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Ofensiva Japonesa

Invasão das Filipinas

A Conquista das Filipinas

Objetivo: Manila

Nas bases aéreas japonesas de Tainã e Takao, na ilha de Formosa, centenas de mecânicos e armeiros
trabalham febrilmente, preparando as esquadrilhas de bombardeiros e caças, que participarão do ataque
surpresa contra as Filipinas. São as primeiras horas de 8 de dezembro de 1941 (7 de dezembro, no Ocidente).
Às 3 horas da madrugada, os pilotos e tripulantes abandonam seus alojamentos, e se dirigem para suas
máquinas. A tensão é extrema, e os homens, envoltos em grossos trajes de vôo, trocam em voz baixa as
últimas saudações e comentários. Alinhados nas pistas, os aviões aguardam, com os motores em movimento,
o sinal de partida. Entretanto, a ordem não chega. Uma neblina espessa começou a estender-se sobre o
aeródromo, tornando totalmente nula a visibilidade. Passam os minutos e a névoa se torna cada vez mais
cerrada. Os alto-falantes dão finalmente a ordem temida: - Missão suspensa indefinidamente! Os pilotos e
tripulantes descem dos aviões e comentam, nervosos, o inesperado contratempo. Assim passam três
intermináveis horas.

Às 6 da manhã, os alto-falantes, surpreendentemente, anunciam: Atenção! Comunicado especial! Uma força


aeronaval japonesa acaba de atacar com êxito devastador as forças americanas na ilha do Havaí!
Instantaneamente os aviadores irrompem em aclamações entusiásticas. Emocionados pela alegria, festejam
ruidosamente a notícia extraordinária: o Japão começou a guerra com uma vitória total!

Pouco a pouco, a neblina começa a se dissipar. Às 10 horas da manhã, os sinaleiros dão a ordem de partida.
Em Teinã levantam vôo 54 bombardeiros e 40 caças Zero, rumo às Filipinas. Seu objetivo: Clark Field, a
principal base aérea americana. Outros 50 bombardeiros e 50 Zeros partem de Takao e se dirigem ao
aeródromo de Iba, situado ao norte de Clark Field. Com esses ataques, o alto-comando japonês se propõe a
destruir a aviação americana estacionada nas Filipinas.

Desastre em Clark Field

A notícia da catástrofe de Pearl Harbor foi recebida sem grande surpresa no QG americano de Manila. O
General MacArthur e seus oficiais estavam convencidos de que os japoneses iniciariam a guerra a curto
prazo, através de um ataque de surpresa, e já haviam colocado suas forças em estado de alerta.
Desgraçadamente, o veterano general não contava com efetivos aéreos suficientes para enfrentar a agressão.
No dia 8 de dezembro de 1941, os americanos só dispunham, nas Filipinas, de 35 Fortalezas-Voadoras B-17
e 72 caças Curtiss P-40. Além disso, existiam apenas algumas esquadrilhas de antiquados bombardeiros
leves e caças tripulados por inexperientes pilotos filipinos.

Às 8 horas da manhã começou o alarma no aeródromo de Clark Field. O posto de radar da base de Iba (o
único existente nas Filipinas) havia denunciado a aproximação de aviões desconhecidos. Eram as
esquadrilhas japonesas de bombardeio que iam atacar os portos da costa norte de Luzon. Imediatamente as
Fortalezas-Voadoras estacionadas em Clark Field levantaram vôo para não serem surpreendidas em terra.
Simultaneamente, subiram os caças, e partiram em busca dos aviões japoneses. Durante mais de duas horas
os aparelhos americanos sobrevoaram a ilha de Luzon sem conseguir estabelecer contato com as
esquadrilhas inimigas. Finalmente, às 10 horas da manhã, todas as B-17 regressaram a Clark Field para
reabastecimento. Esta operação resultaria fatal.

Pouco depois do meio-dia, os bombardeiros e Zeros provenientes de Formosa se aproximaram de Clark Field
sem encontrar nenhuma oposição. Nas pistas da base estavam alinhadas 17 B-17 e 21 caças P-40 oferecendo
um alvo perfeito. A surpresa foi total. Voando em formação impecável, os aviões japoneses descarregaram
suas bombas com extraordinária precisão e causaram danos terríveis. Em poucos instantes Clark Field se
transformou numa imensa fogueira. Tanques de combustíveis, hangares, edifícios e aviões submergiram num
mar de fogo e explosões.
No mesmo momento, as outras esquadrilhas japonesas atacaram a base de Iba, arrasando por completo as
suas instalações e a estação de radar. Posteriormente, os Zeros concentraram-se sobre Clark Field e, em vôo
rasante, metralharam os aviões que havia escapado aos efeitos do bombardeio. Assim, em poucos minutos,
MacArthur perdeu quase a metade de seus efetivos aéreos. Os americanos contavam agora apenas com 18 B-
17 e 55 caças.

No dia seguinte, 9 de dezembro, o mau tempo impediu aos japoneses de continuar a sua ofensiva aérea com a
mesma violência. Somente as esquadrilhas de Zeros, desafiando chuvas fortíssimas chegaram até as
Filipinas, e destruíram todos os aviões que conseguiram surpreender pousados em terra. Em 10 de dezembro,
4.000 soldados japoneses desembarcaram na costa norte da ilha de Luzon, e se apoderaram dos aeródromos
de Vigã e Aparri. A aviação japonesas passou a contar então com bases adequadas para operar no solo
filipino, o que facilitou muito a sua ação.

Depois de uma curta pausa, os japoneses reiniciaram suas incursões contra os aeródromos situados em torno
de Manila e bombardearam a base naval de Cavite, destruindo suas instalações e matando mais de 500
pessoas. Por volta de 13 de dezembro haviam conquistado já uma supremacia aérea absoluta. Diante de tal
situação, MacArthur ordenou que as restantes B-17 fossem imediatamente transportadas para a Austrália.
Essa ordem foi rapidamente cumprida. Pela manhã do dia 20 de dezembro não restava um só bombardeiro
americano nas Filipinas.

