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CAPÍTULO 32

O segundo estádio do trabalho de parto


1 Introdução cervical completa. Se a mãe sentir desejo de começar a em-
2 Diagnóstico do início do segundo estádio do trabalho de purrar quando o progresso do trabalho de parto faz acreditar
parto que o colo pode não estar completamente dilatado, deve-se
3 Expulsão durante o segundo estádio do trabalho de parto
avaliar a dilatação cervical por exame vaginal. Se a dilatação
4 Posição durante o segundo estádio do trabalho de parto
5 Duração do segundo estádio do trabalho de parto do colo for menor que 8 cm, a mulher deve ser instruída a
6 Cuidados com o períneo encontrar a posição mais confortável e tentar resistir à vonta-
6.1 Proteção e massagem do períneo de de empurrar experimentando alternativas como técnicas
6.2 Episiotomia respiratórias; pode ser administrada analgesia peridural, se
6.3 Técnica de episiotomia necessário. Se houver apenas uma margem de colo e a mulher
7 Parto tiver uma vontade irresistível de empurrar, ela pode sentir-se
8 Conclusões melhor empurrando; é improvável que essa força espontânea
antes da dilatação completa cause qualquer dano, desde que a
mulher não fique exausta.
Quando se administra analgesia peridural para alívio da dor
1 Introdução no trabalho de parto, a necessidade de empurrar pode ser re-
duzida, adiada ou abolida. A palpação abdominal é uma for-
Durante o segundo estádio do trabalho de parto, todo o rit- ma satisfatória de avaliar a descida da apresentação. Pode-se
mo e a natureza das atividades adjacentes ao trabalho de tentar diagnosticar a dilatação completa dessa forma e
parto tendem a mudar. Embora haja continuidade dos prin- confirmá-la pelo aparecimento da apresentação na vulva ou por
cípios de assistência durante o trabalho de parto, nesse exame vaginal.
momento as mulheres freqüentemente tornam-se mais vul-
neráveis e dependentes da influência daqueles que a assis-
tem. A discussão sobre alternativas e escolhas não é fácil 3 Expulsão durante o segundo estádio do
nesse momento, e isso torna ainda maior que o habitual a trabalho de parto
responsabilidade do profissional de proteger os interesses da Em um estudo de mulheres nulíparas saudáveis que não ti-
mãe e do bebê. nham recebido educação formal para o parto e empurraram
espontaneamente sem quaisquer orientações dos que a assis-
2 Diagnóstico do início do segundo estádio do tiram, foram feitos três a cinco esforços de expulsão relativa-
trabalho de parto mente curtos (4-6 segundos) para empurrar a cada contração.
O número de esforços de expulsão por contração aumentou
Por definição, o segundo estádio do trabalho de parto, que se com o progresso do segundo estádio, e a maioria foi acompa-
encerra com o nascimento do bebê, começa quando há dilata- nhada por respiração. A minoria dos esforços de expulsão não
ção total do colo. Esse início “anatômico” pode ou não coinci- acompanhados por respiração foi acompanhada por períodos
dir com o início da fase de expulsão, quando a mãe começa a muito curtos de interrupção da respiração (com duração me-
sentir desejo de empurrar. Algumas mulheres sentem o dese- nor que 6 segundos). Apesar desse padrão respiratório, a du-
jo de empurrar antes de o colo estar completamente dilatado; ração média do segundo estádio do trabalho de parto foi de
outras podem só sentir essa vontade bem depois da dilatação 45 minutos, e não ultrapassou 95 minutos em nenhuma das
total do colo. 31 mulheres estudadas.
A própria mãe pode indicar a transição para a fase expulsiva A duração da interrupção respiratória (menor que 6 se-
com palavras, ação ou uma modificação da expressão facial, ou gundos) nas mulheres que usaram espontaneamente essa téc-
da forma como aperta a mão do acompanhante. Se a apresen- nica contrasta com a duração de 10 a 30 segundos ampla-
tação for visível no intróito, pode-se supor que há dilatação mente defendida para os esforços contínuos e direcionados

