusões à imagem heroica e conquistadora de Alexandre nas diversas culturas. Na
antiguidade, sua imagem será reverenciada e cultuada, a utilização da imagem de
Alexandre por seus generais e até mesmo governantes que não conheceram o jovem rei.
Uma tradição, porém, que certamente remonta aos contemporâneos de
Alexandre, representa-o como pretendente, de alguma forma e a partir
de então, ser filho de Zeus, e mais especifícamente, de Zeus-Âmon, a
adaptação grega do Âmon dos egípcios [segundo o próprio
Alexandre]. Lisímaco, da guarda, quando se tornou rei da Trácia, foi o
primeiro a colocar nas moedas a cabeça de Alexandre ornada com os
chifres do carneiro de Âmon, que fôra outrora um carneiro-deus. A
figura tornou-se clássica, e Alexandre, na lenda oriental, passou a ser
Iskender dhu'l-quarnein, ou Alexandre o dos dois chifres. (BURN,
1963, p. 100)

Para compreender Alexandre, é importante recordar sua formação. A principal


influência em seu espírito consciente, na juventude, foi a de Aristóteles, cuja filosofia,
permitam-nos lembrar, era teológica e religiosa. Atrás de Aristóteles estava o epirota
Leônidas, que não era nenhum ateniense cético. E depois dêle, por sua vez, estava a
mais profunda de tôdas as influencias – a que, sobre sua mente inconsciente, exerceu
Olímpia, bárbara, fanática, profundamente e místicamente religiosa a seu modo.
(BURN, 1963, p. 101) Com o objetivo de não cometer equívocos decorrentes da
utilização única de fontes escritas debruçamos nossa pesquisa na análise da cultura
material, basicamente numismáticas, das quais uma pequena seleção e análise se
encontram no capitulo a seguir.

47
CAPÍTULO III
ICONOGRAFIA MONETÁRIA: ASPECTOS RELIGIOSOS DE ALEXANDRE NA CULTURA
MATERIAL

3.1 – NUMISMÁTICA E SEUS PARADIGMAS

As moedas não são somente simples objetos de câmbio comercial com valor
estabelecido. Em toda moeda, seja ela atual ou não existem aspectos iconográficos
(símbolos, inscrições, imagens em alto ou baixo relevo) que nos mostram determinadas
práticas e aspectos culturais de alguma sociedade, só por este fator, vemos a importância
do registro que as moedas trazem para o entendimento das sociedades humanas sejam
sociedades antigas ou atuais, até mesmo as moedas da atualidade que estão
aparentemente ligadas somente com o meio econômico tem em si aspectos políticos,
religiosos e culturais, como documento histórico o pesquisador tem o dilema de se
deparar com uma fonte que estava ou está presente nas mãos de vários segmentos sociais
e donas de uma grande popularidade e circulação, o que muitas vezes não é um problema.
Estudar moedas requer rigor científico e até mesmo uma ciência em específico
fora criada para a teorização e estudo desse documento, porém as pesquisas históricas
com a utilização de material numismático são raras no Brasil, tanto na pesquisa histórica
quanto na arqueológica.
Tanto o estudo, quanto a publicação sobre numismática, são pouco
comuns no meio acadêmico e no mercado editorial brasileiro. O uso de
material numismático, como documentação básica para uma pesquisa
na área de História, é raríssimo, principalmente aqui no Brasil, onde
uma parcela de historiadores opta por trabalhar com fontes escritas, de
preferência aquelas que estejam já impressas em papel e guardadas em
arquivos e bibliotecas. (CARLAN; FUNARI, 2012, p. 29)

Obviamente que o estudo das moedas não é também tão convidativo no Brasil,
além da falta de publicações relacionadas em nosso país, inúmeros são os empecilhos
para o historiador interessado na utilização das moedas como fonte, encontrá-las já é uma
grande aventura, muitos destes documentos monetários são trancafiados em cofres por
conta de fazerem parte de coleções particulares, quando existentes em museus muitas
vezes não estão ao alcance do pesquisador, que geralmente não é bem-vindo às reservas
técnicas, a falta de profissionais desta ciência ocasiona concomitantemente a falta de
catálogos analíticos, o que mais uma vez dificulta o trabalho com os artefatos. Mesmo os

