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IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA NO PROJETO

ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS


FONTE, Antonio Oscar C. (1); FONTE, Felipe Luna Freire (2); BORGES, Ana Claudia Leão (3)

(1) Profº Doutor, Universidade Católica de Pernambuco UNICAP


(2) Engenheiro Civil Mestre, Divisão de Arquitetura e Projetos Civis de Subestações CHESF
(3) Profª Doutora, Instituto Federal de Pernambuco, IFPE

Rua Guedes Pereira 77/1801, Casa Amarela, Recife, PE


Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar a influência da interação solo-estrutura no
comportamento estrutural global de edifícios de múltiplos pavimentos. Para isso,
considerou-se um edifício de 30 pavimentos com características típicas dos que vêm
sendo atualmente construídos nas capitais brasileiras. São apresentados resultados de
análises elásticas lineares e não lineares para ações de serviço, de análises não-lineares
geométricas e físicas para ações de cálculo, bem como de análises dinâmicas, com e
sem a influência da interação solo-estrutura. Dos resultados, conclui-se que, edifícios de
múltiplos pavimentos com características típicas dos construídos modernamente nas
cidades brasileiras, devem ser verificados por métodos que levem em conta o efeito da
interação solo-estrutura.

Palavras-chaves: edifícios de múltiplos pavimentos; não-linearidades física e geométrica,


interação solo-estrutura.

Abstract
The objective of this work is to present the soil-structure interaction importance in the
overall structural behavior of multistory buildings of reinforced concrete. Therefore, it is
considered a 30 floors building with typical characteristics of which are being currently built
in the Brazilian cities. Results are presented about linear and non-linear elastic analysis
for serviceability actions, non-linear geometrical and physical analysis for ultimate actions
and dynamic analysis. From the results it appears that, multistory buildings with typical
characteristics of one modern built in Brazilian cities, must be checked by methods that
take into account the soil-structure interaction effect.

Keywords: multistory buildings; physical and geometric non-linearity, soil-structure


interaction

ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 1


1. Introdução

As capitais do Nordeste do Brasil, vem, desde a década de 70 do século passado,


confirmando a tendência da construção de edificações em altura, constatado pelo
aparecimento, de edifícios para uso comercial e residencial até a altura correspondente a
20 pavimentos. A partir de 1996, ocorreu uma forte e permanente tendência de aumento
da altura destes edifícios, que chegaram a atingir, nos dias atuais, 50 pavimentos. Estes
edifícios, apresentando esbeltez sempre crescente, têm colocado os projetistas em
situações desafiadoras, para definição de sistemas estruturais que permitam
compatibilizar os requisitos de arquitetura com as condições necessárias à estabilidade.
Segundo Fonte et al (2005), uma quantidade significativa destes edifícios é classificada
como de alta esbeltez, recomendando-se, nos projetos dos mesmos, a adoção de
métodos completos de análise estrutural.

2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento estrutural global de um edifício de 30


pavimentos que apresenta características típicas dos que são atualmente construídos na
nas capitais do nordeste do Brasil, assente sobre fundações superficiais. Para tal, foram
feitas análises considerando-o sobre apoios rígidos, ou seja, sobre base indeslocável
(Hipótese A), e sobre apoios flexíveis que contemplam a influência da interação solo-
estrutura (Hipótese B).

3. Metodologia

A metodologia seguida é a recomendada por BORGES (2009) que consiste na


apresentação da estrutura analisada, de suas características, da definição dos
carregamentos atuantes, dos tipos de análises realizadas e da caracterização de
parâmetros considerados como indicadores de comportamento estrutural global.

3.1 Descrição da estrutura do edifício

Trata-se de um edifício em concreto armado com dimensões médias em planta de 22,60


m e 24,30m. É composto por 30 pavimentos, com altura de 2,93m cada, resultando numa
altura total de 87,90m. O sistema estrutural é constituído por pórticos planos segundo
duas direções ortogonais. O pavimento é composto por lajes maciças de 10cm. As vigas
têm suas dimensões indicadas, conforme planta baixa da forma do pavimento tipo
apresentada na figura 1.