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para empurrar. Embora os esforços de expulsão contínuos gundo estádio do trabalho de parto é mais curto, e os episódi-
acompanhados por interrupção da respiração resultem em en- os de dor forte são menos freqüentes.
curtamento do segundo estádio do trabalho de parto, a pru- O tipo de apoio usado influenciou os efeitos da postura
dência das recomendações comuns para fazer esses esforços ortostática sobre o traumatismo perineal e a perda de sangue.
pode ser questionada. Além das alterações, induzidas pela Em estudos com uso da cadeira ou banco de parto, as
respiração, da freqüência cardíaca e do volume sistólico, os episiotomias foram reduzidas, mas houve aumento das
esforços maternos para empurrar, particularmente quando a lacerações perineais de segundo grau, bem como da perda de
mãe está em decúbito dorsal, estão associados à compressão sangue estimada. Com a almofada de parto, as lacerações de
da aorta distal e à redução do fluxo sanguíneo para o útero e segundo grau e os partos assistidos foram reduzidos, enquan-
para os membros inferiores. Associados à interrupção da res- to as episiotomias e a hemorragia pós-parto foram semelhan-
piração materna, esses efeitos podem comprometer a oxige- tes. A maior tendência a hemorragia pós-parto observada em
nação fetal. mulheres que usam cadeiras de parto provavelmente é devida
Nos estudos controlados publicados que comparam dife- ao traumatismo perineal, exacerbado pela obstrução do retor-
rentes condutas para empurrar, nos quais foram realizadas no venoso. Foram observados edema perineal excessivo e he-
avaliações do pH arterial no cordão umbilical, o pH arterial morróidas em mulheres que permanecem longos períodos em
médio no cordão umbilical foi menor (mais acidótico) no gru- posição ortostática nas cadeiras de parto.
po em que o esforço contínuo ou precoce foi encorajado. Os Padrões anormais de freqüência cardíaca fetal foram me-
esforços contínuos também parecem predispor a anormali- nos freqüentes nas mulheres que permaneceram em posição
dades da freqüência cardíaca fetal e redução do índice de vertical. Essa redução dos padrões anormais de freqüência car-
Apgar. Quando o esforço de expulsão é prolongado, a con- díaca fetal pode ser devida ao afastamento da compressão
dição fetal deve ser monitorizada e a posição de decúbito aortocava associada ao decúbito. Em dois estudos, que com-
dorsal evitada. pararam a posição de decúbito dorsal a uma inclinação lateral
Nas mulheres com analgesia peridural, o primeiro e o se- esquerda de 15 graus, os bebês cujas mães permaneceram em
gundo estádio do trabalho de parto são mais demorados, e o decúbito dorsal apresentaram menor pH arterial no cordão
uso de ocitocina, a má rotação e as cesarianas são mais freqüen- umbilical.
tes. Se a analgesia não cessar antes do segundo estádio do tra- Embora alguns assistentes relatem que as posições
balho de parto, são mais comuns o parto por fórceps com ro- ortostáticas algumas vezes foram inconvenientes, houve uma
tação ou o parto com vácuo-extrator, particularmente em resposta uniformemente positiva das mulheres que permane-
mulheres que foram incentivadas a empurrar relativamente ceram em posição ortostática durante o parto.
cedo. Não há indicações de que uma política de esforço pre- A posição de cócoras não é usada freqüentemente para ex-
coce tenha quaisquer vantagens para a mãe ou o feto. creção, repouso ou outras atividades em sociedades industria-
lizadas, e muitas pessoas consideram desconfortável mantê-la
por longos períodos. Os méritos relativos e as possíveis des-
4 Posição durante o segundo estádio do
vantagens da posição de cócoras no parto ainda não foram
trabalho de parto
adequadamente explorados. As mulheres devem ser incenti-
O uso de posições ortostáticas como de pé, ajoelhada, sentada vadas a dar à luz na posição que considerarem mais confortá-
em uma cadeia especial ou de cócoras para o parto é comum vel, com exceção do decúbito dorsal sem inclinação, que deve
em muitas culturas. Apesar disso, em muitos hospitais espe- ser evitado.
ra-se que as mulheres adotem posições de decúbito para o
parto. Obrigar as mulheres a adotarem posições consideradas
5 Duração do segundo estádio do trabalho de
incômodas ou desconfortáveis só se justifica se houver bons
parto
indícios de que a conduta traz grandes vantagens para a saúde
da mãe ou do feto. Durante muito tempo, o segundo estádio do trabalho de par-
A postura ortostática foi comparada à posição de decúbito to foi considerado um período particular de risco para o feto.
durante o parto em diversos estudos controlados. Na maioria Hoje existem ecos dessa opinião nas políticas difundidas de
desses, foram usadas cadeiras obstétricas especiais ou um en- impor limites arbitrários à duração do segundo estádio.
costo, cunha ou almofada para manter a posição ortostática. Foram demonstradas associações estatísticas entre o prolon-
Esses estudos mostraram que nas posturas ortostáticas o se- gamento do segundo estádio do trabalho de parto e resulta-

