Você está na página 1de 8

Luta no Mar

 
A ofensiva alemã no mar

Guerra Submarina: A Batalha do Atlântico


 
 
Quando a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim, em 1918, as potências participantes assinaram o Tratado
de Versalhes. Suas cláusulas estabeleciam as limitações que restringiam a Alemanha, como potência
vencida, no campo das forças armadas.
 
A Marinha de Guerra alemã, em particular, foi reduzida, em número de unidades e tonelagem, a uma força
puramente simbólica. A Alemanha, pela convenção, ficava autorizada a integrar sua potência naval com a
seguintes unidades: Couraçados: Seis de 10.000 toneladas, com canhões de 280 mm; Cruzadores: Seis de
6.000 toneladas, com canhões de 150 mm; Torpedeiros: 12 de 800 toneladas; Porta-aviões: nenhum e
Submarinos: nenhum.
 
Depois da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, a Marinha de Guerra Alemã, sob a orientação do Almirante
Raeder, iniciou u programa de construções navais, a fim de reforçar rapidamente o seu poderio. Entre os
novos barcos em construção, estavam os cruzadores de guerra Scharnhorst e Gneisenau, cujas características
(26.000 toneladas de deslocamento) superavam os limites autorizados pelo Tratado de Versalhes. O
Almirantado Britânico, ao tomar conhecimento do fato, que implicava numa violação do acordo citado,
resolveu solicitar do seu governo a assinatura de um acordo com a Alemanha, tendente a impedir o perigoso
crescimento da frota alemã. Aprovada a sugestão, o governo britânico iniciou as negociações, sem informar
previamente a França, nem a Liga das nações. Essa atitude teria graves conseqüências, pois, como assinalou
Winston Churchill, “no mesmo momento em que eles (o governo britânico) apelavam para a Liga,
solicitando o apoio dos seus membros a um protesto contra as violações de Hitler das cláusulas militares do
Tratado, por um acordo separado passavam por cima das cláusulas navais do mesmo tratado”. Com efeito:
em junho de 1935, pelo Tratado Naval de Londres, a Alemanha poderia aumentar a sua frota de guerra até
um total de 425.000 toneladas, assim discriminadas: Encouraçados: 184.000 toneladas; Cruzadores pesados
51.000 toneladas; Cruzadores leves: 67.000 toneladas; Porta-aviões: 47.000 toneladas; Destróieres: 52.000
toneladas e Submarinos: 24.000 toneladas.
 
Deve-se destacar que, no tocante à frota submarina, a tonelagem total deveria consistir em 45% da
correspondente, na frota britânica. Podia contudo, baseada numa cláusula que estipulava a aparição de “uma
emergência que tornasse necessário” elevar essa percentagem (45%) até 100%; isto é, igualar a frota
submarina alemã à britânica. Esta cláusula, que subentendia uma inexplicável concessão, permitiu aos
alemães lançar as bases de uma frota submarina que causaria perdas devastadoras às nações aliadas. Tal fato
foi logo compreendido pelo Almirante Raeder que, nua conferência realizada meses antes com Hitler,
manifestou-lhe: - A chave do poderio marítimo alemão está debaixo da superfície. Dêem-me submarinos e
teremos dentes para atacar...
 
Ao receber o Fuhrer o telegrama de Ribbentrop, anunciando o novo tratado naval, mandou chamar Raeder e,
entregando-lhe a mensagem, disse: - Aqui tem os seus dentes...
 
 
Nasce a frota submarina
 
Apenas Raeder teve em suas mãos a autorização de Hitler, tomou as medidas necessárias para organizar a
nova frota de submarinos. Encomendou essa tarefa ao Capitão-de-Fragata Karl Doenitz, que havia sido um
dos mais brilhantes comandantes de submarinos da Primeira Guerra Mundial. Doenitz estabeleceu o centro
de treinamento da nova força na base naval de Kiel e, antes de terminar o ano de 1935, a nova escola estava
em condições de receber os novos aspirantes a tripulantes de submarinos. Nesse ano, além disso, levou-se a
cabo a construção dos primeiros submarinos. Vinte deles pertenciam ao chamado “Tipo II”, de 250 toneladas
de deslocamento, muito pequenos, e aptos para operar em águas próximas da costa. Por suas características,
forem denominados “pirogas”. Além desses, haviam sido construídos quatro submarinos oceânicos do “Tipo
VII” de 500 toneladas, que constituíam as primeiras unidades da que, mais tarde, seria a principal arma de
combate submarina.
 
