Você está na página 1de 8

Luta no Mar

O Graf von Spee em ação

O Graf Von Spee


Corsários Alemães

A tripulação do Almirante Graf von Spee estava rigidamente formada na coberta do encouraçado de bolso.
Defronte deles, um homem de estatura mediana, olhos claros, penetrantes, observava-os. O mais denso
silêncio envolvia a nave. De repente, o homem falou, pausadamente, com voz firme.
- Nossa Marinha de Guerra é invencível. O olhar de centenas de homens estava cravado nele. - Nosso Fuhrer
foi marcado pelo destino! As fileiras estremeceram. - O destino da pátria está em suas mãos. Um silêncio
carregado de emoção recebeu aquelas palavras. - A Alemanha espera que todos saibam cumprir o seu dever.
Ouviu-se um grito, único. Era uma exclamação que ecoou com estranhas ressonâncias. - Heil Hitler!

Os marinheiros do Graf von Spee acabavam de conhecer o homem que os conduziria ao combate. Era deu
chefe máximo, o comandante Hans Langsdorff. A partir daquele momento, o destino do barco e seus homens
dependia inteiramente dele. Pouco faltava para a grande decisão.

3 de setembro de 1939

O Almirante Graf von Spee sulcava as águas do oceano a toda máquina, impulsionado por seus motores
Diesel e se dirigia para a posição estabelecida. A bordo, tudo era animação.

De repente, um marinheiro surgiu de uma das escotilhas e aproximou-se correndo, de um grupo de jovens
tripulantes que estavam ali perto. A excitação era visível em sua fisionomia. - Acabou de estourar a guerra!
Aquelas palavras caíram em meio a um silêncio cheio de presságios. Após o primeiro momento de surpresa,
os marinheiros crivaram seu camarada de perguntas. A resposta não se fez esperar. - Um radiotelegrafista
captou uma mensagem de terra com a notícia. Avisamos imediatamente ao comandante Langsdorff e a
guarda está sendo reforçada. Os homens calaram-se. Todos pensavam naquelas palavras que acabavam de
escutar. “Acabou de estourar a guerra”.

Horas mais tarde, diante da tripulação reunida, o comandante Langsdorff confirmou a notícia e falou a seus
homens. “A Alemanha espera que todos cumpram o seu dever”.

Primeira presa

No dia 30 de setembro de 1939, o Almirante Graf von Spee navegada a toda máquina nas águas do Atlântico
Sul. A tripulação dedicava-se às tarefas de rotina quando os apitos deram a impressão de um combate
iminente. Correndo, os homens ocuparam seus postos e se prepararam. Os olhares se cravaram na ponte de
comando. Dali, vários oficiais examinavam a linha do horizonte. Pouco depois, por entre a pesada bruma que
ocultava o horizonte, surgiu uma longínqua silhueta. Aquela visão fez os tripulantes estremecerem. Era um
navio inimigo, sem dúvida. Agora só faltava saber se era de guerra ou mercante. Mas, pouco tempo durou a
incógnita.

O telegrafista do Graf von Spee transmitiu imediatamente a intimação. “Detenham a marcha e parem seu
transmissor” ... “detenham a marcha e parem seu transmissor...” Ao mesmo tempo, um tiro do encouraçado
cobriu de ecos a imensidão do oceano. O projétil, disparado com precisão, levantou uma coluna de água a
poucas dezenas de metros da proa do navio mercante. O barco deteve imediatamente sua marcha. Pouco
depois, já próximos do navio mercante, distinguiram claramente seu nome: “Clement”. Era um cargueiro
inglês de 5.000 tons., que procedia do Brasil. Encontrava-se, na ocasião, na altura de Pernambuco.

Foi a primeira nave capturada e destruída pelo: Almirante Graf von Spee. As conseqüências dessa ação não
se fizeram esperar.
Caçada ao corsário

No Almirantado britânico, a notícia do afundamento do Clement confirmou suspeitas existentes. Sem dúvida,
uma nave inimiga operava na zona do Atlântico Sul. O Alto Comando inglês determinou a formação de
vários grupos de caça, destinados a patrulhar a zona e, eventualmente, encontrar o agressor desconhecido.