Os japoneses desembarcam

O General MacArthur calculava, acertadamente, que a principal força de invasão japonesa desembarcaria nas
extensas praias do golfo de Lingayen, situadas ao norte de Manila. Concentrou, então a maior parte de suas
escassas forças nesse setor, sob o comando do General Jonathan Wainwright. Essas unidades, integradas em
sua maior parte de recrutas filipinos carentes de qualquer treinamento, deviam tentar rechaçar o ataque
japonês sobre essas praias.

Na madrugada de 20 de dezembro, um submarino americano entrevou na obscuridade uma grande esquadra


japonesa que navegava com todas as sua luzes apagadas a 80 km ao norte do golfo de Lingayen. A invasão
estava em marcha! Imediatamente o comandante do submarino transmitiu o alarma ao QG de Manila. No dia
seguinte, MacArthur enviou todas as unidades blindadas disponíveis para apoiar as forças de Wainwright.
Chegara o momento do encontro decisivo. O desembarque japonês era só questão de horas.

Wainwright, nesse meio tempo, situara o grosso de suas tropas e de sua artilharia na desembocadura do rio
Agno, no setor meridional do golfo de Lingayen. Essa posição das forças americanas e filipinas teve
conseqüências fatais, pois o General japonês Homma ordenou o desembarque dos 43.000 soldados do seu
exército, na costa norte do golfo, onde não existia qualquer defesa. Às 2 horas da madrugada do dia 22 de
dezembro, 85 navios transportes se aproximaram das praias desafiando a maré violenta, e iniciaram o
transbordo das tropas para as lanchas de assalto. Duas horas e meia depois os três primeiros batalhões
colocavam os pés em terra. Rapidamente desembarcaram outras unidades e, de manhã, toda a primeira leva
invasora se encontrava já firmemente entrincheirada na praia. Alguns destacamentos filipinos que tentaram
opor resistência, foram facilmente exterminados.

O General Homma, surpreendido pela ausência de oposição, ordenou que suas forças marchassem
imediatamente para o interior, a fim de estabelecer contato com as unidades japonesas que, a 10 de
dezembro, haviam ocupado, na costa norte de Luzon, as localidades de Aparri e Vingã. Essas tropas já se
encontravam a caminho do golfo de Lingayen e, nesse mesmo dia se incorporaram ao exército de Homma.

Ao cair da tarde o chefe japonês tomou uma decisão temerária. Toda a infantaria e metade de seus tanques
blindados se encontravam já em terra, mas o mar raivoso impedia o desembarque da artilharia. Apesar disso,
Homma ordenou a seus homens iniciar o ataque em direção ao sul. Precisavam aproveitar ao máximo a
irresolução do inimigo! Imediatamente os tanques japoneses se lançaram pela estrada rumo a Manila,
sobrepujando as unidades de recrutas filipinas que tentavam bloquear seu avanço.

Retirada para Bataan


Ao ter notícia do avanço japonês, o General Wainwright telefonou a MacArthur e solicitou autorização para
transferir suas forças imediatamente para a margem meridional do rio Agno. Essa era a última barreira
defensiva que restava ao norte de Manila. MacArthur compreendeu, com amargura, que já não era possível
deter os japoneses nas praias. Decidiu, assim, utilizar o plano Orange 3 elaborado anos antes pelos seus
predecessores no comando das Filipinas.

O projeto Orange 3 tinha por objetivo assegurar a defesa da baía de Manila,. Mediante a concentração de
todas as tropas americanas e filipinas na agreste e selvagem península de Bataan. Calculava-se que as tropas
aliadas poderiam resistir ali, e na fortaleza da ilha de Corregidor, situada em frente ao extremo sul da
península, durante uns seis meses, prazo suficiente para receber por mar abastecimentos e reforços dos EUA.
Infelizmente, MacArthur não havia tomado as precauções necessárias para pôr em prática tal plano. Não se
haviam construído as obras defensivas previstas e, tampouco, se haviam armazenado os víveres necessários
para a alimentação das tropas. No último momento foram enviadas provisões de Manila, mas em quantidades
apenas suficientes para 10.000 homens; cerca de 80.000 soldados americanos e filipinos e 26.000 civis
teriam que subsistir com essa magra ração.

Na noite de 23 de dezembro, as esgotadas forças de Wainwright se entrincheiraram nas margens do Agno,


Colada nos seus calcanhares a vanguarda da tropa do 14 o Exército do General Homma convergiu para o rio.
Wainwrigt resolveu então lançar um contra-ataque que retardasse o avanço japonês. Nesse mesmo momento
recebeu uma mensagem do QG, onde a decisão de MacArthur de iniciar a retirada para Bataan lhe era
comunicada. O chefe americano compreendeu que não havia um minuto a perder, e ordenou aos seus
comandado o imediato início da evacuação. Em meio à obscuridade, as colunas de soldados filipinos e
americanos puseram-se novamente em marcha, avançando dificilmente através das estradas congestionadas
pela enorme massa de civis que fugia para o sul. Atrás, junto ao rio, permaneceu apenas um reduzido
destacamento de cavalaria, com a missão de enfrentar o ataque japonês e cobrir a retirada dos seus
camaradas.

Uma nova catástrofe, nesse mesmo dia, se abateu sobre as forças aliadas. Encobertos pela noite, 24 navios
transportes japoneses, invadiram a baía de Limon, situada a 120 km ao sul de Manila, e desembarcaram uma
força de 9.500 homens comandada pelo General Morioka. MacArthur anteviu o perigo mortal que esse
ataque representava. Convergindo do norte e do sul, as forças japonesas poderiam agora, com uma manobra
de pinças, cortar a saída para Bataan a todas as tropas concentradas em torno de Manila. Sem vacilar, o
comandante americano ordenou às duas divisões que se encontravam ao sul da capital que empreendessem
imediatamente a retirada para Bataan.

Na manhã de 24 de dezembro MacArthur e seu estado-maior se transladaram para a ilha-fortaleza de


Corregidor. Poucas horas depois, o presidente das Filipinas, Manuel Quezon, abandonou o palácio Malacanã
e dirigiu-se também, com a família para essa mesma ilha. Nesse exato momento, as tropas japonesas
avançavam em marcha forçada, do norte e do sul, sobre a capital. Seu chefe, o General Homma, estava
convencido de que a conquista de Manila significaria a capitulação automática das forças de MacArthur. Não
tardaria a sofrer uma amarga decepção.