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Figura 1 – Pavimento tipo. Vista em planta

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3.2 Carregamentos atuantes
Como ações verticais foram considerados os seguintes carregamentos: peso próprio dos
elementos estruturais (25,00kN/m3), alvenaria de vedação em blocos cerâmicos sobre
vigas e lajes (12,50kN/m3), revestimento das lajes (1kN/m2) e sobrecarga de utilização
para edifícios residenciais (1,5kN/m2).
A ação do vento foi considerada segundo as direções X e Y mostradas na Figura 2. Os
valores foram determinados de acordo com a NBR 6123:1988, tomando-se os seguintes
parâmetros:

V0 = 30 m/s, fator topográfico S1 = 1, fator estatístico S3=1, categoria de


rugosidade IV, classe C.
Coeficientes de arrasto – Ca(x) = 1,36 ; Ca(y)= 1,37.

3.3 Modelos adotados


Para análises relativas às ações apenas das cargas verticais nos pavimentos, foi
considerado o modelo de grelha. Para as análises relativas apenas à ação do vento,
como também ao efeito combinado do vento e das cargas verticais, foi adotado o modelo
de pórtico espacial com a laje admitida como diafragma rígido.

3.4 Propriedades dos materiais


Considerou-se para a edificação, a classe III de agressividade ambiental e a resistência
característica do concreto: fck = 35MPa. Para os valores de módulos de elasticidade
longitudinais foram obtidos, segundo a NBR 6118/2003, os valores abaixo:

 módulo de elasticidade longitudinal tangente - Ec = 35417,51 MPa;


 módulo de elasticidade longitudinal secante - Es = 30104,88 MPa.

Em relação ao solo de fundação, sondagens mostraram até a profundidade de 2m, areia


fina, de 2m a 4m areia fina e média (SPT 8 a 12), de 4m a 23m areia média (SPT 8 a
26),de 23m a 35 m camada de argila siltosa (SPT 5), de 35m a 42m argila (SPT 10),
de 42m a 53m areia média compacta (SPT 30).
Tendo em conta a resistência apresentada pelo terreno natural e as cargas transmitidas
pela estrutura, a solução de fundação consistiu em sapatas isoladas apoiadas no solo
melhorado. O melhoramento do terreno de suporte da fundação foi executado por
compactação, com colunas de areia e brita, entre as profundidades 1,30m a 10,0m.
Após a compactação foram realizadas novas sondagens que forneceram parâmetros
para cálculo dos recalques sem o efeito da interação solo-estrutura. Os recalques
imediatos estimados variaram de 18mm a 10mm e os recalques por adensamento de
28mm 10mm. Os recalques totais calculados sem o efeito da interação solo-estrutura
variaram de 46,5mm a 20,5mm.

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3.5 Análises realizadas e resultados
De modo geral, foram realizadas análises elásticas lineares globais para ações de
serviço, análises não-lineares geométricas completas para ações de serviço e ações de
cálculo, bem como análises dinâmicas para cálculo dos valores das frequências naturais e
das acelerações, sendo estas últimas para verificação do conforto humano quanto às
vibrações induzidas pela ação do vento. As citadas análises foram realizadas com o uso
do Sistema Computacional Edifício, Fonte (1994), atualmente em desenvolvimento no
Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

3.5.1 Verificação em serviço quanto à deslocabilidade lateral global


Para verificação quanto à deslocabilidade lateral global, foram realizadas análises
elásticas lineares e não-lineares geométricas para o carregamento ação do vento em
serviço com valores frequentes e raros.