Doenitz, que desde o primeiro momento predisse que a Alemanha teria que enfrentar a Inglaterra no mar, foi
um decidido promotor do desenvolvimento acelerado da frota submarina; especialmente das unidades “Tipo
VII”, que estavam em condições de operar contra as linhas de abastecimentos, no Atlântico. Em meados de
1938, a frota de submarinos, com quase 40 unidades em ação, havia alcançado os 45% estipulados no
Acordo Naval de Londres. Nessa época, Raeder constitui um grupo de estudos para equacionar os possíveis
problemas e soluções a aplicar numa guerra futura com a Inglaterra. Elaboraram-se dois planos diferentes:
um deles previa a concentração dos esforços bélicos em torno do tráfego mercante, utilizando submarinos e
encouraçados; o outro propunha a organização de uma frota mais numerosa, com poderosas unidades de
superfície, que não somente seria empregada no ataque da navegação mercante, mas que também estaria em
condições de combater as naves de guerra inimigas. Este último recebeu a denominação de “Plano Z” e foi
adotado por Hitler. O Fuhrer, ao anunciar a Raeder a aprovação do plano, lhe comunicou que, de acordo,
com seus projetos, a frota não seria necessária antes de 1946. Havia, portanto, tempo suficiente para terminar
as construções. O “Plano Z” previa a formação de uma frota integrada pelos seguintes navios: 10 super-
encouraçados de 50.000 t; 12 encouraçados de 20.000 t; 3 encouraçados de 10.000 t; 4 porta-aviões de
20.000 t; 5 cruzadores pesados, 44 cruzadores leves, 458 destróieres, torpedeiros, caça-minas, etc. e 249
submarinos, de todos os tipos.
 
Diante da magnitude do plano, o Almirante Raeder emitiu ordens para que se desse primazia aos
encouraçados e submarinos; aqueles, por serem os navios cuja construção demandaria mais tempo; os
segundos, porque segundo suas palavras “representavam o único meio eficiente de ataque no período de
nossa debilidade”.
 
Os objetivos do “Plano Z” não estavam de acordo, com os pontos de vista de Doenitz, que se convencera de
que a Inglaterra não permaneceria indiferente ante a construção de uma frota de tamanha amplitude. Para
Doentiz, portanto, era necessário incrementar, com maior celeridade possível a frota submarina. De acordo
com seus cálculos, somente com um mínimo de 300 naves desse tipo a Alemanha poderia operar com êxito
contra a navegação mercante britânica.
 
Nas manobras realizadas no verão de 1939, Doenitz conseguiu finalmente convencer Raeder da necessidade
de aumentar o poderio submarino. Este último, então autorizou a elevar para 300 o número de submersíveis
previstos no “Plano Z”. A decisão, contudo, chegou muito tarde. Ao explodirem as hostilidades, a Alemanha
contava com apenas 57 submarinos em operações.
 
19 de agosto de 1939
 
Ao cair da noite de 19 de agosto, o Almirante Raeder recebeu um importantíssimo chamado: Hitler requeria
a sua presença. Diante do Fuhrer, o almirante foi notificado, intempestivamente, do iminente início das
hostilidades contra a Polônia. Com efeito, Hitler acabava de receber do seu embaixador em Moscou um
telegrama que lhe comunicava que Stalin havia aceito a realização de um pacto com a Alemanha. Esse
acordo deixava o Fuhrer de mãos livres para levar adiante seus planos de conquista na Polônia e enfrentar,
além disso, a possível reação da França e da Inglaterra. De acordo com os planos já previstos, Raeder
ordenou imediatamente que a frota de submarinos abandonasse, sem tardar, as suas bases e se situasse nos
pontos prefixados, nas rotas de navegação, do Atlântico e do Mar do Norte. Os encouraçados Graf von Spee
e Deutschland também se fizeram ao mar, com o mesmo objetivo. Na mesma noite de 19, 17 submarinos do
novo modelo IX, de grande raio de ação, abandonaram suas bases e rumaram para as águas do Atlântico,
entre o sul da Irlanda e Gibraltar. Dias mais tarde, a 27 de agosto, 6 submarinos de ataque costeiro situaram-
se no mar do Norte. A estas unidades logo se somaram outras 10, que, vindo do oeste, armaram um cerco em
torno das ilhas britânicas.
 
Na manhã de 30 de setembro, 6 submarinos do tipo VII, postaram-se em posições estratégicas, entre as ilhas
Orcadas e a Islândia. Enquanto essas unidades de guerra permaneciam no mar, em seus postos de ataque, na
base de Wilhelmshaven o Almirante Doenitz aguardava do Alto-Comando a ordem que daria começo às
hostilidades.
 