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dos obviamente indesejáveis, como mortalidade perinatal, pélvica. A causa dessa ausência de progresso deve ser diagnos-
hemorragia pós-parto, morbidade febril puerperal e convul- ticada e tratada apropriadamente. Algumas vezes, a má apre-
sões neonatais, e também com resultados de significado me- sentação ou pequenos graus de desproporção cefalopélvica
nos certo relativos ao equilíbrio ácido-básico do bebê ao nas- podem ser superados incentivando-se a mãe a mudar de posi-
cimento. Sozinhas, essas associações não são suficientes para ção. Pode-se usar ocitocina intravenosa se as contrações forem
concluir que a própria duração do segundo estádio do traba- inadequadas. Pode ser necessária manipulação instrumental
lho de parto é a variável crucial. ou manual, ou algumas vezes cesariana.
A abreviação do segundo estádio do trabalho de parto por
força ativa ou parto cirúrgico pode modificar a diminuição do
6 Cuidados com o períneo
pH fetal que tende a ocorrer no decorrer do trabalho de parto.
Entretanto, sem alguns indícios de que essa política tem efei- É importante reduzir o risco de traumatismo perineal, por-
to benéfico sobre importantes resultados do lactente, dificil- que o desconforto conseqüente pode dominar a experiência do
mente podem ser justificados o traumatismo materno e o trau- início da maternidade e resultar em incapacidade significati-
matismo fetal ocasional resultantes da maior interferência ci- va durante os meses e anos subseqüentes. Esse risco pode ser
rúrgica. Um estudo, disponível apenas na forma de sumário, minimizado por aceleração do parto apenas quando há indi-
constatou uma duração reduzida do segundo estádio e dimi- cações maternas ou fetais claras, e não “por causa do tempo”,
nuição da taxa de parto cirúrgico com o uso de uma cinta e pelo uso do vácuo-extrator em vez do fórceps quando é ne-
abdominal inflável durante o segundo estádio. cessário parto instrumental (ver Cap. 41).
As decisões relativas à abreviação do segundo estádio do Pode haver lesão perineal por lacerações espontâneas ou por
trabalho de parto devem ser baseadas nos mesmos princípios episiotomia. Embora alguns obstetras pareçam ser particular-
de monitorização do bem-estar da mãe e do feto usados du- mente hábeis em auxiliar o parto de forma a minimizar o trau-
rante o primeiro estádio do trabalho de parto. Se as condições matismo perineal, na maioria dos hospitais pelo menos dois
da mãe e do feto forem satisfatórias, e houver indicações de terços das mulheres que dão à luz pela primeira vez sofrem
que está havendo progresso com a descida da apresentação, não traumatismo suficiente para exigir sutura.