Tabela 1 – Deslocamentos laterais globais no topo, resultantes de análises elásticas – Hipótese A


Hipótese A
Ação do vento direção X Ação do vento direção Y
Análise
Comb. rara Comb. frequente Comb. rara Comb. frequente
Linear 7,88 cm 2,37 cm 6,49 cm 1,95 cm
N/L
8,73 cm 2,62 cm 7,19 cm 2,16 cm
geométrica
Limite combinação rara --- 18,10 cm Limite combinação frequente --- 5,32 cm

Tabela 2 – Deslocamentos laterais globais no topo, resultantes de análises elásticas – Hipótese B


HIPÓTESE B
Ação do vento direção X Ação do vento direção Y
Análise
Comb. rara Comb. frequente Comb. rara Comb. frequente
Linear 10,38 cm 3,12 cm 8,89 cm 2,67 cm
N/L
11,76 cm 3,53 cm 10,07 cm 3,02 cm
geométrica
Limite combinação rara --- 18,10 cm Limite combinação frequente --- 5,32 cm

Os valores apresentados nas tabelas 1 e 2 referem-se a valores frequentes, cujo limite


deve ser tomado igual a 1/1700 (de acordo com a NBR 6118:2003); e a valores raros,
cujo limite deve ser tomado igual a 1/500, (procedimento realizado em projeto até a
entrada em vigor da NBR 6118:2003). Pode-se observar que, do ponto de vista prático,
esta verificação manteve-se, pois, quando os valores de referência são os frequentes o
limite também diminui na mesma proporção da ação.
As citadas tabelas 1 e 2 mostram que, segundo as direções X e Y, os deslocamentos
máximos são inferiores aos admissíveis para as duas análises analizadas. Para a
hipótese A, a amplificação não-linear geométrica atinge, no topo, valor 10,8%, e a
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hipótese B a 13,3%. Estes resultados mostram a importância da consideração da não
linearidade geométrica mesmo para as ações em serviço, caso não tratado na NBR
6118/2003. Comparando-se a hipótese A com a hipótese B chega-se a uma amplificação
de 35% o que mostra a importância do efeito da interação solo-estrutura.

3.5.2 Valores dos índices de esbeltez de corpo rígido


Segundo Fonte et al (2005), considera-se como índice de esbeltez de corpo rígido de uma
edificação:
H
x, y  (Equação 1)
Lx, y

Onde H é a altura total, e Lx,y é a comprimento médio, em planta, segundo as direções X e


Y.
Os limites, para classificação das edificações segundo o índice de esbeltez são:
x,y ≤ 4 ..... edifício de pequena esbeltez
4 < x,y  6 ..... edifício de média esbeltez
x,y > 6 ..... edifício de alta esbeltez

y H
x

Figura 2 - Esquema em planta e em elevação – parâmetros geométricos

Para a estrutura em análise tem-se:


Tabela 3 - Valores dos índices de esbeltez de corpo rígido segundo as direções X e Y

Direção X Direção Y

x = H/Lx = 87,90 /22,60 = 3,89 y = H/Ly = 87,90 /21,50 = 4,09

Conclui-se então que, segundo a direção X, a estrutura é classificada como de pequena


esbeltez, direção esta que apresenta os maiores valores de deslocamento, e segundo a
direção Y de esbeltez mediana.

3.5.3 Coeficientes de rigidez efetiva global


De acordo com Fonte et al (2007), define-se como coeficiente de rigidez efetiva global
associado a cada direção preferencial X, Y, Z, o valor Kx,y,z dado pela equação 2:
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1
K x , y, z  (Equação 2)
 x , y, z

Sendo Δx,y,z os deslocamentos absolutos generalizados do pavimento superior


provocados por ações unitárias associadas (Figura 3).
z

z z
1kN x 1kN y 1kNm
z

x y x
(a) (b) (c)
Figura 3 - Ilustração dos coeficientes de rigidez efetiva global