Às 11 horas da manhã de 3 de setembro, as rádios da base começaram a transmitir a esperada mensagem: “A
Inglaterra e a França declararam guerra à Alemanha... Cobrir postos de combate... conforme instruções já
determinadas para a Marinha”. Os comandantes das diversas unidades, ao receber este sinal, emitiram as
respectivas ordens, urgentes. Quando as tripulações ainda estavam preparando os barcos, chegou uma
segunda mensagem, transmitida pessoalmente por Doenitz. Seu texto dizia: “Instruções de combate para a
frota submarina, agora em plena vigência... Atacar transportes de tropas e navios mercantes que transportem
equipamento militar, de acordo com o regulamento na Convenção de Haia... Atacar comboios inimigos sem
aviso, com exceção de barcos que transportem passageiros, que devem ter passagem livre... Não atacar esses
barcos, nem navegando em comboios. Doenitz”.
 
A ordem do Almirante alemão deu início à terrível batalha do Atlântico.
 
O caso do “Athenia”
 
Às 20 horas de 3 de setembro de 1939, o submarino U-30 navega silenciosamente a 200 milhas a oeste das
ilhas Hébridas. A neblina se estende sobre o mar, dificultando a visibilidade. Na torre do submersível, que
navega à superfície, o comandante, Capitão Lemp, acompanhado pelo primeiro-oficial, perscruta as trevas
que os rodeiam, numa tentativa de vislumbrar o possível inimigo. De repente, entre a bruma, vê-se aparecer a
massa negra de um grande navio que navega sem luzes de sinalização e ziquezagueando. Depois de um
primeiro minuto de vacilação, Lemp acredita reconhecer a silhueta de um cruzador auxiliar britânico. Dirige-
se ao seu lugar-tenente e ordena: - Submergir!
 
Ao mesmo tempo, o alarma de combate ressoa pelo submarino. Os homens correm a seus postos. Lemp
desce ao interior e se coloca diante do periscópio. O submarino, impulsionado agora pelos seus poderosos
motores elétricos, navega debaixo da superfície para impedir a passagem do grande navio. Um profundo
silêncio reina entre os tripulantes. Lemp, depois de uns instantes, ordena: - Periscópio acima!
 
Em poucos segundos, o comandante, sem afastar os olhos do visor do periscópio, calcula a velocidade e o
rumo da nave inimiga. Imediatamente transmite esses dados ao segundo comandante, encarregado dos
torpedos. Assim se chega ao minuto que antecede o ataque. Nesse momento, apenas 1.500 metros separam
ambas as naves. Lemp, sem vacilar, grita a ordem: - Fogo!
 
Rapidamente, três torpedos partem para o alvo e 60 segundos depois, o submarino estremece. Um dos
projéteis acertou o alvo. Lemp ordenou então subir à superfície. Ainda não terminara de emergir quando a
torre se abria. O comandante Lemp é o primeiro a observar aquele triste espetáculo. Ao longe, iluminado
pela luz da lua, o barco se afunda, de popa, lentamente. Nesse instante, o rádio-telegrafista de bordo capta
uma mensagem do navio sinistrado: “Athenia, torpedeado, 56,42 norte; 14,05 oeste”. Lemp, então, consulta
o registro do Lloyd’s . O rádio-operador, contudo, já se adiantara. Conferira e o informa: “Navio de
passageiros, inglês, meu comandante; 13.500 toneladas de acordo com o registro”. Lemp se sente
amargurado. Desobedeceu, por engano, à ordem emitida por Doenitz de não atacar navios de passageiros.
Seu trágico equívoco acaba de custar a vida de 112 passageiros das 1.400 que o Athenia transportava. Entre
as vítimas, estavam 69 mulheres e 16 crianças.
 
Dessa maneira, involuntariamente cruel, começa a guerra submarina. Lemp, arrasado, decide não dar parte
do afundamento até regressar ao porto. Este fato complica ainda mais a série de versões que imediatamente
cercam o afundamento. A imprensa da Inglaterra e dos Estados Unidos comentam com grandes manchetes o
bárbaro ataque. Raeder, ignorando o sucedido, comunica a Hitler que o Athenia não foi afundado por um
submarino alemão. O Fuhrer, no dia seguinte, dá ordem de enviar uma mensagem a todos os submarinos, no
qual determina que “sob nenhum pretexto se devem realizar operações contra navios de passageiros, mesmo
quando estiverem escoltados”. A 27 de setembro, o U-30 regressa à sua base. Lemp se entrevista
imediatamente com o Almirante Doenitz, que não tem a menor suspeita da grave comunicação que o
comandante do U-30 lhe fará, minutos depois. Com efeito, Lemp, lhe confessa: - Eu afundei o Athenia.
 