48
museus arqueológicos dispondo de uma considerável coleção, muitas vezes as mesmas
não estão classificadas e catalogadas. O pesquisador de moedas geralmente recorre a
publicações estrangeiras e à catálogos internacionais, principalmente se o objeto de
pesquisa do mesmo for relacionado à Antiguidades, a pesquisa relacionada às moedas e
extremamente pequena no Brasil, grandes nomes como a Professora Doutora Maria
Beatriz Borba Florenzano é que disseminam esse saber tão restrito quando o acerca das
moedas antigas.

Todas as peças apresentadas neste trabalho acompanham uma tabela informativa com
as principais características das moedas e períodos de circulação, a organização e
disposição das peças segue a orientação cronológica da cunhagem e circulação das
moedas, a tabela de elaboração própria informa: denominação, governante, local de
cunhagem, peso, diâmetro, material e fonte

3.2 – A GRÉCIA E AS MOEDAS

As moedas tal como conhecemos (discos de metal precioso) surgiram na Lídia


(Ásia menor) no séc. VI a.C. Os chineses já utilizavam objetos parecidos, mas que não
tinham a forma de disco como nossas moedas. Os gregos por sua a vez logo assimilam
esse conhecimento fenício e o aperfeiçoam. (FLORENZANO, 2009) Na Grécia teremos
a utilização das moedas em massa pelas cidades estado, também podemos observar uma
peculiaridade, as moedas geralmente terão um maior valor a partir de seu peso (o que
identifica a maior concentração de metal precioso, vise a tetradracma que equivale a
quatro dracmas em seu valor, tetra = quatro), mas como já havia citado, as moedas
possuem um caráter muito mais que econômico geralmente religioso. Nos territórios
sob influência da cultura grega teremos as primeiras modificações do caráter inicial da
moeda – objeto com a ideia de mobilidade de troca -, lá observamos os usos políticos
desse objeto, as cidades gregas, cunhavam símbolos referentes à divindades, festas e
cultos existentes na sua cultura com o objetivo de identificar e registrar nas moedas
aspectos de seu ethos, o principal motivo para utilização da moeda como estratégia
política é sua mobilidade e o poder que as imagens têm na configuração do imaginário
popular.
A moeda ultrapassa os limites geográficos do poder que a emitia e
definia, em termos ideológicos, não só um povo, mas também a
civilização a que este pertencia. Essas pequenas peças de metal eram
os únicos objetos que chegavam de uma maneira uniforme ao público.

49
Por meio da imagem, a mensagem política de um governo era
transmitida aos seus governados, analfabetos em sua maioria. Não
podemos subestimar o fato que, até o século XX, a maioria das
pessoas era analfabeta e que as imagens, em geral, e nas moedas, em
particular, constituam um elemento central de identificação.
(CARLAN; FUNARI, 2012, p.65)
É difícil distanciar o aspecto político do religioso na Grécia, e quando falamos da
questão monetária é mais complicado ainda, analisando hoje é quase impossível
evidenciar religião nas moedas que podem estar em nossos bolsos, mas para os gregos as
moedas estão presentes até mesmo nos cultos e mitos religiosos, a priori as moedas
tinham aspectos extremamente mitológicos e religiosos, Se tomarmos como exemplo a
clássica tetradracma ateniense datada de aproximadamente 400 anos a.C. está moeda
mostra em seu reverso13 uma coruja, um ramo de oliveira e as letras gregas ΑΘΕ (ATE
em português) uma abreviação do nome da deusa Atena, ao fundo nota-se uma ânfora de
azeite e em seu anverso o busto da deusa, todas as imagens fazem alusão a deusa Palas
Atena: a coruja seu animal preferido e símbolo da sabedoria, o ramo de oliveira e a
ânfora remetem-se ao mito de nomeação do patrono da cidade de Atenas, disputa em que
Atena fez brotar da terra a oliveira, símbolo da cidade e venceu seu rival Poseidon.