Esses coeficientes de rigidez são calculados para a estrutura admitida na fase elástica
(associados às ações em serviço), e na fase fissurada (associados às ações de cálculo).
Nesse último caso, a fissuração é considerada em caráter aproximado, admitindo-se
como coeficiente redutor da rigidez para as vigas K v = 0,40 e para as colunas Kc = 0,80.
Sua importância está na verificação da estrutura, servindo como parâmetro de
comparação de rigidez para estruturas projetadas sob ações de diferentes valores, bem
como para comparação da rigidez na fase elástica (rigidez bruta) e na fase fissurada.
Tabela 4 – Valores dos coeficientes de rigidez efetiva global – Hipótese A
HIPÓTESE A
Direção X Direção Y Direção Z
Elástica 8782,8 11764,7 735835
Fissurada 5463,6 6941,9 401767
Unidades: KN, metro, radiano

Tabela 5 – Valores dos coeficientes de rigidez efetiva global – Hipótese B


HIPÓTESE B
Direção X Direção Y Direção Z
Elástica 7044,7 8958,2 677236
Fissurada 4575,4 5786,1 373295
Unidades: KN, metro, radiano

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Observando as tabelas 4 e 5, do ponto de vista da fissuração, percebe-se que, segundo
as direções X,Y e Z os valores da rigidez reduziram-se, em média, a 65% para a hipótese
A e a 55% para a hipótese B.
Do ponto de vista da interação solo-estrutura, os valores de rigidez elástica foram
reduzidos a 80% e os da rigidez fissurada a 84% o que evidencia o efeito desfavorável
da interação solo-estrutura.

3.5.4 Verificação do comportamento não-linear geométrico


Para analisar a edificação frente aos efeitos não-lineares geométricos (efeitos de segunda
ordem, segundo a NBR 6118:2003), serão aqui considerados três parâmetros ao nível
global, descritos nos itens 3.5.4.1 e 3.5.4.2.

3.5.4.1 Fator de carga crítica de instabilidade do equilíbrio global e correspondente


fator de amplificação dos efeitos não-lineares geométricos
Conforme considerado em Fonte (1992) pode-se escrever:

P
f crit  crit (Equação 3)
P
f crit
f amp  (Equação 4)
f crit  1

Onde Pcrit é o carregamento crítico, obtido de uma análise não-linear geométrica global
por processo incremental iterativo e P é o carregamento atuante. O famp é um fator de
amplificação dos efeitos não-lineares geométricos que pode ser entendido como um fator
z de melhor aproximação.
A partir das considerações de MacGregor e Hage (1977), de Fonte (1992) e, admitindo-se
que, conforme prescreve a NBR 6118:2003, os resultados de uma análise de primeira
ordem são adequados para projeto sempre que seus valores não se afastem mais do que
10% para o lado desfavorável, quando comparados com os de uma análise de segunda
ordem; tem-se, como limites os valores a seguir em termos de carga crítica e em termos
de fator de amplificação global, e os valores obtidos para o edifício em estudo encontram-
se nas tabelas 6 e 7.

fcrit  11 .......... uma análise de primeira ordem é suficiente;


5  fcrit ≤ 11 .......... uma análise de segunda ordem é necessária;
fcrit < 5 ............ não recomendável.

famp ≤ 1,10 ....... uma análise de primeira ordem é suficiente


1,10 < famp ≤ 1,25 ....... uma análise de segunda ordem é necessária
famp > 1,25 ....... não recomendável

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Tabela 6 - Valores dos fatores de carga crítica e de amplificação – Hipótese A
HIPÓTESE A
Direção X Direção Y
Ações
fcrit famp fcrit famp
Serviço 10,253 1,108 15,401 1,069
Cálculo 4,300 1,303 7,275 1,159
Kv=0,4 Kc=0,8 3,850 1,350 6,060 1,197