Os aliados escapam à armadilha

Uma vez instalado em eu novo posto de comando em Corregidor, MacArthur ordenou às unidades do
General Albert Jones, que defendessem a todo custo a localidade de Plaridel, situada a poucos quilômetros ao
norte de Manila. Nesse povoado, incrustrados sobre a linha de avanço das tropas de Homma, teriam os
homens de Jones que resistir até que todas as forças americanas e filipinas, que se encontravam ao sul de
Manila, tivessem conseguido evadir-se para Bataan.

Em 31 de dezembro, Jones e suas tropas ocuparam Plaridel e se aprontaram a conter a investida japonesa.
Algumas horas depois, se aproximaram, vindas do norte as extenuadas colunas das 71 a e 91a divisões
filipinas, integrantes do exército de Wainwright. Jones, sem titubear, ordenou a essas unidades que se
incorporassem às suas forças, e determinou que elas se entrincheirassem numa posição avançada, na aldeia
de Baliaug. Para lá, marchavam já os tanques de Homma. Desgraçadamente, nesse momento crítico, o
General Wainwright se surgiu na frente de luta e ordenou às duas divisões que abandonassem as suas
posições e se retirassem imediatamente para Bataan. Wainwright não tinha nenhum conhecimento do plano
traçado por MacArthur.
Nas primeiras horas da tarde, os soldados filipinos conduzidos por uma flotilha de ônibus e caminhões,
abandonaram a toda velocidade a aldeia de Baliaug. O caminho para Plaridel ficava limpo para os japoneses!
Jones, ao tomar conhecimento do fato, decidiu adiantar-se ao ataque japonês e ordenou aos seus dez únicos
tanques que se lançassem ao combate. Às 5 da tarde, os carros blindados americanos irromperam de surpresa
em Baliaug, defrontando-se com os tanques e a infantaria japonesa que já haviam entrado na aldeia. Num
instante se estabeleceu um violento combate, e os americanos conseguiram destruir, sem perder nenhum
veículo, oito carros blindados inimigos. E o avanço japonês foi, assim, momentaneamente detido.

Enquanto ocorriam estes dramáticos acontecimentos, as restantes tropas americanas e filipinas do setor de
Manila, completaram sua retirada, cruzando a ponte sobre o rio Pampanga, última barreira fluvial de acesso a
Bataan. O General Jones, com sua audaz resistência havia possibilitado a salvação desses homens. Às 6h15
da manhã de 1o de janeiro de 1942, todas as forças aliadas - inclusive as tropas de Jones - haviam transposto
o rio e a ponte foi dinamitada.

Manila cai

O General Homma, cego pelas suas primeiras e fáceis vitórias, não deu importância à retirada das tropas de
MacArthur para Bataan, e resolveu suspender a perseguição. Assim, as tropas japonesas marcharam
diretamente sobre Manila. Às 17h45 de 3 de janeiro, três batalhões da vanguarda da 48 a Divisão de Infantaria
entraram pelo norte da cidade sob o comando do General Koichi Abe. Pouco depois, pelo sul, penetraram as
forças do General Morioka. Nessa mesma tarde, a bandeira Imperial Japonesa foi içada em frente à
residência do embaixador americano.

Ao ter notícia da queda de Manila, o alto-comando japonês considerou virtualmente concluída a campanha
das Filipinas, e ordenou a Homma que embarcasse imediatamente a 48 a Divisão de Infantaria, que seria
empregada na conquista de Java. Essa unidade era uma tropa de elite, e sua retirada debilitou radicalmente o
poder combativo do exército de Homma. O chefe japonês teve que substituí-la, no ataque a Bataan, por uma
brigada insuficientemente armada e treinada, que servia nas Filipinas como unidade de vigilância.
Comandava essa força o veterano General Akira Nara.

Na tarde de 9 de janeiro, depois de uma longa e extenuante marcha, os 7.500 soldados de Nara prepararam-se
para tomar de assalto as posições aliadas de Bataan. O chefe japonês esperava obter uma rápida vitória sobre
um inimigo que supunha inferior em número e completamente desmoralizado. Seu erro foi total! Em sua
frente, MacArthur havia mobilizado uma força de mais de 25.000 soldados!

Exatamente às 15 horas, a artilharia japonesa abriu violento fogo sobre as linhas aliadas. Uma hora depois,
Nara ordenou ao regimento comandado pelo Coronel Takeo Imai, que realizasse um ataque frontal.
Simultaneamente, outro regimento, capitaneado pelo Coronel Susumu Takochi, deslocou-se, uma tentativa
de penetração de flanco, através das agrestes encostas do monte Natib, situadas ao lado oeste das posições
aliadas. As tropas de Imai se lançaram correndo em direção às trincheiras inimigas, e tombaram sob o fogo
mortífero das baterias americanas. Em poucos instantes o terreno ficou coberto com os cadáveres de centenas
de soldados japoneses. Ante o fracasso do ataque, o Coronel Imai ordenou a seus homens que buscassem
precipitadamente refúgio num canavial próximo. Dali, ao cair da noite, os japoneses arremeteram novamente
contra as linhas americanas e filipinas, conseguindo, desta vez, penetrar profundamente até suas retaguardas.
Em meio à obscuridade travou-se então uma violenta luta em toda a extensão da frente de combate. A
infiltração dos japoneses provocou uma terrível confusão nas fileiras aliadas. Por todo canto surgiam grupos
isolados de soldados japoneses que, com decisão fanática, atacavam com granadas e baionetas as trincheiras
e redutos aliados. Ao despontar o dia, as tropas de Imai haviam conseguido desarticular a frente, em vários
setores. Os soldados filipinos e americanos, desmoralizados pelas contínuas e ferozes arremetidas dos
japoneses, começaram a ceder em sua resistência. Diante da crítica situação, o General Parker, chefe de todas
as forças aliadas sediadas na costa oriental de Bataan, resolveu, concentrando suas reservas, realizar um
contra-ataque.