Os grupos formados eram nove, no total. Eram integrados por 23 navios de guerra. Os grupos e seus navios
eram os seguintes: Grupo F, com os cruzadores Bernwick e York; Grupo G, com os cruzadores Cumberland,
Exeter, Ajax e Aquiles; Grupo H, com os cruzadores Sussex e Shropshire; Grupo I, com os cruzadores
Cornwall e Dorsetshire e porta-aviões Eagle; Grupo J, com o navio de linha Malaia e o porta-aviões
Glorious; Grupo K, com o navio de linha Renown e o porta-aviões Ark Royal; Grupo L, com o navio de
linha Repulse e o porta-aviões Furious; Grupo X, com dois cruzadores franceses e o porta-aviões Hermes e o
Grupo Y, com o navio de linha Strassbourg, o cruzador Neptune e um cruzador francês.

A importância que o Almirantado dava à operação ficou comprovada pelo fato de destinar-lhe um grupo tão
numeroso de naves. De fato, muitas delas procediam de diversas guarnições localizadas em pontos de vital
importância. Essas guarnições ficavam, assim, com o seu poder ofensivo diminuído.

Novas vítimas

No dia 5 de outubro de 1939, verificou-se um novo acontecimento que pôs em estado de alarme toda a frota
inglesa. Nesse dia, no Cabo da Boa Esperança, foram afundados três novos navios mercantes. As três naves
desapareceram sem deixar rastro algum. Nenhuma mensagem foi transmitida. Nenhum pedido de socorro
cruzou os ares. Os três barcos haviam sido afundados de forma rápida e inesperada, impedindo-lhes qualquer
reação.

Imediatamente os grupos de caça entraram em ação. Pela metade de outubro, a caçada se concentrou ao redor
do Graf von Spee. A operação, habilmente planejada, ficou a cargo do Grupo K, integrado pelo Renown e
Ark Royal. Reuniram-se a ele os grupos X, que contava com dois cruzadores franceses e o porta-aviões
inglês Hermes e G, sob o comando do Comodoro Harwood e composto pelos cruzadores Cumberland,
Exeter, Ajax e Aquiles, este último neozelandês. O grupo G, de fato, tinha a seu cargo, desde o início, a
operação de patrulha da zona correspondente à costa oriental da América do Sul.

E assim chegou o dia 15 de novembro de 1939. Nesse dia, o Graf von Spee fez mais uma presa. Um barco
inglês foi afundado no canal de Moçambique, entre Madagascar e a costa da África. Com aquele ataque, o
Graf von Spee tentava atrair para as águas do Oceano Índico a frota inglesa. Por isto, após o afundamento,
emproou para o Atlântico. Mas, sua manobra foi prevista e os navios de guerra britânicos não descuidaram
sua vigilância.

No dia 2 de dezembro de 1939, o Graf von Spee afundou dois outros barcos inimigos nas águas do Cabo da
Boa Esperança. No dia 7 do mesmo mês, juntou uma nova vítima à sua longa lista.

Harwood

Porém, na zona do Rio da Prata, o Comodoro Harwood, no comando do grupo de caça G, estudou
detidamente a campanha de seu poderoso adversário. Deduziu, de seus aparentes movimentos, que o navio
inimigo seguiria rumo à zona do Rio da Prata e que ali chegaria aproximadamente em 13 de dezembro.
Harwood, portanto, alertou seu grupo e preparou-se para a batalha. Sua força de operação era composta,
originariamente, por quatro cruzadores. Nessas condições, seu poder de fogo era tal que permitia-lhe
enfrentar com êxito um combate com o Graf von Spee. Mas, naquela emergência, o grupo achava-se
diminuído em seu poderio pela ausência do cruzador Cumberland, que naquela ocasião estava na base das
Ilhas Malvinas, para abastecimento e reparos. Ficaram, portanto, três cruzadores para enfrentar o poderoso
navio de batalha alemão. A força era, portanto, insuficiente. No entanto, Harwood se apressou em direção à
batalha.

Pressa para o combate

No Graf von Spee, enquanto isso, a navegação continuava, em obediência aos planos previstos. Era o dia 13
de dezembro de 1939, dia em que o Comodoro Harwood havia calculado avistar o navio alemão.
A bordo do poderoso encouraçado, o grosso da tripulação descansava em suas macas. Somente o pessoal da
guarda e da vigilância ocupava seus postos. A noite havia começado a desaparecer e as primeiras luzes da
madrugada acendiam-se no horizonte. De repente, o alarme soou em todo o barco. Centenas de marinheiros
saltaram de seus leitos e correram para ocupar seus postos de combate. Na coberta já se encontrava o
comandante Langsdorff, examinando com seu binóculo o horizonte. De cima, os vigias faziam a mesma
coisa. Logo os rumores começaram a correr por todo o barco.
- É um navio mercante... - É um navio mercante e um de guerra... - É um cruzador e dois navios mercantes...
Ao longe, muito ao longe ainda, uma pequena frota ia ao encontro do Graf von Spee. Eram os três
cruzadores do Comodoro Harwood.