Doenitz ordena que ele viaje imediatamente a Berlim para prestar contas ao Alto-Comando Naval. Essa
entidade de comando, depois de submeter o capitão a severo interrogatório, decide manter em absoluto
segredo o episódio. Lemp, por sua vez, não será submetido a uma corte marcial, pois considera-se que sua
ação foi fruto de um engano. Por seu lado, Doenitz, para manter o segredo, ordena a suprimir do livro de
navegação do submarino todos os dados referentes ao afundamento. Igual medida é tomada com as cópias do
mesmo, que permanecem ao Alto-Comando.
 
Apesar de ter conhecimento da verdade acerca do episódio, Hitler, pessoalmente, ordenou a Goebbels que
propalasse pela imprensa e pela rádio uma versão muito diferente do que realmente sucedera. E, no dia 22 de
outubro, o ministro de propaganda nazista anunciou pelo rádio que o navio Athenia havia sido afundado por
ordem de Churchill. No dia seguinte, os jornais da Alemanha repetiram a notícia em primeiro plano. A
versão dizia que uma bomba de tempo fôra colocada na navio, por ordem do Primeiro Ministro inglês, com o
objetivo de criar um incidente entre a Alemanha e os Estados Unidos (o Athenia transportava 331
passageiros americanos, 28 dos quais morreram).
 
Primeira grande vitória alemã
 
A 17 de setembro, o velho porta-aviões britânico Courageous navegava a 200 milhas a sudoeste da Irlanda,
escoltado por dois destróieres. Ao entardecer, no momento que o grande navio manobrava para receber na
sua coberta os aviões da sua guarnição que regressavam de um vôo de patrulha, foi interceptado pelo
submarino alemão U-29, comandado pelo Tenente-de-Fragata Schuhardt. Este, ao perceber que o porta-
aviões estava protegido por escolta fraca, resolveu atacá-lo. O U-29 encurtou rapidamente a distância que os
separava, e se colocou em posição de tiro. Depois de receber a ordem de Schuhardt, o segundo comandante
disparou uma salva de quatro torpedos que acertaram em cheio o navio britânico. Em 15 minutos, o porta-
aviões foi a pique, arrastando ao fundo do mar 500 dos seus 1.200 tripulantes. O comandante, Capitão
Makeig Jones, pereceu no naufrágio. Os dois destróieres que escoltavam o porta-aviões se lançaram
imediatamente à caça do submarino. O U-29, contudo, desceu a grande profundidade, e, navegando
lentamente, conseguiu burlar os seus perseguidores.
 
Três dias depois, outro submarino, o U-39, havia atacado o porta-aviões Ark Royal, a 150 milhas a oeste das
ilhas Hébridas. Seus torpedos, contudo, explodiram antes de atingir o alvo, não causando nenhum dano. Os
destróieres da escolta, reagindo imediatamente, em poucos minutos conseguiram caçar e afundar o
submarino. Foi esse o primeiro submarino alemão destruído na Segunda Guerra Mundial.
 
Ataque a Scapa Flow
 
O Almirante Doenitz planejou, em princípios do mês de outubro de 1939, realizar um audacioso ataque
submarino contra a base principal da frota britânica, situada nas ilhas Orcadas, na baía de Scapa Flow. Já na
Primeira Guerra Mundial os alemães haviam tentado, em duas oportunidade, introduzir-se nessa base, sem
resultado. Doenitz, portanto, realizou cuidadosos estudos, valendo-se de fotografias aéreas tomadas pela
Luftwaffe. Baseado nessas fotografias, determinou-se que a entrada menos defendida por redes anti-
submarinas e navios de bloqueio era o estreito canal Kirk. Um submarino do tipo VII (500 toneladas), capaz
de permanecer durante 24 horas submerso, foi o navio escolhido para efetivar o difícil ataque. Esse
submarino deveria navegar através do canal de uma milha de comprimento e apenas 10 metros de
profundidade, evitando obstáculos que lhe davam um espaço de manobras de apenas 30 metros, lutando,
além do mais, contra fortes correntezas. Para a difícil missão foi escolhido o U-47, capitaneado pelo Tenente
Gunther Prien. Este marinheiro era considerado como o mais experiente e audaz comandante de submarinos
alemães. Às 22 horas de 13 de outubro de 1939, o U-47 iniciou a operação. A noite estava calma e sem lua.
As marés eram favoráveis. Prien, com grande perícia, orientou o U-47 navegando na superfície e deslizou
através do estreito de Kirk, para o interior de Scapa Flow. O submarino passou roçando os cascos dos navios
afundados que bloqueavam a entrada e, logo completou a passagem.
 