Tabela 7 - Valores dos fatores de carga crítica e de amplificação - Hipótese B


HIPÓTESE B
Direção X Direção Y
Ações
fcrit famp fcrit famp
Serviço 8,544 1,132 11,77 1,09
Cálculo 3,583 1,387 5,55 1,22
kv=0,4 kc=0,8 3,284 1,438 5,05 1,25

Das tabelas 6 e 7 observa-se a importância dos efeitos não-lineares geométricos não


apenas para as ações de cálculo, mas também para as ações de serviço, ressaltando-se
que, para o último caso, a NBR 6118:2003 não faz referência à necessidade do cálculo
dos efeitos de segunda ordem.
É importante destacar os baixos valores de fcrit para as ações de cálculo segundo a
direção X que, embora não indiquem instabilidade, são considerados como não
recomendáveis, segundo MacGregor e Hage (1977). Esses valores atingem níveis 17%
menores para a hipótese B mostrando a influência desfavorável da interação solo-
estrutura no comportamento não-linear geométrico da edificação.

3.5.4.2 Coeficiente z
De acordo com a NBR 6118/2003 os efeitos de segunda ordem, aqui denominados de
não-lineares geométricos, provenientes da ação combinada do carregamento lateral do
vento e do carregamento vertical, podem ser obtidos através do fator z definido como:

1
z  (Equação 5)
M tot,r
1
M 1,tot,r
Onde:
ΔMtot,r - momento de tombamento, definido como a soma dos momentos de todas
as forças horizontais, considerados com seus valores representativos;
M1,tot,r - soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na estruturas, na
combinação considerada, com seus valores representativos, pelos
deslocamentos de seus respectivos pontos de aplicação, obtidos de uma
análise de primeira ordem.
Este coeficiente z deve ser aplicado ao resultado de uma análise de primeira ordem para
o carregamento lateral proveniente da ação do vento. Neste trabalho, foi calculado
segundo cada uma das direções X e Y, consideradas como preferenciais, de acordo com
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a figura 1. Para tal, considerou-se a estrutura na fase elástica (ações de serviço e rigidez
elástica) e na fase fissurada (ações de cálculo e rigidez fissurada), considerando-se como
coeficientes de redução de rigidez para as vigas Kv=0,40 e para as colunas Kc=0,80.

A NBR 6118:2003 preconiza que, para as ações de cálculo, o limite de aplicação do


método seja z ≤ 1,30. Dessa forma, pode-se concluir pela tabela 8 que o método é válido
para o edifício em questão sob as duas hipóteses, tanto para as combinações de serviço
quanto para as de cálculo.
Tabela 8 - Valores dos coeficientes z para combinações de serviço e de cálculo
HIPÓTESE A HIPÓTESE B
X Y X Y
Combinação Combinação
z z z z
Serviço 1,058 1,058 Serviço 1,085 1,080
Cálculo 1,129 1,140 Cálculo 1,177 1,180
Kv =0,4 Kc=0,8 1,146 1,158 Kv =0,4 Kc=0,8 1,201 1,205

A comparação destes valores de z com os fatores de amplificação “exatos” apresentados


nas tabelas 6 e 7 retrata para a direção X uma sensível diferença entre os mesmos. Isto
indica que, a aplicação do método z para o edifício em análise, segundo esta direção,
não oferece boa aproximação, principalmente quando se leva em conta os efeitos da
interação solo-estrutura.Segundo a direção Y o método z oferece boa aproximação.

3.5.5 Verificação do comportamento dinâmico


De acordo com a NBR6118:2003, as ações dinâmicas devem ser consideradas sempre
que a estrutura esteja exposta a vibrações significativas. Nesses casos elas podem
provocar estados limites de serviço relacionados ao conforto humano e estados limites
últimos por vibração excessiva ou por fadiga dos materiais.

Neste item pretende-se verificar o comportamento estrutural global da edificação frente às


ações dinâmicas induzidas pelo vento, através da obtenção dos fatores de amplificação
dinâmica na direção das rajadas e das acelerações para estudo do conforto humano.