O comandante Langsdorff, sem vacilar, ordenou que se avançasse a toda máquina, rumo ao inimigo.

Fogo a vontade

A ação começou quase simultaneamente por ambos os lados. Após diminuir as distâncias, um dos cruzadores
pediu ao Graf von Spee a correspondente identificação. O encouraçado alemão respondeu içando a bandeira
de combate. Imediatamente, os canhões abriram fogo. A resposta foi instantânea. Os canhões do Exeter
vomitaram fogo e o combate acendeu-se.

Os cruzadores ingleses, aproveitando a vantagem que lhes dava o número, bifurcaram sua rota. O Exeter
tomou um rumo, enquanto os outros dois cruzadores menores se dirigiam em direções opostas, separando-se.
Após os primeiros tiros, as avarias já eram vistas, tanto no Graf von Spee, como no Exeter.

No cruzador inglês, voou parte da chaminé, enquanto alguns projetis de seus canhões atiravam contra o
encouraçado alemão. Os cruzadores menores, por sua vez, dispararam seus torpedos contra o navio alemão,
um dos quais atingiu o alvo. Após alguns minutos de combate, um tiro de artilharia alemã atingiu o Exeter,
destruindo-lhe uma torre e fazendo voar a ponte de comando. As conseqüências foram graves para o barco
inglês que, devido as suas avarias, ficou fora de controle. Enquanto isso, disparado com precisão, um torpedo
inglês atingiu em cheio o casco do Graf von Spee, abrindo-lhe um grande buraco. Ante tal emergência, o
encouraçado alemão fez uma volta e afastou-se de seus atacantes, oculto atrás de uma cortina de fumaça.
Enquanto isso, no barco alemão, examinavam os danos causados pelo torpedo.

Nos barcos ingleses, entretanto, a situação era menos grave. O Exeter navegava com dificuldade e era visível
um incêndio na parte média do barco. Suas baterias, praticamente, achavam-se fora de ação. O Ajax e o
Aquiles, por sua vez, continuavam a perseguição, navegando aos lados do Graf von Spee e descarregando
artilharia contra o encouraçado. Foi naquele instante que um dos projeteis que o encouraçado alemão
disparou sobre o Aquiles, matou, na ponte da nave, o comandante do cruzador.

Eram 7:25 da manhã, quando o Comodoro Harwood, do Ajax, determinou interromper a ação.
Imediatamente sua nave abandonou o cenário da luta, protegida por uma cortina de fumaça. O Graf von Spee
não o seguiu.

Rumo à armadilha

A batalha havia terminado após uma hora e 20 minutos de combate. Às 8:00, no dia 13 de dezembro, uma
distância de 15 milhas separava as forças inimigas. O Graf von Spee havia tomado o rumo de Montevidéu.
De cima, o avião do cruzador Ajax vigiava os movimentos do encouraçado alemão. Às 9:00, a tripulação
teve conhecimento de seu rumo, já perto da costa. Teve, então, noção da situação de inferioridade em que a
nave se encontrava, com as reservas de munição quase esgotadas, escassa água, avarias, e, além disso, com a
ameaça de um novo encontro com poderosas forças inglesas que se presumia estariam se dirigindo para o
local da luta.

Durante toda tarde, o navio alemão navegou à procura do porto de Montevidéu. Perto, seguindo seu rumo, os
dois cruzadores menores ingleses, Ajax e Aquiles, não abandonavam o rastro do inimigo. Enquanto isso, a
toda máquina, aproximava-se o Cumberland, enviado apressadamente da base das Malvinas. Dirigiu-se para
o lugar dos acontecimentos, também a força K, composta pelos barcos Renown e Ark Royal. Essas duas
unidades se encontravam ainda a 600 milhas de Pernambuco. Sua intervenção na ação era muito pouco
provável. O Almirantado em conseqüência, procedeu astutamente e fez emitirem mensagens dizendo que tal
força já se encontrava ao sul do Rio de Janeiro e avançava à velocidade de 30 nós.
Assim, chegou a noite e o encouraçado alemão alcançou seu objetivo. Antes da meia noite entrou no porto de
Montevidéu. O comandante alemão Langsdorff, de Montevidéu, irradiou no dia 16 uma mensagem destinada
ao Alto Comando da Marinha de guerra alemã. Seu texto dizia: “Posição das forças, em Montevidéu. Além
de cruzadores e destróieres, o Ark Royal e o Renown”. Bloqueio estreito durante a noite. Fuga a mar aberto e
escapada as águas alemães impossível. Solicito decisão a respeito de se o barco deve ser afundado apesar da
pouca profundidade do Rio da Prata ou se é preferível internação”. A resposta não se fez esperar. “Tente
estender permanência águas neutras. Abra caminho lutando para Buenos Aires se for possível. Não se interne
no Uruguai. Tente destruição efetiva se decidir afundar o navio”.