À sua vista estendia-se o vasto ancoradouro da frota britânica. Prien rumou para o sudoeste, onde, segundo
os informes ancorava a maior parte dos navios ingleses. Contudo, não avistou ali nenhum barco, com
exceção de alguns destróieres que patrulhavam as águas. A frota inglesa se havia feito ao mar no dia anterior,
enquanto o U-47 permanecia fundeado fora de Scapa Flow, aguardando a chegada da noite. Prien, então,
decidiu dirigir-se para o norte da baía e lá distinguiu, na obscuridade, a negra silhueta de dois grandes navios
de guerra.
 
Rapidamente, selecionou como alvo a um deles, que identificou como o encouraçado Royal Oak. Colocou o
U-47 em posição de tiro e, numa salva única, lançou cinco torpedos. Somente um dos projéteis acertou no
alvo, explodindo na proa do encouraçado. Aconteceu então uma coisa inacreditável. O capitão do
encouraçado e seus oficiais, convencidos da impossibilidade que tinham os submarinos alemães de penetrar
na inexpugnável base, atribuíram o estampido a uma explosão interna. Prien, surpreso com a falta de reação
britânica, tomou uma decisão temerária: efetuaria um novo ataque. Dirigiu então o U-47 para o centro da
baía, seus homens, realizando um esforço extraordinário, recarregaram em 20 minutos os cinco tubos lança-
torpedos. Disparou novamente os seus torpedos e voltou a acertar, com os cinco projéteis, desta vez. Uma
explosão atroadora encheu a baía. A coluna de água que se ergueu repentinamente, caiu numa cascata que
atingiu o U-47. O submarino com o eco da explosão, sacudiu perigosamente.
 
Com o Royal Oak pereceram o Contra-Almirante Blagrove e 786 oficiais e marinheiros. O U-47, acelerando
ao máximo os seus motores, escapou sem ser visto pelos destróieres inimigos e, atravessando novamente o
estreito de Kirk, alcançou o mar aberto. A façanha estava cumprida.
 
Intensifica-se a luta
 
Nos primeiros meses da guerra, os submarinos alemães operavam, geralmente, de forma individual. Não
existiam unidades suficientes para integrar as “alcatéias de lobos” que, posteriormente, haveriam de causar
danos tão graves à navegação aliada. Fizeram-se, então, as primeiras tentativas para por em prática essa
técnica, fazendo com que vários submarinos, dirigidos por um comando estabelecido em terra, atacassem os
comboios aliados. As informações e ordens emitidas da base eram dirigidas ao chefe de um submarino, que
assumia a orientação dos restantes. Estas ações, contudo, não tiveram resultados positivos: não existiam
submarinos suficientes.
 
A luta se concentrou, nessa época, portanto, diretamente nas rotas de acesso à Inglaterra, pois não se podia
cobrir áreas maiores. A duras penas, conseguiu-se, então, manter uma média de 20 navios em serviço
permanente, cobrindo as zonas de ataque, no Atlântico. Os resultados, entretanto, apesar das façanhas
individuais de comandantes habilidosos como Prien e Kretschmer, com seus submarinos U-47 e U-99, não
foram importantes. Existiu também um grave problema, verificado numa falha dos torpedos. Os chamados
torpedos “E”, impulsionados eletricamente, eram providos de uma nova espoleta magnética, que sofria
freqüentes falhas em seu funcionamento. A carga era detonada ora muito cedo, ou muito tarde; e, às vezes,
nem sequer detonava. Esta falha obrigou o abandono da espoleta magnética, e a volta à adoção da antiga
espoleta de contato. Mesmo assim, novos inconvenientes surgiram nos mecanismos dos torpedos destinados
a fixar a profundidade. Esses graves inconvenientes somente foram solucionados, definitivamente, no verão
de 1941.
 
Com a conquista da França, realizada em junho de 1940, a guerra submarina tomou um curso mais intenso,
ao disporem os alemães de bases na costa atlântica. Os portos de Lorient, Saint Nazaire, La Pallisse e
Bordéus converteram-se, a partir de então, nos centros nevrálgicos da atividade submarina. Efetivamente, até
esse momento, os submarinos alemães se haviam confinado às suas bases, nas costas do Mar do Norte, o que
reduzia notavelmente a sue efetividade e raio de ação na zona do Atlântico. No porto de Lorient iniciou-se a
construção de enormes ancoradouros, cobertos por grossas abóbadas de concreto, para proteger os
submarinos contra os ataques aéreos. Estas construções foram também realizadas em outras bases, e tiveram
resultados extraordinários. Com efeito, nem mesmo nos anos finais da guerra, quando os aliados realizaram
bombardeios maciços contra as bases de submarinos, não conseguiram destruir essas defesas.
 
