Fosse dado papel e caneta aos trabalhadores de uma padaria algum reclamaria do pão da manhã o

moinho que não acerta a mistura da farinha outro da qualidade do doce de leite que vai no sonho pra
fim de mês até que o movimento tá bom né sempre bato com o cotovelo no cilindro faz dois dias
que ele não aparece em casa pode ser que tratassem de averiguar se o patrão teria acesso aos
escritos orientando assim suas críticas
é problema dessa ordem que se impõe quando penso contar tudo aquilo que aconteceu entre o
primeiro chimarrão e a gastrite pacotes de bolacha recheada sabor chocolate água queimando língua
médico recomendando moderação misturar com erva mais fraca um bailão com cheiro de esgoto
motoboys todos bêbados jogar o isqueiro no chão pra ensaiar agachada sensual todas as manhãs de
azia culpa do café acordar em cama estranha culpa da cerveja agradecer a discrição do criado mas
também conversas sobre o avanço conservador a afinação em 432Hz o quinto sabor gostar ou não
de cachorros crianças e cabelos cacheados nisso da cronicidade instaurada debaixo da minha camisa
de botões confluência de sentidos num tempo enfermo

Eu era um país e ele vinha de alguns naufrágios. Um refugiado. E agora tava ali, todo molhado nas
minhas costas.