Enquanto isso, o navio era objeto de contínuos e intensos trabalhos de recondicionamento por parte da
tripulação. Os buracos feitos pelas granadas inimigas foram cobertos por grossas pranchas de aço e os restos
das estruturas derrubadas, desarmadas e afastadas para não dificultar a tarefa. A tripulação se dedicou
ativamente à tarefa de limpar e ainda lustrar os bronzes do navio, como se efetivamente a partida fosse
iminente. Outras tarefas, dramáticas, já haviam sido cumpridas. A primeira foi a descida para terra dos
feridos, para maior cuidado. Muitas ambulâncias os conduziram sem demora para hospitais e sanatórios.
Vários furgões cumpriram a tarefa também dolorosa de transportar os tripulantes mortos.

O comandante Langsdorff, porém, cumpria diversas diligências destinadas a obter uma ampliação do prazo
de 72 horas a que tinha direito o navio antes de abandonar o porto. Junto ao pessoal diplomático e da
respectiva embaixada, o marinheiro alemão esgotou seus recursos. Mas, tudo foi em vão.

A grande decisão

Foi com grande surpresa que a tripulação recebeu ordens de abandonar o navio e transportar-se para uma
navio alemão, o Tacoma., que se achava no porto de Montevidéu. Porém, conhecendo a gravidade do
momento, obedeceu e abandonou o encouraçado. Um total de 700 homens foram transportados, ficando a
bordo somente o mínimo de tripulantes necessários para por em marcha e dirigir o navio naquela que seria
sua última viagem. Por fim, às 18:15, do dia 17 de dezembro, o Graf von Spee levantou âncoras e abandonou
o porto. Duas horas e meia depois, às 20:54, o avião do cruzador Ajax que seguia a manobra do alto e ao
longe, enviou a seguinte mensagem: “O Graf Spee está em brasas”.

No dia seguinte, 18 de dezembro, a tripulação do encouraçado alemão chegou ao porto de Buenos Aires a
bordo de três rebocadores. Com eles vinha o seu comandante, Hans Langsdorff e a oficialidade do navio. Um
dia depois, 19 de dezembro, o comandante Langsdorff visitou seus homens, rodeado por seus oficiais. Foi
sua última revista. E sua última arenga. Após exortá-los ao cumprimento do dever e a lealdade à pátria
distante, Langsdorff se afastou de sua antiga tripulação.

Pouco depois o comandante alemão escreveu: “Agora posso provar, por meio da minha morte, que as forças
do Terceiro Reich estão prontas para morrer em honra de sua bandeira. Sou o único responsável pelo
afundamento do encouraçado de bolso Almirante Graf von Spee. Sinto-me feliz de oferecer minha vida em
troca de qualquer dúvida que possa surgir acerca da honra de minha bandeira”.

No dia 19, à noite, o comandante Langsdorff se suicidou disparando uma bala na cabeça. No dia 20, pela
manhã, seus homens acharam seu corpo sem vida. Hans Langsdorff havia cumprido a tradição de não
sobreviver a sua nave.

Os sucessores do Graf Spee

A campanha do Admiral Graf Spee, curta mais frutífera, confirmou a eficiência dos planos traçados pelo
Almirante Raeder, chefe da Kriegsmarine. Esses planos concebidos para hostilizar os barcos mercantes
aliados e conseguir a dispersão das unidades pertencentes à frota de guerra britânica haviam-se cumprido
plenamente. Com efeito, grande quantidade de navios de guerra britânicos tiveram que ser deslocados para o
Atlântico Sul e para o Índico, onde se supunha operava o navio alemão. Prosseguindo com o plano
estabelecido, o Alto-Comando naval alemão enviou ao Atlântico, entre os meses de abril e junho de 1940,
cinco barcos mercantes corsários, poderosamente armados. Outro navio desse tipo alcançou o Pacífico
depois de uma longa e arriscada travessia através dos mares gelados do norte da Rússia.