A ocupação da França permitiu também aos alemães ampliar o alcance dos seus aviões e atacar os comboios
britânicos, causando-lhes graves perdas. Este fato obrigou os ingleses a desviar, praticamente, a totalidade da
navegação das rotas do sul para o norte. Os submarinos alemães tiveram assim oportunidade extraordinária
para aumentar o número de afundamentos, pois a concentração dos comboios em zona estreita facilitou os
seus ataques.
 
Além disso, a ameaça de invasão da Inglaterra obrigou a Marinha britânica a reunir grande número de
destróieres para a defesa das ilhas contra o iminente ataque. As formações de escolta se viram assim
seriamente debilitadas, fato que também contribuiu para aumentar as vitórias dos submarinos alemães.
 
Anexo
 
Churchill organiza a defesa
Ao estourar a guerra, a 3 de setembro de 1939, Winston Churchill, ocupava o cargo de primeiro lorde do Almirantado,
no gabinete presidido por Chamberlain. Churchill, desde o início, compreendeu, em toda a sua amplitude, o perigo que
representavam os submarinos alemães, e se esforçou para criar defesas adequadas para enfrentar os seus ataques. O
Almirantado já havia preparado em tempo de paz os planos destinados a aumentar rapidamente sua frota de barcos anti-
submarinos, convertendo em navios armados várias unidades mercantes. Havia-se também previsto a construção de
destróieres, cruzadores e navios caça-submarinos menores. Esse plano foi levado à prática apenas iniciada a luta.
Outro ponto de vital importância era o de organização do sistema de comboios. Em princípio, e diante da falta de
unidades de escolta suficientes, decidiu-se limitar o seu emprego às águas da costa leste da Inglaterra, onde os
submarinos alemães se mostravam mais ativos. O afundamento do Athenia a oeste da Irlanda induziu, contudo, o
Almirantado a estender a navegação em comboios, às águas do Atlântico. Também nesse setor se haviam tomado com
antecipação as necessárias medidas de precaução. Os barcos mercantes e suas tripulações receberam, anteriormente ao
início da guerra, orientação e materiais para operar em comboios. Com sábia previsão, os britânicos haviam conservado
os canhões utilizados na Primeira Guerra Mundial para defender os seus barcos mercantes contra os submarinos. Essas
peças de artilharia foram rapidamente recondicionadas e montadas nos transportes, a fim de obrigar os submarinos a
efetuar seus ataques abaixo da superfície. Assim, nos três primeiros meses da guerra, os ingleses conseguiram artilhar
cerca de 1.000 barcos mercantes.
Muitos navios de pesca (trawlers) foram equipados com aparelhos “Asdic” - instrumento (sonar) para detectar
submarinos, consistente num transmissor de ondas ultra-sonoras que, ao chocar-se com um objeto submerso, se refletem
e se eco é recolhido., indicando automaticamente a distância e a posição do submarino. Estes barcos colaboraram
eficazmente na luta contra os submarinos.
 
 
Tática dos submarinos
Princípios de operação da luta submarina, redigidos pelo Comandante Otto Kretschmer, brilhante ás da força de
submarinos alemães.
“1 - Em toda operação de submarinos é de importância primária contar com vigias competentes. Quando se opera em
alto mar o primeiro requisito para o êxito é ter a bordo a melhor organização possível. Qualquer peça frouxa no sistema
pode significar a destruição.
“2 - Não basta que os vigias avistem todos os objetos que apareçam na superfície; também devem avistar com a devida
antecipação todos os objetos que apareçam no céu. A aviação desempenha um papel cada vez mais importante na
composição dos comboios inimigos. Os aviões são um perigo mortal para um submarino na superfície. Confiamos em
que os vigias nos advirtam da sua aproximação, com tempo suficiente para descer a mais de 60 pés...
“3- Os navios isolados que não ostentam pavilhão neutro nem distintivo da Cruz Vermelha e que, pelo contrário,
pareçam beligerantes, devem ser afundados a poder de canhoneio, a fim de reservar os torpedos para os mais difíceis
alvos escoltados.
“4 - Deve-se ajudar os sobreviventes sempre e quando se dispuser de tempo, e se, ao fazê-lo, o submarino não ficar
exposto a perigos indevidos. A tripulação deve saber que, caso o U-99 (submarino de Kretschmer) naufrague, e haja
tempo de abandonar o barco, poderá esperar que o inimigo os resgate. É justamente o que o inimigo tem o direito de
esperar de nós.
“5 - Os comboios podem ser atacados durante o dia somente quando não convier esperar até a noite. O ataque diurno de
um comboio escoltado acarreta um risco calculado, e somente pode ser efetuado após um cuidadoso estudo...
“6 - Em circunstâncias normais, o U-99 dedicará as horas de luz diurna para seguir um comboio e manobrar para estar
em posição de ataque favorável, ao cair a noite. Entende-se por posição de ataque favorável, o lado escuro de um
comboio quando houver lua, de maneira que o comboio fique bem recortado pelo luar, enquanto que nossa silhueta,
apresentada pela proa, se torne impossível de perceber.
“7 - Com pouca lua, ou em noites escuras, o U-99 atacará sempre pelo lado de barlavento do comboio. De cara ao vento
e, às vezes, à chuva e à espuma, os vigias inimigos são menos eficientes que de costas ao vento.
“8 - O U-99 se guiará pelo meu princípio de que as salvas de torpedos lançados de grande distância não tem nenhuma
garantia de êxito e forçosamente resultam num desperdício. Em primeira instância não há nenhuma necessidade de
disparar mais que um torpedo por barco.
“9 - O princípio exposto acima obriga a disparar à queima-roupa, o que só é possível irrompendo através da cortina anti-
submarina da escolta, e, as vezes, dentro das colunas do comboio. Esse há de ser objetivo de todos os nossos ataques.
 