há motivo para intervenção. Um único estudo avaliou o uso
de betamiméticos profiláticos com o objetivo de reduzir o 6.1 Proteção e massagem do períneo
sofrimento fetal durante o segundo estádio; não foram cons- A prática disseminada de proteger o períneo, com a colocação
tatados efeitos positivos. dos dedos do profissional contra ele durante as contrações,
Pode haver exaustão materna a qualquer momento duran- baseia-se na crença de que essa prática sustenta suficientemente
te o trabalho de parto, porém ela é mais provável durante o os tecidos para reduzir o risco de traumatismo espontâneo. Essa
segundo estádio, quando o esforço adicional de empurrar é é uma hipótese razoável, principalmente se associada à apli-
acrescentado ao estresse das contrações. Se a mãe não estiver cação de pressão suave à cabeça do feto para controlar a velo-
sofrendo indevidamente e não estiver empurrando ativamen- cidade do coroamento, pois esse é o período em que há maior
te (particularmente quando submetida a analgesia peridural), risco de lesão espontânea dos tecidos perineais. Outros acre-
não há razão para se acreditar que o segundo estádio é mais ditam que é melhor não usar as mãos (exceto quando necessá-
propenso a causar exaustão que o primeiro estádio. rio). Essas políticas discordantes foram comparadas em um
Ocasionalmente, a monitorização do coração fetal utilizando estudo randomizado, bem conduzido, com a participação de
ausculta intermitente pode representar dificuldades, pois al- mais de 5.000 mulheres. O resultado primário foi a dor
gumas vezes é difícil encontrar o coração do feto quando ele perineal por volta do 10.º dia pós-parto, que foi um pouco,
desce para a pelve. Pode ser frustrante e desconfortável para mas significativamente, menor no grupo que usou as mãos. A
uma mulher ter pessoas tentando ouvir o coração do bebê o incidência de traumatismo perineal foi semelhante nos dois
tempo todo, ou ter que mudar de posição para facilitar a aus- grupos, assim como a situação do lactente.
culta fetal. Nessas circunstâncias, a monitorização eletrônica O “alisamento” (massagem) do períneo à medida que o
fetal freqüentemente é mais confortável e menos perturbadora segundo estádio do trabalho de parto avança, algumas vezes
para a mulher. com um emoliente como o azeite de oliva ou a aplicação de
A ausência de descida da apresentação pode ser devida a uma compressa quente, destina-se a alongar os tecidos e re-
contrações uterinas inadequadas ou descoordenadas; a má duzir o risco de traumatismo. Essas técnicas têm defensores
posição ou má apresentação do feto; ou a desproporção cefalo- entusiastas, bem como detratores. Esses últimos sugerem que