A flotilha de corsários realizou uma série de audazes ataques aos barcos mercantes aliados e espalhou o caos
nas rotas de navegação. Em fins de setembro de 1940, os corsários que operavam no Atlântico e no Índico
tinham conseguido afundar 36 navios aliados. O êxito dessas operações levou a marinha alemã a arriscar
novamente suas grandes unidades de guerra. Efetivamente, em fins de outubro de 1940, no dia 27, o navio
gêmeo do Graf Spee, o Admiral Scheer, comandado pelo Capitão Krancke, internou-se no Atlântico a fim de
atacar os comboios que abasteciam a Inglaterra. Um mês depois, o cruzador Hipper fez-se ao mar com os
mesmos fins. O Scheer estendeu suas operações ao Atlântico Sul e ao Índico e conseguiu em uma campanha
de quase cinco meses de duração, afundar 16 navios aliados. As vitórias obtidas pelas unidades citadas
fizeram que Raeder empenhasse nas operações seus grandes navios de guerra, o Gneisenau e o Scharnhorst
que, depois de serem submetidos aos necessários reparos, após sua campanha da Noruega, achavam-se
estacionados no porto francês de Brest.

Em 3 de fevereiro de 1941, os dois navios sob o comando do Almirante Lutjens, internaram-se no Atlântico,
amparados pela neblina. Simultaneamente, o Hipper, que havia retornado a Brest após sua primeira incursão,
zarpou também rumo ao Atlântico Sul. Os dois cruzadores alemães, avistaram, 5 dias depois, um comboio
britânico. O Almirante Lutjens decidiu não atacá-lo, ao comprovar que estava escoltado pelo encouraçado
inglês Ramillies. Mas este primeiro contratempo viu-se rapidamente compensado pela aparição de novas
presas. Em um só dia, o Gneisenau e o Scharnhorst, com seus poderosos canhões, afundaram cinco navios
mercantes britânicos. Após esta vitória, Lutjens afastou-se rapidamente para o sul para iludir o possível
contragolpe da frota de guerra inglesa. Os barcos alemães conseguiram seu maior êxito entre os dias 15 e 16
de março, quando destruíram ou capturaram 16 navios mercantes aliados. Lutjens julgou então prudente dar
por terminada a campanha. Sem ser interceptado, conseguiu entrar, no dia 22 de março, no porto de Brest.
Enquanto isso, o Hipper realizou um ataque devastador contra um comboio britânico integrado por 19
navios. Disparando incessantemente seus canhões, conseguiu afundar 9 dos navios. Em seguida afastou-se a
toda máquina, e conseguiu chegar a Brest.

Assim, com esses audazes golpes, os navios alemães conseguiram forçar a frota britânica a retirar seus
efetivos da ação direta e empregá-los na caça aos corsários. A essa difícil tarefa some-se também a ação
contra os submarinos.

Hitler põe fim à ação dos corsários

No dia 21 de maio de 1941 a Marinha britânica teve de enfrentar uma nova e terrível ameaça. Nesse dia foi
avistado o poderoso encouraçado alemão Bismarck acompanhado pelo cruzador Prinz Eugen, no fiorde de
Bergen, Noruega. Rapidamente a frota britânica mobilizou seus principais efetivos e após uma árdua
perseguição, conseguiu afundar o Bismarck. Em Brest, ficaram, ainda o Gneisenau e o Scharnhorst, que em
qualquer momento podiam voltar a repetir suas façanhas. Para impedir isso a RAF realizou então cerca de
300 reides contra este porto. Atingidos pelo fogo antiaéreo, os aviões ingleses sofreram terríveis perdas. Os
navios alemães, ao contrário, saíram imunes dos múltiplos ataques. Só leve avarias.

Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, em dezembro de 1941, apresentou-se uma extraordinária
possibilidade aos corsários alemães. Com efeito, o campo de ação dos mesmos, ampliara-se
consideravelmente. Ficaram expostos aos seus ataques as águas do Atlântico ocidental e as do mar do Caribe.

A frota submarina alemã aproveitou essa situação com extraordinários resultados. Os corsários, no entanto,
não puderam fazer o mesmo, pois Hitler, acreditando erradamente que os aliados pretendiam invadir a
Noruega, ordenou que todas as grandes unidades de superfície se dirigissem para aquele país. O Tirpitz
chegou a Trondheim em janeiro de 1942 e uniram-se a ele logo depois o Scheer e o Hipper. O Gneisenau, o
Scharnhorst e o Prinz Eugen conseguiram por sua vez, em uma audaz manobra realizada sob a proteção da
Luftwaffe, abandonar Brest e atravessar o Canal da Mancha. Posteriormente, após sofrer avarias ocasionadas
pelas minas, alcançaram o porto de Kiel. Ali o Gneisenau foi seriamente danificado pelos bombardeiros da
RAF e não interveio mais nas operações. As outras duas unidades dirigiram-se para a Noruega onde atuaram,
junto com o Tirpitz, em algumas incursões contra os comboios aliados que se dirigiam para a Rússia.