 
A bordo de um submarino
Viver no interior de um submarino, durante um período que pode prolongar-se alguns dias ou várias semanas, parece
impossível para quem conheça a disposição interna de um barco desse tipo e o ritmo de vida que ali se leva.
As camas que o pessoal pode descansar somente dão para a metade da tripulação do navio. Portanto, os homens devem
dormir em turnos; ocupam os leitos os tripulantes que abandonam o serviço e são substituídos pelos outros, que
deixaram as camas.
O descanso em campanha, deve ser feito completamente vestido, pela rapidez com que os homens devem ocupar seus
postos.
Por outro lado, prevendo longos cruzeiros, todos e cada um dos espaços livres do navio são ocupados pelos víveres
necessários para a tripulação. Assim, podem-se ver bolsas e caixas, pacotes e caixotes, ocupando vãos, corredores, e até
amarrados ao teto.
A atmosfera que se respira a bordo, durante a imersão, está sempre viciada por mil odores oriundos do amontoado de
gente e da escassa ou às vezes nula ventilação. Pouco ajudam, neste caso, os purificadores de ar. Em plena navegação,
com mar grosso, o submarino, pela sua conformação, suporta grandes sacudidelas, o que torna impossível o descanso.
Em linhas gerais, a vida dentro de um submarino em campanha é uma penosa experiência durante os primeiros dias.
Depois, quando o espírito de equipe faz com que os homens se sintam orgulhosos até de seus padecimentos, as jornadas
chegam a ser razoavelmente suportáveis e até desejáveis. Assim foi que os homens que tripularam os submarinos
alemães se caracterizaram por um rígido espírito de equipe que não os abandonou, nem quando, nos últimos tempos da
guerra, tiveram que formar unidades especiais e combater como simples soldados de infantaria, por falta de barcos.
Nenhum outro corpo na Alemanha perdeu, por outro lado, tantos homens como a arma submarina. Efetivamente, dos
39.000 oficiais e marinheiros que iniciaram a campanha de 1939, 32.000 pereceram no curso da guerra.
 
 
O “afundamento do Nelson”
O submarino U-23 deslizou pelas águas escuras. Navegava na superfície e seu comandante, na torre, vigiava as sombras
da noite.
De repente, ao longe, uma silhueta alertou o alemão. Um navio, sem dúvida. Voltou a focalizar os seus binóculos, uma
e outra vez. A silhueta tomo forma mais definida. O comandante já tem toda certeza. Encontrava-se na presença de um
barco inimigo. O passo seguinte era um só. A nave estava parada ou navegava muito lentamente. Além disso, o fazia às
escuras. Isso só significava uma coisa: navio armado, de guerra, ou cruzador-auxiliar. A conclusão: atacá-lo
imediatamente.
A torre fechou-se bruscamente. As ordens percorreram o U-23. O submarino desapareceu da superfície. Instantes
depois, a esteira de dois torpedos indicava que os projeteis se dirigiam para o alvo. Passaram 60 segundos. De repente,
uma atroada explosão sacudiu o submarino. O resplendor da explosão dos dois torpedos iluminou a noite. O
comandante do U-23, aferrado ao periscópio, prescrutou a noite, procurando verificar o que ocorrera. A escuridão mais
absoluta seguiu-se ao resplendor das explosões. Rapidamente, o submarino emergiu. A torre se abriu e dois homens se
precipitaram para fora. Eram o comandante e o subcomandante do U-23. Este último dissipou as dúvidas com uma
frase: “Não era um barco. Era uma rocha”.
No interior do submarino, minutos depois, os homens, passada a tensão, comentaram em tom risonho o incidente. E o
comandante, continuando a brincadeira, ordenou irradiar a seguinte mensagem: “Rocha torpedeada, mas não afundada”.
Dias depois, ao regressar de seu cruzeiro para a base de Kiel, o comandante do U-23 se surpreendeu ante a
extraordinária recepção de que foi alvo. Perguntou logo o motivo, e foi o próprio Doenitz que esclareceu. Interrogado
pelo almirante acerca do afundamento do Nelson, o comandante respondeu que jamais o havia visto. Doenitz,
assombrado, pediu imediatamente o registro das mensagens do U-23 e estendeu ao surpreso comandante uma folha de
papel onde se lia: “Nelson torpedeado, mas não afundado”.
Esclarecido o incidente, os homens riram à larga. A explicação do erro estava numa simples substituição de letras:
rocha, em alemão, é FELSON; na recepção da mensagem, havia-se confundido a palavra com NELSON. Depois tudo
seguira seu curso: “afundaram” o Nelson...
 