3.5.5.1 Determinação das frequências naturais (f1)


Foram obtidas as frequências naturais da estrutura global para diferentes modos de
vibração. A tabela 9 mostra os valores destas frequências para os modos laterais
segundo as direções X e Y, de acordo com as expressões da NBR 6123:1988 (Equação
7) e através de análise da estrutura global na condição de vibrações livres.

1
f1  1  (Equação 7)
T1 0,05  0,015H
Onde H é a altura em metros da edificação.

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Tabela 9 - Valores do parâmetro dinâmico frequência natural (Hz)
HIPÓTESE A
Modo lateral – Direção X Modo lateral - Direção Y
NBR 6123:1988 0,170 NBR 6123:1988 0,170
Análise Dinâmica 0,248 Análise Dinâmica 0,289
HIPÓTESE B
Modo lateral – Direção X Modo lateral - Direção Y
NBR 6123:1988 0,170 NBR 6123:1988 0,170
Análise Dinâmica 0,215 Análise Dinâmica 0,246

A análise dinâmica sob vibrações livres mostrou para o modo lateral X o menor valor da
frequência natural (frequência fundamental), seguido do valor relativo ao modo lateral Y.
Quanto à expressão recomendada pela NBR6123:1988, ela fornece valores inferiores aos
obtidos através da análise em vibrações livres.A interação solo-estrutura reduziu a
frequência natural da direção X a 87% e da direção Y a 85%.

Segundo a NBR 6123:1988, em edificações frequência fundamental igual a 1Hz, a


influência da resposta flutuante do vento é pequena, entretanto, edificações com período
fundamental superior a 1s, podem apresentar importante resposta flutuante na direção do
vento médio. Logo, os valores das frequências naturais da tabela 9, indicam que a
estrutura pode estar sujeita a efeitos dinâmicos significativos.

3.5.5.2 Coeficientes de amplificação dinâmica, relativos ao carregamento do vento


na direção das rajadas, segundo a NBR 6123:1988
Para verificação do comportamento da estrutura em estudo, frente ao efeito dinâmico da
ação do vento segundo a direção das rajadas, de acordo com a NBR6123:1988, foram
calculadas as forças pelo método “estático” e pelo método dinâmico, esta última
adotando-se o modelo contínuo simplificado. Para cada um desses carregamentos
horizontais, foram calculados os momentos de tombamento em relação à base da
edificação e, desta forma, definido o coeficiente de amplificação dinâmica como descrito
abaixo, para cada uma das direções X e Y:

Mtdin (X, Y)
C amp (X, Y)  (Equação 8)
Mtest (X, Y)
Onde:
Camp(X,Y) - coeficiente de amplificação dinâmica da ação do vento segundo a
direção X ou segundo a direção Y;
Mtdin(X,Y) - momento de tombamento, em relação à base da edificação, devido ao
carregamento dinâmico do vento obtido pelo método contínuo, de
acordo com a NBR6123:1988;

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Mtest(X,Y) - momento de tombamento, em relação à base da edificação, devido ao
carregamento “estático” do vento obtido de acordo com a
NBR6123:1988.
Tabela 10 - Coeficientes de amplificação dinâmica da ação do vento na direção das rajadas
HIPÓTESE A HIPÓTESE B
Camp(X) Camp(Y) Camp(X) Camp(Y)
1,000 1,000 1,014 1,000

A tabela 10 mostra uma amplificação unitária para a direção Y e unitária e 1,014 para a
direção X, considerando as hipóteses A, B. Esses valores indicam que a hipótese de
comportamento “estático” representa bem o efeito do vento e a influência da interação
solo-estrutura é muito pequena.

3.5.5.3 Verificação quanto ao conforto humano induzido pelas vibrações devidas ao


vento
A NBR 6123:1988 destaca que as flutuações de velocidade do vento podem induzir nas
estruturas muito flexíveis oscilações importantes na direção da velocidade média. Nesses
casos, essas ações podem provocar estados limites de serviço relacionados ao
desconforto dos ocupantes.