ANEXO
Abordagem
A silhueta do navio se recortou à distância. Uma chaminé fumegava sem parar, deixando um traço que escurecia o céu.
Nos costados, os marinheiros do Graf Spee contemplam o navio silenciosos. Um apito soou, estridente. Os homens se
mobilizaram imediatamente. Ocuparam seus lugares de combate e se prepararam para a ação. O Graf Spee cortou as
águas mudando sua rota. Lenta mas firmemente, aproximou-se do barco inimigo. Os esforços deste último para fugir do
encouraçado foram inúteis. Por fim, quando apenas algumas centenas de metros separavam as duas embarcações,
partiram do Graf Spee os sinais de rotina. “Detenham a marcha... Silenciem o rádio... Detenham a marcha... Silenciem o
rádio...” O barco inimigo, um navio mercante inglês, desobedecendo a advertência, tentou valentemente forçar a
situação. Virou rapidamente e afastou-se a toda máquina. Ouviu-se uma ordem no Graf Spee. Seguiu-se um fogacho e
uma surda detonação. Uma massa de água se levantou a poucas dezenas de metros da proa do navio mercante inglês.
Era o primeiro aviso. Já não se podia mais esperar. Era possível, quase certo, que o transmissor inimigo estivesse
irradiando continuamente o pedido de auxílio e a posição das duas naves. Não se podia mais correr riscos. Ouviu-se
uma nova ordem. Atrás dela, nova detonação. Desta vez, o alvo estava enquadrado. A chaminé do navio inglês saltou
aos pedaços. Instantes depois, o barco detinha sua marcha. Então o Graf Spee parou seus motores. Uma lancha,
conduzindo vários oficiais e um grupo de marinheiros armados foi posta na água. Em seguida, rumou para o barco
inimigo. Uma nova presa havia sido feita.

Abastecimento em alto mar


A proa cortava rapidamente as ondas. Em ambos os costados, uma chuva de espuma voava, decompondo a luz do sol
em mil cores. Da ponte, vários oficiais perscrutavam o horizonte. O capitão Langsdorff juntou-se a eles. A oficialidade
assumiu posição de sentido. A um gesto do chefe, os homens voltaram à sua atitude anterior. De repente, um deles
lançou uma exclamação: - Ali está! Todos olharam para a direção assinalada. De fato, ali estava. Era um navio
mercante. Recortava-se no horizonte. À primeira vista. Era uma embarcação comum. Mas para os oficiais do Graf Spee,
era algo mais. Era um auxiliar indispensável: o Altmark. Vários botes do Graf Spee foram baixados para as águas.
Alguns oficiais tomaram lugar neles e se dirigiram para o navio que avançada em sua direção. Pouco depois, já
próximos os dois navios, detiveram a marcha. Durante várias horas os homens do Graf Spee e do Altmark cruzaram-se
uma e muitas vezes. Barris, bolsas, canhões, remédios e outros objetos foram rapidamente conduzidos do Altmark para
o Graf Spee. Através dos cabos telefônicos, estendidos entre os dois navios, a oficialidade deu informações e pediu
dados. Enquanto isso, os botes continuavam a sua tarefa. Horas mais tarde, depois de retirarem os cabos e as cordas, a
tarefa estava concluída. Os botes foram içados e as naves de prepararam para se afastar. No Altmark, as bandeiras
começaram sua dança de palavras-chave. A resposta não se fez esperar. Pouco depois, os motores do Graf Spee
começaram a roncar. Rapidamente pôs-se em movimento e acelerou a marcha. Os homens, acomodados nas bordas da
poderosa nave, cravaram os olhos no navio mercante que se tornava pequeno à distância. Um pedaço da pátria ficava
ali.

Transformação
Os homens se alinharam na coberta. Vários oficiais, dividindo-os em grupos, explicaram-lhes sua missão. Pouco depois,
munindo-se de grandes pedaços de madeira, cordas, pregos, martelos e baldes de tinta, os marinheiros se espalharam
pelo navio. Uma estranha atividade começou então. Grandes tábuas foram pregadas, cobrindo as torres de tiro. Extensas
lonas foram esticadas, envolvendo-as. Depois, a pintura foi feita rapidamente, por dezenas de marinheiros que assim,
dissimularam aquelas estruturas. A transformação estava concluída. O Graf Spee perdera seu aspecto característico.
Vista à distância, a formidável nave de guerra, cuja silhueta o inimigo conhecia de cor, havia desaparecido. Em seu
lugar aparecia a desconhecida silhueta de outro navio qualquer. Qual? Ninguém poderia dizê-lo. Porque aquele navio
não existia. Havia sido criado em horas. Era um milagre da camuflagem.