Vitória japonesa

Na madrugada de 16 de janeiro, as tropas aliadas, esgotadas pelos contínuos e rudes combates,


empreenderam um avanço através da floresta e conseguiram sobrepujar os destacamentos do Coronel Imai.
O chefe japonês realizou então uma hábil manobra. Deslocou todas as suas forças e descarregou um violento
contragolpe visando o flanco direito da cunha aberta nas forças aliadas. Nesse momento, pelo flanco
esquerdo surgiram de surpresa as unidades do Coronel Tokochi, e se uniram no ataque.

Apanhados entre dois fogos, os soldados aliados sofreram grandes baixas e se viram forçados a empreender
rápida retirada. Ao meio-dia, a deslocação se converteu em desordenada fuga. Ficava aberta uma brecha de 4
km de extensão, na frente de combate aliada. Quando teve notícia da vitória alcançada pelos seus
subordinados, o General Nara ordenou que os ataques se redobrassem e que a penetração fosse aumentada.
Simultaneamente, MacArthur resolveu recuar todas as suas forças para a última linha de defesa, no extremo
sul da península de Bataan. A 26 de janeiro as unidades americanas e filipinas terminaram seu deslocamento
e se entrincheiraram na nova posição. A frente ficou dividida em dois setores: a leste se agruparam as forças
do General Parker e a oeste as do General Wainwright; ambos os chefes trabalharam ativamente para
consolidar as suas defesas e percorreram as linhas da frente incitando seus homens a resistir até o fim. Agora
não existia nenhuma possibilidade de retirada. Os japoneses, por sua vez, encontravam-se numa situação
bastante precária. O General Nara havia perdido nos sangrentos combates 2.000 dos seus 7.000 soldados, e
os sobreviventes se achavam totalmente extenuados. Apesar disso, o General Homma resolveu levar adiante
a ofensiva, e ordenou a Nara que se lançasse novamente ao ataque contra as forças de Parker. Ao mesmo
tempo, na costa oeste, a 16a Divisão de Infantaria do General Morioka atacou as tropas de Wainwright. As
duas ofensivas, entretanto, encontraram uma encarniçada resistência e fracassaram. Em princípios de
fevereiro, depois de sofrer milhares de baixas, os japoneses desistiram do ataque. Nesse momento contavam,
na frente de Bataan, com apenas três batalhões de infantaria em condições de continuar a luta!

Apesar das derrotas infligidas aos japoneses, as forças aliadas não puderam iniciar operações ofensivas. Dos
80.000 soldados com que MacArthur contara, apenas 27.000 se mantinham aptos para o combate. O restante
havia sido dizimado pela malária, desinteria, e pelos terríveis efeitos da fome e do esgotamento físico. A falta
de alimentos e medicamentos era quase total. Alguns submarinos americanos conseguiram burlar o bloqueio
da esquadra japonesa, transportando umas 1.000 toneladas de provisões. Com esses alimentos o exército
aliado poderia subsistir unicamente por mais quatro dias!

No entanto, os americanos e filipinos continuaram resistindo todo o mês de fevereiro. As rações foram
reduzidas ao mínimo, e sacrificaram-se os últimos cavalos e mulas para poder alimentar as tropas. Nessas
espantosas condições, a resistência em Bataan não tardaria a chegar ao fim.

No dia 10 de março, MacArthur mandou chamar o General Wainwright e lhe comunicou que resolvera
finalmente a acatar a ordem do Presidente Roosevelt de abandonar as ilhas filipinas. No dia seguinte,
MacArthur embarcou, juntamente com sua esposa e seu filho, numa lancha torpedeira e dirigiu-se à ilha de
Mindanao, de onde voou rumo à Austrália, numa Fortaleza-Voadora. Wainwright assumiu o comando de
todas as forças aliadas, com a difícil incumbência de dirigir a última resistência. Faltava pouco para a batalha
decisiva.

Na manhã de 3 de abril de 1942, a artilharia japonesa abriu um devastador fogo contra um determinado setor
da frente, no centro das linhas aliadas. Simultaneamente, os bombardeiros e caças Zero descarregaram uma
chuva de aço e fogo sobre os redutos americanos e filipinos. A ofensiva final começara. Milhares de soldados
japoneses, apoiados pelo fogo concentrado de 150 obuses e canhões pesados, irromperam por ambos os
flancos do monte Samat e esmagaram os destacamentos dos esgotados infantes filipinos que defendiam suas
encostas. Às 10 horas da manhã do dia seguinte, a bandeira do sol-nascente tremulava no alto da montanha.

Desesperado, o General Parker lançou suas últimas reservas à luta, no intento vão de conter a penetração
japonesa. Ao amanhecer do dia 6 de abril, as unidades de Parker haviam sido praticamente aniquiladas.
Precipitando-se pela enorme brecha, as tropas de assalto japonesas, empurraram para o extremo sul da
península os sobreviventes das forças americanas e filipinas derrotadas. Do ar, os Zeros metralhavam
implacavelmente as indefesas colunas de fugitivos. A luta findou em Bataan no dia 9 de abril. Nesse dia, o
General King, chefe de todas as forças aliadas da península, capitulou diante do Coronel Motoo Nakayama,
Chefe de Operações do Estado-Maior japonês.

Corregidor conquistada

A rendição das tropas americanas e filipinas em Bataan, deu lugar a um dos fatos mais terríveis da Segunda
Guerra Mundial. Sem tomar nenhuma precaução, os japoneses iniciaram o encaminhamento da enorme
massa de prisioneiros - cerca de 70.000 homens esgotados pela fome e pelas enfermidades - através dos
desfiladeiros da península para um campo de concentração situado no norte da ilha de Luzon. Na longa e
espantosa marcha morreram cerca de 10.000 soldados; deles, mais de 2.000 eram americanos.

Em Corregidor restavam ainda 13.000 combatentes aliados, que, sob o comando de Wainwright, estavam
dispostos a vender caro as suas vidas. Os japoneses não tardaram a assediar a ilha-fortaleza. Na costa sul de
Bataan, o General Homma colocou gigantescos obuses de 240 mm e iniciou um bombardeio infernal, que,
dia a dia, foi se intensificando. Uma após outra, as trincheiras e baterias de Corregidor foram reduzidas a
escombros.