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o toque pode ser uma distração perturbadora, e que o aumen- Não há dados que apóiem a sugestão de que o uso liberal
to da vascularização e o edema em tecidos que já correm risco da episiotomia minimiza o traumatismo da cabeça fetal. Da-
de traumatismo são contraproducentes. Na única comparação dos dos estudos randômicos mostram distribuições semelhan-
controlada (divulgada apenas na forma de sumário até hoje) tes de índices de Apgar e das taxas de internação no berçário
não foi constatada diferença no risco geral de traumatismo de cuidados especiais.
perineal, embora um menor número de mulheres no grupo Os usos liberal e restrito de episiotomia estão associados a
submetido a massagem do períneo tenha sofrido uma lacera- padrões contrastantes de traumatismo: o uso liberal está asso-
ção de terceiro ou quarto grau. ciado a uma menor freqüência de lacerações vaginais anterio-
res e labiais. Isso levanta a possibilidade de que a episiotomia
6.2 Episiotomia tenha um efeito protetor mais específico sobre os tecidos ao
Se a monitorização durante o segundo estádio do trabalho de redor do colo vesical. Entretanto, não há boas indicações de
parto sugerir que há sofrimento do feto ou da mãe, ou que o que o uso mais liberal de episiotomia proteja contra inconti-
progresso cessou, pode ser necessário acelerar o parto, por nência urinária. No acompanhamento de 3 anos de uma com-
episiotomia, parto instrumental ou ambos. Mais controversa paração entre o uso liberal e o uso restrito da episiotomia, as
é a questão do uso rotineiro ou liberal da episiotomia para taxas e a intensidade da incontinência foram semelhantes nos
indicações menos importantes. dois grupos de estudo.
Embora tenha se tornado um dos procedimentos cirúrgi-
cos mais comuns no mundo, a episiotomia foi introduzida sem 6.3 Técnica de episiotomia
que houvesse fortes indicações científicas de sua eficácia. Os As episiotomias são realizadas algumas vezes utilizando-se
efeitos benéficos sugeridos da episiotomia são: redução da tesoura, outras vezes com bisturi. Aqueles que preferem a te-
probabilidade de lacerações de terceiro grau; preservação do soura afirmam que é menos provável que haja lesão da apre-
assoalho pélvico e do músculo perineal, levando a melhora da sentação fetal e há maior tendência a promover a hemostasia
função sexual e redução do risco de incontinência fecal e/ou nas bordas da ferida devido à sua ação de esmagamento e de
urinária; redução do risco de distocia do ombro; reparo mais corte. Aqueles que preferem o bisturi afirmam que ele mini-
fácil e melhor cicatrização de uma incisão limpa e reta do que miza o traumatismo e assim há melhor cicatrização da ferida
de uma laceração; para o bebê, redução da asfixia, traumatis- perineal. Não há dados para fundamentar quaisquer julgamen-
mo craniano, hemorragia cerebral e retardo mental. Por ou- tos sobre a validade dessas afirmações.
tro lado, foram sugeridos vários efeitos adversos da episiotomia. Não foi determinado satisfatoriamente se a episiotomia
Eles incluem: a secção ou extensão da secção para o esfíncter mediana tem melhor resultado que a episiotomia mediola-
anal ou para o reto; resultados anatômicos insatisfatórios, como teral. As vantagens sugeridas da episiotomia mediana são:
fibromas moles, assimetria ou estreitamento excessivo do in- melhor cicatrização com melhor aspecto da cicatriz e melhor
tróito; prolapso vaginal, fístulas retovaginais ou anais; aumento função sexual no futuro. Aqueles que não gostam do méto-
da perda de sangue e hematoma; dor e edema; infecção e do mediano ressaltam que está associado a maiores taxas de
deiscência; e disfunção sexual. extensão da episiotomia e, conseqüentemente, aumento do
O uso liberal de uma cirurgia com os riscos descritos ante- risco de traumatismo perineal grave. Em um estudo, a
riormente só poderia ser justificado por indicações de que esse episiotomia mediana foi associada a menor incidência de
uso proporciona benefícios compensadores. Não há dados que equimose, maior número de lacerações perineais de terceiro
apóiem os supostos benefícios do uso liberal da episiotomia. grau e reinício da atividade sexual mais cedo, mas nem esse
Estudos controlados mostram que o uso restrito da episiotomia nem um estudo subseqüente tiveram coerência metodológica
resulta em menor risco de traumatismo perineal posterior, suficiente para se chegar a conclusões fidedignas. A pesqui-
menor necessidade de sutura de traumatismo perineal, menos sa bem controlada para avaliar vantagens e desvantagens, a
complicações de cicatrização e ausência de diferenças no risco curto e a longo prazo, das episiotomias mediana e mediola-
de traumatismo vaginal ou perineal grave, dor perineal pós- teral está muito atrasada.
parto, dispareunia ou incontinência urinária. A única desvan-
tagem do uso restritivo da episiotomia é o aumento do risco
7 Parto
de traumatismo perineal anterior. Esses resultados são seme-
lhantes aos observados com as episiotomias mediolateral e As mulheres têm diversas opções de posição para dar à luz, e
mediana. podem mudar de posição freqüentemente, se forem incenti-