Encouraçado Admiral Graf von Spee


Pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha viu-se impedida de construir navios de guerra de mais de 10.000 tons. A
limitação tinha por objetivo tornar, de certa forma, inofensiva a frota de guerra alemã. Mas, a ciência naval germânica
achou a fórmula para burlar a disposição aludida. Exemplo disso foram os encouraçados de bolso.
Deslocamento: 10.000 toneladas
Motores: 54.000 HP
Velocidade (em nós): 26
Autonomia (em milhas): 10.000
Armamento: 6 canhões de 280 mm; 8 de 150 mm; 6 de 105 mm; 8 de 37 mm e 8 tubos lança-torpedos.

Presa cobiçada
O encouraçado Graf Spee navegava a toda força. Sua missão era a de afundar a maior quantidade possível de navios
inimigos. A oportunidade de fazê-lo se apresentava novamente. Os observadores do Graf Spee deram a voz de alarme. A
tripulação se preparou imediatamente para a ação. Longe ainda, a silhueta de um navio mercante se perfilava contra o
horizonte. Pouco depois, a distância se havia encurtado consideravelmente. Foi nesse instante que os sinaleiros do
encouraçado alemão indicaram ao navio desconhecido que detivesse a marcha. Este, sem acatar a ordem, forçou as
máquinas, tentando escapar. Mas os canhões do Graf Spee troaram imediatamente. Uma tromba d’água se levantou na
proa do mercante. A pontaria era excelente. O aviso deu resultado. As máquinas do barco desconhecido detiveram a sua
marcha instantes depois. A tripulação de abordagem chegou minutos depois, fortemente armada. Após minuciosa
vistoria nas despensas, comprovou-se que o navio transportava um rico carregamento. Sem perda de tempo, o capitão
Langsdorff e seus oficiais estudaram a situação. Restavam dois caminhos: afundá-lo com seu carregamento ou arriscar
tudo, rebocando o navio até a proximidade do Altmark. Decidiu-se pela última solução. Pouco depois, preso ao Graf
Spee por fortes cabos de aço, o navio mercante pôs novamente em marcha as sua máquinas e retomou o avanço... Dias
depois, a apareceu subitamente o Altmark, chamado por mensagem cifrada. Procedeu-se, então, o transporte do rico
carregamento. Depois, os prisioneiros. Por último, após afundar o navio mercante e reabastecer-se de petróleo, o Graf
Spee recomeçou a marcha. A aventura havia tido êxito.

Sacrifício
Todo o povo de Montevidéu já se havia postado no cais. Das sacadas dos prédios mais altos, milhares de pessoas
seguem a marcha de um barco. Muitos utilizam binóculos, outros cobrem os olhos com as mãos transformadas em
quebra-luz. Todos estão ansiosos, amigos e inimigos. O espetáculo que contemplam é único nessa terra de paz. Um
navio marchando para o combate jamais partiu daquele porto. Menos ainda um encouraçado. Um grande silêncio se
estende sobre a cidade. Longe, a centenas, a milhares de km, em outras cidades de outros países, as comunicações de
rádio obrigam a guardar o mesmo silêncio. As notícias são dramáticas. “O navio já zarpou... Dirige-se para a saída do
porto... Ao longe, podem-se ver os navios ingleses...” Uma competição que leva a um só resultado: morte. De repente, a
nave se detém. Ainda pode ser vista do porto de Montevidéu. O enigma é explicado 10 segundos depois. Pequenos
pontos negros se elevam de suas bordas. São alguns botes salva-vidas, carregados com os últimos homens que
permaneciam a bordo. Subitamente, a terra estremece. O velho rio parece sacudir-se em seu leito. Uma estrondosa
explosão provoca mil ecos que ressoam muitas vezes. Outra explosão, e outra mais, e ainda muitas outras. Línguas de
fogo se elevam sobre a superfície do rio. Altas colunas de fumo se levantam, dando à nave o aspecto de uma pira
funerária. O navio começa lentamente a desmoronar-se. Pontes, torres, estruturas que se despregam, somando surdos
ecos à sucessão de explosões que não param. No interior do barco, com o caminho aberto pelos projéteis que se lançam
em todas as direções, a água invade tudo. Um momento depois tudo termina.