No dia 4 de maio os canhões japoneses aumentaram o fogo e, em 24 horas, lançaram mais de 16.000
granadas sobre a ilha. Na noite seguinte, 2.000 soldados e várias dezenas de tanques, embarcados em lanchas
de assalto, cruzaram o estreito que separa Corregidor da península de Bataan. Às 23 horas, a força de invasão
japonesa que desembarcou, foi recebida pelo fogo mortífero das metralhadoras e canhões que ainda restavam
na guarnição. Centenas de combatentes japoneses pereceram, mas os sobreviventes, reforçados por novas
tropas, conseguiram desembarcar e submeter os defensores.

Lutando encarniçadamente, os infantes japoneses abriram passagem para a entrada principal da fortaleza. Na
madrugada de 6 de maio, Wainwright lançou um último e desesperado contra-ataque que foi facilmente
rechaçado pelos inimigos. Resolveu, então, o general americano, pôr fim ao heróico sacrifício de seus
homens, e enviou pelo rádio, uma mensagem às linhas inimigas, comunicando sua decisão de capitular. Ao
meio-dia as tropas americanas e filipinas cessaram o fogo. A epopéia de Corregidor estava concluída.

Rumo ao cativeiro

Os sobreviventes que restavam dos 13.000 homens que havia resistido em Corregidor passaram a integrar a
enorme quantidade de prisioneiros que os japoneses deveriam recolher a seus campos de concentração. Foi
assim que o comando japonês teve que enfrentar o difícil problema de alimentar e custodiar vários milhares
de homens e também o não menos difícil de transportá-los para a retaguarda. Iniciaram-se então aquilo que
mais tarde foi chamado marchas da morte. Porque, de fato, o foram.

Milhares de homens, em péssimas condições de alimentação, com uma multidão de enfermos e feridos entre
eles, eram obrigados a percorrer longas distâncias até os acampamentos dos prisioneiros. A dificuldade de
abastecimento fez com que, muitas vezes, fossem dizimados pela fome. A falta de medicamentos contribuiu
para maior número de baixas. A férrea disciplina do soldado japonês, acostumado a longas caminhadas e
privações, às quais resistia com estoicismo, aplicada aos prisioneiros mal alimentados, feridos e moralmente
indefesos, foi outro motivo que provocou grande quantidade de baixas. Com efeito, marchas de muitos
quilômetros diários, às quais o soldado japonês estava acostumado e que eram comuns como exercício, não
podiam ser suportadas pelos soldados americanos e, menos ainda, pelos filipinos. Em decorrência disso, a
mortandade alcançou cifras muito altas. Na primeira semana de internamento nos campos de concentração, o
número de mortos entre os soldados americanos alcançava 20 por dia; entre os filipinos, por sua vez, chegava
a 150. Duas semanas depois, 50 americanos e 500 filipinos morriam diariamente. Aquelas marchas foram, de
fato, as marchas da morte.

Anexo
O “afundamento” do Harun
Luzon, ao norte de Manila, 10 de dezembro de 1941.
Uma formação de barcos japoneses navega próximo à costa. Avisados, os pilotos da base de Clark Field preparam seus
aviões. Instantes depois, duas Fortalezas Voadoras levantam vôo. A bordo de uma delas, o Capitão Colin Kelly observa
o horizonte.
A frota japonesa, alheia ao ataque que se aproxima, continua a sua marcha. Minutos depois, da Fortaleza Voadora do
Capitão Kelly, os barcos são avistados. A bordo do aparelho as ordens e sucedem. O bombardeador ocupa o seu posto e
prepara sua mira. Os metralhadores se arrastam até suas armas. Kelly, orientando seu avião, aproxima-se de um barco
que seu homens identificam como um encouraçado japonês tipo Haruna. Depois de uma primeira passagem o avião
volta a sobrevoar a nave. O bombardeador ajusta a mira e comprime o disparador. Três bombas de 300 kg, se
desprendem como um cacho. Uma delas cai perto do alvo, no mar. A segunda parece roçar a nave. A terceira, por fim, se
introduz pela chaminé do barco. Imediatamente, uma grande nuvem de fumaça negra envolve todo o navio. Kelly,
assim, como seus homens, acredita ter afundado o encouraçado. Porém, não está sozinho. Uma formação de 10 Zeros
japoneses estava às suas costas. E o ataque começa.
Em fila indiana, um após o outro, os aviadores japoneses metralham a Fortaleza-Voadora que se defende com o fogo de
seus canhões e metralhadoras. Quando chega a vez do piloto-naval japonês Saburo Sakai, este, depois de enquadrar bem
em sua mira o avião americano, dispara o gatilho de suas metralhadoras. As balas perfuram as asas da Fortaleza-
Voadora. Dos tanques de combustível escapa gasolina aos jorros. Por fim, depois de silenciar as suas baterias, a
Fortaleza-Voadora parece vacilar e perder altura. O Zero de Sakai o persegue em seu vôo descendente. Estão a uns
2.000 metros de altura quando a porta de emergência da Fortaleza se abre e, um após outro, três tripulantes se arrojam
ao espaço. Pouco depois, outros cinco os acompanham. Em seguida, tudo termina: com grande estrondo a Fortaleza-
Voadora se espatifa perto de uma estrada. A bordo, no seu posto, o Capitão Kelly morreu, depois de ordenar a seus
homens que abandonassem o avião. Do alto, um Zero sobrevoa o local. É o caça de Saburo Sakai que faz a volta e
regressa à sua formação.
Dias depois, o Capitão Kelly, transformado no primeiro herói da guerra do Pacífico, recebe, com honras póstumas, a
Cruz por Serviço Relevante.
Pouco mais tarde, também, se tem notícia de uma irônica comunicação japonesa. O encouraçado Haruna, que Kelly
supunha ter afundado, se acha navegando a 1.500 milhas dali...