Toda essa alusão à mitologia grega está presente no sistema monetário da Grécia e
não só os gregos, mas grande parte dos povos da antiguidade, o próprio nome moeda (do
latim, moneta) tem sua origem no nome da deusa Juno Moneta, a qual em seu templo em
Roma cunhavam-se moedas, até mesmo no contexto funerário nós as encontramos, os
gregos acreditavam que para as almas seguirem para o mundo inferior precisavam pagar
o barqueiro Caronte que os levaria até a morada de Hades, por isso os mortos ao serem
enterrados ou incinerados na pira funerária iam com uma moeda abaixo da língua para
pagar o barqueiro. Não á toa várias moedas são encontradas no contexto funerário,
fazendo parte do mobiliário fúnebre ou de ofertas votivas.

13
O leitor deve se atentar a princípio ao vocabulário utilizado nas leituras numismáticas, utilizaremos
anverso (cara) para denominar a face das moedas, em contrapartida utilizaremos reverso (coroa).

50
Figura 6: Tetradracma ateniense.
Fonte: British Museum – © Trustees of the British Museum 14

Denominação: Tetradracma Ateniense


Governante: República Ateniense
Local de cunhagem: Atenas
Ano de produção: 490 a.C.
Peso (g): 17
Diâmetro (mm): 22
Material: Prata
Fonte: British Museum

Utilizar moedas com o objetivo político é o chamariz desta pesquisa, Alexandre e


seus generais sabiamente irão perceber a quão rica é a iconografia egípcia e como as
imagens são essenciais dentro da cultura egípcia, justamente por isso e por seu histórico
de utilização de sua imagem com trejeitos divinos é que analisaremos isso. Como nos
explica Carlan e Funari:

Alexandre ordena a cunhagem de moedas com sua efígie divinizada


Alexandre III, o grande rei da Macedônia (353 a.C – 323 a.C.), foi
um dos primeiros a cunhar moedas com seu busto. Porém suas
imagens representam o deus Apolo. Para muitos de seus
contemporâneos, o próprio Alexandre era filho de Zeus, sendo um
semi-deus. Esse caráter mágico e divino da moeda manteve-se pelos
séculos da História. (CARLAN; FUNARI, 2012, p.70).

14
Disponível em:
<http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/cm/s/silver_tetradrachm_of_athens.
aspx >. Acesso em: 26/11/13

51
3.3 – ALEXANDRE E SUAS MOEDAS

Atentar-nos-emos agora a analisar algumas das moedas de Alexandre e


evidenciar através delas os aspectos da iconografia religiosa utilizadas por Alexandre
para legitimar seu poder e dominação. Iniciaremos nossa análise com a moeda mais
antiga do período alexandrino, nela evidenciamos aspectos mitológicos que configuram
o imaginário grego e pessoal de Alexandre.

Figura 7: Tetradracma alexandrino.


Fonte: Money Museum – © Sunflower Foundation15
Denominação: Tetradracma Alexandrino
Governante: Rei Alexandre III da Macedonia
Local de cunhagem: Mênfis
Ano de produção: 332 a.C.
Peso (g): 17,9
Diâmetro (mm): 28
Material: Prata
Fonte: Sunflower Foundation

Vemos na moeda acima o anverso com a figura principal, a efígie de Alexandre


ornado com a pele do leão de Nemeia que está disposta sobre a cabeça de Alexandre
finalizando-se em um nó na altura do pescoço e enquanto no reverso vemos uma figura
de Zeus Olímpico sentado no trono segurando uma águia e a legenda em grego
ΑΛΕΞΑΝΔΡΟΥ ou Αλεξανδρου (Alexandre em grego), estes símbolos reforçam a ideia
de um Alexandre divino, o leão de Nemeia faz alusão ao primeiro trabalho de Héracles,
onde o semideus derrota o temível monstro, arranca sua pele e a usa como troféu,
Alexandre não se utiliza da imagem de Héracles à toa, como vimos nos capítulos