3.5.5.3.1 Acelerações para verificação do conforto humano


As acelerações são parâmetros importantes para verificação do conforto humano quanto
às oscilações induzidas pelas forças flutuantes do vento. Segundo a NBR 6123:1988, a
amplitude máxima da aceleração em um nível z pode ser obtida através da Equação 9:

a j  4  2  f j2  u j (equação 9)

fj - frequência natural no modo j ;


uj - deslocamento no nível z devido à resposta flutuante no modo j.

A amplitude da aceleração, como indicação geral, não deve exceder o valor 0,1m/s 2,
segundo a NBR 6123:1988. Um critério mais completo é o apresentado em Chang (1967),
que define as seguintes zonas de conforto associadas a valores das acelerações:

a ≤ 0,05 m/s2 ................ zona 1 vibração imperceptível;


0,05 < a ≤ 0,15 m/s2 ............... zona 2 vibração perceptível mas não incômoda;
0,15 < a ≤ 0,50 m/s2 ................. zona 3 vibração incômoda;
0,50 < a ≤ 1,50 m/s2 ................. zona 4 vibração muito incômoda;
a > 1,50 m/s2 ................ zona 5 vibração intolerável.

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a) Direção x:

35
VERIFICAÇÃO DE CONFORTO HUMANO - DIREÇÃO X
30

25
Hipótese A
Andares

20
Hipótese B
15
Limite Zona 1
10 Limite Zona 2

5 NBR 6123

0
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Aceleração (m/s2)

Figura 4 – Acelerações na direção X para o período de recorrência de 10 anos – Hipóteses A e B

Segundo a direção X os dados da figura 4 correspondentes as hipóteses A e B, para o


período de recorrência de 10 anos, a estrutura se encontra na zona 1 até a altura
correspondente ao nível 23, e na zona 2 do nível 24 ao 30, (vibração perceptível, mas não
incômoda).

b) Direção Y:

35 VERIFICAÇÃO DE CONFORTO HUMANO - DIREÇÃO Y


30

25
Hipótese A
Andares

20
Hipótese B
15
Limite Zona 1
10 Limite Zona 2
5 NBR 6123

0
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 0,14 0,16
Aceleração (m/s2)
Figura 5 – Acelerações na direção Y para o período de recorrência de 10 anos – Hipóteses A e B

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De acordo com a figura 5 segundo a direção Y, para as hipóteses A e B, a estrutura se
encontra na zona 1 até a altura correspondente ao nível 21 (vibração imperceptível) e, do
nível 22 ao 30, na zona 2.
Analisando os valores de aceleração segundo o critério da NBR 6123:1988 tem-se que
para o período de recorrência de 10 anos, na direção X e na direção Y, ao longo de toda a
altura, a estrutura se encontra em condição de vibração aceitável para todas as hipóteses
analisadas.

4 CONCLUSÕES
Efeitos da interação solo-estrutura na análise estrutural do edifício de 30 pavimentos:

 Amplificação de 35% nos deslocamentos laterais provenientes da ação do vento;

 Redução da rigidez na fase elástica a 80%;

 Redução da rigidez na fase fissurada a 84%;

 Redução da carga crítica de instabilidade do equilíbrio a 83%;

 Aumento da amplificação N/L geométrica em 6,5% ;

 Aumento do fator z em 5,6%;

 Redução da frequência natural a 85%;

 Pequena influência nos valores das acelerações para verificação do conforto


humano quanto às vibrações induzidas pela ação do vento.

 As conclusões acima mostram a importância da consideração dos efeitos da


interação solo-estrutura na edificação de 30 pavimentos aqui apresentada,
ressaltando-se ser a citada estrutura de esbeltez, apenas, pequena e moderada.

ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 14


5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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