O ataque a Bataan
Bataan. Filipinas, 22 de fevereiro de 1942. 19 horas.
As sombras do crepúsculo envolvem o grupo de barcaças que conduzem o primeiro Batalhão do Segundo Regimento de
Infantaria, sob as ordens do Comandante Kimura.
Em uma das barcaças, com o capacete enterrado até os olhos, o primeiro cabo Sheiche Okamura, de 24 anos, explora a
costa ao longe. Lá, tudo é silêncio e escuridão. Mas Okamura sabe que entre as árvores estão escondidos os ninhos de
metralhadoras do inimigo. E sabe também que muitos dos seus camaradas cairão quando as armas começarem a vomitar
fogo. Uma ordem, apenas sussurrada, coloca Okamura em alerta. As barcaças viram a proa para a costa. Okamura
aperta os dedos em seu fuzil e espera. A seu lado, outros fazem o mesmo.
Minutos depois estão lá, sobre a praia. Saltam na areia e correm. Mas a esperada surpresa não acontece. Das árvores,
apenas a 20 metros, pipoca um mortífero fogo de metralhadoras. Os atacantes caem, um após outro. Okamura se atira
no interior de um buraco aberto por uma granada e rasteja no fundo dele. Sobre sua cabeça assobiam as balas. Alguns
vultos passam correndo. Um deles se detém e se inclina para Okamura; - Vamos! Adiante!
Okamura se levanta e sai do refúgio. Porém não chega a dar nenhum passo, pois cai novamente ferido.
Instantes depois, auxiliado por um companheiro, é conduzido ao posto de socorro. Lá, em meio do nervoso vaivém de
enfermeiros e padioleiros, espera pacientemente a sua vez de ser atendido. Ao seu lado, um médico, enquanto isso,
amputa a perna de um soldado ferido. A falta de anestesia faz com que a operação se converta numa infernal experiência
para o ferido e para os que o rodeiam. Por fim ao chegar a sua vez, Okamura é atendido e medicado superficialmente.
Em seguida, é colocado num buraco cavado às pressas, e abandonado à sua própria sorte. Um sargento tira-lhe todos
pertences, deixando-lhe apenas a baioneta e uma granada. Encara-o e lhe diz: - Amanhã serão evacuados os que estão
feridos levemente... os outros deverão suicidar-se!...
Okamura compreende. Da evolução da sua ferida depende a sua vida. Se, no dia seguinte for capaz de mover-se por si
mesmo, se salvará. Impossibilitado de movimentar-se, estará perdido e deverá suicidar-se. No dia seguinte Okamura
descobre, aterrorizado, que sua ferida gangrenou e está coberta de vermes. Aquilo significa a morte. Okamura, porém,
não está disposto a morrer, sem antes luar por sua vida; e arrastando-se, consegue chegar até a praia, e se atira na água.
Nada penosamente, e afinal, consegue alcançar uma das balas e agarra-se a ela. Okamura salvou-se, graças a uma
poderosa força de vontade e a um incrível desejo de viver. Transportado depois para um hospital, soube que seu
batalhão não existia mais. Apenas quatro homens sobreviveram à luta. Os demais foram mortos ou se suicidaram.

A “traição” de Vargas e Laurel


Manila, Filipinas, 24 de dezembro de 1941.
No Palácio Malacanã, sede do governo, as autoridades filipinas se preparam para evacuar a capital, ameaçada pelo
avanço japonês.
O presidente das Filipinas, Manuel Quezon, decidido a continuar a campanha contra o invasor, ultima os preparativos
para afastar-se da frente de combate e prosseguir a resistência em novas posições.
Em seu gabinete, o presidente prepara-se para uma entrevista, a última , na qual emitirá sua derradeira ordem. Dias
seguidos de luta e noites constantes de insônia haviam marcado visíveis sulcos em seu rosto. As rugas de sua testa
denunciam a profunda preocupação que o domina. Manila está perdida e ele deve mudar-se. Os japoneses se aproximam
e logo estarão ali.
Faz soar uma campainha. Num instante a porta se abre e três homens entram no recinto. Em seus rostos, tal como
Quezon, podemos ver as mesmas marcas de fadiga e insônia. O presidente diz: - Tenho que abandonar Manila. Os
japoneses chegarão de um momento para o outro...
Os homens o fitam interrogativamente. Quezon prossegue: - E a população ficará à mercê dos conquistadores. O Vice-
presidente, Sérgio Osmena, um dos interlocutores, o interrompe, ansioso: - E que podemos fazer? - Você, nada,
Osmena... Mas eles, sim. E a mão estendida de Quezon aponta alternativamente, a Jorge Vargas, secretário da
presidência e José Laurel, outro alto funcionário.
Os dois se acercam mais do presidente, interrogando-o com o olhar. Quezon prossegue: - Vocês dois deverão ficar e
proteger o povo das sanções japonesas...
Laurel é o primeiro a protestar: - Ficar?! E colaborar com os japoneses? Mas isso seria uma traição! Quezon responde,
imperturbável: - Somente dessa maneira podemos impedir que os japoneses levem a cabo represálias contra a população
civil. Laurel excitado, se manifesta outra vez: - Sim, talvez possamos fazê-lo... Mas que pensará o povo de nós?... Que
pensará o mundo inteiro?...
O presidente responde, num murmúrio: - Que são dois traidores... Isso mesmo. Esse é o preço que pagará o povo a fim
de evitar o pior. Seus governantes serão traidores aos olhos do mundo inteiro... até o dia da vitória final!... Então se
saberá a verdade... e vocês serão recompensados.
Minutos depois, Manuel Quezon abandona o palácio presidencial. Atrás dele, permanecem, aguardando a chegada dos
japoneses, dois homens que passarão por traidores aos olhos de todos. Dois homens que são, em sua dimensão total,
dois patriotas...