15
Disponível em <http://www.moneymuseum.com/moneymuseum/library/coins/>. Acesso em: 26/11/13

52
anteriores Héracles é e faz parte de sua ascendência familiar, pela parte de Filipe II
quanto por Zeus, com o sincretismo alimentado e declarado no Egito observamos os
valores da divindade dúbia Zeus-Amon que tinha em sua iconografia também o leão
como animal de representação, mas também o carneiro que muitas vezes se confundia
com o leão com os cultos no oráculo de Siuá e mesmo em Tebas, lar de Amon
Todas essas informações podem passar despercebidas para nós, mas na época da
circulação da moeda era cultivado que o rei macedônio era um deus, não podemos
deixar de mencionar o local de cunhagem: Mênfis, a capital do Egito, ou seja,
Alexandre após se auto proclamar filho de Zeus ordena a cunhagem de moedas com sua
imagem divinizada, além de se utilizar das minas de prata egípcias o rei ordena a
circulação da moeda por todos os territórios por ele recém conquistados.
Vale ressaltar que existem moedas com a mesma leitura, mas de séries
diferentes, a moeda abaixo, por exemplo, tem um pequeno diferencial, uma ânfora em
seu reverso.

Figura 8: Tetradracma alexandrino.


Fonte: British Museum – © Trustees of the British Museum16

Denominação: Tetradracma Alexandrino


Governante: Rei Alexandre III da Macedonia
Local de cunhagem: Mênfis
Ano de produção: 332 a.C.
Peso (g): 18
Diâmetro (mm): 28
Material: Prata
Fonte: British Museum

16
Disponível em < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:AlexanderCoin.jpg>. Acesso em: 26/11/13

53
Figura 9: Stater alexandrino
Fonte: Fonte: Money Museum – © Sunflower Foundation 17

Denominação: Starter
Governante: Rei Alexandre III da Macedonia
Local de cunhagem: Anfípolis
Ano de produção: 330 a.C.
Peso (g): 9
Diâmetro (mm): 19
Material: Ouro
Fonte: Sunflower Foundation

Neste Stater observamos outras divindades do Panteão grego, também associados


ou meramente respeitados e cultuados por Alexandre, a deusa Atena era uma das
divindades de maior culto na Grécia, esta moeda nos leva a crer que foi cunhada em
agradecimento à Atena por alguma vitória adquirida em meio à campanha do Oriente. O
anverso desta moeda nos mostra a efígie de Atena, com seu elmo característico e cabelos
longos, no reverso é possível encontrar a imagem de Nike, deusa da vitória, segurando
em sua mão direita uma folha de louros que nos indica a conquista de algo, na legenda
novamente o nome de Alexandre, ΑΛΕΞΑΝΔΡΟΥ em grego.

17
Disponível em < http://www.moneymuseum.com/moneymuseum/library/coins/coin>. Acesso em:
26/11/13

54
Figura 10: Stater alexandrino
Fonte: Fonte: Money Museum – © Sunflower Foundation 18
Denominação: Starter
Governante: Rei Alexandre III da Macedonia
Local de cunhagem: Cólofon
Ano de produção: 324 a.C.
Peso (g): 8,6
Diâmetro (mm): 19
Material: Ouro
Fonte: Sunflower Foundation

A moeda acima é peculiar dentre as moedas analisadas neste capítulo, primeiro


porque é uma das únicas que não tem a efígie de Alexandre, ou seu nome, o que nos
leva a crer que a mesma tenha sido cunhada para prestar homenagem à Filipe,
Alexandre que agora tinha provado à todos em Siuá que não teve nenhuma relação com
o assassinato de seu pai, prestava homenagens ao seu antepassado, no anverso vemos o
a efígie de Filipe II da Macedonia ainda jovem coroado com louros que exemplificam a
glória, no reverso observamos um carro de corrida, com dois cavalos, a imagem traz um
ligeiro movimento, ao lado vê-se um fogareiro que nos indica alguma festividade, ou
culto relacionado aos jogos, provavelmente alguma conquista de Filipe com cavalos,
abaixo da imagem vemos o nome de Filipe em grego ΦΙΛΙΠΠΟΥ (Φίλιππος - Fílippos).

18
Disponível em < http://www.moneymuseum.com/moneymuseum/library/coins/coin>. Acesso em:
26/11/13

55
Conhecidas como Stater de Filipe, essas moedas, tal como a da imagem acima
circularam por toda a Macedônia enquanto Filipe reinava, após sua morte Alexandre
ainda se utiliza do busto do pai como homenagem, como forma de apagar a ideia de que
o assassinato de Filipe estivesse relacionado a ele (DAHMEN, 2007).