O “Spee” em Buenos Aires


Chegava as primeiras horas da tarde. Sobre o rio da Prata, aproximando-se lentamente de Buenos Aires, vários
rebocadores apresentavam um estranho aspecto. Suas pequenas cobertas, os botes salva-vidas e as bordas, permaneciam
ocultas por uma multidão de homens jovens, que vestiam uniformes da marinha de guerra alemã. Eram os homens do
Graf Spee. Seu rumo: Buenos Aires. Doca norte. Uma longa fila de marinheiros aguarda pacientemente. Permanecem
silenciosos, inibidos. São muitos os que se aproxima deles e os saúdam cordialmente. Respondem com gestos e sorrisos
e as mãos se agitam. Ainda estão aturdidos por tudo o que aconteceu e mal podem crer que a guerra terminou par eles.
Um momento depois, o exame médico dos marinheiros termina. Começa então o trabalho de identificação. Depois de
terminado, os homens são conduzidos ao Hotel dos Imigrantes. O pesadelo está terminado.

Um homem e seu barco


19 d dezembro de 1939. Buenos Aires. Os marinheiros do Spee comentam risonhamente a aproximação do Natal. Para
muitos, talvez para todos, aquele é o primeiro fim de ano que passam fora de casa, longe dos parentes. Muitos
receberam presentes, simples ou modestos, que testemunham o carinho de um povo que não quer fazer diferença entre
amigos e inimigos, de um povo que não conhece a dor da guerra, mas pode percebê-la através das experiências de
muitos homens afastados de seu lares. Dezenas de marinheiros enchem suas horas com uma única ocupação: escrever
para a terra distante. Cartas aos pais, aos amigos, às noivas. Nessa manhã, inesperadamente, surge uma visita. É o
Capitão Langsdorff. Aparece como nas grandes revistas de bordo, rodeado por seu Estado-Maior. Vem em uniforme de
gala e as condecorações cobrem seu peito. Os homens se perfilam. Langsdorff passa revista lentamente e depois se
detém na frente deles. Fala-lhes com emoção: - A honra da Alemanha está acima de tudo. Confio em vós, em vosso
sentimento de dever, em vosso sentido de disciplina. Quando se retira, minutos depois, um grande silêncio cai sobre os
marinheiros que ainda permanecem em posição de sentido. Compreendem que continuam sendo combatentes, que seus
uniformes ainda representam a Alemanha. Compreendem que o capitão confia neles e pede-lhes que não esqueçam sua
condição. Muitos fazem a mesma pergunta: qual o motivo daquelas palavras emocionadas? Por que aquela arenga que
mais parece uma despedida? Na manhã seguinte, 20 de dezembro, cinco dias antes do Natal, tem a resposta. Langsdorff
deixara de existir. Durante a noite, vestido com seu uniforme de gala e com o peito cheio de medalhas, só em seu
quarto, o capitão se suicidara.

O sacrifício do Jervis Bay


5 de novembro 1941, O encouraçado alemão de bolso Admiral Scheer navegava em águas do Atlântico. Seu avião de
reconhecimento foi lançado ao ar, patrulhando a zona, em busca de navios inimigos. São 16:50. O piloto do avião
comunica que avistou um comboio inimigo integrado por 37 navios e escoltado por um barco mercante armado.
Imediatamente o Scheer lança-se na direção indicada e avista os navios. A presa é fácil e o resultado da luta pode ser
previsto. No entanto, os homens do Scheer não calcularam uma possibilidade sempre latente: o heroísmo e o espírito de
sacrifício. E as duas qualidades estão ali, representadas pelos homens do mercante armado. O pequeno e quase
inofensivo barco escolta é o Jervis Bay. Navega sob o comando do Capitão Fegen e sua tripulação é de apenas 200
homens. O Jervis Bay, à vista do Scheer, muda sua direção e dirige-se a toda máquina contra o encouraçado. O Capitão
Fegen sabe que seu navio nada pode fazer, mas sabe também que seu pequeno barco pode distrair o encouraçado
enquanto os navios do comboio se dispersam ou fogem. E seus canhões, pequenas peças de pouco alcance, abrem fogo
contra o encouraçado alemão. O Scheer imediatamente responde com todas suas peças. O combate desproporcional,
irreal, prolonga-se até as primeiras horas da noite. Às 20:00 o Jervis Bay, destroçado pelos impactos do encouraçado
alemão, começa a afundar. A bordo, sem abandonar o navio, afundam com ele 200 oficiais e marinheiros. Na ponte de
comando, sem desfalecer, permanece até o último momento o Capitão Fergen. O sacrifício foi consumado. Mas teve um
objetivo: salvar os navios do comboio.

Você também pode gostar