Douglas MacArthur
O indomável guerreiro do Pacífico nasceu em Little Rock, Arkansas, a 26 de janeiro de 1880. Filho de um militar de
destaque, segui-lhe os passos e ingressou na Academia Militar, da qual saiu em 1903. Anos depois, durante a Primeira
Guerra Mundial, atuou nas frentes de combate do continente europeu, chegando ao posto de Brigadeiro General. A ação
bélica jamais o viu poupar-se aos riscos e perigos, e chegou mesmo a sofrer vários ferimentos, e acabou envolto em
gases. No mês de janeiro de 1925 atingiu o posto de Major General do Exército dos Estados Unidos - o mais jovem
oficial com essa patente no exército do seu país.
Em 1930, sendo presidente Herbert Hoover, foi nomeado chefe do Estado-Maior. Posteriormente, em 1936, as Filipinas
agraciaram-no com a patente de Marechal-de-Campo.
A 31 de dezembro de 1937, depois de 34 anos de serviços, MacArthur retirou-se da ativa. Apesar disso, o Presidente das
Filipinas, Manuel Quezon, o manteve no posto de comandante-em-chefe do exército filipino.
A 26 de julho de 1941, MacArthur foi nomeado tenente-general das forças americanas e filipinas, depois de incorporar
estas forças ao exército americano, por disposição de Roosevelt. Em dezembro desse mesmo ano, 1941, deu-se o ataque
japonês a Pearl Harbor e quase simultaneamente às possessões americanas e inglesas no Extremo Oriente. MacArthur,
nessa emergência, resistiu na península de Bataan ao ataque dos japoneses. Por fim, em março de 1942, ante a ordem de
Roosevelt que determinava a sua retirada do território ameaçado, viajou para a Austrália. Foi então que pronunciou o
seu célebre: - Voltarei...
Até o final da Segunda Guerra Mundial, MacArthur atuou no comando das forças aliadas do sudoeste do Pacífico.
Finalmente, depois da derrota do Japão, o Presidente Truman o nomeou comandante supremo das forças aliadas de
ocupação. Em tal caráter, MacArthur presidiu a delegação que recebeu a rendição das forças japonesas, a 2 de setembro
de 1945, na cerimônia realizada a bordo do couraçado Missouri

Coragem anônima
Manila, Filipinas, 3 de junho de 1942
As tropas japonesas, vitoriosas, terminaram a ocupação das Filipinas e se preparam para novas conquistas. O General
Homma, comandante-em-chefe das forças japonesas, eufórico pela vitória, decide celebrá-la com um desfile. Será
realizado na praça Renata em Manila, e dele participarão as forças que combateram na conquista das ilhas. Além disso,
juntamente com os japoneses, desfilarão os filipinos, membros do governo títere que acaba se formar-se no país.
Os raios do sol do meio-dia iluminam a ampla avenida por onde desfilarão as tropas. Uma multidão silenciosa ocupa
todas as esquinas. Em seus semblantes é visível a mágoa provocada pela presença dos japoneses. E não a ocultam.
Mais ainda: manifestam-na através do seu áspero silêncio. De repente, de longe, cruzando o espaço, chega o som da
marcha. O povo alinhado ao longo da avenida, parece animar-se. Todos ficam os olhos no grupo de homens que se
aproxima. Encabeçando o desfile vem os filipinos traidores a serviço dos japoneses. Num palanque, engalanado com
bandeiras japonesas e filipinas, o General Homma e se Estado-Maior, acompanhados dos funcionários filipinos do
governo títere, preparam-se para receber a saudação dos que desfilam.
O público começa a amontoar-se em torno do palanque. Os soldados japoneses encarregados da vigilância, vendo
aquele movimento apenas uma demonstração de simpatia, agem sem violência, e apenas procuram afastar a multidão
alguns passos.
Faltam poucos metros para que a comitiva que lidera o desfile chegue até o palanque. Os funcionários filipinos,
marchando com passo firme e olhar altivo, demonstrando a emoção que os embarga, conduzem nas mãos pequenas
bandeiras japonesas que agitam sobre suas cabeças. No palanque, o General Homma e seus homens contemplam com
satisfação aquela demonstração de solidariedade.
Os filipinos passam diante do palanque, e em seguida aproxima-se a banda. Executa nesse momento uma marcha
militar. Os japoneses preparam-se para saudá-la. Faltam poucos passos, quando o músico que dirige a banda faz um
sinal, e todos silenciam os seus instrumentos. Tanto os japoneses como a população nativa contemplam os homens que
se aprontam para iniciar uma nova música. Quando faltam apenas 5 passos para chegar ao palanque oficial, a banda
ataca os acordes marciais de uma marcha. E ninguém acredita no que está escutando. O assombro se reflete em todos os
semblantes. Em seguida, enquanto os japoneses tratam de dispersar a multidão, homens e mulheres explodem numa
manifestação de entusiasmo incontido. Os músicos, heróis anônimos, continuam tocando seus instrumentos, enquanto
caem, um a um, sob os golpes dos soldados japoneses.
A marcha que tocavam, era a marcha americana The Stars and Stripes forever
“Voltarei...”
Bataan, 10 de março de 1942.
O sol do meio-dia ilumina com fortes reflexos o QG das forças americanas. Em seu gabinete, o General Wainwright
recebe um chamado urgente. É da ilha de Corregidor, onde se encontra o comandante-em-chefe das forças, General
Douglas MacArthur. Imediatamente, Wainwright se dirige ao alojamento de MacArthur. Antes, porém, conversa com o
General Sutherland, que lhe diz: - O General MacArthur partirá amanhã para a Austrália... Faz isso pela insistência do
Presidente Roosevelt... MacArthur sempre se negou a partir. Teve que concordar afinal... Viajará em uma lancha
torpedeira até Mindanao. Depois, uma Fortaleza Voadora o levará à Austrália. Em vista disso, o senhor assumirá o
comando de todas as forças em Luzon.
Em silêncio, o General Sutherland caminha até o gabinete de MacArthur. Wainwright o segue, também sem pronunciar
uma só palavra. Instantes depois, o General MacArthur aperta a mão de Wainwright. Depois de convidá-los a entrar e
fazê-lo sentar, lhe diz: - Jonathan... Quero que você compreenda minha posição. Por minha vontade, não abandonaria
nunca meus homens. Devo partir, porém. Recebi ordem direta do Presidente Roosevelt. Quero que você comunique aos
homens que parto apesar do meu desejo de compartilhar a sorte de todos...
Wainwright, emocionado, apenas pôde balbuciar: - Eu lhes direi... Não tenha dúvidas, Douglas! Depois de um instante
de reflexão, MacArthur continua: - Se conseguir chegar à Austrália, voltarei, Wainwright, tão logo quando puder, com
todas as forças que conseguir reunir... Voltarei, não duvide!
O silêncio cai sobre eles. Permanecem assim uns momentos, concentrados em seus pensamentos. Ao longe ruge um
canhão. Wainwright, em voz baixa, se dirige a MacArthur: - Você chegará à Austrália, Douglas! - E voltarei... - replica
MacArthur imediatamente.
Em seguida, os três homens se levantaram. MacArthur, abrindo um caixote, apanha uma caixa de charutos e dois potes
de creme de barbear e os entrega a Wainwright. - Adeus, Jonathan... Se você estiver em Bataan quando eu voltar, eu o
farei tenente-general. - Estarei em Bataan, se estiver vivo... - responde Wainwright, e girando sobre si mesmo, se afasta,
depois de saudar seu chefe. No dia seguinte, o General Douglas MacArthur embarca na lancha torpedeira PT-41, rumo a
Mindanao.
Atrás dele, ficam suas palavras: - Voltarei...