Figura 11: Alexandre lutando na Índia


Fonte: (DAHMEN, 2007, p. 111)19
Denominação: Decadracma
Governante: Rei Alexandre III da Macedonia
Local de cunhagem: Possivelmente Ásia
Ano de produção: 324 a.C.
Peso (g): 4,2
Diâmetro (mm): 31
Material: Prata
Fonte: British Museum

As moedas acima infelizmente não estão em estado conservatório tão


interessante quanto às outras apresentadas, mesmo assim a análise iconográfica pode ser
feita. A moeda representa a dura batalha de Hidaspes, ao adentrar o território indiano

19
DAHMEN, Karsten, The Legend Of Alexander The Great On The Greek And Roman Coins. New
York: Routledge, 2007.

56
Alexandre se depara com os exércitos de Poro, os macedônios cansados da longa
jornada e preocupados com a mente megalomaníaca de Alexandre acabam sendo
fortemente atacados e surpreendido pelos elefantes utilizados por Poro, que assustavam
os cavalos e causavam grande desgraça nas tropas macedônias, lá o conquistador perdeu
seu fiel cavalo Bucéfalo, que fora posteriormente homenageado com uma cidade em seu
nome, Bucéfala.
Não há dúvida sobre a identidade do guerreiro de capacete em ambos os lados
das duas moedas, a armadura em estilo grego e o capacete com crista com duas penas,
são características característica aparência de Alexandre de acordo com fontes , além
disso, a cena de batalha no anverso mostra Alexandre em pose de guerra atacando um
elefante, é a primeira vez que vemos Alexandre sendo representado com seu cavalo, no
reverso é possível evidenciar uma figura humana equipando-se com um raio, atributo
clássico de seu suposto pai, o deus Zeus. (DAHMEN, 2007, p. 110)

3.4 – A IMAGEM DE ALEXANDRE: USOS E DESUSOS

A iconografia envolvendo Alexandre e os aspectos religiosos que o dizem a


respeito não serão somente utilizados pelo próprio Alexandre, seus generais e
posteriores reis se utilizaram da imagem de um Alexandre divinizado para também seu
poder, observamos nestes casos que se os governantes se utilizaram da imagem de
Alexandre é porque havia no imaginário popular um Alexandre rei deus, o que
comprova o sucesso da missão macedônia de fixação e propagação da imagem
divinizada do jovem rei. Ao tomarmos a imagem como uma espécie de propaganda, a
ideia de um Alexandre divino percorreu todo o mundo conhecido no período e obteve
sucesso na perpetuação da imagem do rei macedônio na memória e história destes
povos.
A seguir analisaremos dois casos de utilização da iconografia de Alexandre por
outros governantes, basicamente por suas generais que dividiram seu império após sua
precoce morte, no caso as moedas analisadas foram cunhadas sob a ordem de Ptolomeu
Sóter e Lisímaco.

57
Figura 12: Alexandre com pele de elefante
Fonte: (DAHMEN, 2007, p. 114)20

Denominação: Tetradracma
Governante: Rei Ptolomeu I Sóter do Egito
Local de cunhagem: Alexandria
Ano de produção: 321\315 a.C
Peso (g): Desconhecido
Diâmetro (mm): Desconhecido
Material: Prata
Fonte: British Museum
As moedas acima foram cunhadas sob a ordem de Ptlomeu Sóter, após o mesmo
ter assumido a satrapia do Egito. Após a morte de Alexandre, todo o território
conquistado fora dividido entre seus generais, Ptlomeu havia ficado com o Egito e logo
para legitimar seu poder tratou de utilizar a imagem de Alexandre com nuances
egípcias.
É notável que a pele de Elefante disposta sob o busto de Alexandre nas
moedas é semelhante à pele do leão de Nemeia utilizada em moedas anteriores – vise as
figuras 7 e 8 –, o elefante é um animal desde a antiguidade até os dias atuais representa
o Oriente, encontrado basicamente no continente africano e asiático, a escolha deste
animal é altamente simbólica, além de representar os dois territórios conquistados por
Alexandre, ainda no anverso podemos observar que abaixo da pele de elefante próximo
aos orelhas da imagem de Alexandre vê-se cornos, estes chifres tem relação direta com
a divindade Zeus-Amon, cujo Alexandre se aproveita do sincretismo e se associa.
20
DAHMEN, Karsten, The Legend Of Alexander The Great On The Greek And Roman Coins. New
York: Routledge, 2007.