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vadas a descobrir sozinhas qual a posição mais confortável. Não tendem a apoiar o uso de posições ortostáticas. O decúbito
há motivo para exigir, ou incentivar ativamente, uma posição tende a alongar o segundo estádio do trabalho de parto, re-
de decúbito dorsal ou de litotomia durante o parto; muitas duzir a incidência de partos espontâneos, aumentar a inci-
vezes essas posições são particularmente dolorosas e dência de padrões anormais de freqüência cardíaca fetal e re-
perturbadoras nesse momento. As mulheres que preferem fi- duzir o pH do sangue no cordão umbilical. Por outro lado,
car deitadas freqüentemente consideram a posição lateral mais pelo menos algumas das cadeiras de parto introduzidas nos
confortável. últimos anos parecem predispor a edema perineal e
A mulher freqüentemente dependerá da orientação da ingurgitamento venoso, que, associados ao traumatismo
obstetriz ou do médico para moderar seu esforço de expulsão, perineal, podem resultar em aumento da perda sanguínea.
para permitir um desprendimento suave e relaxado da cabe- Entretanto, o uso de uma cadeira de parto não é a única for-
ça. Isso pode ser produzido intercalando-se esforços expulsivos ma de se adotar uma posição ortostática durante o trabalho
curtos com períodos de respiração ofegante, dando assim aos de parto. A mãe deve ser incentivada a ficar na posição que
tecidos tempo para relaxar e se distender sob pressão. Utili- preferir.
zando essa conduta, pode haver diversas contrações antes do Não há dados sugestivos de que, quando o segundo está-
coroamento e desprendimento da cabeça. dio do trabalho de parto está progredindo e as condições da
Após o desprendimento da cabeça, os ombros giram in- mãe e do feto são satisfatórias, esteja justificada a imposição
ternamente. Se o cordão umbilical estiver apertado ao redor de qualquer limite arbitrário máximo para sua duração. Esses
do pescoço do bebê, pode ser possível afrouxá-lo e depois limites devem ser desprezados.
passá-lo sobre a cabeça do bebê. Se necessário, ele pode ser Há alguns dados que apóiam as práticas de proteção do
clampeado e seccionado. Após rotação completa, sai um períneo, mas nenhum apóia afirmações de que o uso liberal
ombro de cada vez, para reduzir o risco de traumatismo da episiotomia reduz o risco de traumatismo perineal grave,
perineal. Quando a mãe está em posição de semidecúbito, o melhora a cicatrização perineal, evita traumatismo fetal ou
ombro anterior pode desprender-se primeiro; na posição de reduz o risco de incontinência urinária de esforço após o par-
cócoras ou ajoelhada, o ombro posterior pode sair primeiro. to. A episiotomia só deve ser usada para aliviar o sofrimento
A mãe pode então desejar segurar o bebê e concluir o res- fetal ou materno, ou para obter progresso adequado quando o
tante do parto sozinha. períneo é responsável pela ausência de progresso.
A dificuldade no desprendimento dos ombros é rara após
a saída espontânea da cabeça. Não se deve tentar desprender Fontes
os ombros até que eles tenham girado para o eixo ântero-pos- Effective care in pregnancy and childbirth
terior. A tração posterior da cabeça, associada aos esforços
expulsivos maternos, geralmente é suficiente para o despren-
dimento do ombro anterior. O obstetra deve conhecer bem
Biblioteca Cochrane
as técnicas para superar o problema de distocia do ombro nas
raras ocasiões em que isso ocore. Elas incluem ampla abdu-
ção das coxas e flexão completa dos quadris maternos; rota-
ção manual do ombro posterior anteriormente; e pressão
constante exercida por um assistente diretamente acima do
osso púbis.

8 Conclusões Revisões pré-Cochrane

Não há dados que apóiem uma política de dirigir o esforço de


expulsão durante o segundo estádio do trabalho de parto, e
algumas evidências sugerem que ela pode ser prejudicial. A
prática deve ser abandonada.
Da mesma forma, não há dados que justifiquem obrigar
as mulheres a permanecerem deitadas durante o segundo es-
tádio do trabalho de parto. Com algumas ressalvas, os dados

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FONTES 161

Outras fontes

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