A última mensagem
Pouco antes de solicitar a paz aos japoneses, o Major-General Jonathan Wainwright, enviou ao Presidente Roosevelt
esta mensagem: - Com o coração destroçado e a cabeça inclinada pela tristeza, não pela vergonha, informo a Vossa
Excelência que hoje devo negociar os termos da rendição das ilhas fortificadas da baía de Manila... Existe um limite
para a resistência humana, e este limite já foi largamente superado. Sem a esperança de receber ajuda, sinto que é meu
dever para com meu país e minhas valentes tropas, colocar um fim ao inútil derramamento de sangue e ao sacrifício
humano. Se Vossa Excelência está de acordo, Senhor Presidente, comunique, por favor, à Nação, que minhas tropas e eu
fizemos tudo o que era humanamente possível realizar e que preservamos as melhores tradições dos Estados Unidos e
de seu exército. Que Deus i abençoe e proteja, e o conduza, ao senhor e à Nação, até a vitória final. Com profunda pena
e imenso orgulho das minhas valentes tropas dirijo-me para a reunião com o comandante japonês. Adeus, senhor
presidente. Jonathan Wainwright Major General

“Devemos render-nos...”
Corregidor, 6 de maio de 1942, 10 horas da manhã
Passo a passo, cobrindo o seu avanço com um abarreira de fogo, os japoneses se aproximam da entrada da fortaleza
subterrânea de Corregidor. No seu interior, um punhado de defensores luta desesperadamente. Entre os combatentes
americanos germina o pessimismo e a convicção da derrota. Os feridos, sem receber assistência médica, se amontoam
nos corredores da fortaleza. As munições escasseiam. As armas, gastas, carecem de precisão. A situação se agrava a
cada momento e se torna cada vez mais evidente a todos que o fim está próximo. Ante tal estado de coisas, o General
Wainwright, comandante da fortaleza, diz a seu ajudante: - Não poderemos resistir muito mais... Talvez até o fim do
dia... mas não além da noite!... Devemos render-nos...
São 10h15 quando Wainwright chama o Brigadeiro General Lewis Beebe e lhe ordena: - transmita aos japoneses a
seguinte mensagem: “Ao meio-dia cessaremos o fogo”.
Imediatamente, chamando à sua presença os poucos oficiais que ainda restam, ordena que destruam as armas pesadas,
os códigos e os abastecimentos que sobrarem. Os homens deverão conservar apenas as suas pistolas calibre 45. Poucos
dias antes de destruir os aparelhos de rádio, Wainwright envia uma última mensagem. Seu destinatário é o Presidente
Roosevelt.
Às 16 horas, uma lancha de assalto japonesa, chega à costa da península de Bataan. A bordo está Wainwright e seu
ajudante-de-ordens. Um automóvel os espera. São conduzidos a uma casa onde os fazem esperar. Uma hora depois
chegam os fotógrafos e jornalistas japoneses, para entrevistá-los. São 17 horas quando um Cadillac se detém ante a
casa. Vestido com um impecável uniforme verde, e camisa de colarinho aberto, o General Homma desce e se aproxima
imediatamente de Wainwright, dizendo-lhe: - Bem vindo, general... O senhor deve estar muito cansado... - Obrigado,
general... - responde Wainwright.
Homma senta-se numa destas cadeiras que estão no alpendre da casa e indica aos oficiais americanos que se sentem
também. Wainwright, nesse momento, entrega ao comandante japonês uma nota escrita por ele, em que lhe propõe a
rendição de suas tropas. Homma sem a ler, passa a nota a um intérprete que a lê em voz alta, traduzindo-a. A nota
comunica a rendição das forças de Corregidor, exclusivamente. Homma, visivelmente alterado, responde que só pode
aceitar a rendição de todas as forças que resistem nas Filipinas. Levanta-se, saúda e sai.
Wainwright volta então a Corregidor, e, horas depois, perto da meia-noite, firma a rendição de todas as forças
americanas das Filipinas. Sai de seu gabinete e, acompanhado de cinco oficiais, passa por entre os sobreviventes que o
cumprimentam. Wainwright, sem ocultar as lágrimas que escorrem sem eu rosto, devolve os cumprimentos e se afasta.

Wainwright
O homem que teve a seu cargo a defesa de Corregidor e, posteriormente, a dura tarefa de solicitar a paz aos japoneses,
cessando a resistência e entregando-se prisioneiro, nasceu em Walla Walla, Washington, no ano de 1883.
Militar por tradição familiar, Jonathan Mayhew Wainwright graduou-se na Academia de West Point em 1906, com 23
anos. Quando os Estados Unidos intervieram na Grande Guerra (1914-1918), Wainwright foi enviado aos campos de
batalha da Europa, onde atuou nas frentes de combate da França. Ao terminarem as hostilidades, regressou aos Estados
Unidos e continuou a sua carreira militar. Até 1940, no posto de major-general, Wainwright serviu nas Filipinas. Faltava
muito pouco já para que seu nome passasse ao primeiro plano. No dia 10 de março de 1942, quando o General
MacArthur, obedecendo a ordens do Presidente Roosevelt, retirou-se das Filipinas, Wainwright ocupou o seu lugar
como comandante-em-chefe de todas as forças aliadas. No entanto, pouco faltava para que o pano se fechasse sobre o
último ato daquela batalha. De fato, a 6 de maio de 1942, o heróico chefe comunicou aos japoneses a sua decisão de
capitular.
Criticado por alguns e defendido por muitos, Wainwright lutou até onde a resistência dos seus homens permitiu. Depois,
compreendendo que nada mais podia salvá-los, tratou humanamente de evitar um verdadeiro massacre, entregando-se.

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