58
Tais triunfos de Alexandre não só o fizeram o governante do mundo, mas
também o elevaram ao patamar divino com os seus feitos em paralelo a conquista
mitológica do Leste pelo deus Dionísio. A moeda ainda contém outra referência à
natureza divina do rei morto. Poucos anos depois da introdução dos chifres de Zeus-
Amon, o retrato de Alexandre na cunhagem egípcia foi ligeiramente modificado. Uma
espécie de faixa foi entreposta sob seus cabelos que retrocederam de sua testa, este
ornamento simboliza tanto a vitória e prosperidade, e está associado com o deus
Dionísio que usa uma faixa semelhante à uma mitra ou barrete, assim novamente
fazendo alusão à conquista do Oriente. Para além destas alterações nas duas
extremidades da pele do elefante em torno do pescoço do rei já não eram amarrados
juntos, mas se transformam em uma égide escamosa, uma pele de carneiro mítico que
era atributo de Zeus. (DAHMEN, 2007, p. 113) Finalmente em torno de 315 a.C. o
anverso é modernizado, substituindo o familiar Zeus Olímpico, que Alexandre havia
introduzido em suas moedas, pela figura da deusa Atena com armadura completa tinha
introduzido. Seu lugar agora é tomado pela figura da deusa Atena na armadura
completa, este seria o novo emblema da dinastia de Ptolomeu. Todas as moedas
possuem em sua legenda no reverso o nome de Alexandre em grego.
Não só Ptolomeu nos mostrará o quão a imagem e possível culto de Alexandre
estavam espalhados no mundo antigo, Lisímaco se utiliza da imagem de Alexandre o
Grande com o objetivo de se legitimar no poder, o general de Alexandre que fica
responsável pela área da Ásia Menor busca nas tradições de cunhagem de Alexandre e
nas divindades agora fortemente disseminadas no mundo grego que tivessem ligação
com o rei macedônio, Lisímaco busca propagar o prestígio de ter sido um dos generais
mais próximos de Alexandre e obviamente por ter participado das conquistas
juntamente com o jovem-rei.
Isso fica evidente na imagem da moeda a seguir, onde observamos uma
cunhagem sob a ordem de Lisímaco, os atributos da religião grega e egípcia
concomitantes são a exemplificação da amálgama cultural que o helenismo tem
intrinsecamente.

59
Figura 13: Tetradracma de Lisímaco
Fonte: British Museum – © Trustees of the British Museum21

Denominação: Tetradracma
Governante: Rei Lisíamco da Trácia e Ásia Menor
Local de cunhagem: Lampsacus
Ano de produção: 305 a.C.
Peso (g): 17,2
Diâmetro (mm): 30
Material: Prata
Fonte: British Museum

No anverso da moeda vemos claramente a efígie de Alexandre ornado com os


chifres de Zeus-Amon, Alexandre está com os cabelos em ligeiro movimento, e um
filete ou tiara esta prendendo seus cabelos, no reverso vê-se a figura de Atena sentada,
com as pernas relaxadas, suas armas e escudo rentes a sua silhueta, demonstram uma
situação de paz, o pelo menos a tentativa de se propagar a tal, a deusa mostra-se calma
segurando Nike, a deusa da vitória. As palavras em grego: BAΣIΛΩΣ (βασιλως), Basileu
(rei), e ΑΛΕΞΑΝΔΡΟΥ, Alexandre são vistas na legenda no reverso.
As moedas apresentadas acima não só exemplificam ou atestam o que os textos
nos haviam enunciado, elas tem caráter único nesta análise, as moedas como documento
material são únicas e oferecem informações que os textos não conseguem elucidar, as
interpretações da cultura material feita pelos arqueólogos denotam a cada dia que
podemos revisar, repensar e refazer a História Antiga dia após dia, e perceber que