 
Os ases
Comandantes alemães de submarinos que conseguiram afundar maior tonelagem de barcos aliados:
Engebelbert Endrass - Capitão. Atuou como primeiro-oficial de Gunther Prien no U-47. Depois, comandou o U-46 e
afundou 29 navios mercantes com 206.000 t.
Albrecht Brandi - Capitão-de-fragata. Comandante do U-617, U-380 e do U-967. Afundou no Mediterrâneo e no
Atlântico 35 barcos, com 115.000 t.
Karl Emmermann - Capitão-de-corveta. Comandante do U-172. No Atlântico e no Caribe afundou 31 barcos, com
191.000 t.
Reinhard Hardegen - Capitão-de-corveta. Comandante do U-123. Afundou 28 barcos, com 193.000 t.
Otto Kretschmer - Comandante do U-23 e do U-99. No Atlântico e no Mar do Norte, afundou 54 barcos com 314.000 t.
Georg Lassen - Capitão-de-corveta. Comandante do U-160. Afundou 29 barcos, com 205.000 t.
Heinrich Lehmann-Willenbrock - Capitão-de-fragata. Comandante do U-5 e do U-96. Afundou 28 barcos, com 205.000
t.
Heinrich Liebe - Capitão-de-fragata. Comandante do U-38. Afundou no Atlântico e no Mar do Norte 33 barcos, com
200.000 t.
Wolfgang Luth - Capitão. Comandante do U-9, U-138, U-43, U-181. Realizou uma missão no Oceano Índico de 203
dias, a mais longa da Segunda Guerra Mundial. Afundou 52 barcos com 237.000 t.
Gunther Prien - Capitão-de-corveta. Comandante do U-47, levou a cabo o audacioso ataque contra a base de Scapa
Flow, onde afundou o encouraçado Royal Oak,. No Atlântico, afundou 32 barcos, com 203.000 t.
Reinhard Suhren - Capitão-de-fragata. Comandante do U-564, afundou no Atlântico e no Caribe 25 barcos, com
148.000 t.
Erich Topp - Capitão-de-fragata. Comandante do U-46, U-552. No mar do Norte e no Atlântico, afundou 40 barcos,
com 243.000 t.
 
 
A “alcatéia de lobos”
Os ataques em massa de submarinos, contra os comboios, haviam sido concebidos ante de estourar a guerra, pelo
Almirante Doenitz. No princípio esses planos não foram executados pelo escasso número de submarinos existentes. Em
1941, porém, ao aumentar o número de unidades em operações, as “alcatéias de lobos” entraram em ação.
A tática consistia no seguinte: do QG, situado em terra, e depois de receber informações dos serviços de patrulha aérea
ou marítima, acerca do movimento de um comboio inimigo, enviavam um alerta a todos os submarinos que se achavam
nas cercanias da zona indicada. O primeiro submarino que avistava o comboio informava, imediatamente, a sua
posição, velocidade e rumo, aos demais submarinos da “alcatéia”. Estes, se dirigiam para o objetivo e o atacavam. No
início, os ataques se realizavam individualmente, mas, depois, o sistema se aperfeiçoou e os membros da “alcatéia”
aguardavam até a emissão de um sinal do QG, indicando que tos os submarinos estavam reunidos. Então, todo o grupo
se lançava simultaneamente, de diferentes ângulos, sobre a presa, processo que conseguia um número excepcional de
afundamentos.
Os comboios, ao serem atacados, recorriam a todos os tipos de manobras evasivas e truques diversos, a tentativa de
evadir-se do inimigo. A “alcatéia”, porém, mantendo-se permanentemente em contato com o QG, e entre si, tinha muito
pouca chance de ser burlada.
 
 
 
 

Você também pode gostar