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Disponível em < http://www.britishmuseum.org>. Acesso em: 26/11/13

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mesmo distante em séculos, os aspectos mais latentes da humanidade são
correspondentes aos nossos, a fama, a propaganda, a globalização, o medo, o status
entre outros são obviamente valores atuais e seria de uma anacronismo imenso inseri-
los no passado, mas podemos observar que os sentimentos dos homens que viveram no
passado, sejam eles reis ou súditos, são demasiadamente parecidos com os nossos, esse
espirito de humanidade é que nos conecta, mesmo que sejamos de locais diferentes,
falemos línguas diferentes e que estejamos a vários anos de distância um dos outros,
temos a mortalidade em comum e só isso já basta para nos conectar com o passado.

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CONCLUSÃO

Ao término desta pesquisa concluímos que de fato Alexandre, o Grande utilizou-


se de maneira estratégica a iconografia religiosa legitimar poder político no território
Egípcio. Através de sua figura divinizada o rei macedônio propagará a o seu “eu divino”
que já era fomentado por si mesmo e sua família, baseado nos mitos e lendas gregas –
religião, Isso será perfeitamente elucidado pelos seus biógrafos. Ao chegar ao Egito o
conquistador se depara com uma religião rica em ritos, signos, templos etc. Alexandre
se autoproclama filho de Zeus-Amon em Siuá, onde o culto à Zeus-Amon já era
bastante disseminado, os egípcios já haviam feito uma aproximação ritualística entre
Héracles e Amon como nos atesta Heródoto,
Júpiter recorreu a um artifício: matou um cordeiro, cortou-lhe a
cabeça e, colocando-a à frente da sua, revestiu-se da lã, apresentando-
se assim a Hércules” É por essa razão que as estátuas de Júpiter no
Egito representam o deus com uma cabeça de cordeiro.”
(HERÓDOTO, XLII Pg. 153).

Essa tradição religiosa só aumentará a aproximação das religiões grega e egípcia


de forma oficial, já que Zeus-Amon era cultuado pelos egípcios como Heródoto nos
relata. Alexandre enfrentou vários obstáculos durante toda sua expansão territorial no
Oriente, travou várias batalhas em lugares distintos, e enfrentou resistências, porém o
mesmo sempre se enxergou e retratou como um ser superior, mesmo sendo apenas um
homem, criado para governar, Alexandre o Grande entrou no rol da História por seus
feitos incríveis e ideia expansionista megalomaníaca, o jovem rei sabia que seu destino
estava traçado, triunfar tal como seu pai, se utilizando sempre do poderio militar o grego
sobrepõem vários povos sempre comprovando aquilo que ele acreditava ser, um deus.
Alexandre, o Grande se utilizou de sua figura divina para continuar sua expansão
e ter uma relação amistosa no Egito, porém acreditando nos seus antepassados místicos,
porém surgiram vários obstáculos, os quais tiveram de ser enfrentados por Alexandre
para que ele pudesse garantir plenamente sua ascensão e legitimação como novo
monarca. Sob essa perspectiva, nos aproximamos então de um Alexandre histórico –
desvencilhando-nos de visões míticas, que o consideram mesmo como um homem
predestinado ao sucesso desde o início de sua carreira política e militar. (LEME, 2008,
p.37)
Ao perceber isso, Alexandre se utiliza dessas imagens e costumes ao seu favor, a
cidade de Mênfis inicia a cunhagem de moedas com representações de um Alexandre

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deus se utilizando sempre de seu parentesco divino, após isso observamos a iconografia
de Alexandre ganhar nuances egípcias tal como suas representações em Luxor e Karnak
e sua efígie sendo utilizada juntamente com a imagem de Zeus-Amon por Ptolomeu no
Egito e Lisímaco na Ásia Menor. Ao propagar-se através dessa iconografia monetária,
Alexandre mostra através das moedas e propaga sua figura política, de dominadores à
dominados, ricos à pobres, ocidentais à orientais que seu poder é seu por direito, um
direito divino provindo diretamente dos mais poderosos panteões do mediterrâneo, o
grego e egípcio.

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